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SOBRE O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE – origem – breves notas

Partindo da premissa de que a SEGURANÇA é um dos elementos fundamentais para o


equilíbrio das relações sociais e que a ação criminosa atenta contra as normas
fundamentais da segurança individual e coletiva
 Primeira fase de repressão criminal → “vindicta privada” vingança com vista à
reposição do equilíbrio /justiça privada (considerada pelo sentimento coletivo
justa e legítima) após apresentação de queixa às autoridades públicas (juízes
régios, senhoriais, municipais) contra o ofensor e de verificada a culpa do
acusado (a este sistema de justiça opõe-se o sistema da justiça pública em que são as
entidades públicas competentes que investigam, instruem, julgam e sancionam):
inicialmente aplicada pelo rei, pelos senhores, pelos juízes→ por quebra da paz
e da amizade → desequilíbrios entre a ofensa e a reação + cadeia de vinganças
/// inicialmente poucas disposições legislativas + costume; mais tarde (a partir
de D: Afonso III a legislação passa a ser a fonte como consequência do
fortalecimento do poder do monarca, ao lado do costume; a partir de D. Afonso
IV temos uma compilação oficial das leis portuguesas nas Ordenações Afonsinas
funcionando como repositório das leis dos primeiros monarcas, a que se
seguiram as Manuelinas e as Filipinas – Livros V de cada uma que contém normas
de direito e processo penal).
Características: ordem discriminatória em função das classes sociais, fortemente
repressivo, penas cruéis e bárbaras, fins intimidatórios, arbítrio legislativo e
judicial, métodos de tortura em sede investigatória, confissão rainha das provas,
arguido objeto do processo, estrutura inquisitória do processo tributário da
conceção autoritária do Estado, apuramento da verdade formal, afirmação da
prevalência dos interesses estaduais, que se manteve até finais do séc. XVIII.

 O pensamento iluminista produziu alterações e um novo rumo ao direito e ao


processo penal. Coordenadas: a) secularização; b) contratualismo; c)
utilitarismo; d) legalismo.
o Destacam-se Cesare Beccaria (Dei delitti e delle Pene, em 1764) e
Feuerbach.
o Consequências jurídico-criminais: a) da legalidade na incriminação
(nullum crimen sine lege, nulla poena sine lege, nulla poena sine
iudicio); b) prevenção geral como fim das penas; c) abolição das
penas cruéis e humanização da sua execução, em especial, da
pena de prisão; d) processo de tipo acusatório.
o DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO DE 1789:
“Artigo 8º- A Lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente
necessárias, e ninguém pode ser punido senão em virtude de uma lei
estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada”
o Em Portugal – projeto destinado a substituir o livro V das
Ordenações, de 1789 – Pascoal José de Melo Freire inspirado na
obra de Beccaria
o A influência do século das luzes acentuou-se a partir da rev. de
1820
o a Constituição de 1822 veio afirmar a necessidade da lei penal, a
pena proporcionada ao delito, a intransmissibilidade da pena, a
abolição da tortura e demais penas cruéis
o A lei define as condutas que constituem crime e prevê a moldura
penal correspondente devendo ser prévia em relação ao
momento da prática do facto criminoso e consequente proibição
da retroatividade da lei penal – princípio da irretroatividade ou
da anterioridade da lei penal
 VER mais recentemente: artigo 7.º da CEDH de 1950 “Princípio da legalidade. 1.
Ninguém pode ser condenado por uma acção ou uma omissão que, no momento em
que foi cometida, não constituía infracção, segundo o direito nacional ou internacional.
Igualmente não pode ser imposta uma pena mais grave do que a aplicável no momento
em que a infracção foi cometida”; artigo 11.º, n.º 2 da DUDH de 1948 “Ninguém será
condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam
acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será
infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto
delituoso foi cometido” + Artigo 29.º da CRP + Artigo 1.º, nºs 1 e 2 do CP e Artigo
2.º, n.º 1 do CP
Exceções ao princípio da irretroatividade:
 Artigo 2.º, n.º 2 – descriminalização;
 Artigo 2,º, n.º 4 – lei posterior de conteúdo mais favorável
Determinação do locus delicti – Artigo 3.º - momento em que o
agente atuou, ou no caso, de omissão, em que deveria ter atuado,
independentemente do momento que que se verifique o resultado.

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