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Coleção Pensamento Criminológico

Alessandro Baratta

CRIMINOLOGIA CRÍTICA E
CRÍTICA DO DIREITO PENAL
à
CRlMINOlOCIA CRiTICA E CRiTICA 00 DlRJ:ITO rENAl
ALESSANDRO I3ARATrA

às exigências políticas que assinalam, no interior da evolução da


nas uma pequena parte dos delitos representa violação de deter-
sociedade burguesa, a passagem do estado liberal clássico ao estado
minados arranjos políticos e econômicos, e é punida em função da
social. O conteúdo dessa ideologia, assim como passou a fazer parte
consolidação destes (delitos artificiais).
_ embora filtrado através do debate entre as duas escolas - da
filosofia dominante na ciência jurídica e das opiniões comuns, não As diferenças entre as escolas positivistas e a teoria sobre
só dos representantes do aparato penal penitenciário, mas também criminalidade da escola liberal clássica não residem, por isso, tanto
do homem de rua (ou seja, das every day theories), é sumariamente no conteúdo da ideologia da defesa social e dos valores fundamentais
considerados dignos de tutela, quanto na atitude metodológica geral
reconstruívelna seguinte série de princípios.
a) Princípio de legitimidade. O .Estado, como expressão da so- com relação à explicação da criminalidade. Matza4 colocou em evi-
ciedade, está legitimado para reprimir a crimínalidade, da qual são dência esta diferença de modo particularmente claro: seguindo o mo-
responsáveis determinados indivíduos, por lpeio de instâncias ofi- delo da Escola positiva e da criminologia positivista ainda hoje am-
ciais de controle social (legislação, polícia, magistratura, institui- p~amente difundida, a tarefa da criminologia é reduzida explica-
ções penitenciárias). Estas interpretam a legítima reação da socie- çao causal do comportamento criminoso, baseada na dupla hipótese
dade, ou da grande maioria dela, dirigida à reprovação e condena- do caráter complementar determinado do comportamento crimino-
ção do comportamento desviante individual e à reafirmação dos so, e da diferença fundamental entre indivíduos criminosos e não-
criminosos. A tal modelo vem contraposto o da Escola clássica, que
valores e das normas sociais.
b) Princípio do bein e do mal. O delito é um dano para a socieda- !el~ por ~bjeto, mais que o criminoso, o próprio crime, ligando-se
de. O delinqüente é um elemento n~ativo e disfuncional do sistema ldela do lIvre arbítrio, do mérito e do demérito individual e da igual-
social. O desvio criminal é, pois, o mal; a sociedade constituída, o bem. dade substancial entre criminosos e não-criminosos. Estas diferen-
c) Princípio de culpabilidade. O delito expressão de uma ças não incidem em mais do que um dos princípios acima individu-
atitude interior reprovável, porque contrária aos valores e às nor- alizados: o relativo atitude interior do delinqüente (culpabilidade).
mas, presentes na sociedade mesmo antes de serem sancionadas Este adquire um significado moral-normativo (desvalor, condenação
moral) ou simplesmente sócio-psicológico (revelador de periculosi-
pelo legislador.
d) Princípio da finalidade ou da prevenção. A pena não tem, dade social), conforme se parta da premissa da Escola clássica ou da
ou não tem somente, a função de retribuir, mas a de prevenir o Escola positiva. Mas se, por um lado, só o primeiro significado será
crime. Como sanção abstratamente prevista pela lei, tem a função idôneo para sustentar a ideologia de um sistema penal baseado na
de criar uma justa e adequada contra motivação ao comportamen- retribuição (ideologia que, de resto, como se viu, não é, absoluta-
to criminoso. Como sanção concreta, exerce a função de resso- mente a mais difundida no seio da orientação liberal clássica), por
outro, ambas as impostações, se bem que de maneira diferente, são
cializar o delinqüente.
, e) Princípio de igualdade. A criminalidade violação da lei aptas a sustentar a ideologia de um sistema penal baseado na defesa
social.
penal e, como tal, é o comportamento de uma minoria desviante. A
., lei penal é igual para todos. A reação penal se aplica de modo igual O conceito de defesa social parece ser, assim, na ciência pe-
nal, a condensação dos maiores progressos realizados pelo direi to
aos autores de delitos.
penal moderno. Mais que um elemento técnico do sistema legislativo
f) Princípio do interesse socíal e do delito natural. O núcleo
ou do dogmático, este conceito tem uma função justificante e
central dos delitos definidos nos códigos penais das nações civiliza-
'. das representa ofensa de interesses fudamentais, de condições es- racíonalizante com relação àqueles. Na consciência dos estudiosos
~. senciais à existência de toda sociedade. Os interesses protegidos e dos operadores jurídiccs que se consideram progressistas, isso
" pelo direito penal são interesses comuns a todos os cidadãos. Ape- tem um conteúdo emocional polêmico e, ao mesmo tempo, reas-
segurador. De fato, por ser muito raramente objeto de análise, ou
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