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DIREITO PENAL -

PARTE GERAL I

cundários das normas que denem os “Crimes contra o Patrimônio” , isto é, pela extensão da lesão produzida.
Introdução comina sanções àqueles que atentam contra a propriedade alheia. A insignicância da ofensa afasta a tipicidade.
tipicidade . Mas essa in-
É, pois, o Direito Penal, um conjunto complementar e sancionador signicância
signicância só pode ser valorada por meio da consideração
de normas jurídicas. global
global da ordem jurídica, como arma Zaffaroni.
1. Noções fundamentais: o fato social é sempre o ponto de
partida na formação da noção do Direito. O Direito surge das 5. Conteúdo do Direito Penal: o conteúdo do Direito Penal abarca 5. Fragmentariedade: signica que o Direito Penal não deve,
necessidades fundamentais das sociedades humanas, que o estudo do crime, da pena e do delinquente, que são os seus  por conta desse caráter fragment ário, sancionar todas as
são reguladas por ele como condição essencial à sua própria elementos fundamentais, precedidos de uma parte introdutiva. Na condutas lesivas aos bens jurídicos, mas tão somente aquelas
sobrevivência. É no Direito que encontramos a segurança parte introdutória são estudadas a propedêutica
propedêutica jurídico-penal e a condutas mais graves e mais perigosas praticadas contra bens
das condições inerentes à vida humana, determinada pelas norma penal. É tratada da sua aplicação no tempo e no espaço, relevantes.
mais relevantes.
normas
normas que formam a ordem jurídica. O fato social que se como também da sua exegese. Acrescentam-se
Acrescentam-se partes referentes
mostra
mostra contrário à norma de direito forja o ilícito jurídico, cuja à ação penal, punibilidade e medidas de segurança. 6. Culpabilidade: não há pena sem culpabilidade, decorren-
Culpabilidade:
forma mais séria é o ilícito penal, que atenta contra os bens do daí três consequências materiais: não há responsabilidade
mais importantes da vida social. Contra a prática de sses fatos objetiva pelo simples resultado; a responsabilidade penal é pelo
o Estado estabelece sanções, procurando tornar invioláveis Princípios do fato e não pelo autor; a culpabilidade é a medida da pena.
os bens que protege. As idéias modernas sobre a natureza Direito Penal
do crime e as suas causas e a exigência prática de uma luta 7. Humanidade: o poder punitivo estatal não pode aplicar
ecaz contra a criminalidade foram desenvolvendo, ao lado da 1. Legalidade ou da reserva legal: constitui uma efetiva limitação sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que
velha reação punitiva, uma série de medidas que se dirigem ao poder punitivo estatal. Embora seja hoje um princípio fundamental lesionem a constituição físico-psíquica dos condena dos.
não a punir o criminoso, mas a promover a sua recuperação do Direito Penal, seu reconhecimento constituiu um longo processo,
social ou a segregá-lo do meio nos casos de desajustamento com avanços e recuos, não passando, muitas vezes, de simples 8. Irretroatividade da lei penal: durante o período compreen-
irredutível. São as chamadas medidas de segurança, com o “fachada formal” de determinados Estados Feuerbach, no início dido entre a entrada em vigor de uma lei e a cessação de sua
objetivo de prevenir ou reprimir a ocorrência de fatos lesivos do século XIX, consagrou o princípio da reserva legal por meio da vigência todos os atos então praticados são por ela regulados.
aos bens jurídicos dos cidadãos. A mais severa das sanções fórmula latina nullum crimen, nulla poena sine lege. O princípio da Não serão alcançados, portanto, os fatos ocorridos antes ou
é a pena, estabelecida para o caso de inobservância de um reserva legal é um imperativo que não admite desvios nem exceções depois do mencionado período: não retroage tampouco tem
imperativo. Dentre as providências de repressão ou prevenção
prevenção e representa uma conquista da consciência jurídica que obedece a ultratividade. É o princípio “tempus regit actum”.
actum”. Contudo, vige
encontramos as medidas de segurança. exigências de justiça. somente em relação à lei mais severa. Admite-se, no direito
Em termos bem esquemáticos, pode-se dizer que, pelo
que,  pelo princípio intertemporal, a aplicação do princípio da retroatividade da lei
2. Função de tutela jurídica:  já dizia Carrara que a função da legalidade, a elaboração de normas incriminadoras é função mais favorável - art. 5º, inc. XL, da CF, pois, segundo esse
especíca do Direito Penal é a tutela jurídica. Visa o Direito exclusiva da lei, isto é, nenhum fato pode ser considerado crimi- princípio, a lei nova que for mais favorável ao réu sempre
Penal a proteger os bens jurídicos. Bem é tudo aquilo que pode noso e nenhuma pena criminal pode ser aplicada sem que antes retroage.
humanas. Todo valor reconhecido
satisfazer as necessidades humanas. reconhecido da ocorrência desse fato exista uma lei denindo-o como crime Link Acadêmico 1
pelo Direito torna-se um bem jurídico. O Direito PenalPenal visa e cominando-lhe a sanção correspondente. A lei deve denir com
proteger os bens jurídicos mais importantes, intervindo somente precisão e de forma cristalina a conduta proibida.
nos casos de lesão a bens jurídicos reputados
re putados fundamentais A Constituição brasileira de 1988, ao proteger os direitos e garan- Lei Penal e Fontes
para a vida em sociedade, impondo sanções aos sujeitos que tias fundamentais, em seu art. 5º, inc. XXXIX, determina que “não
“não da Norma Penal
praticam delitos. haverá crime sem lei anterior que o dena, nem pena sem prévia
cominação legal ”.”. 1. Fonte é o lugar de onde o direito provém.
3. Defnição: direito Penal é o conjunto de normas jurídicas que
regulam o exercício do poder punitivo do Estado, ligando o deli- 2. Intervenção mínima: o princípio da intervenção mínima, também 2. Classifcação das Fontes
to, como pressuposto, à pena, como consequência jurídica.
jurídica. conhecido como “ultima ratio”, orienta e limita o poder incriminador 2.1. De produção, material ou substancial: refere-se ao
do Estado, preconizando que a criminalização de uma conduta só elaboração. Compete à União (CF,
órgão incumbido de sua elaboração.
4. Características do Direito Penal: o Direito Penal regula as se legitima se constituir meio necessário para a proteção de deter- art. 22, I).
relações do indivíduo com a sociedade. Por isso, não pertence
pertence jurídico. Se outras formas de sanção ou outros meios
minado bem jurídico.
ao Direito Privado, mas, sim, ao Público. de controle social revelarem-se sucientes para a tutela desse bem, 2.2. Formal, de cognição: refere-se ao modo pelo qual o
O Direito Penal regula relações jurídicas em que de um lado a sua criminalização é inadequada e não recomendável. Se para o exterioriza. Subdivide-se em: imediata: a
Direito Penal se exterioriza.
surge o Estado com o jus
o jus puniendi, o que lhe confere o caráter restabelecimento
mento da ordem jurídica violada forem sucientes medidas lei, composta de preceito primário (descrição da conduta) e
de Direito Público. Mesmo nos casos em que a ação penal se civis ou administrativas, são estas que devem ser empregadas e não secundário (sanção); mediata: costume, princípios gerais do
movimenta por iniciativa da parte ofendida (crimes de ação as de natureza penal. direito, jurisprudência e doutrina, LICC, art. 4º.
privada), não se outorga o jus puniendi ao particular. Este
exerce apenas o jus
o  jus persequendi in juditio, não gozando do 3. Adequação social: segundo Welzel, o Direito Penal somen-te 3. Classifcação da lei penal
direito de punir o sujeito ativo do crime. tipica condutas que tenham uma certa relevância social; caso a) leis incriminadoras: são as que descrevem crimes e
Segundo Magalhães Noronha, o Direito Penal é ciência cultu- contrário, não poderiam ser delitos.
delitos. Deduz-se, consequentemente, cominam penas.
ral porque pertence à classe das ciências do “dever ser”, e que há condutas que, por sua “adequação social”, não podem ser b) leis não incriminadoras: não descrevem crimes, nem
não à do “ser”. É ciência normativa porque tem a nalidade consideradas criminosas. Em outros termos, segundo esta teoria, cominam penas.
de estudar a norma.
norma. O objeto da Ciência do Direito Penal é as condutas “socialmente adequadas” não podem constituir delitos c) leis não incriminadoras permissivas: tornam lícitas
o conjunto de preceitos legais que se refere à conduta dos e, por isso, não se revestem de tipicidade. determinadas
determinadas condutas tipicadas em leis incriminadoras.
cidadãos, bem como às consequências jurídicas advindas do Exemplo: legítima defesa.
não-cumprimento de suas determinações. É também ciência 4. Insignifcância: o  princípio da insignicância foi cunhado pela d) leis não incriminadoras fnais, complementares ou expli-
valorativa. O direito não empresta às normas o mesmo valor; primeira vez por Claus Roxin em 1964, que voltou a repeti-lo em cativas: esclarecem o conteúdo de outras normas e delimitam
esse, porém, varia, de conformidade com o fato que lhe dá sua obra Política Criminal y Sistema dei D erecho Penal,partindo
Penal, partindo do o âmbito de sua aplicação. Exemplo: arts. 12, 22 e todos os
conteúdo. Nesse sentido, o Direito valoriza suas normas, que velho adágio latino minima non curat praetor. demais da Parte Geral do CP, à exceção dos que tratam das
são dispostas em escala hierárquica. Incumbe ao Direito Pe- A tipicidade penal exige uma ofensa de alguma gr avidade aos bens causas de exclusão da ilicitude.
nal, em regra, tutelar os valores mais elevados ou preciosos,  jurídicos protegidos, pois nem sempre qualquer ofensa a esses bens
ou, querendo, ele atua somente onde há transgressão de ou interesses é suciente para congurar o injusto típico. Segundo 4. Características das normas penais
valores mais importantes ou fundamentais para a sociedade. esse princípio, que Klaus Tiedemann chamou de princípio da baga- a) exclusividade: só elas denem crimes e cominam penas;
E, ainda, ciência fnalista, porque atua em defesa da socie- tela, é imperativa uma efetiva proporcionalidade entre a gravidade b) anterioridade: as que descrevem crimes somente têm inci-
dade na proteção de bens jurídicos fundamentais, como a da conduta que se pretende punir e a drasticidade da intervenção cometimento;
dência se já estavam em vigor na data do seu cometimento;
vida humana, a integridade corporal dos cidadãos, a honra, estatal. Amiúde, condutas que se amoldam a determinado tipo penal, c) imperatividade: impõem-se coativamente a todos, sendo
o patrimônio etc. A consciência social eleva esses interesses, sob o ponto de vista formal, não apresentam nenhuma relevância obrigatória sua observância;
tendo em vista o seu valor, à categoria de bens jurídicos que
5. Normas penais em branco (cegas ou abertas): são nor- 2. Leis temporárias: a vigência vem previamente xada pelo 3. O conceito no fnalismo: a teoria nal da ação tem o mérito
mas nas quais o preceito secundário (cominação da pena) legislador . de eliminar a injusticável separação dos aspectos objetivos e
está completo, permanecendo indeterminado o seu conteúdo. subjetivos da ação e do próprio injusto, transformando, assim,
Trata-se, portanto, de uma norma cuja descrição da conduta 3. Leis excepcionais: são as que vigem durante situações de o injusto naturalístico em injusto pessoal.
está incompleta, necessitando de complementação por outra emergência. A contribuição mais marcante do nalismo foi a retirada de
disposição legal ou regulamentar. Link Acadêmico 2 todos os elementos subjetivos que integravam a culpabilidade,
nascendo, assim, uma concepção puramente normativa.
6. Fontes formais mediatas O nalismo deslocou o dolo e a culpa para o injusto, retirando-
6.1. Costume: consiste no complexo de regras não escritas,
Lei Penal os de sua tradicional localização — a culpabilidade, levando,
consideradas juridicamente obrigatórias e seguidas de modo no Espaço dessa forma, a nalidade para o centro do injusto. Concentrou
reiterado e uniforme pela coletividade. Os costumes são na culpabilidade somente aquelas circunstâncias que condi-
obedecidos com tamanha frequência que acabam se tornan- 1. Princípios adotados pelo Código Penal: adotou-se, como regra, cionam a reprovabilidade da conduta contrária ao Direito, e o
do praticamente regras imperativas, ante a sincera convicção o princípio da territorialidade temperada; como exceção, foram ado- objeto da reprovação situa-se no injusto.
social da necessidade de sua observância. Diferente é o hábito, tados os seguintes princípios: real ou de proteção, art. 7º, I, e par. 3º
onde inexiste a convicção da obrigatoriedade jurídica do ato. do CP; universal ou cosmopolita, art. 7º, II, “a”  do CP; nacionalidade 4. Conceito de crime: dos quatro sistemas de conceituação do
Há três espécies de costume: ativa, art. 7º, II, “b”  do CP; nacionalidade passiva, art. 7º, par. 3º do crime - formal, material, formal e material, e formal, material e
a) “contra legem”: inaplicabilidade da norma jurídica em face CP; e representação, art. 7º, II, “c” do CP. sintomático, dois predominam: o formal e o material. O primeiro
do desuso, da inobservância constante e uniforme da lei . apreende o elemento dogmático da conduta qualicada como
b) “secundum legem”: traça regras sobre a aplicação da 2. Lugar do crime: o CP, no que concerne ao lugar do crime, adotou crime por uma norma penal. O segundo vai além, lançando
lei penal . a teoria da ubiquidade: reputa-se lugar do crime tanto onde hou ve a olhar às profundezas das quais o legislador extrai os elementos
c) “praeter legem”: preenche lacunas e especica o conteú- conduta, quanto o local onde se deu o resultado (art. 6º, CP). que dão conteúdo e razão de ser ao esquema legal.
do da norma. Sob o aspecto formal, bipartido, crime é um fato típico e anti-
O costume não cria delitos, tampouco comina pen as (princípio 3. Extraterritorialidade: as situações de aplicação extraterritorial  jurídico. A culpabilidade constitui pressuposto da pena (Capez,
da reserva legal). O costume contra legem não revoga a lei, da lei penal brasileira estão previstas no art. 7º do CP e constituem Damásio). Sustentam esses que a culpabilidade não pode ser
em face do que dispõe o art. 2º, § 1º, da Lei de Introdução ao exceções ao princípio geral da territorialidade, este no art. 5 º do CP. um elemento externo de valoração exercido sobre o autor do
Código Civil (Dec.-Lei 4.657/42), segundo o qual uma lei só As hipóteses são as seguintes: crime e, ao mesmo tempo, estar dentro dele. N ão existe crime
pode ser revogada por outra lei. O sistema jurídico brasileiro 3.1. Extraterritorialidade incondicionada: aplica-se a lei brasileira culpado, mas autor de crime culpado.
não admite que possa uma lei perecer pelo desuso, porquanto, sem qualquer condicionante (art. 7º, I, CP) na hipóteses de crimes Nosso Código Penal diz:
assentado no princípio da supremacia da lei escrita (fonte  praticados fora do território nacional, ainda que o agente tenha sido Quando o fato é atípico, não existe crime (art. 1º do CP).
principal do direito), sua obrigatoriedade só termina com sua  julgado no estrangeiro (art. 7º, I, CP), com fundamento nos princípios Quando a ilicitude é excluída, não existe crime (art. 23 do
revogação por outra lei. Noutros termos, signica que não pode da defesa e da universalidade. CP) – “não há crime”.
ter existência jurídica o costume contra legem. Os casos de extraterritorialidade incondicional referem-se a crimes: Quando a culpabilidade é excluída, o Código diz “é isento de
6.2. Princípios gerais do direito: tratam-se de princípios contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; contra o pena” (art. 26 do CP).
que se fundam em premissas éticas extraídas de material patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado,
legislativo. Território, Município, empresa pública, sociedade de economia Fato
6.3. A analogia não é fonte formal mediata do Direito Penal, mista, autarquia ou fundação instituída pelo poder público; contra a
mas método pelo qual se aplica a fonte formal imediata, isto administração pública, por quem está a seu serviço; de genocídio, Típico
é, a lei do caso semelhante. De acordo com o art. 4º da LICC, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.
na lacuna do ordenamento jurídico, aplica-se em primeiro 3.2. Extraterritorialidade condicionada: aplica-se a lei brasileira 1. Elementos: conduta (ação ou omissão); resultado; nexo
lugar outra lei (a do caso análogo), por meio da atividade quando satisfeitos certos requisitos, art. 7º, II e parágrafos 2º e 3º, causal (crimes materiais) e tipicidade.
conhecida como analogia; na sua ausência, recorrem-se então CP , com base nos princípios da universidade, da personalidade, da
às fontes formais mediatas, que são o costume e os princípios bandeira e da defesa. 2. Elementos da conduta: vontade, nalidade, exteriorização
gerais do direito. e consciência.
Lei Penal
3. Formas de conduta
Interpretação em Relação às Pessoas 3.1. Ação: para o nalismo, é todo comportamento humano,
da Lei Penal  positivo ou negativo, consciente e voluntário, dirigido a uma
As imunidades diplomáticas e parlamentares não estão vinculadas nalidade, tendo os seguintes momentos: representação men-
1. Formas de procedimento interpretativo: equidade, dou- à pessoa-autora de infração penal, mas às funções eventualmente tal do resultado querido; escolha dos meios para alcançar o
trina e jurisprudência. por ela exercidas, não violando, assim, o preceito constitucional da resultado; aceitação dos resultados concomitantes, também
igualdade de todos perante a lei. chamados de efeitos colaterais; realização do projeto, ou seja,
2. Conceito: é a atividade que consiste em extrair da norma A imunidade parlamentar, por não constituir um direito do par- emprego dos meios escolhidos em busca dos resultados tidos
 penal seu exato alcance e real signicado. A interpretação deve lamentar, mas do próprio Parlamento, é irrenunciável, de cunho como necessários ou prováveis.
buscar a vontade da lei, desconsiderando a de quem a fez. A personalíssimo, podendo ser de duas espécies: 3.2. Omissão: comportamento negativo, abstenção de
lei terminada independe de seu passado, importando apenas 1. Imunidade material ou absoluta: refere-se à inviolabilidade movimento.
o que está contido em seus preceitos. dos parlamentares no exercício do mandato, por suas palavras e
votos - arts. 53, caput ; 27, par. 1º; e 29, VIII, da CF. 4. Relevância da omissão: os crimes podem ser:
3. Espécies de interpretação quanto ao resultado 2. Imunidade formal, relativa ou processual: refere-se à prisão, ao 4.1. Comissivos: quando a ação proibida é positiva, ou seja,
a) declarativa: há perfeita correspondência entre a palavra  processo, a prerrogativas de foro – arts. 53, par. 4º; e 102, I,b, do CF. quando a norma pretende que o sujeito se abstenha de ag ir de
da lei e a sua vontade. Ao processo e julgamento – art. 53, parágrafos 1º e 3º, do CF. forma lesiva a bens jurídicos: “não furte” (art. 155 do CP).
b) restritiva: quando a letra escrita da lei foi além da sua 4.2. Omissivos: quando a norma impõe um dever jurídico de
vontade (a lei disse mais do que queria, e, por isso, a interpre- agir, ou seja, quando a norma ordena que o sujeito impeça um
tação vai restringir o seu signicado) . Contagem determinado risco ou resultado lesivo ao bem jurídico: socorra
c) extensiva: a letra escrita da lei cou aquém da sua vontade de Prazo a criança extraviada (art. 135 do CP).
(a lei disse menos do que queria, e, por isso, a interpretação Quanto aos crimes omissivos, eles podem ser classicados
vai ampliar o seu signicado) . O art. 10 do CP deter mina que o dia do começo inclui-se no cômputo em:
do prazo. Qualquer que seja a fração do primeiro dia, dia do começo, 4.2.1. Omissivos próprios: crimes referidos por tipos da parte
4. O princípio “in dubio pro reo”: para alguns, só se aplica é computada como um dia inteiro. especial de forma direta (a omissão é narrada expressamente
no campo da apreciação das provas; para outros, esgotada a no tipo), nos quais há simplesmente o dever jurídico de agir .
atividade interpretativa sem que se tenha conseguido extrair São crimes de mera conduta, pois não contêm previsão de
o signicado da norma, esta deverá ser interpretada de modo Teoria Geral resultado naturalístico a ser evitado. No instante em que o su-
mais favorável ao acusado. do Delito  jeito não age como o legislador espera e a norma determina,
 já está consumado o delito (omissão de socorro).
 Aplicação 1. O conceito clássico de delito: fundamentava-se num conceito 4.2.2. Omissivos impróprios: também chamados de omissi-
de ação eminentemente naturalístico, que vinculava a conduta ao vos espúrios, impuros ou comissivos por omissão. Aqueles nos
da Lei Penal resultado através do nexo de causalidade e mantinha em partes quais a omissão não é narrada de forma direta. São crimes,
absolutamente distintas o aspecto objetivo, representado pela em princípio, comissivos. Exs.: homicídio e lesão cor poral,
1. Lei penal no tempo: o CP adotou a teoria da atividade, tipicidade e antijuridicidade, e o aspecto subjetivo, representado nos quais há previsão da produção de resultado naturalístico.
considerando-se praticado o crime no momento da ação ou pela culpabilidade. Percebe-se que, em tais casos, o sujeito não tem sim plesmente
omissão, ainda que seja outro o momento do resultado (art. o dever jurídico de agir, mas, sim, o dever jurídico de agir para
4º, CP). É o princípio “tempus regit actum”. 2. O conceito neoclássico de delito: conceito de ação, com impedir um resultado.
1.1. Hipóteses de conito de leis penais no tempo: o Código concepção puramente naturalística. O tipo, até então puramente Podemos dizer que tem o dever de agir para impedir o resultado
Penal procura resolver as situações de conitos temporais que descritivo de um processo exterior, passou a ser um instituto pleno o sujeito que assume a posição de “garante” (ar t. 13, § 2º, CP:
a lei penal apresenta no seu art 2º: a) “abolitio criminis”: a de sentido, convertendo-se em tipo de injusto, contendo, muitas tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância); de
lei nova deixa de considerar crime fato anteriormente tipicado vezes, elementos normativos, e, outras vezes, elementos subjetivos. outra forma, assumiu a obrigação de impedir o resultado ou,
como ilícito penal ; b) “novatio legis” incriminadora: considera A antijuridicidade deixou de ser concebida apenas como a simples com seu comportamento anterior, criou o risco da produção
crime fato anteriormente não incriminado. É irretroativa, e lógica contradição da conduta com a norma jurídica, num puro do resultado.
consoante rezam os arts. 5º, inc. XXXIX, da CF, e 1º, do CP; conceito formal, começando-se a trabalhar um conceito material de
c) “novatio legis in pejus”: a lei posterior que de qualquer antijuridicidade, representado pela danosidade social. 5. Objeto jurídico do crime: é o bem jurídico protegido pela
conduta infungível): só pode ser cometido pelo sujeito em pessoa, ocasião da prática de outro. Ex.: subtração de jóias da vítima
7. Corpo de delito: é o conjunto de todos os elementos como o delito de falso testemunho (art. 342). estuprada. O furto é praticado por ocasião do cometimento do
sensíveis do fato criminoso, como instrumentos, objetos, a 11.4. Crime de dano: exige uma efetiva lesão ao bem jurídico estupro, não havendo entre eles relação de meio e m.
 própria pessoa etc.  protegido para a sua consumação (art. 121, CP). Link Acadêmico 3
11.5. Crime de perigo:  para a consumação, basta a possibilidade
8. Do Resultado do dano, ou seja, a exposição do bem a perigo de dano (art. 132 do
8.1. Resultado jurídico: é a afronta à norma penal. CP). Subdivide-se em:
Da Tipicidade
8.2. Resultado naturalístico: é a alteração do mundo físico, 11.6. Crime material: só se consuma com a produção do resultado
diversa da própria conduta, mas causada por ela. Os crimes, naturalístico, como a morte, para o homicídio; a subtração, para o Tipicidade penal é a perfeita adequação entre o fato concreto
quanto ao resultado, podem ser classicados em: furto; a destruição, no caso do dano. e o tipo incriminador (modelo abstrato). Adotamos atualmente
8.2.1. Materiais: o tipo traz a descrição do resultado e o exige 11.7. Crime formal: o tipo não exige a produção do resultado para a a teoria de um tipo penal complexo, com parte objetiva e sub-
 para a consumação; consumação do crime, embora seja possível a sua ocorrência. Assim,  jetiva. O juízo de tipicidade comporta, assim, análise objetiva
8.2.2. Formais: o tipo traz a descrição do resultado, mas não o resultado naturalístico, embora possível, é irrelevante para que a e subjetiva. Subjetiva quando se refere ao aspecto interno do
o exige para a consumação. O resultado naturalístico, embora infração penal seja consumada. sujeito (previsão do resultado, consciência da conduta, vontade,
 possível, é irrelevante para a consumação do crime. Como não 11.8. Crime de mera conduta: o resultado naturalístico não é apenas objetivos etc.). Objetiva quando externo ao sujeito, perceptível
há coincidência entre o que o tipo exige para a consumação irrelevante, mas impossível . É o caso do crime de desobediência ou diretamente pelo observador (o movimento corpóreo, o lugar
(conduta) e o que o agente quer (resultado), também são de violação de domicílio, em que não existe absolutamente nenhum da conduta, o resultado naturalístico etc.).
chamados de tipos incongruentes; poderíamos ainda dizer resultado que provoque modicação no mundo concreto. A tipicidade penal pode ser dolosa, quando presente no tipo
que no caso dos crimes formais não há perfeita sintonia entre 11.9. Crime comissivo: é o praticado por meio de ação. Homicídio, o elemento subjetivo do tipo dolo. Pode também ser culposa,
a tipicidade objetiva e a subjetiva; por exemplo. quando necessário tão somente o elemento normativo culpa.
8.2.3. Mera conduta: o tipo sequer traz descrição de resultado. 11.10. Crime omissivo: é o praticado por meio de uma omissão Sem dolo ou culpa, não há crime, conforme o já estud ado prin-
Exs.: arts. 158 e 330, CP. (abstenção de comportamento). Exemplo: art. 135 do CP (dei-xar cípio da culpabilidade, que rege o Direito Penal brasileiro.
de prestar assistência). A adequação típica pode ser: imediata, nos casos em que o fato
9. Nexo de Causalidade: é o liame entre a conduta e o resul- 11.11. Crime omissivo próprio: não existe o dever jurídico de concreto se adapta diretamente à hipótese típica, ou seja, o tipo
tado, necessário (mas não suciente) para que se possa atribuir agir; o omitente não responde pelo resultado, mas apenas por sua espelha a conduta realizada no mundo exterior; e mediata ou
a responsabilidade pelo resultado ao agente. conduta omissiva (arts. 135 e 269, do CP). Dentro dessa modalidade indireta, nos casos em que o fato não encontra correspondente
É adotada no Brasil a teoria da equivalência dos antecedentes, de delito omissivo tem-se o crime de conduta mista, em que o tipo direto na narrativa típica. Exemplo: não há um tipo que narre
considerando causa tudo aquilo que contribui para a geração legal descreve uma fase inicial ativa e uma fase nal omissiva - por “tentar matar alguém”. A adequação típica apenas ocorrerá
do resultado. Para descobrir se um evento é ou não causa de exemplo, apropriação de coisa achada, art. 169, parágrafo único, II de forma mediata, ou seja, será preciso recorrer a uma norma
determinado resultado, basta excluí-lo hipoteticamente da ca- do CP. Trata-se de crime omissivo próprio porque só se consuma de ampliação da adequação típica da tentativa para que o
deia causal e vericar se, idealmente, o resultado persistiria nas no momento em que o agente deixa de restituir a coisa. A fase homicídio na forma tentada seja considerado típico. O mesmo
mesmas circunstâncias. Se o resultado persiste, não é causa, inicial da ação, isto é, de apossamento da coisa, não é sequer ato acontece com o concurso de agentes.
pois sem ele o mesmo resultado foi gerado. Se o resultado deixa executório do crime.
de ocorrer, é causa (critério da eliminação hipotética). 11.12. Crime omissivo impróprio ou espúrio ou comissivo por 1. O tipo penal: o vocábulo tipo é utilizado com o sentido de
O Brasil não adota tal teoria de forma absoluta, havendo uma omissão: o omitente tinha o dever jurídico de evitar o resultado e, modelo. O tipo penal incriminador seria o modelo de conduta
exceção: a causa superveniente relativamente indepen-  portanto, por este responderá, cf. art. 13, § 2º, do CP . É o caso da proibida, em princípio. Ao invés de descrever a própria proibição
dente rompe o nexo causal , ou melhor, entende-se que na mãe que descumpre o dever legal de amamentar o lho, fazendo da conduta (“não matar, sob pena de ...“), o sistema de modelos
superveniência de causa relativamente independente não há com que ele morra de inanição, ou do salva-vidas que, na posição (tipos) traz a descrição da conduta proibida no preceito primário,
nexo entre a conduta e o resultado. Assim, quando incide a de garantidor, deixa, por negligência, o banhista morrer afogado: e no secundário, a sanção.
exceção, uma conduta que pelo critério da eliminação hipo- ambos respondem por homicídio culposo, e não por simples Nos tipos penais podem ser discriminadas: a) elementares:
tética seria considerada causa deixa de ser assim considerada omissão de socorro. são os dados essenciais da gura típica, sem os quais ocorre
para ns penais. 11.13. Crime doloso: quando o agente quer ou assume o risco de atipicidade absoluta ou relativa. Há atipicidade absoluta quan-
As causas podem ser:  produzir o resultado (art. 18, I, CP). do, com a eliminação hipotética do dado, a conduta deixa de
9.1. Dependentes: são aquelas que se encontram na linha 11.14. Crime culposo: quando o agente dá causa ao resultado por ser relevante penal (retire hipoteticamente o termo “outrem” do
de desdobramento previsível e esperada da conduta. É o que imprudência, negligência ou imperícia (art. 18, II, CP). crime de lesão corporal e o fato deixa de ter relevância penal,
costuma acontecer. 11.15. Crime instantâneo: consuma-se em um dado instante, sem pois a autolesão não é, em princípio, punível). Consideramos
9.2. Independentes: são aquelas que não se encontram na continuidade no tempo, como, por exemplo, o homicídio. que houve atipicidade relativa quando a exclusão hipotética
linha de desdobramento previsível e esperada da conduta. 11.16. Crime permanente: o momento consumativo se protrai no do dado resulta na alteração da classicação típica, ou seja,
Divididas em: tempo, e o bem jurídico é continuamente agredido. A sua caracterís- o fato passa a ser capitulado em outro tipo (elimine a violência
9.2.1. Relativamente independentes: quando precisam da as- tica reside no fato de a cessação da situação ilícita depender apenas ou grave ameaça do roubo e o fato passa a constituir furto);
sociação da conduta para que venham a gerar o resultado. da vontade do agente. Exemplo: sequestro - art. 148 do CP. b) circunstâncias: são todos os dados acessórios da gura
9.2.2. Absolutamente independentes: quando não precisam 11.17. Crime complexo: resulta da fusão de dois ou mais tipos típica que orbitam as elementares e têm como função inuir na
da associação da conduta para que venham a gerar o resulta-  penais (latrocínio = roubo + homicídio; estupro qualicado pelo dosagem da pena. São objetivasquando se referem a aspectos
do. Geram o resultado ainda que isoladas. resultado morte = estupro + homicídio; extorsão mediante sequestro = externos ao sujeito e subjetivas quando tratam do agente.
Se houver causa absolutamente independente, não há nexo extorsão + sequestro etc.). Não constituem crime complexo os delitos
causal entre a conduta e o resultado, pois, ainda que a conduta formados por um crime acrescido de elementos que isoladamente 2. Tipicidade conglobante: fórmula corretiva da tipicidade
venha a ser eliminada, o resultado per maneceria (aplicação do são penalmente indiferentes, por exemplo, o delito de denunciação formal desenvolvida por Eugenio Raúl Zaffaroni, para que se
critério da eliminação hipotética). caluniosa, CP, art. 339, que é formado pelo crime de calúnia e por alcance a verdadeira tipicidade penal . Assim, a tipicidade penal
Cada uma das categorias enumeradas ainda pode ser classi- outros elementos que não constituem crimes. seria a soma da tipicidade formal com a tipicidade conglobante.
cada quanto ao momento em que atua, como: preexistente 11.18. Crime monoofensivo e pluriofensivo: monoofensivo é o Se o juízo de tipicidade implica proibição a priori da conduta,
(quando anterior à conduta), concomitante (quando coincide que atinge apenas um bem jurídico. O homicídio, por exemplo, no não podem ser consideradas sequer proibidas aquelas con-
no tempo com a conduta) e superveniente (quando posterior qual se tutela tão somente a vida; pluriofensivo é o que ofende dutas que não são apenas toleradas (descriminantes), mas,
à conduta). mais de um bem jurídico, como o latrocínio, que lesa a vida e o sim, fomentadas ou determinadas pelo ordenamento, sendo,
patrimônio. assim, importante considerar o que a norma queria atingir, o
10. Imputação objetiva: surgiu para conter os excessos 11.19. Crime unissubsistente: é o que se perfaz com um único ato, que ela quer proibir. Por outro lado, se as excludentes de anti-
da teoria da conditio sine qua non, evitando-se, com isso, como a injúria verbal. Não admite a tentativa.  juridicidade permitem excepcionalmente o que é em princípio
o chamado regressus ad innitus. O nexo causal não pode 11.20. Crime plurissubsistente: é aquele que exige mais de um ato proibido, não teria sentido, excepcionalmente, permitir o que em
ser estabelecido, exclusivamente, de acordo com a relação  para sua realização, como no caso do estelionato - art. 171, CP. tese não era proibido, ou seja, torna-se desnecessário apelar
de causa e efeito. 11.21. Crime de ação múltipla ou conteúdo variado: é aquele em para as descriminantes quando a questão deve ser resolvida
Assim, além do elo naturalístico de causa e efeito, são neces- que o tipo penal descreve várias modalidades de realização do crime no âmbito da tipicidade.
sários os seguintes requisitos: (tráco de drogas, art. 33 da Lei 11.343/06; instigação, induzimento Assim, as práticas esportivas e as intervenções cirúrgicas não
10.1. Criação de um risco proibido e relevante. Ex.: uma mulher ou auxilio ao suicídio, art. 122 do CP). seriam sequer fatos típicos a serem desconsiderados pelas
leva o marido para passear, esperando que ele venha a sofrer 11.22. Crime habitual: é o composto pela reiteração de atos que descriminantes do exercício regular de direito, tampouco
um acidente e morrer, o que acaba acontecendo. Passear é revelam um estilo de vida do agente, p. ex.: ruanismo (art. 230, CP); a invasão sob mandado do oficial de justiça poderia ser
um risco normal, irrelevante; exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica (art. 282, considerada típica, mas não injusta pelo estrito cumprimento
10.2. Que o resultado esteja na mesma linha de desdobramento CP). Só se consuma com a habitualidade na conduta. Enquanto no do dever legal.
causal da conduta, ou seja, dentro do seu âmbito de risco. crime habitual cada ato isolado constitui fato atípico, pois a tipicidade Tais condutas deveriam ser compreendidas como penalmente
Ex.: um tracante vende droga para alguém, que, por impru- depende da reiteração de um número de atos, no crime continuado atípicas, pois o ordenamento desde logo não as proíbe. Estão
dência, morre por overdose. A morte não pode ser, de forma cada ato isolado, por si só, já constitui crime. fora do âmbito de alcance da tipicidade conglobante, ainda,
causal, imputada ao vendedor, por se tratar de uma ação de 11.23. Crimes conexos: pode ocorrer de o agente praticar vários as lesões insignicantes. Acrescentamos aqui, também, as
risco próprio, fora do âmbito normal de perigo provocado pela crimes sem que entre eles haja qualquer ligação. Ao contrário, pode criações de risco permitido.
ação do tracante; haver entre eles um liame, uma ligação, um nexo entre os delitos.
10.3. Que o agente atue fora do sentido de proteção da Nesse caso, fala-se em crimes conexos. Assim, o sujeito pode 3. Tipicidade dolosa: costuma-se designar dolo como
norma. cometer uma infração para ocultar outra. Então, temos delitos inde- intenção, vontade. Há duas importantes teorias acerca dos
pendentes, pois estão ligados por um liame subjetivo. A conexão pode elementos constitutivos do dolo: a) teoria normativa do
11. Classifcação dos delitos ser: a) teleológica: um crime é praticado para assegurar a execução dolo: dolo é consciência, vontade e consciência da ilicitude;
11.1. Crime comum: pode ser cometido por qualquer pessoa. de outro. Ex.: o sujeito mata o marido para estuprar a esposa. Há dois b) teoria psicológica do dolo : dolo é consciência e vontade
A lei não exige nenhum requisito especial. Exemplo: homicídio, crimes: homicídio e estupro. O primeiro é denominado crime-meio; o de estar concretizando/concretizar os elementos do tipo.
furto etc. segundo, crime-m; b) consequencial: (ou causal) quando um crime Aliás, a consciência é o dado essencial, mormente para que
doloso em virtude de o agente consciente e deliberadamente muro, pontas de lança, grades etc., que representam uma resistência dispositivos legais distintos. Exs.: aborto (a gestante estará
valer-se da situação vantajosa de defesa em que se encontra normal, natural, prevenindo uma violação ao direito protegido. incursa no art. 124 do CP e o terceiro, no art. 126 do CP);
para, desnecessariamente, inigir ao agressor uma lesão mais As defesas mecânicas predispostas, por sua vez, encontrar-se-iam corrupção (o corrupto pratica corrupção passiva e o corruptor,
grave do que a exigida e possível, impelido por motivos alheios ocultas, ignoradas pelo suposto agressor, como, por exemplo, armas corrupção ativa).
à legítima defesa. automáticas predispostas ou qualquer tipo de armadilha pronta para
7.1. Consequência: constatado o excesso doloso, o agente disparar no momento da agressão. 3. Autor: aquele que realiza a conduta nuclear  (conceito restrito
responde pelo resultado dolosamente. As offendiculas, segundo Aníbal Bruno, incluem-se na excludente do de autor). Partícipe: quem concorre para a conduta do autor,
exercício regular de direito. Para Assis Toledo, seguindo a orientação auxiliando-o material ou moralmente  (mediante induzimento
8. Hipóteses de cabimento: a) legítima defesa contra agres- de Hungria e Magalhães Noronha, as offendiculas localizam-se ou instigação). Para a teoria do domínio do fato, autor é
são injusta de inimputável; b) legítima defesa contra agressão melhor no instituto da legítima defesa, onde a potencialidade lesiva quem tem o controle nal do fato (poder de decisão quanto
acobertada por qualquer outra causa de exclusão da culpa- de certos recursos, cães ou engenhos será tolerada quando atingir ao cometimento do crime), ainda que não pratique a conduta
bilidade; c) legítima defesa real contra legítima defesa putativa; o agressor e censu-rada quando o atingido for inocente. nuclear. Aplica-se, sobretudo, aos casos de autoria mediata,
d) legítima defesa putativa contra legítima defesa putativa; e) A decisão de instalar os ofendículos constitui exercício regular de considerando autor a pessoa que se utiliza de terceiro como
legítima defesa real contra legítima defesa subjetiva; f) legítima direito, isto é, exercício do direito de se autoproteger. No entanto, mero instrumento de sua vontade.
defesa putativa contra legítima defesa real; g) legítima defesa quando reage ao ataque esperado, inegavelmente estará constituída
real contra legítima defesa culposa. a legítima defesa preordenada. 4. Participação de menor importância: aquele que prestar
Link Acadêmico 6 colaboração de pouca relevância causal no resultado terá a
9. Hipóteses de não-cabimento da legítima defesa: a) legí- pena reduzida de um sexto a um terço (art. 29, § 1º, do CP).
tima defesa real contra legítima defesa real; b) legítima defesa
real contra estado de necessidade real; c) legítima defesa real Culpabilidade 5. Participação dolosamente distinta: se um dos concorren-
contra exercício regular de direito; d) legítima defesa real contra tes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á imposta
estrito cumprimento do dever legal. É que, em nenhuma dessas 1. Conceito: é o juízo de censurabilidade e reprovação exercido essa pena, aumentada até metade, se o resultado era previsível
hipóteses, havia agressão injusta. sobre alguém que praticou um crime. A possibilidade de se considerar (art. 29, § 2.°, do CP).
alguém culpado pela prática de ação infracional.
Estrito Cumprimento Comunicabilidade e Inco-
2. Elementos
de Dever Legal 2.1. Imputabilidade: capacidade de entender o caráter ilícito do fato municabilidade de Elemen-
e de ter controle sobre sua vontade. Dois momentos, portanto: de  tares e Circunstâncias
Quem pratica uma ação em cumprimento de um dever imposto intelecção e de vontade.
por lei não comete crime. Ocorrem situações em que a lei 2.2. Potencial consciência da ilicitude: trata-se do conhecimento
im põe determinada conduta, q ue, embora típica, não será ilí- de que o fato é proibido. Tem consciência da ilicitude quem pratica 1. As circunstâncias subjetivas ou de caráter pessoal jamais
cita, ainda que cause lesão a um bem juridicamente tutelado. o fato sabendo que faz coisa errada (proibida). Não se confunde se comunicam. Exemplo: reincidência.
Nessas circunstâncias, isto é, no estrito cumprimento de com o desconhecimento da lei, que corresponde à noção do que
dever legal, não constituem crime a ação do carcereiro que diz o texto legal. 2. As circunstâncias objetivas comunicam-se, desde que o
encarcera o criminoso, do policial que prende o infrator em 2.3. Exigibilidade de conduta diversa: a imposição de pena requer co-autor ou partícipe delas tenha conhecimento.
agrante delito etc. que o agente tenha tido condições de atuar de modo diverso. Isso
Reforçando a licitude de comportamentos semelhantes, o Có- não ocorre quando ele é obr igado a praticar o fato sob coação moral 3. As elementares, objetivas ou subjetivas, se comu-
digo de Processo Penal estabelece que, se houver resistência, irresistível ou obediência hierárquica, i.e., em cumprimento de ordem nicam, desde que o co-autor ou partícipe delas tenha
poderão os executores usar dos meios necessários para se de autoridade superior não manifestamente ilegal. conhecimento.
defenderem ou para vencerem a resistência (art. 292 do CPP). Link Acadêmico 7
No entanto, dois requisitos devem ser estritamente observados 3. Excludentes de imputabilidade
para congurar a excludente: a) doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado: gera aplicação de medida de segurança (absolvição
1. Estrito cumprimento: somente os atos rigorosamente ne- imprópria). Exige-se que o sujeito, ao tempo do fato e por inuência
cessários justicam o comportamento permitido; da doença mental ou do desenvolvimento mental incompleto/retar-
dado, tenha suprimida a capacidade de entender o caráter ilícito da
2. De dever legal: é indispensável que o dever seja legal, isto conduta ou de se controlar. Se tais capacidades forem reduzidas, o
é, decorra de lei, não o caracterizando ob rigações de natureza agente será considerado semi-imputável; b) menoridade: aplica-se
social, moral ou religiosa. o ECA (Lei 8.069/90). A idade deve ser aferida ao tempo da conduta A coleção Guia Acadêmico é o ponto de partida dos es-
A norma da qual emana o dever tem de ser jurídica, e de cará- e não do resultado; c) embriaguez completa e involuntária, em tudos das disciplinas dos cursos de graduação, devendo
ter geral: lei, decreto, regulamento etc. Se a norma tiver caráter caso fortuito ou força maior: o agente será absolvido (absolvição ser complementada com o material disponível nos Links
particular, de cunho administrativo, poderá congurar a obediência própria). Será preciso supressão das capacidades de entendimento e e com a leitura de livros didáticos.
hierárquica, art. 22, 2ª parte, do CP, mas não o dever legal. autodeterminação. Se houver redução dessas capacidades, o agente
Esta norma permissiva não autoriza, contudo, os agentes do será considerado semi-imputável. Quando a embriaguez for voluntá- Processo de conhecimento – 2ª edição - 2009
Estado a matar ou ferir pessoas apenas porque são ma rginais ria, o agente responderá pelo crime, desde que o resultado produzido
ou estão delinquindo ou estão sendo legitimamente perse- seja considerado previsível (teoria da “actio libera in causae”). Coordenador:
guidas. A própria resistência do eventual infrator não autoriza
essa excepcional violência ocial. Carlos Eduardo Brocanella Witter, Professor universitário
4. Critérios de aferição da imputabilidade
Se a resistência — ilegítima — constituir-se de violência ou e de cursos preparatórios há mais de 10 anos, Especia-
a) sistema biológico: interessa saber se o agente é portador
grave ameaça ao exercício legal da atividade de autoridades de alguma doença mental ou se tem o desenvolvimento mental lista em Direito Educacional; Mestre em Educação e Se-
públicas, congurada estará uma situação de legítima defesa, incompleto, caso em que será considerado inimputável, inde- miótica Jurídica; Membro da Associação Brasileira para
permitindo a reação dessas autoridades, desde que empre- pendentemente de qualquer vericação concreta de essa anomalia o Progresso da Ciência; Palestrante; Advogado e Autor
guem moderadamente os meios necessários para impedir ter retirado a capacidade de entendimento ou autodeterminação; b) de obras jurídicas.
ou repelir a agressão. Mas, repita-se, a atividade tem de ser sistema psicológico: não se verica com a existência de doença
legal e a resistência com violência tem de ser injusta, além da mental, mas apenas se, no momento da infração, ele tinha ou não Autor:
necessidade da presença dos demais requisitos da legítima condições de entender o caráter ilícito do fato e de ter controle sobre Antônio Carlos Lorenzetti, Promotor de Justiça e Profes-
defesa. Será uma excludente dentro de outra. sua vontade; c) sistema biopsicológico: é uma combinação dos sor de Direito Penal
dois sistemas anteriores, exigindo que a causa geradora (doença
Exercício Regular mental ou desenvolvimento mental incompleto) esteja prevista em lei
e que atue efetivamente no momento do crime, retirando do agente a A coleção Guia Acadêmico é uma publicação da Memes
de Direito condição de entender o caráter ilícito do fato e de ter controle sobre Tecnologia Educacional Ltda. São Paulo-SP.
sua vontade, tornando-o inimputável. Esse foi o sistema adotado Endereço eletrônico: www.memesjuridico.com.br 
O exercício de um direito, desde que regular, não pode ser, ao pelo Código Penal no art. 26, “caput”. Todos os direitos reservados. É terminantemente proibida
mesmo tempo, proibido pelo Direito. Regular será o exercício Os requisitos da inimputabilidade, segundo o sistema biopsicológico, a reprodução total ou parcial desta publicação, por qual-
que se contiver nos limites objetivos e subjetivos, formais e são causal (doença mental ou desenvolvimento mental incompleto), quer meio ou processo, sem a expressa autorização do
materiais impostos pelos próprios ns do Direito . cronológico (atuação ao tempo do crime) e consequencial (perda autor e da editora. A violação dos direitos autorais carac-
Fora desses limites, haverá o abuso de direito e estará, portan- total da capacidade de entender e desejar o crime), havendo inim- teriza crime, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.
to, excluída essa causa de justicação. O exercício regular de um putabilidade se somente os três elementos estiverem presentes,
direito jamais poderá ser antijurídico. Deve-se ter presente, no com exceção do sistema biológico, quando o agente tem menos
entanto, que a ninguém é permitido fazer justiça pelas próprias de 18 anos de idade.
mãos, salvo quando a lei o permite, art. 345 do CP.
Constituem exercício regular de direito as intervenções
cirúrgicas e médicas, a violência esportiva, quando o esporte Concurso de Pessoas
é exercido dentro dos limites da disciplina que o regulamenta,
a defesa da posse pelo desforço imediato.
1. Requisitos: a) pluralidade de agentes; b) relevância causal da
1. Ofendículos: são as defesas predispostas, que, em regra, conduta; c) vínculo subjetivo ou concurso de propósitos; d) unidade
constituem dispositivos ou instrumentos cujo objetivo é impedir de infração.
ou dicultar a ofensa ao bem jurídico protegido (patrimônio,

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