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DIREITO PROCESSUAL PENAL I

Professora:
o Inês Fernandes Godinho
o Ana Maria Gonçalves Gomes
Avaliação:
o 1 Comentário a um acórdão
o 5 de novembro - 10 valores
▪ 3 a 4 páginas
o 1 Frequência
o 19 de Janeiro
Manuais:
o Código de Processo Penal
o Direito Processual Penal – Dr. Germano Marques da Silva
o Direito Processual Penal – Paulo Sousa Mendes
o Direito Processual Penal - Maria João Antunes

16/09/2021

Sumário:

Apresentação.

17/09/2021

Sumário:

Apresentação.

1
23/09/2021

Sumário:

1. O sentido do direito processual penal

2. Finalidades e âmbito do direito processual penal

3. Fontes do direito processual penal

4. A aplicação do direito processual penal

5. A tramitação processual penal - visão esquemática

Aula:

Os direitos processuais são usualmente mais descritivos, o problema é quando


falamos de um procedimento, o DPP tem internamente na sua construção coisas com a
mesma importância que se contradizem mutuamente.

Em termos o processo penal é o conjunto de normas jurídicas que disciplinam a


aplicação ao direito penal. O objeto do processo penal é a logica da aplicação e da
realização do direito penal. Tudo o que aprendemos no direito penal só se vai perceber
ao olhar para o processo penal, para saber que é ilícito, típico, culposo e punível, so nele
descobrimos o facto, o agente e as consequências jurídicas.

Quando falamos em normas jurídicas também temos enquanto juristas algumas


pre compreensões. Quando falamos em normas jurídicas há uma ideia de estado de
direito e como é evidente se juntarmos a norma jurídica á ideia de aplicação estamos a
falar da aplicação de normas jurídicas de uma certa forma, seguindo o principio da
jurisdição, este principio significa que temos uma logica de um entidade independente.

Dr. Figueiredo Dias é o pai do Código processo penal.

O processo penal é uma forma de bulir com os direitos fundamentais dos


cidadãos. Podemos entender a nossa sociedade da forma que aplicamos o processo
penal.

Arguido somos todos.

(exposição nº4)

Artigo 2º - Entre o DP e o DPP existe uma unidade de sentido, mas não poe em
causa a autonomia quer de um quer de outro. Aqui temos a ideia do estado de direito.

Princípio da legalidade processual – eu não posso exercer nem tomar a justiça


pelas minhas próprias mãos (Tem âncora constitucional – artigo 20º e 32º da CRP).

Princípio da legalidade criminal – Artigo 29º

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É o reflexo da criminologia, que é uma ciência social autónoma com 200 anos,
digamos que é uma filha rebelde da sociologia, ela apenas quer estudar o crime, mas
não faz juízes de valor, explica alguns fenómenos quer no delinquente quer na vitima.
Sem ela nunca iriamos perceber uma distinção operatória do (parte II ponto 6 alínea a)).
Aqui reconhecemos a distinção pela criminologia e importa criar a distinção como
categoria operatória.

Artigo 1º CPP (j), l), i) – não estão definidos tipo de crime em concreto, mas em
categorias de criminalidade)

Teoria da etiquetagem – criminoso e vítima, isto gerou o acompanhamento


deste estudo. (a honra perdida – Catarina).

Política criminal – Tem intenções e finalidade, no contexto temos as indicações


gerais dos focos de crimes que se querem combater. Para percebermos as alterações ao
código temos que ir á política criminal.

Finalidades do processo penal – vamos criar uma logica de ponte, objetivamente


a criminalidade mais grave é um exemplo forte, para ir atras desta temos que fazer uso
de mais instrumentos, quando são autorizadas escutas, são só apenas autorizadas para
crimes mais graves.

Vamos imaginar que somos amigos de alguém envolvida num esquema de


corrupção, e ele está em escuta, um estado para o perseguir vai afear direitos
fundamentais. Temos limitações de direitos fundamentais.

Finalidades do processo penal – não pode haver pena sem culpa

• Realização de justiça + descoberta da verdade material – se eu me


limitasse a um, isso dava total liberdade ao estado para fazer uso ao
que quisesse em busca da liberdade

• Proteção dos direitos fundamentais dos cidadãos em especial do


arguido, em relação do próprio estado. O estado deve dar
instrumentos de luta (presunção de inocência – se o estado não fizer
o seu trabalho o arguido ganha a batalha).

• Paz jurídica – Naturalmente quando alguém dá um tiro a alguém isso


nos afeta, mas não é nada connosco.

Princípio da concordância pratica – particularmente em institutos como os


direitos do arguido, nestes institutos, neste blocos de normas, os artigos do código estão
pensados dentro de um determinado equilíbrio cada uma delas tenho o maior sucesso.
Temos que articular duas coisas contraditórias entre sí.

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Fim do processo penal – Qualquer processo quer dizer o direito do caso, so que
o dizer o direito ao caso, na situação especifica, tem uma espécie de foco, que acaba por
iluminar, esse foco é a descoberta da verdade material. Aqui temos sujeitos, já que o
processo penal não é disponível, precisamente como está em causa a reconstrução do
tecido comunitário este processo tem de se afirmar, então o processo penal funciona
retrospetivamente, tendo que perceber o que aconteceu para so assim saber se tem
que cozer o tecido social.

Direito policial – atividade policial de prevenção á pratica de crime (é direito


administrativo puro). Ele termina na fase da repressão – Direito processual penal. No
fim dele e temos uma sentença jugada, vamos executar a punição – Direito de execução
de penas e medidas de segurança (direito penitenciário).

Artigo 7º do CPP – Princípio da subsistência – tudo pode ser resolvido no Código,


não lidando apenas com questões penais

Fonte formal:

• Constituição da República Portuguesa – tem uma espécie de


constituição penal por exemplo o artigo 27º ou 32º do CRP.

• Direito internacional – Funciona em rede, temos alguns instrumentos


que são soft law (declaração universal dos direitos humanos) e hard law
(convenção internacional dos direitos humanos, carta dos direitos
fundamentais da união europeia) – A parte importante vem dos direitos
fundamentais

• Lei ordinária – Código processo penal (principal fonte), mas não é a única,
temos o estatuto da vítima, lei da criminalidade organizada, etc.

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Fontes materiais:

• Princípios suprapositivos – não têm que estar escrito em lado nenhum,


por exemplo o princípio da justiça. Não tem expressão na lei

• Jurisprudência

o Nacional

▪ Acórdãos do tribunal constitucional – veem dizer que algo


é constitucional ou inconstitucional tendo um efeito
direto, por outro lado pode declarar uma norma
inconstitucional, podendo remover que essa norma tenha
as suas consequências, em termos de fiscalização previa
não faz tanto sentido.

▪ Acórdãos de fixação (uniformização) de jurisprudência –


são do supremo tribunal de justiça e surge quando dois
tribunais superiores têm interpretações contraditórias
sobre a mesma norma num caso semelhante e ai surge o
supremo tribunal de justiça.

o Internacional

▪ Acórdãos do tribunal europeu dos direito humanos - É


referido porque sendo a convenção vinculativa para o
estado português e havendo desenvolvimento, por
exemplo o artigo 6 da convenção, esses acórdãos acabam
pro ter influencia direta nas decisões do caso concreto ee
na formação de normas

• Doutrina – Acaba por condicionar as propostas de alteração do Código.


Nós juristas escrevemos a doutrina é isto.

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Artigo 4º do CPP – Integração de lacunas – Teoria da logica dos círculos
concêntricos – Forma como conseguimos integrar essa mesma lacuna e isso é com o
instrumento da analogia, encontramos normas que possam servir para integrar aquela
lacuna. Caso não esteja no código do processo penal é utilizado o civil, mas há algo que
no artigo 4º não está, é a que a compreensão é totalmente diferente, então as normas
so podem servir a função da lacuna quando passaram o filtro de controlo dos princípios
gerais do processo penal, se for uma norma civil relativo a atos de secretaria não tem
problema em os ir buscar, mas se for uma norma prova já é mais difícil.

Só se aplica a analogia caso não vá contra os direitos ao arguido


Princípios gerais do processo penal
Princípios gerais do processo penal
CPC
CPC
CPP
CPP

Aplicação no tempo – Artigo 5º (remete para o artigo 12º do CC)

Artigo 29º da CRP – compreensão do arguido e aplicação da lei penal mais


desfavorável.

O estatuto processual do arguido, a alínea a) veio criar uma posição mitigada no


artigo 29º da CRP, em que quando de processos pendente não há aplicação imediata em
casos de lei mais desfavorável.

Normas processuais materiais - Isto é importante porque existem normas que


tenham aplicação e não aplicação, existem uma que não está prevista no código, por
exemplo, o caso da prescrição, neste caso está previsto no código penal e não no código
processo penal, apensar que tem haver com o direito do processo penal. Estas normas
seguem um regime da aplicação no tempo do CP

Aplicação no espaço – Princípio da territoriedade. Artigo 6º do CPP e 229 e ss. O


processo penal não quer aplicar internacionalmente, no entanto existem normas de
cooperação internacional.

Aplicação quanto ás pessoas – imunidade da convenção de Viena para


diplomatas e podem existir limitação para certos cargos políticos, mas isto é igual a
Direito Penal.

1º Momento – Fase preliminar – Ainda não é um processo penal propiamente


dito, porque tem a haver com as coisas que têm que ser reguladas – Aquisição da noticia
de crime

1º fase formal – Fase de inquérito – Esta fase é uma fase de investigação, dirigida
pelo ministério público, é aqui que ele decide se tem ou não indícios ou não suficientes,
caso sejam suficientes deve iniciar-se a acusação do arguido, caso contrario o
arquivamento.

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Princípio da oportunidade – Se colaborares acontece X, e por vezes o ministério
publico pode brincar com a perseguição penal ou não, mas nós não funcionamos assim,
ele tem alguma margem de manobra, e ai surge a suspensão provisoria do processo,
arquivamento em caso de suspensa de pena, etc, isto acaba por dar outras alternativas,
mas em termos rígidos nesta fase ou acusa ou arquiva.

Fase da instrução – Fase facultativa – Só se inicia caso o sujeito processual


levante, ela é dirigida pelo juiz de instrução criminal

Fase de julgamento – Fase obrigatória – Já não é uma fase de investigação, é de


apreciação e é dirigida pelo juiz.

Fase recursoria – Fase facultativa – Possibilidade que se abre depois da decisão


final e só se inicia caso alguém a proponha e é dirigida pelo juiz

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30/09/2021

Sumário:

2. A conformação jurídico-constitucional e a estrutura do processo penal

2.1. A conformação jurídico constitucional do direito processual penal

2.2. A estrutura do processo penal

2.2.1. Estrutura acusatória mitigada pelo princípio da investigação

Aula:

Conformação constitucional do processo penal:

Estado ditatorial trata da mesma forma o arguido como estado democrático?


Não. Porque quando estamos num estado autoritário, e este estabelece os fins que quer
admitir e coloca o arguido na posição que quer de forma que lhe convém.

No fundo o processo penal, se percebe o modo e como é tratado o arguido são


todos os elementos e que tipo de estado que nós temos. Portanto, a nossa constituição
é também o reflexo disso mesmo. Podemos assim identificar 2 pernas e uma alma, a
alma do processo penal é a constituição e alma da CRP é o artigo 1º da mesma.

Quando abre a proclamação sobre a dignidade da pessoa humana, se isto não


acontecesse não havia qualquer tipo de processo penal, já as duas pernas não são senão
por um lado, o artigo 32º da CRP, tem haver com a limitação que o estado faz assim
mesmo ao estabelecer garantias do processo, o que significa que quando este
estabelece esta a dar direitos ao arguido, por lado temos o artigo 27º da CRP consiste
em tratar daquilo que são os direitos fundamental mais diretamente que ligam o que é
difícil do processo penal. Prevê o direito à liberdade e a segurança.

São estes dois valores conflituantes que fazem com que ou o modo como estes
dois valores são regulados na constituição que faça com que percebemos do que tem a
vir a ser o processo penal. O que é diferente no processo penal nos temos normas que
se aplicam diretamente e isso é a uma circunstância diferente que encontramos noutros
tipos processuais.

É precisamente o processo penal que vai refletir o modelo político e ideológico


do estado, por isso mesmo é preciso perceber que sendo o abraço armado de punir,
este tem uma caraterística, ou seja, esta a punir direitos fundamentais, e aqui surge a
dificuldade, o que liga um ao outro. Se olharmos para alguns artigos que estabelecem
direitos fundamentais que vão ser afetados por exemplo o direito da inviolabilidade do
domicílio, por exemplo quando investigamos um crime temos de investigar a domicílio
de alguém. Como quando recebemos uma carta de carater sexual, temos de tratar de
forma diferente artigo 34º CRP.

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Se o estado para investigar tem de entrar nas nossas casas, também é verdade
que a inviolabilidade do domicílio não podemos de aniquilar por completo o exercício
político do estado, ou seja, não podemos deixar que o estado faça de tabua rasa dos
direitos fundamentais.

Mas se nos admitirmos que o estado pode entrar, mas podemos limitar as
circunstâncias, ou seja, deixamos entrar com um mandato. Por outro lado, também à
uma limitação das horas, por regra geral em termos de buscas as autoridades só podem
entrar entre as 7h da manhã e das 21h da noite.

O que significa que há um travão implícito quando exercemos o direito de punir


que é por definição violação dos direitos fundamentais, tem de haver uma
proporcionalidade artigo 18º nº2, e por outro lado, não podemos ultrapassar o
arquiduque essencial dos direitos fundamentais. Assim percebemos temos de partir
para a sua análise e situação, alma e pernas, e limitação que não ocorro diretamente de
uma norma que é o núcleo essencial. Isto são as fontes de partida.

Normas constitucionais:

CRP:

• Princípios programáticos
• Normas de incidência direta
• Normas de Incidência necessária

Artigo 27º CRP:

(...)

Para todos os efeitos estamos numa circunstância que a prisão preventiva


significa necessariamente que estou a privar a liberdade alguém. Seria uma contradição
direta com o artigo 27º da CRP, se assim fosse não valia a pena processo penal. Por isso
mesmo encontramos normas como o artigo 28º CRP que tem uma regulação especifica
sobre a previsão preventiva, ou seja, são normas de aplicação direta.

O artigo 27ºnº3 aliena B) não é uma norma programática, faz com que a mesma
não precise da norma do processo para que seja diretamente aplicável, o que significa
que o código do processo penal, em termos de indícios, seria inconstitucional, mas com
esta norma já não era. Em termos de aplicação da norma em previsão preventiva – a
norma que se aplica é esta e não do processo.

No artigo 28ºnº1 encontramos prazos de 48horas, é para casos em que são


apanhados com excesso de álcool acima do que é permitido, por exemplo. É uma norma
processual, mesmo que não houvesse uma norma no código do processo penal ou que
dissesse o contrário, esta norma da CRP sobrepunha-se.

O estado qualifica como abuso de poder todas as prevenções liberdade que não
tenham fundamentação. Artigo 31º habeas corpus.

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Em segundo lugar indo à segunda perna temos o artigo 32º CRP, são as garantias
do processo penal, em segundo lugar este artigo estabelece (nano código) o esqueleto
todo do processo. No nº2 é talvez a porta pela qual que devemos entrar no processo
penal, ou seja, este artigo tem definida a presunção de inocência. Este número 2 contem
também a garantia celebre. E significa que o arguido tem todas as garantias que este
precisa. Esta previsão do nº1 deste artigo diz-nos que se existir uma alteração ao
processo penal, esta alteração acaba por ser constitucional.

Neste artigo encontramos também normas distintas que nos diz 3 coisas
distintas, ou seja, diz-nos que o arguido tem o direito de ser assisto em todos os atos e
é obrigatória, e diz-nos que pode escolher o defensor e fazendo-se fazer acompanhado
por ele, mesmo que assistência não seja obrigatória. O código não pode distorcer esta
norma constitucional.

Segundo o nº 5, que nos faz referência à estrutura, e finalmente o nº8 deste


artigo, sobre o processo propriamente dito em relação às provas, diz-nos que limitações
há em relação como obter a verdade. O nº 7 da ideia de que a própria constituição,
obriga o legislador ordinário a permitir a intervenção do ofendido ou seja, no processo
penal temos uma relação triangular porque alem do estado e do arguido, temos o
ofendido ou vítima, ou até assistente. Estas duas normas são aquelas que definem
qualquer código processo penal, mas temos outras que são importantes.

Artigo 32 da CRP - Estabelece o esqueleto todo do processo penal.

• nº1 - existindo uma lei ordinária que não consagre o direito ao recurso, esta
norma ainda que não seja detalhada consegue ter aplicação direta. Esta
previsão diz-nos também que se existir uma alteração ao código processual
penal que limite o direito ao recurso, esta alteração torna-se materialmente
constitucional.
• nº2 - presunção de inocência (“porta de entrada”)
• nº3 remete para o artigo 27 nº4 – diz-nos que o arguido tem direito a ser
assistido por defensor, diz-nos que a assistência por defensor é obrigatória e
diz-nos que o arguido pode escolher o defensor podendo-se fazer
acompanhar por ele sempre que queira, mesmo que a assistência não seja
obrigatória.
• nº4 - norma que nos vai dizer que direitos é que o arguido tem quando passa
a ser arguido.
• nº5 - a constituição não dá margem de manobra para conformar o tipo de
estrutura que o processo deve ter.
• nº7 - a própria constituição está mais preocupada com o arguido, liberdade,
processo mas também obriga o legislador ordinário a permitir a intervenção
do ofendido. Quando estamos em processo penal temos uma relação
triangular porque além do estado e do arguido temos também um terceiro
elemento que é aquilo que se chama o ofendido/a vítima/o assistente.
• nº8 - falamos na lógica da verdade e este artigo diz que existem limitações
quanto ao modo de se chegar a essa verdade.

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Os 3 e 4 do artigo 34º, remete para regulamentação ordinária, é uma projeção
de princípio, e temos uma norma direta que é o nº3 do artigo 34º CRP, não precisa de
uma norma ordinária para explicar os seus efeitos.

Alem destas normas temos outras que não estão naturalmente pensadas, tem
incidência necessária, naturalmente se aplicam, por exemplo, o artigo 20º da acesso
direito e tutela jurisdicional efetiva, temos outros exemplos 272º, 219º, 215º e 216º,
203º, 202º, 206º (refere as audiências dos tribunais) CRP, normas pensadas em termos
gerias e não no processo penal.

O artigo 206º faz referência ao princípio da publicidade da audiência, ou seja, as


audiências são feitas de porta aberta, em regra geral, este princípio determina que a
regra de orientação as audiências têm de ser porta aberta.

O ordenamento jurídico português introduziu uma responsabilidade penal das


pessoas coletivas, foi alargada em 1984. Em 2007, passa-se a ser prevista no artigo 10º
nº2, para que estas possam responder perante a Justiça penal. O que significa que nos
teríamos de ser um processo penal para as pessoas singulares, ou seja, temos o
problema das pessoas coletivas, e coloca-se a questão que a perspetiva dos direitos
fundamentais tem sido abordada pelas pessoas singulares, o que importa saber em que
medida sendo as pessoas coletivas ser arguidas em processo penal, se beneficia dos
mesmos diretos que as pessoas singulares.

Segundo o artigo 12º nº2 da CRP, diz-nos que as pessoas coletivas são
reconhecíveis os direitos fundamentais que sejam compatíveis com a sua natureza.
Exemplo: da inviolabilidade do domicílio, em temos de pessoas coletivas pergunta-se
sobre o domicílio destas pessoas, será que esta tem este direito em termos de gerais ou
domiciliários? Temos a posição do tribunal constitucional que nos diz que o mesmo não
é extensível as pessoas coletivas, ou seja, não beneficiam do artigo 177º. Esta proteção
não é linear como nas pessoas singulares.

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Estrutura do processo penal

A estrutura do processo penal tem de ser compreendida, como um longo


percurso que começa no século XIII. Se é certo que este percurso tem mil anos, temos
de saber as fases de esse percurso pra termos a ideia do que é o processo penal hoje.

Quando o santo ofício da inquisição nasce, pretende-se legitimar o castigo


aqueles que não respeitavam a igreja católica. Obtenção de prova para provar a
verdade, o fim último e único era chegar a verdade independentemente do meio para
lá chegar. Nesse sentido, não obstante, de obtermos o tal procedimento, tínhamos uma
objetivação acusa no processo. Os inquisidores investigavam, uma vez existindo
confissão os factos consideravam-se verdade. Criou-se Procedimento provatório, ou a
ideia de procedimento.

Era sempre a mesma pessoa do início ao fim, neste processo inquisitório.


Naturalmente que este procedimento fica cristalizado, no seculo XVI, mas com uma
logica muito inquisitória opressiva ao arguido, este movimento quando começa a ser o
estado, acaba por pôr a frente de tudo o interesse do estado na descoberta da verdade.
Entra-se no iluminismo, os ideais liberais acabam por ter um fortíssimo impacto no
processo penal, desde que da mesma maneira começa-se a ensaiar o valor intrínseco da
dignidade humana. Quando este se instala, basicamente o que acontece é que passa a
ver um cidadão perante o estado, e não um objeto ou um fim.

Este cidadão passa a ter um ajuda sendo fornecida a presunção de inocências ma


estando em liberalismo significa que o cidadão tem a mesma responsabilidade
provatória que o estado, consagra-se o princípio da igualdade de armas, significava no
período liberal, uma autorresponsabilidade probatória de ambas as partes. Institui-se
ainda o princípio da acusação, ou a estrutura acusatória que esta consagrada no artigo
32ºnº5 CRP, isto tem a ver com a ideia mnemónica, quem julgava tinha de ser imparcial
face a quem investigava.

Se for sempre a mesma pessoa, não vai ser imparcial. Entendeu-se que era
necessário dividir a pessoa que acusa daquela que julga – Princípio da acusação. Em
termos liberais podemos discutir se faz muito sentido todas as novidades introduzidas
no processo penal na sua estrutura, ou seja, em termos de ser sempre a mesma
estrutura, ou a divisão da mesma.

Estados autoritários – estes regimes não podiam aceitar uma estrutura


acusatória do processo porque apresentavam ideias opostas ao liberalismo. Na maioria
criaram a estrutura mista, que no fundo tem elementos basilares da estrutura acusatória
e inquisitória. O que se fez foi desconsiderar o princípio da igualdade de armas, uma vez
que não estavam na realidade, decorreu desta estrutura mista. Havia uma coisa que se
chamou de instrução preparatória que era o juiz que dizia ao MP se acusava ou não
acusava, materialmente era o juiz se decidia ou não se havia acusação.

Sendo o estado autoritário, são os interesses destes que passam a frente, à


também uma diminuição corresponde dos direitos e garantias do cidadão.

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O código 1929 foi muito adaptado até 1987. A constituição já dava as grandes
linhas de como deveria ser o processo penal. Como por exemplo artigo 27ºnº3 aliena b)
CRP.

Fase inquisitória – fase investigação.

O nº2 do artigo 32º estabelece a estrutura acusatória, imposição da separação


entre quem acusa e quem julga.

Segundo Dr. Figueiredo Dias inspirado em modelos europeus e pensando na


verdade histórica que não pode ser o fim ultimo, os direitos fundamentais são
importantes, alem disso considerou que a verdade, tem de ser material, ou seja, uma
verdade que não é a qualquer custo, é uma verdade como vemos no artigo 32ºnº8 CRP
tem de ser mantida dentro das limitações do respeito da dignidade da pessoa humano,
como os direitos fundamentais do cidadão. A forma de chegar à verdade histórica é
proibida, por isso é que esta verdade é proibida devido à forma que se lá chega.

A mitigação encontramos no artigo 340º CPP, diz-nos uma coisa que é


contraditória, ou seja, que o juiz investiga, ordena provas.

Há divisão entre entidade que acusa (MP) e a entidade que julga (juiz ou
tribunal).

Ponto 1: desde logo que se atribuiu outro significado a presunção de inocência,


na estrutura mista foi criada a igualdade entre o arguido e o estado, esta ideia foi
importada, ou seja, havendo presunção de inocência cada ao estado o ónus de prova.
Logo o arguido deixa de ter obrigação de apresentar prova, alem disso a forma de
aproveitamento do princípio da igualdade de armas, no contexto probatório.

Na alógica Estrutura Inquisitória (pura) – juízo único investiga e descobre 4


coisas, acusa pelo mesmo, na fase julgamento chega a conclusão de que são 6, logo
alarga e julga pelas 6 coisas.

Na logica da estrutura acusatória – o MP obtém 2 coisas, e acusam no e entram


na outra logica da entidade que julga, para o juiz ter a certeza investiga só dentro destas
duas coisas, e não pode alargar essas 2 coisas, o que se chama o princípio da vinculação
temática. Não pode passar a fazer parte do julgamento em curso, a única coisa que não
esta vinculado é ao embrulho que MP faz.

Estrutura acusatória mitigada pelo processo de investigação.

Temos de ter 3 ideias:

Tudo o que seja um alargamento do tema do processo após acusação, esta


diretamente em colisão com o nº5 do artigo 32º CRP.

Por outro lado, é importante perceber que existe a estrutura inquisitórias (ambas
as estruturas). Pensando na tutela de equilíbrios entre os interesses dos estados e os
direitos fundamentais, o modelo que temos e que o juiz não seja responsabilizado pelos

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fins do estado. O juiz não pode optar por exercer ou não esse direito da forma que lhe
apetece, tem de investigar.

Resumos complementares
Tem que ser compreendida como um novo percurso que começa no século XIII.
Objetivamente se não fosse o santo ofício da inquisição hoje dificilmente teríamos
processo. Quando o santo ofício nasce pretende-se legitimar o castigo daqueles que não
respeitavam a Igreja Católica.

Existe uma lógica de procedimento com vista à obtenção de prova para o


apuramento da verdade. Aqui a verdade que se pretendia era a designada verdade
histórica. O fim único era chegar à verdade independentemente daquilo que fosse o
meio para chegar a essa mesma verdade. Nesse sentido tínhamos uma plena
objetificação da pessoa acusada no contexto do processo.

Os inquisidores, e daí o processo que nasce daqui se designar ter uma estrutura
inquisitória, investigavam. Existindo confissão considera-se que todos os factos
alegados se consideravam provados.

A vantagem deste 1º momento é que nos traz a ideia de procedimento


provatório. Uma das desvantagens é que era o inquisidor que numa primeira fase
investigava, acusava e depois também julgava. Era a mesma pessoa do princípio ao fim
sendo que o arguido não tinha garantias processuais, só tinha de se apresentar ao
processo.

Entramos no iluminismo – século XVIII – os ideais liberais acabam por ter um


forte impacto no âmbito da perseguição penal desde logo porque da mesma maneira
que a partir do seculo XV se começa a ensaiar a ideia da dignidade da pessoa humana e
isso dever ter consequências jurídicas no contexto do direito, a partir do momento que
começa a ser assim quando o Iluminismo se instala o que acontece é que passamos a
ter um cidadão em relação com o estado e já não como um objeto do estado ao serviço
do seu fim. Este cidadão passa a ter uma ajuda, sendo reconhecida a presunção de
inocência. Como estamos em pleno Liberalismo também isto significa que o cidadão
considerado como homem livre e racional tem a mesma responsabilidade provatória
que o estado. Consagra-se a partir daquela ideia do cidadão em relação com o estado,
o princípio da igualdade de armas. Significava no período liberal até ao final do século
XIX uma auto responsabilidade provatória de ambas as partes (arguido e do estado).

Instituiu-se ainda o princípio da acusação, a estrutura acusatória que vemos


consagrada no artigo 32 nº5 da CRP - esta estrutura tem a haver com a ideia de justiça
na administração da justiça - quem julgava tinha que ser imparcial face a quem
investigava. Se for a mesma pessoa que investiga, recolhe a prova e depois vai julgar
essa acusação não vai ser imparcial relativamente ao teor da própria acusação. Tornou-
se evidente que era necessário separar a entidade que acusava da entidade que julgava
e é isto que significa a estrutura acusatória. Em termos liberais podemos discutir se
fazem muito sentido todas as novidades introduzidas no processo penal quanto à sua
estrutura.

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No fim do século XIX começa a verificar-se em termos políticos também um
crescimento dos estados autoritários. É um movimento que se verifica que começa em
finais do século XIX mas que se acentua em parte do século XX. Os regimes autoritários
não podiam aceitar uma estrutura acusatória do processo porque assentavam em ideias
opostas àquelas do Liberalismo.

Os estados autoritários criaram a estrutura mista – tem elementos basilares da


estrutura acusatória complementada com traços característicos da estrutura
inquisitória. Eliminou-se o princípio da igualdade de armas como estatuto do arguido.
Continuávamos a ter o Ministério Público a ser responsável pela fase da investigação
que ainda hoje se designa como a fase inquisitória sendo que havia uma coisa que se
designou como instrução preparatória em que era o juiz que depois dizia ao Ministério
Público se acusava ou não. Vamos buscar ao santo ofício a ideia de ter de se recolher
provas. Formalmente começa-se com uma fase de investigação – fase inquisitória. A
verdade material é uma verdade que não é a qualquer custo, é uma verdade que tem
que ser mantida dentro das limitações pelo respeito dos valores essenciais, direitos
fundamentais dos cidadãos.

Na estrutura do processo o que se tentou foi fazer um equilíbrio entre a tutela


da verdade (interesse do estado) e a garantia dos direitos dos cidadãos.

Temos de perceber quais são os deveres de prova de cada um dos intervenientes


processuais.

Artigo 340º do CPP – este artigo vem dizer que o juiz investiga, ordena provas.
Atribui-se outra implicação em termos provatórios à presunção de inocência onde o
ónus da prova compete ao estado, este é que tem de reunir provas suficientes para o
arguido deixar de ter a presunção de inocência.

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07/10/2021

Sumário:

3. Princípios gerais do processo penal

3.1. Ordenação dos princípios fundamentais de processo penal

3.2. Princípios relativos à promoção processual

3.2.1. Princípio da oficialidade

3.2.1.1. Crimes públicos, semi-públicos e particulares

3.2.1. Princípio da Legalidade

3.2.2. Princípio da legalidade da promoção processual

3.2.2.1. Afloramentos de soluções de oportunidade

3.2.3. Princípio da acusação

3.2.3.1. A vinculação temática (o objecto do processo:


remissão)

3.3. Princípios de prossecução processual

3.3.1. Princípio da investigação

3.3.2. Princípio do contraditório

3.3.3. Princípio da suficiência

Aula:

Os princípios em processo penal alem de terem a utilidade pratica para a


integração de lacunas, eles estão em todo o processo penal, so percebemos as normas
se percebermos que essas mesmas normas são como são porque já passaram pelo filtro
dos diversos princípios do processo penal.

Os princípios servem de grau para a compreensão das normas.

16
Sistematização dos princípios é pensada de forma quadripartida:

• Promoção – (OLA) Principio da oficialidade, legalidade e acusação

o É a pergunta que se dirige ao processo penal quando se quer saber


quem deve dar origem ao processo penal, por exemplo se é
entidade publica ou privada.

• Prossecução – Principio Contraditório, investigação, suficiência e


celeridade e concentração

• Prova – verdade material,

• Forma – (POI) publicidade, oralidade, imediação

Isto procura responder á pergunta de quem deve ter o impulso processual, como
deve ser a dinâmica processual, como deve ser produzida a prova e como se deve
orientar em termos de forma.

Artigo 219º nº1 da CRP (Ao Ministério Público compete representar o Estado e
defender os interesses que a lei determinar, bem como, com observância do disposto
no número seguinte e nos termos da lei, participar na execução da política criminal
definida pelos órgãos de soberania, exercer a acção penal orientada pelo princípio da
legalidade e defender a legalidade democrática)

‘’Se não passares a processo penal eu mato-te’’ ficamos cheios de medo, mas
com asar não passamos e a professora cumpre a sua promessa e mata, Rita irmã da Ana
também aluna de processo penal, Rita acaba por ter medo, como privados a professora
não seria punida, não faria sentido o inicio do processo ficar na indepencia do processo
penal.

Artigo 48º do CPP (O Ministério Público tem legitimidade para promover o


processo penal, com as restrições constantes dos artigos 49.º a 52.º). O impulso inicial
por regra é de uma entidade publica.

17
Artigo 53.º

(Posição e atribuições do Ministério Público no processo)

1 - Compete ao Ministério Público, no processo penal, colaborar com o tribunal


na descoberta da verdade e na realização do direito, obedecendo em todas as
intervenções processuais a critérios de estrita objectividade.

2 - Compete em especial ao Ministério Público:

a) Receber as denúncias, as queixas e as participações e apreciar o


seguimento a dar-lhes;

b) Dirigir o inquérito;

c) Deduzir acusação e sustentá-la efectivamente na instrução e no


julgamento;

d) Interpor recursos, ainda que no exclusivo interesse da defesa;

e) Promover a execução das penas e das medidas de segurança.

Principio da oficialidade

Artigo 48º do CPP (O Ministério Público tem legitimidade para promover o


processo penal, com as restrições constantes dos artigos 49.º a 52.º)

Não dá uma resposta completa. Diferentes danosidade – no fundo a pena para


um homicídio é totalmente diferente à ofensas á integridade física, temos uma
diferenciação de danosidades, esta reflete no contexto penal e na natureza processoal
dos crimes, que é outra das linhas que é feita a diferencidade entre esta danosidade
social.

Não conseguimos perceber a natureza processual dos crimes se não formos ao


código penal.

Artigo 131º do CP (Quem matar outra pessoa é punido com pena de prisão de 8
a 16 anos)

Artigo 143º do CP (1 - Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa é


punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa. 2 - O procedimento
criminal depende de queixa, salvo quando a ofensa seja cometida contra agentes das
forças e serviços de segurança, no exercício das suas funções ou por causa delas. 3 - O
tribunal pode dispensar de pena quando: a) Tiver havido lesões recíprocas e se não tiver
provado qual dos contendores agrediu primeiro; ou b) O agente tiver unicamente
exercido retorsão sobre o agressor)

18
Artigo 181º do CP (1 - Quem injuriar outra pessoa, imputando-lhe factos, mesmo
sob a forma de suspeita, ou dirigindo-lhe palavras, ofensivos da sua honra ou
consideração, é punido com pena de prisão até 3 meses ou com pena de multa até 120
dias. 2 - Tratando-se da imputação de factos, é correspondentemente aplicável o
disposto nos n.os 2, 3 e 4 do artigo anterior)

Artigo 188º do CP (Procedimento criminal 1 - O procedimento criminal pelos


crimes previstos no presente capítulo depende de acusação particular, ressalvados os
casos: a) Do artigo 184.º; e b) Do artigo 187.º, sempre que o ofendido exerça autoridade
pública; em que é suficiente a queixa ou a participação. 2 - O direito de acusação
particular pelo crime previsto no artigo 185.º cabe às pessoas mencionadas no n.º 2 do
artigo 113.º, pela ordem neste estabelecida)

Crimes semipúblicos – necessitam de queixa. Significa que o primeiro impulso já


não é do ministério publico, passa a ser do particular, sem essa queixa da pessoa
ofendida o ministério publico não pode dar inicio ao processo penal por falta de
legitimidade. Só que uma vez com a queixa na mão o ministério pode prosseguir com o
processo penal sem a intervenção do particular (artigo 49º do CPP)

Crimes particulares – intervenção particular, depende de acusação particular.


Artigo 50º do CPP, neste caso o ministério publico não tem legitimidade própria, o
impulso inicial é do particular e também o impulso sucessivo também é do mesmo. Isto
resulta ao artigo 68º nº2 da CRP + artigo 295º do CPP.

Este princípio é limitado no caso dos crimes semipúblicos, esta legitimidade é


limitada pelo impulso do particular, é a exceção á regra do caso dos crimes particulares,
já que neste o ministério não tem legitimidade para iniciar ou seguir. O artigo 50º do
CPP configura uma verdadeira exceção do princípio.

Artigo 219º nº1 da CRP + artigo 48º do CPP

Artigo 119.º alínea B) do CPP (Nulidades insanáveis - Constituem nulidades


insanáveis, que devem ser oficiosamente declaradas em qualquer fase do
procedimento, além das que como tal forem cominadas em outras disposições legais: b)
A falta de promoção do processo pelo Ministério Público, nos termos do artigo 48.º,
bem como a sua ausência a actos relativamente aos quais a lei exigir a respectiva
comparência)

19
Princípio da legalidade

Deve haver ou não margem de decisão, discricionariedade, se posso optar se


quero ou não iniciar o processo penal.

Em muitos ordenamentos o próprio ministério publico é politicamente


magistrado e não há muita diferenciação entre advogados e procurador. Trabalham com
uma logica de oportunidade, o ministério publico tem discricionariedade quanto ao
impulso inicial, se vir que ganha mais em proteger um agente do crime menor para
apanhar um maior, ele tem legitimidade para isso.

Nós não temos esse sistema, temos totalmente o oposto, o ministério publico
não tem margem de decisão quanto ao impulso inicial, a ideia deste principio é algo que
deve nos agradar a todos, todos os arguidos devem ser perseguidos criminalmente.

Artigo 262º nº2 do CPP – Não há margem de manobra para o ministério publico,
se ele sabe de um crime tem de abrir inquérito.

Em obediência á lei sempre que o ministério publico sabe de um crime ele deve
de abrir inquérito.

Artigo 283º nº1 do CPP (Se durante o inquérito tiverem sido recolhidos indícios
suficientes de se ter verificado o crime e de quem foi o seu agente, o Ministério Público,
no prazo de 10 dias, deduz acusação contra aquele).

Principio da legalidade

• Impulso inicial – 262º nº2 do CPP – o ministério não tem grande hipótese

• Impulso sucessivo - o ministério publico pode:

▪ Principio da oportunidade - ele faz o balanço se deve


seguir outro caminho. Não temos esse principio, temo é
no contexto do impulso sucessivo afloramentos do
pricnipio da oportunidade.

• 280º do CPP

• 281º do CPP

o Acusar – 283º do CPP

o Arquivar – 277º do CPP

Justiça permial ou negociada – vemos logo no impulso inicial dos EUA. Estão a
tentar abrir mas espaço para a negociação. Artigo 374º alínea b) do CP.

20
Principio da acusação

Artigo 32º nº5 da CRP (O processo criminal tem estrutura acusatória, estando a
audiência de julgamento e os actos instrutórios que a lei determinar subordinados ao
princípio do contraditório)

Quem manda no processo penal é o ministério publico, não os tribunais, os


tribunais so pode intervir para aquilo que é chamado. Existe a notícia de crime de furto
e quanto mais investiga vê que o fruto está ligada a trafico de droga que respetivamente
está envolvido trafico de pessoas e branqueamento de capitais e denota que ali ocorreu
um homicídio, o ministério publico não tem barreiras, investiga até ter tudo, o tribunal
é chamado sobre os crimes que o ministério publico impos. A jurisdição não intervém
oficiosamente no contexto da investigação.

O tribunal não pode por iniciativa própria investigar crimes, so pode intervir na
sequência do chamamento do ministério publico, implica também que o tribunal so
pode investigar dentro do objeto previamente dado pelo ministério público, significa
ainda que quem define o objeto do processo é o ministério públicos.

O tribunal não pode investigar oficiosamente.

Artigo 309º – fase de instrução

Artigo 359º - fase de julgamento

21
Persecução Processual

Princípio da Investigação

É o outro lado do princípio da acusação.

É um princípio que se prende com o poder funcional que é atribuído ao juiz ou


tribunal no contexto da perseguição da descoberta da verdade material. É um poder
funcional, não têm opção quanto ao seu exercício, trata-se de um dever para o tribunal.

Quem investiga é o ministério publico, ele tem o dever funcional.

• Inquérito – MP

• Instrução – JIC

• Julgamento – Tribunal

As escutas telefónicas têm que ser autorizadas pelo JIC. Não se pretende que o
JIC interfira a logica inquisitória do MP. Da mesma maneira quando o MP intervém nas
outras fases, não pode questionar a prova do tribunal, por exemplo.

Temos a logica que conseguir a verdade material, não de complementar ou


contraria a investigação do MP, é permitir que se toma uma decisão com elementos
suficientes.

Artigo 288º nº4 do CPP (O juiz investiga autonomamente o caso submetido em


instrução, tendo em conta a indicação, constante do requerimento da abertura de
instrução, a que se refere o n.º 2 do artigo anterior)

Artigo 340º

Artigo 327º nº2

22
Princípio do Contraditório

Pode ter duas variações:

• Em sentido amplo (Direito á audição ou defesa) – Artigo 32º nº5 da CRP – diz
que a pessoa tem o direito a ser ouvida relativamente a qualquer decisão que a
afeta

• Em sentido estrito – No contexto específico da prova

Artigo 194 nº4 do CPP (A aplicação referida no n.º 1 é precedida de audição do


arguido, ressalvados os casos de impossibilidade devidamente fundamentada, e pode
ter lugar no acto de primeiro interrogatório judicial, aplicando-se sempre à audição o
disposto no n.º 4 do artigo 141.º)

Artigo 327º do CPP (1 - As questões incidentais sobrevindas no decurso da audiência


são decididas pelo tribunal, ouvidos os sujeitos processuais que nelas forem
interessados. 2 - Os meios de prova apresentados no decurso da audiência são
submetidos ao princípio do contraditório, mesmo que tenham sido oficiosamente
produzidos pelo tribunal) – Tem uma vantagem de dois em um, refere-se ao
contraditório no sentido amplo no nº1 e do sentido estrito no nº2.

O contraditório não pode ter a mesma aplicação em todas as fases do processo, a


sua logica é uma logica crescente, quanto mais andamos na dinâmica processual mais o
contraditório se afirma, se quisermos o contraditório na fase de inquérito não pode ter
a mesma relevância que a de instrução.

Exemplo: Escutas telefónicas e terrorismo, perguntar o que a pessoa acha de lhe


fazer escutas telefónicas.

Como é evidente nem todos os princípios podem ter a mesma intensidade em todos
os momentos do processo penal.

Artigo 61º nº1 alínea a e b

Nós vemos que esta ideia de ser ouvido é fundamental para todos os sujeitos em
sentido geral, mas principalmente para o arguido. Em sentido amplo faz parte do
estatuto processual do arguido

Artigo 298º; 289º nº1; 301º nº2; 327º

23
14/10/2021

Sumário:

Grupos dos princípios:

a) princípios relativos à promoção processual: Princípios da oficialidade, da


legalidade e da acusação.

b) princípios relativos à prossecução processual: Princípios do contraditório, da


investigação, da suficiência e da celeridade e concentração.

c) princípios relativos à prova: Princípios da verdade material, da livre apreciação


da prova, do in dubio pro reo.

d) princípios relativos à forma.

Aula:

Princípio Suficiência

Artigo 7.º - CPP

(Suficiência do processo penal)

1 - O processo penal é promovido independentemente de qualquer outro e nele


se resolvem todas as questões que interessarem à decisão da causa.

2 - Quando, para se conhecer da existência de um crime, for necessário julgar


qualquer questão não penal que não possa ser convenientemente resolvida no processo
penal, pode o tribunal suspender o processo para que se decida esta questão no tribunal
competente.

3 - A suspensão pode ser requerida, após a acusação ou o requerimento para


abertura da instrução, pelo Ministério Público, pelo assistente ou pelo arguido, ou ser
ordenada oficiosamente pelo tribunal. A suspensão não pode, porém, prejudicar a
realização de diligências urgentes de prova.

4 - O tribunal marca o prazo da suspensão, que pode ser prorrogado até um ano
se a demora na decisão não for imputável ao assistente ou ao arguido. O Ministério
Público pode sempre intervir no processo não penal para promover o seu rápido
andamento e informar o tribunal penal. Esgotado o prazo sem que a questão prejudicial
tenha sido resolvida, ou se a acção não tiver sido proposta no prazo máximo de um mês,
a questão é decidida no processo penal.

Artigo 7º do CPP - o processo penal não se encontra subordinado às outras


formas de processo. O tribunal decide não só as questões relativas ao processo penal
como também questões que não sejam do foro penal e que sejam suscitadas e daí a
designação de o processo penal ser autossuficiente.

24
Artigo 227º do CP (exemplo)

Questões prejudiciais – tendo natureza diversa do processo penal constituem


uma condição necessária para o processo penal. As suas características são constituir
um antecedente jurídico concreto da decisão principal; ser uma questão autónoma da
decisão principal; ser uma questão necessária para a decisão principal.

Ordenação das questões prejudiciais em tipos:

• Questões prejudiciais não penais em processo penal – prejudicialidade


própria, dão origem a um incidente de suspensão (artigo 7º nº2 do CPP)
– efetivamente haverá suspensão do processo penal quando a questão
não possa ser convenientemente decidida no processo penal.

• Questões prejudiciais penais em processo não penal – por exemplo a


falsificação em processo civil

• Questões prejudiciais penais em processo penal – por exemplo a


existência de um crime de favorecimento pessoal; injúria (artigo 181º do
CP)

As condições objetivas de punibilidade e as questões prejudiciais (distinção):

• Condições: verificação em processo anterior de uma determinada condição


como o caso da insolvência ser declarada dolosa para depois se dar início ao
processo penal. No âmbito das questões prejudiciais não é obrigatório que o
processo penal se suspensa quando está pendente uma questão prejudicial o
que quer dizer que a devolução não é obrigatória porque coloca em causa o
princípio da suficiência, a boa administração da justiça penal e a segurança
jurídico penal. Regime do artigo 7 nº2 a nº4.

• Artigo 7º nº3 – tese que é falada pelo Prof. Figueiredo dias, tese do
conhecimento obrigatório que se traduz numa ideia de que no processo penal
não devem ser suscitados obstáculos à concentração e à continuidade do
processo penal ainda com a intenção da obtenção da verdade material.

• Artigo 7º nº4 – quando o tribunal considere que é pertinente para resolver


aquela matéria, o tribunal suspende o processo. Esta suspensão so pode
demorar 1 ano. Findo o prazo de suspensão se não houver decisão será o tribunal
penal a decidir. A exceção a esta exceção é no caso de decorrido um mês se a
ação não tiver sido proposta poderá também a decisão ser decidida no tribunal
penal.

25
Princípio da celeridade e concentração:

Artigo 32º nº2 da CRP – justifica-se pelo interesse que as partes têm em termos
que a justiça não se arraste pelo tempo de forma demorosa. Dessa forma consegue
obter de forma não demorosa a realização dos fins do direito e as próprias sanções
penais.

Artigo 105º, 108º e 107º A do CPP

Relativamente ao princípio da concentração determina uma prossecução tanto


quanto possível continuada de todos os termos e atos processuais devendo complexo
destes em todas as fases do processo desenvolver-se na medida do possível
concentradamente seja no espaço seja no tempo. Noção do Prof. Figueiredo Dias.

Este princípio ganha particular relevância na fase da audiência e julgamento. A


audiência de julgamento é uma que se desdobra em várias sessões. Este principio da
nos a ideia de que a audiência de julgamento tem de ser contínua e pode ser
interrompida na medida do estritamente necessário.

Artigo 328º nº1 e nº2

26
Prova processual:

Princípio da verdade material:

Vai-nos dizer que o tribunal tem um poder de investigar independentemente das


contribuições que a acusação e a defesa deiam.

No âmbito do processo o ministério publico contribui com a sua parte, tenta


demonstrar ao tribunal que o arguido praticou aquele crime, mas o arguido poderá ser
lhe também favorável dar o seu contributo.

O juiz pode e deve investigar dentro daquilo que é objeto do processo.

Há um determinado facto que poderá eventualmente ser relevante para que o


juiz forme a sua convicção, o juiz tendo esta informação pode pegar nela e decidir
investigar. Está em busca da verdade material.

Opõe-se à verdade formal – no âmbito do processo civil o juiz só se pronuncia


sobre factos que sejam trazidos para o processo, a verdade material que vigora no
âmbito do processo penal corresponde a uma reconstrução hipotética dos factos
trazidos para o processo.

No contexto do processo penal vigora a ideia da verdade material que visa apurar
a verdade histórica. Isto implica em primeiro lugar que a defesa, ou seja, o arguido não
tenha de produzir prova.

Não compete ao arguido provar ao tribunal que não cometeu determinado


crime. Compete ao ministério investigar e ao juiz decidir. Mas o arguido não tem de
provar que não cometeu um determinado tipo de crime.

Em segundo lugar, a confissão não basta para que exista uma condenação e
neste sentido temos o artigo 344 do CPP.

Artigo 164 nº2 e 165 nº1 – existem prazos para se cumprir, o juiz oficiosamente
pode ordenar a junção desse documento porque considera que é relevante para a causa.

Neste sentido temos duas vertentes da verdade, a primeira que passa pela
reconstrução histórica das partes e depois uma segunda que vem consagrar os poderes
do juiz de investigar o facto que está naquele momento a ser sujeito a julgamento. no
âmbito do processo penal o ónus não existe, o arguido não tem que fazer prova que não
praticou o crime.

Assim, a verdade material tem um duplo sentido, por um lado é uma verdade
subtraída à influência do comportamento da acusação e da defesa e por outro lado
apesar de não ser uma verdade absoluta é uma verdade judicial prática e não uma
verdade obtida a qualquer custo. É a chamada verdade processualmente válida.

Este princípio tem limitações. Como a produção de prova suplementar após o


encerramento da discussão (artigo 361 nº2). As proibições de prova constantes do
artigo 32 nº8 da CRP e artigo 126 do CPP.

27
Princípio da livre apreciação da prova:

Contrapõe-se ao sistema de prova legal. A prova legal é atribuída um valor à


prova com base em regras legais pré determinadas. Diferentemente no nosso regime
que é da livre apreciação da prova, assenta na ideia de que o juiz pode valorar meios de
prova que são trazidos discricionariamente sempre em obediência ao princípio da
verdade material.

Artigo 127 do CPP – o princípio da livre apreciação da prova implica que o


julgador tenha que fundamentar a formação da sua convicção para então decidir.
Apesar de ter esta liberdade de decidir de que forma vai valorar o juiz tem que
fundamentar. Ou seja, o juiz está vinculado às regras da ciência, da logica e da
argumentação. O juiz pode recorrer às regras da experiência própria. A experiência é
importante ao ponto de ajudar na produção de decisão de uma forma mais correta.
Regras de prova - uma prova indireta é uma prova que se obtém de um outro facto.

Exceções ou limitações deste princípio – exemplo de que o juiz até pode ser filho
de uma pessoa que domine o assunto que se está a tratar, pode acontecer e não
acontecer e so perceber de direito. O que acontece é que o juiz como não tem
experiência para conhecer de um determinado assunto vai ter que estar obrigado
àquela que será a opinião dos outros. Na regra da livre apreciação da prova, a exceção
é a prova pericial, mas também a prova pericial tem uma exceção porque o juiz do
processo pode-se afastar daquele que é o entendimento do perito nas convicções
determinadas no artigo 163 nº2 com o 344º e 169º. Estes meios não fazem prova plena,
podem ser contrariados e por isso não bastam a si próprios.

Princípio do in dúbio pro reu:

Artigo 32 nº2 da CRP – todo e qualquer arguido é inocente até que exista uma
sentença transitada em julgado sendo que em caso de dúvida esta irá operar em
benefício do reu. O juiz pode não conseguir formular uma convicção, isto beneficia o
reu. Este princípio quer dizer que compete não ao arguido, mas sim ao estado produzir
prova que o arguido praticou efetivamente aquele crime. A prova é não dúbia, não deixa
dúvidas. Essa prova tem de ser suficiente para ilidir o princípio da presunção de
inocência. Este princípio constitui também um limite à livre apreciação do julgador. Este
princípio in dúbio pro reu vale em relação à prova da questão de facto e não quanto à
questão de direito.

28
21/10/2021

Sumário:

3.5. Princípios relativos à forma

3.5.1. Princípio da publicidade

3.5.2. Princípio da oralidade e imediação Interligações entre os diferentes


princípios

Aula:

Forma processual:

Princípio da publicidade:

O processo penal está incluído na lógica do artigo 206º da CRP. O que a


constituição obriga é que se aplique em relação às audiências quando estamos no
culminar da administração da justiça.

Todo o processo penal tem de ser público? – Não.

Por regra, as audiências acabam também por estar sob alçada desse mesmo
princípio e se existirem situações em que as audiências são fechadas isso tem a haver
com o artigo 18 nº2 da CRP. Estamos a discutir se a própria extensão do processo penal
deve ser publica.

Artigo 86 nº1 do CPP – vai para além do artigo 206º da CRP, artigo 86º nº6 do
CPP – ideia do direito da assistência: remete-nos para a ideia de se assistir aos atos
processuais que sejam considerados públicos.

Direito na razão – permite a quem assiste aos atos escrever sobre eles.

Por fim temos o princípio do direito de consulta – é uma lógica de equilíbrio


aquilo que significa o processo ser publico e atender-se a interesses de outras pessoas.

Limitações - É possível relativamente a um processo penal pedir segredo de


justiça.

Princípio da oralidade:

Princípio que privilegia a forma oral sobre a forma escrita. Esta ideia tem a haver
que primeiro com o tipo de processo que é o processo penal.

No processo penal na vida real o artigo 96º nº1 do CPP indica o princípio da
oralidade dos atos, vem dizer que os atos devem ser orais. Este princípio prende-se com
outro princípio que é o princípio da livre apreciação da prova (artigo 127º do CPP).

29
Princípio da imediação:

Um outro princípio que vem associado ao princípio da oralidade é o princípio


da imediação – obriga a que exista uma espécie de relação direta entre quem julga e os
elementos que vão servir para formar a convicção de quem julga.

No fundo, o princípio da imediação significa que devo ter contacto direto que
servem como base à minha decisão. Significa que o juiz tem de ter acesso direto, tem de
conseguir relacionar-se com os elementos fundamentalmente de prova, mas que vão
servir à sua convicção.

O juiz tem de ter uma relação próxima com os participantes no processo. Tem de
ouvir os peritos por exemplo.

O legislador criou um sistema (artigo 357º do CPP) - casos em que as declarações


anteriormente prestadas podem ser lidas, ou seja, é uma limitação ao princípio da
imediação.

O artigo 357º nº1 do CPP tem duas situações – é o próprio arguido a pedir a
leitura dessas declarações; b) – sempre que o arguido preste declarações em frente a
alguma autoridade judiciária e saiba as implicações de prestar essas declarações, estas
declarações podem vir a ser lidas mais tarde em sede de audiência em julgamento. no
fundo, o que o legislador em 2013 fez foi precisamente por uma questão de eficácia do
processo penal abrir portas no sentido de serem aproveitadas declarações do arguido
prestadas em momento anterior, no entanto, impedindo que valham como confissões
por exemplo.

Artigo 127º do CPP – o nosso processo penal parte do pressuposto que o juiz é
uma pessoa com sensibilidade, é uma pessoa que sabe pensar, e portanto, só faz prova
aquilo que o juiz quiser que faça prova.

Estes princípios funcionam como ferramenta do juiz, mas também como


limitação.

Artigo 139 do CPP – vem-nos dizer que se alguém pode dizer “o Alberto disse,
viu o Fernando a matar o Joaquim”, o tribunal não pode ouvir o Alberto, tem de ir ouvir
aquele que viu diretamente. Isto é o princípio da imediação.

Artigo 127º do CPP – problema da prova indireta – a prova indireta tem uma
característica que é muito usada na prática – sabemos que precisamente porque tem
contacto direto com a prova, o juiz tem ampla margem de discricionariedade, mas o juiz
pode também fazer uma coisa que é tem um facto e relativamente a esse facto tem
elementos provatórios. Este facto foi uma fotografia que mostra que no dia x estava a
chover. Ele pega neste facto e noutro facto que é x estava no sítio y na hora h, o juiz
infere através da conjugação do facto 1 e do facto 2 o terceiro facto e diz que x ficou
molhado (Facto 3), não tem elementos provatórios, não tem testemunhas não tem
nada. É um juízo de inferência que ele faz da conjugação de 1 ou mais factos para criar
outro facto. Ele pode fazer isto porque ele pode recorrer às regras da experiência.

30
Os crimes têm uma parte subjetiva. A prova indireta é útil, mas pode ser perigosa
porque o facto não tem elementos provatórios.

Por vezes existem situações que podem ser vistas como manifestação de um
princípio e como limitação de outro.

Artigo 361º do CPP – pode ser visto de duas maneiras

Princípio da suficiência – é o único princípio absoluto em processo penal, não


admite limitações nem exceções.

A imediação pela sua natureza é um princípio de forma.

31
28/10/2021

Sumário:

4.1. Conceitos fundamentais

4.2. O Tribunal

4.2.1. Organização judiciária

4.2.2. Competência territorial

4.2.3. Competência funcional

4.2.4. Competência material

Aula:

Problemática dos sujeitos

Livro I - Artigo 8º e ss do CPP

Sujeitos:

• Tribunal – sujeito processual em sentido material

• MP – sujeito processual em sentido material

• Arguido – grande sujeito processual

• Vítima - A vítima desde logo em PP nem se quer tem um poder


intervenção ativo, a vitima só como vitima – artigo 67º do CPP, é
um interveniente do processo que tem direito a informação e a
dar informação – a pessoa que não quer ser sujeito ativo no
processo, por exemplo, a vitima de violência domestica, porque
não querem estar presentes na frente do agressor – não pode
fazer nada a não ser receber e dar informação

• Assistente - O assistente é a pessoa que sofreu o crime, mas quis


ser sujeito processual

• Partes civis – Têm poderes de intervenção que são


exclusivamente limitados a questão civil. Não é sujeito
processual

32
Todos os intervenientes são sujeitos processuais?

O que caracteriza um sujeito processual? Poderíamos considerar que são


sujeitos, é o facto de estar presente no código. É o facto de poder influenciar, se não
tiver em termos matérias não pode ser considerado um sujeito processual.

Artigo 71º - princípio da adesão – o pedido de indeminização civil fundado na


prática de um crime é deduzido no processo penal. Mas pode haver casos em que isto
pode não acontecer, por exemplo, negligencia médica, acidentes de viação, etc, onde
estão inclusos seguradores, aqui há uma parte civil porque a seguradora não pode
intervir na parte penal, mas sim na parte civil.

Tribunais

As normas constitucionais gerais a todos os tribunais aplicam-se – artigo 208º da


CRP

Princípio da independência (Os tribunais são independentes e apenas estão


sujeitos à lei) – Artigo 203º da CRP - os tribunais têm de ser independentes de poderes
políticos, tem a haver com a ideia de parecer independente, por isso um juiz não pode
julgar a sua mãe por exemplo. Também está presente na Convenção Europeia dos
Direitos Humanos.

Princípio da irresponsabilidade – Artigo 216º da CRP - o tribunal não responde


pelas decisões que toma, isto pressupõe que não violou a lei que tomou a decisão, mas
imaginando que um tribunal de 1ª instância declara o arguido culpa, o arguido interpõe
recurso e o tribunal da relação acaba por absolver o arguido, tendo sido absolvido não
pode pedir uma indeminização ao juiz ou ao tribunal de 1ª instância.

Artigo 216.º - CRP

(Garantias e incompatibilidades)

1. Os juízes são inamovíveis, não podendo ser transferidos, suspensos,


aposentados ou demitidos senão nos casos previstos na lei.

2. Os juízes não podem ser responsabilizados pelas suas decisões, salvas as


excepções consignadas na lei.

3. Os juízes em exercício não podem desempenhar qualquer outra função pública


ou privada, salvo as funções docentes ou de investigação científica de natureza jurídica,
não remuneradas, nos termos da lei.

4. Os juízes em exercício não podem ser nomeados para comissões de serviço


estranhas à actividade dos tribunais sem autorização do conselho superior competente.

5. A lei pode estabelecer outras incompatibilidades com o exercício da função de


juiz.

33
Tipo de funções dos tribunais – artigo 211º da CRP, Lei (prof) e artigo 8º do CPP
– os tribunais competentes para julgar as causas penais são os tribunais judiciais
(comuns), não são tribunais especializados.

Princípio do juiz natural – Eu não posso criar tribunais ad hoc para julgar casos
penais, tem que estar determinado segundo as regras de atribuição de competências. É
uma espécie de uma imposição constitucional no sentido de existir regras de atribuição
de competências previamente exigidas.

Nós temos uma espécie de uma matriz

Territorial

Funcional

Material

Competência territorial – competência atribuída em razão do lugar. Temos de


pensar em 2 coisas, em 1º lugar nós estamos a discutir partindo do pressuposto que
Portugal tem jurisdição, o que implica que já tenha feito previamente a aplicação da lei
penal no espaço, depois disto é que podemos ver qual o tribunal territorialmente
competente, 2º lugar, nós até para conseguirmos respeitar o principio do juiz natural,
temos de observar também 2 coisas, não basta eu ter regras de competência, elas têm
que ser claras, por um lado é o principio da determinabilidade e o principio de fixação
de competências.

34
Competência territorial

Artigo 19.º - CPP

(Regras gerais)

1 - É competente para conhecer de um crime o tribunal em cuja área se tiver


verificado a consumação. – VS o artigo 7º do CP, a diferença é que neste artigo é só a
consumação, por exemplo um tiro de gaia para o porto, o tribunal seria o de porto.
Existem casos que não faz sentido manter este princípio geral, daqui surge o nº2.

2 - Tratando-se de crime que compreenda como elemento do tipo a morte de


uma pessoa, é competente o tribunal em cuja área o agente actuou ou, em caso de
omissão, deveria ter actuado. – Escolhe o lugar da ação e não o ugar da consumação, é
o critério para os crimes de sangue, é um critério especial para esses crimes e enquanto
norma especial, se houver um crime de sangue aplicamos este artigo. Não são só crimes
de homicídio, também são os de terrorismo, roubo, entre outros. Está redigido de forma
ampla, significa que se aplica os crimes por ação, omissão, dolosos e negligentes, todos
os crimes que tenham como elemento do tipo a morte de uma pessoa são julgados em
reção do lugar da ação.

3 - Para conhecer de crime que se consuma por actos sucessivos ou reiterados,


ou por um só acto susceptível de se prolongar no tempo, é competente o tribunal em
cuja área se tiver praticado o último acto ou tiver cessado a consumação. – Procura um
critério de conexão de crimes duradouros ou permanentes.

4 - Se o crime não tiver chegado a consumar-se, é competente para dele


conhecer o tribunal em cuja área se tiver praticado o último acto de execução ou, em
caso de punibilidade dos actos preparatórios, o último acto de preparação. – Estabelece
como critério de conexão o lugar onde foi praticado o último ato de execução.

Artigo 20º, 21º e 22º do CPP – no casos destes crimes estamos perante situações
que a normalidade não se verificou, uma coisa que eles partilham é que diferentemente
do que acontece no artigo 19º do CPP, se olharmos para o nº3 do 20º (Para qualquer
caso não previsto nos números anteriores é competente o tribunal da área onde
primeiro tiver havido notícia do crime), o nº2 do 21º (Se for desconhecida a localização
do elemento relevante, é competente o tribunal da área onde primeiro tiver havido
notícia do crime) e o nº1 do 22º (Se o crime for cometido no estrangeiro, é competente
para dele conhecer o tribunal da área onde o agente tiver sido encontrado ou do seu
domicílio. Quando ainda assim não for possível determinar a competência, esta
pertence ao tribunal da área onde primeiro tiver havido notícia do crime), o legislador
prevê um critério de conexão principal, como também para ter certeza que cobre tudo
prevê o critério supletivo que é o lugar onde primeiro tiver havido notícia do crime.

A exceção é o artigo 23º do CPP (Se num processo for ofendido, pessoa com a
faculdade de se constituir assistente ou parte civil um magistrado, e para o processo
devesse ter competência, por força das disposições anteriores, o tribunal onde o
magistrado exerce funções, é competente o tribunal da mesma hierarquia ou espécie
com sede mais próxima, salvo tratando-se do Supremo Tribunal de Justiça)

35
Exercício:

Porto Gaia

A B

131º Critério de ação

203º Critério da consumação

210º nº1 Critério da consumação

210º nº3 Critério da ação

Competência funcional – encontramos manifestações de competência


funcional, artigo 17º e 18º (tribunal de execução de penas) CPP, artigo 11º nº3 alínea c),
uma das funções do STJ é uniformizar a jurisprudência, a função de julgar em termos
gerais dos tribunais judiciais, artigo 8º do CPP, que diz em termos de julgar causas penais
a competência funcional cabe a competência dos tribunais judiciais. Esta competência é
uma competência simples,

Competência material - estabelece por 1 de 2 vias, por função do objeto do


processo, ou em razão da natureza do processo (gravidade), existem 2 situações em que
competência material é definida pela qualidade do arguido, artigo 11ºnº3 e 12ºnº3 do
CPP, alínea a). O PR vai ser julgado pelo STJ, artigo 12º trata-se estar em causa um
magistrado, vai ser julgado pelo tribunal da relação (são casos pontuais)

Tribunal de Instrução Criminal (TIC) Tribunal de Execução de Penas (TEC), tribunal


judicial (TJ)

TIC TJ TEC

3º instância - STJ

2º instância – Tribunal da relação

1º instância – Tribunal da comarca

36
Tribunal de Júri

O tribunal de júri não funciona em permanência, só funciona se alguém quiser a


sua intervenção, mesmo que se trate de um crime ou caso que esteja dentro da
competência deste tribunal neste caso o que acontece é que se ninguém pedir a sua
intervenção vai cair noutro. Nós temos aquilo que se designa de competência material
própria (tem a ver com tipos de crimes que caia automaticamente neste tribunal
independentemente de uma moldura penal, aqui temos por exemplo o artigo 13º nº1
do CPP, são crimes independentemente da respetiva moldura penal caiem na
competência própria do tribunal de júri) + artigo 207º da CRP

Artigo 207.º - CRP

(Júri, participação popular e assessoria técnica)

1. O júri, nos casos e com a composição que a lei fixar, intervém no julgamento
dos crimes graves, salvo os de terrorismo e os de criminalidade altamente organizada,
designadamente quando a acusação ou a defesa o requeiram.

2. A lei poderá estabelecer a intervenção de juízes sociais no julgamento de


questões de trabalho, de infracções contra a saúde pública, de pequenos delitos, de
execução de penas ou outras em que se justifique uma especial ponderação dos valores
sociais ofendidos.

3. A lei poderá estabelecer ainda a participação de assessores tecnicamente


qualificados para o julgamento de determinadas matérias.

Artigo 13.º - CPP

(Competência do tribunal do júri)

1 - Compete ao tribunal do júri julgar os processos que, tendo a intervenção do


júri sido requerida pelo Ministério Público, pelo assistente ou pelo arguido, respeitarem
a crimes previstos no título iii e no capítulo i do título v do livro ii do Código Penal e na
Lei Penal Relativa às Violações do Direito Internacional Humanitário.

2 - Compete ainda ao tribunal do júri julgar os processos que, não devendo ser
julgados pelo Tribunal singular e tendo a intervenção do júri sido requerida pelo
Ministério Público, pelo assistente ou pelo arguido, respeitarem a crimes cuja pena
máxima, abstractamente aplicável, for superior a oito anos de prisão.

3 - O requerimento do Ministério Público e o do assistente devem ter lugar no


prazo para dedução da acusação, conjuntamente com esta, e o do arguido, no prazo do
requerimento para abertura de instrução. Havendo instrução, o requerimento do
arguido e o do assistente que não deduziu acusação devem ter lugar no prazo de oito
dias a contar da notificação da pronúncia.

5 - O requerimento de intervenção do júri é irretractável.

37
Tribunal Coletivo

É composto por 3 juizes em que um deles é presidente.

Artigo 14º nº1 do CPP - Este tribunal tem coincidência com o tribunal de júri na
matéria do objeto, não obstante este tribunal tem outra competência material própria
em razão do objeto – artigo 14º nº2 alínea a) do CPP, diz-nos que o TC é igualmente
competente para julgar crimes dolosos, agravados pelo resultado, quando o elemento
d tipo for a morte de uma pessoa (artigo 19º nº2 do CPP), há uma diferença nestes 2
artigos, aplica-se a crimes de sangue negligente (no artigo 19ºnº2 do CPP) o 14º nº2
alínea a) do CPP não se aplica estes crimes de sangue negligente, o âmbito de aplicação
não é o mesmo, não é por ser crime de sangue que é da competência do TC

Artigo 14.º - CPP

(Competência do tribunal colectivo)

1 - Compete ao tribunal colectivo, em matéria penal, julgar os processos que, não


devendo ser julgados pelo tribunal do júri, respeitarem a crimes previstos no título iii e
no capítulo i do título v do livro ii do Código Penal e na Lei Penal Relativa às Violações
do Direito Internacional Humanitário.

2 - Compete, ainda, ao tribunal colectivo julgar os processos que, não devendo


ser julgados pelo tribunal singular, respeitarem a crimes:

a) Dolosos ou agravados pelo resultado, quando for elemento do tipo a


morte de uma pessoa; ou – em razão do objeto

b) Cuja pena máxima, abstratamente aplicável, seja superior a 5 anos de


prisão mesmo quando, no caso de concurso de infrações, seja inferior o
limite máximo correspondente a cada crime. – até 8 anos – em razão da
natureza

No contecto da competência material, em razão do objeto prefere sempre a


competenicaia material em razão material do processo

38
Tribunal singular

Este tribunal tem apenas 1 juiz, este tribunal tem competência material própria
estabelecida no artigo 16º nº2 alínea a) do CPP, são crimes contra a autoridade
publica, são crimes que pertencem ao tribunal singular. Este tribunal tem competência
em termos do processo (alínea b)), relativamente a todos os crimes sejam puníveis
igual ou até 5 anos.

Há um aspeto que é uma manifestação da legalidade do processo penal que


significa que não há grande discricionariedade, todos têm de fazer o que a lei manda,
mas temos de dar margens de negociação (diminuição de pena (vantagem do MP em
relação ao arguido)). O artigo 16º nº3 do CPP trabalha com a designação da
competência em concreto e quem vai determinar a competência do tribunal é o
próprio MP.

O MP tem um caso a frente e olhando para o caso concreto, o MP determina


quanto aquele caso concreto a competência do TS.

Artigo 16.º

Competência do tribunal singular

1 - Compete ao tribunal singular, em matéria penal, julgar os processos que por


lei não couberem na competência dos tribunais de outra espécie.

2 - Compete também ao tribunal singular, em matéria penal, julgar os processos


que respeitarem a crimes:

a) Previstos no capítulo II do título V do livro II do Código Penal; ou

b) Cuja pena máxima, abstractamente aplicável, seja igual ou inferior a


cinco anos de prisão.

c) (Revogado.)

3 - Compete ainda ao tribunal singular julgar os processos por crimes previstos


no artigo 14.º, n.º 2, alínea b), mesmo em caso de concurso de infracções, quando o
Ministério Público, na acusação, ou, em requerimento, quando seja superveniente o
conhecimento do concurso, entender que não deve ser aplicada, em concreto, pena de
prisão superior a cinco anos.

4 - No caso previsto no número anterior, o tribunal não pode aplicar pena de


prisão superior a cinco anos.

39
NOTA:

TJ

8 anos

TC

5 anos

TS

Voltando á matriz

131º do CP – A (Porto) mata B (pena de 8 a 16 anos)

Territorial Critério da Ação – 19º nº2 – Tribunal do Porto

Funcional Artigo 8º - Tribunal Judicial

Material Competência material própria – artigo 14º/2 a) – Tribunal Coletivo

Concluindo: Tribunal Judicial Coletivo do Porto

40
Em termos de conexão

Crime de homicídio (ataque de bomba – vários crimes de homicídio)

A cada crime corresponde um processo, so que há crimes que precisam de outros


crimes, aqui o processo penal quer ser eficaz, o nosso CPP tem o artigo 24º que
concentra num tribunal aquilo que seria a competência de vários.

Estabelece um sistema de congregação de vários crimes em apenas um tribunal,


e é obrigatório (Há conexão de processos quando). Isto significa um duplo problema,
vamos perceber que os processos vão crescendo.

Eu posso descobrir já durante o processo que afinal está a decorrer outro


processo e as coisas estão relacionadas, acontece que a conexão é obrigatória, mas so
opera obrigatoriamente se os processos se encontrarem na mesma fase processual (não
pode haver conexão quando um esta em julgamento e outro em investigação). Na alínea
a) o elemento de ligação é objetivo, o mesmo agente - vários crimes

Restantes alíneas - O elemento de ligação não é objetivo, mas subjetivo aqui


temos um único crime e vários agentes. Ligação subjetiva e objetiva, alínea e) e d), o
exemplo de crime de desobediência.

Artigo 24.º - CPP

(Casos de conexão)

1 - Há conexão de processos quando:

a) O mesmo agente tiver cometido vários crimes através da mesma acção ou


omissão;

b) O mesmo agente tiver cometido vários crimes, na mesma ocasião ou lugar,


sendo uns causa ou efeito dos outros, ou destinando-se uns a continuar ou ocultar os
outros;

c) O mesmo crime tiver sido cometido por vários agentes em comparticipação;

d) Vários agentes tiverem cometido diversos crimes em comparticipação, na


mesma ocasião ou lugar, sendo uns causa ou efeito dos outros, ou destinando-se uns a
continuar ou ocultar os outros; ou

e) Vários agentes tiverem cometido diversos crimes reciprocamente na mesma


ocasião ou lugar.

2 - A conexão só opera relativamente aos processos que se encontrarem


simultaneamente na fase de inquérito, de instrução ou de julgamento.

41
Resumos complementares:

Problemática dos sujeitos:

Artigo 8º e ss do CPP

O grande sujeito do processo penal é o arguido.

Todos os intervenientes são sujeitos processuais? O que caracteriza o sujeito


processual? – podemos considerar que em termos formais seria o facto de estar previsto
no livro do código de processo penal, no entanto, é o facto de ele ter uma palavra a dizer
no processo, quem não tem esse poder de influência em termos materiais não pode ser
considerado um verdadeiro sujeito processual

A vítima e as partes civis – a vítima desde logo nem sequer tem o poder de
intervenção ativo, só como vítima (artigo 67º A do CPP) é um interveniente de processo
que tem direito a ter e a dar informação.

As vítimas de violência doméstica não querem estar em confronto direto com o


agressor. Vítimas de trafico de pessoas. em 2015 criou-se uma figura que era uma
tentativa de resolver dois problemas, se o ofendido naos e constituísse assistente era
como se fosse um extra, mesmo que fossem tomadas medidas que afetassem a pessoa
se essa medida fosse revogada a vítima não era informada, era tratada como qualquer
uma testemunha. Criou-se o estatuto intermedio, esta vítima do artigo 67º A do CPP só
tem o direito a ser informada, não pode interpor um recurso coisa que o assistente pode
fazer.

Da mesma maneira, as partes civis também constam deste artigo, tem poder de
intervenção, mas são exclusivamente limitados à questão civil.

Tribunal, ministério publico, arguido, assistente – sujeitos processuais em


sentido material, qualquer um deles tem a possibilidade de conformar a dinâmica
processual de forma ativa.

42
Tribunais

As normas constitucionais relativas aos tribunais que são gerais, tenho de ter em
linha de conta o artigo 203º e 216º da CRP porque o primeiro consagra o princípio da
independência e o segundo o princípio da irresponsabilidade.

O princípio da independência diz-nos que os tribunais têm de ser independentes


de outros poderes políticos, no fundo não posso ter o governo a dizer ao tribunal a
decisão que ele tem que tomar. A segunda refração do princípio da independência tem
a ver com a ideia de parecer independente.

O tribunal tem que se comportar de forma imparcial relativamente à causa que


julga dai ele não poder julgar o seu irmão ou a sua mãe. Esta ideia do parecer imparcial
está também consagrada na convenção europeia dos direitos humanos. Mesmo que
Portugal não tivesse normas próprias teria de respeitar esta norma.

A segunda questão é a ideia de irresponsabilidade – estamos aqui a falar no


sentido de o tribunal não responder pelas decisões que toma, esta ideia de não
responder pelas decisões que toma pressupõe que o tribunal tomou a decisão com
respeito das normas legais em vigor, mas imaginando que um tribunal de 1ª instância
condena o arguido, o arguido interpõe recurso e o tribunal de 2ª instância acaba por
absolver o arguido, discorda do tribunal que o condenou.

O arguido não pode agora ir pedir uma indemnização ao tribunal e 1ª instância


nem pode ele ser chamado à atenção desde que tenha tomado a decisão dentro dos
paradigmas legais.

Tipo de funções que os tribunais desempenham – regra transversal (artigo 211


da CRP, artigo 8 do CPP) – os tribunais competentes para julgar as causas legais são os
tribunais comuns. As causas penais não são julgadas em tribunais especializados. A
partir daqui começamos a ter que perceber que temos de respeitar um princípio quando
estamos a estabelecer regras para determinar qual é que é o tribunal competente e esse
princípio é o princípio do juiz natural. Este princípio basicamente vem-nos dizer que não
posso criar tribunais ad hoc, o tribunal tem de estar previamente determinado através
das respetivas regras da distribuição da competência. O processo penal tem que ter
regras que digam que acontecendo aquele facto jurídico penalmente relevante tenho
de saber se fica aqui no Porto se vai para Coimbra, para onde é que ele vai. Nessa
perspetiva o respeito a este princípio é uma espécie de uma imposição até
constitucional no sentido de existirem regras de distribuição de competência
previamente definidas.

3 tipos de competência e analisar as respetivas regras:

• Territorial

• Funcional

• Material

43
Competência territorial:

A competência territorial é a competência que é atribuída em razão do lugar.


Quando pensamos nesta competência temos de pensar em duas coisas: aqui estamos a
discutir partindo do pressuposto que Portugal tem jurisdição, posso determinar em
concreto qual o tribunal português que vai julgar o que implica que tenha feito
previamente a aplicação da lei penal no espaço.

Depois de fazer esta operação, chegar à conclusão de que Portugal tem jurisdição
é que podemos ver o tribunal territorialmente competente.

A segunda coisa é que nós até para conseguirmos respeitar o princípio do juiz
natural temos de observar também duas coisas: não basta eu ter regras de competência,
essas regras têm de ser claras, tem de perceber qual o tribunal concretamente
competente, ou seja, isto por um lado é o princípio da determinabilidade e por outro
lado o principio da fixação da competência.

Artigo 19º nº1 do CPP ≠ artigo 7º do CP – a ideia de consumação que consta


deste artigo é uma ideia formal não inclui o exaurimento, a partir do momento que
estejam verificados os elementos tipos a partir desse momento temos consumação em
sentido formal. Existem casos em que não faz tanto sentido manter este princípio geral.

Artigo 19 nº2 do CPP – é uma regra especial em que faz a operação inversa ao
artigo 19 nº1 do CPP, escolhe como critério de conexão o lugar da ação e não o lugar da
consumação.

É um critério especial para os crimes de sangue, enquanto norma especial, se


houver um crime de sangue aplica-se este nº2. Diz-nos que os crimes que tenham como
elemento do tipo a morte de uma pessoa não são só os crimes de homicídio, mas
também terrorismo por exemplo.

Artigo 210º nº3 do CP – crime de roubo.

Da maneira como está redigido o artigo 19 nº2 do CPP está redigido de forma
ampla, significa que se aplica aos crimes por ação, omissão, dolosos como aos crimes
negligentes, ou seja, todos os crimes independentemente da sua subjetividade, que
tenham como elemento do tipo a morte de uma pessoa devem ser julgados no lugar da
ação.

Também temos necessidade de perceber que a partir do momento em que o


nosso critério de conexão principal é o lugar da consumação temos de arranjar uma
solução para os casos em que não exista consumação.

Quando não há consumação não encontrava o tribunal territorialmente


competente dai termos o artigo 19 nº4 do CPP, estabelece como critério o lugar onde
foi praticado o último ato de execução.

Se olharmos para o nº1, nº2 ou nº4 estão em causa o que se designa de crimes
instantâneos.

44
Se for um crime de sequestro não é um crime instantâneo.

O artigo 19 nº3 do CPP procura um critério de conexão que permita a


concretização no tribunal competente nos atos de execução prolongada.

Artigo 20º, 21º e 22º do CPP – no caso de qualquer um dos três estamos perante
situações em que aquilo que é a normalidade não se verificou, crimes de localização
desconhecida, crimes praticados no estrangeiro, neste último caso temos de ter
verificado que Portugal tem competência para julgar.

No caso das embarcações fala-se como critério de conexão o porto para o qual a
embarcação se dirige.

Uma coisa que os 3 partilham é que diferentemente daquilo que acontece no


artigo 19º, em que vimos consumação, ação, último ato de execução se olharmos para
o nº3 do artigo 20º, nº2 do artigo 21º e o nº1 do artigo 22º, chegamos à conclusão que
o legislador não só prevê um critério de conexão principal como também para ter a
certeza que cobre tudo prevê um critério de conexão supletivo que é o lugar onde
primeiro tiver havido noticia do crime. Ideia de tentar abranger todas as possibilidades
e obter um critério concreto que me permita dizer é o tribunal daquele sítio.

A lógica de regulamentação destes 3 artigos é mais a “julgar pelo seguro”.

Exceção: artigo 23º do CPP – só consigo perceber como funciona a exceção se já


tiver aplicado as regras gerais. A é mulher de um juiz que trabalha na comarca do porto,
e B deu um tiro a A no porto. O tribunal territorialmente competente é o tribunal do
Porto. E o processo até pode ir parar a um juiz que não tem nada a haver com o marido
de A só que como está a ser julgado la um processo em que o marido de A pode entrar
no processo.

O que o artigo 23º nos diz é que quando um magistrado possa vir a intervir no
processo não quer dizer que ele venha a intervir diretamente, pode intervir como parte
interessada, como assistente, o processo tem de sair desse tribunal. Pelo artigo 19 nº2
o processo ia parar ao Porto para perceber se tínhamos de aplicar a regra do artigo 23º
e aplicando este artigo vai para a comarca imediatamente ao lado, ia ser julgada na
comarca de gaia. Este artigo é objetivamente um desvio ao princípio do juiz natural. De
qualquer das maneiras o que esta em causa com mais força é a garantia do princípio da
imparcialidade.

Competência funcional:

Tem a haver com o exercício de funções processuais especificas. Encontramos


manifestações em artigos como o artigo 17º do CPP ou no contexto do artigo 18º do
CPP. Também conseguimos encontrar tribunais superiores com funções especificas
(artigo 11 nº3 c) do CPP), uma das funções do supremo tribunal de justiça é uniformizar
a jurisprudência. A função mais normal ser a função de julgar em termos gerais. Essa
função está prevista no artigo 8º do CPP que diz que em termos de julgar causas penais
a competência funcional pertence aos tribunais judiciais. A competência funcional é
relativamente simples, tem de ser junta na mesma às outras.

45
Competência material:

Estabelece-se ou em função do objeto do processo ou em razão da natureza do


processo. Existem duas situações em que a competência material o critério de conexão
tem a haver com a qualidade do arguido.

Artigo 11º nº3 e 12º nº3 – o artigo 12º tem a haver com o tribunal da relação,
aqui trata-se de estar em causa um magistrado, se um magistrado começar a dar tiros a
B, esse magistrado vai ser julgado pelo tribunal da relação.

Em termos de competência material, o tribunal júri só funciona se alguém


requerer a sua intervenção. Mesmo que se trate de um crime ou de um caso que esteja
dentro da competência suposta do tribunal e júri, nesse caso de ninguém pedir a sua
intervenção, o caso vai cair noutro tribunal. O tribunal de júri

Temos a competência material própria que profere sempre à competência


material em razão da natureza do processo. A própria tem haver com tipos de crime que
caem na esfera de competência do tribunal. Nós aí temos por exemplo no artigo 13º
nº1 do CPP a referência dos crimes contra a segurança do estado, crimes contra a
humanidade etc que estão previstos no código penal são crimes que
independentemente da respetiva moldura penal caem na competência própria do
tribunal de júri, alem disso temos ainda uma norma na CRP – artigo 207º nº1 da CPP

Tribunal de júri – a competência está no artigo 13 nº1 (artigo 207 da CRP)

Existem muitos outros crimes como o homicídio qualificado, homicídio simples


etc.

A competência material própria nunca esgota nenhum universo de crimes.

Além desta competência qualquer crime desde que a sua moldura penal seja
superior a 8 anos de prisão. Tem competência material em relação da natureza do
processo. Tem a haver com a moldura penal ser mais grave

Este tribunal não funciona sempre. O nº3 do artigo 13º explica quem e quando
pode requerer a intervenção deste tribunal. Ministério publico, assistente e arguido. Se
algum destes sujeitos quiser a intervenção do tribunal júri tem de pedir.

Tribunal coletivo (composto por 3 juízes) – um funciona como presidente e os


outros dois como vogais. O nº1 do artigo 14 do CPP tem uma redação idêntica ao nº1
do artigo 13º. O tribunal coletivo tem em termos materiais em razão do objeto com o
tribunal de júri. Não obstante o tribunal coletivo tem ainda outra competência material
própria em razão do objeto que prefere sempre relativamente a competência material
própria em razão da natureza. Ver artigo 14 nº2 a) do CPP. O âmbito de aplicação do 19
nº2 e do 14 nº2 a) não é exatamente igual. Se for a conduzir perigosamente e atropelar
alguém vou pelo critério especial do 19 nº2 para dizer que é o tribunal do porto
competente mas não posso encaixar no 14 nº2 a). não obstante termos duas normas
especiais para os crimes de sangue o âmbito de aplicação não é exatamente o mesmo.

46
Artigo 14º nº2 b) do CPP – em razão da natureza – moldura penal

Artigo 131º do CP – homicídio doloso – moldura penal de 8 a 16 anos

Tribunal singular (artigo 16º)

Tribunal que tem apenas um juiz. Esse tribunal tem a competência material
própria estabelecida no artigo 16 nº2 a). São os crimes de desobediência, contra a
autoridade pulica, são crimes que em termos de matéria pertencem ao tribunal singular.
Tem competência em termos de natureza do processo relativamente a todos os crimes
que sejam puníveis com pena até ou igual a 5 anos.

Artigo 16º – a pena vai até aos 8 anos de trafico de droga. O MP quer chegar aos
maiores traficantes de droga, quer convencer o traficante que apanhou a colaborar com
ele. O artigo 16 nº3 é diferente porque contrariamente aos restantes trabalha com a
determinação da competência em concreto, naquele caso. Quem vai determinar a
competência do tribunal é o próprio ministério publico. O tribunal singular não tem
competência para julgar alguém com pena superior a 5 anos.

Notas quanto à questão da conexão:

Quando temos uma ação que origina vários crimes, a lógica do processo penal é
que a cada crime corresponde um processo.

Artigo 24º do CPP – concentra num tribunal aquilo que seria a competência
eventualmente de vários. Estabelece um sistema de congregação dos vários crimes num
único processo estabelecendo diversos critérios de conexão. Sistema de concentração
obrigatório.

Nº1 – há conexão quando é imperativo, o código obriga a que se juntem os


processos. Da origem a um duplo problema porque os critérios de conexão são muitos
e a conexão é obrigatória.

Artigo 24º nº1 – tem 5 critérios de conexão relativamente aos quais eu tenho de
juntar os processos.

Só que estabelece um pressuposto para a conexão que está no nº2 – posso


descobrir durante o processo que afinal está a correr um outro processo em que as duas
coisas estão relacionadas. Acontece que a conexão é obrigatória, mas só opera
obrigatoriamente se os processos se encontrarem todos na mesma fase processual.
Requisito de operacionalização da conexão.

Duas primeiras alíneas – há uma ligação subjetiva entre os crimes, ou seja, o


elemento de ligação é o agente.

Nas alíneas seguintes temos outra lógica. O elemento de ligação é objetivo, ou


seja, aí temos um único crime e vários agentes.

Ligação objetiva e ligação subjetiva (alíneas d) e e))

47
04/11/2021

Sumário:

4.2.5. Competência por conexão

4.2.6. Declaração de incompetência e conflitos de competência

4.2.7. Impedimentos, recusas e escusas

4.3. O Ministério Público e os órgãos de polícia criminal

4.3.1. Conceito e natureza

Aula:

Competência material tem preferência sobre a competência territorial:

Interessam fundamentalmente os artigos 13º, 14º e 16º do CP.

Tribunal singular: Artigos: 16º nº2 alínea a do CP, 137º do CP, 16º nº3 do CP;

Tribunal de júri: Artigos: 240º do CP, 308º do CP, 13º nº1 do CP, 202º do CP, 14º
nº2 do CP;

Tribunal coletivo: Artigos: 14º nº1 do CP, 14º nº2 alínea b, 240º do CP, 207º da
CRP;

O artigo 13º nº1 do CP, vem nos dizer que são crimes contra o estado, contra a
integridade pessoal e fulcral – tribunal de júri.

O artigo 14º nº1 do CP, todos os que estão previstos no tribunal de júri, artigo
240º e ss do CP – tribunal coletivo. * artigo 207º da CRP.

O artigo 14º nº2 alínea a do CP – crimes de sangue dolosos ou agravados pelo


resultado.

A intervenção do tribunal de júri tem de ser requerida pelos sujeitos.

No tribunal singular, artigo 16º nº2 alínea a da CP.

Artigo 207º da CRP:

Nº1 – O tribunal coletivo é o responsável para julgar os crimes de terrorismo e


de criminalidade organizada. Não costuma ser o tribunal de júri a julgar, com medo de
represálias.

Um crime de homicídio por negligencia – vai para o tribunal singular.

Para o tribunal de júri – artigo 13º nº2 – (+ 8 anos de prisão).

48
Para o tribunal coletivo – artigo 14º nº2 alínea b – (+ 5 anos de prisão).

Para o tribunal singular – artigo 16º nº2 alínea b – (até 5 anos).

Quadro:

Tribunal Singular Tribunal Coletivo Tribunal de Júri

240º e ss do CP
Crimes de desobediência 240º e ss do CP
308º e ss do CP
16º nº2 alínea a) 308º e ss do CP
13º nº1
Competência material própria

20º

Terrorismo e criminalidade
organizada (pode causar
insegurança ao júri)

207º da CRP

Crimes de sangue dolosos ou


agravados pelo resultado
137º do CPP
14º nº2 alinea a) do CPP

16º nº2 alinea b) 13º nº2


Competência material

14º nº2 alinea b)


quanto á natureza

Igual ou inferior a 5 anos de Superior a 8 anos de pena de


Superior a 5 anos de prisão
pena de prisão prisão

16º nº3

210º do CP

49
Conexão:

Tendo em conta é que o ideal é que o juiz saiba a história toda, o artigo 24º
estabelece a logica da conexão obrigatória.

Quando temos conexão de processos fica um só processo, a consequência é a


unificação. – Artigo 29º do CPP

Temos critérios objetivos, subjetivos e mistos.

Artigo 24 do CPP – por razoes de uma melhor justiça, quando há um caso com
vários crimes, este caso é melhor apreciado se o juiz souber a historia toda do que o
fragmento de cada crime. Por isto mesmo, o legislador teve em conta que o juiz conheça
a história toda. Este artigo estabelece a logica da conexão obrigatória.

Quando temos conexão de processo fica um único processo. A consequência da


conexão é a unificação do processo (artigo 24 do CPP). Remissão para o artigo 29 do
CPP.

Artigo 24.º - CPP

(Casos de conexão)

1 - Há conexão de processos quando:

a) O mesmo agente tiver cometido vários crimes através da mesma acção ou


omissão;

b) O mesmo agente tiver cometido vários crimes, na mesma ocasião ou lugar,


sendo uns causa ou efeito dos outros, ou destinando-se uns a continuar ou ocultar os
outros;

c) O mesmo crime tiver sido cometido por vários agentes em comparticipação;

d) Vários agentes tiverem cometido diversos crimes em comparticipação, na


mesma ocasião ou lugar, sendo uns causa ou efeito dos outros, ou destinando-se uns a
continuar ou ocultar os outros; ou

e) Vários agentes tiverem cometido diversos crimes reciprocamente na mesma


ocasião ou lugar.

2 - A conexão só opera relativamente aos processos que se encontrarem


simultaneamente na fase de inquérito, de instrução ou de julgamento.

50
Artigo 29.º

(Unidade e apensação dos processso)

1 - Para todos os crimes determinantes de uma conexão, nos termos das


disposições anteriores, organiza-se um só processo.

2 - Se tiverem já sido instaurados processos distintos, logo que a conexão for


reconhecida procede-se à apensação de todos àquele que respeitar ao crime
determinante da competência por conexão.

Critérios de conexão: temos uma conceção ampla (critérios subjetivos, objetivos


e mistos)

Alíneas a) e b) – o que une os crimes é o agente

Alíneas c) d) e g) – o crime une os agentes

Alíneas f) e e) – vários agentes vários crimes

A partir do momento que a conexão funciona temos de perceber qual vai ser o
tribunal competente para julgar os diferentes crimes.

A conexão não se opera quando um dos tribunais competentes seja de


competência especializada (artigo 26º do CPP) – só se podem conexar processos que
estejam a ser tramitados em tribunal judiciais.

Artigo 27º e 28º – temos 2 critérios distintos. O artigo 27º fala de tribunais de
diferente espécie, o artigo 28 fala de tribunais da mesma comarca. O artigo 27º aponta
para a logica da competência material.- o artigo 28º aponta para uma logica de
competência territorial. Podemos ter por um lado 2 tribunais coletivos da comarca do
porto a julgar dois crimes que podem ser conexos. Por isso mesmo temos de perceber
como fazemos uso de cada um dos critérios.

Artigo 27.º - CPP

(Competência material e funcional determinada pela conexão)

Se os processo conexos devessem ser da competência de tribunais de diferente


hierarquia ou espécie, é competente para todos o tribunal de hierarquia ou espécie mais
elevada.

51
Artigo 28.º - CPP

Competência determinada pela conexão

Se os processos devessem ser da competência de tribunais com jurisdição em


diferentes áreas ou com sede na mesma comarca, é competente para conhecer de
todos:

a) O tribunal competente para conhecer do crime a que couber pena mais


grave;

b) Em caso de crimes de igual gravidade, o tribunal a cuja ordem o arguido


estiver preso ou, havendo vários arguidos presos, aquele à ordem do qual
estiver preso o maior número;

c) Se não houver arguidos presos ou o seu número for igual, o tribunal da


área onde primeiro tiver havido notícia de qualquer dos crimes.

(A) Tribunais competentes que são de diferentes especiais (TS, TC, TJ), sendo este
o caso se estiver a funcionar o tribunal coletivo do porto e o singular de gaia, o que vai
ser competente para julgar os 2 crimes, vai ser competente o tribunal coletivo do porto,
no exemplo acima referido.

Hipótese A – tribunais competentes de diferente espécie, os tribunais de


diferente espécie podem ser singulares, coletivos ou de júri. Se tiver a funcionar o
tribunal coletivo do porto e o tribunal singular de gaia, o tribunal competente para julgar
os dois crimes acaba por ser o tribunal coletivo do porto porque é de espécie mais
elevada.

52
Artigo 30.º - CPP

(Separação dos processos)

1 - Oficiosamente, ou a requerimento do Ministério Público, do arguido, do


assistente ou do lesado, o tribunal faz cessar a conexão e ordena a separação de algum
ou alguns processos sempre que:

a) Houver na separação um interesse ponderoso e atendível de qualquer


arguido, nomeadamente no não prolongamento da prisão preventiva;

b) A conexão puder representar um grave risco para a pretensão punitiva


do Estado, para o interesse do ofendido ou do lesado;

c) A conexão puder retardar excessivamente o julgamento de qualquer


dos arguidos; ou

d) Houver declaração de contumácia, ou o julgamento decorrer na


ausência de um ou alguns dos arguidos e o tribunal tiver como mais
conveniente a separação de processos.

2 - A requerimento de algum ou alguns dos arguidos, o tribunal pode ainda tomar


a providência referida no número anterior quando outro ou outros dos arguidos tiverem
requerido a intervenção do júri.

3 - O requerimento referido na primeira parte do número anterior tem lugar nos


oito dias posteriores à notificação do despacho que tiver admitido a intervenção do júri.

Enquanto a conexão é oficiosa porque a lei assim obriga, a separação de


processos não é oficiosa.

Artigo 137º do CP – TS. Em sede de julgamento vê se descobrir que não há


negligencia, mas sim houve um plano para matar a vítima, logo não é homicídio simples,
mas pode ser simples ou qualificado, se o tribunal singular manter a competência, fica
com um problema nas mãos.

Quer por errónea de competência, quer por desenvolvimento que ocorre em


processo, por isso é que temos os artigos 32º e 33º em que o tribunal se pode declarar
incompetente nestes casos. De notar que a questão de competência dos tribunais e nos
termos do artigo 119º do CPP e é uma nulidade insanável. Por isso é que temos 2
momentos de invocação de incompetência do tribunal, e fazendo a distinção de
competência material e territorial.

Se for um tribunal incompetente a julgar casos isso significa que esse julgamento
não pode ser aproveitado

53
Distinção entre competência material e territorial

Artigo 32 nº1 – prazo amplo para conseguir resolver o problema antes que o
mesmo já não seja suscetível de resolução. Enquanto n houver solução definitiva o
processo possa passar para o tribunal competente e conseguir-se uma decisão valida

Artigo 32º nº1 do CPP – a incompetência do tribunal pode ser invocada ou


declarada até ao trânsito em julgado, até ao momento em que a decisão se torne
definitiva. Se tiver um tribunal incompetente vou ter uma má decisão judicial. Face as
vicissitudes do processo penal, o artigo 32º nº1 dá um prazo para se resolvas dentro dos
termos a decisão.

Diferença substancial entre o teor do nº1 do artigo 32 e do nº2 – referencia


expressa no nº2 à competência territorial quer pela formulação da alínea e) do artigo
119 do CPP porque esta alínea vem nos dizer que a incompetência dos tribunais é uma
nulidade insanável. O nº2 do artigo 32º fala nos em competência territorial. O legislador
vem dizer que se a competência territorial não for arguida até aos momentos indicados
no nº2 do artigo 32º fica resolvida por si mesma, já não pode ser invocada. O legislador
admite o julgamento de um tribunal incompetente em termos territoriais.

Mas encontramos uma distinção entre o teor do nº1 e 2 do artigo 32º do CPP.
Porque a alínea e) do artigo 119º diz-nos que a incompetência dos tribunais é nulidade
insanável sem prejuízo do artigo 32º

O legislador vem nos dizer que se a competência territorial não for arguida até
aos momentos indicados nº2 do artigo 32º fica resolvida por si mesma, já não pode ser
invocada. Enquanto o legislador não admite em ter mateiras, mas entende em termos
territoriais. Basicamente o juiz diz que o vicio não é tão grave em competência territorial
combinado o artigo 32º e o artigo 119º alínea e) do CPP.

O elemento principal é a diferença qualitativa material (32º nº1) e a competência


territorial (32º nº2) em conjugação do artigo 119º alinea e) d) CPP.

Problema dos conflitos de competência

Artigo 34.º

(Casos de conflito e sua cessação)

1 - Há conflito, positivo ou negativo, de competência quando, em qualquer


estado do processo, dois ou mais tribunais, de diferente ou da mesma espécie, se
considerarem competentes ou incompetentes para conhecer do mesmo crime
imputado ao mesmo arguido.

2 - O conflito cessa logo que um dos tribunais se declarar, mesmo oficiosamente,


incompetente ou competente, segundo o caso. - Sendo dois tribunais que estão em
conflito a solução é que em conflito positivo um deles tem de se declarar incompetente,
se for um conflito negativo um deles tem de se declarar competente.

54
Tramitação dos conflitos de competência

Tem que haver a precessão do conlfito.

Artigo 35º e 36º

Problema dos impedimentos, recusas e escusas

Temos 2 blocos e cada uma parte de pressupostos antagónicos

Artigo 29º a 42º – impedimentos

Artigo 43º a 45º – recusas e escusas

O juiz tem que ser imparcial (impedimentos) e de parecer imparcial (recusas e


escusas).

Garanta da imparcialidade – prevê razoes processuais (artigo 40º) de


impedimentos do juiz e razoes pessoas (artigo 39º)

O juiz tem de ser imparcial e parecer imparcial. As recusas e escusas tratam o


parecer imparcial. São vertentes diferentes da imparcialidade.

O regime dos impedimentos porque a própria constituição impõe a


imparcialidade dos juízes são as normas que visam garantir que os juízes em concreto,
a pessoa em concreto que vai julgar é imparcial.

Estabelece-se um regime de impedimento, ou seja, causas que determinam que


a pessoa em concreto que esteja naquela situação não pode ser juiz naquela causa. Isto
quer dizer que o código de processo penal estabelece um regime, garantia da
imparcialidade prevendo quer razoes pessoais de impedimento do juiz como razoes
processuais.

Razões pessoais (artigo 39) – razoes pessoais em função das relações pessoais
do próprio juiz (ser pai, filho, casado) e temos razoes processuais porque o juiz pode
quer em função de razoes pessoais (familiares com interesse no processo) quer porque
ele próprio participou naquele processo como procurador por exemplo, por essas razoes
esse juiz está impedido de ser juiz no caso concreto. O tribunal continua a ser
competente, o juiz x é que já não pode ser juiz naquele processo. As razoes processuais
estão no artigo 40º – estabelece o caso de intervenção do juiz no processo.

Enquanto que no contexto do artigo 39º o que está em causa é o juiz não ser
imparcial porque tem relações pessoais esteve envolvido no processo de outro ângulo,
no artigo 40 é porque o juiz enquanto juiz já esteve em contacto com o processo. O juiz
não pode ter nenhuma opinião formada, não pode ter tido contacto com o processo.
Não pode ter visto, ouvido, conhecido. Tem de entrar sem opiniões previas de qualquer
espécie formadas.

Estas normas dos artigos 39 e seguintes servem para podemos partir do princípio
da confiança do juiz porque sabemos que os juízes estão sujeitos a estes impedimentos.

55
O regime dos impedimentos parte do pressuposto que se garante a confiança do
papel do juiz. Isto quer dizer que o juiz deve ter ele próprio ser o primeiro a declarar-se
impedido (artigo 41º nº1 do CPP). Todavia temos juízes que não se lembram ou acham
que não interessa.

Artigo 42º – quer seja por impulso do juiz quer seja através de pedido, a
declaração do juiz que se encontra impedido é uma decisão final e definitiva.

Se o juiz não se considerar impedido, essa decisão é suscetível de recurso para o


supremo tribunal de justiça.

No bloco dos impedimentos partimos do pressuposto da confiança.

O cenário muda quando entramos no regime dos artigos 43º e ss

Pressuposto da suspeita (recusas e escusas) – regime excecional

Quando estamos aqui significa que não se verifica nenhuma das causas de
impedimento explicitadas elencada nos impedimentos.

Só posso pedir a recusa de um juiz. Um juiz nunca pode pedir a sua recusa, só
pode pedir a sua escusa. As razoes são as mesmas. Haver um motivo grave e sério que
possa por em causa a questão da imparcialidade do juiz.

Nº1, 2 e 3 do artigo 43º – recusa

Nº4 – escusa O juiz pede a sua escusa ao tribunal imediatamente superior.

Em primeiro lugar a razão que leva ao pedido de recusa ou ao pedido de escusa


é o mesmo tipo de razão. Haver motivo grave e sério que possa pôr em causa a confiança
na imparcialidade do juiz. Suspeita-se da imparcialidade do juiz, tem-se dúvidas se o juiz
poderá ou não ser imparcial.

Artigo 54º – estende estes pedidos aos magistrados do ministério publico

56
Impedimento

Artigo 39.º

(Impedimentos)

1 - Nenhum juiz pode exercer a sua função num processo penal:

a) Quando for, ou tiver sido, cônjuge ou representante legal do arguido,


do ofendido ou de pessoa com a faculdade de se constituir assistente ou
parte civil ou quando com qualquer dessas pessoas viver ou tiver vivido
em condições análogas às dos cônjuges;

b) Quando ele, ou o seu cônjuge, ou a pessoa que com ele viver em


condições análogas às dos cônjuges, for ascendente, descendente,
parente até ao 3.º grau, tutor ou curador, adoptante ou adoptado do
arguido, do ofendido ou de pessoa com a faculdade de se constituir
assistente ou parte civil ou for afim destes até àquele grau;

c) Quando tiver intervindo no processo como representante do


Ministério Público, órgão de polícia criminal, defensor, advogado do
assistente ou da parte civil ou perito; ou

d) Quando, no processo, tiver sido ouvido ou dever sê-lo como


testemunha.

2 - Se o juiz tiver sido oferecido como testemunha, declara, sob compromisso de


honra, por despacho nos autos, se tem conhecimento de factos que possam influir na
decisão da causa. Em caso afirmativo verifica-se o impedimento; em caso negativo deixa
de ser testemunha.

3 - Não podem exercer funções, a qualquer título, no mesmo processo juízes que
sejam entre si cônjuges, parentes ou afins até ao 3.º grau ou que vivam em condições
análogas às dos cônjuges.

57
Artigo 40.º

(Impedimento por participação em processo)

Nenhum juiz pode intervir em julgamento, recurso ou pedido de revisão relativos


a processo em que tiver:

a) Aplicado medida de coacção prevista nos artigos 200.º a 202.º;

b) Presidido a debate instrutório;

c) Participado em julgamento anterior;

d) Proferido ou participado em decisão de recurso anterior que tenha


conhecido, a final, do objeto do processo, de decisão instrutória ou de
decisão a que se refere a alínea a), ou proferido ou participado em
decisão de pedido de revisão anterior.

e) Recusado o arquivamento em caso de dispensa de pena, a suspensão


provisória ou a forma sumaríssima por discordar da sanção proposta.

Isto serve para partir do princípio da confiança no juiz. O regime dos


impedimentos parte do pressuposto desta confiança, quer dizer que o juiz deve ser ele
próprio o primeiro a se declarar impedido – artigo 41º nº1 do CPP (O juiz que tiver
qualquer impedimento nos termos dos artigos anteriores declara-o imediatamente por
despacho nos autos).

Artigo 42º do CPP – essa decisão de não se considerar impedido, esta decisão é
suscetível de recurso para o STJ (direto)

58
Recusas e escusas

Artigo 43.º

(Recusas e escusas)

1 - A intervenção de um juiz no processo pode ser recusada quando correr o risco


de ser considerada suspeita, por existir motivo, sério e grave, adequado a gerar
desconfiança sobre a sua imparcialidade. – Logica de recusa

2 - Pode constituir fundamento de recusa, nos termos do n.º 1, a intervenção do


juiz noutro processo ou em fases anteriores do mesmo processo fora dos casos do artigo
40.º – Logica de recusa

3 - A recusa pode ser requerida pelo Ministério Público, pelo arguido, pelo
assistente ou pelas partes civis. – Logica de recusa

4 - O juiz não pode declarar-se voluntariamente suspeito, mas pode pedir ao


tribunal competente que o escuse de intervir quando se verificarem as condições dos
n.os 1 e 2. – Logica da escusa

5 - Os actos processuais praticados por juiz recusado ou escusado até ao


momento em que a recusa ou a escusa forem solicitadas só são anulados quando se
verificar que deles resulta prejuízo para a justiça da decisão do processo; os praticados
posteriormente só são válidos se não puderem ser repetidos utilmente e se se verificar
que deles não resulta prejuízo para a justiça da decisão do processo.

Parte do pressuposto da suspeita e é um regime excecional. São situações


disitntas, ou seja, significa que não se verifica nenhuma das caussas de impedimento
previstas nos impedimentos, ou seja, surge uma qualquer razão que não está elencad
nos impedimentos e que determina que a existência deste razão gera ou pode gerar
suspeitas sobre a imparcialidade do juiz.

Exemplo: o Juiz namorou com a arguida (sem viver junto), para todos os efeitos
não está impedido por lei, mas pode ser posto em causa a sua imparcialidade.

Pede-se a recusa de um juiz e o juiz pede a sua escusa.

A razão que leva ao pedido de escusa ou recusa é o mesmo tipo de razão, haver
motivo grave e serio que possa por em causa a imparcialidade do juiz – suspeita-se da
imparcialidade do juiz.

Quando temos um destes motivos depois temos que fazer a tramitação objetiva,
artigo 44º e 45º

O tribunal não muda, apenas muda o juiz.

59
Artigo 44.º

(Prazos)

O requerimento de recusa e o pedido de escusa são admissíveis até ao início da


audiência, até ao início da conferência nos recursos ou até ao início do debate
instrutório. Só o são posteriormente, até à sentença, ou até à decisão instrutória,
quando os factos invocados como fundamento tiverem tido lugar, ou tiverem sido
conhecidos pelo invocante, após o início da audiência ou do debate.

Artigo 45.º

(Processo e decisão)

1 - O requerimento de recusa e o pedido de escusa devem ser apresentados,


juntamente com os elementos em que se fundamentam, perante:

a) O tribunal imediatamente superior;

b) A secção criminal do Supremo Tribunal de Justiça, tratando-se de juiz


a ele pertencente, decidindo aquela sem a participação do visado.

2 - Depois de apresentados o requerimento ou o pedido previstos no número


anterior, o juiz visado pratica apenas os actos processuais urgentes ou necessários para
assegurar a continuidade da audiência.

3 - O juiz visado pronuncia-se sobre o requerimento, por escrito, em cinco dias,


juntando logo os elementos comprovativos.

4 - O tribunal, se não recusar logo o requerimento ou o pedido por


manifestamente infundados, ordena as diligências de prova necessárias à decisão.

5 - O tribunal dispõe de um prazo de 30 dias, a contar da entrega do respectivo


requerimento ou pedido, para decidir sobre a recusa ou a escusa.

6 - A decisão prevista no número anterior é irrecorrível.

7 - Se o tribunal recusar o requerimento do arguido, do assistente ou das partes


civis por manifestamente infundado, condena o requerente ao pagamento de uma soma
entre seis e vinte UCs.

60
Artigo 47.º

(Extensão do regime de impedimentos, recusas e escusas)

1 - As disposições do presente capítulo são aplicáveis, com as adaptações


necessárias, nomeadamente as constantes dos números seguintes, aos peritos,
intérpretes e funcionários de justiça.

2 - A declaração de impedimento e o seu requerimento, bem como o


requerimento de recusa e o pedido de escusa, são dirigidos ao tribunal ou ao juiz de
instrução perante os quais correr o processo em que o incidente se suscitar e são por
eles apreciados e imediata e definitivamente decididos, sem submissão a formalismo
especial.

3 - Se não houver quem legalmente substitua o impedido, recusado ou escusado,


o tribunal ou o juiz de instrução designam o substituto.

Artigo 54.º

(Impedimentos, recusas e escusas)

1 - As disposições do capítulo VI do título I são correspondentemente aplicáveis,


com as adaptações necessárias, nomeadamente as constantes dos números seguintes,
aos magistrados do Ministério Público.

2 - A declaração de impedimento e o seu requerimento, bem como o


requerimento de recusa e o pedido de escusa, são dirigidos ao superior hierárquico do
magistrado em causa e por aquele apreciados e definitivamente decididos, sem
obediência a formalismo especial; sendo visado o procurador-geral da República, a
competência cabe à secção criminal do Supremo Tribunal de Justiça.

3 - A entidade competente para a decisão, nos termos do número anterior,


designa o substituto do impedido, recusado ou escusado.

61
Ministério Publico

Lei 68/2019 – Estatuto do ministério publico

Artigo 219 - CRP

(Funções e estatuto)

1. Ao Ministério Público compete representar o Estado e defender os interesses


que a lei determinar, bem como, com observância do disposto no número seguinte e
nos termos da lei, participar na execução da política criminal definida pelos órgãos de
soberania, exercer a acção penal orientada pelo princípio da legalidade e defender a
legalidade democrática.

2. O Ministério Público goza de estatuto próprio e de autonomia, nos termos da


lei.

3. A lei estabelece formas especiais de assessoria junto do Ministério Público nos


casos dos crimes estritamente militares.

4. Os agentes do Ministério Público são magistrados responsáveis,


hierarquicamente subordinados, e não podem ser transferidos, suspensos, aposentados
ou demitidos senão nos casos previstos na lei.

5. A nomeação, colocação, transferência e promoção dos agentes do Ministério


Público e o exercício da acção disciplinar competem à Procuradoria-Geral da República.

Artigo 48 - CPP

(Legitimidade)

O Ministério Público tem legitimidade para promover o processo penal, com as


restrições constantes dos artigos 49.º a 52.º

Não tem funções judiciais, partilha com outras entidades, no artigo 1º alínea d)
do CPP, partilha com o juiz o estatuto de autoridade judiciaria, só que nós não
conseguimos colocar na mesma teoria de separação de poderes, não pode ser integrada
no poder executivo, é um órgão de administração de justiça.

O ministério publico encontra-se estruturado, organizado numa logica diferente


que na justa medida se encontra organizado numa subordinação hierárquica, ou seja,
tem que obedecer a instruções e ordem das procuradorias.

Sendo uma magistratura tem uma autonomia tactita, técnica e de atuação no


contexto de lógica de obediência. A autonomia do ministério publico ó existe porque a
atuação do ministério publico como resultado do artigo 3º do estatuto, baseia-se de
legalidade e de autonomia. Os magistrados do ministério publico, artigo 97º do estatuto
têm de obedecer as diretas e estruturas e ordens e tem autonomia administrativa penal.

62
11/11/2021

Sumário:

4.3.2. Funções e estatuto processual

4.3.3. Legitimidade de actuação (remissão)

4.3.4. O MP e os órgãos de polícia criminal

4.4. O Arguido e o seu defensor

4.4.1. O Arguido

4.4.2. O Defensor

Aula:

Artigo 4º do Estatuto – dá-nos duas informações, que estabelecem as diretivas


que deve de obedecer o MP.

Artigo 53º do CPP

O MP orienta-se pelo princípio da legalidade.

O PP não se acautela a proteger os interesses dos sujeitos diferentemente do PC.

O MP pode praticar atos para-judiciais, perante a fase de inquérito e também é


nesta fase que se fazem buscas. O MP depende do juiz de instrução criminal, para a
prática de certos atos porque são atos mais ofensivos.

Por nós compreendermos como é o Estatuto do MP, para garantirmos o princípio


da acusação o MP não tem interesse próprio, a investigar os factos ainda que sem
liberdade absoluta, ou seja, com controlo judicial.

Se existe alguma relação de dependência ou subordinação do MP para com o


tribunal?

Não, esta ideia do MP ser responsável pela fase de inquérito é um dos


mecanismos …

Em concreto, o próprio código impede que o juiz possa ter participado no


processo e ao mesmo tempo esteja a julgá-lo.

Artigo 113, 115 e 116 do CP

O direito de queixa está no código penal, porque é através dele que sabemos
quais são os crimes públicos, semipúblicos e particulares. O MP está onde estiver de
estar.

63
Na titularidade do direito de queixa:

O ofendido pela prática do crime;

A pessoa ser menor de 16 anos - Artigo 113 nº5 alínea b do CT – o MP substitui


em defesa dos interesses da pessoa, que não tinha ninguém para o fazer.

Estes titulares do direito de queixa, por regra geral tem um prazo, que é de 6
meses.

Artigo 115º nº1 do CP – O que o legislador vem dizer, ou eu quero prosseguir


com a administração de justiça e se não me mexer é porque não tenho vontade – este
artigo vem estabelecer a caducidade do direito.

Artigo 116º nº1 do CP – Fala em renuncia e em desistência, quer uma quer outra
pressupõe que esteja a tempo, não posso renunciar a um direito que não tenho.

Nº2 e ss – A desistência, significa que foi exercido o direito a tempo, validamente,


a desistência de queixa só pode ser exercida enquanto for exercida e enquanto tiver
sentido, o prazo é amplo ao longo de todo o processo, mas esgotado o poder
jurisdicional, aí já não se pode desistir.

Ela só se torna efetiva se:

• Não houver oposição do arguido; (crimes contra a honra, o arguido pode


querer ficar com o seu nome limpo). O arguido tem direito de se
pronunciar ativamente, se concorda ou não, tem direito de pronunciar
sobre o seu destino.

• Homologação da desistência, artigo 51º do CPP, é preciso alguém dizer


que a desistência está bem feita e que o arguido não se contrapõe, e para
o MP terminar o processo.

Nº4 – quando se trata de pessoa que cujo direito de queixa tenha sido exercício
em seu nome, quando fizer os 16 anos poder ter voz ativa.

Crimes particulares – além da queixa o ofendido tem de se considerar assistente.


Artigo 53º do CPP, o MP tem o papel de investigar, só não tem a legitimidade para
acusar.

Artigo 285º do CPP – continua a ser o MP a investigar e a ser ele a ter uma palavra
da suficiência.

Artigo 52º do CPP – se existir concurso entre crimes públicos e de natureza, o


MP tem de prosseguir apenas nos crimes que tem legitimidade.

Competência territorial do MP – como é que vejo o procurador que fica com o


caso – onde tenha sido praticado o crime, ou onde tenha se ouvido primeiro o crime,
artigo 264º do CPP.

64
O MP não trabalha sozinho, ele trabalha com os órgãos de polícia criminal (OPC),
e define no artigo 1º alínea c do CPP – as OPC têm competências próprias, fase ao que
vemos no artigo 55º do CPP e no artigo 1º da alínea c do CPP, as polícias são o “braço”
dos procuradores, vão coadjuvar com o MP sobre a sua dependência funcional. Os OPC
como trabalham sobre a dependência funcional, mantêm a sua autonomia técnica e
tática. O que o código quer é que os OPC deixem de ter iniciativa própria, pois têm
iniciativa própria até ao início do processo penal.

Artigo 55º nº2 do CPP – (sublinhar o artigo 56º do CPP), têm iniciativa própria
nas medidas cautelares e de polícia. Tem de ser analisado de forma restritiva.

Artigo 243º, 245º e 248º do CPP – têm a obrigação de transmitir ao MP a notícia


do crime, para o MP abrir um processo criminal e a seguir o inquérito.

Arguido (sujeito processual mais complexo) – artigo 1º alínea e do CPP –


definição de suspeito, com uma limitação negativa de arguido, pois não há uma
definição em concreto de arguido. Contrariamente ao arguido o suspeito não é um
sujeito adstrito de direito, enquanto interveniente processual.

Artigo 60º do CPP confrontado com o artigo 1º alínea e do CPP – dá-nos aquilo
que é a posição processual do arguido que é um sujeito que lhe são atribuídos direitos
e deveres. O suspeito não tem garantias do que qualquer um de nós, artigo 24º e 32º
da CRP.

A partir de quando eu sou arguido?

Artigo 57º, 58º (imposição legal) e 59º (vontade do próprio – nº2) do CPP;

O importante é o artigo 57º nº1 do CPP – alínea b – só pode ser aplicada medidas
de coação, a alguém que tem a qualidade de arguido, quando passo de um mero indício
(artigo 1º alínea e) e começa-se a ter uma ideia mais fundada que foi aquela pessoa que
cometeu o crime, essa pessoa foi chamada para fazer declarações.

Quando for levantado o auto de notícia, seja identificada a pessoa, deve de ser
constituído como arguido.

Garantia geral de não autoincriminação – artigo 59º do CPP.

Nº1 - Quando as declarações que estou a apresentar se der a intender que


cometido um crime devo de ser constituído arguido.

Nº2 – É a vontade do próprio. O arguido é que tem o complexo conjunto de


direitos (para os ter tem de assumir essa qualidade) e deveres. A constituição como
arguido independentemente de como for, segue um procedimento próprio, está
explanado nos artigos 58º nº2, 3 e 4 do CPP.

Artigo 58º do CPP – a omissão das formalidades da constituição de alguém como


arguido, tudo o que essa pessoa disser deixa de poder ser utilizado como prova no
processo penal.

65
Nº5 – vem dar o “castigo”.

Arguido:

Direitos:

Artigo 61º nº1 do CPP:

Alínea d – o direito ao silencio estende-se só aos factos imputados ao arguido. O


arguido pode ou não exercer esse direito de forma variada, ele pode ser usado
independente da fase.

Alínea e – o direito ao defensor, pode estar por si em juízo. Tem direito de


constitui advogado, é um direito e não uma obrigação. O código obriga a que em
determinados atos processuais o arguido seja acompanhado de um defensor. O Estado
quando obrigada a assistência do defensor, quem não pode ter um tem direito a ter um
defensor oficioso. O arguido pode estar por si em juízo.

Alínea f – questão do defensor.

Alínea g – direito de intervenção, uma coisa é dizer que o arguido não tem
nenhuma obrigação de provar a sua inocência.

Alínea j – direito ao recurso, conjunto direito que pode ser decomposto em:
Direitos de intervenção; Direitos de defesa; Direitos de garantia;

Artigo 13º nº2 do CPP – um dos direitos que o arguido tem é requerer a
intervenção do tribunal de júri.

Deveres:

Artigo 61º nº6 do CPP:

• Poder de comparência;

• Prestar termo de identidade;

• Medidas de coação, são medidas com finalidade de acautelar o bom


percurso do processo, tem haver com problemas do arguido fugir;

Alínea c - há questões que o arguido tem o dever de obedecer a verdade


perguntas sobre a sua identidade;

66
Defensor:

Artigo 63º do CPP – vem indicar que o defensor se encontra investido nos
direitos que a lei reconhece ao arguido, pode querer a abertura de instrução, interpor
um recurso. Não apaga a supremacia do arguido. (nº2)

Artigo 64º do CPP – os atos que o defensor tem que estar presente. Os atos em
que o arguido pode estar sem assistência do defensor, são os causos residuais. Podemos
ter um defensor que apresente assistência a diversos arguidos, mas o sentido de defesa
tem de ser coincidente.

Artigo 66º do CPP – refere-se ao defensor que é nomeado a determinado


arguido, tem haver com a ideia de nomeação.

Artigo 67º do CPP – a substituição de defensor, passa pela lógica de haver um


defensor, mas por algum motivo o que estava nomeado não foi e foi necessário
substituí-lo.

67
18/11/2021

Sumário

4.5. O Assistente

4.5.1. Considerações iniciais

4.5.2. O assistente

4.6. As partes civis

4.6.1. Considerações iniciais

4.6.2. O princípio da adesão

4.6.3. Estatuto processual das partes civis

Aula:

Sujeitos (continuação)

Assistente:

1ª base – ofendido

2ª base (nasce em 2015) – vítima

3ª base – assistente

4ª base – lesado

5ª base – titular do direito de queixa

Se isto pode estar tudo presente na mesma pessoa, se pensarmos no caso de me


terem batido, serei ofendida, sou vítima, se quiser entrar no processo posso-me
constituir como assistente, posso ter sofrido de danos civis e sou titular de queixa. Basta
ter morrido na sequência disto, já não seria titular do direito de queixa.

O assistente é uma figura que através da sua constituição assume um estatuto


de verdadeiro sujeito processual. Em termos de posição, o assistente tem uma coisa que
o arguido também tem, um interesse próprio no processo. Não obstante o MP não ter
um interesse próprio, e não ter um interesse antagónico ao interesse do arguido, a
verdade é que o CP arruma a posição processual do assistente como colaborador do MP.
O assistente não poderia ser arrumado no mesmo lado do arguido porque o assistente
quer que aconteça algo ao arguido no processo e o arguido querse defender, fazer valer
a sua presunção de inocência. O assistente não quer salvar o arguido, quer que ele seja
condenado. Estamos numa lógica antagónica.

68
Artigo 69 nº1 do CPP – posição processual onde o assistente é arrumado.

Significa que o assistente no fundo está do lado de quem quer ou tem de produzir
prova.

O arguido não tem de produzir prova alguma, pode pedir que ela seja produzida.

Artigo 69 nº2 a) do CPP – o assistente tem de intervir na fase processual


correspondente oferecendo prova.

Quanto ao assistente, podemos ter alguém que é ofendido e não se quer


constituir como assistente. Quando estamos num crime particular se não houver
assistente o processo não anda.

Artigo 68 nº4 do CPP – tem de haver decisão por parte do juiz sobre o pedido de
participação do assistente, não é automático, pode ser infundada a razão, o arguido
pode opor-se

Artigo 70 nº1 do CPP – contrariamente ao que acontece com o arguido, o


assistente não pode falar sozinho, fala sempre através do seu advogado. O assistente
para o ser tem de pedir, tem de pagar pelo pedido e tem de ter garantida a
representação por advogado. Se não tiver dinheiro, o estado não me garante um
advogado precisamente porque o assistente não tem de existir.

Artigo 32 nº7 da CRP – abertura de porta à participação do assistente no


processo penal

Artigo 68 b) do CPP remete implicitamente para o artigo 113º do CP – fala das


pessoas que são titulares do direito de queixa

Artigo 69 c) do CPP

Artigo 69 d) do CPP – tem a haver com a parte final da alínea a)

Quando é que faz sentido o assistente entrar no processo penal? – se falarmos


num crime particular o processo não existe sem o assistente.

Artigo 68 nº3 do CPP – temos uma regra geral, especial e temos a alínea c).

A alínea a) estabelece a regra geral – permitir a intervenção do assistente o mais


cedo possível, ou seja, que ele colabore com o MP durante o maior período de tempo.
Dá-se alguma liberdade, mas quer-se a intervenção do assistente. Não podemos ser
indiferentes àquilo que é a natureza processual dos crimes.

Se olhar para o nº2 do artigo 68º para o caso dos crimes particulares e porque o
processo depende da constituição como assistente estabelece um prazo – se eu não
tiver assistente não tenho processo penal. Se a pessoa não se constituir como assistente
neste prazo, o processo não pode continuar, morre.

69
Alínea c) – a lógica da constituição do assistente é que se possa participar o mais
cedo possível. O que significa que a ideia não é que o assistente apareça no fim do
processo. É que apareça acabado o inquérito. Não se devia limitar a participação do
assistente dai aparecer esta alínea. Já passamos a fase de inquérito, instrução, já
passamos a fase de julgamento, temos uma decisão e só depois da decisão é que
aparece o assistente para interpor recurso dessa decisão. Não há qualquer colaboração
com o MP.

O assistente uma vez constituído no contexto dessa posição tem digamos a


competência em sentido amplo de participação ativa no processo penal mais dirigido à
produção de prova. Sendo que tal como acontece em relação ao artigo este artigo 69º
do CPP não esgota aquilo que são as possibilidades da intervenção do assistente no
processo penal. Também no caso do assistente temos este artigo 69º mas vamos tendo
outros direitos de participação ao longo do processo.

Exemplos: artigo 13 nº1 e artigo 30 do CPP.

O artigo 65º do CPP era um artigo que nos dizia expressamente que o princípio
geral era de cada arguido cada defensor.

Artigo 70º nº1 do CPP – a ideia é oposta, vários assistentes, um advogado.

O nº2 permite que possam existir vários advogados. No entanto, aqui mostra-se
a diferença de estatuto pessoal entre o arguido e o assistente.

O assistente não é essencial no processo penal e colabora com um sujeito


processual que já ostenta as mesmas funções. O assistente ajuda o MP a fazer a sua
função mas fá-lo em interesse próprio.

Não obstante a ideia do artigo 69º nº1 do CPP, o assistente é autónomo, não
recebe ordens do MP, é autónomo no sentido daquilo que é a sal conduta processual, a
prova que da, a prova que pede, como a gere.

70
25/11/2021

Sumário:

5. O objecto do processo

5.1. Introdução e princípios fundamentais

5.1.1. Considerações iniciais

5.1.2. Princípios conformadores do objeto do processo

5.2. A fixação do objeto do processo

5.2.1. Inquérito

5.2.2. Instrução 5.2.3. Julgamento

Aula:

Objeto do processo penal

O objeto do processo é uma matéria importante.

O objeto do processo prende-se com o universo de factos que podem ser


imputados através do processo ao arguido.

Temos de identificar a diferença entre factos e o seu significado jurídico.

Ex: A mata B. B é pai de A. Temos aqui dois factos simples. Mas este facto tem
para nós outro significado, que é dizermos que estamos perante um homicídio
qualificado porque mata o pai.

Temos conjuntos de factos que fazemos o silogismo subjuntivo – através de um


conjunto de factos integramo-los numa classificação jurídica.

Temos 3 fases no processo penal, e estes factos não tem sempre a mesma força
ao longo do processo.

O arguido tem factos que lhe estão a ser imputados e ele tem de preparar a sua
defesa.

A ideia de que os factos vão sendo estáveis no processo é uma forma de


percebermos que estamos a contribuir para que o arguido consiga exercer o seu direito
de defesa.

Por outro lado, a questão do objeto do processo é importante quando pensamos


na estrutura acusatória.

71
O objeto do processo ganha importância na estrutura acusatória do processo,
porque se pensarmos nas contraordenações a entidade que investiga, acusa e que julga.
Isto faz com que o meu âmbito de conhecimento dos factos seja fluido. Confrontando
isto com o direito de defesa do processo penal, este modelo em que os factos podem
flutuar colide com o direito de defesa. No processo penal quem acusa não julga. Se o
objeto está fixado, o tribunal só pode pronunciar-se sobre esse objeto.

No fundo o regime do objeto do processo que tem e a sua logica garantística


significa que estou a garantir que o arguido saiba o que é acusado, o que é conhecido, e
saiba do que pode ser julgado. E pode perante estes exercer plenamente o seu direito
de defesa.

O tribunal ainda que possa investigar só pode investigar destro deste objeto que
lhe foi dado – princípio vinculação temática.

• O objeto do processo limita a competência dos tribunais.

• Se os tribunais estão vinculados aos factos, não estão vinculados à


qualificação jurídica feita a esses factos.

Princípio ne bis in idem – ninguém pode ser julgado mais do que uma vez pelos
mesmos factos.

Assim o objeto mexe também com este princípio, ou seja, se eu tenho um


processo, não pode haver outro processo com os mesmos factos, sobre a mesma
pessoa.

E por isso temos de perceber quais os 4 grandes princípios do objeto do


processo:

• Princípio da identidade
• Princípio da estabilidade
• Princípio da indivisibilidade
• Princípio da consunção

72
Princípio da identidade:

Identifico-me com um certo tipo de elementos. Se me identificar como mulher,


é como alguém que tem a logica X.

Eu posso ter duas mulheres em termos de género e estas não são iguais.

A identidade quer dizer que tem de haver uma lógica de identidade


problemático-intencional desde o início do processo até ao seu fim.

Eu não posso ter um conjunto de facto que seja de crime de furto, e este não
pode acabar como um conjunto de factos de homicídio. Tem de haver uma identidade
entre os factos.

Outra coisa importante a propósito deste principio é que quando falamos em


identidade problemático-intencional isto não significa que eu não tenha de conseguir
distinguir os factos concretos e o vetor jurídico dos factos (dizer que soa furto, roubo…).

Princípio da estabilidade:

Não é indiferente a ordem através do qual os factos são feitos. Isto significa que
os factos têm uma certa sequencia logica unitária.

Quando pensamos no conjunto de factos pensamos neste conjunto numa


sequência lógica.

Temos de ter também em atenção não só a sequência dos factos como também
o tipo de factos.

Qualificação jurídica – conjunto de factos.

Princípio da indivisibilidade:

Diz nos que eu quando tenho um determinado conjunto de factos, eu tenho de


considerar o conjunto dos factos.

Princípio da consunção:

Esta muito ligado ao princípio ne bis in idem, e do princípio da vinculação


temática.

Significa que quando o pacote de factos chega ao tribunal este tem de se


pronunciar sobre todos os factos, para não haver o risco de ficarem factos de fora.

O tribunal tem de consumir os seus poderes.

73
Momento de fixação do objeto do processo:

Uma das coisas que temos de perceber na fixação do objeto do processo é que
o processo tem 3 fases, temos de tratar o problema da fixação no caso dele existir.

Temos de começar pela primeira fase - Fase de Inquérito:

Artigo 262º nº1 CPP – vem dizer que o inquérito, na pendência da sua duração
o objeto do processo é livre, ou seja, não vem nada de trás.

No caso do inquérito está tudo em aberto, o MP está a investigar e este tem de


dentro da sua investigação, descobrir quais são os factos que ele vai ter se sequenciar.

Diferente é quando entramos na fase final do inquérito, o inquérito pode


terminar de 4 formas diferentes, com 3 tipos de arquivamento ou com a acusação.

Artigo 277º CPP – refere-se ao arquivamento que decorre do princípio da


legalidade, é o arquivamento clássico. “não há indícios, o processo não segue”.

Neste artigo não há fixação do objeto.

Este arquivamento tem algum efeito definitivo? – a resposta vem no artigo 279º
nº1 CPP, que diz que se surgirem indícios novos o processo será reaberto.

Aqueles factos não tem a virtualidade de ter relevância para efeito do caso
julgado, não fecham.

Outra forma de terminar um inquérito é a do artigo 280º CPP – arquivamento


em caso de dispensa de pena.

Esta decisão na medida que pode ser anterior a uma acusação tem a virtualidade
de fixar um certo número de factos, principalmente se se aplicar o efeito de caso
julgado, ou seja ficar fechado.

Olhando para o artigo 280º CPC temos a fixação do objeto - momento em que
se escolhem os factos. Alem disso é uma decisão em relação ao qual a decisão tem a
caraterística de caso julgado conjugado, ou seja, não é possível a impugnação,
interligada com o princípio ne bis idem.

Existe outra forma de encerrar o inquérito que é o artigo 283º CPC que é a
acusação. Este artigo é o momento de fixação do objeto do processo em fase de
inquérito. Quando o MP cristaliza um conjunto de factos e avança para a próxima fase.
Isto diz-nos que é a peça relativamente ao qual se fixa o objeto, e não é definitiva, não
produzindo efeito de caso julgado. Tendo-se este efeito apenas na decisão judicial.

74
Fase de Instrução:

Para chegar à fase de instrução não podemos estar no âmbito dos artigos 280º
ou 281º porque o caso morre logo ali, não avança.

Nesta fase, havendo acusação o objeto vem definido pelo MP.

Temos de perceber pela linguagem do CPP em que momento se fixa o objeto. E


ajuda-nos a compreender o que vem na alínea b) do nº1 do artigo 287º CP.

Havendo instrução pode haver de 2 formas diferentes.

Alínea b) – aqui temos 2 possibilidades. Imaginemos que num processo o MP no


contexto do pacote do inquérito achou que tinha indícios suficientes acusando sobre
esses crimes, mas não tinha indícios suficientes quanto aos factos 5 e 6. Este artigo vem
dizer que é possível, se os factos não tiverem sido acusados pelo MP o assistente
requerer a abertura da instrução destes. Na abertura de instrução pelo assistente posso
acrescentar os factos 5 e 6.

No caso em que não há factos, aqui a logica é diferente: quem vai fixar o objeto
do processo para efeito da fase de instrução é o assistente através do requerimento de
abertura de instrução. – Tribunal de instrução criminal.

Artigo 303º nº1 CPP – diz nos que ou há uma acusação, ou no caso de não haver
acusação temos o arquivamento.

Fase seguinte - julgamento:

A verdadeira fixação do princípio da vinculação temática é o despacho de


pronuncia.

Percebemos isto se fizermos uma análise no julgamento que é ver quando os


factos já estão fixados.

Artigo 358º CPP

Nº1 – o objeto que já fica fixado para a fase de julgamento é o objeto constituído
por factos constantes no despacho de pronuncia.

75
A fixação do objeto em fase de julgamento:

Artigo 339º nº4 CPP – a discussão da causa integra tudo.

Basta vermos a ressalva da parte inicial, “sem prejuízo do regime aplicável”, para
percebermos que esta aparente latitude do tribunal esta condicionada com o princípio
da vinculação do objeto.

Diferentemente da fase de instrução, o regime aqui é mais complicado.

Artigo 358º CPP – alteração não substancial

Artigo 359º CPP – alteração substancial

A fixação definitiva do objeto do processo em fase de julgamento se dá com a


decisão final.

Imaginemos que do despacho de pronuncia veio 1,2,3,4,5.

Este objeto não é definitivo. O julgamento vai fixar o objeto na fase ou no


momento da decisão. É a decisão que cristaliza o objeto fixado.

Os artigos permitem alteração.

O objeto do processo permite alterações, quer em sede de instrução, quer no


âmbito dos artigo 358º e 359º CPP.

Antes de entrarmos no âmbito das alterações, temos de perceber o que não são
alterações. Para efeito de alterações temos de perceber que estamos de falar de factos,
e não de direitos. E aqui factos são acontecimentos da vida real (ex: estarmos sentados
na sala).

1. A mata B

2. B era pai de A

3. B pediu a A

4. B estava doente terminal

5. B estava a sofrer

O MP chuta isto como homicídio a pedido da vítima – artigo 134º CP

Não há instrução, o processo vai para julgamento. Em julgamento, só aqui é que


os factos são dados como provados. Eu em julgamento não consigo prova o facto 3. Não
temos aqui uma alteração dos factos, apenas não consegui prová-lo. Nesta situação não
se aplicamos artigo 358º e 359º CPP.

76
Outro exemplo paradigmático é: A está a ser julgado por homicídio e aparece
uma testemunha C, a dizer que afinal A não só tinha dado veneno ao pai como a tinha
violado a seguir.

A violação tem alguma coisa a ver com o grupo de factos? Não, é uma coisa à
parte.

Imaginemos que esta mesma testemunha depois diz que teve um caso com B e
por isso é que estava lá em casa e foi violada por A. Aparece o defensor de A e apresenta
um bilhete de avião para o brasil e não ter estado em casa. Isto não tem nada a ver com
o grupo de factos, apenas esta ligado à credibilidade da testemunha.

O regime de alteração dos factos explica-nos o equilíbrio entre o princípio da


verdade material e a ideia de defesa dos direitos fundamentais do arguido.

77
02/12/2021

Sumário:

5.3. A alteração do objecto do processo

5.3.1. Alteração de factos

5.3.2. Alteração da qualificação jurídica

Aula:

Fixação do objeto do processo

Regime legal

Em termos de diagrama de raciocino partimos para o regime como?

Estamos perante alterações dos factos

Temos estes dois momentos fundamentais para saber como aplicar o regime.

• Acusação – (303º em caso de prenuncia)

o Instrução – 303º

o Julgamento – 358º + 359º

▪ Prenuncia – 358 + 359º

Alteração não substancial dos factos

Alteração substancial dos factos - Artigo 1º alínea f) do CPP (Alteração


substancial dos factos: aquela que tiver por efeito a imputação ao arguido de um crime
diverso ou a agravação dos limites máximos das sanções aplicáveis) – Quer dizer que se
interpõem um facto que quebra a identidade de um objeto, em termos simplificados, a
coisa que é suposto entrar no processo, aquilo que era entendida como a identidade
processual, passa a ser uma coisa diferente. Se passar de um furto para um roubo estou
a imputar crime diverso, de um homicídio simples para qualificado estou a aumentar a
moldura penal.

Se conseguirmos ter a delimitação positiva da alteração substancial, quando á


não substancial temos que ir por delimitação negativa, temos a alteração do facto e
sabemos o limite, significa então dentro do ponto de partida de se ruma alteração dos
factos desde que não implique a agravação dos limites da moldura penal máxima
significa que é uma alteração não substância.

Quebra da identidade Não quebra da identidade


Alteração Substancial Alteração não substancial

78
Quando a alteração dos factos tenha como efeito ou imputação de crime diverso
ou a agravação da moldura penal máxima é uma alteração substancial dos factos.

Regime

Fase da Instrução

Artigo 303º – CPP

(Alteração dos factos descritos na acusação ou no requerimento para abertura da


instrução)

1 - Se dos actos de instrução ou do debate instrutório resultar alteração não


substancial dos factos descritos na acusação do Ministério Público ou do assistente, ou
no requerimento para abertura da instrução, o juiz, oficiosamente ou a requerimento,
comunica a alteração ao defensor, interroga o arguido sobre ela sempre que possível e
concede-lhe, a requerimento, um prazo para preparação da defesa não superior a oito
dias, com o consequente adiamento do debate, se necessário. – Procura uma solução
de equilíbrio entre por um lado o princípio da vinculação temática direitos de defesa do
arguido e do outro lado da balança a própria verdade material. Quer que o facto entre
no processo para perseguir a verdade material. Nas alterações substanciais não é assim

2 - Não tem aplicação o disposto no número anterior se a alteração verificada


determinar a incompetência do juiz de instrução.

3 - Uma alteração substancial dos factos descritos na acusação ou no


requerimento para abertura da instrução não pode ser tomada em conta pelo tribunal
para o efeito de pronúncia no processo em curso, nem implica a extinção da instância.
– Significa pelo facto de ser a informação pai é um facto que o juiz de instrução não pode
levar em linha de conta, mas simultaneamente diz que mesmo se surgir ele ser a
informação pai não implica a extinção da instância (o processo continua).

4 - A comunicação da alteração substancial dos factos ao Ministério Público vale


como denúncia para que ele proceda pelos novos factos, se estes forem autonomizáveis
em relação ao objecto do processo. – É uma espécie de complemento, se os tais factos
novos que não podem ser aceites, se foram autonomizados valem como denuncia e dão
origem a um processo novo.

5 - O disposto no n.º 1 é correspondentemente aplicável quando o juiz alterar a


qualificação jurídica dos factos descritos na acusação ou no requerimento para a
abertura da instrução.

79
Casos Práticos

1- Facto: A mata B às duas da tarde

2- Em fase de Instrução: A mata B às quatro da tarde

o Não significa crime diverso nem alteração da moldura pena

➢ Artigo 303º nº1 do CPP

1- Facto: A mata B

2- Em fase de Instrução: A mata B que é pai

o Artigo 303º nº3 do CPP

➢ Artigo 303º nº4 do CPP

• Factos autonomizados – Se tem relevância penal


autónomos.

• Factos não autonomizados – A ser filho de B.

1- Facto: A furta um computador e é perseguida criminalmente pelo furto

2- Em fase de Instrução: A disse ‘’ou me dás o computador ou eu bato-te’’


(violência)

o Devia ser julgado por roubo – Crime diverso – Alteração substancial


dos factos – artigo 303º nº3 do CPP – no processo em curso a
violência não pode ser tida em conta pelo tribunal de instrução.

➢ Contrariamente ao exemplo do pai, a violência mesmo


considerada isoladamente tem relevância penal e por isso tem
que ser dado o cumprimento do artigo 303º nº4 do CPP.

NOTA: Não confundir este regime do nº4 com os exemplos da última aula que
dizia que não eram alteração dos factos, exemplo: A está em inquérito a ser acusado
por furto e aparece em sede de instrução uma testemunha a dizer que o viu a furtar e o
fui a violar, em termos práticos acontece a mesma coisa, o MP toma conhecimento do
facto, mas a circunstância dele ter de proceder pelo fato de violação não decorre do nº4,
decorre das leis gerais e princípios.

Em termos de instrução podemos lá chegar por uma acusação ou na sequência


de um requerimento de abertura de instrução.

Podemos chegar ao julgamento pela fase de instrução (acusação) ou saindo de


um requerimento (despacho)

80
Fase do julgamento

Artigo 358.º - CPP

(Alteração não substancial dos factos descritos na acusação ou na pronúncia)

1 - Se no decurso da audiência se verificar uma alteração não substancial dos


factos descritos na acusação ou na pronúncia, se a houver, com relevo para a decisão da
causa, o presidente, oficiosamente ou a requerimento, comunica a alteração ao arguido
e concede-lhe, se ele o requerer, o tempo estritamente necessário para a preparação
da defesa. – Regime muito semelhante ao 303º nº1 do CPP, a diferença é aqui temos a
comunicação e prazo de defesa, saltamos a logica do interrogatório e tem a ver com 2
razoes, face a distinta defesa de cada uma das fases, a fase de instrução é uma fase
investigação, o que determina que o juiz e tribunal relativamente aos factos devem
cumprir o interrogatório. Na fase de julgamento implica que a própria dinâmica de fase
de julgamento que bai saber se quer ou não exercer a sua defesa.

2 - Ressalva-se do disposto no número anterior o caso de a alteração ter derivado


de factos alegados pela defesa.

3 - O disposto no n.º 1 é correspondentemente aplicável quando o tribunal


alterar a qualificação jurídica dos factos descritos na acusação ou na pronúncia.

Artigo 359.º - CPP

(Alteração substancial dos factos descritos na acusação ou na pronúncia)

1 - Uma alteração substancial dos factos descritos na acusação ou na pronúncia


não pode ser tomada em conta pelo tribunal para o efeito de condenação no processo
em curso, nem implica a extinção da instância. – É praticamente igual ao que
encontramos no artigo 303º nº3 do CPP.

2 - A comunicação da alteração substancial dos factos ao Ministério Público vale


como denúncia para que ele proceda pelos novos factos, se estes forem autonomizáveis
em relação ao objecto do processo. – É a continuação da logica do artigo 303º nº4 do
CPP.

3 - Ressalvam-se do disposto nos números anteriores os casos em que o


Ministério Público, o arguido e o assistente estiverem de acordo com a continuação do
julgamento pelos novos factos, se estes não determinarem a incompetência do tribunal.
– Norma excecional – Exceção ao regime, porque o princípio é salvaguardando-se o
direito da defesa, não considerar factos que mudem a identidade do objeto – Este nº3
diz que se todos estiverem de acordo, este facto novo que poderia não ser tido em
conta, afinal vai ser tido em conta, porque procura respeitar aquilo que é a decisão do
arguido sobre a sua situação processual.

4 - Nos casos referidos no número anterior, o presidente concede ao arguido, a


requerimento deste, prazo para preparação da defesa não superior a dez dias, com o
consequente adiamento da audiência, se necessário.

81
Casos Práticos

1 Facto: A furta um computador e é perseguida criminalmente pelo furto

2 Em fase de Instrução: A disse ‘’ou me dás o computador ou eu bato-te’’


(violência)

o O tribunal singular não pode julgar mesmo que todos estejam de acordo.
Não pode determinar o fim da instância.

➢ A entrado do facto não pode ter como competência a


incompetência do tribunal

1- Facto: Furto qualificado (tribunal coletivo)

2- Em fase de instrução: entra a violência

o Se todos concordarem tem que se ter em conta a garantia do direito de


defesa do arguido

• Artigo 359º nº4 do CPP (Nos casos referidos no número anterior,


o presidente concede ao arguido, a requerimento deste, prazo
para preparação da defesa não superior a dez dias, com o
consequente adiamento da audiência, se necessário) –
Mecanismo de segurança do nº3 do mesmo artigo

Conclusão: O regime da alteração dos factos em fase de julgamento é quase igual


á da fase da instrução, menos em 2 coisas, não se exige interrogamento do arguido e há
uma exceção de inclusão do facto no âmbito de acordo

82
Artigo 358º nº3 do CPP (O disposto no n.º 1 é correspondentemente aplicável
quando o tribunal alterar a qualificação jurídica dos factos descritos na acusação ou na
pronúncia) - Alteração da qualificação jurídica – É um dos temas mais debatidos na
doutrina e na jurisprudência.

• AQJ - Situação consequencial - Alteração dos factos no correr do


processo – Não tem regime próprio e é uma consequência – Só existe
quando exclua a possibilidade de AQJ por alteração dos factos. Acontece
algo no processo que alterou os factos de alguma maneira, ou porque
houve alteração dos factos e o que significa que tem de alterar a
descrição jurídica daqueles factos é uma consequência por ter havido
uma alteração de facto, é uma modificação sucessiva que aconteceu no
universo dos factos.

• AQJ - Problema jurídico originário – Os factos não mudam, quem olha


para eles vê é um direito diferente - Só existe quando eu exclua a
possibilidade de uma AQJ por alteração dos factos – Quando não mexe
com os factos – Artigo 303º nº5 ou 358 nº3 do CPP – Os factos são so
mesmos, o juiz pode ter interpretação da acusa diferente. A própria não
alteração é o próprio problema que precisa de solução por isso é que está
consagrado no código, porque os factos ficam exatamente iguais e não
precisa de mudar o modo que se integra no direito.

o Quando o tribunal recebe e não concorda, tem de proceder á


mesma operação como se se tratasse de uma alteração não
substancial dos factos – não se impede o tribunal de ver uma coisa
diferente, mas tendo em conta o significado do direito de defesa
doa arguido, o que se diz é que o tribunal pode faze-lo, mas tem
de comunicar o arguido, interrogar (em fase de instrução) e dar
prazo para preparação de defesa

➢ Diferente de ter aparecido o facto no processo e por esse


surgimento tenho de alterar o facto

o No final da fase de julgamento – o tribunal tem os factos todos


provados e vê que o facto é diferente e aqui mantendo-se o
universo de facto no final da fase de julgamento ele tem de
diligenciar para se proceder ao mecanismo deste artigo.

83
Casos Práticos

1 Facto: Violência doméstica

2 Em fase de julgamento: Ofensa á integridade física

• Não houve alteração dos factos

o Artigo 358º nº3 do CPP

84
Resumos Complementares:

Fixação do objeto do processo:

Regime legal, a sua aplicação. Duas modalidades, mas com o mesmo âmbito no
que toca a alteração, quando há alteração dos factos e deixa de fazer sentido aplicar o
regime.

Princípio da vinculação temática

Momento de acusação em princípio de vinculação temática, para efeitos de fase


de instrução, Artigo 303º e em fase de julgamento, Artg 358º e 359º. Consoante as
circunstâncias temos que saber se tamos numa questão de alteração substancial ou não.

Alteração substancial dos factos

Artigo 1º f), efeito pode surgir de outras circunstâncias não sendo esta alteração
(quando um facto não se altera apenas não se prova), se interpõe um facto que quebra
a identidade do próprio objeto, aquilo que era compreendido como unidade intencional
difere e gera-se uma problemática jurídica. delimitação positiva da alteração
substancial. (ex.: matar um qualquer para ser seu pai porque alguém o vem evidenciar)
– imputação de crime diverso ou alteração agravada da moldura penal, quebra de
identidade.

Mas pode não ser substancial, uma delimitação negativa, há alteração dos factos
(como ponto de partida) mas na implica a imputação de crimes diversos desde que não
implique uma agravação dos limites da moldura penal – desde que não implique a
anterior, é não substancial. (ex.: mudança de hora do crime, mexe com os factos mas
não implica que se altere o crime), não se dá uma quebra da identidade.

Regime de fase de instrução, Artigo 303º

Alteração não substancial, nº1 alteração dos factos descritos na acusação. É


possível considerá-la desde que sejam cumpridos os requisito indicados neste artigo, os
comunicar ao arguido, inquirido sobre os novos factos (diferença para a fase de
julgamento)n e dar um período de defesa não superior a 8 dias. (ex.: da mudança de
horário do crime de homicídio)

O legislador pretende manter um equilíbrio entre o princípio da vinculação


temática com os direitos de defesa do arguido e ainda com o da verdade material (com
o direito de defesa), isto porque quer que o facto entre no processo.

Alteração substancial, nº3, significa que o facto adicionado não pode ser
considerado pelo juiz, no entanto ao surgir não implica a extinção da instancia. Ou seja,
o processo continua, mas, basicamente, o “facto desaparece do processo”, não pode ser
considerado, mantém-se o crime original. (ex.: de descobrir que o morto é pai, não
altera, é apenas julgado por morte de pessoa)

85
O legislador muda a questão da balança, equilibra de outra forma, usando
apenas o princípio da vinculação temática com o direito de defesa (desiste da verdade
material)

(os regimes excluem-se mutuamente, ou se usa um ou outro)

Complementado com o nº4, os factos se forem autonomizáveis, cria uma


denuncia originando um processo novo:

• Facto Autonomizável – implicam que por si só podem constituir um crime


(possível de condenação), relevância penal em termos autónomos)

• Facto Não Autonomizáveis – factos que podem agravar o crime mas que
por si só não contam crime nenhum, isoladamente não tem relevância
nenhuma (ex.: ser pai, agrava o homicídio mas por si só não é crime ser
pai)

Ex.: de furto passa para roubo por descobrir que teve lugar uma ameaça
(alteração substancial), não entra, em fase de instrução. Mas como tem relevância
penal, segue-se o nº4 e a sua comunicação vale como denuncia e o MP abre um novo
inquérito usando essa “violência” como objeto. – NÃO CONFUNDIR QUANDO NÃO HÁ
ALTERAÇÃO DOS FACTO, MAS INTRODUÇÃO DE OUTROS CRIMES AO MESMO AGENTE
(não se aplica o mesmo regime – aqui decorre das regras gerais do conhecimento do
crime)

Regime da fase de julgamento, Artigo 358º e 359º

Podemos chegar a fase de instrução pelo seguimento da instrução, ou por


despacho de pronuncia, em inquérito, é dependendo do procedimento que delimitam.

Alteração não substancial, Artigo 358, nº1 temos a comunicação e concessão


do prazo de defesa (salta-se a logica do interrogatório do 303º nº1), isto prende-se na
diferença das fases, visto que em instrução ainda há uma necessidade de investigação e
em fase de julgamento isso já não acontece, e é a sua própria dinâmica que se vai
encarregar do arguido ser interrogado pelos factos novos e decidir se quer ou não
pronunciar-se sobre eles.

Equilíbrio entre os interesses do direito de defesa e a descoberta da verdade


material, nº2, se forem alegados pela defesa, a comunicação e a concessão não são
“feitas” porque diz se que foram apresentadas no exercício desse direito. – prevalece a
verdade material

Alteração substancial, Artigo 359º, (equivale ao nº3 do 303º da fase de


instrução) não pode ter tido em conta nem extingue a instância. O nº2 segue a lógica do
nº4 do Artg 303º se for autonomizável segue para denuncia para um novo processo. –
Prevalece a defesa do arguido

86
Por ser uma fase distinta, o nº3 apresenta uma norma excecional ao regime na
fase de julgamento, se todos os sujeitos processuais tiverem conscientes do novo facto
e tiverem de acordo, o facto vai ser tido em conta (apesar de saberem que não tem), vai
ressalvar a decisão do arguido sob a sua própria situação processual. Ou seja, da a
possibilidade ao arguido de optar por o incluir como forma de vantagem à inclusão
desse facto que vai quebrar a identidade do objeto.

A inclusão do facto não pode acontecer se, e como não pode determinar a
extinção da instância, determine a incompetência do tribunal, assim não pode ser
admitido o facto.

Não vai contra os direitos de defesa e portanto, nº4, quando todos concordam
com a inclusão do facto, o arguido tem um prazo até 10 dias para de pronunciar, sendo
um mecanismo de segurança para o arguido.

Alteração da qualificação jurídica, Artg 358º nº3

Um dos temas em que não há entendimento na doutrina e na jurisprudência


quanto à aplicação do regime legal.

• AQJ – Situação consequencial, (é uma consequência, não tem regime


próprio) se não se aprovar o pedido por falta de provas temos de
reenquadrar os factos existentes, todavia interessa para efeitos do
regime é quando a alteração da qualificação jurídica é o problema que
estamos a tratar é originário e não uma consequência, quando se exclui
a possibilidade de AQJ por alteração dos factos – quando não mexe com
os factos Aconteceu algo no processo que alterou os facto de alguma
forma, e isso pode alterar, o que é a discrição jurídica desses factos. Mas
é uma consequência dessa alteração no universo dos factos (não tem
regime propriamente dito)

• AQJ – Problema jurídico, (é originário) problema autónomo, outra visão


dos factos existentes. Excluem-se mutuamente a alteração da
qualificação jurídica e alteração substancial dos factos (não há alteração
dos factos no AQJ), Artigo 303º nº5 – fase de instrução, Artigo 358º nº3

O tribunal pode achar que não é o mesmo “crime”, no entanto não há alteração
dos factos, mas implica que se saiba para o direito de defesa (e diferente defender-se
de um crime de maus-tratos ou de um crime de violência doméstica). – é uma
qualificação jurídica diferente. Muda-se a qualificação do objeto, não quer dizer que
haja ou não factos novos, apesar de poder ser alterados por eles.

Pode acontecer no final da fase de julgamento, depois de ver todos os factos,


mantém-se o universo de facto (não se mexe nos factos) mas o tribunal muda a sua
opinião quanto à qualificação jurídica, e procede-se ao nº3 do Artg 358º. Mesmo neste
caso é necessário manter o direito de defesa quanto à alteração da qualificação jurídica
(porque é diferente)

87
09/12/2021

Sumário:

Tramitação processual do processo comum (inquérito, instrução e julgamento).

Aula:

Fases Processuais:

Fase Preliminar, Artigo 241ºss (não é bem uma fase do processo é apenas o
conhecimento do crime não conta como fase)

1. Noticia do crime, o MP pode adquirir esta por conhecimento próprio, pelos


OPC ou mediante denuncia que pode ser obrigatória Artigo 242º (quando são entidades
policiais ou funcionários – Artigo 386ºCP, pois estas entidades tem o dever de
denunciar) ou facultativa Artigo 244º (qualquer pessoa pode se o crime não depender
de queixa ou acusação particular, não é obrigatório) Auto de notícia, Artigo 243º, (Artg
1º para definições) é feito quando a autoridade ou outra entidade presenciar um crime
de denuncia obrigatória e deve conter todos os elementos essenciais, vale como
denuncia. A denuncia não tem forma, pode ser verbal (é reduzida a escrito pela entidade
que a recebe e assinada por ambos) ou escrita. o denunciante pode constituir-se
assistente, a num ser nos casos de crimes que dependem de acusação em que é
obrigatório constituirse assistente, Artigo 246º.

2. Medidas cautelares, Artigo 248º

3. Detenção, Artigo 264º

Fase de Inquérito, Artigo 262ºss

Fase onde se tomam diligencias para averiguar a existência do crime, qualquer


noticia de crime dá lugar à abertura de inquérito, nº2. Por vezes é preciso a intervenção
do Juiz de instrução, Artg 268º atos a praticar do Este.

Suspensão Provisória do Processo, Artg 281º, é preciso que o arguido aceite a


acusação e confesse os factos. Ou seja, para que esta seja aplicada tem que seguir as
condições do nº1. Determina o fim do processo. Havendo aceitação por parte do
arguido, os factos estão confessados e por isso não segue no processo, termina aqui.
Estão definidas as Injunções ou regras de conduta, nº2, que possam ser aplicadas ao
arguido. – Para crimes com pena não superior a 5 anos ou pena não privativa de
liberdade

Arquivamento do processo, Artigo 277º - fim do inquérito

88
Arquivamento em caso de dispensa de pena, Artg 280º mais 74ºCP, quando é
um crime com pena inferior a 6 meses ou multa até 120 dias, o tribunal declara o
arguido como culpado pelo 74ºCP, pode não aplicar pena se a ilicitude for diminuta e
tiverem sido reparados os danos, então o juiz pode arquivar o processo em concordância
com o MP e o Arguido. – Não é suscetível de impugnação porque descende de um
acordo das partes do processo. Declara o fim do processo.

Audição do Arguido e Despacho de Acusação, Artigo 194º nº1 – ler o artigo


basicamente

Atos a praticar pelo juiz de instrução, Artigo 268º, o MP tem a direção do


inquérito, no entanto tem certas limitações deste artigo, como a aplicação de medidas
de coação e Atos a ordenar ou autorizar pelo juiz de Instrução, Artigo 269º

Despacho de Acusação, Artg 283º nº3, proferido pelo Ministério Publico, nº1
prazo de 10 dias. Par serem considerados indícios suficientes o os dispostos do nº2. Com
o Artg 267º - e 97º. Termina o inquérito segue o processo. Até 285º

Processo sumaríssimo, Artigo 392º, o processo pode acabar assim, quando o


crime não tem uma pena superior a 5 anos ou tem só pena de multa, e dá se o fim do
processo não havendo julgamento, se o arguido iniciar ou oficiosamente pelo MP. Não
há necessidade de aplicar ao arguido aplicar uma pena privativa de liberdade. Tem que
ser por escrito e com fundamentação legal exigida.

Prazos, Artigo 276º, o prazo regular é de 6 meses quando o arguido tiver sido
preso ou privado da sua liberdade (se estiverem detidos domiciliariamente conto igual),
e de 8 meses para se não tiverem. Estes prazos podem ser alargados nº2 e nº3. Inicia-se
nos termos do nº4 – Inicio do inquérito (com o 57º e 58º)

Findo o inquérito o processo segue para fase de instrução (fase facultativa) ou


para fase de julgamento.

Fase de Instrução, Artigo 286ºss (seguir o código)

É uma fase facultativo do processo, com o intuito de confirmar a decisão do


inquérito de acusação ou arquivamento. (só tem lugar no Processo comum). É dirigida
ao JIC, Artg 287º e 288º. Só pode ser requerida esta fase pelo assistente ou pelo arguido
nos termos do artigo 287º nº1 a) e b).

RAI – Requerimento de Abertura de Instrução Intervenção do JIC, Artigo 299º e


301º

Debate, Artigo 298º

Despacho de pronuncia ou não pronuncia, Artigo 308º, conclusão da fase de


instrução

(quadro atrás do código)

Fase de Julgamento, Artg 311ºss

89
Segue a seguir a um despacho de pronuncia ou de acusação (dependendo da
fase), e é uma fase obrigatória.

O MP investiga na fase de inquérito e profere um despacho de acusação e


seguem os atos preliminares e saneamento do processo, Artg 311º. – conhecimento
oficioso. O nº2 e nº3 só se aplicam se não tiver havido instrução.

Notificação, Artg 312º e 313º da data da audiência de julgamento

Audiência, Artg 321º ss

• Regras gerais

• Atos introdutórios

• Produção de prova

• Documentação da audiência

Fase de Recurso, Artg 399ºss

Natureza dos Crimes:

1. Crimes Públicos, (princípio da oficialidade Artigo 48º MP) o com conhecimento


do crime basta simples denuncia

2. Crimes Semipúblicos, conhecimento através de queixa Artigo 49º

3. Crimes Privados, Queixa, Acusação e Constituição de Assistente – Artigo 50º

90
16/12/2021

Sumário:

Em especial:

1. O flagrante delito

2. A denúncia anónima

3. O RAI

4. O saneamento

Aula:

A tramitação processual:

Fase preliminar – o flagrante delito é uma das formas de aquisição da notícia do


crime, mas é uma figura que por um lado pode determinar a forma de tramitação do
processo e por outro lado significa uma série de atos processuais.

Artigo 255 do CPP – diz-nos que o flagrante delito está associado à detenção.

O 1º passo é perceber o que é o flagrante delito.

Artigo 256 do CPP – vem-nos dar no nº1 e nº2 a teoria dos círculos – o flagrante
delito é aquilo que se pode designar de uma forma qualificada de obtenção da notícia
do crime.

O legislador acha este conceito do artigo 256 nº1 do CPP redutor, quer alargar
as possibilidades de intervenção direta.

Artigo 256 nº1 2ª parte – quem entra em cena vê uma pessoa que estando perto
de um cadáver afogado em sangue com a arma na mão, a ideia é que o crime acabou de
ser cometido. Neste segundo segmento temos uma lógica de se presumir que o crime
foi praticado por aquela pessoa, já não há a certeza.

Artigo 256 nº2 do CPP – quando percebe que tem a arma do crime e foge sendo
inocente.

A partir daqui temos duas situações do artigo 255 do CPP – vemos que o artigo
255 do CPP não faz distinção, para todos os efeitos este artigo diz que qualquer uma
destas variações é admissível para efeitos de detenção. Só posso privar alguém da
liberdade no contexto de uma detenção imediata se o próprio crime relativamente ao
qual o flagrante delito permite isso. Se um crime for punido com pena de multa, ainda
que possa haver flagrante delito, não pode haver detenção por flagrante delito.

91
Temos duas alíneas – nenhum cidadão pode ser privado da sua liberdade.
Portanto, o artigo 255 constitui uma causa de justificação a dois tipos: em 1º lugar dá
uma legitimação às forças policiais e a 2ª coisa é a alínea b) em que qualquer cidadão
(causa de justificação prevista fora do processo penal) pode deter o suspeito da prática
de um crime em contexto de flagrante delito só que esta causa de justificação não é
elástica, ou seja, é restrita, só se dá permissão ao cidadão deter pelo tempo necessário
para entregar o detido às autoridades.

Porque é que os cidadãos podem deter sendo que temos polícias? – um cidadão
pode fazê-lo ao abrigo do artigo 1 da CRP “empenhada na construção de uma sociedade
livre, justa e solidária”. Em termos de processo e como estamos numa lógica de uma
sociedade livre justa e solidária os próprios cidadãos devem contribuir para a realização
de justiça por isso é que os cidadãos podem deter. Há muitos estados em que a detenção
civil não é possível (exemplo: estados autoritários).

O flagrante delito é uma forma de aquisição da notícia do crime que é reforçado,


permite no caso da criminalidade menos grave (até aos 5 anos) que eu aceite que tenho
a prova simplificada e, portanto, a detenção nos termos destes crimes permite a
remessa para uma forma de detenção mais rápida.

Naturalmente que a partir do momento que existe uma detenção em flagrante


delito, se há flagrante delito significa que a autoridade judiciária presenciou o facto. Se
presenciou o facto havendo flagrante delito automaticamente a autoridade judiciária
vai ter de fazer um auto (artigo 243 do CPP).

Artigo 58 do CPP – a partir do momento (nº1 c)) que há flagrante delito, além da
autoridade judiciária que apanha o flagra tem de fazer um auto de notícia, tem de
imediatamente constituir a pessoa detida como arguida. É um dos efeitos também do
flagrante delito.

No contexto da tramitação em processo comum há ainda um outro aspeto –


artigo 246 do CPP – a denúncia – forma de aquisição da notícia do crime – a denúncia
não está sujeita a formalidades especiais, mas para todos os efeitos tem no nº2 uma
exigência.

Quer que o denunciante seja devidamente notificado. Estando numa lógica em


que o denunciante deve ser identificado nós também sabemos que se a denúncia for a
crime público, o MP (princípio da oficialidade) quando adquire a notícia do crime ele
tem de promover o processo penal, recebe a denúncia de um crime público e é obrigado
a abrir o inquérito. Esta é a logica. No entanto temos as exceções.

O que interessa aqui são os nº6, nº7 e nº8.

O que é a denúncia anónima? – neste contexto há aqui uma entorse ao princípio


da oficialidade e isso é uma chamada de atenção porque precisamente quem denuncia
pela razão x tem de se identificar para ser convocado como testemunha por exemplo e
quando temos uma denúncia anónima é alguém que participa no crime mas não se quer
identificar, não sabemos se os factos são inventados, se têm sustentação, de onde vêm.

92
Há aqui uma variação porque quando temos o princípio da oficialidade significa
que a obrigação do MP é perante uma notícia de crime que tem alguma base para
confirmar o ponto de partida, tem uma pessoa, um interlocutor, o denunciante que está
identificado. No caso da denúncia anónima, o MP não pode imediatamente promover à
abertura do inquérito, o MP primeiro tem de perceber se aquela denúncia anónima tem
sustento suficiente para dar origem a um inquérito ou se pelo contrário se trata de uma
denúncia caluniosa. Não há aquele automatismo que conhecemos nas denúncias
identificadas dos crimes públicos. Quer dizer que a denúncia anónima durante muitos
anos não era admitida.

No contexto do combate à corrupção foi introduzida uma alteração admitindo-


se a denúncia anónima, mas esta entrada tem este condicionalismo, primeiro tem que
se perceber o que é aquela denúncia. Isto é importante porque o MP nestes casos tem
de fazer uma coisa que não existe na fase de inquérito, as averiguações preliminares
para ver se dá para abrir inquérito ou se a denuncia é caluniosa. Isto é importante
porque as escutas telefónicas são o meio mais eficaz de obter prova. O MP ordena
escutas telefónicas. Nos crimes de corrupção por um lado tem muita denúncia anonima
e por outro lado permite as escutas e o MP precipita-se, ordena escutas antes de
averiguar se os elementos da denúncia anónima podem determinar a abertura de um
inquérito. Uma das coisas que se deve perceber é que a denúncia anonima ainda que
não esteja excluída como forma de aquisição de noticia do crime é uma forma especial
de aquisição da noticia do crime uma vez que não produz os mesmos efeitos da denúncia
identificada.

Lei 79/2021 – alterações ao Código de Processo Penal

Fase de inquérito:

Suspensão provisória do processo - artigo 281 do CPP

É uma solução de oportunidade, em que o arguido aceita que lhe sejam impostas
injunções. A questão coloca-se quando há um incumprimento por parte do arguido e o
processo continua. O artigo 282 do CPP só permite arquivamento se o arguido tiver
cumprido todas as injunções que lhe foram propostas.

Exemplo: se o arguido aceitou não exercer determinadas profissões, artigo 281


nº2 f) do CPP, pode ser uma sanção em sentido próprio é grave no que é a delimitação
dos direitos fundamentais. Mas para lhe ser proposta a suspensão do processo tem a
ver com as injunções do processo e os requisitos e não houver um grau elevado de
gravidade.

Nº2 - têm que ser proporcionais ao caso concreto, mas as injunções não podem
ser confundidas com sanções, e basta esta para perceber que no âmbito da suspensão
não há uma decisão quanto à culpa do agente, mas uma apreciação mínima da mesma.
Artigo 282 nº4 do CPP.

93
Fase de instrução:

Requerimento de abertura - artigo 287 do CPP Em caso de arquivamento o


assistente pode requerer a abertura de instrução, artigo 287 nº1 b) do CPP.

O requerimento não tem formalidade formal ainda que sejam exigidos certos
conteúdos, nº3 do artigo 287, não tem a ver com as exigências do nº2

Fase de julgamento:

Saneamento do processo – artigo 311 do CPP

Género de limpeza do processo, ou seja, este artigo diz que o tribunal de


julgamento antes de avançar tem que fazer uma “limpeza”. Pode receber o processo:

• sede de instrução, há uma pronúncia, já houve uma limpeza, porque já


foi feita judicialmente, ou:

• em sede de acusação, ainda nenhum juiz olhou para ela, vem


diretamente de inquérito, nº2 (aplicam-se todos os números).

a) Não pode haver reedição de despacho de pronúncia, conjugação com o nº3


para saber quando é infundada

b) Artigo 283 e 284 do CPP

94
06/01/2022

Sumário:

O processo sumário

O processo abreviado

O processo sumaríssimo

Aula:

Formas especiais de processo:

• Processo sumário – artigo 381º e ss do CPP

• Processo abreviado – artigo 391º-A e ss do CPP

• Processo sumaríssimo – artigo 392º a 398º do CPP

Estes processos destinam-se à criminalidade menos grave, dentro do limite até


aos 5 anos.

Uma das coisas que é comum ao processo sumário e ao processo abreviado é


uma ideia de facilitação de prova. A prova é mais linear, direta. Dessa perspetiva diminui
a complexidade em termos de exigências quanto ao próprio processo penal.

Por outro lado, todas estas formas assentam numa lógica de afirmação do
princípio da celeridade. Mediante os pressupostos de cada uma delas, todas elas
pretendem que o processo penal seja rápido, que não demore. Se pensarmos naquilo
que são os prazos normais da tramitação comum e os tempos que são destes processos
especiais, qualquer um deles é muito mais rápido. O legislador quis encontrar aqui uma
forma de “escoar” os processos de forma mais rápida.

Processo sumário:

A ideia é “foste apanhado vais imediatamente a julgamento”. Há inquéritos que


duram 10 anos, aqui a ideia é que o processo dure 48h.

Artigo 381º nº1 b) do CPP – se for um civil a fazer a detenção em flagrante delito,
o civil não pode ter demorado mais do que 2h entre a detenção e a entrega. Quando
estamos perante o flagrante delito há uma série de procedimentos que têm de ser
feitos.

Em termos de início do julgamento, é normal que o próprio legislador se tenha


preocupado em estabelecer patamares. Vamos encontrar isto no âmbito do artigo 387º
do CPP – no nº1 estabelece a regra geral (48h) mas também abre degraus consoante
nós estejamos perante o exercício do direito de defesa, ou o MP entender que deve
seguir para a suspensão provisória do processo. Temos a questão dos 15 dias como
máximo para casos em que o MP considere apreciar se deve ou não ser aplicada uma

95
medida de oportunidade. Ou então 20 dias após a detenção e se o julgamento não
começar até esses 20 dias não poderá haver tramitação sob forma sumária.

Uma das coisas que é ainda possível é a intervenção das partes civis – ainda que
seja uma forma simplificada de tramitação, pretende-se manter as garantias essenciais
e também permitir a intervenção mínima dos intervenientes processuais que possam
ter interesse na causa. Artigo 388º do CPP – é uma intervenção muito limitada.

O artigo 389º do CPP tem uma lógica de tramitação simplificada que nos vem
dizer várias coisas. Em primeiro lugar, não haverá na verdade necessidade absoluta de
uma acusação. O nº1 do artigo 389º diz-nos que a acusação pode limitar-se a ser a
leitura do auto de notícia. O nº4 é uma lógica de simplificação. A ideia é ser tudo rápido
e compacto.

O artigo 389º-A do CPP simplifica as exigências das decisões finais em relação ao


artigo 374º do CPP.

Podem acontecer uma de duas coisas. Por exemplo, haver aqui um erro e por
exemplo o crime em causa ser punível com pena superior a 5 anos e o MP nunca ter dito
que não devia ser superior até 5 anos. Casos em que o artigo 390º do CPP admite o
reenvio dos processos sob outra forma.

Quando estamos num processo sumário significa que reenviando para outra
forma temos duas possibilidades: ou podemos reenviar ainda para o processo abreviado
ou podemos reenviar para o processo comum. Não há a lógica do sumaríssimo porque
aplica-se a outros casos mais especiais.

Artigo 391º do CPP – uma das coisas que acontece muito é o sucessivo recurso
de decisões interlocutórias, decisões proferidas durante as diferentes fases processuais.
Há uma limitação do direito ao recurso. Tratando-se de uma decisão intermédia nesse
caso não iremos poder recorrer.

Processo abreviado:

É mais simples do que o processo sumário porque já conhecendo o processo


comum e o processo sumário, o processo abreviado decorre da fusão dos dois. Temos,
desde logo, a ideia da criminalidade menos grave (artigo 391º-A nº1 do CPP) e ideia de
simplicidade de prova. Já não temos aqui um flagrante delito, mas temos ainda a ideia
de simplificação de prova. Nos termos do nº3 a ideia de prova simples e evidente que
encontramos no nº1 está explicitada. Temos como prova simples 3 hipóteses - quando
tenha havido flagrante delito e por alguma razão o julgamento não se pode realizar em
processo sumário, depois temos outras duas possibilidades, desde logo a prova ser
essencialmente documental (crimes de falsificação de documentos em que a prova é o
próprio documento) e a circunstância de todas as testemunhas terem uma versão
uniforme dos factos, há muitos autores que vêem a necessidade de interpretação
restritiva. Não precisamos de tramitar o processo na forma comum e podemos mantê-
lo mais rápido.

96
Diferença entre este processo e o processo sumário – artigo 391º-B nº2 do CPP
– o prazo máximo de dedução de acusação é de 90 dias, isto quer automaticamente
significar duas coisas: em primeiro lugar, isto significa que o processo abreviado é mais
lento do que o processo sumário. Este é mais rápido do que o processo comum – artigo
276º do CPP. Exigência às diferentes peças processuais – vimos como ideia geral que a
acusação era substituída pela leitura do auto de notícia para efeitos do processo
sumário, o que vemos no nº1 do artigo 391º-B é que se vai exigindo que a acusação seja
um pouco mais completa do que a mera leitura do auto de notícia ainda que possa
quanto à narração dos factos ser feita por remissão ao próprio auto de notícia. É uma
simplificação, mas não tão grande como aquela que encontramos no processo sumário.
Outra coisa é que o processo abreviado tem um momento próprio de saneamento antes
do julgamento.

Estando em processo sumário (artigo 390º) tinha duas possibilidades de reenvio;


quando estamos no âmbito do artigo 391º-D do CPP apesar de dizer reenvio para outra
forma de processo só temos a possibilidade de reenvio para o processo comum.

Quanto ao artigo 391º-E do CPP e no âmbito do artigo 389º do CPP para o


processo sumário (nº5 e nº6), nós vemos que o processo abreviado baseia-se nas
disposições gerais do processo comum.

O legislador no artigo 391º-F do CPP remeteu para o artigo 389-A do CPP.

O processo sumário e o processo abreviado são duas formas de tramitação que


têm objetivos próprios de prossecução do princípio da celeridade.

Processo sumaríssimo:

É pensado como mais um afloramento de mecanismos de oportunidade que são


dados ao MP sendo que nos restantes há sempre uma lógica de vantagem em relação
ao arguido.

Forma de o MP negociar e negociando também oferece alguma vantagem ao


MP. No caso dos artigos 280º e 281º do CPP o arguido até ganha bastante, o MP diz que
aqui não é preciso haver um processo propriamente dito e oferece a possibilidade de
um arquivamento. Se o arguido “se portar bem” vê-se livre de uma condenação e de um
correspondente registo criminal.

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Relativamente ao processo sumaríssimo, não há inquérito, não há instrução
(decorre da regra geral), não há julgamento, e o arguido é condenado. Para o MP
evidentemente despacha um processo e fica com uma taxa de condenação em termos
de eficácia melhorada. No processo sumaríssimo (artigo 382 e ss do CPP), no fundo,
temos uma situação em que estamos perante casos de crimes de menor gravidade (nº1
do artigo 392º do CPP) em que a contrapartida que observamos quanto ao tal
mecanismo de oportunidade do MP, é o MP que em determinadas circunstâncias aqui
oferece uma pena livre de prisão. Se são só puníveis com pena de multa, para todos os
efeitos não há punição com pena privativa da liberdade. Nessa perspetiva aqui já há
dificuldade de ver qual a real vantagem que possa haver para o arguido. O MP entende
que naquele caso não há necessidade de aplicação de uma pena não privativa da
liberdade ao arguido.

Temos algumas limitações: não é permitido em caso algum a intervenção das


partes civis (artigo 393º do CPP).

O MP vai propor que seja aplicado ao arguido uma sanção em termos gerais que
pode ser por exemplo a prestação de trabalho a favor da comunidade – artigo 394º do
CPP.

O juiz recebe o requerimento e tem duas hipóteses – 1ª hipótese: rejeita e


rejeitando segue para outra forma de tramitação e diz que não pode tramitar naquela
forma; 2ª hipótese: quando considera que o que foi imposto ao arguido não está de
acordo com os artigos da finalidade de punição e necessidade de pena.

Se o juiz manda seguir (artigo 396º do CPP) tendo de notificar o arguido e


constituir necessariamente defensor ao arguido (nº1) sendo que o arguido terá de se
opor ou não opor à sanção proposta do MP e aceite pelo juiz do tribunal. Levanta-se um
novo problema que é que se o arguido não se opuser de forma evidente estaria a aceitar
a sanção através do seu silêncio. Esta disposição é contestada. Tem de haver uma
qualquer manifestação de não oposição ou de aceitação por parte do arguido. Vamos
imaginar que o arguido não se opõe – o que é que acontece a seguir? – não havendo
opsição ao requerimento, olhando para o artigo 397º nº1 do CPP é-lhe aplicada a sanção
proposta pelo MP e olhando para o nº2 esta aplicação tem os efeitos de uma sentença
condenatória. O arguido não é investigado, não é julgado, mas é condenado com registo
criminal.

Temos aqui um mecanismo de oportunidade que põe em demasiado em cheque


aquilo que são as garantias do arguido.

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