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SISTEMA PENITENCIÁRIO –

EXECUÇÃO PENAL
AULA 1

Prof.ª Sônia de Oliveira


CONVERSA INICIAL

O poder punitivo

Olá! Seja bem vindo(a) a esta aula.


Neste primeiro encontro serão estudados temas gerais sobre o assunto e
já será iniciado o estudo da legislação e de alguns elementos da execução penal
no Brasil.
Serão os temas abordados neste encontro:

1. O poder punitivo e o nascimento das prisões.


2. Sistemas de cumpribilidade penal.
3. Fontes legais da Execução Penal no Brasil.
4. Princípios da Execução Penal.
5. Sujeitos passivos da Lei de Execução Penal.

Ao final do encontro será abordada uma situação prática envolvendo


alguns dos temas das aulas. Portanto, mantenha a atenção nos estudos e boa
aula!

TEMA 1 – O PODER PUNITIVO E O NASCIMENTO DAS PRISÕES

O estudo da disciplina inicia com a abordagem acerca do poder punitivo


e do nascimento das prisões, elaborando um olhar histórico, ainda que bem
resumido, sobre a forma de punição daqueles que praticavam ações definidas
como crime no decorrer do tempo.
Quanto ao poder punitivo, a princípio, se tem notícia de quem este era
conferido à vítima. Encontrada descrita no Código de Hamurabi, século XXIII
a.C., a Lei de Talião obedecia à máxima de “olho por olho, dente por dente”, que
representa a possibilidade de vingança privada, ou seja, o particular ofendido
poderia, na mesma medida do mal por ele sofrido, punir o seu agressor. Deste
modo, as penas poderiam se mostrar cruéis, na medida da crueldade do crime
praticado. Há evidência de que as sociedades dos babilônios e dos hebreus
tenham se utilizado desta forma privada de punição (Muraro, 2017, p. 26).
Gradualmente, época que não pode ser exatamente datada, mas que teve
o seu ponto alto na modernidade, de acordo com as teorias contratualistas,
segundo Mariel Muraro (2017, p. 26), a possibilidade privada de punição do
agente agressor deixou de ser uma realidade, tendo o Estado assumido para si
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o dever e o direito de punir aqueles que praticavam atos entendidos como crime,
fazendo com que tenha havido uma transferência do poder de punir da vítima
para o Estado, passando a pena a ser vista como uma vigança estatal. Nesse
caso, o Estado passa a interferir nos conflitos privados de natureza penal,
tomando o lugar da vítima e a legitimidade de resolução da controvérsia (Muraro,
2017, p. 27).
O foco do Estado passou a se voltar para a manutenção da ordem social,
e a aplicação da pena busca controle social, de modo que o “sistema penal é
entendido como um conjunto de instituições que atuam na cominação, na
aplicação e na execução das penas criminais (Muraro, 2017, p. 27).
Com relação ao nascimento das prisões, pode-se partir o estudo da Idade
Média, séculos V a XV, época concebida por uma filosofia que envolvia uma
concepção divina.
Neste ponto é impresvindível a análise da obra de Michel Foucault, Vigiar
e Punir, que inicia o estudo relatando a execução de um apenado por parricídio,
demonstrando a violência da aplicação da pena, que era vista como um
espetáculo, como forma de demontrar aos demais integrantes da sociedade o
que poderia ocorrer com um criminoso.

[Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757], a pedir perdão


publicamente diante da porta principal da Igreja de Paris [aonde
deveria ser levado] levado e acompanhado numa carroça, nu, de
camisola, carregando uma tocha de cera de duas libras; [em seguida],
na dita carroça, na praça de Grève, e sobre um patíbulo eu aí será
erguido, atenazado nos mamilos, braços, coxas e barriga das pernas,
sua não direita segurando a faca com que cometeu o parricídio,
queimada com fogo de enxofre, e às partes em que será atenazado se
aplicarão chumbo derretido, óleo fervente, piche em fogo, cera e
enxofre derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo será puxado e
desmembrado por quatro cavalos e seus membros e corpo consumidos
ao fogo, reduzidos a cinzas, e suas cinzas lançadas ao vento.
(Foucault, 2001, p. 9)

Após relatar os detalhes da execução da pena de Damiens, Michel


Foucault apresenta um regulamento redigido 30 anos depois e que deveria ser
aplicado na Casa dos Jovens Detentos de Paris, cujo conteúdo é completamente
alheio aos suplícios, mas que trata da utilização do tempo pelos detentos,
mostrando a diferença dos estilos penais de punição dos condenados, ainda que
de praticantes de crimes diversos. Assim, deixou-se de lado o sofrimento do
corpo do condenado, por meio de um espetáculo para se aplicar uma pena como
um ato de procedimento ou de administração (entre o fim do século XVIII e início
do XIX) (Foucault, 2001, p. 11).
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A Idade Moderna, vivenciada entre os séculos XV e XVIII, as mudanças
sociais foram marcantes. O indivíduo passa a ser o centro de tudo, a economia
adota práticas mercantis, que deixam de ser locais para ser desbravadora de
novas colônias, e há renascimento da cultura e das artes. O feudo dá lugar ao
absolutismo, sendo o rei o centro do governo. O Iluminismo foi o movimento
intelectual, a partir do século XVIII, fundado na racionalidade humana, na riqueza
e na capacidade do homem em dominá-la, com a influência de pensadores e
pessoas que estavam inseridas em contextos mercantis e financeiros. As ideias
centrais eram de progresso econômico, racionalismo, com objetivo de alcançar
a liberdade, igualdade e fraternidade entre os homens, caracterizando períodos
de mudanças sociais marcadas pela revolução iluminista (Muraro, 2017, p. 28-
29).
Também marcam esse contexto do surgiumento das prisões a Revolução
Industrital, época em que o modo de produção da manufatura trouxe os
camponeses para as cidades, formando grandes centros urbanos, já que ao
camponês foi necessário deixar as suas terras para vender a sua mão de obra
na cidade. A grande oferta de mão de obra com o número não tão expressivo de
vagas, somado ao acúmulo de riqueza pela burguesia, resultaram na prática de
crimes pelos indivíduos desempregados (Muraro, 2017, p. 30).

Nesse contexto, somente um Estado absolutista seria capaz de


garantir segurança e impedir a guerra de todos contra todos, ao definir
o que era proibido e limitar o poder da nobreza pela via do nullum
crimen sine lege (“não há delito sem lei anterior que o defina”), também
conhecido como o princípio da legalidade. (Muraro, 2017, p. 31)

Já no século XVI os métodos de punição foram modificados, pois se viu a


possibilidade de exploração do trabalho do condenado, como no caso da
servidão penal por meio de trabalhos forçados.
Há uma redução na crueldade das penas até que se chega ao estado da
pena de prisão. Em 1553, na Ingalterra, o Rei Eduardo VI, permitiu que o castelo
de Bridewell fosse utilizado para recolher os ociosos, os vadios, os ladrões e os
autores de delitos menores, para que fossem reformados pelo trabalho no ramo
têxtil e por meio da disciplina. Essa ideia foi aprimorada e expandida com a
criação de outras casas com a mesma ideia e que tinham o mesmo nome de
Bridewell (Muraro, 2017, p. 34).

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TEMA 2 – SISTEMAS DE CUMPRIBILIDADE PENAL

Neste tema serão abordados os sistemas de cumpribilidade penal


conhecidos como Sistema Pan-óptico, Sistema da Pensilvânia ou Filadélfia,
Sistema de Auburn e o Sistema Progressivo.
Cada um desses sistemas demonstra uma forma de organização dos
espaços destinados aos presos e de propostas de cumprimento de pena, bem
como as regras que deveriam ser observadas no intuito de melhorar as
condições daqueles que deveriam ser submetidos ao cárcere.
Por fim, veremos como foram os sistemas de cumpribilidade no Brasil
desde o tempo colonial.

2.1 Sistema Pan-óptico

A principal característica deste sistema é a possibilidade de o vigilante ter


acesso visual a todos os vigiados, sem que estes consigam ver aquele. Faz com
que o vigiado pense e tenha a sensação de que está sendo vigiado o tempo todo,
sem conseguir ter contato visual com quem o faz.

O que implica dois dispositivos essenciais. É preciso que o prisioneiro


possa ser mantido sob um olhar permanente; é preciso que sejam
registradas e contabilizadas todas as anotações que se possa tomar
sobre eles. O tema do Pan-óptico – ao mesmo tempo de vigilância e
observação, segurança e saber, individualização e totalização,
isolamento e transparência – encontrou na prisão o seu local
privilegiado de realização. Se é verdade que os processos pan-ópticos,
como formas concretas de exercício do poder, tiveram, pelo menos,
em estado disperso, larga difusão, foi só nas instituições penitenciárias
que a utopia de Bentham pôde, num bloco, tomar forma material.
(Foucault, 2001, p. 209)

O autor continua explicando que esse modelo se tornou, em torno dos


anos 1830-1840, o programa de arquitetura da maior parte dos projetos de
prisões, fazendo com que o uso da força fosse substituído pela estratégia da
vigilância infalível. Assim, de um lado se tinha o arquiteto e de outro a autoridade
atuando em conjunto no intuito de suavizar o cumprimento da pena ou para
regenerar o condenado (Foucault, 2001, p. 209).
Com base nesse modelo foram pensados todos os demais adiante
estudados, podendo ser considerado mais um modelo de arquitetura em si do
que um sistema penitenciário.

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2.2 Sistema da Pensilvânia ou Filadélfia

Trata-se de um modelo instituído nos Estados Unidos, em 1790, por


Willian Penn, na cidade de Filadélfia, Estado da Pensilvânia, e quem tem como
base o isolamento absoluto do indivíduo durante todo o cumprimento da pena.
Os quakers, membros da Sociedade dos Amigos, defendiam a ideia que
a religião e o isolamento seriam os meios capazes de recuperar os condenados,
de modo que a única atividade permitida era a leitura de Bíblia (Muraro, 2017, p.
47).
Segundo Michel Foucault, nesse sistema não se pede a requalificação do
indivíduo, mas que ele sozinho na cela o condenado está entregue a si mesmo,
aos seus pensamentos e a sua consciência. Desse modo, não se trata de
respeito exterior a uma lei ou o medo de punição que vai agir sobre o detento,
mas a sua própria consciência (Foucault, 2001, p. 201).
O sistema de isolamento completo começou a se tornar um problema
quando começaram a faltar vagas nos presídios públicos. Além disso, nesse
sistema foram registrados diversos casos de loucura e de suicídio.
Esse sistema, quando aplicado na França, foi indicado aos condenados à
pena de morte ou a penas cruéis, em substituição a elas. Assim, somente esses
indivíduos ficam isolados enquanto os demais detentos trabalhavam juntos de
dia e a noite se recolhiam em suas celas (Muraro, 2017, p. 48).

2.3 Sistema de Auburn

Trata-se de um sistema americano de cumpribilidade penal, também


conhecido como Sistema de Nova Iorque, o qual foi instituído a partir de 1816.
Nele, assim como no Sistema Filadélfia, os presos também permaneciam
isolados em sua cela durante a noite, contudo, diferentemente desse último,
durante o dia trabalhavam juntos, mas em silêncio absoluto. Vejamos o que
Michel Foucault relata a respeito:

O modelo de Auburn prescreve a cela individual durante a noite, o


trabalho e as refeições em comum, mas sob a regra do silêncio
absoluto, os detentos só podendo falar com os guardas, com a
permissão destes e em voz baixa. Referência clara tomada ao modelo
monástico; referência também tomada à disciplina de oficina. A prisão
deve ser um microcosmo de uma sociedade perfeita onde os indivíduos
estão isolados em sua existência moral, mas onde a sua reunião se
efetua num enquadramento hierárquico estiro, sem relacionamento

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lateral, só se podendo fazer comunicação no sentido vertical.
(Foucault, 2001, p. 200)

A princípio o trabalho foi regido por uma empresa privada, mas o sistema
foi alterado posteriormente, passando o Estado a fiscalizar o trabalho e repassar
as vendas para a empresa privada (Muraro, 2017, p. 48).
O modelo acabou sendo adotado por outros estados dos Estados Unidos
tendo em vista o bom resultado apresentado em relação ao modelo da Filadélfia.
Isso porque a ideia era a de que o cumprimento da pena poderia “melhorar” o
apenado, com a crença de que o trabalho poderia ressocializá-lo, pois o moldaria
de acordo com os interesses sociais (Muraro, 2017, p. 49).

2.4 Sistema Progressivo

Em 1846 ocorreu na Alemanha o 1º Congresso Internacional das Prisões


e, depois disso, França, Alemanha, Bélgica e Holanda passaram a adotar o
Sistema Progressivo de cumpribilidade penal (Muraro, 2017, p. 50).
Esse sistema foi criado com base em uma junção dos Sistemas da
Pensilvânia e de Auburn, fazendo com que o preso iniciasse o cumprimento da
pena em isolamento absoluto (remetendo ao Sistema da Pensilvânia); em
seguida adquiria o direito de laborar durante o dia, com os demais detentos, e
se isolava somente à noite (remetendo ao Sistema de Auburn). Por fim, após
passar por essas fases poderia receber um livramento condicional, utilizando-se,
para tanto, dos “vales” que recebia para serem trocados por liberdades (Muraro,
2017, p. 50).

2.5 Sistema de Cumpribilidade Penal no Brasil

No Brasil as prisões vão se organizando de forma descentralizada e


dispensa no território, podendo ser cadeias públicas, postos policiais, casas
religiosas para as mulheres e até mesmo instituições destinadas aos escravos e
delinquentes obrigados a trabalhar (Muraro, 2017, p. 70).
No Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro, havia as unidades
militares, espalhadas pela Baía de Guanabara. Os presos civis, por sua vez,
eram remetidos para o Aljube, prisão eclesiástica, localizada no Morro da
Conceição, o Calabouço, localizado no Morro do Castelo, que era destinado
exclusivamente a punição de escravos. Assim, esses estabelecimentos eram

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adaptados para receber os criminosos, mas que eram alheias ao pretendido no
Brasil Império (Araújo, 2007, p. 149).
Em 1981 foi fundada a Sociedade Defensora da Liberdade e
Independência Nacional, a qual apresentou um projeto de Casa de Correção
inspirado no modelo pan-óptico, antes estudado com o objetivo de se ter total
controle sobre o encarcerado. Contudo, o projeto era caro e não foi viável no
Brasil Império (Araújo, 2007, p. 150).
Assim, somente em 1833, durante o Governo Regencial, é que uma nova
Comissão da Sociedade Defensora conseguiu encontrar um local para
construção de uma Casa de Correção da Corte, no modelo de prisão com
trabalho, iniciando as obras no ano seguinte (Araújo, 2007, p. 150).
Essas casas de correção, construídas a partir do final do século XIX no
Brasil, tinham os modelos dos Estados Unidos e da Europa, em que a pena
corporal não era mais aplicada para submeter o criminoso à pena privativa de
sua liberdade, sendo que a Casa de Correção da Corte adotou o modelo de
Auburn (Muraro, 2017, p. 71).
Em 1862, Dom Pedro II visitou a Penitenciária da Corte, a casa de
correção antes mencionada, com o Chefe de Polícia e o Ministro da Justiça, e
fez um relato em seu diário destacando que havia um grande atraso no setor de
apontamentos, havendo um atraso no registro de fornecedores e que o livro de
matrículas dos presos sequer havia sido aberto naquele ano. Registrou que
conversou com os detentos, ouviu as suas queixas, sentiu mal cheiro, presenciou
doenças e se insurgiu contra a mistura de jovens com adultos. E a visita não foi
sem propósitos, mas sim para ver aquilo que os jornais da época já vinham
denunciando (Muraro, 2017, p. 71).
Também foram inauguradas Casas de Correção em São Paulo (1852),
Porto Alegre (1855), Casa de Prisão e Trabalho em Salvador (1861), as quais
recebiam não somente os criminosos, mas os menores infratores, vadios,
escravos e africanos livres (Muraro, 2017, p. 73-74).
No Brasil, portanto, as prisões surgiram como forma de controle social
voltadas aos escravos libertos e dos pobres, garantindo a segurança dos
brancos das elites. Ainda que afirmassem buscar a recuperação dos presos, as
prisões não tinham condições de garantir que isso acontece, ante a situação
degradante a que submetiam os seus internos (Muraro, 2017, p. 74-75).

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Situação que, mais adiante, veremos não ter sido muito alterada nos dias
de hoje.

TEMA 3 – FONTES LEGAIS DA EXECUÇÃO PENAL NO BRASIL

Desde o Brasil Colônia existiram normas que tratavam de alguma forma


da execução da pena no país. O primeiro regramento vigente no Brasil foram as
Ordenações Filipinas, que entraram em vigor em 1603, sendo revogado somente
em 1830 por meio do Código Criminal do Império.
As Ordenações Filipinas conferiam maior poder ao Rei, vez que já proibia
a vingança privada e instituía a justiça pública para resolver a maioria dos delitos,
excepcionando-se a morte da adúltera e de seu parceiro e a perda da paz, cuja
dívida ou delito poderiam ser cobradas por qualquer pessoa. E, ainda, os
senhores donatários de capitanias poderiam julgar os escravos e puni-los da
forma que lhes conviesse (Muraro, 2017, p. 64).
Nesse ordenamento, dentre outras formas de punição, ainda se permitia
a pena de morte, a qual poderia ser aplicada de quatro formas: morte cruel, a
estilo dos suplícios; morte atroz que era somada a outras penas, como o confisco
de bens materiais; morte simples, aplicada por meio de degolamento; e morte
civil, que eliminava os direitos de cidadão do condenado (Muraro, 2017, p. 65).
Com a Independência do Brasil, em 1822, formou-se a constituinte, que
originou a Constituição do Império, de 1824, a qual veio previsão de proibição de
penas cruéis e de pena de morte. Previu a obrigação de as cadeias serem um
lugar digno e os presos separados de acordo com os crimes praticados, sendo
respeitadas algumas formalidades para a prisão (Muraro, 2017, p. 65).
O Código Criminal do Império, promulgado em 1830, foi considerado
bastante avançado para a época, tendo influenciado os códigos criminais da
América Latina e de países como Espanha, por exemplo. Apesar de prever
penas de morte e de prisão, o Código nada mencionada acerca da forma ou
procedimento para cumprimento/execução destas.
Em 1890 foi promulgado o “Código Penal dos Estados Unidos do Brazil”
(na grafia da época), sendo que os seus principais alvos eram os pobres, os
desempregados, as prostitutas e os vadios, sendo a vadiagem criminalizada,
inclusive.

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Este Código já passou a tratar de alguns dos elementos do cumprimento
da pena no capítulo intitulado “Das penas e seus effeitos; da sua applicação e
modo de execução” (Brasil, 1890).
Na legislação atualmente vigente no Brasil, deve-se considerar,
especialmente, as previsões da Constituição de 1988 acerca das penas e da
preservação da integridade física do condenado, vejamos:

XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a


obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens
ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras,
as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
XLVII – não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84,
XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de
acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L – às presidiárias serão asseguradas condições para que possam
permanecer com seus filhos durante o período de amamentação.
(Brasil, 1988)

Atualmente, no Brasil é a Lei de Execução Penal – LEP, Lei n. 7.210/1984,


disciplinando a assistência ao preso, o seu trabalho e estudo, direitos e deveres,
disciplina e faltas disciplinares, sanções e recompensas e o procedimento
disciplinar aplicados na execução da pena. Apensar de a LEP ser anterior ao
texto da Constituição de 1988 o seu texto foi preservado na maior parte por
garantir os interesses constitucionais.
A LEP será objeto de estudo mais aprofundado, pois o conhecimento de
suas previsões é imprescindível para a atuação no cumprimento da pena.

TEMA 4 – PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO PENAL

Como forma de garantia da mais efetiva execução penal, alguns princípios


devem ser garantidos, dentre eles o da legalidade, humanidade, isonomia,
individualização da pena etc.

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O princípio da legalidade é o corolário do direito, sendo que na execução
penal deve-se observar, especialmente, o fato de que não há pena sem lei
anterior que a defina, de modo que não há execução da pena sem lei (Brito,
2018, p. 64).
Também se deve pensar que a o princípio da legalidade deve ser
observado em relação às garantias e às restrições aplicadas ao preso, não se
podendo aplicar exceções que fujam à regra legal, como, por exemplo, criar
restrições ao condenado que não estejam previstas em lei.
Deve-se observar o princípio da humanidade que “pressupõe uma
execução humana e responsável”, considerando as particularidades do
executado, como a sua personalidade, propondo uma pena humanizada no
intuito de permitir que ele volte ao convício social (Brito, 2018, p. 65).
Pode parecer óbvio nos dias atuais, mas em algum momento da história
foi necessário dizer e prever na lei que a pena não deve proporcionar ao
condenado tratamentos avessos ao senso de humanidade (Brito, 2018, p. 65).
O princípio da isonomia tem como ideia a vedação de concessão de
privilégios ou restrições aplicadas indiscriminadamente aos presos, por questões
de origem social, racial ou política. A igualdade é subjetiva nesse caso, pois a
cada preso ou condenado deve-se garantir os elementos inerentes à sua
individualização da pena (Brito, 2018, p. 66).
O princípio da individualização da pena prega que a pena a ser
aplicada ao agente deve atender a sua personalidade e aos seus antecedentes
criminais. Inclusive, a individualização da pena está prevista na Constituição de
1988, no art. 5º, inciso XLVI, cujo texto aduz que: “XLVI – a lei regulará a
individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: [...]” (Brasil,
1988).

TEMA 5 – SUJEITOS PASSIVOS DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL

A Lei de Execução Penal tem como objetivo garantir o cumprimento da


pena aplicada ao condenado e ao mesmo tempo permitir que este se aperfeiçoe
para retornar ao convívio social.
Contudo, a Lei de Execução Penal pode ser aplicada em diversos tipos
de presos, que não somente aos condenados com sentença penal transitada em
julgado, e que estejam submetidos à justiça penal, como estudaremos em
seguida.
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A lei de aplica ao preso provisório, que é aquele que tem a sua liberdade
restrita por algum tipo de prisão processual, que pode ser a prisão preventiva,
prisão em flagrante ou temporária. A esses presos provisórios são aplicadas as
disposições da Lei de Execução Penal no que tange às assistências (material,
jurídica, religiosa etc.) e permissões de saída, por exemplo. Caso ainda não
exista sentença penal condenatória, caberá ao juiz da causa criminal que
originou a prisão a garantia dos direitos previstos na LEP, por sua vez, havendo
já sentença em primeira instância é o juiz da execução da pena o legítimo para
garantia dos direitos (Brito, 2018, p. 90).
Inclusive, a Súmula 716 do STF também garante ao preso provisório os
direitos da Lei n. 7.210/1984.
O condenado é o principal destinatário das previsões da Lei de Execução
Penal, pois consiste naquele sujeito que tem contra si sentença penal
condenatória transitada em julgado a uma pena privativa de liberdade, restritiva
de direito ou de multa. Os condenados deverão ser classificados segundo os
seus antecedentes e a sua personalidade, no intuito de garantir a melhor
efetivamente do decreto penal com a sua perfeita individualização.
O exame criminológico é obrigatório aos presos condenados à pena
privativa de liberdade em regime fechado, no intuito de buscar um melhor
entendimento acerca daquela pessoa e da sua possibilidade de readaptação
social.
A Lei de Execução Penal também é aplicada ao agente submetido a
medida de segurança. Segundo o Código Penal, no artigo 26 “é isento de pena
o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento”.
Se o agente que cometeu fato descrito na lei como crime não tinha
condições de entender o caráter ilícito da ação será considerado inimputável
penal, o que resulta no afastamento da sua culpabilidade. Assim, se laudo
médico pericial realizado durante a instrução do processo comprovar essa
condição do agente, este não será submetido a uma pena, mas a medida de
segurança, que poderá ser executada mediante internamento em hospital
psiquiátrico ou tratamento ambulatorial.

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O nosso ordenamento jurídico vigente somente permite a prisão civil
daquele que não realiza o pagamento de pensão alimentícia, hipótese em que o
juiz da causa alimentar poderá determinar a expedição de mandado de prisão
civil em desfavor do devedor.
O artigo 201 da LEP determina que no caso de inexistência de local
específico para cumprimento de prisão civil, o preso deverá ser encaminhado à
Cadeia Pública, razão pela qual se estendem a esse preso as previsões da lei
de execução penal.

NA PRÁTICA

Durante a instrução do processo criminal proposto em desfavor de Severo


Snape, em virtude da prática do crime de furto simples, a defesa requereu fosse
elaborado laudo psiquiátrico no intuito de comprovar que há época do crime por
ele praticado ele não era capaz de entender o caráter ilícito da sua conduta. A
prova pericial foi realizada e a sua conclusão foi de que Severo, de fato, era
inimputável no momento da ação.
Na sentença o juiz, analisando as provas dos autos, entendeu que era o
caso de condená-lo a dois anos de pena privativa de liberdade, iniciando o
regime de cumprimento da pena no regime aberto.
Considerando o conteúdo exposto na aula, você considera que a
sentença foi corretamente aplicada a Severo ou pensa que diante da sua
condição pessoal outra poderia ser a decisão do magistrado?

FINALIZANDO

Nesta aula os temas foram abordados no sentido de introduzir alguns dos


elementos gerais acerca da disciplina, tendo sido abordados os seguintes temas:

 Tema 1: O poder punitivo e o nascimento das prisões: foi estudado o


histórico do poder de punir, que se iniciou pela vingança privada até que
o Estado assumiu para si a responsabilidade de resolver conflitos privados
de natureza criminal. Estudou-se, ainda, o contexto histórico do
nascimento das prisões.
 Tema 2: Sistemas de cumpribilidade penal: foram estudados os sistemas
Pan-óptico, da Pensilvânia, de Auburn e o Progressivo e as suas
principais características.

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 Tema 3: Fontes legais da execução penal no Brasil: o estudo demonstrou
que o Brasil desde a época colonial já pensava em relação aos agentes
que praticavam crimes. O estudo passou pelas legislações do Brasil
Império e da República Velha, até que chegamos a Lei de Execução Penal
e as previsões do texto da Constituição de 1988.
 Tema 4: Princípios da Execução Penal: apensar de serem diversos os
princípios que regem a execução penal atualmente no país, o estudo
focou os princípios de legalidade, humanidade, isonomia, individualização
da pena, devido processo legal e ampla defesa e contraditório.
 Tema 5: Sujeitos passivos da Lei de Execução Penal: por fim, foram
estudados os diversos tipos de prisões em que se aplicam as previsões
da Lei de Execução Penal, destacando as principais características de
cada caso.

Sugirimos, por fim, que assista aos vídeos da aula e tenha bons estudos!

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REFERÊNCIAS

ARAÚJO, C. E. M. de. Da casa de correção da corte ao complexo penitenciário


Frei Caneca: um breve histórico do sistema prisional no Rio de Janeiro, 1834-
2006. In: Cidade Nova Revista, n. 1, 2007, p. 147-161.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial


da União, Brasília, DF, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso
em: 30 nov. 2019.

BRASIL. Decreto n. 847, de 11 de outubro de 1890. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/d847.htm>. Acesso
em: 30 nov. 2019.

BRITO, A. C. de. Execução penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

FOUCALT, M. Vigiar e punir. 24. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

MURARO, M. Sistema penitenciário e execução penal [livro eletrônico].


Curitiba: Intersaberes, 2017.

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