Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
NATAL-RN
JANEIRO DE 2024
ALTERNATIVAS PENAIS
E PRÁTICAS RESTAURATIVAS
INSTRUTOR: JOSÉ SALATIEL DANTAS NASCIMENTO
ALTERNATIVAS PENAIS
01 E PRÁTICAS RESTAURATIVAS
5
IV Curso de Formação Profissional da Polícia Penal
ALTERNATIVAS PENAIS E PRÁTICAS RESTAURATIVAS
pese as alternativas penais, vislumbrando-se uma melhor população carcerária, com vistas em alternativas à prisão.
adequação em detrimento das penas privativas de No 8º Congresso da ONU em 14/12/1990, as Regras de
liberdade, uma vez que, são consideradas imprescindíveis Tóquio, constituem-se ideias de caráter geral, levantando
à sociedade, levando em consideração a proteção, a possibilidade de medidas alternativas às privativas
segurança e reparação, como também os interesses de liberdade, mesmo com a diversidade sociopolítico-
dos infratores, fazendo com que venham surgir os mais econômico e culturais, sem violar os direitos humanos.
diversos mecanismos de subsidiar a desencarcerização e
eternizar a criminalidade. Após os avanços das Regras de Tóquio, foi dado margem
a novas discussões versando sobre a temática da
A trajetória das penas alternativas conta com a importante prevenção do crime e o sistema criminal, com ênfase para
presença de alguns documentos internacionais, como por o tratamento do delinquente e as penas alternativas. As
exemplo o Pacto Internacional de Direitos Civis e políticos diretrizes tomadas nestas novas discussões influenciaram
e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, e a sua a legislação brasileira, na criação dos Juizados Especiais
parte principal a Declaração dos Direitos Humanos (1948), Criminais para infrações de menor potencial ofensivo, e
considerando a Constituição Federal de 1988, usando a para a aplicação das penas de multas e penas restritivas
proteção efetiva da dignidade humana, liberdade, paz e de direitos nas sanções de até quatro anos.
justiça e seus reconhecimento mundial, conforme consta
no Art. 5º da Declaração dos Direitos Humanos: “Ninguém DEFINIÇÃO
será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos
cruéis, desumanos ou degradantes.” Os Postulados, Princípios e Diretrizes para a Política
de Alternativas Penais no Brasil traz um conceito de
Em decorrência da criação da Declaração dos alternativas penais da seguinte forma:
Direitos Humanos, a pena de prisão passou a ter seu
reconhecimento como uma forma de punição cruel As alternativas penais são mecanismos de intervenção
e torturante, citado WACQUANT em sua obra que as em conflitos e violências, diversos do encarceramento, no
prisões pareciam campos de concentrações para pobres, âmbito do sistema penal, orientados para a restauração
servindo apenas como função penalógica. Insta ressaltar das relações e promoção da cultura da paz, a partir da
que esta ideia foi reforçada por OLIVEIRA, observando responsabilização com dignidade, autonomia e liberdade.
que os problemas estruturais das prisões acarretam (GUIA DE FORMAÇÃO EM ALTERNATIVAS PENAIS. p 15)
outros custos sociais.
Alternativas penais referem-se a métodos e abordagens
Diante dos fatos e da evolução do direito, a ONU expediu alternativas à prisão como resposta a crimes. Em vez
algumas Resoluções com a finalidade na diminuição da de recorrer automaticamente à privação de liberdade,
o sistema de justiça criminal procura opções que princípios fundamentais que norteiam o sistema de
possam ser mais eficazes, proporcionais e socialmente justiça criminal no Brasil, destacam-se:
construtivas. Essas alternativas visam tratar as causas
subjacentes do comportamento criminoso, promover a Dignidade da Pessoa Humana (Artigo 1º, III)
reintegração social e reduzir a reincidência. Além disso, A dignidade da pessoa humana é um princípio
as alternativas penais muitas vezes buscam evitar a fundamental que permeia toda a Constituição. No
superlotação carcerária e mitigar os impactos negativos contexto do sistema de justiça criminal, esse princípio
da prisão na vida do infrator. implica que a aplicação das leis e a execução das penas
devem respeitar a integridade física, moral e psicológica
BASES LEGAIS E MOVIMENTOS NACIONAIS dos indivíduos envolvidos no processo penal, incluindo
acusados, condenados e vítimas.
As bases legais e os movimentos nacionais em prol das
alternativas penais estão relacionados a uma abordagem Individualização da Pena (Artigo 5º, XLVI)
mais ampla e humanizada no sistema de justiça criminal. O princípio da individualização da pena estabelece que
Essas alternativas buscam reduzir a superlotação as penas devem ser aplicadas levando em consideração
carcerária, promover a ressocialização dos infratores e as circunstâncias específicas de cada caso e do infrator.
garantir que as punições sejam proporcionais aos delitos Ou seja, a punição deve ser proporcional à gravidade do
cometidos. Abaixo, apresenta-se algumas bases legais e delito e às condições pessoais do condenado, evitando
movimentos relevantes nesse contexto: tratamentos desumanos ou degradantes.
Princípio da Legalidade (Artigo 5º, II)
7
IV Curso de Formação Profissional da Polícia Penal
ALTERNATIVAS PENAIS E PRÁTICAS RESTAURATIVAS
Esses fundamentos buscam assegurar que o sistema de de liberdade, a LEP prevê alternativas à prisão, como
justiça criminal brasileiro seja pautado pela justiça, pela a liberdade condicional. A liberdade condicional é
proteção dos direitos humanos e pela busca de soluções uma modalidade na qual o preso, após cumprir parte
que, além de punir os infratores, contribuam para sua da pena, pode ser colocado em liberdade sob certas
ressocialização e para a construção de uma sociedade condições. Essas condições visam garantir que o liberado
mais justa. condicionalmente não volte a cometer crimes.
oferecer uma alternativa ao sistema tradicional de justiça são realizados de forma mais direta, sem a rigidez formal
criminal para crimes de menor potencial ofensivo, presente em outros tribunais.
buscando uma solução mais célere e conciliatória.
Possibilidade de Suspensão do Processo
Alguns dos pontos-chave da Lei dos Juizados Especiais Em alguns casos, a lei permite a suspensão condicional do
Criminais incluem: processo mediante o cumprimento de certas condições
pelo autor do fato. Se as condições são atendidas, o
Conciliação e Transação Penal processo pode ser extinto sem a aplicação de uma pena.
Os Juizados Especiais Criminais promovem a conciliação
como meio de solucionar conflitos de maneira rápida A Lei dos Juizados Especiais Criminais é uma importante
e eficiente. Além disso, a lei prevê a possibilidade de iniciativa para lidar com delitos de menor potencial
transação penal, que é um acordo entre o Ministério ofensivo de maneira mais eficaz, priorizando a conciliação,
Público e o autor do fato para a aplicação de uma pena a reparação dos danos e a celeridade processual. Essa
não privativa de liberdade, como a prestação de serviços abordagem visa desafogar o sistema judicial convencional
à comunidade ou a reparação do dano. e oferecer respostas mais adequadas a esse tipo de
infração
Composição dos Danos
A composição dos danos refere-se à reparação do prejuízo Lei nº 12.850/2013 (Lei das Organizações Criminosas)
causado pela infração. Nos Juizados Especiais Criminais, é Prevê a colaboração premiada como um instrumento
estimulado que haja acordos para a reparação dos danos para a obtenção de informações que auxiliem nas
causados à vítima como parte do processo conciliatório. investigações e no combate a organizações criminosas.
9
IV Curso de Formação Profissional da Polícia Penal
ALTERNATIVAS PENAIS E PRÁTICAS RESTAURATIVAS
A colaboração premiada é um acordo entre o Ministério permitindo que membros da organização revelem
Público e o acusado, que se dispõe a colaborar com as informações cruciais em troca de benefícios legais.
investigações, fornecendo informações relevantes sobre Essa prática visa desmantelar organizações criminosas,
a prática de crimes e sobre a estrutura da organização desvendar esquemas complexos e fortalecer as
criminosa. investigações. Contudo, é uma prática que também
levanta questões éticas e jurídicas, exigindo cautela na
Concessão de Benefícios ao Colaborador sua aplicação.
Em troca da colaboração efetiva, a legislação prevê a
possibilidade de concessão de benefícios ao colaborador, MOVIMENTOS NACIONAIS
como a redução de pena, a concessão de perdão judicial,
a progressão de regime prisional ou a substituição da Movimento de Humanização do Sistema Carcerário
pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Defende condições mais dignas nos presídios, o respeito
aos direitos humanos dos detentos e a busca por soluções
Preservação da Segurança do Colaborador alternativas à prisão.
A lei também estabelece medidas para preservar a
segurança do colaborador, incluindo a não divulgação Refere-se a um posicionamento que defende a melhoria
de sua identidade, quando necessário para a eficácia da das condições nos presídios, o respeito aos direitos
colaboração e a segurança pessoal do colaborador e de humanos dos detentos e a busca por alternativas à prisão
sua família. como parte de uma abordagem mais humanizada no
sistema de justiça criminal.
Requisitos para a Homologação
A homologação do acordo de colaboração premiada deve Os principais pontos desse posicionamento incluem:
ser realizada por um magistrado e está sujeita a requisitos
específicos, visando garantir a legalidade e a eficácia do Condições Dignas nos Presídios
instrumento. A defesa por condições mais dignas nos presídios envolve
a preocupação com a infraestrutura, higiene, saúde
Utilização das Informações em Processo Criminal e segurança dos detentos. Isso inclui a promoção de
As informações obtidas por meio da colaboração ambientes que respeitem a dignidade da pessoa humana,
premiada podem ser utilizadas como prova em processos mesmo em contextos de privação de liberdade. As
criminais, contribuindo para a responsabilização de normas internacionais e nacionais, visando estabelecer
outros membros da organização criminosa. o papel do Estado, no intuito de proteger o indivíduo
A colaboração premiada é considerada uma ferramenta apenado, contra qualquer ato que viole as garantias
importante no combate à criminalidade organizada, estabelecidas, ASSIS dispões em sua obra que:
As garantias legais previstas durante a execução da pena, alimentação adequada, condições de habitação seguras,
assim como os direitos humanos do preso estão previstos além do tratamento justo e respeitoso por parte das
em diversos estatutos legais. Em nível mundial existem autoridades penitenciárias.
várias convenções como a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, a Declaração Americana de Direitos e Busca por Alternativas à Prisão
Deveres do Homem e a Resolução da ONU que prevê as A busca por alternativas à prisão reflete a compreensão
Regras Mínimas para o Tratamento do Preso. Já em nível de que nem todos os crimes e infratores são mais
nacional, nossa Carta Magna reservou 32 incisos do artigo bem tratados com a privação de liberdade. Propõe-se
5º, que trata das garantias fundamentais do cidadão, explorar e implementar medidas alternativas, como
destinados à proteção das garantias do homem preso. penas restritivas de direitos, prestação de serviços à
Existe ainda em legislação específica - a Lei de Execução comunidade, programas de reabilitação, entre outros,
Penal - os incisos de I a XV do artigo 41, que dispõe sobre com o objetivo de evitar a superlotação carcerária e
os direitos infraconstitucionais garantidos ao sentenciado promover a reintegração social. O manual de Princípios
no decorrer da execução penal. (ASSIS. p 4) básicos e práticas promissoras sobre alternativas à prisão
nos remete que:
De acordo com o texto do autor, as garantias fundamentais
já se encontram inseridas no ordenamento jurídico, sendo Um dos desafios enfrentados pelas autoridades que
desnecessário, qualquer procedimento de crueldade ou buscam desenvolver o uso de alternativas à prisão como
maus tratos à pessoa privada de liberdade, pois não se forma de reduzir a população carcerária é garantir que,
pode agir com ilegalidade. conceitualmente, as alternativas não sejam traçadas
de forma muito restrita. As alternativas são parte
Respeito aos Direitos Humanos dos Detentos essencial de todos os níveis e fases do sistema de justiça
Kant aponta em sua obra: Fundamentación de la criminal. (MANUAL DE PRINCÍPIOS BÁSICOS E PRÁTICAS
metafísica de las costumbres que a dignidade, o trato PROMISSORAS SOBRE ALTERNATIVAS À PRISÃO. p 7)
especial, o respeito que se deve ao ser humano para
que se desenvolva, é um fim em si mesmo e não em um Reabilitação e Ressocialização
meio, o que significa que a existência humana tem um Além de apenas defender condições dignas e alternativas
valor absoluto. à prisão, essa abordagem também pode incluir um foco
significativo na reabilitação e ressocialização dos detentos.
Esse posicionamento enfatiza a necessidade de garantir Isso implica oferecer oportunidades educacionais,
que os detentos tenham seus direitos humanos treinamento profissional e programas que ajudem os
respeitados durante todo o período de detenção. Isso presos a se reintegrarem positivamente à sociedade após
abrange direitos como o acesso a cuidados médicos, cumprir suas penas.
11
IV Curso de Formação Profissional da Polícia Penal
ALTERNATIVAS PENAIS E PRÁTICAS RESTAURATIVAS
Edmundo Campos Coelho (1987) ao pesquisar as crises argumenta que a abordagem puramente punitiva tem
e conflitos no sistema penitenciário do Rio de Janeiro limitações significativas e que políticas mais centradas
levanta os seguintes questionamentos: na saúde podem ser mais eficazes na redução dos danos
Como pode pretender a prisão ressocializar o criminoso associados ao uso de substâncias psicoativas.
quando ela o isola do convívio com a sociedade e
o incapacita, por esta forma, para as práticas da Alguns pontos-chave dessa proposta incluem:
sociabilidade? Como pode pretender reintegrá-lo ao Tratamento em Vez de Punição:
convívio social quando é a própria prisão que o impele Propõe que usuários de drogas sejam tratados como
para a “sociedade dos cativos” onde a prática do crime pacientes em busca de ajuda em vez de criminosos
valoriza o indivíduo e o torna respeitável para a massa sujeitos a punições penais. Isso envolve o acesso a
carcerária? (COELHO, 1987, p. 13). serviços de tratamento para dependência química,
aconselhamento e apoio psicossocial.
Esse posicionamento está alinhado com uma perspectiva
mais humanitária e progressista no sistema de justiça Para este efeito, o Artigo 38 da Convenção Única (1961)
criminal, buscando equilibrar a punição por infrações com afirma:
a proteção dos direitos fundamentais e a promoção de
soluções que visam a prevenção do crime e a reintegração MEDIDAS CONTRA O ABUSO DE DROGAS NARCÓTICAS
social. A implementação efetiva dessas ideias pode variar 1. As Partes prestarão atenção especial à prevenção do
de acordo com as políticas e práticas adotadas em cada abuso de drogas e a pronta identificação, tratamento,
jurisdição. educação, pós-tratamento, reabilitação e reabilitação
social das pessoas afetadas, tomarão todas as medidas
Movimento pela Reforma da Política de Drogas possíveis para esse fim e coordenarão seus esforços
Propõe a revisão das políticas de drogas, visando nesse sentido.
tratamentos de saúde para usuários, em vez de punições
penais, e a redução do encarceramento relacionado ao 2. As Partes promoverão, na medida do possível, a
tráfico de drogas. formação de pessoal para o tratamento, pós-tratamento,
reabilitação e reabilitação social daqueles que abusam de
A proposta de revisão das políticas de drogas, visando drogas.
tratamentos de saúde para usuários em vez de punições
penais, e a redução do encarceramento relacionado 3. As Partes procurarão ajudar as pessoas cujo trabalho o
ao tráfico de drogas é uma abordagem conhecida exija, a fim de se conscientizarem dos problemas do abuso
como “reforma das políticas de drogas” ou “políticas de de drogas e de sua prevenção, e também promoverão
drogas baseadas em saúde pública”. Essa perspectiva esse conhecimento entre o público em geral, se houver
13
IV Curso de Formação Profissional da Polícia Penal
ALTERNATIVAS PENAIS E PRÁTICAS RESTAURATIVAS
Ênfase na Saúde Pública Dessa forma, propõe-se uma revisão das penas
Coloca a ênfase na abordagem do consumo de drogas para crimes relacionados ao tráfico de drogas, com
como uma questão de saúde pública, buscando soluções uma abordagem mais focalizada na redução do
que abordem os problemas sociais subjacentes e encarceramento em massa e na implementação de
ofereçam suporte aos indivíduos afetados. políticas que atinjam os envolvidos no tráfico de maneira
mais eficaz.
Redução do Encarceramento por Tráfico de Drogas
A Lei de Drogas vem atrelar dois modelos de controle Essa abordagem tem sido adotada por alguns países
social: o primeiro, de caráter punitivo e o segundo e jurisdições como resposta aos desafios e limitações
criminalizador. O primeiro, por sua vez, dirigido aos que percebidos nas políticas de drogas tradicionais.
comercializam a droga, culminando no aumento da
pena mínima para o crime de tráfico de drogas. Já o A implementação prática dessas propostas varia
segundo, de caráter médico-social-preventivo, voltado significativamente ao redor do mundo.
aos usuários, destacando o fim da pena de prisão e da
multa para. O debate sobre as políticas de drogas continua a evoluir
à medida que a sociedade reexamina os impactos das
Com base nisso, em discussões acaloradas, a justificativa abordagens tradicionais.
deste novo dispositivo bifronte, elaborado pela lei, é o que
se vê no parecer publicado no Diário do Senado Federal. Defensoria Pública e Advocacia Popular
Instituições e movimentos que trabalham pela defesa
Veja: dos direitos dos menos favorecidos, muitas vezes
(...) tornou-se indispensável oferecer ao Legislativo um promovendo alternativas penais como forma de evitar o
projeto que, encontrando entre as várias iniciativas já encarceramento excessivo.
apresentadas traços comuns, oferecesse à sociedade
A Defensoria Pública é uma instituição fundamental que em situação de rua, moradores de favelas, mulheres
desempenha um papel crucial na promoção do acesso vítimas de violência, imigrantes, entre outros.
à justiça e na defesa dos direitos das pessoas que não
têm recursos financeiros para contratar advogados Mediação e Solução Extrajudicial de Conflitos
particulares. Além da atuação judicial, a Defensoria Pública também
pode se envolver em atividades de mediação e busca por
Aqui estão alguns aspectos relevantes sobre a Defensoria soluções extrajudiciais de conflitos, buscando resolver
Pública: disputas de maneira mais rápida e eficaz.
Assistência Jurídica Gratuita
A principal função da Defensoria Pública é fornecer Advocacia em Causas Coletivas
assistência jurídica gratuita para aqueles que não têm A Defensoria Pública pode atuar em causas coletivas,
condições de pagar por serviços advocatícios. Isso inclui defendendo interesses difusos ou coletivos de
a representação em processos judiciais e administrativos. comunidades ou grupos sociais. Isso pode incluir ações
para proteger o meio ambiente, garantir o acesso à saúde,
Atuação em Diversas Áreas do Direito entre outras questões.
A Defensoria Pública atua em diversas áreas do direito,
abrangendo questões cíveis, criminais, familiares, Promoção de Direitos Humanos
previdenciárias, do consumidor, entre outras. Seu objetivo A atuação da Defensoria Pública contribui para a
é garantir que as pessoas em situação de vulnerabilidade promoção dos direitos humanos, assegurando que
tenham acesso a orientação legal em diferentes áreas de todas as pessoas, independentemente de sua condição
suas vidas. socioeconômica, tenham acesso a uma defesa jurídica
adequada.
Defesa Criminal
Na área criminal, a Defensoria Pública desempenha A Defensoria Pública desempenha um papel fundamental
um papel crucial na defesa dos acusados que não na garantia da igualdade perante a lei e na promoção
podem pagar por um advogado particular. Isso inclui da justiça social, contribuindo para a construção de
a representação em processos penais, a promoção sociedades mais justas e inclusivas.
de direitos dos presos e a busca por alternativas ao
encarceramento. A advocacia popular refere-se a uma prática jurídica
comprometida com a defesa dos direitos e interesses
Atuação em Favor de Grupos Vulneráveis das camadas mais vulneráveis da sociedade, muitas
A Defensoria Pública muitas vezes concentra esforços na vezes envolvendo pessoas de baixa renda, comunidades
defesa de grupos socialmente vulneráveis, como pessoas marginalizadas e grupos socialmente excluídos. Esse
15
IV Curso de Formação Profissional da Polícia Penal
ALTERNATIVAS PENAIS E PRÁTICAS RESTAURATIVAS
tipo de advocacia tem como objetivo principal tornar o Questões Sociais e Estruturais
acesso à justiça mais inclusivo, promovendo a equidade A advocacia popular vai além do atendimento individual
e a justiça social. Aqui estão alguns aspectos relevantes de casos jurídicos e se engaja em questões sociais e
sobre a advocacia popular: estruturais que contribuem para a injustiça. Isso pode
incluir a luta contra a discriminação racial, a desigualdade
Acesso à Justiça econômica e a violência institucional.
A advocacia popular concentra-se em superar barreiras
econômicas, sociais e culturais que impedem muitas Litigância Estratégica
pessoas de acessar a justiça. Isso inclui oferecer assistência A litigância estratégica é uma ferramenta frequentemente
jurídica gratuita ou de baixo custo para aqueles que não utilizada na advocacia popular. Os advogados buscam
têm recursos para contratar advogados privados. casos emblemáticos que, se bem-sucedidos, podem ter
um impacto mais amplo, influenciando políticas públicas
Defesa dos Direitos Humanos e jurisprudência.
A prática da advocacia popular geralmente está alinhada
com a defesa dos direitos humanos. Advogados e Compromisso Social
defensores populares podem trabalhar em casos que A advocacia popular é caracterizada por um compromisso
envolvem discriminação, abuso de poder, violações dos social e uma abordagem crítica em relação ao sistema
direitos civis e questões relacionadas à justiça social. de justiça. Os advogados populares frequentemente
questionam estruturas injustas e buscam transformações
Empoderamento Comunitário significativas na sociedade.
A advocacia popular busca empoderar comunidades,
fornecendo conhecimento jurídico e promovendo A prática da advocacia popular varia em diferentes
a participação ativa das pessoas na defesa de seus contextos culturais e jurídicos, mas, em geral, ela está
próprios interesses. Isso pode incluir a realização de alinhada com a promoção de uma justiça mais inclusiva
workshops educativos, treinamentos legais e capacitação e equitativa.
comunitária.
É importante ressaltar que esses movimentos e bases
Trabalho em Rede legais buscam criar um sistema de justiça mais eficiente,
Os advogados populares muitas vezes trabalham em justo e humano, promovendo soluções que vão além da
estreita colaboração com organizações da sociedade civil, prisão como resposta única aos delitos. O debate sobre
movimentos sociais e outras entidades comprometidas alternativas penais continua evoluindo à medida que a
com a justiça social. O trabalho em rede é fundamental sociedade reconhece a necessidade de abordagens mais
para fortalecer a eficácia da advocacia popular. holísticas e eficazes no combate ao crime.
17
IV Curso de Formação Profissional da Polícia Penal
ALTERNATIVAS PENAIS E PRÁTICAS RESTAURATIVAS
Resultados Potenciais:
Os resultados esperados das práticas restaurativas no
ambiente prisional incluem a redução da reincidência, o
fortalecimento das relações comunitárias, a promoção
da empatia e a melhoria do ambiente prisional como um
todo.
Desafios e Implementação:
A implementação das práticas restaurativas no ambiente
prisional pode enfrentar desafios, como resistência
cultural, falta de recursos e treinamento inadequado.
19
IV Curso de Formação Profissional da Polícia Penal
ALTERNATIVAS PENAIS E PRÁTICAS RESTAURATIVAS
REFERÊNCIAS
BRASIL. LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984. Institui a Lei
ASSIS, Rafael Damasceno de. As prisões e o direito de Execução Penal.
penitenciário no Brasil. 2007
BRASIL. LEI Nº 9.099, DE 26 DE SETEMBRO DE 1995.
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e Das Penas. Trad. Lucia Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e
Guidici & Alessandro Berti Contessa. São Paulo: Martins dá outras providências.
Fontes, 2017.
BRASIL. LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre
causas e alternativas. 5.ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2017. Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do
uso indevido, atenção e reinserção social de usuários
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República e dependentes de drogas; estabelece normas para
Federativa do Brasil. Brasília: DF: Senado Federal, 1988. repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de
drogas; define crimes e dá outras providências.
BRASIL. DECRETO LEI Nº 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE
1940. Código Penal. BRASIL. LEI Nº 12.850, DE 2 DE AGOSTO DE 2013. Define
organização criminosa e dispõe sobre a investigação
BRASIL. Departamento Penitenciário Nacional. criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais
Guia de formação em alternativas penais I [recurso correlatas e o procedimento criminal; altera o Decreto-
eletrônico]:Postulados, princípios e diretrizes para a Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal);
política de alternativas penais no Brasil/ Departamento revoga a Lei nº 9.034, de 3 de maio de 1995; e dá outras
Penitenciário Nacional, Programa das Nações Unidas providências.
para o Desenvolvimento; coordenação de Luís Geraldo
Sant’Ana Lanfredi ... [et al.]. Brasília: Conselho Nacional de BRASIL. RESOLUÇÃO Nº 225, DE 31 DE MAIO DE 2016.
Justiça, 2020 Política Nacional de Justiça Restaurativa. Brasília:
Conselho Nacional de Justiça, 2016.
BRASIL. Departamento Penitenciário Nacional. Manual
de gestão para as alternativas penais [recurso eletrônico] BRASIL. RESOLUÇÃO Nº 288, DE 25 DE JUNHO DE 2019.
/ Departamento Penitenciário Nacional, Conselho Define a política institucional do Poder Judiciário para
Nacional de Justiça, Programa das Nações Unidas para o a promoção da aplicação de alternativas penais, com
Desenvolvimento; coordenação de Luís Geraldo Sant’Ana enfoque restaurativo, em substituição à privação de
Lanfredi ... [et al.]. Brasília: Conselho Nacional de Justiça, liberdade. Brasília: Conselho Nacional de Justiça, 2019.
2020.
CAVALCANTE, Antônio Mourão. Drogas, esse barato sai ONU – Organizações das Nações Unidas. Resolução
caro: os caminhos da prevenção. Rio de Janeiro: Rosa dos 2002/12. Princípios básicos para utilização de programas
Tempos, 1997. de justiça restaurativa em matéria criminal.
COELHO, Edmundo C. A oficina do diabo: crise e conflitos REGRAS DE TÓQUIO: regras mínimas padrão das Nações
n Sistema Penitenciário do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Unidas para a elaboração de medidas não privativas de
Espaço e Tempo: IUPERJ, 1987. liberdade/ Conselho Nacional de Justiça; Coordenação:
Luís Geraldo Sant’Ana Lanfredi - Brasília: CNJ, 2016.
CONVENÇÃO ÚNICA DE 1961 SOBRE NARCÓTICOS.
Alterado pelo Protocolo de 1972 para modificar a ROSA, Alexandre Morais da. Guia do processo penal
Convenção Única de 1961 sobre Estupefacientes. conforme a teoria dos jogos. 5ª ed. Florianópolis: EMais,
2019.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
Adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de
Unidas (resolução 217 A III) em 10 de dezembro 1948. direito processual penal. – Salvador: Editora Podivm, 2019.
GRECO, Rogério. Direitos humanos, sistema prisional e UNODC – ESCRITÓRIOS DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE
alternativas à privação de liberdade. São Paulo: Saraiva, DROGAS E CRIMES. Da coerção à coesão Tratamento da
2011. dependência de drogas por meio de cuidados em saúde
e não da punição. Documento para discussão com base
KANT Immanuel (2007) “Fundamentación de la em uma oficina técnica UNODC, Viena 28-30 de outubro
metafísica de las costumbres” edição Pedro M. Rosario de 2009.
Barbosa, San Juan, Puerto Rico (traduzido para espanhol
por Manuel García Morente). WACQUANT, Loïc. Nota aos leitores brasileiros: rumo a
uma ditadura sobre os pobres. In: __. As prisões da miséria.
Nações Unidas. Escritório sobre Drogas e Crime. Manual Trad. André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
de princípios básicos e práticas promissoras sobre
alternativas à prisão [recurso eletrônico] / Escritório das ZAFFARONI, Eugenio Raúl, Manual de direito penal
Nações Unidas sobre Drogas e Crime ; tradução de Wide brasileiro: parte geral / Eugenio Raúl Zaffaroni, José
Traduções. Brasília : Conselho Nacional de Justiça, 2021. Henrique Pierangeli. – 5. ed, rev. e atual. – São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2004.
OLIVEIRA, Edmundo. Política criminal e alternativas à
prisão. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1996.
21
IV Curso de Formação Profissional da Polícia Penal