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Direito Processual Penal

Noções Fundamentais

O que é o Direito Processual Penal?

• É um ramo do Direito Público que se caracteriza por ser o conjunto de normas e


princípios jurídicos que disciplinam o modo como, perante as autoridades judiciárias
é conduzido o conjunto de atos processuais encadeados entre si com o objetivo de
averiguar da comissão ou não, por um ou mais agentes, de um crime ou de um facto
ilícito-típico, em conformidade condenando ou absolvendo o arguido ou arguidos.
• O Direito Penal vive no Processo Penal; o DPP como “Dto. Const. Aplicado” (Henkel),
como “sismógrafo” de uma sociedade.
• O processo penal como um procedere.
• Estática processual e dinâmica processual.
• A verdade não pode ser obtida a todo o custo, mas no estrito respeito pela CRP, pelo
CPP e por legislação processual penal extravagante.

Constituição Processual Penal

Art. 27º CRP – Direito à liberdade e à segurança


Art. 28º CRP – Prisão preventiva
Art. 29º CRP – Aplicação da lei criminal
Art. 30º CRP – Limites das penas e das medidas de segurança
Art. 31º CRP – Habeas corpus
Art. 32º – Garantias de processo criminal

Relações entre o DPP e o Dto. Const. – mútua complementaridade funcional Constituição


processual pena
• Princípio da legalidade – nullum crimen, nulla poena sine judicio
• Princípio da judicialidade – art. 202.º da CRP
• Princípio da intransmissibilidade das reacções criminais (penas e medidas de
segurança)
• Princípio da limitação temporal das reacções criminais
• Recusa da pena de morte, da prisão perpétua, de medidas de duração
indeterminada ou ilimitada
• Recusa de penas desumanas, cruéis, degradantes, de maus-tratos físicos ou
psíquicos
• Princípio da não automaticidade das penas

Expressa previsão de um modelo processual de base acusatória, com recusa de puros


modelos inquisitórios.
Existência de proibições de prova – a verdade tem de ser intraprocessualmente válida
(princípio da dignidade da pessoa).
Limitação temporal de detenção até ao máximo de 48 h até o suspeito ser presente a um
juiz de instrução criminal.
Previsão expressa do habeas corpus como medida extraordinária de reacção contra a
detenção ou prisão ilegais.
Consagração das mais amplas garantias de defesa do arguido, incluindo o recurso (v. g., fair
trial, due process of law, igualdade de armas, publicidade, contraditório, proibição de
“decisões-surpresa”, conhecimento dos factos imputados ao arguido desde a sua detenção).
A decisão final deve ser proferida no mais curto espaço de tempo compatível com as
garantias de defesa do arguido (art. 20.º da CRP – acesso ao Direito e tutela jurisdicional
efectiva) – emanação da CEDH, de entre outros instrumentos de Direito Internacional
Público.

• Princípio do juiz natural e proibição de desaforamento


• Publicidade das audiências de julgamento, como regra
• Garantias de imparcialidade das autoridades judiciárias (impedimento, escusa e
recusa)
• Presunção de inocência e sua ligação ao princípio do in dubio pro reo

Fins ou finalidades do processo penal

Existência de várias classificações.


Determinar se ocorreu ou não crime ou facto ilícito-típico e condenar ou absolver o/os
arguido/s em conformidade, no respeito pelos direitos fundamentais de todos os sujeitos e
intervenientes processuais.
O processo penal deve ser capaz de realizar a justiça e conduzir ao apuramento da verdade.
® Verdade material e formal e sua superação
® Não se busca a verdade histórica, mas aquela que é válida em função das
determinações do CPP e de legislação processual penal extravagante

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Pacificação social (vertente processual das teorias da prevenção, de preferência positivas, a
que alude o art. 40.º, n.º 1 do CP)

Modelos processuais penais

Praticamente inexistem hoje modelos puros (o que já sucedeu no passado)


® Modelo inquisitório puro
Típica de uma concepção autoritária do Estado (ex. Estado absolutista); o essencial é o
interesse do Estado.
Carácter inquisitório, escrito e secreto do processo; sistema de provas legais; admissão da
tortura: prévia tarifação dos meios de prova e seus resultados.
A entidade que investiga e acusa é a mesma que julga (dificuldades ao nível da
imparcialidade).
O arguido é um mero objecto do processo e daí que se procure uma suposta verdade
material.
Não importa os meios de prova e os meios da sua obtenção para se atingir a verdade (na
prática, admissão da tortura, de meios enganosos de prova).
A autoridade judiciária é o verdadeiro dominus de todo o processo.

® Modelo acusatório puro


Típico de um Estado liberal onde o sujeito ocupa o centro das suas preocupações.
Arguido essencialmente como sujeito de direitos (pode ser, apenas e tão-só nas hipóteses
consagradas na Lei, também objecto do processo).
A entidade que investiga e que acusa é diferente da que julga: finalidades (imparcialidade
do julgador).
Estabelecimento das mais amplas garantias de defesa do arguido.
A verdade só releva quando é processualmente válida e não a todo o custo: métodos
proibidos de prova.
Processo de partes (modelo adversarial); existência de um verdadeiro ónus da prova; o juiz
como um terceiro imparcial e praticamente impassível, não lhe cabendo carrear para os
autos provas motu próprio.
A oportunidade e o consenso como regra (plea bargaining).

® Modelo de estrutura mista, inquisitória mitigada ou moderna


Instrução preparatória a cargo de um juiz que, no fim do inquérito, determinava ao MP que
acusasse ou não.

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Apenas se mantinha uma forma acusatória e não um verdadeiro sistema acusatório.
Desigualdade de armas.
Tentativa de funcionalização dos magistrados.
Típico dos regimes autoritários e/ou fascistas do séc. XX
CPP de 1929

O modelo processual penal vigente (CPP de 1988) – art. 32º, nº5 CRP

Tendencialmente acusatório (ou de base acusatória), integrado por um princípio de


investigação processual (F. Dias); não é um processo de partes, mas de sujeitos processuais
Exs. do princípio de investigação processual: oficialidade quanto aos meios de prova e de
obtenção de prova; art. 340.º
Atribuição da primeira fase processual, de investigação, a uma magistratura diferente da
judicatura, em que os OPC actuam sob a dependência funcional do MP
Existência de uma fase intercalar, da competência de um JIC, tendo como objectivo o
controlo da decisão que encerra o inquérito, meramente eventual e que tem como único
acto processual obrigatório a realização do debate instrutório
Fase de julgamento como a fase mais relevante, pois é com base nas provas aí produzidas
ou examinadas que o arguido será absolvido ou condenado (art. 355.º); contraditório pleno;
igualdade de armas.

Estática e dinâmicas processuais

Estática:
• Modelos processuais penais
• Princípios fundamentais do CPP
• Pressupostos processuais
• Teoria dos sujeitos processuais
• Teoria dos actos processuais

Dinâmica:
Análise das formas processuais, suas fases e dos actos processuais que as compõem

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Formas de processo penal

Processo comum:
• Perante tribunal singular (em regra, crimes puníveis com pena de prisão de máximo
não superior a 5 anos, ou quando o MP recorra ao art. 16.º, n.º 3 e esse limite não
seja ultrapassado // Artigo 22.º (cont.)
• Perante tribunal colectivo (crimes com moldura penal superior)
• Perante tribunal do júri (em regra, crimes puníveis com prisão de máximo superior a
8 anos)

Processos especiais:
• Oportunidade e consenso; razões de economia e celeridade processuais)
• Sumário (artigos 381.º, ss.)
• Abreviado (artigos 391.º-A, ss.)
• Sumaríssimo (artigos 392.º, ss.)

Visita guiada ao CPP

Disposições preliminares e gerais


• Parte I (estática processual)
o Livro I – Dos sujeitos do processo: juiz e tribunal, MP e OPC, arguido e seu
defensor, vítima, assistente, partes civis
o Livro II – Dos actos processuais: forma dos actos e sua documentação, tempo
dos actos e aceleração processual, comunicação e convocação para actos
processuais, nulidades processuais
o Livro III – Da prova (meios de prova e meios de obtenção da prova)
o Livro IV – Das medidas de coacção processual e de garantia patrimonial
o Livro V – Relações com autoridades estrangeiras e entidades judiciárias
internacionais

• Parte II (dinâmica processual)


o Livro VI – Das fases preliminares: aquisição da notícia do crime, medidas cautelares e
de polícia, detenção, inquérito (actos e encerramento), instrução (actos, debate
instrutório e encerramento)
o Livro VII – Do julgamento (actos preliminares – saneamento do processo, audiência,
produção da prova, documentação da audiência, sentença)
o Livro VIII – Dos processos especiais (sumário, abreviado e sumaríssimo)
o Livro IX – Dos recursos (ordinários: princípios gerais, tramitação unitária, perante as
Relações e o STJ; extraordinários: de fixação de jurisprudência e de revisão)

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o Livro X – Das execuções (de penas e medidas de segurança; de bens e destino das
multas)
o Livro XI – Da responsabilidade por custas

Interpretação da lei processual penal, integração de lacunas e aplicação da lei no tempo

Interpretação:
Sem especificidades de relevo a assinalar
Elementos de interpretação:
• Literal ou gramatical
• Sistemático
• Teleológico ou racional
• Histórico

Prevalência de uma interpretação actualista e objectivista em detrimento de uma


hermenêutica historicista e subjectivista.
Absoluta interpretação conforme à Constituição (“Direito Constitucional aplicado”, Henkel).
Resultados de interpretação:
• interpretação extensiva
• restritiva in malem partem – cuidados .
Correntes jurisprudenciais fixas: nada impõe uma interpretação a favor do arguido – o papel
actual da jurisprudência como mera fonte mediata.

Integração de lacunas:
Artigo 4.º
(Integração de lacunas) – Nos casos omissos, quando as disposições deste Código não
puderem aplicar-se por analogia, observam-se as normas do processo civil que se
harmonizem com o processo penal e, na falta delas, aplicam-se os princípios gerais do
processo penal.
1.º: normas e princípios análogos do CPP, excepto se in malam partem (também se chega a
esta conclusão por via do art. 11.º do CC, em matéria de leis excepcionais que não
comportam aplicação analógica: Cavaleiro de Ferreira)

Artigo 11.º
(Normas excepcionais) – As normas excepcionais não comportam aplicação analógica, mas
admitem interpretação extensiva.

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2.º: normas do CPC que se adequem ao processo penal (estatuto de direito subsidiário)
Exs. marcação de datas de debate instrutório e de audiência de julgamento por consenso
entre mandatários judiciais; em sede de tramitação de recursos; proibição da prática de
actos inúteis (celeridade processual)

3.º: princípios gerais do processo penal (e daí uma das razões para a necessidade do seu
estudo)

Aplicação da lei no tempo

Art. 5.º: (Aplicação da lei processual penal no tempo)


A lei processual penal não se aplica aos processos iniciados anteriormente à sua vigência
quando da sua aplicabilidade imediata possa resultar:
a) Agravamento sensível e ainda evitável da situação processual do arguido, nomeadamente
uma limitação do seu direito de defesa; ou
b) Quebra da harmonia e unidade dos vários actos do processo.

Regra geral – aplicação imediata na lei nova, mesmo aos processos já pendentes – tempus
regit actum: explicação em função da natureza das normas de Direito adjectivo; sem
prejuízo da validade dos actos praticados à luz de lei anterior.

Exceções:
Quando a lei nova implique um prejuízo para a posição processual do arguido – cf., entre
tantos, o ac. do TC n.º 324/2013 (ex. lei antiga admitia recurso na data do início do processo
– aquisição da notícia do crime – e depois não o admite) – n.º 2, al. a) – concretização do
art. 32.º, n.º 1 CRP.
Quando a aplicação imediata da nova lei implicar a quebra da harmonia e unidade dos
vários actos do processo – n.º 2, al. b).

Alteração da natureza do crime à luz do princípio da oficialidade:


Crimes semipúblicos e particulares que passam a públicos: não levantam dificuldades, uma
vez que se exigia mais do ofendido/assistente para a prossecução criminal e agora exige-se
menos.
Crimes públicos que passam a particulares em sentido amplo: entende-se que a nova lei não
afecta a validade da instância processual.

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A teoria dos sujeitos processuais

Noções:
Sujeito processual: é aquele que tem um efectivo poder de conformação do objecto do
processo; participação mais activa na prossecução dos fins do processo pena
® Tribunal
® MP
® Arguido e seu defensor
® Assistente (e seu mandatário)
® Vítima

Interveniente processual: não contribui para a conformação do objecto processual; papel


secundário: OPC, funcionários judiciais, partes civis, testemunhas, peritos, consultores
técnicos, público

O tribunal

Art. 202.º da CRP: órgão de soberania que administra a justiça em nome do Povo
Artigo 202.º (Função jurisdicional)
Princípio do juiz natural e proibição do desaforamento
Importância do Estatuto dos Magistrados Judiciais (EMJ) quanto às prerrogativas de que
gozam os magistrados judiciais (Lei n.º 21/85, de 30/7)
® Independência
® Irresponsabilidade
® Inamovibilidade

De entre as ordens jurisdicionais, apenas analisaremos os tribunais judiciais


• Singular (1 juiz)
• Colectivo (3 juízes)
• Do júri (3 juízes e 4 jurados: cf. DL n.º 387-A/87, de 29/12)
• 4 jurados efectivos e 4 suplentes
• O júri intervém na decisão das questões da culpabilidade e da determinação da
sanção
• Pode ser jurado quem tiver idade inferior a 65 anos; escolaridade obrigatória;
ausência de doença ou anomalia física ou psíquica que torne impossível o bom
desempenho do cargo; pleno gozo dos direitos civis e políticos; não estarem presos
ou detidos, nem em estado de contumácia, nem haverem sofrido (…) condenação
definitiva em pena de prisão efectiva

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• Processo de selecção e possibilidade de recusa não fundamentada
• Juízos Locais Criminais
• Juízos Centrais Criminais

Legislação:
LOSJ – Lei da Organização do Sistema Judiciário (Lei n.º 62/2013, de 26 de Agosto; última
alteração pela Lei Orgânica n.º 4/2017, de 25 de Agosto)
Regulamentação da LOSJ e regime aplicável à Organização e Funcionamento dos Tribunais
Judicias (Decreto-Lei n.º 49/2014, de 27 de Março)

Art. 39.º da LOSJ: Nenhuma causa pode ser deslocada do tribunal ou juízo competente para
outro, a não ser nos casos especialmente previstos na lei.
Art. 81.º da LOSJ:
1 - Os tribunais de comarca desdobram-se em juízos, a criar por decreto-lei, que podem ser
de competência especializada, de competência genérica e de proximidade, nos termos do
presente artigo e do artigo 130.º
2 - Os juízos designam-se pela competência e pelo nome do município em que estão
instalados.
3 - Podem ser criados os seguintes juízos de competência especializada:
(…)
c) Central criminal;
d) Local criminal;
e) Local de pequena criminalidade;
f) Instrução criminal;
(…)
4 - Sempre que o volume processual o justifique podem ser criados, por decreto-lei, juízos
de competência especializada mista. (…)

Art. 83.º da LOSJ:


1- Podem existir tribunais judiciais de primeira instância com competência para mais do que
uma comarca ou sobre áreas especialmente referidas na lei, designados por tribunais de
competência territorial alargada.
2 - Os tribunais referidos no número anterior são de competência especializada e conhecem
de matérias determinadas, independentemente da forma de processo aplicável.
3 - São, nomeadamente, tribunais de competência territorial alargada: (…)
b) O tribunal da concorrência, regulação e supervisão; (…)
d) O tribunal de execução das penas;
e) O tribunal central de instrução criminal.

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Art. 118.º da LOSJ: 1 - Compete aos juízos centrais criminais proferir despachos nos termos
dos artigos 311.º a 313.º do Código do Processo Penal, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 78/87,
de 17 de Fevereiro, e proceder ao julgamento e aos termos subsequentes nos processos de
natureza criminal da competência do tribunal colectivo ou do júri.
2 - Os juízos centrais criminais de Lisboa e do Porto têm competência para o julgamento de
crimes estritamente militares, nos termos do Código de Justiça Militar.

Art. 119.º da LOSJ:


1 - Compete aos juízos de instrução criminal proceder à instrução criminal, decidir quanto à
pronúncia e exercer as funções jurisdicionais relativas ao inquérito, salvo nas situações,
previstas na lei, em que as funções jurisdicionais relativas ao inquérito podem ser exercidas
pelos juízos locais criminais ou pelos juízos de competência genérica.

Art. 120.º da LOSJ:


1 - A competência a que se refere o n.º 1 do artigo anterior, quando a actividade criminosa
ocorrer em comarcas pertencentes a diferentes tribunais da Relação, cabe a um tribunal
central de instrução criminal, quanto aos seguintes crimes:
a) Contra a paz e a humanidade;
b) Organização terrorista e terrorismo;
c) Contra a segurança do Estado, com excepção dos crimes eleitorais;
d) Tráfico de estupefacientes, substâncias psicotrópicas e precursores, salvo tratando-se de
situações de distribuição directa ao consumidor, e associação criminosa para o tráfico;
e) Branqueamento de capitais;
f) Corrupção, peculato e participação económica em negócio;
g) Insolvência dolosa;
h) Administração danosa em unidade económica do sector público;
i) Fraude na obtenção ou desvio de subsídio, subvenção ou crédito;
j) Infracções económico-financeiras cometidas de forma organizada, nomeadamente com
recurso à tecnologia informática;
k) Infracções económico-financeiras de dimensão internacional ou transnacional.

Art. 130.º da LOSJ:


1 - Os juízos locais (…) criminais e de competência genérica possuem competência na
respectiva área territorial, tal como definida em decreto-lei, quando as causas não sejam
atribuídas a outros juízos ou tribunal de competência territorial alargada.
2 - Os juízos locais (…) criminais e de competência genérica possuem ainda competência
para:
a) Proceder à instrução criminal, decidir quanto à pronúncia e exercer as funções
jurisdicionais relativas ao inquérito, onde não houver juízo de instrução criminal ou juiz de
instrução criminal;
b) Fora dos municípios onde estejam instalados juízos de instrução criminal, exercer as

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funções jurisdicionais relativas aos inquéritos penais, ainda que a respectiva área territorial
se mostre abrangida por esse juízo especializado; (…)
d) Julgar os recursos das decisões das autoridades administrativas em processos de contra-
ordenação, salvo os recursos expressamente atribuídos a juízos de competência
especializada ou a tribunal de competência territorial alargada;
e) Cumprir os mandados, cartas, ofícios e comunicações que lhes sejam dirigidos pelos
tribunais ou autoridades competentes;
f) Exercer as demais competências conferidas por lei.
(…) 4 - Os juízos de pequena criminalidade, possuem competência para:
a) Causas a que corresponda a forma de processo sumário, abreviado e sumaríssimo;
b) Recursos das decisões das autoridades administrativas em processo de contra-ordenação
a que se refere a alínea d) do n.º 2, quando o valor da coima aplicável seja igual ou inferior a
(euro) 15 000,00, independentemente da sanção acessória.
5 - Compete aos juízos de proximidade:
a) Assegurar a realização, de acordo com o regime constante dos n.ºs 3 e 4 do artigo 82.º,
das audiências de julgamento dos processos de natureza criminal da competência do
tribunal singular;
b) Assegurar a realização das demais audiências de julgamento ou outras diligências
processuais que sejam determinadas pelo juiz competente, nomeadamente quando daí
resultem vantagens para a aquisição da prova ou as condições de acessibilidade dificultem
gravemente a deslocação dos intervenientes processuais. (…)

Competência territorial: CPP


Art. 19.º (Regras gerais)
Art. 20.º (Crime cometido a bordo de navio ou aeronave)
Art. 21.º (Crime de localização duvidosa ou desconhecida)
Art. 22.º (Crime cometido no estrangeiro)
Art. 23.º (Processo respeitante a magistrado)

Competência por conexão


Conexão (art. 24.º, CPP)
® Objectiva
c) O mesmo crime tiver sido cometido por vários agentes em comparticipação;
d) Vários agentes tiverem cometido diversos crimes em comparticipação, na mesma ocasião
ou lugar, sendo uns causa ou efeito dos outros, ou destinando-se uns a continuar ou a
ocultar os outros; ou
e) Vários agentes tiverem cometido diversos crimes reciprocamente na mesma ocasião ou
lugar.

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® Subjectiva
a) O mesmo agente tiver cometido vários crimes através da mesma acção ou omissão;
b) O mesmo agente tiver cometido vários crimes, na mesma ocasião ou lugar, sendo uns
causa ou efeito dos outros, ou destinando-se uns a continuar ou a ocultar os outros;

® Territorial:
Art. 25.º do CPP: há ainda conexão de processos quando o mesmo agente tiver cometido
vários crimes cujo conhecimento seja da competência de tribunais com sede na mesma
comarca, nos termos dos artigos 19.º e seguintes.

Artigo 25.º
(Conexão de processos da competência de tribunais com sede na mesma comarca)
Para além dos casos previstos no artigo anterior, há ainda conexão de processos quando o
mesmo agente tiver cometido vários crimes cujo conhecimento seja da competência de
tribunais com sede na mesma comarca, nos termos dos artigos 19.º e seguintes.

Limites à conexão (art. 24.º, CPP):


Só opera relativamente aos processos que se encontrarem simultaneamente na fase de
inquérito, de instrução ou de julgamento (n.º 2)
Não opera entre processos que sejam e processos que não sejam da competência de
tribunais de menores (art. 26.º, CPP)
Se os processos conexos devessem ser da competência de tribunais de diferente hierarquia
ou espécie, é competente para todos o tribunal de hierarquia ou espécie mais elevada (art.
27.º, CPP)

Art. 29.º (Unidade e apensação dos processos)


1 - Para todos os crimes determinantes de uma conexão, nos termos das disposições
anteriores, organiza-se um só processo.
2 - Se tiverem já sido instaurados processos distintos, logo que a conexão for reconhecida
procede-se à apensação de todos àquele que respeitar ao crime determinante da
competência por conexão.

Artigo 26.º (Limites à conexão)


A conexão não opera entre processos que sejam e processos que não sejam da competência
de tribunais de menores.

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Artigo 27.º (Competência material e funcional determinada pela conexão)
Se os processo conexos devessem ser da competência de tribunais de diferente hierarquia
ou espécie, é competente para todos o tribunal de hierarquia ou espécie mais elevada.

Art. 28.º (Competência determinada pela conexão)

Art. 31.º (Prorrogação da competência)


Art. 30.º (Separação dos processos)
Art. 32.º (Conhecimento e dedução da incompetência
Art. 33.º (Efeitos da declaração de incompetência)
Artigo 34.º (Casos de conflito e sua cessação)

Dos impedimentos, recusas e escusas

Impedimentos (artigos 40.º a 42.º do CPP):


® Relação com sujeitos processuais (art. 39.º)
® Por participação em processo (art. 40.º)

Deve ser declarado pelo próprio juiz ou requerida a declaração pelo MP, arguido, assistente
ou partes civis.
Se juiz se considera impedido não há recurso
Se considera que não existe impedimento, há recurso para o tribunal imediatamente
superior

Recusa (quando correr o risco de ser considerada suspeita, por existir motivo, sério e grave,
adequado a gerar desconfiança sobre a sua imparcialidade: art. 43.º); pode ser requerida
pelo Ministério Público, pelo arguido, pelo assistente ou pelas partes civis (n.º 2);

O Ministério Público

Art. 219.º da CRP

Caracterização:
• Autonomia/independência

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• Hierarquia
• Conselho Superior do Ministério Público
• Relação com o Ministério da Justiça (participação no estabelecimento e execução da
política criminal)
• Princípio da legalidade, objectividade e imparcialidade
• MP de modelo napoleónico
• Não é uma parte, mas um sujeito processual, pelo que não temos um processo de
partes, mas de sujeitos
• Inexistência de um verdadeiro ónus processual
• O MP investiga à charge et à décharge

Estatuto do Ministério Público


1 - O Ministério Público goza de autonomia em relação aos demais órgãos do poder central,
regional e local, nos termos da presente lei.
2 - A autonomia do Ministério Público caracteriza-se pela sua vinculação a critérios de
legalidade e objectividade e pela exclusiva sujeição dos magistrados do Ministério Público às
directivas, ordens e instruções previstas nesta lei.

Art. 3.º
1 - Compete, especialmente, ao Ministério Público:
a) Representar o Estado, as Regiões Autónomas, as autarquias locais, os incapazes, os
incertos e os ausentes em parte incerta;
b) Participar na execução da política criminal definida pelos órgãos de soberania;
c) Exercer a acção penal orientada pelo princípio da legalidade;
d) Exercer o patrocínio oficioso dos trabalhadores e suas famílias na defesa dos seus direitos
de carácter social;
e) Assumir, nos casos previstos na lei, a defesa de interesses colectivos e difusos;
f) Defender a independência dos tribunais, na área das suas atribuições, e velar para que a
função jurisdicional se exerça em conformidade com a Constituição e as leis;
g) Promover a execução das decisões dos tribunais para que tenha legitimidade;
h) Dirigir a investigação criminal, ainda quando realizada por outras entidades;
i) Promover e realizar acções de prevenção criminal;
j) Fiscalizar a constitucionalidade dos actos normativos;
l) Intervir nos processos de falência e de insolvência e em todos os que envolvam interesse
público;
m) Exercer funções consultivas, nos termos desta lei;
n) Fiscalizar a actividade processual dos órgãos de polícia criminal;

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o) Recorrer sempre que a decisão seja efeito de conluio das partes no sentido de fraudar a
lei ou tenha sido proferida com violação de lei expressa;
p) Exercer as demais funções conferidas por lei.
2 - A competência referida na alínea f) do número anterior inclui a obrigatoriedade de
recurso nos casos e termos da Lei de Organização, Funcionamento e Processo do Tribunal
Constitucional.
3 - No exercício das suas funções, o Ministério Público é coadjuvado por funcionários de
justiça e por órgãos de polícia criminal e dispõe de serviços de assessoria e de consultadoria.

Como se opera?
Entrega, sempre que possível no próprio acto, de documento de que constem a
identificação do processo e do defensor, se este tiver sido nomeado, e os direitos e deveres
processuais referidos no art. 61.º (art. 58.º, n.º 4)

Artigo 58.º (Constituição de arguido)


4 - A constituição de arguido implica a entrega, sempre que possível no próprio acto, de
documento de que constem a identificação do processo e do defensor, se este tiver sido
nomeado, e os direitos e deveres processuais referidos no artigo 61.º

A constituição de arguido feita por OPC é comunicada à autoridade judiciária no prazo de 10


dias e por esta apreciada, em ordem à sua validação, no prazo de 10 dias (art. 58.º, n.º 3)
Sanção: proibição de prova relativa (art. 58.º, n.ºs 5 e 6) – as declarações prestadas pela
pessoa visada não podem ser utilizadas como prova, mas a não validação não prejudica as
provas anteriormente obtidas

Artigo 58.º (Constituição de arguido)


3 - A constituição de arguido feita por órgão de polícia criminal é comunicada à autoridade
judiciária no prazo de 10 dias e por esta apreciada, em ordem à sua validação, no prazo de
10 dias
5 - A omissão ou violação das formalidades previstas nos números anteriores implica que as
declarações prestadas pela pessoa visada não podem ser utilizadas como prova.
6 - A não validação da constituição de arguido pela autoridade judiciária não prejudica as
provas anteriormente obtidas.

Regime próprio para o incumprimento das formalidades de constituição de arguido,


próximo das proibições de prova, mas com aproveitamento de certos actos se a invalidade
consistir na não validação da constituição pela autoridade judiciária

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Ac. TRP de 6-11-2013: IV. Com a dedução da acusação pública, nos termos do art. 57.º, n.º
1, do CPP, o acusado assume a qualidade de arguido. V. Nos termos do n.º 3 do mesmo
artigo 57º do CPP, deveria o acusado ter sido constituído arguido, o que exigia comunicação
oral ou por escrito, sendo correspondentemente aplicável o disposto nos n.ºs 2 a 6 do art.
58.º do mesmo Código. VI. A proibição de prova, decorrente da omissão da constituição de
arguido, cinge-se às declarações que eventualmente tivessem sido prestadas pelo arguido,
não sendo afectadas as demais provas obtidas, as quais mantêm a sua validade e podem ser
valoradas em julgamento.

Posição processual e direitos


Sujeito de direitos (art. 32.º, n.º 1 da CRP)
Pode também ser objecto de medidas estritamente necessárias a finalidades processuais
(MCP, MGP, diligências probatórias)
É-lhe assegurado o exercício de direitos e de deveres processuais, sem prejuízo da aplicação
de medidas de coacção e de garantia patrimonial e da efectivação de diligências
probatórias, nos termos especificados na lei (art. 60.º, CPP).

Artigo 32.º Garantias de processo criminal


1. O processo criminal assegura todas as garantias de defesa, incluindo o recurso.

Artigo 60.º (Posição processual)


Desde o momento em que uma pessoa adquirir a qualidade de arguido é-lhe assegurado o
exercício de direitos e de deveres processuais, sem prejuízo da aplicação de medidas de
coacção e de garantia patrimonial e da efectivação de diligências probatórias, nos termos
especificados na lei.

Art. 61.º, n.ºs 1 e 2 – direitos:


a) Estar presente aos actos processuais que directamente lhe disserem respeito;
b) Ser ouvido pelo tribunal ou pelo juiz de instrução sempre que eles devam tomar qualquer
decisão que pessoalmente o afecte;
c) Ser informado dos factos que lhe são imputados antes de prestar declarações perante
qualquer entidade;
d) Não responder a perguntas feitas, por qualquer entidade, sobre os factos que lhe forem
imputados e sobre o conteúdo das declarações que acerca deles prestar;
e) Constituir advogado ou solicitar a nomeação de um defensor;

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f) Ser assistido por defensor em todos os actos processuais em que participar e, quando
detido, comunicar, mesmo em privado, com ele;
g) Intervir no inquérito e na instrução, oferecendo provas e requerendo as diligências que se
lhe afigurarem necessárias;
h) Ser informado, pela autoridade judiciária ou pelo órgão de polícia criminal perante os
quais seja obrigado a comparecer, dos direitos que lhe assistem;
i) Recorrer, nos termos da lei, das decisões que lhe forem desfavoráveis.
2 - A comunicação em privado referida na alínea f) do número anterior ocorre à vista
quando assim o impuserem razões de segurança, mas em condições de não ser ouvida pelo
encarregado da vigilância.

Art. 61.º, n.º 3 – deveres:


a) Comparecer perante o juiz, o Ministério Público ou os órgãos de polícia criminal sempre
que a lei o exigir e para tal tiver sido devidamente convocado;
b) Responder com verdade às perguntas feitas por entidade competente sobre a sua
identidade;
c) Prestar termo de identidade e residência logo que assuma a qualidade de arguido;
d) Sujeitar-se a diligências de prova e a medidas de coacção e garantia patrimonial
especificadas na lei e ordenadas e efectuadas por entidade competente.

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