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Programa:
1.ª Parte: sujeitos do processo penal
2.ª Parte: domínio do Código de Processo Penal
Bibliografia:
Cadernos do CEJ de Processo Penal do Dr. Germano Marques da Silva
Código de Processo Penal anotado de Pinto de Albuquerque.
1. Parte geral → aplica-se às diversas fases processuais, ou seja, tem uma aplicação
genérica a todo o processo penal. Esta parte tem os sujeitos processuais, os actos
processuais, a prova, medidas de coacção e relações com autoridades
estrangeiras.
2. Parte especial → segunda metade do CPP, que vai tratando fase a fase do
processo, ou seja, são normas específicas em cada uma das fases.
Nomeadamente, as fases preliminares, o inquérito, a instrução, o julgamento, e
também os processos especiais, recursos e as execuções. Na parte final ainda
refere as custas.
A parte geral do CPP vai do art. 1.º ao art. 240.º CPP. Começa por ter uma primeira
parte das “disposições preliminares”, que constam dos arts. 1.º a 7.º CPP. Estas
“disposições preliminares” estão divididas em duas partes:
1) Art. 1.º CPP – este art. é muito importante, pois trata das definições legas,
define determinados conceitos que vão aparecer ao longo do CPP, e muitas
vezes vamos ter de recorrer a este art. 1.º para resolver casos concretos.
2) Arts. 2.º a 7.º CPP – são no fundo princípios gerais do processo penal,
nomeadamente o princípio da legalidade, princípio da subsidariedade das
normas de processo penal a outros processos, princípio da integração de lacunas,
aplicação da lei processual no tempo e espaço e princípio da suficiência do
processo penal. São princípios gerais também igualmente importantes.
Esta parte geral do código está depois dividida em Livros, sendo que o primeiro livro
trata dos sujeitos do processo.
Sujeitos do processo
(arts. 8.º a 84.º do Livro I CPP)
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Prática Processual Penal
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Existem outros sujeitos que intervêm no processo penal, mas esporadicamente, com
pouca relevância.
Assistente
Quem é o assistente?
Grosso modo, podemos dizer que é o ofendido, ou seja, o titular dos interesses que a
norma visa defender, pois este pode querer intervir activamente no processo. Então,
constitui-se como assistente, passa a ser uma parte processual subordinada ao MP, e,
como tal, terá poderes de acusar, requerer a abertura de instrução, recorrer.
Se o ofendido não resolver constituir-se como assistente, terá um papel essencialmente
passivo.
O assistente é então, grosso modo, o ofendido, embora possam existir outros assistentes.
Partes civis
Por vezes o processo penal e o processo civil podem cruzar-se. Num processo penal
pode caber também um processo civil enxertado, ou seja, se houver lesados de um crime
que foi praticado, isto é, se houver danos, estes lesados podem no processo penal fazer
valer os seus direitos, daí que se enxerte uma acção civil num processo penal.
Actos processuais
(arts. 35.º a 123.º CPP, Livro II)
Nesta parte dos actos processuais existem normas muito importantes, nomeadamente as
referentes à publicidade e ao segredo de justiça. Esta matéria foi profundamente alterada
com a última revisão do CPP. A regra passou a ser a publicidade, e o segredo passou a
ser a excepção.
Normas muito importantes desta parte do Código são as respeitantes à forma dos actos e
ao tempo dos actos.
As normas dos arts. 103.º e 104.º CPP respeitam à contagem dos actos.
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É muito importante o art. 113.º CPP, referente às notificações, que está na parte das
“comunicações dos actos”, pois para contar um prazo é preciso saber quando as pessoas
são notificadas, para determinar quando se começa a contar o prazo.
Nulidades
(arts. 118.º a 123.º CPP)
Prova
(Livro III)
Medidas de coacção
(arts. 191.º a 228.º CPP)
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Esta matéria tem uma parte que trata das disposições gerais das medidas de coacção,
dos diversos princípios para a aplicação de toda e qualquer medida de coacção.
Depois tem uma forte que trata individualmente de cada uma destas medidas. Aqui
vamos ver as medidas de coacção da menos grave à mais grave, ou seja, o TIR, a
caução, a obrigação de apresentação periódica, a suspensão do exercício da profissão,
definição de actividade e de direitos, a proibição e imposição de condutas, a obrigação
de permanência na habitação, e a prisão preventiva, que é a mais grave todas.
O Livro V, que é o último desta parte geral, trata das relações com autoridades
estrangeiras e entidades judiciárias internacionais (parte pouco importante).
A parte especial do Código inclui uma parte relativa à “fase preliminar”. Esta parte
especial vai fazer o percurso ao longo do processo, onde se pode encaixar a forma do
processo especial.
Esta lei especial também tem vários Livros.
Depois temos o Livro VII, que trata do julgamento, e fala das três fases que compõem
o julgamento: os “actos preliminares”, a “audiência” e a “sentença”.
O Livro VIII trata dos processos especiais, que são três: o processo sumário, o processo
abreviado e o processo sumaríssimo.
O Livro VIX trata dos recursos (art. 399.º a 466.º CPP), e é uma matéria com alguma
complexidade. Os recursos em processo penal são muito diferentes do processo civil.
Os Livros X e seguintes falam das execuções e custas, e não tem grande interesse.
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Após adquirir-se a notícia do crime, abre-se o inquérito pelo MP, que pode ser auxiliado
nesta função pelos órgãos de polícia criminal (OPC) – art. 1.º, al. c) CPP.
Mas quem controla o inquérito é o juiz de instrução criminal. É o JIC quem controla a
legalidade do inquérito e a quem são incumbidas prorrogativas de exclusividade quanto
a certos actos.
O inquérito decorre e quando chega ao fim, grosso modo, o inquérito pode terminar
de duas formas:
Acusação
Ou
Arquivamento
Instrução
Pode o arguido quanto à acusação que foi proferida ou para modificar algum facto dessa
acusação, quando a acusação do MP contenha factos a mais, ou no caso de
arquivamento.
Cabe ao JIC dirigir a fase da instrução. No fundo, a instrução visa decidir se vai ou não
haver julgamento, ou seja, se o arguido deve ou não ir a julgamento.
Se entender que não deve, faz um despacho de não pronúncia. Se entender que deve ir a
julgamento, é emitido um despacho de pronúncia.
Fase do julgamento
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Prática Processual Penal
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contestar a acusação, mas também pode não a contestar, no fazer nada quanto ao
contrário da não contestação em processo civil, em processo penal a não contestação no
implica desvantagens, aqui não importa a confissão os factos como em processo civil.
A principal vantagem é que os factos contestados terão de ser debatidos pelo tribunal,
ou seja, o tribunal vai ter de se pronunciar expressamente sobre eles, e vai ter de dizer se
os considera como provados ou não provados, e porquê. Esta apreciação crítica ajuda
em sede do recurso.
Mas a contestação também entrar que vantagens, pois a parte contrária já vai munida
para julgamento, de forma a fazer a contestação, pois sabem com o que contar. Trata-se
de uma questão de estratégia.
Havendo julgamento, ou processo termina aqui e abre-se uma nova fase, o recurso.
Recurso
O advogado
Defensor do arguido: neste caso ele luta pela defesa dos direitos do seu cliente
arguido. Em processo penal a nossa lei impõe que todo e qualquer arguido tenha
um defensor, sem excepção. Se a parte não constituir, o tribunal nomeia-lhe um,
isto nada tem a ver com as posses.
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Terá de elaborar desde logo o requerimento de abertura de instrução, por entender que a
acusação do MP ou do assistente no deve proceder.
Pode ainda de fazer a contestação e interpor o recurso da decisão final.
A grande peça processual será o pedido de indemnização civil (PIC), e poderá ainda, tal
como os outros, interpor recurso da decisão que recaia sobre este pedido de
indemnização civil.
E do requerido cível?
Como advogado do requerido cível, poderá fazer a contestação do pedido civil, sendo
que a não contestação do pedido cível não tem as mesmas consequências da não
contestação em processo civil, apesar de se tratar de um processo civil enxertado num
processo penal.
São estas as grandes peças processuais que o advogado poderá ter de fazer.
Consulta forense
Dentro da consulta especificamente penal, existem algumas coisas que devemos ter em
consideração quando consultamos os clientes:
Subsumir os factos que nos estão a ser relatados a um determinado crime. Isto
depois tem diversas consequências: cada tipo legal de crime tem uma moldura
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Saber quando a pessoa teve conhecimento do facto. Isto releva para determinar
se houve ou não caducidade do direito de queixa.
Requerimento
1. Cabeçalho – deve identificar para onde é dirigida aquela peça processual (qual o
tribunal a que se dirige). Depois, dependendo do tribunal a que dirigimos o
requerimento, podemos ter de indicar o juízo ou a secção, e o n.º do processo.
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Participação crime – deve ser dirigido ao MP para que este abra um inquérito e
investigue.
2. Intróito – começa por dizer quem requer. O advogado em seu nome não
requer nada, que requer é o cliente por intermédio do advogado. O advogado é o
veículo do qual a parte se serve.
A identificação do requerente pode ser mais ou menos completa. Normalmente,
quando das partes já estão devidamente identificadas no processo, não há
necessidade de dizer “A, arguido, residente…”, pois já se encontra previamente
identificado.
Por norma, também se coloca a identificação dos restantes sujeitos processuais.
Ex.: “A, assistente nos autos à margem identificados, vem no processo em que é
arguido B, requerer…”.
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Pede deferimento.
A advogada.
X, arguido nos autos à margem identificados, em que é assistente Y, vem requerer, nos
termos do art. 178.º, n.º 6 CPP, o seguinte:
4) Sucede que tal veículo não serviu para a prática do crime, nem constituiu seu
produto, lucro, preço ou recompensa.
Pelo que, se requer a revogação da
apreensão do veículo, nos termos do
art. 178.º, n.º 6 CPP.
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Pede deferimento.
A advogada.
Requerimentos orais
Em termos formais, a grande diferença é que o requerimento oral não tem o chamado
cabeçalho e o intróito deve ser muito simples. É escusado dizer a que tribunal nos
vamos dirigir, a identificação das partes e o número do processo. Deve-se cingir ao
essencial.
Um dos requerimentos orais que se irão utilizar é o requerimento para pedir a realização
de alguma diligência de prova não prevista, a meio de um julgamento.
Sucede frequentemente que o arguido, no dia do julgamento, traz uma testemunha que
diz ter visto o que se passou. Assim, vai-se requerer tal diligência ao juiz, invocando o
art. 340.º CPP.
Ao abrigo do disposto no art. 340.º, n.º 1 CPP, vem-se requerer a V. Ex.ª a audição da
testemunha X, presente neste tribunal, visto ter a mesma presenciou os factos de que o
arguido vem acusado, uma vez que o arguido só agora tomou conhecimento de que a
mesma testemunha presenciou os factos/que só agora a mesma se prontificou a
comparecer neste tribunal para testemunhar, revelando-se assim este requerimento
essencial para a descoberta da verdade e boa decisão da causa.
Todos os requerimentos que se façam em audiência devem ser feitos de modo a cortar
todas as hipóteses de o juiz o indeferir.
Se o juiz indeferir, a reacção normal seria o recurso. Só que o art. 400.º, n.º 1, al. b)
CPP diz que não é admissível recurso das decisões que ordenem actos dependentes da
livre resolução do tribunal, nos quais se integra o art. 340.º, n.º 1 CPP.
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Remissão: art. 340.º, n.º 1 CPP → art. 400.º, n.º 1, al. b) CPP.
Esta questão é contornável pela essencialidade, pela necessidade. O art. 120.º, n.º 2, al.
d) CPP diz que a insuficiência do inquérito ou da instrução, por não terem sido
praticados actos legalmente obrigatórios, e a omissão posterior de diligências que
pudessem reputar-se essenciais para a descoberta da verdade constitui uma nulidade
dependente de arguição.
Remissão: art. 340.º, n.º 1 CPP → art. 120.º, n.º 2, al. d) CPP.
Este artigo utiliza a expressão “essenciais”, enquanto o art. 340.º utiliza a expressão
“necessárias”, quando se requer deve dizer-se desde logo essenciais, porque se houver
indeferimento desse requerimento, em vez de recorrer, podemos arguir a nulidade.
Nos termos do art. 120.º, n.º 2, al. b) CPP, constitui nulidade sanável a omissão de
diligências que se reputam essenciais para a descoberta da verdade. Ora, a diligência
requerida, uma vez que a testemunha indicada pode testemunhar sobre os factos, reputa-
se essencial para a descoberta da verdade. Assim, cometeu-se uma nulidade, nulidade
esta que se argui e se invoca.
Não se conformando com a douta decisão que indeferiu a arguição da nulidade, vem
recorrer da mesma, recurso que é …
Tipos de crime
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Nestes casos quem acusa não é o MP, mas o assistente. O assistente é que
acusa, pelo menos principalmente. O MP poderá ou não acompanhar a
acusação deduzida pelo assistente.
Ex.: injurias simples.
Isto tem a ver com a questão de saber quem é o titular da acção penal. O titular da acção
penal é o MP.
Ex.: se um procurador acusa, mas na fase de julgamento não se prova nada, o MP deve
pedir a absolvição, de acordo com critérios de objectividade. Não deve pedir a
condenação só porque foi ele que acusou.
Ex.: um procurador vai na rua e assiste a um indivíduo ser espancado por três outros
indivíduos. Pode o procurador dar início ao procedimento? Depende. A questão está em
saber se o crime é público ou semi-público.
Se fosse ofensa à integridade física simples, seria um crime semi-público, logo ele não
podia dar início ao procedimento.
Se fosse ofensa à integridade física grave, já seria um crime semi-público, pelo que o
procurador já poderia dar início ao processo.
Se por ex., na sequência da agressão lhe partiram um braço, isto faz com que seja um
crime de ofensa à integridade física grave. Logo, já se trataria de um crime público, já
poderíamos iniciar o procedimento criminal sem necessidade de apresentar queixa.
O próprio ofendido
O mandatário judicial. Durante muito tempo discutiu-se se para isto era
necessário o advogado estar munido de uma procuração com poderes especiais
para apresentar queixa.
O mandatário não judicial, esse sim, munido de poderes especiais.
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A mesma controvérsia surgiu acerca do crime de denúncia caluniosa – art. 365.º CP. O
que a norma visa é evitar a perda de tempo por parte dos tribunais. Também foi aqui
muito polémico saber s é ou não possível a constituição como assistente. Agora existe
um acórdão de uniformização de jurisprudência do STJ (acórdão de 28 de Novembro de
2006) que diz que é possível a constituição de assistente.
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Concurso de crimes
Pode existir concurso de crimes, em que a pessoa está indiciada pela prática de vários
crimes de natureza diferente, por exemplo, um crime público e um crime semi-público.
Nos termos do art. 52.º, n.º 2 CPP, se o titular do direito de que queixa ou de acusação
particular declarar que não pretende apresentar queixa, o MP promove o processo pelos
crimes que pode promover.
Se, por outro lado, pretender apresentar queixa, considera-se esta apresentada.
Desistência de queixa
(art. 116.º CP)
A entidade competente para se requerer a desistência da queixa está definida nos termos
do art. 51.º CPP.
Desistência durante:
Inquérito → MP
Instrução → juiz de instrução criminal
Julgamento → juiz de direito.
A desistência não tem de ser motivada, mas para que haja desistência o arguido tem
de a aceitar, de modo a proteger o interesse do arguido em levar o processo até ao fim e
ser declarado inocente.
Flagrante delito
(art. 256.º CPP).
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A lei fala do conhecimento do prazo e dos seus autores, não fala na data da prática dos
factos. O prazo só se começa a contar a partir do momento em que se tem conhecimento
quer dos factos, quer dos autores.
A lei refere que o prazo começa a contar a partir da morte do ofendido, pois o direito
transmite-se aos herdeiros.
Renúncia
(art. 116.º CP)
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Nos termos do art. 116.º, n.º 3 CP, a desistência ou renúncia ao direito de queixa
também aproveita a todos os comparticipantes no crime.
1. Ministério Público
No art. 3.º EMP são fixadas as competências do MP. No que concerne ao processo
penal, temos de ter em atenção que é ao MP que incumbe:
Dirigir a investigação criminal, ainda que auxiliado por outras entidades (isto
porque o inquérito é uma fase dirigida pelo MP).
Recorrer quando entenda que a acção/decisão teve por efeito o conluio das
partes no sentido de defraudar a lei, ou seja, se houver um conluio num
determinado processo que motiva aquela decisão, e as partes com isso
pretendam apenas defraudar a lei, o MP deve também recorrer dessa decisão.
Terminologia da hierarquia do MP
Temos em Portugal uma divisão judiciária que ainda se encontra em vigor mas que está
num processo de alteração, pois vai entrar em vigor o novo mapa judiciário em 2010,
que vai trazer uma nova divisão judiciária.
A divisão que ainda se encontra em vigor encontra-se plasmada na LOFTJ (Lei n.º
3/99, de 3 de Janeiro).
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Prática Processual Penal
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Esta divisão vai ser profundamente alterada com a Lei n.º 52/2008, de 28 de Agosto,
pois nesta nova organização do mapa judiciário desaparecem a existir apenas duas
categorias:
Comarcas
Distritos judiciais
Nesta nova divisão, as comarcas vão ser bastante maiores, maiores mesmo do que o
próprio distrito. Isto vai implicar uma alteração muito significativa da organização
judiciária.
Mas ainda se encontra em vigor o sistema anterior, no qual a ideia é a tríplice divisão
em comarcas, círculos judiciais e distritos judiciais.
Por sua vez, os Tribunais distribuem-se por estas três categorias, pois existem três
graus de jurisdição:
1.ª Instância
Relação
Supremo Tribunal de Justiça
Nos tribunais de comarca, as figuras do MP que estão no desempenho das funções são
os Procuradores Adjuntos, que é a primeira categoria do MP.
No último nível temos o STJ, sendo que aqui o MP está representado pelo Procurador-
Geral da República, embora este possa delegar esse poder em Procuradores-Gerais da
República.
Existem ainda, a propósito do MP, estruturas que foram criadas e nas quais se
encontram determinados magistrados do MP, para combater e investigar determinada
criminalidade (criminalidade grave, elevada ou de extrema complexidade). São os
DIAP’s – Departamentos de Investigação e Acção Penal. De acordo com a nossa lei,
deve existir um DIAP em cada sede de distrito judicial.
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para não dar origem a investigações paradas em cada uma das comarcas, DIAP tenta
agregar, centralizar essa investigação.
Por outro lado, destinam-se também a investigar a criminalidade grave e com maior ou
menor complexidade (criminalidade económica), e ainda à investigação da
criminalidade muito dispersa territorialmente.
Mas como a existência de vários DIAP’s no mesmo círculo judicial não era ainda
suficiente, criou-se uma estrutura ainda mais centralizada, o DCIAP – Departamento
Central de Investigação e Acção Penal, em Lisboa.
O DCIAP coordena e dirige a investigação da criminalidade violenta, altamente
organizada ou especialmente complexa.
2. Arguido
O art. 58.º CPP refere-se à constituição de arguido. A lei enuncia neste artigo uma série
de circunstâncias que implicam obrigatoriamente a constituição como arguido.
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Quando um suspeito for detido, nos termos e para os efeitos previstos nos arts.
254.º a 261 CPP – al. c). Esta é também uma circunstância vulgar de
constituição de arguido.
Remissão: art. 58.º CPP → art. 254.º, n.º 1, als. a) e b).
A constituição de arguido foi criada para proteger o visado, ou seja, a intenção da lei ao
criar a figura do arguido foi atribuir deveres, mas sobretudo direitos, à pessoa, para a
proteger.
O n.º 1 enuncia a situação em que, durante a inquirição feita a pessoa não é arguido,
surgir fundada suspeita de crime por ela cometido. Esta é uma situação particular. Neste
caso, a entidade que está a proceder à inquirição, suspende imediatamente a inquirição e
constitui a pessoa como arguido.
Antigamente isto era um problema porque quando alguém ia prestar declarações não podia
estar assistida por advogado. A lei actualmente introduziu esta salvaguarda da possibilidade
de as testemunhas se fazerem acompanhar por advogado – art. 132.º, n.º 4 CPP.
A lei impõe que, a partir do momento em que surja fundada suspeita, se interrompam as
declarações e se constitua o suspeito como arguido.
No caso do n.º 2, é a própria pessoa sobre quem recai a suspeita que exige a
constituição como arguido, para que possa aceder a determinados direitos que a lei apenas
confere ao arguido. É uma situação que raramente acontece, mas está prevista na lei, e pode
permitir que a pessoa não fale, ou seja, se não quiser responder, pode pedir a sua
constituição como arguido.
O art. 58.º, n.º 2 CPP indica como opera a constituição de arguido: mediante
comunicação, oral ou por escrito, feita ao visado por uma autoridade judiciaria ou um OPC
de que, a partir daquele momento, aquele se deve considerar arguido num processo penal e
a indicação e, se necessário, explicação dos direitos e deveres processuais referidos no art.
61.º CPP, que por essa razão lhe passam a caber.
No fundo, existe a constituição como arguido e a informação dos direitos e deveres que
cabem ao arguido. Isto é feito através de uma folha de impresso onde constam todos os
direitos e deveres do arguido, e uma outra folha onde consta o TIR.
A lei introduziu agora, por causa da preocupação em não haver uma constituição de arguido
automática, um certo controlo à constituição como arguido, que consta do n.º 3. Sempre
que um OPC constitui alguém como arguido, tem 10 dias para remeter essa constituição à
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autoridade judiciária competente para validação, e a partir desse recebimento esta tem 10
dias para validar ou não essa constituição como arguido.
O n.º 6 visa esclarecer os n.ºs anteriores, e diz que a validação da constituição de arguido
pela autoridade judiciária não prejudica as provas anteriormente obtidas, isto é, se
não houver validação da constituição como arguido, as provas não deixam de ser válidas. A
lei visa salvaguardar o que é produzido.
Direitos do arguido
Direito de ser informado dos factos que lhe são imputados antes de prestar
declarações perante qualquer entidade. Esta norma foi introduzida pela
última revisão. – al. c).
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Direito de recurso – o arguido tem o direito de recorrer, nos termos da lei, das
decisões que lhe forem desfavoráveis – al. i).
Quanto às al. e), o arguido pode dizer que na quer ter defensor. Mas existem certos
casos nos quais não pode prescindir de defensor. Caso não tenha posses económicas,
deverá requerer apoio judiciário. Mas existem actos para os quais a constituição de
advogado é obrigatória (art. 64.º CPP).
No caso de declarações para memória futura – nos termos dos arts 271.º e
294.ºCPP. No art. 271.º existe uma necessidade urgente de tomar as
declarações de determinada pessoa, por no momento em que as deveria prestar
não o pode fazer, ou existe risco de já ter falecido – al. e).
O n.º 2 diz ainda que pode ser nomeado defensor do arguido, a pedido quer do tribunal,
quer do arguido, sempre que as circunstâncias do caso revelarem a necessidade ou a
conveniência de o arguido ser assistido.
Deveres do arguido
(art. 61.º, n.º 3 CPP)
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Direitos do defensor
(art. 63.º CPP)
O arguido pode retirar eficácia ao acto realizado em seu nome pelo defensor,
mediante uma declaração expressa anterior à decisão relativa ao acto em questão
– n.º 2.
Nomeação de defensor
(art. 66.º CPP)
O defensor nomeado pode ser dispensado do patrocínio, caso alegue causa que o
tribunal considere justa – n.º 2. É necessário ter algum cuidado nos casos em que é
pedida a escusa. Os casos mais frequentes em que é pedida a escusa são os casos de
incompatibilidades de defesa.
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É normal um advogado ser nomeado para mais do que um arguido e, se perceber que a
defesa de uns é incompatível com a defesa de outros, é preciso pedir escusa de um ou
mais arguidos, e ficar só com um.
Enquanto não for substituído, o defensor nomeado para um acto mantém-se para
os actos subsequentes do processo – n.º 4.
Substituição do defensor
(art. 67.º CPP)
3. O assistente
O assistente é uma figura que, da forma que foi concebida no nosso sistema, não tem
paralelo em outros ordenamentos jurídico-penais.
Na sua base esteve, essencialmente, da parte do legislador, a ideia de dar mais protecção
à vítima. Isto porque, sendo o interesse do Estado perseguir e punir aqueles que
cometem crimes, não podemos pôr de lado os interesses privados dos particulares, isto
é, de quem é vítima desses crimes. Neste entendimento, criou-se a figura do assistente.
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Interpor recurso das decisões que o afectarem, mesmo que o MP não o tenha
feito – al. c). Esta alínea é uma das excepções previstas no n.º 1. A lei autoriza
que os assistentes recorram, independentemente do MP recorrer ou não. Ainda
que o MP não recorra, os assistentes têm uma oportunidade para o fazer.
Para que se possa recorrer, têm de estar preenchidos os requisitos gerais dos recursos.
Um dos requisitos para que o recurso seja admissível é que o assistente tenha interesse
em agir. Numa situação em que o assistente entenda que a medida da pena fixada pelo
legislador não deveria ser de três anos de prisão mas de cinco ou seis anos, a
jurisprudência entende que o assistente não tem interesse em agir. Só terá interesse em
agir se for para contrariar a decisão de absolvição.
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os ofendidos, ou seja, os titulares dos interesses que a lei especialmente quis proteger
com a incriminação (art. 113.º CPP), desde que maiores de 16 anos.
Quanto a isto existem várias discussões. A lei refere ofendidos, considerando-se como
tais os titulares dos interesses que a lei especialmente quis proteger. Este
“especialmente” é complicado. Será que se deve entender este “especialmente” como
uma questão de exclusividade ou não? Ou seja, se a lei quis proteger um determinado
interesse a título principal e outro a título subsidiário, ou se quis proteger ambos os
interesses a título principal, será que os titulares desses interesses ditos paralelos ao
interesse principal ou secundário se podem constituir assistente?
Ex.: falsificação de documentos – o interesse principal que a lei quis proteger foi a
segurança do tráfego jurídico, e apenas subsidiariamente os interesses das pessoas que
são prejudicadas directamente pela falsificação. Pode a pessoa cuja assinatura foi
falsificada constituir-se assistente no processo? Isto foi (e ainda é) muito discutido.
Existe um acórdão de unificação de jurisprudência (Acórdão de 16 de Janeiro de 2003)
que decidiu que no crime de falsificação de documentos era admissível a constituição
como assistente.
A corrente maioritária vai no sentido de dar em grau mais amplo ou permitir em mais
casos a constituição como assistente.
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Quanto aos menores de 16 anos, quem se pode constituir assistente é o seu representante
legal. Se não houver representante legal, seguem-se as pessoas aí indicadas pela ordem
prevista.
Pode ainda constituir-se assistente qualquer pessoa nos crimes contra a paz e
a humanidade, bem como nos crimes de trafico de influência, favorecimento
pessoal praticado por funcionário, denegação da justiça, prevaricação, corrupção,
peculato, participação económica em negócio, abuso de poder e de fraude na
obtenção ou desvio de subsídio ou subvenção.
Aqui encontramos determinados crimes que, sendo cometidos, permitem que qualquer
pessoa se constitua assistente.
O n.º 1 refere que podem existir leis especiais que permitam a constituição de assistente
em determinados casos típicos. É o caso da Lei n.º 20/96, de 6 de Julho, que diz
respeito a crimes cuja motivação verse sobre o racismo. Neste caso, permite a que
associações anti-racistas se constituam assistentes.
O n.º 4 do art. 246.º CPP diz que o denunciante pode declarar na denúncia que deseja
constituir-se assistente. Tratando-se de um crime cujo procedimento depende de
acusação particular, a declaração é obrigatória, devendo neste caso a autoridade
judiciária ou o OPC a quem a denúncia for feita verbalmente, advertir o
denunciante da obrigatoriedade da constituição de assistente e dos procedimentos
a observar.
O art. 68.º, n.º 2 CPP refere 10 dias, a contar da advertência, e o art. 246.º, n.º 4 CPP
diz em que casos ocorre a constituição de assistente. Esta ocorre quando existe uma
denúncia feita à autoridade judiciária ou OPC de forma verbal. Só existe a
obrigatoriedade da advertência em denúncia feita na forma verbal.
Quando a denúncia é feita verbalmente não existem problemas, pois a denúncia é feita,
a autoridade que a recebe adverte e depois existe o prazo de 10 dias para a constituição
de assistente.
Quando se trata de uma denúncia por escrito num crime particular, o requerimento deve
constar na própria denúncia. O Dr. entende isto com recurso à 1.ª parte do art. 246.º,
n.º 4 CPP. A lei aqui não é muito clara, mas se fizermos uma participação de um crime
particular, devemos desde logo requerer a constituição como assistente, na própria
altura.
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O art. 68.º, n.º 3 CPP estabelece limites temporais, e diz que os assistentes podem
intervir em qualquer altura do processo, aceitando-o no estado em que se
encontrar, desde que o requeiram ao juiz:
Até cinco dias antes do início do debate instrutório ou da audiência de
julgamento – 1.º limite.
Nos casos dos arts. 284.º e 287.º, n.º 1, al. b) CPP, no prazo estabelecido
para a prática dos respectivos actos – 2.º limite.
Que actos são estes? São a acusação do assistente e o requerimento de abertura
de instrução.
Mas estes actos têm prazos para ser praticados. Nos termos do art. 284.º, n.º 1
CPP, até 10 dias após a notificação da acusação do MP, o assistente pode
também deduzir acusação pelos factos acusados pelo MP, por parte deles ou por
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Prática Processual Penal
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outros que não importem alteração substancial daqueles, ou seja, mesmo não
sendo assistente, ainda dentro do prazo de 10 dias é possível requerer a
constituição como assistentes e deduzir acusação. O mesmo se aplica ao
requerimento de abertura de instrução.
Ou seja, regra geral, existe um único advogado para todos os assistentes. Existem no
entanto duas excepções:
Quando existam interesses incompatíveis entre assistentes. Nestes casos, o n.º
2, 1.ª parte prevê que se possam defender pelo seu advogado.
Quando existam vários crimes imputados ao arguido. Neste caso, a cada grupo
a quem a lei permita a constituição como assistente por cada um dos crimes
pode constituir um advogado, com a limitação de não poder haver mais de um
representante para cada pessoa.
O n.º 3 permite que os assistentes possam ser acompanhados por advogados nas
diligências em que intervirem. Este número foi acrescentado com a reforma e veio
resolver uma querela anterior. Durante muito tempo os nossos tribunais impediam os
assistentes de se fazerem acompanhar, em certas diligências, pelo seu advogado.
A lei agora estabeleceu claramente que os assistentes podem ser acompanhados pelo
advogado, mesmo antes de ser ouvido em inquérito.
Existe uma obrigação tributária que implica que para se ser assistente se tem de pagar
uma taxa de justiça – art. 519.º, n.º 1 CPP, que remete para o art. 83.º Código das
Custas Judiciais, que diz que são devidas 2 UC’s pela constituição de assistente
(aproximadamente €192,00), e se pretender requerer a abertura de instrução, paga mais
2 UC’s, ou seja, 4 UC’s no total.
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X, solteiro, maior, residente na Rua ___, n.º ___, cidade e comarca de ___, vem
requerer a sua constituição como assistente, nos termos do art. 61.º, n.º 1, al. a) do CPP,
por ter legitimidade, ser o próprio ofendido, estar em tempo, devidamente representado
e ter pago a taxa de justiça.
Pede deferimento.
A advogada.
Nota: neste tipo de requerimento, nunca podemos deixar de dizer que a pessoa tem
legitimidade, que se encontra dentro do prazo para requerer a constituição de assistente,
está representada e pagou a taxa de justiça.
4. Partes civis
O processo penal admite a possibilidade de no seu seio conter também a acção civil
respectiva, ou seja, juntamente com a prossecução da acção penal pode também surgir
uma acção de cariz indemnizatório. Há aqui como que um “enxerto” civilístico no
processo penal.
Mas não existe apenas uma possibilidade, existe também esta obrigatoriedade, é aquilo
a que se chama o princípio da adesão.
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Este artigo enuncia as excepções ao art. 71.º CPP. O pedido de indemnização civil
pode ser deduzido em separado, perante o tribunal civil, quando:
O processo penal não tiver conduzido à acusação dentro de oito meses a
contar da notícia do crime, ou estiver sem andamento durante esse lapso de
tempo – al. a). A primeira excepção verifica-se caso depois de ter sido dada a
conhecer a notícia do crime, e passados 8 meses, não houver acusação. Neste
caso, a lei permite que aquele que tem legitimidade para deduzir o pedido cível,
o possa deduzir fora do processo penal. A segunda hipótese é se o processo está
8 meses parado. Por exemplo, pode deduzir acusação nos 2 meses, mas depois o
processo fica parado durante um ano. Nestes casos, a lei abre outra excepção e
permite à parte ir para a jurisdição civil deduzir o correspondente pedido de
indemnização civil.
Pode existir ofendido sem haver lesado. Por exemplo, num crime do qual não
resultaram danos, como por exemplo, um furto de um bem com recuperação da coisa,
ou uma tentativa de crime. Nestes casos não existem danos.
Pode também existir lesado sem ser ofendido. Por exemplo, um indivíduo que se
envolve numa luta dentro de um bar e destrói o bar todo. O dono do bar é lesado, mas
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Prática Processual Penal
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Não houver ainda danos ao tempo da acusação, estes não forem conhecidos
ou não forem conhecidos em toda a sua extensão – al. d). Esta é mais uma
excepção, pois se os danos não forem todos conhecidos, é permitido à pessoa ir
fora do tribunal criminal.
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O n.º 1 do art. 86.º CPP diz que o processo penal é, sob pena de nulidade, público,
ressalvadas as excepções previstas na lei. Aqui está previsto o paradigma da
publicidade.
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Anteriormente não era assim, o segredo de justiça era o paradigma das primeiras fases
do procedimento. Só a partir de determinada fase é que o paradigma da publicidade
entrava em conta.
A lei ressalva logo no n.º 1 as excepções previstas na lei, e elas encontram-se plasmadas
logo nos números seguintes.
Temos aqui três sujeitos que podem requerer que o inquérito decorra sob segredo
de justiça:
O arguido
O assistente
O ofendido.
Qualquer um destes três sujeitos pode requerer que o inquérito decorra sob segredo de
justiça. Sobre este requerimento é ouvido o MP e o juiz de instrução decidira então
se este requerimento procede ou não.
O MP, com um ou ambos destes fundamentos, pode entender decretar durante a fase de
inquérito, o segredo de justiça. É o próprio MP que o decreta, simplesmente isto não
fica por aqui, pois não há segredo de justiça apenas com a decisão do MP, é necessário
que esta decisão seja validada pelo juiz de instrução criminal, que tem um prazo de 72
horas para o fazer.
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Prática Processual Penal
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Embora não exista muita jurisprudência acerca desta matéria, isto levanta dúvidas.
A primeira é saber a partir de quando começa a contar este prazo de 72 horas: será
da decisão que o MP decreta ou do momento em que este despacho do MP é
concluso ao juiz de instrução? A lei não é muito clara.
Por um lado, se damos um prazo ao JIC, é justo que se dê um prazo a partir do momento
em que tem hipótese para se pronunciar sobre o mesmo, pois se damos 72 horas ao juiz,
é justo que ele tenha estas 72 horas para se pronunciar, e não menos.
Mas, por outro lado, existem outros interesses, ou seja, é relevante que o período entre o
despacho do MP e a decisão do JIC não seja muito grande, isto é, que seja uma decisão
rápida, pois o MP pode demorar a enviar a decisão para o JIC.
No entender do Dr., o legislador quis uma pronúncia rápida, um prazo máximo de 72
horas sobre aquele requerimento do MP porque se assim não fosse, o MP após decretar
a decisão poderia levar muito tempo a enviar o requerimento para o juiz, e passavam as
72 horas. Assim, o prazo de 72 horas deve contar a partir do despacho do MP.
Como tal, assim que o MP decreta o segredo, remete imediatamente o processo ao JIC,
sob pena de passarem as 72 horas e o segredo deixar de existir.
O n.º 4 do art. 86.º CPP diz que no caso de o processo ter sido sujeito, nos termos do
n.º 3, a segredo de justiça, o MP, oficiosamente ou mediante requerimento do arguido,
do assistente ou do ofendido, pode determinar o seu levantamento em qualquer
momento do inquérito. O MP pode decretar o segredo mas também o pode levantar.
É necessário ter em atenção que o n.º 4 só se aplica aos casos do n.º 3, e nunca aos
casos do n.º 2, nem tal faria sentido, porque o segredo do n.º 2 é decretado a
requerimento das partes processuais, se o segredo é pedido por uma parte não faz
sentido vir depois o MP levanta-lo. Só faz sentido o levantamento do segredo pelo MP
quando é ele próprio que o decreta.
Publicidade
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A publicidade do processo implica, nos termos definidos pela lei, os direitos de:
a) Assistência, pelo público em geral, à realização dos actos processuais;
b) Narração dos actos processuais, ou reprodução dos seus termos, pelos meios de
comunicação social;
c) Consulta do auto e obtenção de cópias, extractos e certidões de quaisquer partes dele.
Cada uma destas três vertentes de publicidade está regulada nos arts 67.º, 68.º e 69.º
CPP, respectivamente.
A publicidade não abrange os dados relativos à reserva da vida privada que não
constituam meios de prova. A autoridade judiciária especifica, por despacho,
oficiosamente ou a requerimento, os elementos relativamente aos quais se mantém o
segredo de justiça, ordenando, se for caso disso, a sua destruição ou que sejam
entregues à pessoa a quem disserem respeito – art. 86.º, n.º 7 CPP.
Aqui temos uma restrição à publicidade. Estamos a falar de dados relativos à reserva da
vida privada, e que não constituam meios de prova.
O n.º 8 do art. 86.º CPP já se refere ao segredo de justiça: o segredo de justiça vincula
todos os sujeitos e participantes processuais, bem como as pessoas que, por qualquer
título, tiverem tomado contacto com o processo ou conhecimento de elementos a ele
pertencentes, e implica as proibições de:
a) Assistência à prática ou tomada de conhecimento do conteúdo de acto processual a
que não tenham o direito ou o dever de assistir;
b) Divulgação da ocorrência de acto processual ou dos seus termos, independentemente
do motivo que presidir a tal divulgação.
O segredo de justiça tem esta dupla vertente: por um lado existe o impedimento de
assistência à prática ou tomada ou dever de assistir, e por outro lado, impedimento de
divulgar a ocorrência de qualquer acto processual e seus termos,
independentemente do motivo que presidir a essa divulgação.
O n.º 9 do art. 86.º CPP diz que a autoridade judiciária pode, fundamentadamente, dar
ou ordenar ou permitir que seja dado conhecimento a determinadas pessoas do conteúdo
de acto ou de documento em segredo de justiça, se tal não puser em causa a
investigação e se afigurar:
a) Conveniente ao esclarecimento da verdade; ou
b) Indispensável ao exercício de direitos pelos interessados.
Este número estabelece uma excepção à excepção, porque o segredo já é uma excepção
à regra da publicidade, e aqui temos uma excepção ao segredo.
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O n.º 13 permite também uma abertura aos casos em que existe o segredo de justiça.
Este número permite que a autoridade judiciária preste esclarecimento ao público
para pôr fim a especulações que corram na imprensa.
O segredo de justiça não impede a prestação de esclarecimentos públicos pela
autoridade judiciária, quando forem necessários ao restabelecimento da verdade e não
prejudicarem a investigação:
a) A pedido de pessoas publicamente postas em causa; ou
b) Para garantir a segurança de pessoas e bens ou a tranquilidade pública – n.º 13.
A norma do art. 88.º, n.º 4 CPP diz que não é permitida, sob pena de desobediência
simples, a publicação, por qualquer meio, de conversações ou comunicações
interceptadas no âmbito de um processo, salvo se não estiverem sujeitas a segredo de
justiça e os intervenientes expressamente consentirem na publicação. Isto tem a ver
com a matéria das escutas telefónicas.
Com a nova redacção desta norma, para se permitir a publicação das escutas, a lei veio
impor dois requisitos:
Que o processo não esteja sujeito a segredo de justiça , o que tem lógica, pois
só sendo público é que se permite a transcrição
Que os intervenientes expressamente consintam na publicação . Na maioria
das vezes as pessoas não estão interessadas em que as coisas venham cá para
fora. É aqui que reside o problema.
Por um lado temos o interesse e o bom-nome das pessoas, e por outro lado temos o
interesse público em geral.
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O n.º 2 diz que o despacho referido na segunda parte do n.º 1 deve fundar-se em factos
ou circunstâncias concretas que façam presumir que a publicidade causaria grave dano à
dignidade das pessoas, à moral pública ou ao normal decurso do acto e deve ser
revogado logo que cessarem os motivos que lhe deram causa.
Ex.: no caso de causar grave dano ao normal decurso do acto, pode suceder que as
pessoas estejam dentro da audiência a provocar graves distúrbios e o juiz tenha de lhes
ordenar que se retirem com fim ao normal decurso da audiência.
O n.º 3 do art. 87.º CPP diz que em caso de processo por crime de tráfico de pessoas
ou contra a liberdade e autodeterminação sexual, os actos processuais decorrem,
em regra, com exclusão da publicidade.
Este número inverte a regra do n.º 1 quando se trate de algum destes crimes.
O n.º 4 diz que decorrendo o acto com exclusão da publicidade, apenas podem assistir
as pessoas que nele tiverem de intervir, bem como outras que o juiz admitir por razões
atendíveis, nomeadamente de ordem profissional ou científica. É o caso dos advogados-
estagiários, que podem ter um interesse de ordem profissional em assistir ao acto
processual.
O n.º 5 diz que a exclusão da publicidade não abrange, em caso algum, a leitura da
sentença, ou seja, a leitura da sentença é sempre pública.
O n.º 6 diz que não implica restrição ou exclusão da publicidade, para efeito do disposto
nos números anteriores, a proibição, pelo juiz, da assistência de menor de 18 anos ou de
quem, pelo seu comportamento, puser em causa a dignidade ou a disciplina do acto. Em
determinados casos o juiz pode excluir determinadas pessoas de assistir à audiência, e
isso não implica a restrição À leitura do processo.
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O n.º 1 do art. 88.º CPP diz que é permitida aos órgãos de comunicação social,
dentro dos limites da lei, a narração circunstanciada do teor de actos processuais
que se não encontrem cobertos por segredo de justiça ou a cujo decurso for
permitida a assistência do público em geral. Existe o direito à informação, e a
comunicação social deve dar essa publicidade.
A al. a) do n.º 2 do art. 88.º CPP salienta que não é, porém, autorizada, sob pena de
desobediência simples, a reprodução de peças processuais ou de documentos
incorporados no processo, até à sentença de 1.ª instância, salvo se tiverem sido
obtidos mediante certidão solicitada com menção do fim a que se destina, ou se
para tal tiver havido autorização expressa da autoridade judiciária que presidir à
fase do processo no momento da publicação. A regra é que até à publicação da
sentença da 1.ª instância, não é possível reproduzir peças processuais ou documentos
incorporados no processo.
A primeira excepção aplica-se caso os documentos ou peças tenham sido obtidos
mediante certidão solicitada com menção do fim a que se destina. A segunda excepção
ocorre se tiver havido autorização expressa da autoridade judiciária que presidir à fase
do processo no momento da publicação.
A al. b) do mesmo artigo diz que também não é autorizada, nos mesmos termos, a
transmissão ou registo de imagens ou de tomadas de som relativas à prática de qualquer
acto processual, nomeadamente da audiência, salvo se a autoridade judiciária referida na
alínea anterior, por despacho, a autorizar; não pode, porém, ser autorizada a transmissão
ou registo de imagens ou tomada de som relativas a pessoa que a tal se opuser.
Em regra, não é possível gravar imagens ou som. Contudo, como excepção, a
autoridade judiciária pode autorizar em alguns casos filmar apenas as imagens, noutros
casos apenas o som e, excepcionalmente, pode autorizar as duas coisas, mas as pessoas
podem-se opor a esta tomada de imagens, e neste caso a autorização não pode ser
concedida.
O n.º 3 do art. 88.º CPP diz que até à decisão sobre a publicidade da audiência não é
ainda autorizada, sob pena de desobediência simples, a narração de actos processuais
anteriores àquela quando o juiz, oficiosamente ou a requerimento, a tiver proibido com
fundamento nos factos ou circunstâncias referidos no n.º 2 do art. 87.º CPP.
O n.º 4 diz que não é permitida, sob pena de desobediência simples, a publicação, por
qualquer meio, de conversações ou comunicações interceptadas no âmbito de um
processo, salvo se não estiverem sujeitas a segredo de justiça e os intervenientes
expressamente consentirem na publicação. Este artigo refere-se essencialmente às
escutas telefónicas.
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O n.º 1 do art. 89.º CPP diz que durante o inquérito, o arguido, o assistente, o ofendido,
o lesado e o responsável civil podem consultar, mediante requerimento, o processo ou
elementos dele constantes, bem como obter os correspondentes extractos, cópias ou
certidões. Esta é a regra. O artigo diz ainda que isto ocorre salvo quando, tratando-se de
processo que se encontre em segredo de justiça, o MP a isso se opuser por considerar,
fundamentadamente, que pode prejudicar a investigação ou os direitos dos participantes
processuais ou das vítimas. Esta é a excepção.
O n.º 3 diz que o auto ou as partes do auto a que o arguido, o assistente, o ofendido, o
lesado e o responsável civil devam ter acesso são depositados na secretaria, por
fotocópia e em avulso, sem prejuízo do andamento do processo, e persistindo para todos
o dever de guardar segredo de justiça.
No caso de existir segredo de justiça e haver consulta é na secretaria que ela se
processa, ficando a parte vinculada ao segredo.
O n.º 4 diz que quando, nos termos dos nºs 1, 4 e 5 do artigo 86.º, o processo se tornar
público, as pessoas mencionadas no n.º 1 do art. 89.º podem requerer à autoridade
judiciária competente o exame gratuito dos autos fora da secretaria, devendo o despacho
que o autorizar fixar o prazo para o efeito.
Aqui temos a chamada confiança do processo, ou seja, a partir do momento em que se
torna público, as partes podem requerer a confiança do processo e leva-lo para os
escritórios.
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O n.º 6, em termos genéricos, diz que o inquérito, nos termos do art. 276.º CPP, tem
prazos máximos de duração, e esses prazos têm poucas consequências práticas, são
prazos ordenadores.
Mas aqui o legislador atribuiu uma consequência prática, ou seja, a partir do momento
em que termine o prazo máximo de duração do inquérito, diz o art. 276.º CPP que
o processo que se encontra em segredo de justiça passa a ser público para estas
partes.
Isto tem como consequência a obrigação de investigar o mais rápido possível.
Findos os 3 meses o MP pode prorrogar o prazo mais uma vez, desde que se
trate de crimes incluídos nas als. i) a m) do art. 1.º CPP (ou seja, terrorismo,
criminalidade violenta e altamente organizada). Nestes casos, o MP pode pedir
ao juiz este novo prazo argumentando que a investigação não está concluída, que
se trata de um crime previsto nas alíneas referidas e que se afigura indispensável
à investigação estender mais o prazo para o processo estar fechado, mesmo às
partes. Aqui é fixado um prazo indispensável à conclusão da investigação.
Quando o prazo chegar ao fim, já não há mais prorrogação e o processo fica
público para as partes, isto para que os inquéritos não durem eternamente e para
que o MP acelere a investigação.
Nota: o art. 86.º, n.ºs 1 a 5 são muito importantes – publicidade e diversas vertentes, e
restrições às vertentes.
O n.º 1 diz que nos actos processuais, tanto escritos como orais, se utiliza a língua
portuguesa, sob pena de nulidade.
Já o n.º 2 refere que quando houver de intervir no processo pessoa que não
conhecer ou não dominar a língua portuguesa, é nomeado, sem encargo para ela,
intérprete idóneo, ainda que a entidade que preside ao acto ou qualquer dos
participantes processuais conheçam a língua por aquele utilizada. Isto significa que a
língua regra é a língua portuguesa, e havendo qualquer pessoa estrangeira, tem de ser
nomeado intérprete.
Por exemplo, caso se trate de um cidadão inglês, mesmo que toda a gente (advogados,
juízes) saibam a língua, tem de haver um intérprete.
O n.º 3 diz que o arguido pode escolher, sem encargo para ele, intérprete diferente do
previsto no número anterior para traduzir as conversações com o seu defensor. Ou seja,
pode haver um intérprete nomeado e o arguido pode escolher outro para traduzir as
conversas com o seu defensor.
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O n.º 4 diz que o intérprete está sujeito a segredo de justiça, nos termos gerais, e não
pode revelar as conversações entre o arguido e o seu defensor, seja qual for a fase do
processo em que ocorrerem, sob pena de violação do segredo profissional. Os n.ºs 3 e 4
visam proteger o sigilo profissional e foram acrescentados na última revisão.
Estando em causa um surdo, deficiente auditivo ou um mudo, a lei tem regras especiais
a este respeito.
O n.º 1 deste artigo prevê que quando um surdo, um deficiente auditivo ou um mudo
devam prestar declarações, se observam as seguintes regras:
Ao surdo ou deficiente auditivo é nomeado intérprete idóneo de língua gestual,
leitura labial ou expressão escrita, conforme mais adequado à situação do
interessado;
Ao mudo, se souber escrever, formulam-se as perguntas oralmente, respondendo
por escrito. Em caso contrário e sempre que requerido nomeia-se intérprete
idóneo.
O n.º 1 refere-se aos actos processuais que tenham de ser praticados sob a forma escrita.
O n.º 2 diz que os actos decisórios previstos no n.º 1 tomam a forma de acórdão
quando forem proferidos por um tribunal colegial.
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De acordo com o n.º 3, sempre que for realizada gravação, o funcionário entrega no
prazo de quarenta e oito horas uma cópia a qualquer sujeito processual que a requeira e
forneça ao tribunal o suporte técnico necessário.
Quando for utilizada a via telefónica, diz o n.º 2 que a entidade que efectuar a
convocação se identifica e dá conta do cargo que desempenha, bem como dos elementos
que permitam ao chamado inteirar-se do acto para que é convocado e efectuar, caso
queira, a contraprova de que se trata de telefonema oficial e verdadeiro.
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O n.º 2 diz que quando efectuadas por via postal registada, as notificações presumem-
se feitas no 3.º dia útil posterior ao do envio, devendo a cominação aplicável constar do
acto de notificação.
Quanto a isto, existe alguma divergência, quer jurisprudencial, quer doutrinal.
Há quem entenda que a referência ao “terceiro dia útil” implica que só o terceiro dia tem
de ser útil. O Dr. não entende assim, entende que os três dias tem de ser úteis, pois se
assim não fosse e o legislador penal quisesse equiparar o regime ao regime civil, teria
redigido uma norma semelhante, ou que não é o caso.
Ex.: Se uma carta é enviada numa sexta-feira, em que dia a parte considera notificada?
Considera-se notificada na quarta-feira. Se fosse no processo civil, seria na segunda-
feira. Isto em termos práticos tem consequências sérias.
O n.º 3 prevê que quando efectuadas por via postal simples, o funcionário judicial lavra
uma cota no processo com a indicação da data da expedição da carta e do domicílio para
a qual foi enviada e o distribuidor do serviço postal deposita a carta na caixa de correio
do notificando, lavra uma declaração indicando a data e confirmando o local exacto do
depósito e envia-a de imediato ao serviço ou ao tribunal remetente, considerando-se a
notificação efectuada no 5.º dia posterior à data indicada na declaração lavrada pelo
distribuidor do serviço postal, cominação esta que deverá constar do acto de
notificação.
Ex.: O carteiro depositou a carta numa terça-feira. Em que dia a parte considera
notificada? No 5.º dia posterior ao depósito, ou seja, no domingo.
Segundo o n.º 9, as notificações do arguido, do assistente e das partes civis podem ser
feitas ao respectivo defensor ou advogado. Ressalvam-se as notificações respeitantes à
acusação, à decisão instrutória, à designação de dia para julgamento e à sentença, bem
como as relativas à aplicação de medidas de coacção e de garantia patrimonial e à
dedução do pedido de indemnização civil, as quais, porém, devem igualmente ser
notificadas ao advogado ou defensor nomeado; neste caso, o prazo para a prática de
acto processual subsequente conta-se a partir da data da notificação efectuada em
último lugar.
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No caso das notificações serem feitas a ambos, o prazo para a prática do acto
processual subsequente conta-se a partir da data da notificação efectuada em
último lugar.
Portanto, contam-se os prazos de ambos, verifica-se quem foi notificado em último
lugar e a partir daí é que se conta o prazo.
De acordo com o n.º 12, nos casos expressamente previstos, havendo vários arguidos
ou assistentes, quando o prazo para a prática de actos subsequentes à notificação
termine em dias diferentes, o acto pode ser praticado por todos ou por cada um deles
até ao termo do prazo que começou a correr em último lugar.
Ex.: Existem três arguidos e são notificados em dias diferentes. Este n.º 12 do art. 113.º
CPP vem dizer que se os prazos terminarem em dias diferentes, todos podem praticar o
acto até ao termo do prazo daquele que começou a correr em último lugar, pois o prazo
que começou a correr em último lugar aproveita os outros. Isto só se faz entre os
arguidos ou entre os assistentes.
Exercício prático
Qual o dia em que a pessoa em questão se considera notificada igual ou o primeiro dia
do prazo?
Carta registada – art. 113.º, n.º 2 CPP (3.º dia útil posterior ao envio).
a) Data: 14/12/2009.
Notificação: 17/12/2009.
Primeiro dia do prazo: 18/12/2009.
O dia 14 é uma segunda-feira, logo os dias 15,16 e 17 são três dias úteis, o primeiro dia
do prazo em 18/12/2009.
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O dia do envio nunca conta, tal como o dia do depósito, pois a lei fala em três dias
posteriores.
b) Data: 09/12/2009.
Notificação: 14/12/2009.
Primeiro dia do prazo: 15/12/2009.
Os três dias da presunção são dias úteis, logo não se contam no fim-de-semana.
Mas existem em relação a esta matéria dois entendimentos. Há quem entenda que
quando a lei diz terceiro dia útil se está a referir a três dias úteis. Há também quem
entenda que só o terceiro dia é tem de ser útil.
c) Data: 15/12/2009.
Notificação: 18/12/2009.
Primeiro dia do prazo: 19/12/2009.
d) Data: 16/12/2009.
Notificação: 21/12/2009.
Primeiro dia do prazo: 04/01/2010 ou 22/12/2009.
e) Data: 04/12/2009.
Notificação: 10/12/2009 ou 07/12/2009.
Primeiro dia do prazo: 11/12/2009 ou 08/12/2009.
Para quem perfilhar a tese de que os três dias têm de ser úteis, a notificação dá-se no dia
10/12/ 2009, porque o dia 4 é uma sexta-feira, logo os dias 5 e 6 não contam, pois são
sábado e domingo. O dia 7 é o primeiro dia, o dia 8 não conta porque é feriado, o dia 9 é
o segundo dia e o dia 10, o terceiro. O prazo da notificação é dia 10.
Para quem defende que só o terceiro dia tem de ser útil, então o primeiro dia será o dia 5
(sábado), o segundo dia será dia 6 (domingo) e o terceiro dia será o dia 7. Assim, o
primeiro dia do prazo será dia 11 para quem perfilha a tese dos três dias úteis ou no dia
8 para quem adopta a tese de que só o terceiro dia tem de ser útil.
Grupo 2: a notificação é feita através de notificação via postal simples com depósito
em:
a) 14/12/2009
b) 09/12/2009
c) 21/12/2009
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Notificação por via postal simples com depósito – art. 113.º, n.º 3 CPP (5.º dia
posterior ao depósito).
a) Data: 14/12/2009.
Notificação: 19/12/2009.
Primeiro dia do prazo: 29/12/2009.
O dia 14 é uma segunda-feira e o dia 19 é um sábado, mas a lei não exige que os cinco
dias sejam úteis.
b) Data: 09/12/2009.
Notificação: 14/12/2009.
Primeiro dia do prazo: 15/12/2009.
c) Data: 21/12/2009.
Notificação: 26/12/2009.
Primeiro dia do prazo: 04/01/2010 ou 27/12/2009.
O prazo da notificação dos cinco dias nada tem a ver com as férias judiciais, a
notificação presume-se feita no dia 26.
Se o prazo em questão for um prazo que corre em férias, o primeiro dia do prazo a dia
27/12/2009. Se o prazo em questão não corre em férias, o primeiro dia do prazo é o dia
04/01 /2010.
Grupo 3:
Situação I: o arguido é notificado por via postal simples com depósito a 17/12/2009 e o
seu defensor é notificado por carta registada de 18/12/2009.
Arguido:
Data: 17/12/2009.
Notificação: 22/12/2009.
Primeiro dia do prazo: 04/01/2010 ou 23/12/2009.
Advogado:
Data: 18/12/2009.
Notificação: 23/12/2009 ou 21/12/2009.
Primeiro dia do prazo: 04/01/2010 ou 22/12/2009.
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advogado seria o dia 22. Logo, aplicando-se o art. 113.º, n.º 9 CPP, o primeiro dia do
prazo é dia 23/12 / 2009.
Assistente:
Data: 09/12/2009.
Notificação: 14/12/2009.
Primeiro dia do prazo: 15/12/2009.
Advogado:
Data: 07/12/2009.
Notificação: 11/12/2009 ou 10/12/2009.
Primeiro dia do prazo: 12/12/2009 ou 11/12/2009.
Se considerarmos que os três dias têm de ser úteis, o advogado considera-se notificado
no dia 11/12/2009. Caso se considere que apenas o terceiro dia tem de ser útil, o
advogado considera-se notificado no dia 10/12/ 2009. O primeiro dia do prazo é o dia
15/12/2009, pois é a data da última notificação (art. 113.º, n.º 9 CPP).
Grupo 4: o arguido X é notificado por via postal simples com depósito a 03/12/2009, o
seu defensor é notificado por carta registada a 04 /12/2009.
O arguido Y é notificado por via postal simples como depósito a 02/12/ 2009 e o seu
defensor é notificado pessoalmente no dia 11 /12/2009. Este é um só processo.
Qual a data em que as respectivas pessoas se consideram notificadas e qual o primeiro
dia do prazo?
Arguido X:
Data: 03/12/2009.
Notificação: 08/12/2009.
Primeiro dia do prazo: 09/12/2009.
Defensor 1:
Data: 04/12/2009.
Notificação: 10/12/2009 ou 07/12/2009.
Primeiro dia do prazo: 11/12/2009 ou 08/12/2009.
Arguido Y:
Data: 02/12/2009.
Notificação: 07/12/2009.
Primeiro dia do prazo: 08/12/2009.
Defensor 2:
Data: 11/12/2009.
Notificação: 11/12/2009.
Primeiro dia do prazo: 12/12/2009.
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O art. 113.º, n.º 12 CPP só se aplica aos casos expressamente previstos. Sendo um
prazo em que esteja prevista a aplicação do art. 113.º, n.º 12 CPP, o primeiro dia do
prazo seria dia 12/12/2009, porque o defensor 2 foi notificado pessoalmente no dia
11/12/2009, logo o primeiro dia do prazo seria o dia seguinte.
Caso se trate de um prazo para o qual não está prevista a aplicação do art. 113.º, n.º 12
CPP, teríamos de contar separadamente. Mas não nos podemos esquecer de aplicar o
art. 113.º, n.º 9 CPP, isto é, arguido X e defensor 1, e arguido Y e defensor 2. Assim,
nesta última hipótese, em relação ao arguido X defensor 1, o primeiro dia do prazo seria
o dia 11 (na hipótese de os três dias serem úteis) ou dia 9 (na hipótese de se considerar
que só o terceiro dia tem de ser útil. No segundo grupo, arguido Y e defensor 2, o
primeiro dia do prazo seria sempre o dia 12/12/2009.
O n.º 1 deste artigo diz que a notificação de pessoa que se encontrar presa é
requisitada ao director do estabelecimento prisional respectivo e efectuada na pessoa do
notificando por funcionário para o efeito designado.
Isto aplica-se às pessoas que estejam presas, e neste caso a notificação é pessoal.
O caso que saiu no exame era um caso em que havia um preso, só que não estava preso
à ordem desse processo, mas de outro processo. O entendimento que se tem hoje é que
só corre em férias o prazo em processos nos quais o arguido esteja preso à ordem
desse mesmo processo, se o arguido estiver preso à ordem de outro processo, o prazo
não corre em férias.
O n.º 2 prevê, sem prejuízo do disposto no número anterior, que o juiz pode ordenar,
oficiosamente ou a requerimento, a detenção de quem tiver faltado
injustificadamente pelo tempo indispensável à realização da diligência e, bem
assim, condenar o faltoso ao pagamento das despesas ocasionadas pela sua não
comparência, nomeadamente das relacionadas com notificações, expediente e
deslocação de pessoas. Tratando-se do arguido, pode ainda ser-lhe aplicada medida
de prisão preventiva, se esta for legalmente admissível.
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Diz a lei que o impedimento previsível deve ser comunicado com cinco dias de
antecedência. O impedimento imprevisível deve ser comunicado no próprio acto.
São estes os três requisitos que deve conter o requerimento para justificação da falta.
Além disso, a norma diz que não podem ser indicadas mais de três testemunhas.
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Por último, há um novo número que foi introduzido na última revisão, o n.º 8, que se
refere aos advogados. Este artigo diz que o disposto nos números anteriores no que se
refere aos elementos exigíveis de prova não se aplica aos advogados, podendo a
autoridade judiciária comunicar as faltas injustificadas ao organismo disciplinar da
respectiva Ordem. Se o advogado falta, é comunicada a falta à O.A. Mas se o
advogado justifica a falta, a palavra do advogado deve bastar.
Nota: relativamente à questão de saber se os três dias são ou não úteis, o Acórdão da
Relação de Guimarães de 04 de Abril de 2005 defende que os três dias devem ser
úteis.
Este acórdão considera que o que a lei diz, literalmente e linguisticamente correcta, é
que os três dias são úteis. Se o legislador quisesse optar por uma solução diferente tê-lo-
ia dito de forma diferente.
Entende-se a diferença de regimes porque em processo penal os interesses são maiores,
logo a presunção deve ser mais longa.
I. Impedimento previsível
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Pede deferimento.
O requerente.
Pede deferimento.
O requerente.
Prazos
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O art. 103.º CPP regula quando se praticam os actos processuais. A regra geral está
contida no n.º 1 do art. 103.º CPP, que diz que os actos processuais se praticam nos
dias úteis, às horas de expediente dos serviços de justiça e fora do período de férias
judiciais.
Temos aqui três ideias a reter:
Nos dias úteis
Nas horas de expediente
Fora do período de férias judiciais
Não obstante esta norma, será que se pode praticar um acto por fax depois das 16:00h?
Nesta matéria aplica-se subsidiariamente a matéria respectiva do processo civil, que
permite que por telecópia sejam praticados actos até às 00:00h, para cumprir um
determinado prazo. É uma excepção a esta regra do art. 103.º, n.º 1 CPP.
O art. 143.º, n.º 4 CPCivil determina que as partes podem praticar os actos processuais
por transmissão electrónica de dados ou através de telecópia, em qualquer dia e
independentemente da hora da abertura e do encerramento dos tribunais.
A propósito do correio electrónico, há muita matéria relativa aos prazos que não está
regulamentada, então temos de nos socorrer do processo civil. Ora, o processo civil
admite que se pratiquem actos por correio electrónico, mas diz no n.º 1 do art. 150.º
CPCivil que os actos processuais que devam ser praticados por escrito pelas partes são
apresentados a juízo preferencialmente por transmissão electrónica de dados, nos termos
definidos na portaria prevista no n.º 1 do artigo 138.º–A, valendo como data da prática
do acto processual a da respectiva expedição.
A portaria aqui referida é a portaria que criou e regulamentou o CITIUS. Simplesmente
o CITIUS não se aplica ao processo penal. Ou seja, existe uma portaria que regulamenta
o envio de peças por correio electrónico, que é também a mesma portaria que cria e
regulamenta o CITIUS, mas o CITIUS não se aplica ao processo-crime. Quid iuris?
Se a lei o prevê, mas através de uma portaria que por sua vez exclui da sua aplicação o
processo penal, pode ou não enviar-se peças de processo penal por correio electrónico?
Vem-se entendendo que sim, e que para efeitos de processo penal não vigorará esta
portaria que instituiu o CITIUS, mas as anteriores continuam a valer e aplicam-se as
regras das portarias revogadas pela portaria que criou o CITIUS, valendo essas regras
para o processo penal.
Continua a ser possível praticar actos por correio electrónico, sem ser através do
CITIUS, pois em processo civil o envio por correio electrónico só se faz através do
CITIUS.
Este art. 103.º, n.º 1 CPP levanta ainda outra questão, a questão de saber o que fazer
quando há tolerância de ponto. O CPCivil mais uma vez dá-nos a resposta. Sempre
que se encontrar uma lacuna deve-se tentar resolve-la no processo civil.
O n.º 2 do art. 144.º CPCivil diz que quando o prazo para a prática do acto processual
terminar em dia em que os tribunais estiverem encerrados, transfere-se o seu termo
para o primeiro dia útil seguinte, e o n.º 3 diz que para efeitos do disposto no número
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Se o n.º 1 do art. 103.º CPP nos dá a regra, o n.º 2 abre logo várias excepções.
A al. a) é talvez a mais importante, e diz que se exceptuam do disposto no número
anterior os actos processuais relativos a arguidos detidos ou presos, ou
indispensáveis à garantia da liberdade das pessoas. Esta é logo a primeira restrição à
aplicação da regra do n.º 1.
Esta excepção resulta directamente da lei, não tem de ser decretada pelo juiz. Existem
outras, no entanto, que têm de ser expressamente decretadas pelo juiz.
A lei fala em arguidos presos, logo não devemos equiparar a este regime aqueles que
estão a cumprir obrigação de permanência na habitação.
A lei em muitos aspectos equiparou ambos os regimes, mas aqui não o fez. Assim, esta
excepção só se aplica aos casos dos presos.
Havendo um processo, o art. 104.º, n.º 2 CPP diz que correm em férias os prazos
relativos a processos nos quais se devam praticar os actos referidos nas als. a) a e)
do n.º 2 do art. 103.º CPP. O art. 104.º, n.º2 CPP está intimamente ligado ao art.
103.º, n.º 2, als. a) a e) CPP.
Nos termos do art. 103.º, n.º 2, al. a) CPP, os prazos correm em férias não só para o
preso, mas também para os outros sujeitos processuais desse processo (ex.: outros
arguidos que não estejam presos, assistente e partes civis, etc.). Não é só para o arguido
preso que o prazo corre em férias.
A al. b) do n.º 2 do art. 103.º CPP diz-nos que ainda se praticam fora da regra do n.º 1
os actos de inquérito e de instrução, bem como os debates instrutórios e audiências
relativamente aos quais for reconhecida, por despacho de quem a elas presidir,
vantagem em que o seu início, prosseguimento ou conclusão ocorra sem aquelas
limitações.
Ao contrário da al. a), aqui já temos uma excepção que tem ser decretada pelo juiz, não
ocorre automaticamente. Enquanto que a al. a) é op legis, isto é, resulta directamente da
lei, a al. b) é op iudicis, tem de ser a própria autoridade a estabelecer que a prática de
determinado acto ocorra fora dos condicionalismos previstos no n.º 1.
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Prática Processual Penal
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Por último, a al. f) exceptua os actos de mero expediente, bem como as decisões das
autoridades judiciárias, sempre que necessário.
O n.º 3 introduz regras no que toca ao interrogatório. Este artigo diz que o
interrogatório do arguido não pode ser efectuado entre as 0 e as 7 horas. A lei
estabelece no entanto duas excepções: caso se trate de acto seguido à detenção (a lei
veio estabelecer aqui um limite temporal), nas seguintes situações:
a) Nos casos da al. a) do n.º 5 do artigo 174.º CPP – ou seja, crime de terrorismo,
criminalidade violenta ou extremamente organizada.
b) Quando o próprio arguido o solicite, isto é, quando o próprio arguido pretenda ser
interrogado àquelas horas.
Nestes casos, pode o interrogatório decorrer durante o período constante do n.º 3, entre
as 00:00h e as 07:00h.
Na última revisão, introduziu-se uma novidade, que é o n.º 4, relativo à duração máxima
do interrogatório.
Este n.º 4 determina que o interrogatório do arguido tem a duração máxima de
quatro horas, podendo ser retomado, em cada dia, por uma só vez e idêntico prazo
máximo, após um intervalo mínimo de sessenta minutos.
Durante um dia, o arguido só pode ser interrogado durante 8h, e entre cada 4h tem de
haver um intervalo de uma hora.
A lei no n.º 5 estabelece quais as consequências da violação destes limites. São nulas,
não podendo ser utilizadas como prova, as declarações prestadas para além dos
limites previstos nos nºs 3 e 4.
Portanto, sempre que houver violação das normas que prevêem os limites (n.ºs 3 e 4), a
lei fere estas violações com a nulidade.
O art. 104.º CPP diz expressamente que se aplicam à contagem dos prazos processuais
as disposições da lei do processo civil. É uma remissão para o regime civilístico.
São todas regras do art. 144.º CPCivil, que também se aplicam ao processo penal
por via do art. 104.º, n.º 1 CPP.
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Prática Processual Penal
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O art. 107.º CPP tem mais aspectos relevantes, tais como o que consta do n.º 1, que é a
possibilidade de renúncia ao decurso e prática de acto. A pessoa em benefício da
qual um prazo for estabelecido pode renunciar ao seu decurso, mediante requerimento
endereçado à autoridade judiciária que dirigir a fase do processo a que o acto respeitar, a
qual o despacha em vinte e quatro horas.
Em que circunstâncias é que isto poderá ter algum sentido e utilidade?
O fundamento é a celeridade processual.
O caso mais típico é o caso de o arguido estar preso preventivamente. Sai a
acusação e o arguido tem 20 dias para requerer a abertura de instrução. Mas o arguido
não tem interesse em requerer a abertura de instrução. Se não requerer a abertura de
instrução e se nada disser, o processo vai estar vinte e tal dias no MP à espera que entre
algum requerimento. Se não entrar, o MP remete o processo para julgamento, mas
entretanto gastaram-se vinte e tal dias e nada se fez. Se o arguido está preso, tem todo o
interesse em ser julgado o mais rapidamente possível.
Assim, pode renunciar ao decurso do prazo para requerer a abertura de instrução e
automaticamente o processo é logo distribuído e segue para julgamento, mais
rapidamente do que se nada fizesse.
O n.º 6 do art. 107.º CPP diz que quando o procedimento se revelar de excepcional
complexidade, nos termos da parte final do n.º 3 do artigo 215.º, o juiz, a
requerimento do MP, do assistente, do arguido ou das partes civis, pode prorrogar
os prazos previstos nos artigos 78.º, 287.º e 315.º e nos nºs 1 e 3 do artigo 411.º, até
ao limite máximo de 30 dias.
Existem aqui várias coisas a reter: em primeiro lugar, esta norma só se aplica a
processos que se revelem de excepcional complexidade. Por outro lado, esta
excepcional complexidade é apreciada nos termos do art. 215.º, n.º 3, parte final, que
diz que o processo se revela de excepcional complexidade, devido, nomeadamente, ao
número de arguidos ou de ofendidos ou ao carácter altamente organizado do crime.
56
Prática Processual Penal
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Esta possibilidade não é para todo e qualquer prazo, mas apenas para os prazos
previstos na norma:
Art. 78.º CPP (contestação ao pedido de indemnização civil)
Art. 287.º CPP (requerimento de abertura de instrução)
Art. 315.º CPP (contestação criminal do arguido)
Art. 411.º, n.ºs 1 e 3 CPP (prazo para as alegações de recurso).
Nota: no exame saiu uma questão do género: o prazo para contestar o pedido cível é
sempre de 20 dias. Verdadeiro ou falso? É falso, nos termos dos arts 68.º, n.º 1 e 107.º,
n.º 6 CPP.
Ainda no que toca ao art. 104.º, n.º 2 CPP, quanto ao prazo para a prática de actos
durante as férias, há duas notas importantes:
Isto aplica-se nos casos do art. 103.º, n.º 2, al. a) CPP e aplica-se não só ao
próprio arguido preso, mas a todos os sujeitos processuais.
Isto aplica-se no processo ao abrigo do qual o arguido está preso, pois o arguido
pode estar preso ao abrigo de um outro processo.
Inquérito
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A al. a) do n.º 2 do art. 276.º CPP diz ainda que o prazo de seis meses referido no
número anterior é elevado para 8 meses, quando o inquérito tiver por objecto um
dos crimes referidos no n.º 2 do artigo 215.º. O n.º 2 do art. 215.º CPP refere os
chamados crimes do catálogo. É uma norma relativa ao prazo máximo da prisão
preventiva, e estabelece um determinado prazo para um rol grande de crimes.
Remissão: art. 276.º, n.º 2, al. a) CPP → art. 215.º, n.º 2 CPP.
O prazo de seis meses é ainda elevado, nos termos da al. b) do n.º 2 do art. 276.º CPP,
para 10 meses, quando, independentemente do tipo de crime, o procedimento se
revelar de excepcional complexidade, nos termos da parte final do n.º 3 do artigo
215.º CPP.
O prazo de seis meses é ainda alargado, nos termos da al. c) do n.º 2 do art. 276.º CPP,
para 12 meses, nos casos referidos no n.º 3 do artigo 215.º CPP. O prazo pode passar
de 6 para 12 meses caso se trate não só da parte final do n.º 3 do art. 215.º CPP
(crimes de excepcional complexidade), mas ainda dos crimes do catálogo (n.º 2 do art.
215.º CPP).
Assim, recapitulando, o prazo máximo do inquérito pode ser, nos termos do n.º 1 do
art. 276.º CPP:
6 meses – processo com arguido preso ou sob obrigação de permanência na
habitação.
8 meses – processo sem arguido preso ou sob obrigação de permanência na
habitação.
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Prática Processual Penal
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Mas estes prazos são meramente ordenadores, e nem sempre são respeitados. O seu
desrespeito tem duas consequências principais:
As partes podem pedir a aceleração processual.
Prende-se com o segredo de justiça. O segredo à partida durará até ao prazo
máximo de duração do inquérito, podendo ser prorrogado. Se o prazo do
inquérito é prorrogado, o processo abre-se e acaba o segredo de justiça.
Instrução
(art. 306.º CPP)
A instrução também tem um prazo máximo de duração, nos termos do art. 306.º CPP.
Nos termos do n.º 1, o juiz encerra a instrução nos prazos máximos de dois meses, se
houver arguidos presos ou sob obrigação de permanência na habitação, ou de
quatro meses, se os não houver.
Segundo o n.º 2, o prazo de dois meses referido no número anterior é elevado para
três meses quando a instrução tiver por objecto um dos crimes referidos no n.º 2
do artigo 215.º CPP.
Julgamento
(art. 312.º, n.º 1 CPP)
O art. 312.º, n.º 1 CPP diz que, resolvidas as questões referidas no art. 311.º CPP, o
presidente despacha designando dia, hora e local para a audiência. Esta é fixada para a
data mais próxima possível, de modo que entre ela e o dia em que os autos foram
recebidos não decorram mais de dois meses.
59
Prática Processual Penal
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O pedido de aceleração deve, nos termos do art. 109.º, n.º 1 CPP, ser entregue no
tribunal ou entidade a que o processo estiver afecto.
Depois, de acordo com o art. 109.º, n.º 2 CPP, o juiz ou o MP instruem o pedido com
os elementos disponíveis e relevantes para a decisão e remetem o processo assim
organizado, em três dias, ao Conselho Superior da Magistratura ou à Procuradoria-
Geral da República.
Se não remeterem o processo em três dias, quid iuris? Mais uma vez trata-se de um
prazo meramente ordenador, não preclude nada. O que se pode fazer é mais uma vez
participar à entidade competente.
Como diz o n.º 5 do art. 109.º CPP, a decisão é tomada, sem outras formalidades
especiais, no sentido de:
a) Indeferir o pedido por falta de fundamento bastante ou por os atrasos verificados se
encontrarem justificados – o PGR ou o Conselho podem decidir que não foi violado
nenhum prazo, ou então que o excesso do prazo está devidamente justificado pelo MP
ou pelo juiz.
b) Requisitar informações complementares, a serem fornecidas no prazo máximo de
cinco dias – pode acontecer que o PGR ou o Conselho não tenham elementos suficientes
para decidir, e então requerem mais informações a quem de direito.
c) Mandar proceder a inquérito, em prazo que não pode exceder 15 dias, sobre os
atrasos e as condições em que se verificaram, suspendendo a decisão até à realização do
inquérito.
d) Propor ou determinar as medidas disciplinares, de gestão, de organização ou de
racionalização de métodos que a situação justificar – pode determinar medidas
disciplinares ao magistrado encarregue do processo, pode alterar a orgânica de
funcionamento do próprio tribunal, pode reorganizar os serviços ou métodos de
trabalho.
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Prática Processual Penal
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Exercício prático
1). Até quando podia o assistente apresentar a acusação particular quando o crime
particular?
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termo do prazo transfere-se para o primeiro dia útil seguinte, dia 2 de Janeiro de 2009,
sexta-feira, nos termos do art. 144.º, n.º 2 CPCivil ex vi art. 104.º CPP.
Assim, o último dia do prazo para a dedução da acusação particular, sem multa, é o dia
2 de Janeiro de 2009.
Porem, o acto pode ainda ser praticado dentro dos três primeiros dias úteis subsequentes
ao termo do prazo, mediante o pagamento de uma multa, nos termos do art. 145.º, n.º 5
CPCivil ex vi art. 104, n.º 1 CPP. Assim, o acto poderá ainda ser praticado, com
multa, nos dias 5, 6 e 7 de Janeiro, pelo que o último dia será o dia 7 de Janeiro de 2009.
Apreciação crítica:
É preciso:
1. Saber se os prazos correm ou não em férias, e o respectivo fundamento legal.
2. Dizer sempre qual é o primeiro dia do prazo.
3. Dizer sempre quando é que as pessoas se consideram notificadas, e justificar
legalmente.
4. Quando se perguntar até quando se pode praticar determinado acto, é preciso
sempre dizer que quando termina o prazo, a pessoa pode ainda praticar o acto
nos 3 dias úteis posteriores, com multa, nos termos do art. 145.º, n.º 5 CPCivil,
ex vi art. 104.º, n.º 1 CPP.
5. Se perguntar qual o último dia do prazo, não é necessário referir os 3 dias úteis
posteriores com multa.
De acordo com o art. 61.º, n.º 1, al. e) CPP, o arguido goza do direito de constituir
advogado ou solicitar a nomeação de um defensor.
No entanto, no caso concreto, o arguido D prescindiu de defensor.
Contudo, nos termos do art. 64.º, n.º 1, al. a) e e) CPP, existe a obrigatoriedade de o
arguido se fazer acompanhar de defensor, pelo facto de ter havido um interrogatório no
qual D se encontrava detido e ainda por ser D um desconhecedor da língua portuguesa.
Como no caso concreto D prescindiu de defensor, deveria ter sido nomeado um
defensor oficioso. Não tendo ocorrido tal, gerou-se uma nulidade insanável, nos termos
do art. 119.º, al. c) CPP.
Assim, D, ao requerer a abertura de instrução, poderá arguir esta nulidade, apesar de
este dever ser oficiosamente declarado em qualquer fase do procedimento (art. 119.º
CPP).
Ao arguir a nulidade, esta terá como efeito a invalidade do acto, bem como dos actos
que dele dependerem (art. 122.º CPP).
Apreciação crítica:
É necessário dizer sempre todas as invalidades existentes, pois nunca existe uma só
invalidade.
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Prática Processual Penal
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Nos termos do art. 116.º C.Penal, o direito de queixa não pode ser exercido se o titular
a ele expressamente tiver renunciado, o que no caso concreto não ocorreu.
O direito de desistência de queixa pode ser exercido até à publicação da sentença da 1.ª
instância, desde que não haja oposição do arguido. Ora, no caso concreto, o assistente
quer desistir da queixa antes do julgamento, pelo que ainda está a tempo de o fazer.
Neste caso, o assistente quer desistir da queixa relativamente aos arguidos A e B, os
quais aceitaram essa desistência.
Contudo, nos termos do n.º 3 do art. 116.º CPP, a desistência de queixa relativamente a
um dos comparticipantes no crime aproveita aos restantes, ou seja, E, ao desistir da
queixa em relação a A e B, está automaticamente a desistir em relação a C e D. No
entanto, só em relação ao crime de injurias, pois este depende de queixa.
O crime público (roubo) não depende de queixa, e como tal prossegue sem qualquer
interferência da desistência, tal como o crime semi-público (ofensas à integridade física
simples), que apesar de depender de queixa, foi apenas praticado por C e D. Assim, pelo
facto de o crime de injurias se tratar de um crime particular, E pode desistir da queixa.
A desistência da queixa em relação a A e B apenas releva para o crime de injúrias
cometido pelos 4 arguidos.
Apreciação crítica:
O que se deveria fazer era um requerimento dirigido ao tribunal:
“Exmo. Sr. Dr. Juiz, E desistiu da queixa relativamente a A e B, pelo que, nos termos do
art. 116.º, n.º 2 CPP, essa queixa, em caso de comparticipação, é extensível aos
restantes, isto é, aos meus clientes. Logo, julgue também a desistência da queixa
relativamente aos meus clientes.”
Nulidades
Há quem entenda que pode existir outro tipo de vícios, um vício tão grave que gera, não
uma nulidade mas uma inexistência.
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Ordem dos Advogados
Aqui estamos a falar de vícios de forma, porque se fossem vícios de substância, essas
irregularidades são invocadas por via de recurso. Se há uma sentença com a qual não
concordamos, deve ser impugnada por via de recurso.
Embora a lei não se refira expressamente quanto à figura da inexistência, ela existe,
porque às vezes temos violações do processo tão grosseiras, tão fortes, que chocava se
lhes atribuíssemos o regime da nulidade.
As nulidades sanáveis devem ser arguidas pelos interessados. Caso não o sejam, a
invalidade é sanada.
Já as nulidades insanáveis devem ser conhecidas oficiosamente logo que verificadas.
Podem ser conhecidas em qualquer fase do processo.
No caso das nulidades sanáveis, existe um prazo para a sua arguição. Passado este
prazo, estas nulidades convalidam-se.
Este artigo descreve os casos em que podem ocorrer as nulidades insanáveis (ver
artigo).
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Prática Processual Penal
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No CPP, para além dos casos referidos neste artigo, só existem mais dois. O artigo
refere que podem existir outras nulidades insanáveis cominadas em outras disposições
legais, que são:
Art. 321.º, n.º 1 CPP – referente à publicidade da audiência.
Art. 330.º, n.º 1 CPP – respeitante à falta do MP ou do defensor. Esta nulidade
pode ser incluída na al. c) do art. 119.º CPP, bem como na al. b). Mesmo sendo
uma nulidade insanável prevista fora do art. 119.º CPP, caso ela não estivesse
prevista no art. 330.º CPP, já chegaríamos a esta cominação por força das als. b)
ou c) do art. 119.º CPP.
Remissão: art. 119.º CPP → arts. 321.º, n.º 1 e 330.º, n.º 1 CPP.
Remissão: art. 330.º, n.º 1 CPP → art. 119.º, als. b) e c) CPP.
A falta de promoção do processo pelo MP, nos termos do artigo 48.º, bem
como a sua ausência a actos relativamente aos quais a lei exigir a respectiva
comparência – al. b).
Ex.: A participou ao MP um determinado crime e constitui-se assistente, por
entender que se tratava de um crime particular. O inquérito decorreu e no final
do inquérito o MP notifica A para deduzir acusação particular, o que A fez.
Quando chegou à fase de julgamento, o juiz considerou que não era aquele o
crime que estava em causa, porque havia agravação, e como tal o crime não era
particular, mas semi-público. Logo, aqui gerou-se uma nulidade insanável, pois
quem tinha de promover o processo era o MP. Não o fazendo, cometeu-se uma
nulidade insanável e o processo teve de voltar ao inquérito para que o MP
deduzisse acusação e o assistente, querendo, o acompanhasse ou deduzisse
acusação própria com base nos mesmos factos ou outros, desde que isso não
importasse uma alteração substancial dos factos. O que estava aqui em causa era
a qualificação do crime.
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Prática Processual Penal
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Num exame saiu o seguinte caso: havia um determinado processo, com dois
arguidos, que no julgamento confessaram determinados factos que não estavam
incluídos na acusação daquele processo. Levantava-se aqui a questão da
alteração ou não alteração substancial dos factos vertidos na acusação. Aqui era
evidente uma alteração substancial dos factos, logo estes factos não podiam ser
julgados neste processo. Mas como eram factos que se podiam autonomizar, sair
daquele processo, foi extraída certidão e foi aberto um novo inquérito. Nesse
inquérito, o MP pegou na certidão das declarações dos arguidos no julgamento
em que confessavam, e deduziu acusação. A questão era saber que tipo de
nulidade está aqui. Aqui houve inquérito e o MP deduziu acusação, mas não
praticou nenhum acto. Houve aqui uma insuficiência do inquérito, pois o
arguido devia ter sido ouvido naquele processo. Muito embora houvesse
confissão dos factos, isso foi num outro processo, logo gerou-se uma nulidade
sanável, nos termos do art. 120.º, n.º 2, al. c) CPP.
Segundo o n.º 1, qualquer nulidade diversa das referidas no artigo anterior (referente às
nulidades insanáveis) deve ser arguida pelos interessados.
Aqui está prevista a subsidariedade. Quando se refira uma nulidade que não seja uma
nulidade insanável, é uma nulidade dependente de arguição.
O n.º 2 diz quais as nulidades dependentes de arguição, para além das que forem
cominadas noutras disposições legais, e refere:
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Prática Processual Penal
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O segmento “por não terem sido praticados actos legalmente obrigatórios” foi
introduzido na última revisão para terminar com uma querela jurisprudencial que
existia. Discutia-se muito quando é que o inquérito é insuficiente ao ponto de isto
consubstanciar uma nulidade. A lei agora vem dizer, com aquela expressão, que só
existe nulidade quando há um acto de inquérito que é obrigatório e não foi praticado –
ex.: interrogatório do arguido. Sendo a inquirição do arguido um acto obrigatório do
inquérito, gera uma nulidade sanável dependente de arguição.
No último exame, numa das questões constava que o MP extraiu certidão e sem mais,
deduziu acusação. Há aqui uma nulidade, pois não se ouviu o arguido.
Segundo este artigo, as nulidades referidas nos números anteriores devem ser arguidas:
a) Tratando-se de nulidade de acto a que o interessado assista, antes que o acto
esteja terminado. Se o arguido ou o defensor estão presentes no momento em que se
pratica a nulidade, ela tem de ser arguida até ao final desse acto.
b) Tratando-se da nulidade referida na alínea b) do art. 120.º, n.º 2, até cinco dias
após a notificação do despacho que designar dia para a audiência. Esta alínea tem
uma falha, pois não é à al. b) que o artigo se refere, mas à al. c), e assim já faz sentido.
Isto porque a al. b) se refere à ausência, por falta de notificação do assistente e partes
civis, nos actos em que a lei exige a sua comparência. Por exemplo, existe inquérito,
instrução e é designado dia para julgamento. Diz a lei que tem 5 dias após a notificação
de despacho para arguir a nulidade, mas depois o processo continua, e se houver um
acto qualquer para o qual não se é convocado, qual o prazo? Isto não faz sentido na al.
b), a lei devia referir-se à al. a), pois houve um lapso do legislador.
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Prática Processual Penal
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Nos outros casos não previstos aqui, temos o prazo geral de 10 dias, nos termos do
art. 105.º, n.º 1 CPP, que diz que salvo disposição legal em contrário, é de 10 dias o
prazo para a prática de qualquer acto processual.
Este prazo de 10 dias começa a contar, no entender do Professor Germano Marques
da Silva, a partir das mesmas circunstâncias do art. 123.º CPP, que diz respeito às
irregularidades, ou seja, o prazo de 10 dias começa a contar no dia seguinte àquele
em que tiverem sido notificados para qualquer termo do processo ou intervindo
em algum acto nele praticado.
O n.º 1 diz que salvo nos casos em que a lei dispuser de modo diferente, as nulidades
ficam sanadas se os participantes processuais interessados:
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Prática Processual Penal
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O n.º 2 prevê que a declaração de nulidade determina quais os actos que passam a
considerar-se inválidos e ordena, sempre que necessário e possível, a sua repetição,
pondo as despesas respectivas a cargo do arguido, do assistente ou das partes civis que
tenham dado causa, culposamente, à nulidade. O juiz, quando decreta a nulidade, vai
definir quais os actos que vão ser anulados e os que, em virtude dessa declaração de
nulidade, vão ser também anulados. Normalmente o juiz diz “são anulados os actos x, y
e z”, como pode dizer que “são anulados todos os actos posteriores ao despacho”.
O n.º 3 impõe que ao declarar uma nulidade o juiz aproveita todos os actos que
ainda puderem ser salvos do efeito daquela. Este número fala do aproveitamento em
benefício do princípio da economia processual. Tudo o que o juiz pudera aproveitar,
deve fazê-lo, embora nem sempre o faça.
Quando não se disser que determinada invalidade consubstancia uma nulidade, temos
uma irregularidade.
O n.º 1 do art. 123.º CPP afirma que qualquer irregularidade do processo só
determina a invalidade do acto a que se refere e dos termos subsequentes que
possa afectar quando tiver sido arguida pelos interessados no próprio acto ou, se a
este não tiverem assistido, nos três dias seguintes a contar daquele em que tiverem
sido notificados para qualquer termo do processo ou intervindo em algum acto
nele praticado.
Inexistência
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Prática Processual Penal
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Existe inexistência pois existe uma invalidade de tal forma grave que afecta a
substância do acto, pelo que não pode produzir efeitos jurídicos em caso algum.
Não se convalida com o trânsito em julgado, ao contrário das nulidades insanáveis.
Os efeitos são casuísticos e devem ser analisados caso a caso, verificando quais os actos
que devem ou não ser anulados.
Ex.: sentença proferida por um não juiz. Se o processo decorreu normalmente até à fase
dee julgamento, não há necessidade de anular todo o processo.
E perante o JIC?
O JIC tem uma função híbrida, pois existem actos no inquérito que são da competência
do JIC. Se ocorrer algum problema relacionado com esses actos, devemos agir perante o
JIC.
Em todos os outros casos devemos invocar a nulidade perante o MP, que é quem tem a
direcção do inquérito.
Existem decisões nos dois sentidos, sendo que a posição híbrida é a que apresenta a
posição mais acertada, no entendimento do professor e do Dr. Pinto de Albuquerque.
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Prática Processual Penal
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Sendo uma nulidade sanável, esta deve ser arguida conforme o disposto no art. 120.º,
nº3 CPP.
Se for uma mera irregularidade, deve ser arguida nos termos do art. 123.º CPP.
Uma das nulidades sanáveis mais importantes é a do art. 120.º, n.º 2, al. d) CPP – “a
insuficiência do inquérito ou da instrução, por não terem sido praticados actos
legalmente obrigatórios, e a omissão posterior de diligências que pudessem reputar-se
essenciais para a descoberta da verdade”. Este artigo é fundamental na medida em
que permite reagir contra despachos ou decisões relativamente às quais não seja
possível apresentar recurso. Encontramos aqui uma forma de contornar as decisões
relativamente às quais não é possível recorrer.
Nota: enquanto o art. 340º CPP fala em “necessário”, o art. 120.º, n.º2, al. d) CPP
fala em “essenciais”. Estamos perante uma diferença de grau, uma vez que essencial é
mais que necessário. Necessário é algo que pode ser útil e ajudar, mas essencial é quase
imprescindível. Assim quando requeremos alguma diligência de prova ao abrigo do
art. 340.º CPP, devemos alegar que essa diligência é essencial para a descoberta da
verdade. Isto porque, se o juiz indeferir, temos a possibilidade de arguir a nulidade do
despacho, nos termos do art. 120.º n.º2, al. d) CPP. Da decisão que recaia sobre esta
arguição da nulidade já é possível recorrer.
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Prática Processual Penal
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Exmo. Sr. Doutor Juiz de Direito, queria ditar para acta um requerimento:
Nos termos do art. 340.º n.º1 do CPP, vem-se requerer a Vª. Ex.ª. se digne ouvir a
testemunha Alberto João Silva, residente na Rua das Fontainhas da freguesia …, cidade
e Comarca de Fafe, presente neste Tribunal.
A inquirição da testemunha mostra-se essencial à descoberta da verdade e à boa decisão
da causa, uma vez que a mesma presenciou os factos de que o arguido vem a ser
acusado e que só agora se prontificou a comparecer neste Tribunal.
Exmo. Sr. Doutor Juiz de Direito, quero ditar um requerimento para a acta, nos termos
do art. 340.º n.º1 CPP:
Tendo sido indeferido o requerimento que invoca a nulidade, e não se conformando com
a decisão, vem-se recorrer da mesma, nos termos dos arts. 399.º e 400.º, a contrario, do
CPP, recurso este que sobe a final e em separado, nos termos dos arts. 406.º, n.º 2 e
407.º, n.º 3 CPP e tem efeito meramente devolutivo (art. 408, a contrario, CPP).
O presente recurso deverá ser julgado pelo Tribunal da Relação de Guimarães, nos
termos dos arts. 427.º e 432.º, a contrario, CPP.
Ainda quanto à matéria das nulidades, falta referir uma norma, o art. 118.º, n.º 3 CPP.
O n.º 3 prevê que “as disposições do presente título não prejudicam as normas deste
Código relativas a proibições de prova.”
Isto significa que, não obstante estar previsto o regime das nulidades, existe outra coisa
à qual a lei quis atribuir natureza similar, mas ao mesmo tempo distinta, que é o regime
das proibições de prova.
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Prática Processual Penal
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O n.º 1 diz que “são nulas, não podendo ser utilizadas, as provas obtidas mediante
tortura, coacção ou, em geral, ofensa da integridade física ou moral das pessoas.”
O n.º2 exemplifica, dando casos de ofensas da integridade física simples ou moral das
pessoas, para efeito da matéria das proibições de prova
O n.º 3 diz que “ressalvados os casos previstos na lei, são igualmente nulas, não
podendo ser utilizadas, as provas obtidas mediante intromissão na vida privada, no
domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações sem o consentimento do
respectivo titular.”
Por um lado, temos o art. 118.º, n.º3 CPP, que nos diz que as disposições deste capítulo
não prejudicam as normas relativas às proibições de prova, por outro lado, existe um
artigo respeitante às proibições de prova, que nos diz que as provas descritas nos n.ºs 1
e 3 do art. 126.º CPP são nulas. Ou seja, há aqui uma certa confusão de conceitos, o
que dificulta a quem interpreta a lei.
Quais as diferenças?
Em primeiro lugar, o n.º 3 diz logo “ressalvados os casos previstos na lei”. Em segundo
lugar, diz na parte final “sem o consentimento do respectivo titular”, o que vem
introduzir uma diferença substancial no que toca às primeiras provas, pois o
consentimento não tem um mínimo relevo no n.º 1. Mesmo que a pessoa consinta em
ser torturada, a prova há-de ser sempre proibida, enquanto que no n.º 3 não é assim.
73
Prática Processual Penal
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A última revisão do código veio introduzir uma pequena mudança no n.º 3, uma
expressão que já constava do n.º 1, que diz respeito à expressão “não podendo ser
utilizadas”, ou seja, houve uma importação de um conceito que já constava no n.º 1,
para o n.º 3.
O Professor entende que as modificações legislativas não são feitas por acaso, logo esta
novidade do n.º 3 é um ponto a favor da tese forte, pois veio, em termos de redacção,
aproximar o n.º 3 do n.º 1.
Para quem defende a tese forte, no sentido de que o regime deve ser idêntico para todas
as proibições de prova previstas no art. 126.º, essa equiparação de regimes é um
argumento a favor.
Uma das grandes questões que se coloca a propósito das proibições de prova é
saber se os seus efeitos se limitam à invalidade do próprio meio de prova, ou se os
efeitos se entendem para além dele, isto é, se se propagam a outros meios de prova.
Quais as consequências de um meio de prova ser julgado proibido?
Quanto a isto também há entendimentos mais restritos e outros mais latos.
Há um entendimento razoável, que é o que vem a ser seguido pela nossa jurisprudência.
Este entendimento vai no sentido de que nem todas as provas produzidas, para além
daquela que foi proibida e que com ela têm uma relação, são ou têm de ser
necessariamente banidas. Depende casuisticamente de cada caso em concreto. Temos
de ver caso a caso a ligação que existe entre a prova válida e a prova que foi conseguida
ilicitamente ou através de um método proibido. Temos que ver a relação que existe
entre uma e outra.
O entendimento que o Professor considera mais razoável vai no sentido de saber se
existe um nexo causal entre uma e outra, ou seja, se chegarmos à conclusão que
uma prova só foi obtida em consequência de uma outra que é uma prova proibida,
então os efeitos de uma devem repercutir-se na outra. Mas se considerarmos que
apesar daquela prova proibida ter facilitado a obtenção da outra, esta outra
sempre seria obtida por uma outra via que não aquela, ou poderia lógica ou
razoavelmente ser obtida por um outro método, então já não devemos propagar o
efeito da prova proibida, e essa outra prova fica válida.
Temos sempre de ver se existe nexo causal, e se o nexo causal for forte ou muito forte,
então devemos fazer propagar o efeito da proibição da prova. Se o nexo causal for fraco,
então não devemos fazer propagar esse efeito. Isto porque existe em processo penal o
princípio de que as provas devem ser obtidas pelos meios legais e não através de
meios proibidos, e o princípio da prossecução da justiça, do processo penal e da
investigação. Logo, não devemos anular toda e qualquer prova que tenha tido contacto
com a prova proibida.
Ex.: caso “Leonor Cipriano”. Leonor Cipriano acusou agentes da PSP e PJ de tortura,
mas no processo isso nunca ficou demonstrado. Supondo que ela tenha sido torturada, e
que com base nas informações recolhidas nessa tortura se fez uma diligência de prova,
onde se encontra o cadáver? Quid iuris? A diligência de busca e apreensão seria ou não
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Prática Processual Penal
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seria válida? Não sendo através da tortura, de que outra forma se poderia encontrar o
cadáver?
A este propósito ver o livro do Dr. Costa de Andrade, os métodos proibidos de prova e
sua valoração.
Há quem entenda também que não devemos fazer propagar os efeitos das provas
proibidas nos casos em que os direitos do arguido não saiam minimamente
prejudicados com isso. Isto relaciona-se com a conjugação de princípios, de um lado o
princípio do respeito pelos direitos do arguido (direito a um processo penal justo), e
por outro lado o princípio da prossecução da acção penal, ou seja, não saindo
beliscados os direitos do arguido, o princípio da prossecução da acção penal deve
sobrepor-se, logo a prova não deve ser invalidada.
Da prova
(art. 124.º SS. CPP)
O n.º 2 diz que “se tiver lugar pedido civil, constituem igualmente objecto da prova
os factos relevantes para a determinação da responsabilidade civil.”
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Prática Processual Penal
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A tortura, coacção ou, em geral, ofensa da integridade física ou moral das pessoas.
“São exemplos de ofensas à integridade física ou moral das pessoas, as provas obtidas,
mesmo com o consentimento delas, as previstas no n.º 2 do art. 126.º CPP, sendo
totalmente banidos os meios de prova ofensivos da integridade das pessoas, os obtidos
mediante:
a) Perturbação da liberdade de vontade ou de decisão através de maus tratos, ofensas
corporais, administração de meios de qualquer natureza, hipnose ou utilização de meios
cruéis ou enganosos;
b) Perturbação, por qualquer meio, da capacidade de memória ou de avaliação;
c) Utilização da força, fora dos casos e dos limites permitidos pela lei;
d) Ameaça com medida legalmente inadmissível e, bem assim, com denegação ou
condicionamento da obtenção de benefício legalmente previsto;
e) Promessa de vantagem legalmente inadmissível”.
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Prática Processual Penal
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avaliação da pessoa, pois esta não está a avaliar bem aquilo que está a dizer (al. b)).
Estes meios, mesmo com o consentimento da pessoa são proibidos.
Ex.: Ciência privada do Juiz. O juiz é uma pessoa normal e sabe coisas como todos nós.
Suponhamos que ele usa a informação privada que tem para dar como provado
determinado facto. O juiz sabe de algo, não porque está no processo, mas devido à sua
ciência privada (conhecimentos que tem ou porque viu algo).
Pode dar como provado o facto? De que forma o pode justificar? Pode usar a ciência
privada para fundamentar uma resposta à matéria de facto?
O que não está no processo não existe – “quo non est in actis non est in mundi”.
Ao abrigo deste princípio, o juiz nunca poderá usar a sua ciência privada para provar o
que quer que seja no processo.
A prova que vale é a prova produzida em Tribunal em audiência de julgamento. Mesmo
que o inquérito esteja cheio de provas, se não forem produzidas em julgamento não
valem.
Meios de prova
(art. 128.º SS. CPP)
Prova testemunhal
(arts. 128.º a 139.º CPP)
O n.º 1 determina que “o depoimento é um acto pessoal que não pode, em caso
algum, ser feito por intermédio de procurador.”
Não é possível passar uma procuração para outrem ir prestar declarações num dado
processo. Temos aqui o carácter pessoal do testemunho – só a própria testemunha é
que o pode fazer, ninguém o pode fazer por ela.
O n.º 4 diz que “sempre que deva prestar depoimento, ainda que no decurso de acto
vedado ao público, a testemunha pode fazer-se acompanhar de advogado, que a
informa, quando entender necessário, dos direitos que lhe assistem, sem intervir na
inquirição.” Esta é uma norma que surgiu com a nova reforma e vem permitir à
testemunha fazer-se acompanhar de advogado. É um direito que alguns autores
consideravam já existir, mesmo sem esta norma expressa, e que retiravam do art. 20.º,
n.º2 CRP.
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Prática Processual Penal
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De acordo com o n.º 1, “se o depoimento resultar do que se ouviu dizer a pessoas
determinadas, o juiz pode chamar estas a depor. Se o não fizer, o depoimento produzido
não pode, naquela parte, servir como meio de prova, salvo se a inquirição das pessoas
indicadas não for possível por morte, anomalia psíquica superveniente ou
impossibilidade de serem encontradas.”
Estamos aqui perante o chamado depoimento indirecto.
A regra é que o depoimento é directo, sobre factos de que a pessoa tenha
conhecimento. À partida a pessoa não pode produzir um depoimento indirecto, só o
poderá fazer se disser a pessoa concreta que lhe prestou essa informação e se o juiz
chamar essa pessoa a depor. A excepção é que isto não valerá se a inquirição da pessoa
não for possível por morte, anomalia psíquica superveniente ou impossibilidade de ser
encontrada.
O n.º 1 diz que “não é admissível como depoimento a reprodução de vozes ou rumores
públicos.” Ou seja, o “diz-se que” e “consta que”, não valem como meios de prova.
O n.º 2 diz que “a manifestação de meras convicções pessoais sobre factos ou a sua
interpretação só é admissível nos casos seguintes e na estrita medida neles indicada:
a) Quando for impossível cindi-la do depoimento sobre factos concretos;
b) Quando tiver lugar em função de qualquer ciência, técnica ou arte;
c) Quando ocorrer no estádio de determinação da sanção.”
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Prática Processual Penal
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Em primeiro lugar, nos termos do n.º 1, as vozes ou rumores públicos não valem nada,
não é admissível, ou seja, dizer-se que “lá na aldeia consta que” ou “ouviu-se dizer
que”, nada vale, tal como as convicções pessoais – “eu acho que” ou “na minha
opinião”.
A excepção está prevista no n.º 2, ou seja, quando é impossível cindir a convicção
pessoal do depoimento sobre determinado facto, quando a convicção é fundada na
ciência, sua técnica ou arte (pois se vai um perito a tribunal, vai dar um depoimento
baseado em princípios científicos que já é admissível); ou quando ocorreu no estádio de
determinação da sanção, ou seja, dizer que é “boa pessoa”, “é um fulano incapaz de…”,
neste caso, já é possível valerem estas convicções pessoais de quem as prestar.
Segundo o n.º 1, “qualquer pessoa que se não encontrar interdita por anomalia psíquica
tem capacidade para ser testemunha e só pode recusar-se nos casos previstos na lei”.
O n.º 2 determina que “a autoridade judiciária verifica a aptidão física ou mental de
qualquer pessoa para prestar testemunho, quando isso for necessário para avaliar da sua
credibilidade e puder ser feito sem retardamento da marcha normal do processo”.
O n.º 3 refere que “tratando-se de depoimento de menor de 18 anos em crimes contra a
liberdade e autodeterminação sexual de menores, pode ter lugar perícia sobre a
personalidade.”
A regra é que só a pessoa que não está interdita por anomalia psíquica é que tem
capacidade para testemunhar.
A família pode ser testemunha? Pode.
Todos têm capacidade para ser testemunha. Não é verdade que só as pessoas que derem
o seu acordo são as que podem ser testemunhas. O advogado pode indicar testemunhas,
o tribunal notifica, e estas têm que comparecer.
79
Prática Processual Penal
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a) Os menores de 16 anos;
b) Os peritos e os intérpretes que forem funcionários públicos e intervierem no exercício
das suas funções.”
No caso de menores de 16 anos, o juiz deve ter em conta a idade e fazer as perguntas de
uma forma adequada à idade.
Quem falta à verdade, comete um crime de falsas declarações.
Nos termos do art. 116.º CPP, a falta de comparência da testemunha não tem só a
consequência da multa: a pessoa pode ser obrigada a comparecer através de detenção –
conforme o previsto no art. 116.º, n.º 2 CPP.
As partes civis.
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Prática Processual Penal
Ordem dos Advogados
Existe no entanto um argumento contra: o facto de ter sido absolvido, não quer dizer
que não pudesse haver na altura conexão. Estavam lá todos os motivos para existir
conexão, e o facto de ter sido absolvido não significa que seja inocente, apenas não se
provaram os factos que vinha a ser acusado.
Se tiver sido requerida a sua inquirição como testemunha, mas relativamente a factos
que não determinaram a conexão?
Pode haver um processo conexão e dois arguidos, e o arguido A ter cometido o crime X,
Y e Z, e o arguido B só ter cometido o crime X, e os processos terem sido separados.
Relativamente aos factos que não determinaram a conexão, deve ou não gozar da
prerrogativa?
A lei existe para salvaguardar os direitos do arguido relativamente a factos, factos estes
em que tenha havido conexão, logo não faz sentido, no entender do Professor, gozar da
prerrogativa prevista no n.º 2.
Segundo o n.º 2, “a entidade competente para receber o depoimento adverte, sob pena
de nulidade, as pessoas referidas no número anterior da faculdade que lhes assiste de
recusarem o depoimento.”
Esta é uma nulidade sanável, pois não há indicação que seja insanável.
Ex.: a pessoa, quando indicada como testemunha, não tinha nenhuma relação com o
arguido, mas dois dias antes do julgamento casou-se. Pode ou não recusar-se a depor?
Pode, pois no momento que vai depor é casada com o arguido e é esse o momento que
importa aqui. Isto é um direito e não um dever.
A recusa é incondicional, ou seja, a pessoa não tem de motivar a recusa. Não tem de
indicar as razões.
Se a testemunha começar a falar, não exercendo o direito, depois também não o
pode exercer. A partir do momento em que não exerce o direito de recusa, é uma
testemunha como outra qualquer.
A testemunha pode ainda, em determinados casos, recusar-se a depor quanto a
determinadas perguntas.
Segundo o n.º 2 do art. 132.º CPP, “a testemunha não é obrigada a responder a
perguntas quando alegar que das respostas resulta a sua responsabilização penal”,
sendo certo que, em virtude desta recusa o MP pode mandar abrir o inquérito – art.
59.º n.º1 do CPP.
Este artigo diz que “se, durante qualquer inquirição feita a pessoa que não é arguido,
surgir fundada suspeita de crime por ela cometido, a entidade que procede ao acto
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Prática Processual Penal
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O n.º 2 do art. 138.º CPP diz que “às testemunhas não devem ser feitas perguntas
sugestivas ou impertinentes, nem quaisquer outras que possam prejudicar a
espontaneidade e a sinceridade das respostas”. As perguntas devem ser feitas de forma
clara e sem nenhum tipo de pressão, de modo a que o depoimento seja sincero e
espontâneo.
O art. 128.º, n.º 2 CPP refere as testemunhas abonatórias: “salvo quando a lei
dispuser diferentemente, antes do momento de o tribunal proceder à determinação da
pena ou da medida de segurança aplicáveis, a inquirição sobre factos relativos à
personalidade e ao carácter do arguido, bem como às suas condições pessoais e à
sua conduta anterior, só é permitida na medida estritamente indispensável para a
prova de elementos constitutivos do crime, nomeadamente da culpa do agente, ou para a
aplicação de medida de coacção ou de garantia patrimonial”.
Segundo o art. 283, n.º 3, al. d) CPP, no rol devem discriminar-se as testemunhas que
devam depor só sobre os aspectos referidos no n.º 2 do art. 128.º CPP, ou seja, quando
a acusação contém testemunhas deste género deve justificá-las.
Também o art. 291.º, n.º 4 CPP se refere a estas testemunhas na instrução, diz
expressamente que não são inquiridas este tipo de testemunhas, pois a instrução não visa
determinar a pena ou doseá-la, visa apenas saber se foi ou não cometido o crime.
Deve ainda referir-se o art. 315.º, n.º 4 CPP, que diz respeito à contestação e ao rol de
testemunhas, na medida em que também se deve especificar quais as testemunhas que
devem depor em relação àqueles factos constantes no art. 128.º, n.º 2 CPP.
O n.º 1 diz que “ao assistente e às partes civis podem ser tomadas declarações a
requerimento seu ou do arguido ou sempre que a autoridade judiciária o entender
conveniente”. Quanto ao arguido e das partes civis, prestam declarações nesta
qualidade e não na qualidade de testemunhas.
As suas declarações podem surgir de 3 formas, que vêm descritas no art. 145.º, n.º 1
CPP:
A requerimento do arguido;
Oficiosamente, pela autoridade judiciária;
Requerimento seu (do assistente ou parte civil).
O n.º 4 prevê que a prestação de declarações destes sujeitos processuais não é precedida
de juramento. No entanto, nos termos do n.º 2, ficam na mesma sujeitos a dever de
verdade e incorrem em responsabilidade criminal caso faltem à verdade nas suas
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Prática Processual Penal
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O regime das declarações do arguido, assistente e partes civis, nos termos do n.º 3, é o
mesmo da prova testemunhal.
Os peritos estão excluídos deste tipo de diligência. Não pode haver acareação entre
um perito e uma testemunha, arguido ou parte civil.
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Prática Processual Penal
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Se o arguido tem o direito ao silêncio, de responder só às questões que entende que deve
responder, por maioria de razão, só é acareado se o consentir, podendo assim não
prestar qualquer declaração.
Nesta diligência, tal como nos demais meios de prova, vale o princípio da livre
apreciação da prova e o juiz retirará desta diligência as consequências que ao abrigo
deste princípio entender relevantes.
Será que a podemos usar no processo penal? Sim. Por um lado, aplicam-se
subsidiariamente ao processo penal as regras de processo civil, nos termos do art. 4.º
CPP. Por outro lado, ao abrigo do princípio da legalidade – art. 125.º CPP – pode-se
produzir qualquer prova que não seja proibida por lei. Então deve entender-se que o
incidente da contradita também pode ser suscitado em processo penal.
Prova documental
(art. 164.º SS. CPP)
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Prática Processual Penal
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desde que devidamente fundamentado que o facto em si seja essencial para a descoberta
da verdade, para que, na eventualidade de o juiz não admitir a junção do documento, se
possa arguir a nulidade prevista no art. 120.º, n.º 2, al. d) CPP, podendo-se
posteriormente recorrer do despacho que indefere a arguição dessa nulidade.
Nota: se no processo civil podemos sempre juntar um documento, mesmo que sem o
articulado, apesar de se pagar a respectiva multa, no processo penal, por maioria de
razão, é óbvio que o princípio da descoberta da verdade material é mais amplo, logo, a
junção de documentos, mesmo que tardia deve ser admitida.
Declarações do arguido
(art. 140.º CPP)
Segundo o n.º 1, “sempre que o arguido prestar declarações, e ainda que se encontre
detido ou preso, deve encontrar-se livre na sua pessoa, salvo se forem necessárias
cautelas para prevenir o perigo de fuga ou actos de violência.”
A regra é a liberdade do arguido quando presta declarações. Obviamente, isto tem como
limites a salvaguarda do perigo de fuga e de quaisquer actos de violência que possam
ocorrer.
Esta norma suscita algumas interrogações: após a detenção há um prazo máximo fixado
em 48h. Se o interrogatório começou passadas algumas horas, ainda antes das 48h, mas
terminou já depois das 48h, quid iuris?
O entendimento correcto é que em muitos casos os interrogatórios se prolongam durante
muito tempo, eles têm limites temporais. Pode acontecer que tenha início no período das
48h, mas que vá para além deste. O interrogatório deve começar até as 48h. Se
terminar depois, já não tem relevância nenhuma para este prazo.
Se o interrogatório não se iniciar no prazo das 48h, o arguido deve ser solto. Para
tal devemos recorrer ao habeas corpus, de acordo com o art. 220.º, n.º 1 CPP.
Existem dois tipos de habeas corpus:
Habeas corpus de detenção ilegal
Habeas corpus em virtude de prisão ilegal.
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Prática Processual Penal
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No que toca a este primeiro interrogatório de arguido detido, diz ainda o n.º 2 do art.
141.º CPP que “o interrogatório é feito exclusivamente pelo juiz, com assistência do
MP e do defensor e estando presente o funcionário de justiça. Não é admitida a presença
de qualquer outra pessoa, a não ser que, por motivo de segurança, o detido deva ser
guardado à vista.”
Acrescenta o n.º 3 que são feitas ao arguido as perguntas normais referentes à sua
identificação.
De seguida, o juiz vai informá-lo, nos termos do n.º 4, de vários aspectos,
nomeadamente:
a) Dos direitos referidos no n.º 1 do art. 61.º CPP, explicando-lhos se isso for
necessário;
b) Dos motivos da detenção;
c) Dos factos que lhe são concretamente imputados, incluindo, sempre que forem
conhecidas, as circunstâncias de tempo, lugar e modo;
d) Dos elementos do processo que indiciam os factos imputados, sempre que a sua
comunicação não puser em causa a investigação, não dificultar a descoberta da verdade
nem criar perigo para a vida, a integridade física ou psíquica ou a liberdade dos
participantes processuais ou das vítimas do crime;
ficando todas as informações, à excepção das previstas na alínea a), a constar do auto de
interrogatório.
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decidir sobre a relevância dessa questão por despacho irrecorrível. Em todo o caso,
podemos invocar a insuficiência do inquérito – art. 120.º, n.º 1, al. d) CPP.
No que toca à duração do inquérito, em regra, nos termos do art. 103.º, n.ºs 3 e 4 CPP,
o interrogatório não pode ser efectuado entre as 0.00h e 7h, salvo nos casos
previstos nas als. a) e b) do n.º 3 do art. 103.º CPP.
Relativamente ao limite temporal, de acordo com o n.º 4 do mesmo artigo , o
interrogatório tem uma duração máxima de 4h, podendo haver mais uma fase de
4h, com uma hora de intervalo, ou seja, no máximo, por dia, pode ser interrogado por
8h.
Quais as consequências da violação destes limites? Segundo o art. 103.º, n.º 5 CPP,
“são nulas, não podendo ser utilizadas como prova, as declarações prestadas para além
dos limites previstos nos n.º s 3 e 4”. É uma nulidade sanável.
Nota: de acordo com o art. 141.º, n.º 6 CPP, uma das prerrogativas que o advogado
tem é a arguição de nulidades no decurso do interrogatório. Se ocorrer algum
fundamento para arguir uma nulidade, deve-se interromper, pedir a acta e arguir a
nulidade.
Se por ventura o arguido decidiu falar e o juiz lhe começa a fazer perguntas às
quais entendemos que ele não deve responder, o que deve o advogado fazer?
O arguido tem o direito ao silêncio, por um lado pode não responder a nada, por outro
pode só responder a determinadas perguntas. Para todos os efeitos, e conforme o
disposto nos arts. 61.º, n.º 1, al. d) e 63.º, n.º 1, CPP, o defensor exerce os mesmos
direitos que a lei reconhece ao arguido. Nada impede que o defensor interrompa o
inquérito e peça para conferenciar com o arguido e o aconselhar, nos termos dos arts.
61.º, n.º1, al. d) e 63.º, n.º1 CPP.
Exames
Revistas e buscas
Apreensões
Escutas telefónicas
Exames
(Arts. 171.º a 173.º CPP)
O n.º 1 determina que “por meio de exames das pessoas, dos lugares e das coisas,
inspeccionam-se os vestígios que possa ter deixado o crime e todos os indícios relativos
ao modo como e ao lugar onde foi praticado, às pessoas que o cometeram ou sobre as
quais foi cometido”. Há um exame feito num local, pode seguir-se a perícia que é um
meio de prova.
Segundo o n.º 2, “logo que houver notícia da prática de crime, providencia-se para
evitar, quando possível, que os seus vestígios se apaguem ou alterem antes de
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O n.º 1 determina que “se alguém pretender eximir-se ou obstar a qualquer exame
devido ou a facultar coisa que deva ser examinada, pode ser compelido por decisão
da autoridade judiciária competente”. Se é necessário fazer exame a alguém e esse
alguém se recusa, a lei prevê a possibilidade de ser compelido por decisão da autoridade
judiciária competente.
Caso se trate do arguido, entre os seus deveres consta o dever de se sujeitar a meios de
prova, nos termos do art. 61.º, n.º 3, al. d) CPP. Mas estará ele obrigado por este facto?
Esta é uma matéria controversa e o problema pode suscitar-se quando é preciso ofender
a saúde do arguido para fazer o exame. Isto não é mais que uma ponderação de direitos:
a prossecução do processo penal e a descoberta da verdade por um lado, e por outro
lado o direito à saúde do arguido e à sua privacidade. Portanto, a ponderação de direitos
faz-se caso a caso, não havendo uma resposta única.
No último exame saiu uma pergunta acerca de se o arguido estava obrigado a sujeitar-se
a prova datiloscópica, isto é, se é obrigado a fornecer as impressões digitais. Neste caso
parece que sim, ponderando os interesses em causa, não parece que ofenda muito os
direitos do arguido.
Revistas e buscas
(Arts. 174.º a 177.º CPP)
Segundo o n.º 1, “quando houver indícios de que alguém oculta na sua pessoa quaisquer
objectos relacionados com um crime ou que possam servir de prova, é ordenada
revista”.
O n.º 3 determina que “as revistas e as buscas são autorizadas ou ordenadas por
despacho pela autoridade judiciária competente, devendo esta, sempre que
possível, presidir à diligência”.
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No último exame colocava-se a questão de saber se determinada busca era legal ou não.
A justificação era que sim, ao abrigo desta norma.
Não basta dizer que a busca é legal nos termos do art. 174.º, n.º5, al. c) CPP. É preciso
verificar se todos os pressupostos estão preenchidos.
Segundo o n.º 1, “a busca em casa habitada ou numa sua dependência fechada só pode
ser ordenada ou autorizada pelo juiz e efectuada entre as 7 e as 21 horas, sob pena de
nulidade”.
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O n.º 3 ainda nos diz algo mais: “as buscas domiciliárias podem também ser ordenadas
pelo MP ou ser efectuadas por órgão de polícia criminal:
a) Nos casos referidos no n.º 5 do art. 174.º, entre as 7 e as 21 horas;
b) Nos casos referidos nas alíneas b) e c) do número anterior, entre as 21 e a 7 horas”.
Temos 2 regimes:
7h às 21h
Ordenada/ autorizada pelo JIC (n.º 2)
21h às 7h
Ordenada pelo JIC:
- Terrorismo, criminalidade violenta ou altamente organizada;
- Consentimento documentado do visado;
- Flagrante delito com pena de prisão superior a 3 anos.
Os requisitos são:
Busca domiciliária
Realizada pelos OPC
Sem ser em flagrante delito
Sem consentimento do visado.
O n.º 5 do art. 177.º CPP diz que “tratando-se de busca em escritório de advogado ou
em consultório médico, ela é, sob pena de nulidade, presidida pessoalmente pelo juiz,
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Apreensões
(Arts. 178.º a 186.º CPP)
O n.º 3 determina que “as apreensões são autorizadas, ordenadas ou validadas por
despacho da autoridade judiciária”.
Segundo o n.º 4, “os órgãos de polícia criminal podem efectuar apreensões no decurso
de revistas ou de buscas ou quando haja urgência ou perigo na demora, nos termos
previstos na alínea c) do n.º 2 do art. 249.º”.
O n.º 5 diz que “as apreensões efectuadas por órgão de polícia criminal são sujeitas
a validação pela autoridade judiciária, no prazo máximo de setenta e duas horas”.
O n.º 6 diz que “os titulares de bens ou direitos objecto de apreensão podem requerer ao
juiz de instrução a modificação ou revogação da medida. É correspondentemente
aplicável o disposto no n.º 5 do art. 68.º”, ou seja, podem quaisquer titulares destes bens
que foram apreendidos, invocando que não se encontram em nenhum dos casos do n.º 1
do art. 178.º CPP, requerer que seja revogada a medida de apreensão. Este
requerimento deve ser dirigido ao JIC.
n.º 1: “Logo que se tornar desnecessário manter a apreensão para efeito de prova, os
objectos apreendidos são restituídos a quem de direito”.
n.º 2: “Logo que transitar em julgado a sentença, os objectos apreendidos são restituídos
a quem de direito, salvo se tiverem sido declarados perdidos a favor do Estado”.
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Prática Processual Penal
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n.º 3: “As pessoas a quem devam ser restituídos os objectos são notificadas para
procederem ao seu levantamento no prazo máximo de 90 dias, findo o qual passam a
suportar os custos resultantes do seu depósito”.
n.º 4: “Se as pessoas referidas no número anterior não procederem ao levantamento no
prazo de um ano a contar da notificação referida no número anterior, os objectos
consideram-se perdidos a favor do Estado”.
Estas duas normas foram introduzidas por forma a evitar que os objectos ficassem
eternamente nos tribunais à espera de serem reclamados pelos respectivos donos.
Assim, as pessoas têm prazos para cumprir, se os prazos não forem cumpridos o objecto
acaba por ser decretado perdido a favor do Estado.
Temos que ter também em atenção as normas específicas no que toca a apreensões a
efectuar em determinados locais.
n.º 1: “Sob pena de nulidade, o juiz pode autorizar ou ordenar, por despacho, a
apreensão, mesmo nas estações de correios e de telecomunicações, de cartas,
encomendas, valores, telegramas ou qualquer outra correspondência, quando tiver
fundadas razões para crer que: (estamos a falar de três requisitos cumulativos para
que o juiz autorize a apreensão de correspondência, é necessário que se verifiquem estas
três condições):
a) A correspondência foi expedida pelo suspeito ou lhe é dirigida, mesmo que sob nome
diverso ou através de pessoa diversa;
b) Está em causa crime punível com pena de prisão superior, no seu máximo, a 3 anos; e
c) A diligência se revelará de grande interesse para a descoberta da verdade ou para a
prova”.
O n.º 3 do art. 186.º CPP regula a forma como as coisas se processam após a
apreensão: “o juiz que tiver autorizado ou ordenado a diligência é a primeira pessoa a
tomar conhecimento do conteúdo da correspondência apreendida. Se a considerar
relevante para a prova, fá-la juntar ao processo; caso contrário, restitui-a a quem de
direito, não podendo ela ser utilizada como meio de prova, e fica ligado por dever de
segredo relativamente àquilo de que tiver tomado conhecimento e não tiver interesse
para a prova”.
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Prática Processual Penal
Ordem dos Advogados
A recusa visa salvaguardar outra coisa, a colaboração, visa evitar que a pessoa
conscientemente seja forçada a incriminar alguém que lhe é próxima. No entanto, se a
carta for apreendida no meio do processo, já não se verifica aquele conflito interno na
pessoa, pois esta não sabia que a carta ia ser apreendida.
Para o Professor, apesar de ambas as coisas terem pontos de contacto, são coisas
diferentes. O intuito da recusa subsiste, mas a apreensão da correspondência deve ser
admitida.
Escutas telefónicas
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Prática Processual Penal
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utilizar, porque é que de outra forma seria muito difícil obter a prova). Isto tem de ser
fundamentado em concreto no despacho. Além disso, tem de ser “mediante
requerimento do MP”. Quem requer a obtenção e efectivação deste meio de prova é o
MP, que é quem dirige o inquérito.
O n.º 1 indica ainda quais os crimes que admitem, no caso de se verificarem todos
os requisitos previstos, a realização de escutas telefónicas. São os crimes:
a) Puníveis com pena de prisão superior, no seu máximo, a 3 anos;
b) Relativos ao tráfico de estupefacientes;
c) De detenção de arma proibida e de tráfico de armas;
d) De contrabando;
e) De injúria, de ameaça, de coacção, de devassa da vida privada e perturbação da paz e
do sossego, quando cometidos através de telefone;
f) De ameaça com prática de crime ou de abuso e simulação de sinais de perigo; ou
g) De evasão, quando o arguido haja sido condenado por algum dos crimes previstos
nas alíneas anteriores.
Nota: neste meio de obtenção de prova só há uma pessoa com legitimidade para
ordenar uma escuta telefónica – o JIC – sem excepções.
n.º 2: “A autorização a que alude o número anterior pode ser solicitada ao juiz dos
lugares onde eventualmente se puder efectivar a conversação ou comunicação
telefónica ou da sede da entidade competente para a investigação criminal,
tratando-se dos seguintes crimes:
a) Terrorismo, criminalidade violenta ou altamente organizada;
b) Sequestro, rapto e tomada de reféns;
c) Contra a identidade cultural e integridade pessoal, previsto no título iii do livro ii do
Código Penal e previsto na Lei Penal Relativa às Violações do Direito Internacional
Humanitário;
d) Contra a segurança do Estado previstos no capítulo i do título v do livro ii do Código
Penal;
e) Falsificação de moeda ou títulos equiparados a moeda prevista nos arts. 262.º, 264.º,
na parte em que remete para o art. 262.º, e 267.º, na parte em que remete para os arts.
262.º e 264.º, do Código Penal;
f) Abrangidos por convenção sobre segurança da navegação aérea ou marítima”.
Este artigo aplica-se única e exclusivamente aos casos em que a autoridade que procede
às escutas solicita, não ao juiz do processo, que seria à partida a pessoa com
legitimidade para ordenar as escutas, mas a um juiz de instrução dos lugares onde se
pode efectivar a conversação, ou então, da sede da entidade que está a proceder à
investigação. Às vezes, por uma questão de celeridade, a lei pode permitir que as
autoridades que procedem às escutas requeiram a autorização, em vez de ser ao JIC do
processo, a um juiz que esteja mais próximo. No entanto, isto só é admitido nos crimes
referidos nas alíneas do n.º 2.
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NOTA: não se deve confundir o catálogo de crimes do n.º 1 com os do n.º 2. Os crimes
do n.º 1 são os crimes que admitem que a autorização para a realização das escutas
seja feita extra processo, num JIC que não o titular dos autos.
A lei veio agora admitir que as informações obtidas no âmbito de uma escuta telefónica
num determinado processo possam ser utilizadas fora desse processo, nomeadamente
para abrir outro processo, ou para outro que já esteja a decorrer. Veio para isso fixar
dois requisitos:
Quem tenha sido interceptado seja um dos sujeitos previstos no n.º 4.
Que o crime em questão caiba no catalogo do n.º 1.
Verificados estes dois requisitos cumulativos, podem ser usadas as escutas noutros
processos.
O professor entende, de acordo com a nova redacção deste artigo, que não podem ser
usadas escutas obtidas num processo-crime para um processo disciplinar, pois o
segundo requisito não de encontra preenchido, uma vez que nem sequer se trata de um
crime.
Mas por outro lado, fará algum sentido que se possam utilizar as escutas de um
processo-crime e depois não se possam retirar disciplinarmente consequências disto? Se
permite o mais (processo-crime) não é chocante que num processo mais pequeno
(disciplinar) não se possa retirar as devidas consequências disto?
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Assim, há quem entenda que possam ser utilizadas essas escutas. Para o Professor, com
a nova redacção, é muito difícil entender que possam ser usadas as escutas de um
processo-crime para dar início a um processo disciplinar.
De seguida, caso se verifique algum dos requisitos do n.º 6, als. a) a c), o juiz
determina a destruição imediata desses suportes técnicos, ficando todos os
intervenientes vinculados ao dever de sigilo.
n.º 6: “Sem prejuízo do disposto no n.º 7 do artigo anterior, o juiz determina a
destruição imediata dos suportes técnicos e relatórios manifestamente estranhos ao
processo:
a) Que disserem respeito a conversações em que não intervenham pessoas referidas no
n.º 4 do art. anterior;
b) Que abranjam matérias cobertas pelo segredo profissional, de funcionário ou de
Estado; ou
c) Cuja divulgação possa afectar gravemente direitos, liberdades e garantias; ficando
todos os intervenientes vinculados ao dever de segredo relativamente às conversações
de que tenham tomado conhecimento”.
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Prática Processual Penal
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Nesses casos, o MP requer ao JIC que proceda ou ordene a transcrição e junção aos
autos das conversações que vão fundamentar a aplicação de determinada medida de
coacção.
n.º 10: “O tribunal pode proceder à audição das gravações para determinar a correcção
das transcrições já efectuadas ou a junção aos autos de novas transcrições, sempre que o
entender necessário à descoberta da verdade e à boa decisão da causa”.
Este número veio estabelecer uma espécie de válvula de escape para o caso de alguma
coisa ter escapado. Por exemplo, pode dar-se o caso de haver uma escuta que não tenha
sido transcrita, por nenhum destes sujeitos referidos no n.º 9 que o tribunal entenda que
é essencial à descoberta da verdade, e então pode ordenar a transcrição dessa escuta. Ou
então, pode verificar se existe um erro na transcrição da escuta, e mandar corrigir essa
transcrição.
n.º 11: “As pessoas cujas conversações ou comunicações tiverem sido escutadas e
transcritas podem examinar os respectivos suportes técnicos até ao encerramento da
audiência de julgamento”.
Os n.ºs 12 e 13 vieram dizer o que se deve fazer com as escutas após a conclusão
daquele processo.
n.º 12: “Os suportes técnicos referentes a conversações ou comunicações que não forem
transcritas para servirem como meio de prova são guardados em envelope lacrado, à
ordem do tribunal, e destruídos após o trânsito em julgado da decisão que puser termo
ao processo”.
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n.º 13: “Após o trânsito em julgado previsto no número anterior, os suportes técnicos
que não forem destruídos são guardados em envelope lacrado, junto ao processo, e só
podem ser utilizados em caso de interposição de recurso extraordinário”.
Notas:
O art. 189.º CPP estende o regime das escutas a outros tipos de comunicações e
intercepções:
n.º 1: “O disposto nos arts. 187.º e 188.º é correspondentemente aplicável às
conversações ou comunicações transmitidas por qualquer meio técnico diferente
do telefone, designadamente correio electrónico ou outras formas de transmissão
de dados por via telemática, mesmo que se encontrem guardadas em suporte
digital, e à intercepção das comunicações entre presentes”. É possível proceder à
gravação de conversas que pessoas estejam a ter através de meios diferentes do
telefone.
Medidas de coacção
(Arts. 191.º a 224.º CPP)
Princípio da necessidade
As medidas de coacção e de garantia patrimonial a aplicar em concreto devem ser
necessárias. Só devemos aplicar uma medida de coação se houver necessidade dessa
aplicação. Se se tratar de uma medida que não é necessária para aquele caso em
concreto, simplesmente não deve ser aplicada.
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O n.º 2 do art. 193.º CPP, a este respeito concretiza ainda mais e fala de duas medidas
de coação em concreto: “A prisão preventiva e a obrigação de permanência na
habitação só podem ser aplicadas quando se revelarem inadequadas ou
insuficientes as outras medidas de coacção”. Este artigo é corolário do princípio da
adequação e proporcionalidade.
Art. 194.º, n.º 2 CPP: “Durante o inquérito, o juiz não pode aplicar medida de
coacção ou de garantia patrimonial mais grave que a requerida pelo MP, sob pena
de nulidade”.
Quem dirige o inquérito é o MP, que é quem está por dentro das necessidades cautelares
que o processo implica. Aquilo que o MP decide deve constituir um tecto para que o
juiz decida. Mas por outro lado, é o juiz quem aplica as medidas de coação, e ele não
deve estar limitado pelo requerimento do MP, visto que é ele quem tem o controlo da
legalidade. A lei veio então estabelecer que durante o inquérito o juiz não pode decretar
uma medida de coacção mais grave do que a que foi promovida pelo MP.
Art. 194.º, n.º 3 CPP: “A aplicação referida no n.º 1 é precedida de audição do arguido,
ressalvados os casos de impossibilidade devidamente fundamentada, e pode ter lugar no
acto de primeiro interrogatório judicial, aplicando-se sempre à audição o disposto no n.º
4 do art. 141.º”. Esta norma prende-se com o primeiro interrogatório judicial do
arguido detido, logo aqui o princípio do contraditório é fundamental no processo
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penal, e o arguido tem de ser ouvido antes da aplicação de qualquer medida de coacção.
A lei aqui ressalva apenas os casos de impossibilidade e não a dificuldade.
O n.º 4 do art. 194.º CPP veio estabelecer regras para o despacho que aplica a medida
de coação. É importante para aqueles casos em que temos que reagir a alguma destas
medidas.
“A fundamentação do despacho que aplicar qualquer medida de coacção ou de garantia
patrimonial, à excepção do termo de identidade e residência, contém, sob pena de
nulidade:
a) A descrição dos factos concretamente imputados ao arguido incluindo, sempre que
forem conhecidas, as circunstâncias de tempo, lugar e modo;
b) A enunciação dos elementos do processo que indiciam os factos imputados, sempre
que a sua comunicação não puser gravemente em causa a investigação, impossibilitar a
descoberta da verdade ou criar perigo para a vida, a integridade física ou psíquica ou a
liberdade dos participantes processuais ou das vítimas do crime;
c) A qualificação jurídica dos factos imputados (é essencial para se verificar a
legalidade da aplicação daquela medida de coação);
d) A referência aos factos concretos que preenchem os pressupostos de aplicação da
medida, incluindo os previstos nos arts. 193.º e 204.º” (preenchimento de requisitos
específicos da prisão preventiva, bem como dos requisitos gerais).
Ex.: não basta dizer que no caso se verifica perigo de fuga. O juiz vai ter de indicar em
que factos é que se baseia para dizer que há perigo de fuga. Por exemplo, que tem dupla
nacionalidade, e que esse facto leva a crer que poderá fugir para o outro país, de onde
não poderá ser extraditado.
n.º 5: “Sem prejuízo do disposto na alínea b) do número anterior, não podem ser
considerados para fundamentar a aplicação ao arguido de medida de coacção ou de
garantia patrimonial, à excepção do termo de identidade e residência, quaisquer factos
ou elementos do processo que lhe não tenham sido comunicados durante a audição a
que se refere o n.º 3”.
O juiz não pode aplicar uma medida de coação baseada em factos que não comunicou
ao arguido.
n.º 6: “Sem prejuízo do disposto na alínea b) do n.º 4, o arguido e o seu defensor podem
consultar os elementos do processo determinantes da aplicação da medida de coacção
ou de garantia patrimonial, à excepção do termo de identidade e residência, durante o
interrogatório judicial e no prazo previsto para a interposição de recurso”. Se se
pretender reagir contra a aplicação de uma medida de coação, é possível consultar os
elementos que estiveram na base da aplicação da medida.
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Nota: não devemos confundir a caução do art. 197.º CPP, com a caução do art. 227.º
CPP. São coisas diferentes, a do art. 197.º CPP é uma medida de coacção, e a do art.
227.º CPP é uma caução económica, garantia patrimonial. Para distinguir as duas, há
quem chame à caução do art. 197.º CPP, caução carcerária, e à outra, caução
económica.
É a medida mais branda, destaca-se das outras medidas desde logo no que diz respeito à
legitimidade para a sua aplicação.
É cumulável com qualquer outra das medidas de coacção.
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Se não for contactado nesse sítio, já não será responsabilidade do tribunal, pois cabe ao
arguido comunicar qualquer alteração de residência ou ausência superior a 5 dias.
Art. 196.º, n.º 3 CPP: “Do termo deve constar que àquele foi dado conhecimento:
a) Da obrigação de comparecer perante a autoridade competente ou de se manter à
disposição dela sempre que a lei o obrigar ou para tal for devidamente notificado;
b) Da obrigação de não mudar de residência nem dela se ausentar por mais de cinco dias
sem comunicar a nova residência ou o lugar onde possa ser encontrado;
c) De que as posteriores notificações serão feitas por via postal simples para a morada
indicada no n.º 2, excepto se o arguido comunicar uma outra, através de requerimento
entregue ou remetido por via postal registada à secretaria onde os autos se encontrem a
correr nesse momento;
d) De que o incumprimento do disposto nas alíneas anteriores legitima a sua
representação por defensor em todos os actos processuais nos quais tenha o direito ou o
dever de estar presente e bem assim a realização da audiência na sua ausência, nos
termos do artigo 333.º”.
Nota: nos processos antigos, devemos ver qual o TIR que deles consta, uma vez que ao
longo de 10 anos existiram vários tipos de TIR, só este TIR mais recente é que tem a
advertência de que se o arguido não comparecer é julgado na ausência. Se o arguido
prestou TIR dos antigos, em que não conste esta advertência, ele não pode ser julgado
na ausência, a solução é declará-lo contumaz.
Caução
(art. 197.º CPP)
n.º 1: “Se o crime imputado for punível com pena de prisão, o juiz pode impor ao
arguido a obrigação de prestar caução”.
Todas as medidas de coação têm requisitos específicos. Assim, para se verificar se
determinada medida de coacção é ou não aplicável ao caso, tem não só de se tomar em
consideração os requisitos gerais do art. 204.º CPP, mas também temos que
preencher os requisitos específicos da medida de coacção.
Para a caução ser aplicada, em termos teóricos, o crime em questão tem que ser
punido com pena de prisão.
102
Prática Processual Penal
Ordem dos Advogados
A caução é prestada por meio de depósito, penhor, hipoteca, fiança bancária ou fiança,
nos termos que o juiz o admitir – n.º 1. estes são os conceitos civilísticos, e são estes os
meios que o arguido pode usar para prestar a caução.
O n.º 2 admite que, mediante autorização do juiz, o arguido que tenha prestado caução
por determinado meio, possa substitui-lo por outro meio previsto na lei.
Que critérios é que o juiz deve seguir quando fixa o montante da caução?
Temos 4 critérios pelos quais o juiz se deve reger quando decretar o montante da
caução: art. 197.º, n.º 3 CPP
Fins de natureza cautelar a que se destina (montante que faça supor que essa
medida de coacção vai ser adequada para o fim a que se destina, ou seja,
estimular a presença do arguido nos actos processuais para os quais é
convocado. Não pode ser um montante que, atendendo às circunstâncias do caso,
faça prever que não vá acautelar esse fim)
A gravidade do crime imputado (isto também influenciará o montante, poderá
ser maior ou menor consoante o crime seja mais ou menos grave)
O dano por este causado
Condição socioeconómica do arguido (este último está muito ligado ao
primeiro, se estivermos na presença de um arguido com muitas posses e
fixarmos uma caução baixa, o fim da caução não fica acautelado, logo, tem que
ser um montante que pese na opção que o arguido tomar em comparecer ou
não).
Art. 197.º, n.º 2 CPP – “Se o arguido estiver impossibilitado de prestar caução ou
tiver graves dificuldades ou inconvenientes em prestá-la, pode o juiz, oficiosamente
ou a requerimento, substituí-la por qualquer ou quaisquer outras medidas de
coacção, à excepção da prisão preventiva ou de obrigação de permanência na
habitação, legalmente cabidas ao caso, as quais acrescerão a outras que já tenham sido
impostas”.
Pode acontecer que, fixado o montante da caução, o arguido alegue, ou o tribunal
conheça oficiosamente, que o arguido não tem capacidade para prestar aquela caução.
Nestes casos, a lei concede ao tribunal uma prorrogativa, que consiste em substituir a
medida de coacção por outra medida prevista no CPP, adequada ao caso, exceptuando a
prisão preventiva ou a obrigação de permanência na habitação.
A lei está aqui a exceptuar os casos em que o arguido vá alegar que não pode prestar a
caução, e com esse fundamento da impossibilidade de prestar caução, o tribunal não lhe
pode aplicar a prisão preventiva ou a obrigatoriedade de permanência na habitação, a
não ser que existam outros fundamentos.
Esta norma estabelece que a caução pode ser cumulada com qualquer das outras
medidas de coacção, exceptuando-se a obrigação de permanência na habitação e a
prisão preventiva.
103
Prática Processual Penal
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Porque é que não se pode cumular com a prisão preventiva ou com a obrigação de
permanência na habitação? A finalidade de ambas é a mesma. Se a pessoa estiver presa
preventivamente, não faz sentido aplicar caução, pois a finalidade da caução já foi
atingida com a prisão preventiva.
No que toca às outras medidas de coacção, a caução pode ser cumulada com as demais.
Refere-se ao reforço da caução por causas supervenientes. São, por exemplo, os casos
em que o arguido ganha o EuroMilhões, em que há uma alteração súbita das condições
socio-económicas do arguido. Pode este facto justificar que o montante da caução
previamente definido deixe de ser eficaz ou adequado.
n.º 1: “Se, posteriormente a ter sido prestada caução, forem conhecidas circunstâncias
que a tornem insuficiente ou impliquem a modificação da modalidade de prestação,
pode o juiz impor o seu reforço ou modificação”.
Se o tribunal fixa caução e o prazo para ela ser prestada, e o arguido não presta caução,
quid iuris?
n.º 1: “Em caso de violação das obrigações impostas por aplicação de uma medida
de coacção, o juiz, tendo em conta a gravidade do crime imputado e os motivos da
violação, pode impor outra ou outras medidas de coacção previstas neste Código e
admissíveis no caso”.
n.º 2: “O juiz pode impor a prisão preventiva nos termos do número anterior, quando
o arguido não cumpra a obrigação de permanência na habitação, mesmo que ao
crime caiba pena de prisão de máximo igual ou inferior a 5 e superior a 3 anos”.
Nota: não se deve confundir o art. 203.º, n.º 1 CPP com o art. 197.º, n.º 2 CPP, pois
uma coisa é a impossibilidade de prestar caução – art. 197.º, n.º 2 CPP, e outra coisa é a
violação da medida imposta (situação em que pode prestar caução, mas não a presta) –
art. 203.º CPP.
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No caso de o arguido não prestar a caução que lhe foi determinada, pode o arguido
ficar sujeito a outra consequência, prevista no art. 206.º, n.º 4 CPP, que remete para o
art. 228.º CPP, ou seja, pode ser-lhe decretado o arresto preventivo dos seus bens.
Neste caso, da violação de uma medida de coacção pode decorrer a aplicação imediata
de uma medida de garantia patrimonial.
n.º 1: “Se o crime imputado for punível com pena de prisão de máximo superior a 6
meses, o juiz pode impor ao arguido a obrigação de se apresentar a uma entidade
judiciária ou a um certo órgão de polícia criminal em dias e horas preestabelecidas,
tomando em conta as exigências profissionais do arguido e o local em que habita”.
Aqui exige-se que se trate de um crime punível com pena de prisão de máximo superior
a 6 meses.
Tendo em conta os princípios da adequação e da proporcionalidade, o tribunal deve
acautelar que se fixem as apresentações de forma a não perturbar a vida profissional do
arguido.
Esta medida de coacção pode ser cumulada com as demais medidas de coacção, à
excepção da prisão preventiva e da obrigatoriedade de permanência na habitação.
n.º 1: “Se o crime imputado for punível com pena de prisão de máximo superior a 2
anos, o juiz pode impor ao arguido, cumulativamente, se disso for caso, com qualquer
outra medida de coacção, a suspensão do exercício:
a) De profissão, função ou actividade, públicas ou privadas (questão delicada
relativamente aos autarcas. Não há unanimidade. Uma vez que deriva de eleição, em
que medida teria o juiz legitimidade para decretar esta medida? O Professor é da opinião
da aplicabilidade, pois se no âmbito da lei penal estiver prevista uma sanção decorrente
da prática de determinado crime, por maioria de razão a perda de mandato de um
dirigente autárquico deve ser admitida, uma vez que da leitura do artigo parece que
todos os requisitos estão salvaguardados e preenchidos);
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Remissão: art. 199.º, n.º 1 CPP → arts 66.º, 67.º e 68.º C.Penal.
Estas são normas que estão intimamente ligadas com esta medida de coacção, porque
estas normas do C.Penal regem a proibição do exercício de funções, no âmbito de penas
acessórias previstas no C.Penal.
n.º 1: “Se houver fortes indícios de prática de crime doloso punível com pena de
prisão de máximo superior a 3 anos, o juiz pode impor ao arguido, cumulativa ou
separadamente, as obrigações de:
d) Não contactar, por qualquer meio, com determinadas pessoas ou não frequentar
certos lugares ou certos meios;
e) Não adquirir, não usar ou, no prazo que lhe for fixado, entregar armas ou outros
objectos e utensílios que detiver, capazes de facilitar a prática de outro crime;
Um requisito adicional, que não constava das medidas anteriores, é que o crime tem de
ser doloso. Se o crime em questão for punido a título de negligência, ainda que tenha
uma moldura penal superior a 3 anos, esta medida não é aplicável.
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Aqui já se fala em fortes indícios da prática de crime doloso com pena máxima
superior a 3 anos. Assim, os indícios têm de ser fortes e o crime doloso.
Esta medida de coacção funciona com meios de controlo à distância, e está regulada na
Lei n.º 122/99, de 20 de Agosto – pulseira electrónica.
Esta é uma medida que, regra geral, tem um regime que anda a par do da prisão
preventiva. Têm um âmbito similar e um regime bastante idêntico.
Prisão preventiva
(arts. 202.º e SS. CPP)
Nos termos do n.º 1 do art. 202.º CPP, “se se considerar inadequadas ou insuficientes
no caso concreto as medidas referidas nos arts. anteriores, o juiz pode aplicar a prisão
preventiva quando: (requisitos específicos da prisão preventiva)
a) Houver fortes indícios da prática de crime doloso punível com pena de prisão de
máximo superior a 5 anos. (Assim, se o crime for punível com pena de prisão até 5
anos, ainda que este seja doloso, não se aplica a prisão preventiva pois o crime tem que
ser punível abstractamente com pena de prisão superior a 5 anos) – Fixa uma moldura
genérica para todo e qualquer crime;
b) Houver fortes indícios da prática de crime doloso de terrorismo, criminalidade
violenta ou altamente organizada punível com pena de prisão de máximo superior
a 3 anos – diz respeito a determinados e específicos tipos de crime.
c) Se se tratar de pessoa que tenha entrado ou permanece irregularmente em
território nacional, ou contra qual estiver em curso processo extradição ou de
expulsão”.
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Desde logo se faz a advertência de que o juiz deve justificar quando aplica a prisão
preventiva, justificando porque é que não aplica a obrigação de permanência na
habitação ou outra qualquer medida de coacção.
No último exame saiu o seguinte caso: X estava indiciado de ter cometido um crime de
homicídio privilegiado, porque num momento de compreensiva emoção violenta deu
um tiro em Y. Pergunta-se se é ou não possível aplicar-se a prisão preventiva.
Temos de recorrer ao art. 192.º CPP, ver se estão reunidos os requisitos gerais. Depois
temos de ir ao crime, art. 133.º C.Penal, que tem uma moldura de 1 a 5 anos. Logo,
pela al. a) do 202.º, n.º 1 CPP, não se podia aplicar a prisão preventiva.
Para se aplicar a al. b) temos de recorrer o art. 1.º, al. j) CPP, que define
“criminalidade violenta”, e a definição enquadra-se no crime de homicídio privilegiado.
Logo, podia-se aplicar a prisão preventiva, nos termos da al. b) do art. 202.º, n.º 1
CPP.
O crime de homicídio privilegiado é um crime doloso, não podíamos justificar a não
aplicação dizendo que não era um crime doloso. Assim, tínhamos de citar os arts. 202.º,
n.º 1, als. a) e b) CPP, art. 133.º C.Penal e art. 1.º, al. j) CPP.
A resposta é que era legalmente admissível a prisão preventiva.
Art. 211.º, n.º 1: “No despacho que aplicar a prisão preventiva ou durante a execução
desta o juiz pode estabelecer a suspensão da execução da medida, se tal for exigido por
razão de doença grave do arguido, de gravidez ou de puerpério. A suspensão cessa logo
que deixarem de verificar-se as circunstâncias que a determinaram e de todo o modo, no
caso de puerpério, quando se esgotar o 3.º mês posterior ao parto”.
Inêxito das diligências para aplicação da prisão preventiva – art. 210.º CPP
“Se o juiz tiver elementos para supor que uma pessoa pretende subtrair-se à aplicação
ou execução da prisão preventiva, pode aplicar-lhe imediatamente, até que a execução
da medida se efective, as medidas previstas nos arts. 198.º a 201.º, inclusive, ou alguma
ou algumas delas”.
n.º 1: “No despacho que aplicar a prisão preventiva ou durante a execução desta o juiz
pode estabelecer a suspensão da execução da medida, se tal for exigido por razão de
doença grave do arguido, de gravidez ou de puerpério. A suspensão cessa logo que
deixarem de verificar-se as circunstâncias que a determinaram e de todo o modo, no
caso de puerpério, quando se esgotar o 3.º mês posterior ao parto”.
108
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Puerpério.
Pode dar-se o caso de ser aplicada determinada medida de coacção e ela ser violada por
parte do arguido. Neste aspecto, rege o art. 203.º CPP que em caso de violação, o juiz
pode, tendo em conta a gravidade do crime, impor outras medidas de coacção
admissíveis ao caso.
Art. 203.º, n.º 2 CPP: “O juiz pode impor a prisão preventiva nos termos do
número anterior, quando o arguido não cumpra a obrigação de permanência na
habitação, mesmo que ao crime caiba pena de prisão de máximo igual ou inferior a
5 e superior a 3 anos”.
Se se verificar o incumprimento da obrigação de permanência na habitação, pode esta
medida ser substituída pela prisão preventiva, mesmo nos casos em que à partida não o
poderia ser.
Pode neste caso, excepcionalmente, aplicar-se a prisão preventiva a um caso que por
observância dos requisitos do art. 202.º CPP, à partida poderia não ser aplicável. A
moldura como que recua para permitir a aplicação da prisão preventiva. Isto funciona
como excepção à regra do n.º 1.
Nos termos do n.º 1, “as medidas de coacção são imediatamente revogadas por
despacho do juiz, sempre que se verificar:
a) Terem sido aplicadas fora das hipóteses ou das condições previstas na lei;
b) Terem deixado de subsistir as circunstâncias que justificaram a sua aplicação”.
n.º 2: “As medidas revogadas podem de novo ser aplicadas, sem prejuízo dos
prazos que a lei estabelece, se sobreviverem motivos que legalmente justifiquem a
sua aplicação”. Ou seja, nada impede que se aplique uma medida, que ela seja
revogada e que volte depois a ser aplicada, desde que resultem novos motivos que
justifiquem a aplicação daquela medida.
109
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A primeira parte deste artigo vem explicar que a revogação ou substituição tanto pode
ser pedida a requerimento como oficiosamente, nomeadamente por não subsistirem as
causas que deram origem à medida.
Se se entender que os factos que estiveram na base do decretamento da medida se
alteraram, deve-se requerer a revogação ou substituição da medida.
Este requerimento deve ser feito com cuidado, devido à cominação prevista na parte
final do n.º 4.
Esta norma não existe para pôr em causa a decisão que decretou a medida.
Se se discordar da aplicação de certa medida, porque não preenche os requisitos ou
porque viola os princípios de adequação ou proporcionalidade, deve-se recorrer da
decisão que decretou a medida.
O art. 212.º CPP existe para alterações das medidas, e não para pôr em causa em
concreto aquela decisão que decretou a medida.
Esta norma também foi alterada na última revisão, e veio reforçar as garantias das
partes, porque passou a ser uma obrigação. A lei apenas admite que o MP ou o arguido
não sejam ouvidos antes de revogar ou substituir a medida em casos de impossibilidade.
110
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Art. 213.º, n.º 2 CPP: “Na decisão a que se refere o número anterior, ou sempre que
necessário, o juiz verifica os fundamentos da elevação dos prazos da prisão preventiva
ou da obrigação de permanência na habitação, nos termos e para os efeitos do disposto
nos nºs 2, 3 e 5 do artigo 215.º e no n.º 3 do artigo 218.º”.
Art. 213.º, n.º 3 CPP: “Sempre que necessário, o juiz ouve o Ministério Público e o
arguido”.
Art. 213.º, n.º 5 CPP: “A decisão que mantenha a prisão preventiva ou a obrigação de
permanência na habitação é susceptível de recurso nos termos gerais, mas não
determina a inutilidade superveniente de recurso interposto de decisão prévia que haja
aplicado ou mantido a medida em causa”.
É também uma norma nova, introduzida pela reforma.
O legislador veio clarificar, dizendo que a decisão é recorrível, e não determina a
inutilidade superveniente do recurso interposto da decisão prévia que haja aplicado ou
mantido a medida em causa.
111
Prática Processual Penal
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Estas são as circunstâncias que acarretam a imediata extinção das medidas de coacção.
n.º 2: “As medidas de prisão preventiva e de obrigação de permanência na habitação
extinguem-se igualmente de imediato quando for proferida sentença condenatória, ainda
que dela tenha sido interposto recurso, se a pena aplicada não for superior à prisão ou à
obrigação de permanência já sofridas” – regras específicas quanto à extinção da
prisão preventiva.
Pode suceder que o arguido, com a absolvição, veja extinta a medida de coacção.
Pode também extinguir-se a medida de coacção quando haja condenação, e esta
condene numa pena de prisão de tempo inferior àquele que já foi cumprido. Neste caso,
não se justificaria que continuasse o arguido em prisão preventiva ou obrigação de
permanência na habitação. O mesmo se passa ainda que tenha sido interposto recurso.
A justificação para isto é que, se aplicada uma determinada pena, e se o arguido já
cumpriu essa pena em prisão preventiva ou obrigação de permanência na habitação, não
há necessidade de continuar a manter a medida de coacção, apesar de não haver trânsito
em julgado.
n.º 3: “Se, no caso da alínea d) do n.º 1, o arguido vier a ser posteriormente condenado
no mesmo processo, pode, enquanto a sentença condenatória não transitar em julgado,
ser sujeito a medidas de coacção previstas neste Código e admissíveis no caso”.
Esta norma aplica-se nos casos em que o arguido é absolvido logo, de acordo com a al.
d) do n.º 1, extingue-se a medida de coacção. Se, por exemplo, o MP recorre, o recurso
é julgado e ele é condenado, a lei diz que a sentença condenatória, enquanto não estiver
transitada, pode até ao trânsito ser aplicada novamente uma medida de coacção.
Esquema:
n.º 1: “A prisão preventiva extingue-se quando, desde o seu início, tiverem decorrido:
a) Quatro meses sem que tenha sido deduzida acusação;
b) Oito meses sem que, havendo lugar a instrução, tenha sido proferida decisão
instrutória;
112
Prática Processual Penal
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c) Um ano e dois meses sem que tenha havido condenação em 1.ª instância;
d) Um ano e seis meses sem que tenha havido condenação com trânsito em
julgado”.
n.º 2: “Os prazos referidos no número anterior são elevados, respectivamente, para
6 meses, 10 meses, 1 ano e 6 meses e 2 anos, em casos de terrorismo, criminalidade
violenta ou altamente organizada, ou quando se proceder por crime punível com
pena de prisão de máximo superior a 8 anos, ou por crime:
a) Previsto no artigo 299.º, no n.º 1 do artigo 312.º, no n.º 2 do artigo 315.º, no n.º 1 do
artigo 318.º, nos artigos 319.º, 326.º e 331.º ou no n.º 1 do artigo 333.º do Código Penal;
b) De furto de veículos ou de falsificação de documentos a eles respeitantes ou de
elementos identificadores de veículos;
c) De falsificação de moeda, títulos de crédito, valores selados, selos e equiparados ou
da respectiva passagem;
d) De burla, insolvência dolosa, administração danosa do sector público ou cooperativo,
falsificação, corrupção, peculato ou de participação económica em negócio;
e) De branqueamento de vantagens de proveniência ilícita;
f) De fraude na obtenção ou desvio de subsídio, subvenção ou crédito;
g) Abrangido por convenção sobre segurança da navegação aérea ou marítima”.
Nestes casos, quer pelo critério geral, quer por crime punível com máximo superior a 8
anos, ou em qualquer um dos crimes previstos nas alíneas a) a g), os prazos aumentam
todos.
O prazo de 4 meses passa para 6 meses, o de 8 passa para 10, o de 1 ano e 2 meses para
1 ano e 6 meses, e o de 1 ano e 6 meses para 2 anos.
n.º 3: “Os prazos referidos no n.º 1 são elevados, respectivamente, para um ano,
um ano e quatro meses, dois anos e seis meses e três anos e quatro meses, quando o
procedimento for por um dos crimes referidos no número anterior e se revelar de
excepcional complexidade, devido, nomeadamente, ao número de arguidos ou de
ofendidos ou ao carácter altamente organizado do crime.
n.º 4: “A excepcional complexidade a que se refere o presente artigo apenas pode ser
declarada durante a 1.ª instância, por despacho fundamentado, oficiosamente ou a
requerimento do Ministério Público, ouvidos o arguido e o assistente”.
113
Prática Processual Penal
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n.º 6: “No caso de o arguido ter sido condenado a pena de prisão em 1.ª instância e
a sentença condenatória ter sido confirmada em sede de recurso ordinário, o prazo
máximo da prisão preventiva eleva-se para metade da pena que tiver sido fixada”.
Isto significa que o prazo máximo de prisão preventiva pode, em certos casos,
ultrapassar os 3 anos e 10 meses, dependendo da pena concretamente aplicada.
n.º 8: “Na contagem dos prazos de duração máxima da prisão preventiva são
incluídos os períodos em que o arguido tiver estado sujeito a obrigação de
permanência na habitação”.
114
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José Silva, arguido nos autos à margem referenciados, vem expor e requerer o seguinte:
1.
Aos X dias, aquando da dedução da douta acusação pelo MP, procedeu-se ao reexame
da prisão preventiva, medida que havia sido aplicada ao arguido.
2.
Desde essa data e até ao dia de hoje, não se procedeu a qualquer outro reexame da
referida medida.
3.
Ora, nos termos do art. 213.º n.º 1 a) do CPP, a prisão preventiva é revista no prazo
máximo de 3 meses a contar do último reexame.
4.
Verifica-se, pois, que o reexame deveria ter sido efectuado até ao dia …, o que não
sucedeu.
5.
Essa omissão, nos termos dos arts. 213.º n.º 1 a) e 123.º CPP, consubstancia uma
irregularidade,
6.
A qual expressamente se argui, devendo proceder-se, em conformidade, ao aludido
reexame da citada medida de coacção.
A Advogada.
Modos de impugnação:
O primeiro meio descrito é o recurso – art. 219.º CPP. Este permite recorrer do
despacho que aplica determinada medida de coacção.
De acordo com o n.º 1 do art. 219.º CPP, “só o arguido e o Ministério Público em
benefício do arguido podem interpor recurso da decisão que aplicar, mantiver ou
substituir medidas previstas no presente título”.
Em termos de legitimidade, estamos a falar do arguido e do MP em benefício do
arguido, o que exclui o assistente e exclui também o MP nos casos em que não é em
benefício do arguido.
São os casos em que o MP quiser recorrer da medida de coacção, por entender que a
mesma é demasiado leve, mas não pode recorrer, pois não é em benefício do arguido. Se
o MP entender que não deveria ter sido aplicada medida de coacção e o juiz aplicar,
como está a agir em benefício do arguido, o MP já pode recorrer.
115
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O n.º 2 estabelece que “não existe relação de litispendência ou de caso julgado entre o
recurso previsto no número anterior e a providência de habeas corpus,
independentemente dos respectivos fundamentos”.
Este recurso interposto sobre a aplicação de medidas de coação não tem efeito
suspensivo, nos termos do art. 408.º CPP a contrário.
Habeas Corpus
(arts 220.º SS. CPP)
Art. 220.º, n.º 1 CPP: “Os detidos à ordem de qualquer autoridade podem requerer ao
juiz de instrução da área onde se encontrarem que ordene a sua imediata apresentação
judicial, com algum dos seguintes fundamentos:
a) Estar excedido o prazo para entrega ao poder judicial;
b) Manter-se a detenção fora dos locais legalmente permitidos;
c) Ter sido a detenção efectuada ou ordenada por entidade incompetente;
d) Ser a detenção motivada por facto pelo qual a lei a não permite”.
É dirigido ao JIC.
116
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O requerimento é dirigido ao juiz, e este convoca o detido para se apresentar, tal como
convoca a entidade que tiver procedido a detenção. Ouve-se o arguido e decide-se.
Art. 222.º, n.º 1: “A qualquer pessoa que se encontrar ilegalmente presa o Supremo
Tribunal de Justiça concede, sob petição, a providência de habeas corpus”.
n.º 2: “A petição é formulada pelo preso ou por qualquer cidadão no gozo dos seus
direitos políticos, é dirigida, em duplicado, ao Presidente do Supremo Tribunal de
Justiça, apresentada à autoridade à ordem da qual aquele se mantenha preso e deve
fundar-se em ilegalidade da prisão proveniente de:
a) Ter sido efectuada ou ordenada por entidade incompetente;
b) Ser motivada por facto pelo qual a lei a não permite; ou
c) Manter-se para além dos prazos fixados pela lei ou por decisão judicial”.
A al. b) é a mais complicada. O STJ em regra tem uma interpretação muito restritiva
desta alínea.
117
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outra dívida para com o Estado relacionada com o crime, o MP requer que o
arguido preste caução económica. O requerimento indica os termos e modalidades
em que deve ser prestada”.
À partida, esta medida de garantia patrimonial existe para salvaguardar os interesses do
Estado.
O n.º 2 vem estender isto um pouco mais. “Havendo fundado receio de que faltem ou
diminuam substancialmente as garantias de pagamento da indemnização ou de outras
obrigações civis derivadas do crime, o lesado pode requerer que o arguido ou o
civilmente responsável prestem caução económica, nos termos do número anterior”.
Também o lesado pode requerer a prestação desta medida de garantia patrimonial, mas
no seu caso, para garantia do pagamento da indemnização ou outras indemnizações
civis que decorram do crime.
O n.º 3 vem dar uma benesse ao lesado. Determina que se o lesado não requerer nada
mas o MP requerer para os fins do n.º 1, a prestação de caução também aproveitará ao
lesado.
Não existe nenhuma norma paralela ao n.º 3 em sentido contrário. Não há nenhuma
norma que diga que a caução económica requerida pelo lesado aproveita ao MP.
O Professor entende que a hierarquia prevista no n.º 4 só se aplica no caso de a caução
ter sido requerida pelo MP, uma vez que não existe nenhuma norma paralela ao n.º 3 em
sentido contrário.
Quando não é fixado o prazo para prestar caução entende-se, por força do art.
105.º CPP, que é de 10 dias.
118
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Se tiver sido previamente fixada e não prestada caução económica, fica o requerente
dispensado da prova do fundado receio de perda da garantia patrimonial. O requerente
terá apenas de alegar e provar os restantes requisitos do arresto previstos no CPC.
n.º 3: “A oposição ao despacho que tiver decretado arresto não possui efeito
suspensivo”.
De acordo com o n.º 4, pode dar-se o caso de quando se vai efectuar o arresto, haver
discussão acerca da propriedade dos bens que estão a ser arrestados, e neste caso o juiz
remete a questão para o tribunal civil, mantendo-se entretanto o arresto decretado.
n.º 4: “Em caso de controvérsia sobre a propriedade dos bens arrestados, pode o juiz
remeter a decisão para tribunal civil, mantendo-se entretanto o arresto decretado”.
Proc. n.º
Juízo n.º
António Silva, arguido nos autos à margem melhor identificados, vem nos termos do
art. 212.º, n.ºs 3 e 4 CPP, requerer e dizer o seguinte:
1.
Ao arguido foi aplicada, como medida de coacção, a prisão preventiva.
2.
A medida foi justificada pelo facto de o arguido ter sido apanhado em flagrante delito,
ter antecedentes criminais, pelo risco de continuação da actividade criminosa e demais
requisitos do art. 202.º.
3.
Porém, actualmente já não se justifica a aplicação de uma medida tão gravosa, visto que
o arguido recebeu uma proposta de emprego, e está inscrito num centro de reabilitação.
4.
119
Prática Processual Penal
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5.
Além disso, de acordo como art. 27.º CRP, a liberdade das pessoas só pode ser limitada
em última instância, quando não haja nenhuma outra medida de coacção que se revele
suficiente para satisfazer as necessidades/exigências cautelares.
6.
Face a tais factos, actualmente esta medida encontra-se desadequada, devendo esta ser
substituída por outra, nomeadamente a obrigação de permanência na habitação, visto
que lhe permitirá trabalhar e dar seguimento ao seu plano de reabilitação, assim como
manter o contacto com a sociedade.
P.D.
A Advogada.
Detenção
(arts. 254.º SS. CPP)
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n.º 2: “Reputa-se também flagrante delito o caso em que o agente for, logo após o
crime, perseguido por qualquer pessoa ou encontrado com objectos ou sinais que
mostrem claramente que acabou de o cometer ou nele participar”. Este número
proporciona um alargamento à regra do n.º 1.
Qualquer uma destas 3 formas consubstancia, nos termos do art. 256.º CPP, flagrante
delito.
O n.º 3 enuncia o caso específico dos crimes permanentes: “Em caso de crime
permanente, o estado de flagrante delito só persiste enquanto se mantiverem sinais que
mostrem claramente que o crime está a ser cometido e o agente está nele a participar”.
Persiste sempre flagrante delito, só cessa o flagrante delito quando terminarem os factos
mencionados no n.º 3, ou seja, quando se evidencia que o crime já não está a ser
cometido, ou o agente já não está a participar nele.
n.º 1: “Em caso de flagrante delito, por crime punível com pena de prisão:
a) Qualquer autoridade judiciária ou entidade policial procede à detenção;
b) Qualquer pessoa pode proceder à detenção, se uma das entidades referidas na alínea
anterior não estiver presente nem puder ser chamada em tempo útil”.
n.º 2: “No caso previsto na alínea b) do número anterior, a pessoa que tiver procedido à
detenção entrega imediatamente o detido a uma das entidades referidas na alínea a), a
qual redige auto sumário da entrega e procede de acordo com o estabelecido no artigo
259.º”.
O regime do flagrante delito pode variar conforme o tipo de crime que esteja em causa:
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n.º 1: “Fora de flagrante delito, a detenção só pode ser efectuada, por mandado do
juiz ou, nos casos em que for admissível prisão preventiva, do Ministério Público,
quando houver fundadas razões para considerar que o visado se não apresentaria
espontaneamente perante autoridade judiciária no prazo que lhe fosse fixado”.
Esta corresponde à regra geral.
n.º 2: “As autoridades de polícia criminal podem também ordenar a detenção fora de
flagrante delito, por iniciativa própria, quando:
a) Se tratar de caso em que é admissível a prisão preventiva;
b) Existirem elementos que tornem fundado o receio de fuga; e
c) Não for possível, dada a situação de urgência e de perigo na demora, esperar pela
intervenção da autoridade judiciária.
Estas alíneas correspondem a 3 requisitos cumulativos.
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O MP, perante isto, deu ordem de apreensão de busca ao local onde ele dava as suas
consultas de vidência, para apreensão do estrato bancário.
Essa ordem foi dada a 16 de Outubro e foi executada a 17 ou 18 de Novembro.
O sujeito enganou a companheira quanto ao fim para que o dinheiro ia ser usado, o que
consubstancia um crime de burla – arts 217.º SS. C.Penal.
Art. 207.º, al. a) – No caso do artigo 203.º e do n.º 1 do artigo 205.º, o procedimento
criminal depende de acusação particular se:
a) O agente for cônjuge, ascendente, descendente, adoptante, adoptado, parente ou afim
até ao 2.º grau da vítima, ou com ela viver em condições análogas às dos cônjuges; ou
b) A coisa furtada ou ilegitimamente apropriada for de valor diminuto e destinada a
utilização imediata e indispensável à satisfação de uma necessidade do agente ou de
outra pessoa mencionada na alínea a).
O facto de o arguido viver com a vítima em condições análogas às dos cônjuges, faz
depender o procedimento criminal de acusação particular.
Neste caso, transformou-se, por força desta remissão, um crime semi-público em crime
particular.
E o interrogatório?
O arguido prescindiu de defensor, mas não o podia fazer nos termos do art. 64.º, n.º 1,
al. a) CPP. Ele estava detido, logo tinha obrigatoriamente de ser assistido por advogado.
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Esta falha consubstancia uma nulidade insanável, nos termos do art. 119.º, n.º 1, al. c)
CPP.
E a busca?
O mandado que ordenou a busca já tinha caducado, nos termos do art. 174.º, n.º 4 CPP,
logo a busca efectuada é nula.
Art. 68.º, n.º 2 CPP – começa-se a contar da advertência do n.º 4 do 246.º. Se ela
apresentou queixa por escrito, não há advertência.
Art. 246.º, n.º 4 CPP – “O denunciante pode declarar, na denúncia, que se deseja
constituir assistente. Tratando-se de crime cujo procedimento depende de acusação
particular, a declaração é obrigatória, devendo, neste caso, a autoridade judiciária ou o
órgão de polícia criminal a quem a denúncia for feita, verbalmente advertir o
denunciante da obrigatoriedade de constituição de assistente e dos procedimentos a
observar”.
Esta advertência só está prevista para quando a queixa for apresentada verbalmente.
Não está prevista na lei a situação de que quando a queixa for apresentada por escrito,
seja exigida advertência.
Todavia, há sempre a possibilidade de renovar a queixa e constituir-se assistente,
mesmo que se tenha violado o prazo de constituição como assistente.
O mandado de detenção
(arts. 258.º SS. CPP)
n.º 1: “Os mandados de detenção são passados em triplicado e contêm, sob pena de
nulidade:
a) A data da emissão e a assinatura da autoridade judiciária ou de polícia criminal
competentes;
b) A identificação da pessoa a deter; e
c) A indicação do facto que motivou a detenção e das circunstâncias que legalmente a
fundamentam.
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n.º 3: “Ao detido é exibido o mandado de detenção e entregue uma das cópias. No caso
do número anterior, é-lhe exibida a ordem de detenção donde conste a requisição, a
indicação da autoridade judiciária ou de polícia criminal que a fez e os demais requisitos
referidos no n.º 1 e entregue a respectiva cópia”.
A parte final do n.º 3 diz respeito à hipótese de urgência, em que não é exibido o
mandado, mas a requisição desse mandado.
Fases do processo
1. O inquérito
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A primeira questão é: houve ou não crime? Se não houver crime, nem há razão para se
abrir um inquérito.
A segunda questão é: quem foram os seus agentes?
A terceira questão é: esses agentes podem ser responsabilizados?
A quarta questão é: quais as provas que vão sustentar a acusação que se vai dirigir
contra esses agentes daquele crime?
Quando é que a notícia de um crime pode não dar lugar à abertura do inquérito?
Quando o crime depender de queixa e o titular do direito de queixa não apresentar
queixa, ou seja, nos crimes semi-públicos e particulares.
Quem dirige o inquérito é o MP, assistido pelos órgãos de polícia criminal, que
actuam sobre as ordens do MP, e na sua dependência funcional.
A primeira questão que se coloca, é que este artigo diz que “compete exclusivamente ao
JIC”. Isto significa que se trata de uma atribuição insusceptível de ser delegada.
Uma segunda nota refere-se aos actos que constam das als. a) a e) do n.º 1 do art. 268.º
CPP, em que convém ter a noção que nos termos da al. f) se trata de uma enumeração
exemplificativa, ou seja, podem existir outros actos que devam ser praticados pelo
JIC, mas que não estão neste artigo, estão dispersos pelo código.
As medidas de coacção são aplicadas pelo JIC, à excepção do TIR, nos termos do art.
196.º CPP, que pode não ser aplicado pelo JIC.
Quanto à al. f) do n.º 1 do art. 268.º, diz que compete exclusivamente ao JIC “praticar
quaisquer outros actos que a lei expressamente reservar ao juiz de instrução”.
Aqui convém referir:
Art. 30.º CPP – ordenar a separação do processo;
Art. 68.º, n.º 4 CPP – dar despacho de admissão como assistente;
Art. 116.º, n.ºs 1 e 2 CPP – condenar por faltas injustificadas;
Art. 217.º CPP – proceder à inquirição para memória futura;
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Arts. 280.º e 281.º CPP – dar a sua anuência em casos de dispensa de pena e
suspensão provisória do processo;
Art. 215.º, n.º 4 CPP – despacho de especial complexidade.
O que sucede se no inquérito, sem que se tenha demonstrado que foi impossível
notificar o arguido, o MP não ouve o arguido?
Isto corresponde a uma nulidade sanável, nos termos do art. 120.º, n.º 2, al. d) CPP:
“por não terem sido praticados actos legalmente obrigatórios”.
Uma vez praticados estes actos de inquérito, chegamos ao fim do inquérito. O que
pode suceder nesta fase?
Despacho de arquivamento;
Despacho de acusação.
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n.º 1: “Se durante o inquérito tiverem sido recolhidos indícios suficientes de se ter
verificado crime e de quem foi o seu agente, o Ministério Público, no prazo de 10 dias,
deduz acusação contra aquele”.
O prazo de 10 dias é um prazo meramente ordenador.
De qualquer forma, mesmo que o MP entenda que existe matéria para levar o
arguido a julgamento, para acusar essa pessoa, pode o MP optar por uma outra
figura:
n.º 1: “Se o crime for punível com pena de prisão não superior a 5 anos ou com
sanção diferente da prisão, o Ministério Público, oficiosamente ou a requerimento
do arguido ou do assistente, determina, com a concordância do juiz de instrução, a
suspensão do processo, mediante a imposição ao arguido de injunções e regras de
conduta, sempre que se verificarem os seguintes pressupostos:
a) Concordância do arguido e do assistente;
b) Ausência de condenação anterior por crime da mesma natureza;
c) Ausência de aplicação anterior de suspensão provisória de processo por crime da
mesma natureza;
d) Não haver lugar a medida de segurança de internamento;
e) Ausência de um grau de culpa elevado; e
f) Ser de prever que o cumprimento das injunções e regras de conduta responda
suficientemente às exigências de prevenção que no caso se façam sentir”.
São muitos os requisitos para que se possa aplicar a suspensão provisória do processo:
A moldura do crime em questão – tem de se tratar de crime punível com pena de
prisão superior a 5 anos. Se a moldura penal for superior a 5 anos, está desde
logo afastada a possibilidade de se optar pela suspensão provisória do processo.
Legitimidade para suscitar esta figura. Diz a lei que pode ser oficiosamente o
MP a requerer ou sugerir a aplicação da suspensão provisória do processo, ou
pode ser a requerimento do arguido ou assistente
“com a concordância do JIC”, ou seja, proposta a suspensão provisória do
processo pelo MP ou a requerimento do arguido ou assistente, ela só poderá ser
decretada se o JIC der o seu consentimento.
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Estes requisitos são cumulativos, pois têm que se verificar todos para que se possa
aplicar a suspensão provisória do processo.
Porém temos ainda o art. 281.º, n.º 2 CPP, que corresponde a injunções e regras de
conduta a que o arguido fica sujeito.
n.º 3: “Não são oponíveis injunções e regras de conduta que possam ofender a
dignidade do arguido”.
Se a suspensão provisória do processo foi aplicada contra a lei, entende-se que a decisão
violou algum dos requisitos que aí estão previstos, é possível neste caso, como a decisão
é do MP, recorrer hierarquicamente.
n.º 6: “Em processos por crime de violência doméstica não agravado pelo resultado,
o Ministério Público, mediante requerimento livre e esclarecido da vítima, determina a
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n.º 1: “A suspensão do processo pode ir até dois anos, com excepção do disposto no
n.º 5”.
n.º 5: “Nos casos previstos nos nºs 6 e 7 do artigo anterior, a duração da suspensão
pode ir até 5 anos”.
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tendo em vez disso arquivado o processo. Neste caso, será então normal que o MP acuse
e ordene o seguimento dos autos.
n.º 1: “Se o processo for por crime relativamente ao qual se encontre expressamente
prevista na lei penal a possibilidade de dispensa da pena, o Ministério Público, com
a concordância do juiz de instrução, pode decidir-se pelo arquivamento do processo, se
se verificarem os pressupostos daquela dispensa”.
Existem determinados tipos de crime que permitem a dispensa da pena. Nestes casos, e
só nestes casos, o MP, com a concordância do JIC, pode optar por arquivar o processo
se se verificarem todos os pressupstos de que está dependente a dispensa da pena.
n.º 2: “Se a acusação tiver sido já deduzida, pode o juiz de instrução, enquanto esta
decorrer, arquivar o processo com a concordância do Ministério Público e do arguido,
se se verificarem os pressupostos da dispensa da pena”.
Este artigo permite que esta dispensa de pena ocorra no âmbito da instrução e já não no
âmbito do inquérito, tendo como requisito a concordância do MP e do arguido.
O MP não promoveu o arquivamento no decurso do inquérito, mas entende que no
âmbito da instrução já seria de se aplicar e então dá o seu consentimento para que se
proceda ao arquivamento.
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n.º 5: “Nos casos previstos no n.º 1, sempre que se verificar que existiu por parte de
quem denunciou ou exerceu um alegado direito de queixa, uma utilização abusiva do
processo, o tribunal condena-o no pagamento de uma soma entre 6 UC e 20 UC, sem
prejuízo do apuramento de responsabilidade penal”.
n.º 1: “No prazo de 20 dias a contar da data em que a abertura de instrução já não
puder ser requerida, o imediato superior hierárquico do magistrado do Ministério
Público pode, por sua iniciativa ou a requerimento do assistente ou do denunciante com
a faculdade de se constituir assistente, determinar que seja formulada acusação ou que
as investigações prossigam, indicando, neste caso, as diligências a efectuar e o prazo
para o seu cumprimento”.
A intervenção hierárquica vem dizer que, face aos elementos que constam do inquérito,
às provas produzidas no âmbito do inquérito, a decisão deveria ter sido outra que não o
arquivamento, mas uma decisão de acusação.
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Nota: não se deve confundir o art. 278.º CPP com a reabertura de inquérito do art.
279.º CPP, pois são figuras diferentes.
n.º 1: “Esgotado o prazo a que se refere o artigo anterior, o inquérito só pode ser
reaberto se surgirem novos elementos de prova que invalidem os fundamentos
invocados pelo Ministério Público no despacho de arquivamento”.
n.º 2: “Do despacho do Ministério Público que deferir ou recusar a reabertura do
inquérito há reclamação para o superior hierárquico imediato”.
Conforme o art. 283.º CPP, o MP tem um prazo de 10 dias para deduzir acusação.
Este prazo é meramente ordenador.
Estes são os requisitos que devem constar da acusação. Estes, não são só importantes
para o MP, mas também para o arguido, pois se não se verificar um destes requisitos,
a acusação é nula.
Porque é que é fundamental esta narração dos factos? Devido ao objecto do processo e
às alterações substanciais ou não deste objecto do processo.
133
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O assistente tem este limite, só pode acusar por factos diferentes se esses não
implicarem uma alteração substancial.
Se se tratar de factos que impliquem uma alteração substancial, mas que ele pretenda
que sejam prosseguidos naqueles autos, deve requerer a abertura de instrução para esses
factos, nos termos do art. 287.º, n.º 1, al. b) CPP.
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Os arts 284.º, n.º 2 e 285.º, n.º 3 CPP remetem para as normas da acusação do MP.
Acusação particular
Proc. n.º …
Secção....
José Serafim, assistente nos autos acima identificados, vem deduzir acusação particular
contra:
Ana Silva, arguida no inquérito supra mencionado, nos termos e com os seguintes
fundamentos:
ACUSAÇÃO PARTICULAR
1.º
No dia 22 de Maio de 2009, cerca das 17h45, no café Esplanada, a arguida dirigiu-se ao
assistente, após uma discussão a propósito da educação dos filhos, proferindo as
seguintes expressões “filho da puta”, “cabrão”, “cornudo”.
2.º
Estas expressões ofenderam a honra e a consideração do arguido.
3.º
A arguida agiu de forma livre, voluntária e consciente, com o intuito de ofender o
assistente na sua honra e consideração, bem sabendo que a sua conduta era proibida.
4.º
Os factos praticados pela arguida consubstanciam a prática do crime de injúrias, p. e p.
pelo art. 181.º C.Penal.
PROVA:
Testemunhal:
António das Neves, residente na Rua.......
Maria dos Santos, residente na Rua.........
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A advogada
Nos termos do art. 72.º CPP, existe uma série de excepções a este princípio, no
sentido de permitir em alguns casos, para evitar que quem queira deduzir PIC esteja
muito tempo à espera do processo penal, podendo neste caso deduzir-se PIC em
separado do processo penal. Outras têm a ver com as decisões processuais penais que
são tomadas no âmbito do processo penal, tal como o arquivamento que permitem que
se deduza o PIC em separado.
A própria natureza do crime pode permitir que o PIC seja deduzido em separado.
As causas que permitem deduzir o PIC em separado constam do art. 72.º, n.º 1 CPP e
sempre que se verifica uma destas situações, há a possibilidade de o PIC ser intentado
na jurisdição civil.
Quem tem legitimidade para deduzir o PIC é o lesado, que é a pessoa que sofreu
danos decorrentes do crime – art. 74.º CPP.
Não se deve confundir o lesado com o ofendido, pois são conceitos que podem coincidir
na mesma pessoa, mas não são conceitos em si coincidentes.
Os poderes processuais quer do lesado, quer dos responsáveis civis estão definidos nos
n.ºs 2 e 3 do art. 74.º CPP – esta é uma colagem à figura do assistente e do arguido.
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n.º 2: “Quem tiver sido informado de que pode deduzir pedido de indemnização civil
nos termos do número anterior, ou, não o tendo sido, se considere lesado, pode
manifestar no processo, até ao encerramento do inquérito, o propósito de o fazer”.
Isto vai ter consequências sobretudo ao nível dos prazos para deduzir o PIC.
O lesado apenas tem de estar representado por advogado quando nos termos da lei civil
a representação for obrigatória.
Aqui apela-se às normas constantes do CPC relativas à representação. Ou seja, nas
causas superiores à alçada da 1.ª instância (€5.000,00) é preciso constituir advogado.
Prazo
O art. 77.º CPP tem uma espécie de graduação dos prazos, ou seja, perante uma
situação e para sabermos em que prazo temos que deduzir o PIC, devemos começar
sempre pelo n.º 1 e devemos averiguar se estamos perante uma situação aí prevista ou
não.
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Se não for assistente, o n.º 2 do art. 77.º CPP diz que “o lesado que tiver manifestado
o propósito de deduzir pedido de indemnização civil, nos termos do n.º 2 do artigo 75.º,
é notificado do despacho de acusação, ou, não o havendo, do despacho de pronúncia, se
a ele houver lugar, para, querendo, deduzir o pedido, em requerimento articulado, no
prazo de 20 dias”.
Se o lesado, durante o inquérito, manifestar a intenção de deduzir PIC quando é
proferido um despacho de acusação ou se não houver um despacho de pronúncia, é
notificado de que tem 20 dias para deduzir o PIC.
Se o lesado não tiver manifestado o propósito, ou tendo manifestado, não tiver sido
notificado nos termos do n.º 2, então aí aplica-se o n.º 3: “Se não tiver manifestado o
propósito de deduzir pedido de indemnização ou se não tiver sido notificado nos termos
do número anterior, o lesado pode deduzir o pedido até 20 dias depois de ao arguido
ser notificado o despacho de acusação ou, se o não houver, o despacho de
pronúncia”. Este prazo conta desde a notificação ao arguido.
Recapitulando:
Sendo assistente:
N.º 1 – com a acusação ou no prazo desta.
Não sendo assistente:
Se manifestou o propósito de deduzir PIC, sendo notificado da acusação tem 20
dias após essa notificação.
Se não manifestou o propósito ou se o manifestou mas não foi notificado, tem 20
dias a contar da notificação ao arguido do despacho de acusação.
Art. 77.º, n.º 4 CPP: “Quando, em razão do valor do pedido, se deduzido em separado,
não fosse obrigatória a constituição de advogado, o lesado, nos prazos estabelecidos
nos números anteriores, pode requerer que lhe seja arbitrada a indemnização civil.
O requerimento não está sujeito a formalidades especiais e pode consistir em declaração
em auto, com indicação do prejuízo sofrido e das provas”.
n.º 1: “A pessoa contra quem for deduzido pedido de indemnização civil é notificada
para, querendo, contestar no prazo de 20 dias”.
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Não tem efeito cominatório, o facto de não contestar não significa que esteja a aceitar
os factos constantes do PIC.
A contestação deve ser articulada e deve ser apresentada no prazo de 20 dias a contar
da notificação da dedução do PIC.
Nota: o art. 107.º, n.º 6 CPP permite que em determinados casos haja uma
prorrogação dos prazos, referindo-se expressamente aos prazos do art. 78.º CPP,
podendo este prazo ser prorrogado até ao máximo de 30 dias nos caso de especial
complexidade.
Questão de exame: o prazo para contestar o PIC é sempre de 20 dias? Não – art. 107.º,
n.º 6 CPP.
Sempre que se deduzir o PIC, ao contrário do processo civil, o lesado ou assistente não
é notificado para juntar prova. As provas têm que ir logo com o PIC.
Nota: na fase de saneamento do processo (art. 311.º CPP), quando o processo vai ao
juiz de julgamento, ele vai ter que dar um despacho nos termos do art. 311.ºCPP, e é
nesta altura que se pronuncia sobre o PIC que está deduzido nos autos, designadamente
admitindo-o ou não. Por isso, quando se deduz o PIC, deve ser dirigido ao Juiz de
Direito.
O lesado e as partes civis não podem depor como testemunhas, nos termos do art. 133.º
CPP, podendo, ainda assim prestar declarações.
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n.º 1: “Não tendo sido deduzido pedido de indemnização civil no processo penal ou
em separado, nos termos dos artigos 72.º e 77.º, o tribunal, em caso de condenação,
pode arbitrar uma quantia a título de reparação pelos prejuízos sofridos quando
particulares exigências de protecção da vítima o imponham”.
n.º 2: “No caso previsto no número anterior, é assegurado o respeito pelo
contraditório”.
n.º 3: “A quantia arbitrada a título de reparação é tida em conta em acção que venha a
conhecer de pedido civil de indemnização”.
Inquérito: …
Secção … do MP
X, casado, residente na Rua das Flores, n.º 15, freguesia …, cidade e comarca de Fafe,
vem intentar contra
Y, solteira, residente na Rua das Flores, n.º 13, freguesia …, cidade e comarca de Fafe e
M, solteiro, residente na Rua das Flores, n.º 11, freguesia …, cidade e comarca de Fafe
1.
No dia 20 de Janeiro de 2009, pelas 15:00h, os demandados dirigiram-se ao logradouro
da residência do demandante.
2.
Em comunhão de esforços, bem como com a ajuda de um serrote, cortaram e
arrancaram todas as videiras, num total não inferior a 10.
3.
Os demandados agiram de forma livre, voluntária e consciente, bem sabendo que a sua
conduta era reprovável e punida por lei.
140
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4.
Bem sabiam ainda que estas referidas videiras eram muito antigas e tinham muito valor
para o demandante, bem como davam cerca de meia pipa de vinho.
5.
Pelo que, o demandante sofreu graves prejuízos, quer a nível moral, quer a nível
patrimonial.
6.
O demandante auferia o valor de €500,00 por ano pela venda do vinho produzido pelas
videiras.
7.
Sucede que com o corte destas, o demandante será obrigado a plantar outras no seu
lugar e esperar que estas voltem a produzir a mesma quantidade, num período nunca
inferior a 5 anos.
8.
Pelo que, consubstanciam-se tais factos num dano patrimonial, quantificável num valor
nunca inferior a €3.000,00 (€500,00 x 5 + €500,00 da compra de novas videiras).
9.
Além disso, o demandante tinha grande préstimo pelas videiras, sofrendo um grande e
profundo desgosto pelo corte das mesmas.
10.
Contabilizando-se tais danos não patrimoniais num valor não inferior a €750,00.
Termos em que
Deve o presente pedido ser julgado
provado e procedente, e em
consequência serem os demandados
condenados ao pagamento da quantia
peticionada, no valor de €3.750,00,
acrescida dos competentes juros legais,
contados da data da respectiva
notificação.
Valor: €3.750,00
Prova testemunhal:
-1
-2
A advogada,
141
Prática Processual Penal
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Exercício prático:
Situação prática que combina as regras relativas aos prazos com os prazos relativos ao
PIC.
Neste caso, aplica-se o art. 73.º, n.º 3 CPP, pois apesar de A ter manifestado a
intenção de deduzir PIC, não foi notificado, logo aplica-se o art. 77.º, n.º 3 CPP.
O arguido foi notificado por via postal simples a 31/03, de acordo com o art. 113.º,
n.º 3 CPP, sendo os 5 dias corridos.
De acordo com o art. 77.º, n.º 3 CPP, A tem 20 dias a contar da notificação do
arguido para deduzir PIC, ou seja, tem até dia 29/04 para deduzir PIC.
O 77.º, n.º 3 diz “depois de ao arguido ser notificado o despacho”. A norma
invocada para contar o prazo da não notificação ao arguido, mas da notificação ao
defensor, que é o art. 113.º, n.º 9 CPP, no entender do Professor não se deve aplicar
ao caso, pois este artigo diz que as notificações processuais podem ser feitas na
pessoa do defensor, mas existem algumas que têm de ser feitas na pessoa do próprio,
embora devam ser feitas também ao seu mandatário e nos casos em que é aos dois, o
prazo conta-se daquele que foi notificado em último lugar.
Ora, no art. 73.º, n.º 3 CPP não se está a falar disso, mas de quando conta o prazo e a
norma diz que conta desde a notificação ao arguido.
142
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03/04.
De acordo com os arts. 285.º e 77.º, n.º 1 CPP, D poderá deduzir PIC até 22/04.
Neste caso, cada um dos assistentes tem o seu prazo para deduzir PIC, não se aplica
aqui o art. 113.º, n.º 12 CPP, pois não é um caso expressamente previsto.
Neste caso, deviam ser deduzidos dois PIC’s, um relativo ao cri me particular e outro
relativo ao crime público.
F foi notificado a 04/04 por carta registada de que tinha 20 dias para deduzir PIC – art.
77.º, n.º 2 CPP.
Assim, de acordo com o art. 113.º, n.º 2 CPP, presume-se notificado no dia 08/04.
O seu mandatário foi notificado pessoalmente no dia 14/04, considerando-se nesse
mesmo dia notificado, nos termos do art. 113.º, n.º 1, al. a) CPP.
Aplica-se ao caso o art. 113.º, n.º 9 CPP, logo, o prazo de 20 dias para F deduzir PIC
conta-se da última notificação, ou seja, ao mandatário – 14/04.
Mesmo que assim não fosse, o prazo terminaria sempre no dia 04/05, devido ao último
dia do prazo ter de ser útil.
No caso aplica-se o art. 77.º, n.º 2 CPP, pois F manifestou a intenção de deduzir PIC e
foi notificado.
O prazo do art. 77.º, n.º 1 CPP manda que o assistente deduza PIC com a acusação, ou
no prazo em que esta deva ser deduzida. Neste caso, ele não tem propriamente um prazo
para acusar, pois o MP arquivou. Mas como requereu abertura de instrução, no
processo-crime subsequente a um arquivamento, este RAI é que vai ser a base
acusatória. Logo, fazendo aqui uma analogia do art. 77.º, n.º 1 CPP, dir-se-ia que o
prazo que tem é o prazo de 20 dias para requerer a abertura de instrução e deduzir PIC
em simultâneo.
Se assim for, G é notificado a 06/04 (art. 113.º, n.º 2 CPP), tem 20 dias para requerer
RAI e em simultâneo PIC (art. 77.º, n.º 1 CPP, por analogia), logo poderia faze-lo até ao
dia 04/05.
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Mas, por outro lado, também é defensável, visto que por muito que se diga que o RAI
tem uma estrutura acusatória, não é uma acusação, e o art. 77.º, n.º 1 CPP diz
expressamente acusação. Assim, não cabendo a situação no n.º 1 do art. 77.º CPP, só
podemos enquadra-la nos n.ºs 2 ou 3. Neste caso, mais precisamente no n.º 3, devendo o
prazo para deduzir PIC contar a partir da notificação do despacho de pronúncia, prazo
este de 20 dias.
Qualquer uma destas teses é defensável.
A instrução
O art. 275.º, n.º 3 CPP diz o seguinte: “concluído o inquérito, o auto fica à guarda do
Ministério Público ou é remetido ao tribunal competente para a instrução ou para o
julgamento”.
Portanto, findo o inquérito, o processo pode seguir um de vários caminhos:
Instrução;
Julgamento.
(isto se não for arquivado)
O JIC vai comprovar ou verificar o acervo da decisão de acusar ou arquivar, para que no
fim da instrução se decida se o arguido deve ou não ir a julgamento.
Não se pode deduzir RAI contra incertos, o RAI não serve para investigar quem foi o
agente do crime.
Os actos de instrução dizem respeito a um conjunto de actos que o juiz entende levar a
cabo, requeridos ou não pelas partes.
O debate instrutório consiste num debate oral e contraditório acerca dos meios de
prova que foram produzidos.
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O acto a partir do qual se conta o prazo de 20 dias depende do que estamos a falar. Se
for o arguido a requerer a instrução, os 20 dias contam-se da notificação da acusação, se
for o assistente, o prazo de 20 dias conta-se da notificação da decisão de arquivamento.
O objecto sobre que versa a instrução depende daquilo de que estivermos a falar. Pode
ser:
A acusação
Os factos vertidos no RAI feito pelo assistente.
Se o MP deduz acusação, e o assistente deduz acusação nos termos do art. 284.º CPP, e
introduz na sua acusação factos que importam uma alteração não substancial, será que o
arguido pode requerer RAI, só em relação a esses factos?
O entendimento que vem sido seguido vai no sentido de defender que não o pode fazer,
porque não cabe no preceito legal do art. 287.º, n.º 1., al. a) CPP. Mas, se requerer a
instrução relativamente a factos constantes da acusação do MP, não há nada que impeça
que discuta também os factos que constam da acusação do assistente. Ou seja, só não o
poderá fazer se isoladamente deduzir RAI sobre os factos da acusação do assistente.
n.º 2: “O requerimento não está sujeito a formalidades especiais, mas deve conter,
em súmula, as razões de facto e de direito de discordância relativamente à acusação
ou não acusação, bem como, sempre que disso for caso, a indicação dos actos de
instrução que o requerente pretende que o juiz leve a cabo, dos meios de prova que
não tenham sido considerados no inquérito e dos factos que, através de uns e de
outros, se espera provar, sendo ainda aplicável ao requerimento do assistente o
disposto no art. 283.º, n.º 3, alíneas b) e c) CPP. Não podem ser indicadas mais de
20 testemunhas”.
O RAI não tem formalidades especiais, não tem de ser articulado, mas em regra é
articulado.
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Se o juiz verificar que a conduta descrita no RAI é atípica, ou seja, que não
consubstancia a prática de um crime, não pode recusar o recebimento do RAI, marca o
debate instrutório e dá despacho de não pronúncia.
n.º 4: “No despacho de abertura de instrução o juiz nomeia defensor ao arguido que não
tenha advogado constituído nem defensor nomeado”.
O JIC (art. 288.º, n.º 1 CPP), que pode ser auxiliado pelos OPC’s, salvo a excepção
do art. 290.º, n.º 2 CPP, que diz respeito a actos que o JIC não pode delegar nos
OPC’s.
Art. 290.º, n.º 2 CPP: “O juiz pode, todavia, conferir a órgãos de polícia criminal o
encargo de procederem a quaisquer diligências e investigações relativas à instrução,
salvo tratando-se do interrogatório do arguido, da inquirição de testemunhas, de
actos que por lei sejam cometidos em exclusivo à competência do juiz e,
nomeadamente, os referidos no n.º 1 do artigo 268.º e no n.º 2 do artigo 270.º”. Estes
são actos insusceptíveis de delegação.
Estará o juiz vinculado aos actos instrutórios requeridos pelas partes no RAI?
O JIC não está limitado aos actos requeridos pelas partes, pois tem direito a uma
investigação autónoma sobre o caso que lhe é submetido – art. 288.º, n.º 4 CPP.
Art. 291.º, n.º 1 CPP: “Os actos de instrução efectuam-se pela ordem que o juiz reputar
mais conveniente para o apuramento da verdade. O juiz indefere os actos requeridos
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Art. 290.º, n.º 2 CPP: “O juiz pode, todavia, conferir a órgãos de polícia criminal o
encargo de procederem a quaisquer diligências e investigações relativas à instrução,
salvo tratando-se do interrogatório do arguido, da inquirição de testemunhas, de actos
que por lei sejam cometidos em exclusivo à competência do juiz e, nomeadamente, os
referidos no n.º 1 do artigo 268.º e no n.º 2 do artigo 270.º”.
A parte pode requerer o RAI sem arrolar qualquer tipo de prova, se se tratar de uma
questão de direito.
Se o JIC delegar a prática de um acto aos OPC’s que estava impedido de fazer,
gera uma mera irregularidade, na medida em que não está prevista no art. 119.º CPP,
não é nenhum dos casos do art. 120.º CPP e a norma não prevê a nulidade, pelo que só
resta a mera irregularidade – art. 123.º CPP.
Actos de instrução
Debate instrutório
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instrutório. Este é fixado para a data mais próxima possível, de modo que o prazo
máximo de duração da instrução possa em qualquer caso ser respeitado”.
“O debate instrutório visa permitir uma discussão perante o juiz, por forma oral e
contraditória, sobre se, do decurso do inquérito e da instrução, resultam indícios de
facto e elementos de direito suficientes para justificar a submissão do arguido a
julgamento”.
n.º 1: “A instrução é formada pelo conjunto dos actos de instrução que o juiz entenda
dever levar a cabo e, obrigatoriamente, por um debate instrutório, oral e contraditório,
no qual podem participar o Ministério Público, o arguido, o defensor, o assistente e
o seu advogado, mas não as partes civis”.
Fora do debate, os intervenientes apenas têm direito a participar nos casos em que a lei
expressamente confere direito de intervir – arts. 42.º a 84.º CPP (parte geral).
Art. 289.º, n.º 2 CPP: “O Ministério Público, o arguido, o defensor, o assistente e o seu
advogado podem assistir aos actos de instrução por qualquer deles requeridos e suscitar
pedidos de esclarecimento ou requerer que sejam formuladas as perguntas que
entenderem relevantes para a descoberta da verdade”.
Se uma parte civil souber que daí a uma semana vai acontecer o debate instrutório e ela
quiser participar, o que pode ela fazer? Pode requerer a sua constituição como
assistente, e pode constitui-se assistente até 5 dias antes do debate instrutório, art. 68.º,
n.º 3, al. a) CPP. Neste caso, as partes contrárias (MP e arguido) são notificados para se
pronunciarem.
Se chegar ao dia do debate sem despacho, quid iuris?
Deve-se comparecer, e requerer-se que as partes contrárias sejam notificadas no acto e
que possa ser admitido no acto.
Isto também vale para o julgamento.
Art. 297.º, n.º 3 CPP: “A designação de data para o debate instrutório é notificada ao
Ministério Público, ao arguido e ao assistente pelo menos cinco dias antes de aquele ter
lugar. Em caso de conexão de processos nos termos das alíneas c), d) e e) do n.º 1 do
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artigo 24.º, a designação da data para o debate instrutório é notificada aos arguidos que
não tenham requerido a instrução”.
n.º 1: “O debate só pode ser adiado por absoluta impossibilidade de ter lugar,
nomeadamente por grave e legítimo impedimento de o arguido estar presente”.
n.º 2: “Em caso de adiamento, o juiz designa imediatamente nova data, a qual não pode
exceder em 10 dias a anteriormente fixada. A nova data é comunicada aos presentes,
mandando o juiz proceder à notificação dos ausentes cuja presença seja necessária”.
n.º 3: “Se o arguido renunciar ao direito de estar presente, o debate não é adiado
com fundamento na sua falta, sendo ele representado pelo defensor constituído ou
nomeado”.
n.º 4: “O debate só pode ser adiado uma vez. Se o arguido faltar na segunda data
marcada, é representado pelo defensor constituído ou nomeado”.
Tem-se entendido que, num crime particular em que quem promove o processo é o
assistente, embora não venha expressamente previsto (art. 300.º, n.º 1 CPP), o debate
também pode ser adiado se faltar o assistente.
Art. 302.º, n.º 1 CPP: “O juiz abre o debate com uma exposição sumária sobre os
actos de instrução a que tiver procedido e sobre as questões de prova relevantes
para a decisão instrutória e que, em sua opinião, apresentem carácter controverso”.
O JIC vai dizer quais os actos que foram realizados no âmbito da instrução, e quais as
questões de prova que ainda se encontram controversas. Nisto consiste o primeiro acto.
Art. 301.º, n.º 2 CPP: “O debate decorre sem sujeição a formalidades especiais. O juiz
assegura, todavia, a contraditoriedade na produção da prova e a possibilidade de o
arguido ou o seu defensor se pronunciarem sobre ela em último lugar”.
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Art. 302.º, n.º 2 CPP: “Em seguida concede a palavra ao Ministério Público, ao
advogado do assistente e ao defensor para que estes, querendo, requeiram a produção
de provas indiciárias suplementares que se proponham apresentar, durante o
debate, sobre questões concretas controversas”. No uso da palavra, estes podem
requerer a produção de meios de prova relativos às questões que o juiz considerou
controversas na sua exposição inicial, propondo-se produzi-las durante o debate.
Este requerimento de prova deve ser deduzido neste momento do debate.
Se o juiz indeferir este requerimento de prova, quid iuris? Alguns autores, tais como o
Dr. Germano Marques da Silva, entendem que a decisão que recai sobre os meios de
prova requeridos no debate instrutório deve ser recorrível. Isto porque já não estamos
perante a discricionaridade dos actos instrutórios que o JIC possuía na fase anterior,
uma vez que, se foi o próprio juiz que considerou que determinado facto é controverso,
seria um contra-senso indeferir sem controlo as provas que se propõe produzir quanto a
essa mesma questão controversa.
Art. 302.º, n.º 3 CPP: “Segue-se a produção da prova sob a directa orientação do juiz, o
qual decide, sem formalidades, quaisquer questões que a propósito se suscitarem. O juiz
pode dirigir-se directamente aos presentes, formulando-lhes as perguntas que
entender necessárias à realização das finalidades do debate”.
Pode no entanto suceder que, dada a palavra, nenhum dos sujeitos processuais requeira
nada, e então não existe a fase da prova.
Alegações
Art. 302.º, n.º 4 CPP: “Antes de encerrar o debate, o juiz concede de novo a palavra ao
Ministério Público, ao advogado do assistente e ao defensor, para que estes, querendo,
formulem em síntese as suas conclusões sobre a suficiência ou insuficiência dos
indícios recolhidos e sobre questões de direito de que dependa o sentido da decisão
instrutória”.
O art. 304.º, n.º 1 CPP define a regra da continuidade do debate. Este artigo remete
para o art. 328.º CPP, que se refere já à fase do julgamento, e disciplina que uma das
regras da audiência de julgamento, que se aplica também ao debate, é a regra da
continuidade.
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Art. 304.º, n.º 2 CPP: “O juiz interrompe o debate sempre que, no decurso dele, se
aperceber de que é indispensável a prática de novos actos de instrução que não possam
ser levados a cabo no próprio debate”. Por exemplo, no caso de questões controversas
que originem um requerimento de prova por uma das partes, e essa prova não possa ser
produzida imediatamente o juiz pode interromper o debate, com vista à sua produção.
Art. 303.º, n.º 1 CPP: “Se dos actos de instrução ou do debate instrutório resultar
alteração não substancial dos factos descritos na acusação do Ministério Público ou
do assistente, ou no requerimento para abertura da instrução, o juiz, oficiosamente
ou a requerimento, comunica a alteração ao defensor, interroga o arguido sobre ela
sempre que possível e concede-lhe, a requerimento, um prazo para preparação da defesa
não superior a oito dias, com o consequente adiamento do debate, se necessário”.
Nos casos de arquivamento pelo MP, é o RAI que vai funcionar como acusação,
é o RAI que vai fixar o objecto do processo.
Pode acontecer que esta alteração não substancial se reporte ao próprio RAI
deduzido pelo assistente.
Se houver uma alteração não substancial dos factos (art. 1.º, al. f) CPP), o juiz
oficiosamente ou a requerimento:
comunica a alteração ao defensor do arguido;
interroga o arguido sempre que possível, sobre a mesma;
concede-lhe, a requerimento, um prazo para preparação da defesa, não
superior a 8 dias, com consequente adiamento do debate, se necessário.
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Prática Processual Penal
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Este prazo não superior a 8 dias só existe quando é requerido, o arguido pode não o
requerer.
Entende a doutrina maioritária que isto só se aplica quando os factos novos não são
trazidos para o processo pelo próprio arguido. Se foi o próprio arguido a trazer esses
factos novos para o processo, não é necessário prazo para preparar a defesa, uma
vez que ele é que os suscitou.
Este é um regime paralelo/similar ao regime previsto para a audiência de julgamento.
Art. 303.º, n.ºs 3 e 4 CPP: “3 – Uma alteração substancial dos factos descritos na
acusação ou no requerimento para abertura da instrução não pode ser tomada em conta
pelo tribunal para o efeito de pronúncia no processo em curso, nem implica a extinção
da instância.
4 – A comunicação da alteração substancial dos factos ao Ministério Público vale como
denúncia para que ele proceda pelos novos factos, se estes forem autonomizáveis em
relação ao objecto do processo”.
Existem diversos aspectos a salientar aqui. A lei diz que uma alteração substancial não
pode ser tomada em conta pelo tribunal para o efeito de pronuncia no processo em
curso.
O Dr. Paulo Pinto de Albuquerque defende uma posição que não tem muita
consonância com o que diz a lei. Entende que o regime que está previsto para a
alteração substancial dos factos no julgamento, no art. 359.º CPP, se deve aplicar
analogicamente à instrução.
Os n.ºs 1 e 2 do art. 359.º CPP são equivalentes aos n.ºs 3 e 4 do art. 303.º CPP.
Mas o legislador alterou quer o regime do julgamento, quer o regime da instrução, e no
entanto não introduziu um n.º similar ao n.º 3 do art. 359.º CPP no âmbito da
instrução. O autor defende que o espírito da lei é o mesmo e que, com o acordo das
partes, nada impede que o processo abranja também esta nova factualidade.
O último segmento do n.º 3 do art. 303.º CPP, que diz que “nem implica a extinção da
instância”, é um segmento muito importante, pois veio contrariar o que a maioria da
doutrina defendia, que é que em alguns casos a descoberta de uma alteração substancial
poderia extinguir aquele processo e dar origem a outro. Outros autores defendiam que o
processo deveria voltar à fase de inquérito, para serem apreciados os novos factos.
O legislador agora é muito claro: as alterações substanciais não podem ser tidas em
conta no processo.
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O art. 303.º, n.º 5 CPP prevê uma solução que já era aplicada antes da revisão, mas que
agora ficou especificamente consagrada.
Esta norma do n.º 5 já era aplicada antes da reforma. Existia uma norma idêntica para o
julgamento, e entendia-se que essa norma deveria ser aplicada analogicamente à
instrução.
Resumindo:
2 meses – se houver arguido preso ou sob obrigação de permanência na
habitação.
3 meses – excepção: se houver arguido preso e se tratar de um dos crimes do art.
215.º, n.º 2 CPP.
4 meses – se não houver arguido preso ou sob obrigação de permanência na
habitação.
Estes prazos são meramente reguladores, a única importância que têm prende-se com a
possibilidade de recorrer à aceleração processual.
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Este art. 281.º CPP diz respeito à suspensão provisória do processo. O n.º 2 do art.
307.º CPP permite que a suspensão provisória do processo, que é uma figura prevista
no inquérito, exista também na instrução.
O JIC, na altura de decidir, pode também, havendo concordância do MP, optar pela
suspensão provisória do processo. Aqui quem decide é o JIC, com concordância do
MP, enquanto que no inquérito é o MP quem decide. Invertem-se aqui os papéis, pois já
estamos numa fase judicial.
Em regra a decisão é proferida a seguir aos actos e ditada para acta. No entanto, o art.
307.º, n.º 3 CPP dá ao juiz a prorrogativa de proceder à leitura da sentença em
momento posterior. Portanto, se a causa for simples, a sentença é ditada para acta, se for
complexa, recorre-se ao n.º 3 do art. 307.º CPP.
O juiz não fica vinculado, quer de cato, quer de direito, pelo despacho de pronúncia.
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