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Aula 5

Objectivos da aula:
 Discente conheça os principais modelos ou sistemas do processo penal
vigentes.
 Estrutura do processo penal moçambicano.

Metodologia: expositiva e interactiva. Relacionamento, através de exemplos, com


o dia a dia do discente.

Material didáctico: CRM, CPP, CP, Manuais de Processo Penal.

Clássicos jurídicos, Jorge de Figueiredo Dias, Direito Processual Penal, 1.a edição,
Reimpressão 1974, Coimbra Editora, 2004.

Outras fontes: observação do quotidiano, a vida profissional, o contacto com os


especialistas, legislação vigente, Dicionário, Dicionário Jurídico, Direito Comparado
(contra ordenações), Código Penal, Código de Processo Penal, Código da Estrada,
Código de Processo do Trabalho.
1. Modelos ou sistemas do processo penal vigentes.

SGA.

Na senda dos sujeitos processuais a que ver como estes estão configurados, quanto
a sua actuação.

Conceito de parte e os modelos estruturais do processo penal.

Na doutrina discute-se se o processo penal é de partes? Parece pergunta


retórica. No entanto, com implicações teórico-dogmáticas profundas.

Então o que se entende por parte, em termos técnicos?

No conceito substantivo de parte, seriam os titulares da relação jurídica


substantiva que no processo se discute. Doutrina do processo civil, artigo 26.º do
C.P.C.
Tutela jurídica deduzida contra o Estado. Nesse entendimento, haveria o
Estado (M.oP.o) e o arguido, diante do juiz.

Discussão ultrapassada.

Então temos o conceito processual de parte, são aqueles sujeitos processuais


que discutem a causa e esperam do juiz uma apreciação e decisão do mérito dela.

Não é dever do M.oP.o obter condenações (não tem interesse próprio). O


mesmo pode se dizer do arguido não tem dever de defesa, mas sim, direito de
defesa.

Atenção: estamos a falar de crimes públicos. E não semi-públicos ou


particulares.

Então, o processo penal não é de partes (sentido formal=contraposição de


interesses).

Toda a teorização visa se saber qual é a estrutura do processo penal?

Na história são dois os modelos estruturais:


 Processo inquisitório e

 Processo acusatório puro (exemplo clássico do direito


processual penal inglês).

O primeiro, logo a primeira, se vê que não é de partes, visto que os poderes


concentra-se nas mãos do Juiz (não existindo, nem se quer o acusador).

Vantagem: o juiz conhece melhor os contornos do processo (desde o seu


início).

Desvantagem: impossibilidade psicológica de preservar a imparcialidade de


julgamento; independência judicial face aos poderes do Estado.

Pelo contrário o puro processual de partes o interesse público de


perseguição e punição de infracções penais é encabeçado pelo representante da
acusação (entidade pública ou privada) e o interesse do arguido na absolvição é
encabeçado pelo defensor.

O processo é uma discussão (luta ou duelo) de partes perante um


árbitro com olhar imparcial (também chamada célere impassibilidade e
passividade do julgador britânico). Até colher as provas é das partes. Cabe lhe
apenas a função de garantir o formalismo para que as partes não se furtem do jogo
limpo. Depois tem apoio de jurados para decidir a matéria de facto (questão de
culpa).

Não se visa a verdade material, mas a garantia da liberdade do arguido e


os seus direitos individuais.

Numa situação destas facilmente há a disponibilidade do objecto do processo


(tanto o acusador pode retirar a acusação e a defesa confessar a culpa). Há também
a situação considerada “chocante” para os que não conhecem bem o sistema de
negócios extraprocessuais entre as partes sobre a culpa e a responsabilidade do
arguido.
2. Estrutura fundamental do processo penal em Moçambique.

É inegável que o M.oP.o tem uma posição supraordenada em relação ao


arguido.

Tem o aparato investigatório e coactivo (buscas, apreensões e impor a prisão


do arguido). Para contrapor isto, temos o direito de defesa (em todas as fases). Mas
mesmo assim, na fase de instrução preparatória, não estão em pé de igualdade. No
julgamento sim.

O M.oP.o não tem qualquer poder de parte, como no processo civil. A partir do
momento que o feito é metido em tribunal a acusação não pode ser retirada
(princípio da imutabilidade). Para além de que o tribunal não está vinculado ao
pedido do M.oP.o (é livre), não existe o princípio do pedido (não condenar para
além do pedido ou do que é pedido).
Conclui-se, em princípio, que o processo penal não é de partes. O M. oP.o
investiga, não só para fundamentar a acusação, mas também, para inocentar. Até
recorre, mesmo se conformando com a decisão.

O processo penal moçambicano é basicamente acusatório e


simplesmente integrado por um princípio de investigação (ler o preâmbulo,
os artigos 2.º, 3.º, 4.º, 5.º, 6.º, 7.º, 16.º, 17.º, 19.º, 52.º, 53.º, 59.º, 60.º, 68.º,
69.º, 96.º, 97.º, 134.º, 135.º, 136.º, 155.º, 156.º, 365.º, 366.º, 370.º, 371.º,
372.º, 385.º, 389.º, 400.º, 403.º, 404.º, 409.º, 410.º, 411.º, entre outros do
C.P.P.).

O sistema acusatório predominou até o sec. XII

O sistema inquisitório vigorou nos séculos XVIII e XIX.

Para aprofundamento dos tipos ou sistemas estruturantes do processo penal.

Durante toda a história da justiça penal houve três tipos de sistemas


processuais que vigoraram: o sistema inquisitório, o acusatório e o misto. O
sistema inquisitório é considerado pela doutrina o mais injusto, e não
poderia ser diferente. Em tal sistema, as figuras do juiz e do acusador
confundem-se e não há limites para os métodos utilizados para a obtenção
da rainha das provas: a confissão. Frederico Marques o descreve muito bem:
“impregnado de autoritarismo, o sistema inquisitivo, na fase histórica em que foi
aplicado, constituiu instrumento de iniquidade e injustiças. Nele não se respeitavam
os direitos do acusado, seu status dignitatis e sua incolumidade física. Empregando a
tortura, para obter a confissão do réu (que era a rainha das provas); desconhecendo
os direitos mais elementares do acusado, para poder defender-se, o sistema
inquisitivo, marcado pela violência e pelo arbítrio, constitui, na história da Justiça
Penal, uma fase triste, negra e ignominiosa lembrança”. No processo inquisitivo,
além da confusão entre investigador, acusador e julgador, o juiz poderia ex
officio prover todo o impulso processual, inclusive produzir provas. Não se
falava em contraditório. O procedimento era secreto e escrito e previlegia a
regra do cárcere preventivo e da incomunicabilidade do acusado. O
sistema acusatório vigorou durante quase toda a Antiguidade grega e romana,
bem como na Idade Média nos domínios do direito Germano e sem solução de
continuidade, no direito Inglês, como nos informa Frederico Marques. Começou a
entrar em declínio no século XIII, quando o sistema inquisitório passou a ganhar
espaço, somente retornando na modernidade. Tem como características a
separação entre os órgãos de acusação, defesa e julgamento; há a
adopção do princípio da publicidade no procedimento investigatório, o
procedimento é oral e tem carácter contraditório, vigora a igualdade entre
juiz, defesa e acusação e a liberdade do réu é a regra até sentença
condenatória irrevogável. O sistema acusatório acabou por adoptar o princípio
da acusação penal ex officio, entretanto, o órgão responsável pela acusação
não é o juiz, e nunca o Judiciário. Actualmente, esse órgão é o Ministério
Público, criado originariamente na França e exportado para outras nações. Por
sistema misto alguns definem o que possui configurações tanto do inquisitório
quanto do acusatório, em especial, permite a consideração de provas realizadas
sem o contraditório, bem como a participação do juiz na sua produção.

Reducionista. Ver qual é o maior pendor/enformador das


características.

Continuando com o tema dos sujeitos processuais temos (artigos 15.º a


51.º):

SGA

O estudante aprendeu sobre os princípios estruturantes e os sistemas do


processo penal. Sabe-se que no processo penal moçambicano podemos
surpreender características do inquisitório e do acusatório, concluindo-se
que estamos diante de sistema misto, enformado pelo princípio da
acusação ou de investigação. Como consequência, há sujeitos processuais
com funções distintas e um arguido, sujeito de direitos e deveres. No final,
o discente deve ser capaz de conhecer os sujeitos que intervêm no
processo penal e os seus papéis.
Objectivos da aula:
 Discente conheça os principais sujeitos do processo penal.

Metodologia: expositiva e interactiva. Relacionamento, através de exemplos, com


o dia a dia do discente.

Material didáctico: CRM, CPP, CP, Manuais de Processo Penal.

Clássicos jurídicos, Jorge de Figueiredo Dias, Direito Processual Penal, 1.a edição,
Reimpressão 1974, Coimbra Editora, 2004.

3. Sujeitos processuais

Nas aulas anteriores dissemos que em processo penal vigora o princípio da


oficialidade. Ou seja, a tarefa de receber denúncias, investigar factos criminosos,
persegui-los e julgá-los é da exclusiva competência do Estado.

Pergunta de partida: O que é Estado? Como actua?

Para que o processo penal possa ser posto em actividade exige-se a actuação
de indivíduos e entidades [garantia institucional].

Define-se como participantes processuais todas as pessoas e entidades que,


investidas nas mais diversas funções, actuam juridicamente no processo e para as
quais, por isso, nascem daquele diferentes direitos e obrigações.

Mesmo que o objecto do processo penal seja tendencialmente indisponível


(subtraída da vontade de quem nele intervém) não significa que certos participantes
processuais não possam condicionar e conformar concretamente a tramitação do
processo penal. Eg. a falta de uma testemunha que presenciou um atropelamento.

Pelo que só são sujeitos processuais aqueles participantes a quem competem


direitos e deveres processuais autónomos (das suas próprias decisões, podem
determinar, dentro de certos limites, a concreta tramitação do processo).

Nesta ordem, são sujeitos processuais, conforme a parte segunda, livro I:


 Os tribunais (artigos 15.º a 51.º);

 O M.oP.o (artigos 52.º a 60.º);

 Outros órgãos encarregues pela instrução (SERNIC, GCCC, PRM) e


titulares da própria acusação (artigos 61.º a 64.º).

 O arguido e seu defensor (artigos 65.º a 75.º);

 Parte civil - o ofendido e os assistentes (artigos 76.º a 94.º);

Simples participantes (testemunhas, os declarantes, os peritos, os intérpretes,


entre outros).

Atenção, para alguma doutrina não há razão para a diferenciação na


denominação visto não ter reflexos práticos na lei (não tem nenhum interesse
prático).

Para nós tem interesse didáctico (sistematização do nosso estudo). Tem a ver
com a posição jurídica. Eg. Para ser chamado de marido é porque há obrigações e
direitos.
4. Os tribunais penais

SGA

O discente ouve, várias vezes, da existência de tribunais. Mas não sabe distinguir se
existem diferentes tribunais, como estão organizados e como se apura as suas
competências. No final, o discente deve ser capaz de conhecer as características dos
tribunais, qual é a sua função? O que distingue juizes de procuradores?

Importância: saber dirigir os requerimentos ao juiz certo, de acordo com a fase


processual.
1. Organização dos tribunais judiciais
 Organização judiciária (artigo 29 da LOJ) e 18.º do C.P.P.
O tema tem mais que ver com o Direito Judiciário e não ao processo penal.
Perceber a ideia do Juiz natural (proibição de jurisdição de excepção).
TS (secção criminal e plenário).
TSR (Maputo, Beira e Nampula e Secções de Recurso em alguns Tribunais de
Província).
TJP [secções criminais (Instrução, da Causa e de Execução de penas), artigo
19.º do C.P.P e em segunda instância].
TJD.
 O Juiz Penal: Funções e características

ARTIGO 133 - Órgãos de soberania

São órgãos de soberania o Presidente da República, a Assembleia da República, o


Governo, os tribunais e o Conselho Constitucional.

ARTIGO 134 - Separação e interdependência

Os órgãos de soberania assentam nos princípios de separação e interdependência de


poderes consagrados na Constituição e devem obediência à Constituição e às leis.

Artigo 1 da Lei n.º 24/2007, de 20 de Agosto.

Para garantir a sua concretização:

ARTIGO 217 - Independência dos juízes

1. No exercício das suas funções, os juízes são independentes e apenas devem


obediência à lei. (um conceito que vai muito além - material, espiritual, económico e
social).

2. Os juízes têm igualmente as garantias de imparcialidade e irresponsabilidade.

3. Os juízes são inamovíveis, não podendo ser transferidos, suspensos, aposentados


ou demitidos, senão nos casos previstos na lei.

ARTIGO 218 - Responsabilidade

1. Os juízes respondem civil, criminal e disciplinarmente por actos praticados no


exercício das suas funções apenas nos casos especialmente previstos na lei.
2. O afastamento de um juiz de carreira da função judicial só pode ocorrer nos
termos legalmente estabelecidos.

Mais artigo 10 da Lei n.º 24/2007, de 20 de Agosto.


 Competências do tribunal em matéria penal.
Há uma sobreposição do tema com os critérios da fixação da competência dos
tribunais em matéria penal (critério da gravidade do crime, do flagrante delito e de
julgamento imediato).

 Princípio do Juiz Natural (artigo 16.º do C.P.P)

ARTIGO 223 - Espécies

1. Na República de Moçambique existem os seguintes tribunais:

a) o Tribunal Supremo;

b) o Tribunal Administrativo;

c) os tribunais judiciais.

2. Podem existir tribunais administrativos, de trabalho, fiscais, aduaneiros,


marítimos, arbitrais e comunitários.

3. A competência, organização e funcionamento dos tribunais referidos


nos números anteriores são estabelecidos por lei, que pode prever a
existência de um escalão de tribunais entre os tribunais provinciais e o
Tribunal Supremo.

4. Os tribunais judiciais são tribunais comuns em matéria civil e criminal e


exercem jurisdição em todas as áreas não atribuídas a outras ordens
jurisdicionais.

5. Na primeira instância, pode haver tribunais com competência específica e


tribunais especializados para o julgamento de matérias determinadas.
6. Sem prejuízo do disposto quanto aos tribunais militares, é proibida a
existência de tribunais com competência exclusiva para o julgamento de
certas categorias de crimes.

Artigos 36 e 37 da LOJ, 15.º e 18.º do C.P.P


 Espécies de competências.

Material (artigo 222, n.o 4 da CRM e 33 da LOJ), mesma espécie.

Territorial (artigo 23.º do CPP, locus deliti, excepções 24.º, 25.º e


26.º e 35 da LOJ):
 Locus delicti;

 Doutrina do evento (resultado)

 Doutrina da execução;

 Princípio da prevenção da jurisdição (artigos 25.º e 31.º do CPP).

 Posição eclética, artigo 25.º do CPP.

 Ope legis, artigo 28.º do CPP.1

Define-se conexão como a relação que intercede entre vários processos pendentes
1

que se encontrem na mesma fase, ou se vão instaurar, relação essa que poderá
levar à unificação ou apensação dos vários processos, sem que seja de atender às
normas sobre a competência material ou territorial ?[22]. Nunca há conexão em
relação a processos que se encontrem em fases distintas: se um se encontra na fase
de instrução e outro na fase de acusação, não é possível haver conexão; se um se
encontra na fase de instrução e outro em fase de julgamento, também não; se um
se encontra na fase de julgamento e outro na fase de recurso, também não.
Portanto, só não se atende à competência material ou territorial do Tribunal. Para
haver conexão (arts. 28.º segs. CPP), torna-se necessário:

- Que o mesmo agente tenha cometido vários crimes;


 Ope judicis, artigo 28.º, n.o 1 al c) do CPP

Funcional:
 Graus (recursos)

 Fases (JIC, da Causa e de execução de penas).

 Órgãos (juízes eleitos, colegial).

Atenção quanto a prorrogação de competências (material ou territorial),


artigo 29.º do CPP..

Artigo 25 da Lei n.º 24/2007, de 20 de Agosto (récuo).

Importância: artigos 36.º a 36.º do C.P.P.

- Que o mesmo crime tenha sido cometido por vários agentes em


comparticipação; ou

- Que vários agentes tenham cometido diversos crimes em comparticipação;

- E destinando-se uns a continuar ou a ocultar os outros.

Requisitos para a existência da conexão

Tem de haver dois ou mais Tribunais competentes para julgar o caso.

Tem que haver dois ou mais processos distintos, quer sejam distintos sobre o
ponto de vista formal, quer mesmo quanto ao objecto específico ?[23].

Tem de haver derrogação da regra geral da competência do Tribunal, isto é,


um dos Tribunais tem de ceder em relação ao outro: ele é competente porque o
crime foi cometido na sua área, ou é competente materialmente porque é o Tribunal
colectivo ou porque é o Tribunal singular que deve julgar aquele crime, mas outro é
também competente. Há uma derrogação da competência de um dos Tribunais.

Os processos têm que se encontrar todos na mesma fase – instrução e


julgamento. No recurso não há conexão.
Para aprofundamentos ler a Lei n. o 24/2007, de 20 de Agosto – Lei da
Organização Judiciária, revista sucessivamente pelas Leis n. os 24/2014, de 23 de
Setembro e 11/2018, de 3 de Outubro.

Quanto a incompetência. Atitude do julgador. Se for em razão da matéria


absolve (falta de tipicidade). Se for em razão do território ou funcional remete-se ao
tribunal competente (artigo 37.º do CPP).

O Ministério Público

SGA

O discente ouve, várias vezes, da existência do M. oP.o. Mas nunca viu o edíficio
aonde funciona. No final, deverá ser capaz de distinguir se existem diferenças entre
o M.oP.o e os tribunais e a procuradoria da república, como está organizado e como
se apura as suas competências. O que distingue juízes de procuradores?

M.oP.o (artigos 52.º a 60.º do C.P.P e 233.º a 239.º da CRM).

Estabelece o artigo 233, n.o 1 do texto constitucional moçambicano que o


M.oP.o constitui uma magistratura hierarquicamente organizada, subordinada ao
Procurador-Geral da República. No exercício das funções, os magistrados e os
agentes do M.oP.o estão sujeitos aos critérios de legalidade, objectividade, isenção e
exclusiva sujeição às directivas e ordens previstas na lei.

Desta norma retira-se que o M. oP.o é uma magistratura hierarquicamente


organizada.

Artigo 235

Ao M.oP.o compete representar o Estado junto dos tribunais e defender os interesses


que a lei determina, controlar a legalidade, os prazos das detenções, dirigir a
instrução preparatória dos processo-crime, exercer a acção penal e assegurar a
defesa jurídica dos menores, ausentes e incapazes.

Essas normas têm a sua concretização no C.P.P e na LOMP


O Ministério Público não poderá ser visto como uma verdadeira parte em
sentido formal, isto é, ele não tem como finalidade pura e exclusiva obter a
condenação do arguido na medida em que 2[17] toda a sua actuação é conduzida sob
critérios de estrita objectividade. O Ministério Público não poderá ser uma verdadeira
parte em processo penal, só o seria se ele pudesse dispor do processo e sempre
pretendesse a todo o custo obter uma condenação.

É característico de um sistema acusatório a existência de uma entidade


investigadora e acusadora e de uma entidade julgadora.

Com a criação do Ministério Público visa-se obter a estrutura acusatória do


processo penal, na medida em que se obtém (ou pretende obter-se) a separação
entre a entidade a quem compete presidir e dirigir a instrução e elabora a acusação.

A instrução, tem como finalidade investigar a existência de um crime,


determinar quem foram os seus agentes e a responsabilidade que lhes cabe. Finda a
instrução, cabe ao Ministério Público, também sempre que havendo indícios
suficientes da prática de um crime e determinados que sejam os seus agentes,
deduzir acusação.

Portanto, compete ao Ministério Público não só a promoção do processo e a


direcção da instrução, como também elaborar a acusação, tem-se aqui uma
entidade investigadora e acusadora.

Entre o Ministério Público e o Tribunal há uma separação funcional e


institucional. No entanto, estão estritamente correlacionadas.

A actuação do Ministério Público no processo penal não se deixa conduzir por


critérios de discricionariedade e oportunidade, como é característico da
administração pública, mas antes segundo critérios de objectividade e em obediência
estrita ao princípio da legalidade.

2[17]
Art. 53.º in fine CPP
O Ministério Público é um órgão autónomo da administração da justiça,
exerce as suas actividades independentemente, não está vinculado a qualquer
poder3[24], exerce a sua actividade de forma autónoma (art. 53.º CPP).

Critérios de estrita objectividade

Compete ao Ministério Público investigar e trazer para o processo tudo o que


possa demonstrar a culpabilidade do arguido, mas também lhe compete carrear para
o processo todos os indícios que possam conduzir à minoração da pena do arguido,
ou inclusivamente à prova da sua inocência.

O Ministério Público deve ser isento, imparcial na sua investigação e na


dedução da acusação. Daí que se aplique também ao Ministério Público todo o
sistema de impedimento e suspeições relativo aos juízes (artigos 43.º a 51.º CPP ex-
vi 60.º do C.P.P). Mas o pedido de escusa não é feito ao Tribunal, mas ao seu
superior hierárquico.

Para aprofundamentos ler a Lei n.º 1/2022, de 12 de Janeiro, que revoga a


Lei n.o 4/2017, de 18 de Janeiro, altera a Lei n.º 22/2007, de 1 de Agosto, Lei
Orgânica do Ministério Público e que aprova o Estatuto dos Magistrados do
Ministério Público e revoga as Leis n.º s 22/2007, de 1 de Agosto; 8/2009, de 11 de
Março e 14/2012, de 8 de Fevereiro.

Outras instituições auxiliares.

SGA

O discente ouve, várias vezes, do SERNIC. Mas não sabe se há diferença com a
Polícia da República de Moçambique (PRM). No final, o discente deve ser capaz de
conhecer as características do SERNIC. O que lhe distingue da PRM e qual é a sua
função?

3[24]
Poder executivo, judicial, legislativo.
Relembrar que a todos é lhe imposto o dever de colaborar na administração
da justiça penal.

Quanto aos órgãos de polícia criminal (artigo 61.º e ss do CPP) têm por
função coadjuvar as autoridades judiciárias (juiz, juiz de instrução criminal e o
M.oP.o) com vistas à realização das finalidades do processo.

Temos o SERNIC (artigos 61.º a 63.º do CPP).

Para aprofundamento ver a Lei n.º 2/2017, de 9 de Janeiro, Cria o Serviço


Nacional de Investigação Criminal, abreviadamente designado por SERNIC e Decreto
n.o 22/2018, de 5 de Maio – Aprova o Estatuto do Pessoal do Serviço Nacional de
Investigação Criminal (SERNIC).

Polícia da República de Moçambique (artigo 64 do CPP).

Artigo 253

1. A PRM, em colaboração com outras instituições do estado, tem como


função garantir a lei e a ordem, a salvaguarda da segurança de pessoas e bens, a
tranquilidade pública, o respeito pelo Estado de Direito Democrático e a observância
estrita dos direitos e liberdades dos cidadãos.
2. A Polícia é apartidária.
3. No exercício das suas funções a Polícia obedece a lei e serve com
isenção e imparcialidade os cidadãos e as instituições públicas e privadas.

Esta concepção constitucional da polícia é iminentemente de amigo do


cidadão.

Para aprofundar ver a Lei n. o 16/2013, de 12 de Agosto – Aprova a Lei da


Polícia de Moçambique e revoga as Leis n. os 5/88, de 27 de Agosto e 19/92, de 31 de
Dezembro.
Sumário: continuação do estudo dos sujeitos processuais
1. Conceito e constituição do arguido

2. Defensor do arguido.

3. Defesa em processo penal

 Função jurídica e em processo penal

 Admissibilidade e obrigatoriedade da defesa.

 A defesa e a pessoa do defensor.

 Conceito e exercício da função de defesa.

Nos noticiários e nas conversas o estudante ouve frequentemente as pessoas a falar


de suspeitos, criminosos, condenados, delinquentes, arguidos, malfeitores, etc. A
pergunta é: qual é a diferença? Quando é que alguém é suspeito, arguido, réu ou
condenado? No final o estudante dever capaz de distinguir estas realidades.

1. Conceito e constituição do arguido (artigos 65.º a 69.º do


C.P.P; 59.º, 60.º; 62.º, 64.º, 65.º; 66.º e 69.º dos do texto constitucional).
 Conceito e constituição do arguido.
Arguido é uma qualidade que se adquire ao longo do processo. Com a
dedução da acusação ou com o requerimento da abertura da audiência preliminar,
artigo 65.º, n.o 2 do C.P.P. E conserva-se durante todo o decurso dos autos, n. o 4 do
citado artigo.
Ora, a constituição4 de uma pessoa ou indivíduo em arguido, em processo
penal, acarreta efeitos de maior importância, afastando-se o regime dos outros
intervenientes processuais (como suspeito, artigo 65.º, n. o 1 do C.P.P. e
testemunhas 101.º).

4
Artigo 66.o, n.o 2 do CPP comunicação oral ou por escrito de que deve
considerar-se como arguido, enunciando-se-lhe os direitos e deveres.
Consequência, inexistência das declarações.
Pode ser obrigatoriamente constituído em arguido reunidos os pressupostos
previstos pelo artigo 66.º do C.P.P.
Exigindo-se um formalismo complexo e maiores garantias. Vide artigos 67.º,
68.º, 69.º, 70.º a 75.º, 175.º, 297.º, n. o 2 do C.P.P. Por exemplo, não se exige a
presença de advogados para testemunhas e declarantes, diferentemente do arguido
[68.º, 69.º, 70.º, 71.º e 72.º, 135.º, al c); 175.º, n. o 2; 177º, n.os 2 e 3; ou
admissibilidade da sua presença, artigo 163.º do CPP]. Não está vinculado ao dever
da verdade (artigo 174.º, n.o 4; 179.º, n.o 2 do C.P.P).

É considerado de suspeito aquele relativamente ao qual exista indício de que


cometeu ou se prepara para cometer um crime, ou que nele participou ou se
prepara para participar (artigo 65.º, n. o 1 do C.P.P). Estamos diante de uma
evolução do antigo arguido [aquele sobre quem recai forte suspeita de ter
perpetrado uma infracção, cuja existência esteja suficientemente comprovada
(artigo 251.º do antigo CPP). Conjugar com o artigo 291.º, 1.º, al b) e 2.º, § 1.º do
antigo CPP] para suspeito.

Por sua vez, assume a qualidade de arguido aquele contra quem for deduzida
acusação ou requerida audiência preliminar num processo penal (artigo 65.º, n. o 2
do C.P.P). Portanto, só depois de reunidos fortes elementos de indiciação é que
alguém (incluindo pessoas colectivas) adquire a qualidade de arguido (artigo 158.º
do C.P.P). E esta qualidade conserva-se durante todo o decurso do processo. Ou
seja, já não há diferenciação de suspeito, arguido, réu e condenado (artigo 65.º, n. o
4 do C.P.P).

Outra inovação encontra-se patente no artigo 66.º do C.P.P. Onde se prevê a


obrigatoriedade de constituição em arguido quando reunidos certos pressupostos de
facto; ou sejam:
i. Havendo instrução em curso contra pessoa determinada e esta prestar
declarações perante qualquer autoridade judiciária (artigo 17.º) ou órgão de polícia
criminal (artigos 61.º e ss).

ii. Tenha de ser aplicada a qualquer pessoa uma medida de coacção ou


de garantia patrimonial (artigos 232.º e ss).
iii. Um suspeito for detido (artigos 297.º a 304.º)

iv. For levantado auto de notícia que dê uma pessoa como agente de um
crime e aquele lhe for comunicado (artigos 109.º, 122.º, 123.º e 124.º, 286.º,
442.º).

Ora, a constituição de uma pessoa em arguido, em processo penal, acarreta


efeitos de maior importância, afastando-se o regime dos outros intervenientes
processuais. Exigindo-se um formalismo complexo e maiores garantias (artigos 68.º,
69.º, 70.º a 75.º, 377.º do C.P.P).

Arguido: pode requerer a abertura da audiência preliminar [artigo 333.º, n. o


1 al a) e n.os 2 e 3 do C.P.P].

Prazos: 5 dias, 8 dias e 30 dias (artigos 325.º, n. o 2; 330.º, n.o 3; 333.º, n.o 1
do C.P.P).

A evitar:

Confundir a constituição em arguido com o início do processo penal. Basta ter


conhecimento do crime deve inicial a investigação (instrução preparatória), mesmo
contra desconhecidos. É que primeiro deve ser comprovada a existência do crime e
não como se faz erroneamente. Alguns actores até recusam investigar, porque não
temos arguido preso. Vide artigos 65.º, n.o 2; 243.º e 245.º do CPP.

De tal sorte que não se confunde com o suspeito (65.º, n. o 1). Porque as
garantias de ser arguido são maiores do que o suspeito; este pode requerer que
seja constituído em arguido (artigo 67.º, n. o 2 do CPP).

Antes da aprovação do novo C.P.P do arguido também se distinguia,


conceitualmente, o réu: é arguido, mas pronunciado (foi solenemente chamado à
responsabilidade perante a comunidade jurídica através da acusação aceite ou
recebida pelo juiz. Tal diferenciação porém tem apenas efeitos formais e
académicos. Não é de lei. Visto que em termos de substância nada se altera quanto
as garantias processuais. Ambos são sujeitos processuais.
Diferente do condenado e absolvido (sentença transitada em julgado).

Há um velho adágio “diz-me como tratas o arguido, dir-te-ei o processo penal


que tens e o Estado que o instituiu.”

Porque alguns chegam a dizer que o Estado defende mais os delinquentes do


que os ofendidos (percepção). Linchamentos.

Há situações em que é mero objecto do processo. Visando, com ele, a


obtenção de confissão – Sistema Inquisitório.

Ser sujeito é participar conscientemente na declaração do direito no caso


concreto.

É verdade que o arguido pode ser sujeito de medidas coactivas, ou servir de


meio de prova. Mas, tem de ser com base na sua livre expressão de personalidade
(sem extorsão, nem auto incriminação).

O arguido não é objecto do processo (investigam-se os factos, esses sim, é


que são objecto da instrução e processo, artigo 388.º, 389.º e 69.º.

Evitar:
Dizer que o Processo Penal e Código Penal são Magnas cartas de protecção
de delinquentes ou criminosos.
É verdade que o arguido pode ser sujeito de medidas coactivas, ou servir de
meio de prova. Mas, tem de ser com base na sua livre expressão de personalidade
(sem extorsão, nem auto incriminação – artigo 174.º, n. o 1 do C.P.P).

2. Defensor do arguido (artigos 70.º a 75.º do CPP e 65, n. o 1 do


texto constitucional)

SGA

O discente ouve, várias vezes, da defesa no processo penal. Mas não sabe se há
diferença com o mandatário judicial (advogado). Se no processo penal há
procuração forense. No final, o discente deve ser capaz de conhecer as
características do direito a defesa no processo penal e como se manifesta. O que
distingue o advogado cível e qual é a sua função?

 Defensor do arguido

o Função jurídica e em processo penal

Não é no sentido de representação (nos direitos e interesses do arguido).


Visto que não é representante judiciário do arguido.
No processo penal não há partes.
Os seus poderes não provém da procuração forense ou nos poderes
representativos. Mas sim, do poder-dever que a lei lhe confere. Não depende da
vontade ou instruções do arguido. Vg o de obter uma absolvição a todo o custo.
Colabora com o tribunal na descoberta da verdade e na realização do direito,
em favor do arguido.
Não é o opositor do M.oP.o, nem do Juiz.
Tem como deveres:
 Protecção;
 Favorecimento processual;
 Verdade favorável ao arguido e
 Sigilo.
Artigo 35 do texto constitucional.
Direito de ampla defesa (65 do texto constitucional)
Como se manifesta?
o Direito de audiência;
o Direito de presença (dar a mais ampla possibilidade de tomar posição, a todo
o momento); ter conhecimento de tudo que se passa, para deste modo
refutar o que for possível; quase a fase secreta em que se recolhe provas
sem a presença do arguido. Compreende-se porque será alvo de produção
pública de provas.
o Direito de assistência do defensor (direito de ser esclarecido minuciosamente
por indivíduo da sua confiança e conhecimentos jurídicos necessários);
o Direito de interposição de recursos [decisões desfavoráveis – artigos 451.º;
452.º; 453.º, al b)].

2.1. Admissibilidade e obrigatoriedade da defesa.

Artigos 70.º e ss do e 72.º CPP.

Outra pergunta: quem chama o defensor a assumir a defesa? Se for o arguido


então estamos perante constituição de advogado (artigo 70.º, n. os 1 e 6). Se for o
tribunal, o M.oP.o, ou polícia criminal então estamos diante de nomeação de defensor
oficioso (artigo 70.º, n.os 2, 3, 4 e 5 do CPP).

Princípio liberdade de escolha (artigo 70.º, n. os 1 e 6). Na sua ausência há


defesa obrigatória (artigo 70.º, n.os 2, 3, 4 e 5 do CPP).

Importância da distinção: se for voluntária só pode ser por advogados e


advogados estagiários; tratando-se de defensor nomeado, pode ser por advogados,
advogados estagiários, técnicos e assistente jurídicos, e na sua falta por pessoa
idónea, artigo 70.º, n.os 2, 3, 4 e 5 do CPP.
Ver também os artigos 7.º; 69.º, n.o 1 als d) e e); 70.º; 71.º; 348.º, n. o 2;
358.º, n.o 2 al c), n.o 5; 371.º; 375.º do CPP.

2.1. Conceito e exercício da função de defesa.

Tem de existir uma relação de confiança.


Deveres e direitos do defensor (artigo 71.º do C.P.P):

Prestar ao arguido o mais completo e esclarecedor conselho jurídico de que for


capaz.
Fazer as suas próprias averiguações complementares.
O direito de presença (no primeiro interrogatório, na instrução preparatória,
na audiência preliminar e debate instrutório, na audiência de produção de provas e
julgamento).
O direito de consulta dos autos e de exame dos objectos de prova.
Direito de comunicar, oralmente e por escrito, com o arguido.

2.2. A defesa e a pessoa do defensor.

Artigo 35 do texto constitucional.

Direito de ampla defesa (65 do texto constitucional)

Como se manifesta [artigo 69.º, n.o 1 als d) a h) e n.o 2]?


o Direito de audiência;
o Direito de presença (dar a mais ampla possibilidade de tomar posição,
a todo o momento); ter conhecimento de tudo que se passa, para deste modo
refutar o que for possível; quase a fase secreta em que se recolhe provas sem a
presença do arguido. Compreende-se porque será alvo de produção pública de
provas.
o Direito de assistência do defensor (direito de ser esclarecido
minuciosamente por indivíduo da sua confiança e conhecimentos jurídicos
necessários);
o Direito de interposição de recursos [decisões desfavoráveis – artigos
451.º; 452.º; 453.º, al b)].

3. Assistente (artigos 76 a 94).

SGA

O discente ouve, várias vezes, do ofendido e do assistente. Mas não sabe se há


diferença. No final, o discente deve ser capaz de conhecer as características do
ofendido e do assistente. O que lhes distingue e qual é a sua função?

Assistente5[18], é o ofendido que, quando quer intervir no processo, adquire


essa qualidade, desde que reúna determinados requisitos. Se o não fizer, está lá o
Ministério Público que defenderá mas se ele quiser também intervir e colaborar no
processo, adquire a qualidade de assistente.

5[18]
Poderá existir ou não.
Relembrar as limitações ao princípio da oficialidade:
a) Crimes particulares:

São constituídos por infracções de pequena gravidade, de infracções que, não


se relacionando com bens jurídicos fundamentais da comunidade, apenas atingem a
pessoa visada e a comunidade em si própria não se sente lesada, e por conseguinte,
não sente necessidade de reagir.

Deixa-se ao particular que tome a iniciativa de dar conhecimento, e depois ele


próprio, se quiser, que deduza acusação.

Se o ofendido por um crime particular, quiser que haja procedimento criminal,


dá conhecimento ao Ministério Público e tem de declarar que se quer constituir
assistente, mas não é ele que vai fazer a instrução, quem o faz é o Ministério
Público. Depois há um imposto a ser pago, só depois o juiz de instrução profere o
despacho admitindo o indivíduo como assistente (artigo 56.º do novel C.P.P.).

Simplesmente, depois de submeter o arguido ou não a julgamento, através da


dedução de acusação, essa decisão última pertence ao particular, se ele não o fizer
o processo é arquivado (artigo 57.º do novel C.P.P.).
b) Crimes semi-públicos:

Aqui a comunidade já se sente lesada, sente que os seus valores


fundamentais foram violados. No entanto, põe acima dos valores comunitários os
valores individuais que foram infringidos, que foram violados, porque entende que a
reacção contra essa infracção depende da vítima, do ofendido.

Se o ofendido entende que não deve queixar-se, então a comunidade


também não o faz, mas se o fizer, a partir do momento em que o ofendido se
queixou, então o Estado assume nos seus ombros todo o processo, sem mais
intervenção do ofendido: já não se torna necessário ele constituir-se assistente e
deduzir acusação particular (artigos 55.º; 76.º; 77.º; 78.º; 79.º; 289.º n. o 4; 330.º
do novel C.P.P.).
A lei deixa nestes casos o direito de denúncia ao particular (artigo 287.º do
C.P.P). Se ele quiser queixar-se, então prossegue tudo como se fosse um crime
público, como se a comunidade se sentisse violada. O Estado assume todo o
processo, desde a instrução até ao julgamento.

A queixa, a constituição de assistente, e a dedução de acusação por


particular, são momentos distintos.

Artigos 52.º e ss do CPP.

Assistente: deduzir a sua acusação particular (artigos 325.º; 330.º, n. o 2 do


C.P.P.) ou requerer a abertura da audiência preliminar [artigo 333.º, n. o 1 al b) e n.os
2 e 3 do C.P.P.] ou ainda suscitar a intervenção do superior hierárquico do
procurador (artigo 325.º, n.o 2 do C.P.P.).

Aprofundar a leitura da Lei n.o 15/2012, de 14 de Agosto – Lei que estabelece


mecanismos de protecção dos direitos e interesses das vítimas, denunciantes,
testemunhas, declarantes ou peritos em processo penal, e cria o Gabinete Central de
Protecção à Vítima.

Partes civis (artigos 80.º a 94.º do C.P.P.)

O discente sempre se questionou se se pode pedir uma indemnização, em resultado


da prática de um acto qualificado como crime. No final, o discente deve ser capaz de
conhecer as características da indemnização em processo penal, quem a pode pedir
e até que altura?

O lesado sofre danos indirectamente com o crime: ele não é a vítima directa
do crime.

Quando a pessoa é só lesada ou mesmo quando é assistente, a indemnização


cível só será atribuída se for requerida. E tem de ser requerida no processo penal.

A figura do lesado está directamente relacionada com o pedido de


indemnização cível.
Mas uma vez que o ofendido é ao mesmo tempo lesado, quando o ofendido
se constitui assistente tem igualmente legitimidade para formular um pedido de
indemnização civil.

Quanto a este pedido, diz a lei que ele é deduzido obrigatoriamente no


processo penal, a não ser que a lei, em casos tipificados, permita que seja o
Tribunal civil (artigo 80.º C.P.P., excepção do artigo 82.º C.P.P.).

Que razão levou o legislador a tornar obrigatória a dedução do pedido de


indemnização no processo penal (artigo 80.º C.P.P.)?

Em princípio, haveria uma economia de tempo, porque o processo penal devia


ser mais rápido.

Uma outra razão é a de que o ofendido economiza dinheiro, porque o


processo penal é mais barato.

Depois, outra razão é o aproveitamento das provas carreadas para o processo


pelo Ministério Público, consagradas com elementos de prova que são produzidos na
própria audiência de julgamento, principalmente as declarações do ofendido.

Uma razão de ordem geral é a prevenção geral da criminalidade.

O princípio da obrigatoriedade da dedução do pedido de indemnização civil


em processo penal apenas é válido em toda a sua plenitude nos crimes públicos,
embora com as limitações do artigo 81.º, n.o 1 al c) e n.o 2 do C.P.P..

Para os crimes particulares e para os crimes semi-públicos, vigora o princípio


da opção. Mas opção com estas consequências: é que se o ofendido ou o assistente
quiserem optar pelo processo civil, isso equivale a uma renúncia ao prosseguimento
do processo penal, artigo 81.º, n.o 2 do C.P.P..

O pedido de indemnização é de natureza exclusivamente civil. Não há


indemnizações de ordem penal.
Vigora o princípio da necessidade, na medida em que o pedido de
indemnização é deduzido pelo lesado (artigo 82.º C.P.P.). Quer isto dizer que só
haverá atribuição de uma indemnização se a mesma for requerida.

Legitimidade para intervir no pedido de indemnização (artigo 82.º


C.P.P.).

Do lado passivo, tem-se duas pessoas:

- O arguido, o infractor contra quem é imputada a prática de um crime: ele


será responsável pelo pagamento da indemnização;

- Pode haver também um responsável meramente civil, que é a pessoa


singular ou colectiva que está obrigada ao ressarcimento do dano que é ocasionado
pelo crime (seguradoras ou comitentes).

O lesado, se quer intervir no processo, se quer formular um pedido de


indemnização, ou requerer ao Ministério Público que o represente ou faz-se
representar por advogado (artigos 85.º e 86.º do C.P.P.).

Quanto à legitimidade activa, essencialmente pertence ao lesado. Mas poderá


pertencer também a uma parte civil. Neste conceito cabem não só as pessoas
singulares, como também as pessoas colectivas.

A posição do lesado no processo restringe-se ao exercício dos poderes de


sustentação e da prova em matéria cível quanto ao pedido de indemnização.

O lesado pode exercer o seu direito, a partir da sua intervenção no processo,


ou a partir do momento em que as autoridades judiciárias lhe comuniquem esses
direitos.

É-lhe comunicado esses direitos quando, num processo penal o Ministério


Público ou o juiz se aperceber que há alguém que foi afectado pela prática do crime,
isto é, que sofreu danos ocasionados pelo crime, deve notificá-lo e informá-lo de que
tem um direito a ser indemnizado pelos prejuízos sofridos (artigo 84.º C.P.P.) –
dever de informação.
O arguido pode contestar o pedido de indemnização. Daqui, não decorre
nenhuma consequência, na medida em que a falta de contestação não implica a
condenação no pedido de indemnização.

Natureza do pedido de indemnização civil.

O pedido de indemnização cível é exclusivamente civil (artigo 416.º do


C.P.P.). O que se pretende é obter uma compensação, um ressarcimento pelos
danos sofridos, com a aplicação das normas de Direito Civil substantivo, no que
respeita à formulação e à atribuição dessa indemnização.

Também, a decisão penal que conhecer do pedido de indemnização civil


constitui caso julgado, isto é, não se pode formular o pedido de indemnização no
processo penal e depois, porque não se ficou satisfeito, formular novo pedido no
Tribunal civil, forma-se caso julgado mesmo no que diz respeito à matéria civil em
processo penal.

Há legitimidade activa e passiva:

-A legitimidade activa pertence ao lesado e, eventualmente, a terceiro;

-A legitimidade passiva, pertence ao arguido e também, se o houver, a um


responsável meramente civil:

O arguido é chamado directamente ao processo;

O responsável meramente civil poderá ser demandado ou poderá ele próprio


fazer a sua intervenção porque, nomeadamente se houver um direito de regresso
contra o arguido, tem interesse em discutir se houve ou não houve causas de
exclusão da sua responsabilidade.

É obrigatório a formulação do pedido de indemnização no processo penal,


quando isso não acontecer, o Tribunal não conhece desse pedido.
Formulação do pedido de indemnização

Rege esta matéria o artigo 86.º C.P.P.. Neste artigo tem-se que ter bem
presente quem formula o pedido de indemnização: se é o Ministério Público, se é o
assistente, ou se é o lesado.

Quando formulado pelo Ministério Público o pedido de indemnização é


deduzido na acusação.

Isto quer dizer que o lesado deve fornecer ao Ministério Público os elementos
de facto que fundamentam o seu pedido antes do termo da instrução, isto é, antes
do Ministério Público formular a acusação.

Quando formulado pelo assistente o pedido de indemnização é deduzido na


acusação ou no prazo em que esta deva ser formulada.

Esta alternativa aplica-se aos crimes públicos e semi-públicos, em que o


assistente pode não acusar, pode pura e simplesmente fazer sua a acusação do
Ministério Público, ou seja, pode aderir à acusação do Ministério Público. Tem cinco
dias após a notificação da acusação do Ministério Público, o assistente também pode
deduzir acusação (artigo 330.º, n.os 2 e 3 C.P.P.).

Nos crimes particulares o pedido deve ser formulado na acusação.

Se o assistente não deduzir acusação então deve, nesses cinco dias, formular
o pedido de indemnização, sob pena de o mesmo depois não ser conhecido.

Se não houver acusação não há prosseguimento do processo penal nos


crimes particulares, em que é obrigatória a acusação por parte do assistente.
Portanto, quando ele deduz a acusação formula também o pedido de indemnização,
na mesma peça processual.

O artigo 85.º do C.P.P., refere-se ao pedido de indemnização feito pelo


lesado, que intervém no processo através de advogado.
Quando à data do despacho de pronúncia ou da data do julgamento ainda
não são conhecidos os danos, então poder-se-á deixar a formulação do pedido para
uma execução de sentença.

Mesmo que não tenha sido requerida a indemnização o juiz fixa, com base no
prudente arbítrio, cfr artigos 94.º do C.P.P..

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