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GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

MARIA DE FÁTIMA BEZERRA

SECRETARIA DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA


HELTON EDI XAVIER

COORDENADORIA EXECUTIVA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA


MARIA ROBERIANA BEZERRA

ACADEMIA DE POLÍCIA PENAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE


MARCELO ROCHA CORTEZ

REVISÃO: DEIVID MATUZALÉM CAVALCANTI DOS SANTOS LOUZARTH


PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: LEANDRO VAGNER FERNANDES
IV CURSO DE FORMAÇÃO
PROFISSIONAL DA POLÍCIA PENAL

NATAL-RN
JANEIRO DE 2024
ALTERNATIVAS PENAIS
E PRÁTICAS RESTAURATIVAS
INSTRUTOR: JOSÉ SALATIEL DANTAS NASCIMENTO
ALTERNATIVAS PENAIS
01 E PRÁTICAS RESTAURATIVAS

SURGIMENTO DAS PENAS ALTERNATIVAS do condenado, no entanto, sob a vigilância do órgão


encarregado da execução da pena.
As Penas Alternativas foram postas, através da inserção
no ordenamento jurídico, como um direito moderno Em decorrência disso, a Inglaterra elaborou a a
em substituição à privativa de liberdade. Nesse contexto alternativa “prisão de fim de semana”, através do Criminal
histórico, os pensadores como Beccaria, Bentham e Justice Act em 1948, acompanhado pela Alemanha em
Howard, por exemplo, não eram conhecedores dessa 1953, aplicáveis apenas aos menores infratores. Por
metodologia. conseguinte, no ano de 1963, a Bélgica adotou o arresto
de fim de semana, para penas inferiores a um mês.
Destarte, mesmo com as penas privativas de liberdade Por fim, em 1967, o principado de Mônaco adotou um
aceitas como grande referencial de humanização mecanismo de fracionar a execução da pena privativa de
criminal, o tempo demonstra o fracasso em sua liberdade, atribuindo semanalmente as detenções.
aplicabilidade, surgindo a necessidade de implantação de
um instrumento capaz de revolucionar o sistema contra A Alemanha, por sua vez, redesenhou um marco
as penas curtas de prisão. revolucionário, com seu Projeto Alternativo de 1966,
demonstrou sua ousadia em matéria de medidas
Bitencourt arguiu em sua obra: Falência da pena de prisão: alternativas a pena privativa de liberdade, valendo-
causas e alternativas, que a prisão não exerce a principal se de alternativas de suspensão condicional da pena,
função que é “ressocializar” o condenado. Segue: admoestação com reserva de pena, dispensa e declaração
Embora se aceite a pena privativa de liberdade como um de impunidade e livramento condicional e multa.
marco da humanização da sanção criminal de seu tempo, Destaca-se que estas penas alternativas são aplicáveis às
a verdade é que fracassou em seus objetivos declarados. sanções inferiores a seis meses, com o fim de evitar os
efeitos prejudiciais de uma privação de liberdade.
A reformulação do sistema surgiu como necessidade
inadiável (...) contra as penas curtas privativas de Por fim, a Espanha introduziu, em 1970, o arresto de
liberdade e a proposta de substituição por recursos mais fim de semana, no entanto traz essa ferramenta como
adequados. (BITENCOURT. p 295) medida de segurança. Embora tenha uma boa aceitação,
na prática sua aplicabilidade foi nula, sendo possível sua
Deste modo, a Rússia foi pioneira e em 1926 surgiu a adoção e aplicação, somente a partir de 1996, com a
primeira pena alternativa, a “prestação de serviços à aprovação do Código Penal Espanhol.
comunidade”. A posteriori, o diploma jurídico russo criou,
no ano de 1960, a pena de trabalhos correcionais, sem Diante do exposto, tendo por base o longo dos anos, é
privação de liberdade, com cumprimento no domicílio possível observar a ineficácia do sistema penal, em que

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pese as alternativas penais, vislumbrando-se uma melhor população carcerária, com vistas em alternativas à prisão.
adequação em detrimento das penas privativas de No 8º Congresso da ONU em 14/12/1990, as Regras de
liberdade, uma vez que, são consideradas imprescindíveis Tóquio, constituem-se ideias de caráter geral, levantando
à sociedade, levando em consideração a proteção, a possibilidade de medidas alternativas às privativas
segurança e reparação, como também os interesses de liberdade, mesmo com a diversidade sociopolítico-
dos infratores, fazendo com que venham surgir os mais econômico e culturais, sem violar os direitos humanos.
diversos mecanismos de subsidiar a desencarcerização e
eternizar a criminalidade. Após os avanços das Regras de Tóquio, foi dado margem
a novas discussões versando sobre a temática da
A trajetória das penas alternativas conta com a importante prevenção do crime e o sistema criminal, com ênfase para
presença de alguns documentos internacionais, como por o tratamento do delinquente e as penas alternativas. As
exemplo o Pacto Internacional de Direitos Civis e políticos diretrizes tomadas nestas novas discussões influenciaram
e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, e a sua a legislação brasileira, na criação dos Juizados Especiais
parte principal a Declaração dos Direitos Humanos (1948), Criminais para infrações de menor potencial ofensivo, e
considerando a Constituição Federal de 1988, usando a para a aplicação das penas de multas e penas restritivas
proteção efetiva da dignidade humana, liberdade, paz e de direitos nas sanções de até quatro anos.
justiça e seus reconhecimento mundial, conforme consta
no Art. 5º da Declaração dos Direitos Humanos: “Ninguém DEFINIÇÃO
será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos
cruéis, desumanos ou degradantes.” Os Postulados, Princípios e Diretrizes para a Política
de Alternativas Penais no Brasil traz um conceito de
Em decorrência da criação da Declaração dos alternativas penais da seguinte forma:
Direitos Humanos, a pena de prisão passou a ter seu
reconhecimento como uma forma de punição cruel As alternativas penais são mecanismos de intervenção
e torturante, citado WACQUANT em sua obra que as em conflitos e violências, diversos do encarceramento, no
prisões pareciam campos de concentrações para pobres, âmbito do sistema penal, orientados para a restauração
servindo apenas como função penalógica. Insta ressaltar das relações e promoção da cultura da paz, a partir da
que esta ideia foi reforçada por OLIVEIRA, observando responsabilização com dignidade, autonomia e liberdade.
que os problemas estruturais das prisões acarretam (GUIA DE FORMAÇÃO EM ALTERNATIVAS PENAIS. p 15)
outros custos sociais.
Alternativas penais referem-se a métodos e abordagens
Diante dos fatos e da evolução do direito, a ONU expediu alternativas à prisão como resposta a crimes. Em vez
algumas Resoluções com a finalidade na diminuição da de recorrer automaticamente à privação de liberdade,

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o sistema de justiça criminal procura opções que princípios fundamentais que norteiam o sistema de
possam ser mais eficazes, proporcionais e socialmente justiça criminal no Brasil, destacam-se:
construtivas. Essas alternativas visam tratar as causas
subjacentes do comportamento criminoso, promover a Dignidade da Pessoa Humana (Artigo 1º, III)
reintegração social e reduzir a reincidência. Além disso, A dignidade da pessoa humana é um princípio
as alternativas penais muitas vezes buscam evitar a fundamental que permeia toda a Constituição. No
superlotação carcerária e mitigar os impactos negativos contexto do sistema de justiça criminal, esse princípio
da prisão na vida do infrator. implica que a aplicação das leis e a execução das penas
devem respeitar a integridade física, moral e psicológica
BASES LEGAIS E MOVIMENTOS NACIONAIS dos indivíduos envolvidos no processo penal, incluindo
acusados, condenados e vítimas.
As bases legais e os movimentos nacionais em prol das
alternativas penais estão relacionados a uma abordagem Individualização da Pena (Artigo 5º, XLVI)
mais ampla e humanizada no sistema de justiça criminal. O princípio da individualização da pena estabelece que
Essas alternativas buscam reduzir a superlotação as penas devem ser aplicadas levando em consideração
carcerária, promover a ressocialização dos infratores e as circunstâncias específicas de cada caso e do infrator.
garantir que as punições sejam proporcionais aos delitos Ou seja, a punição deve ser proporcional à gravidade do
cometidos. Abaixo, apresenta-se algumas bases legais e delito e às condições pessoais do condenado, evitando
movimentos relevantes nesse contexto: tratamentos desumanos ou degradantes.
Princípio da Legalidade (Artigo 5º, II)

BASES LEGAIS Este princípio estabelece que ninguém será obrigado a


fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude
Constituição Federal de lei. No âmbito penal, isso significa que ninguém pode
A Constituição brasileira estabelece princípios ser penalizado sem que haja uma lei preexistente que
fundamentais que devem nortear o sistema de justiça defina claramente a conduta como crime e estabeleça as
criminal, incluindo a dignidade da pessoa humana e a respectivas penas.
individualização da pena.
Além desses princípios, a Constituição Federal estabelece
A Constituição Federal do Brasil, promulgada em 1988, outros direitos e garantias fundamentais que se aplicam
é a lei fundamental do país e estabelece os princípios e ao sistema de justiça criminal, como o devido processo
normas que regem a organização do Estado e a proteção legal, a presunção de inocência, o direito à ampla defesa,
dos direitos fundamentais dos cidadãos. Dentre os entre outros.

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Esses fundamentos buscam assegurar que o sistema de de liberdade, a LEP prevê alternativas à prisão, como
justiça criminal brasileiro seja pautado pela justiça, pela a liberdade condicional. A liberdade condicional é
proteção dos direitos humanos e pela busca de soluções uma modalidade na qual o preso, após cumprir parte
que, além de punir os infratores, contribuam para sua da pena, pode ser colocado em liberdade sob certas
ressocialização e para a construção de uma sociedade condições. Essas condições visam garantir que o liberado
mais justa. condicionalmente não volte a cometer crimes.

Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/1984) Prestação de Serviços à Comunidade


Regulamenta a execução das penas privativas de A prestação de serviços à comunidade é uma alternativa
liberdade, buscando assegurar direitos e condições prevista pela LEP. Consiste em uma pena restritiva
dignas aos presos. Contudo, também prevê alternativas de direitos na qual o condenado presta serviços
à prisão, como a liberdade condicional e a prestação de gratuitos à comunidade, como forma de reparação
serviços à comunidade. pelo delito cometido. Essa medida busca promover
a responsabilidade do condenado com a sociedade e
A Lei de Execução Penal (LEP), que é a legislação brasileira proporcionar uma forma de ressocialização.
que regulamenta a execução das penas privativas de
liberdade. A LEP foi promulgada pela Lei nº 7.210/1984 e A Lei de Execução Penal também aborda temas como
estabelece as normas para o cumprimento das penas de progressão de regime, regressão de regime, saídas
prisão, visando garantir direitos fundamentais aos presos temporárias, trabalho prisional, entre outros aspectos
e promover a ressocialização. relacionados à execução das penas no sistema penal
brasileiro. O objetivo é equilibrar a punição com a
A Lei de Execução Penal contém uma série de disposições ressocialização, respeitando os direitos fundamentais dos
importantes, entre as quais destacam-se: presos e promovendo a reinserção social de forma mais
efetiva.
Assegurar Direitos e Condições Dignas
A LEP estabelece diretrizes para assegurar condições Lei nº 9.099/1995 (Lei dos Juizados Especiais Criminais)
dignas de cumprimento da pena, incluindo o respeito Institui os Juizados Especiais Criminais, promovendo a
à integridade física e moral do preso, acesso à conciliação, a transação penal e a composição dos danos
assistência médica, educação, trabalho e outros direitos como alternativas penais para crimes de menor potencial
fundamentais. ofensivo.

Alternativas à Prisão A Lei nº 9.099/1995, que instituiu os Juizados Especiais


Além de disciplinar a execução das penas privativas Criminais (JECrim) no Brasil. Essa lei tem como objetivo

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oferecer uma alternativa ao sistema tradicional de justiça são realizados de forma mais direta, sem a rigidez formal
criminal para crimes de menor potencial ofensivo, presente em outros tribunais.
buscando uma solução mais célere e conciliatória.
Possibilidade de Suspensão do Processo
Alguns dos pontos-chave da Lei dos Juizados Especiais Em alguns casos, a lei permite a suspensão condicional do
Criminais incluem: processo mediante o cumprimento de certas condições
pelo autor do fato. Se as condições são atendidas, o
Conciliação e Transação Penal processo pode ser extinto sem a aplicação de uma pena.
Os Juizados Especiais Criminais promovem a conciliação
como meio de solucionar conflitos de maneira rápida A Lei dos Juizados Especiais Criminais é uma importante
e eficiente. Além disso, a lei prevê a possibilidade de iniciativa para lidar com delitos de menor potencial
transação penal, que é um acordo entre o Ministério ofensivo de maneira mais eficaz, priorizando a conciliação,
Público e o autor do fato para a aplicação de uma pena a reparação dos danos e a celeridade processual. Essa
não privativa de liberdade, como a prestação de serviços abordagem visa desafogar o sistema judicial convencional
à comunidade ou a reparação do dano. e oferecer respostas mais adequadas a esse tipo de
infração
Composição dos Danos
A composição dos danos refere-se à reparação do prejuízo Lei nº 12.850/2013 (Lei das Organizações Criminosas)
causado pela infração. Nos Juizados Especiais Criminais, é Prevê a colaboração premiada como um instrumento
estimulado que haja acordos para a reparação dos danos para a obtenção de informações que auxiliem nas
causados à vítima como parte do processo conciliatório. investigações e no combate a organizações criminosas.

Procedimento Simplificado A Lei nº 12.850/2013, conhecida como a Lei das


Os Juizados Especiais Criminais adotam um Organizações Criminosas, que prevê, entre outras
procedimento mais simplificado em comparação com os medidas, a colaboração premiada como um instrumento
tribunais criminais convencionais. Isso inclui a realização para obtenção de informações que auxiliem nas
de audiências de conciliação e instrução em um único investigações e no combate a organizações criminosas
ato, buscando maior celeridade no julgamento. no Brasil.

Princípios da Oralidade e Informalidade Alguns pontos importantes relacionados à colaboração


Os Juizados Especiais Criminais adotam os princípios da premiada na Lei das Organizações Criminosas incluem:
oralidade e informalidade, promovendo uma abordagem Definição da Colaboração Premiada
mais acessível e desburocratizada. Os atos processuais

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A colaboração premiada é um acordo entre o Ministério permitindo que membros da organização revelem
Público e o acusado, que se dispõe a colaborar com as informações cruciais em troca de benefícios legais.
investigações, fornecendo informações relevantes sobre Essa prática visa desmantelar organizações criminosas,
a prática de crimes e sobre a estrutura da organização desvendar esquemas complexos e fortalecer as
criminosa. investigações. Contudo, é uma prática que também
levanta questões éticas e jurídicas, exigindo cautela na
Concessão de Benefícios ao Colaborador sua aplicação.
Em troca da colaboração efetiva, a legislação prevê a
possibilidade de concessão de benefícios ao colaborador, MOVIMENTOS NACIONAIS
como a redução de pena, a concessão de perdão judicial,
a progressão de regime prisional ou a substituição da Movimento de Humanização do Sistema Carcerário
pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Defende condições mais dignas nos presídios, o respeito
aos direitos humanos dos detentos e a busca por soluções
Preservação da Segurança do Colaborador alternativas à prisão.
A lei também estabelece medidas para preservar a
segurança do colaborador, incluindo a não divulgação Refere-se a um posicionamento que defende a melhoria
de sua identidade, quando necessário para a eficácia da das condições nos presídios, o respeito aos direitos
colaboração e a segurança pessoal do colaborador e de humanos dos detentos e a busca por alternativas à prisão
sua família. como parte de uma abordagem mais humanizada no
sistema de justiça criminal.
Requisitos para a Homologação
A homologação do acordo de colaboração premiada deve Os principais pontos desse posicionamento incluem:
ser realizada por um magistrado e está sujeita a requisitos
específicos, visando garantir a legalidade e a eficácia do Condições Dignas nos Presídios
instrumento. A defesa por condições mais dignas nos presídios envolve
a preocupação com a infraestrutura, higiene, saúde
Utilização das Informações em Processo Criminal e segurança dos detentos. Isso inclui a promoção de
As informações obtidas por meio da colaboração ambientes que respeitem a dignidade da pessoa humana,
premiada podem ser utilizadas como prova em processos mesmo em contextos de privação de liberdade. As
criminais, contribuindo para a responsabilização de normas internacionais e nacionais, visando estabelecer
outros membros da organização criminosa. o papel do Estado, no intuito de proteger o indivíduo
A colaboração premiada é considerada uma ferramenta apenado, contra qualquer ato que viole as garantias
importante no combate à criminalidade organizada, estabelecidas, ASSIS dispões em sua obra que:

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As garantias legais previstas durante a execução da pena, alimentação adequada, condições de habitação seguras,
assim como os direitos humanos do preso estão previstos além do tratamento justo e respeitoso por parte das
em diversos estatutos legais. Em nível mundial existem autoridades penitenciárias.
várias convenções como a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, a Declaração Americana de Direitos e Busca por Alternativas à Prisão
Deveres do Homem e a Resolução da ONU que prevê as A busca por alternativas à prisão reflete a compreensão
Regras Mínimas para o Tratamento do Preso. Já em nível de que nem todos os crimes e infratores são mais
nacional, nossa Carta Magna reservou 32 incisos do artigo bem tratados com a privação de liberdade. Propõe-se
5º, que trata das garantias fundamentais do cidadão, explorar e implementar medidas alternativas, como
destinados à proteção das garantias do homem preso. penas restritivas de direitos, prestação de serviços à
Existe ainda em legislação específica - a Lei de Execução comunidade, programas de reabilitação, entre outros,
Penal - os incisos de I a XV do artigo 41, que dispõe sobre com o objetivo de evitar a superlotação carcerária e
os direitos infraconstitucionais garantidos ao sentenciado promover a reintegração social. O manual de Princípios
no decorrer da execução penal. (ASSIS. p 4) básicos e práticas promissoras sobre alternativas à prisão
nos remete que:
De acordo com o texto do autor, as garantias fundamentais
já se encontram inseridas no ordenamento jurídico, sendo Um dos desafios enfrentados pelas autoridades que
desnecessário, qualquer procedimento de crueldade ou buscam desenvolver o uso de alternativas à prisão como
maus tratos à pessoa privada de liberdade, pois não se forma de reduzir a população carcerária é garantir que,
pode agir com ilegalidade. conceitualmente, as alternativas não sejam traçadas
de forma muito restrita. As alternativas são parte
Respeito aos Direitos Humanos dos Detentos essencial de todos os níveis e fases do sistema de justiça
Kant aponta em sua obra: Fundamentación de la criminal. (MANUAL DE PRINCÍPIOS BÁSICOS E PRÁTICAS
metafísica de las costumbres que a dignidade, o trato PROMISSORAS SOBRE ALTERNATIVAS À PRISÃO. p 7)
especial, o respeito que se deve ao ser humano para
que se desenvolva, é um fim em si mesmo e não em um Reabilitação e Ressocialização
meio, o que significa que a existência humana tem um Além de apenas defender condições dignas e alternativas
valor absoluto. à prisão, essa abordagem também pode incluir um foco
significativo na reabilitação e ressocialização dos detentos.
Esse posicionamento enfatiza a necessidade de garantir Isso implica oferecer oportunidades educacionais,
que os detentos tenham seus direitos humanos treinamento profissional e programas que ajudem os
respeitados durante todo o período de detenção. Isso presos a se reintegrarem positivamente à sociedade após
abrange direitos como o acesso a cuidados médicos, cumprir suas penas.

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Edmundo Campos Coelho (1987) ao pesquisar as crises argumenta que a abordagem puramente punitiva tem
e conflitos no sistema penitenciário do Rio de Janeiro limitações significativas e que políticas mais centradas
levanta os seguintes questionamentos: na saúde podem ser mais eficazes na redução dos danos
Como pode pretender a prisão ressocializar o criminoso associados ao uso de substâncias psicoativas.
quando ela o isola do convívio com a sociedade e
o incapacita, por esta forma, para as práticas da Alguns pontos-chave dessa proposta incluem:
sociabilidade? Como pode pretender reintegrá-lo ao Tratamento em Vez de Punição:
convívio social quando é a própria prisão que o impele Propõe que usuários de drogas sejam tratados como
para a “sociedade dos cativos” onde a prática do crime pacientes em busca de ajuda em vez de criminosos
valoriza o indivíduo e o torna respeitável para a massa sujeitos a punições penais. Isso envolve o acesso a
carcerária? (COELHO, 1987, p. 13). serviços de tratamento para dependência química,
aconselhamento e apoio psicossocial.
Esse posicionamento está alinhado com uma perspectiva
mais humanitária e progressista no sistema de justiça Para este efeito, o Artigo 38 da Convenção Única (1961)
criminal, buscando equilibrar a punição por infrações com afirma:
a proteção dos direitos fundamentais e a promoção de
soluções que visam a prevenção do crime e a reintegração MEDIDAS CONTRA O ABUSO DE DROGAS NARCÓTICAS
social. A implementação efetiva dessas ideias pode variar 1. As Partes prestarão atenção especial à prevenção do
de acordo com as políticas e práticas adotadas em cada abuso de drogas e a pronta identificação, tratamento,
jurisdição. educação, pós-tratamento, reabilitação e reabilitação
social das pessoas afetadas, tomarão todas as medidas
Movimento pela Reforma da Política de Drogas possíveis para esse fim e coordenarão seus esforços
Propõe a revisão das políticas de drogas, visando nesse sentido.
tratamentos de saúde para usuários, em vez de punições
penais, e a redução do encarceramento relacionado ao 2. As Partes promoverão, na medida do possível, a
tráfico de drogas. formação de pessoal para o tratamento, pós-tratamento,
reabilitação e reabilitação social daqueles que abusam de
A proposta de revisão das políticas de drogas, visando drogas.
tratamentos de saúde para usuários em vez de punições
penais, e a redução do encarceramento relacionado 3. As Partes procurarão ajudar as pessoas cujo trabalho o
ao tráfico de drogas é uma abordagem conhecida exija, a fim de se conscientizarem dos problemas do abuso
como “reforma das políticas de drogas” ou “políticas de de drogas e de sua prevenção, e também promoverão
drogas baseadas em saúde pública”. Essa perspectiva esse conhecimento entre o público em geral, se houver

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perigo de propagação ou abuso de estupefacientes. supervisionado e acesso a tratamento para reduzir os


Há uma ênfase crescente na abordagem do problema riscos associados ao consumo de drogas.
das drogas como uma questão de saúde pública,
concentrando-se na prevenção do uso prejudicial e no Descriminalização ou Legalização Controlada
tratamento de pessoas com transtornos relacionados ao Alguns defensores dessa abordagem argumentam
uso de substâncias. pela descriminalização ou legalização controlada de
certas substâncias para desvincular o uso pessoal do
Prevenção e Educação âmbito criminal. A legalização controlada pode envolver
Enfatiza a importância da prevenção do uso indevido a regulamentação da produção, distribuição e venda de
de drogas por meio de programas de educação, certas drogas.
conscientização e redução de danos. Busca abordar as
causas subjacentes do uso problemático de substâncias. A posse e o porte de drogas, constam no diploma
legal, considerados crimes, porém a Lei de Drogas traz
Segundo Cavalcante, em seu trabalho: Drogas, esse mudanças significativas para crimes relacionados a esse
barato sai caro: os caminhos da prevenção. Afirma: tipo penal.
(...) ainda que pudéssemos contar com todos os esforços
policiais disponíveis, seria muito difícil o controle absoluto Uma mudança significativa é que o tratamento
da produção clandestina quanto da entrada de drogas diferenciado do usuário, ou seja, aplica-se penas
ilegais em um país. Medidas para reduzir a oferta podem restritivas de direitos ao invés de penas privativas de
ser postas em prática, mas nunca termos uma sociedade liberdade. Entretanto, o porte para consumo pessoal
sem drogas. É certo que em situações em que o acesso ainda é considerado uma conduta criminosa.
às drogas é muito fácil, existe também uma tendência ao
consumo descontrolado. (CAVALCANTE. p 34) Em tela, a Lei de Drogas pune o usuário de drogas, porém
com punições mais brandas. Esse caráter punitivo abriu
Nesse diapasão, é salutar realizar um trabalho de educação discussões acerca da natureza jurídica do artigo 28 da
e prevenção, assim, vai diminuir a motivação ao uso Lei 11.343, deixando pena privativa de liberdade para
das drogas, através de um trabalho de conscientização, incorporar penas alternativas. Afirmando:
revelando danos sociais, físicos e psicológicos, causados
pelo uso desenfreado das drogas. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar
ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem
Redução de Danos autorização ou em desacordo com determinação legal ou
Apoia estratégias de redução de danos, como programas regulamentar será submetido às seguintes penas:
de troca de seringas, espaços seguros para consumo I – advertência sobre os efeitos das drogas;

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II – prestação de serviços à comunidade; moderna formas de educar os usuários, tratar os


III – medida educativa de comparecimento a programa dependentes, e punir os narcotraficantes e os que
ou curso educativo.” financiam ou que de algum modo permitem suas
atividades (Brasil, 2002, p. 07389).
As discussões ganham baliza no sentido de que a
descriminalização é parte de uma estratégia de combate Contrariamente às expectativas, a nova Lei de Drogas
ao crime organizado e que o uso de drogas é uma questão brasileira, em 2006, foi seguida de uma escalada nas
de saúde pública, não de natureza criminal. taxas de encarceramento pelo crime de tráfico no país.

Ênfase na Saúde Pública Dessa forma, propõe-se uma revisão das penas
Coloca a ênfase na abordagem do consumo de drogas para crimes relacionados ao tráfico de drogas, com
como uma questão de saúde pública, buscando soluções uma abordagem mais focalizada na redução do
que abordem os problemas sociais subjacentes e encarceramento em massa e na implementação de
ofereçam suporte aos indivíduos afetados. políticas que atinjam os envolvidos no tráfico de maneira
mais eficaz.
Redução do Encarceramento por Tráfico de Drogas
A Lei de Drogas vem atrelar dois modelos de controle Essa abordagem tem sido adotada por alguns países
social: o primeiro, de caráter punitivo e o segundo e jurisdições como resposta aos desafios e limitações
criminalizador. O primeiro, por sua vez, dirigido aos que percebidos nas políticas de drogas tradicionais.
comercializam a droga, culminando no aumento da
pena mínima para o crime de tráfico de drogas. Já o A implementação prática dessas propostas varia
segundo, de caráter médico-social-preventivo, voltado significativamente ao redor do mundo.
aos usuários, destacando o fim da pena de prisão e da
multa para. O debate sobre as políticas de drogas continua a evoluir
à medida que a sociedade reexamina os impactos das
Com base nisso, em discussões acaloradas, a justificativa abordagens tradicionais.
deste novo dispositivo bifronte, elaborado pela lei, é o que
se vê no parecer publicado no Diário do Senado Federal. Defensoria Pública e Advocacia Popular
Instituições e movimentos que trabalham pela defesa
Veja: dos direitos dos menos favorecidos, muitas vezes
(...) tornou-se indispensável oferecer ao Legislativo um promovendo alternativas penais como forma de evitar o
projeto que, encontrando entre as várias iniciativas já encarceramento excessivo.
apresentadas traços comuns, oferecesse à sociedade

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A Defensoria Pública é uma instituição fundamental que em situação de rua, moradores de favelas, mulheres
desempenha um papel crucial na promoção do acesso vítimas de violência, imigrantes, entre outros.
à justiça e na defesa dos direitos das pessoas que não
têm recursos financeiros para contratar advogados Mediação e Solução Extrajudicial de Conflitos
particulares. Além da atuação judicial, a Defensoria Pública também
pode se envolver em atividades de mediação e busca por
Aqui estão alguns aspectos relevantes sobre a Defensoria soluções extrajudiciais de conflitos, buscando resolver
Pública: disputas de maneira mais rápida e eficaz.
Assistência Jurídica Gratuita
A principal função da Defensoria Pública é fornecer Advocacia em Causas Coletivas
assistência jurídica gratuita para aqueles que não têm A Defensoria Pública pode atuar em causas coletivas,
condições de pagar por serviços advocatícios. Isso inclui defendendo interesses difusos ou coletivos de
a representação em processos judiciais e administrativos. comunidades ou grupos sociais. Isso pode incluir ações
para proteger o meio ambiente, garantir o acesso à saúde,
Atuação em Diversas Áreas do Direito entre outras questões.
A Defensoria Pública atua em diversas áreas do direito,
abrangendo questões cíveis, criminais, familiares, Promoção de Direitos Humanos
previdenciárias, do consumidor, entre outras. Seu objetivo A atuação da Defensoria Pública contribui para a
é garantir que as pessoas em situação de vulnerabilidade promoção dos direitos humanos, assegurando que
tenham acesso a orientação legal em diferentes áreas de todas as pessoas, independentemente de sua condição
suas vidas. socioeconômica, tenham acesso a uma defesa jurídica
adequada.
Defesa Criminal
Na área criminal, a Defensoria Pública desempenha A Defensoria Pública desempenha um papel fundamental
um papel crucial na defesa dos acusados que não na garantia da igualdade perante a lei e na promoção
podem pagar por um advogado particular. Isso inclui da justiça social, contribuindo para a construção de
a representação em processos penais, a promoção sociedades mais justas e inclusivas.
de direitos dos presos e a busca por alternativas ao
encarceramento. A advocacia popular refere-se a uma prática jurídica
comprometida com a defesa dos direitos e interesses
Atuação em Favor de Grupos Vulneráveis das camadas mais vulneráveis da sociedade, muitas
A Defensoria Pública muitas vezes concentra esforços na vezes envolvendo pessoas de baixa renda, comunidades
defesa de grupos socialmente vulneráveis, como pessoas marginalizadas e grupos socialmente excluídos. Esse

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tipo de advocacia tem como objetivo principal tornar o Questões Sociais e Estruturais
acesso à justiça mais inclusivo, promovendo a equidade A advocacia popular vai além do atendimento individual
e a justiça social. Aqui estão alguns aspectos relevantes de casos jurídicos e se engaja em questões sociais e
sobre a advocacia popular: estruturais que contribuem para a injustiça. Isso pode
incluir a luta contra a discriminação racial, a desigualdade
Acesso à Justiça econômica e a violência institucional.
A advocacia popular concentra-se em superar barreiras
econômicas, sociais e culturais que impedem muitas Litigância Estratégica
pessoas de acessar a justiça. Isso inclui oferecer assistência A litigância estratégica é uma ferramenta frequentemente
jurídica gratuita ou de baixo custo para aqueles que não utilizada na advocacia popular. Os advogados buscam
têm recursos para contratar advogados privados. casos emblemáticos que, se bem-sucedidos, podem ter
um impacto mais amplo, influenciando políticas públicas
Defesa dos Direitos Humanos e jurisprudência.
A prática da advocacia popular geralmente está alinhada
com a defesa dos direitos humanos. Advogados e Compromisso Social
defensores populares podem trabalhar em casos que A advocacia popular é caracterizada por um compromisso
envolvem discriminação, abuso de poder, violações dos social e uma abordagem crítica em relação ao sistema
direitos civis e questões relacionadas à justiça social. de justiça. Os advogados populares frequentemente
questionam estruturas injustas e buscam transformações
Empoderamento Comunitário significativas na sociedade.
A advocacia popular busca empoderar comunidades,
fornecendo conhecimento jurídico e promovendo A prática da advocacia popular varia em diferentes
a participação ativa das pessoas na defesa de seus contextos culturais e jurídicos, mas, em geral, ela está
próprios interesses. Isso pode incluir a realização de alinhada com a promoção de uma justiça mais inclusiva
workshops educativos, treinamentos legais e capacitação e equitativa.
comunitária.
É importante ressaltar que esses movimentos e bases
Trabalho em Rede legais buscam criar um sistema de justiça mais eficiente,
Os advogados populares muitas vezes trabalham em justo e humano, promovendo soluções que vão além da
estreita colaboração com organizações da sociedade civil, prisão como resposta única aos delitos. O debate sobre
movimentos sociais e outras entidades comprometidas alternativas penais continua evoluindo à medida que a
com a justiça social. O trabalho em rede é fundamental sociedade reconhece a necessidade de abordagens mais
para fortalecer a eficácia da advocacia popular. holísticas e eficazes no combate ao crime.

16 IV Curso de Formação Profissional da Polícia Penal


ALTERNATIVAS PENAIS E PRÁTICAS RESTAURATIVAS

EXPERIÊNCIAS NACIONAIS ALTERNATIVAS PENAIS a análise da legalidade e necessidade da prisão em


flagrante em um prazo de até 24 horas após a prisão. Essa
No Brasil, algumas experiências nacionais de alternativas iniciativa busca evitar prisões desnecessárias, reduzir a
penais têm sido implementadas visando oferecer superlotação carcerária e garantir o respeito aos direitos
soluções mais eficientes, justas e humanas no sistema de fundamentais dos presos.
justiça criminal. Aqui estão algumas iniciativas notáveis:
Juizados Especiais Criminais (JECrim) Justiça Restaurativa
A Justiça Restaurativa tem sido adotada em alguns estados
Criados pela Lei nº 9.099/1995, os Juizados Especiais brasileiros como uma alternativa ao sistema tradicional
Criminais (JECrim) têm como objetivo proporcionar de justiça criminal. Essa abordagem busca a reparação
uma resposta mais rápida e simplificada para crimes de dos danos causados pela infração, promovendo o diálogo
menor potencial ofensivo. Eles promovem a conciliação, entre vítima e infrator e enfatizando a responsabilização
transação penal e a composição de danos, evitando, em e a reintegração social.
muitos casos, a necessidade de um processo judicial
tradicional. Central Integrada de Alternativas Penais (CIAP’S)
A Central Integrada de Alternativas Penais para o
Lei de Execução Penal (LEP) acompanhamento da execução das alternativas penais,
A Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/1984) estabelece o Poder Executivo deverá estruturar Centrais Integradas
diretrizes para a execução das penas privativas de de Alternativas Penais nas comarcas do estado e distrito
liberdade, mas também prevê alternativas à prisão, federal, subordinadas ao órgão executor da política de
como a liberdade condicional e a prestação de serviços alternativas penais do Governo do Estado e Distrito
à comunidade. A LEP busca assegurar condições mais Federal.
dignas aos detentos e promover a ressocialização.
Medidas Socioeducativas
Programa Começar de Novo No contexto do sistema socioeducativo, medidas
O Programa Começar de Novo, desenvolvido pelo alternativas à internação têm sido implementadas para
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), tem como objetivo adolescentes em conflito com a lei. Essas medidas
promover a ressocialização de pessoas que cumprem visam à responsabilização e à ressocialização, incluindo
penas privativas de liberdade. O programa busca parcerias a prestação de serviços à comunidade e a liberdade
com empresas para proporcionar oportunidades de assistida.
trabalho e capacitação profissional a detentos.
Essas experiências representam esforços para
Projeto Audiências de Custódia: diversificar as respostas do sistema de justiça criminal,
As Audiências de Custódia têm como objetivo realizar

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IV Curso de Formação Profissional da Polícia Penal
ALTERNATIVAS PENAIS E PRÁTICAS RESTAURATIVAS

buscando alternativas ao encarceramento excessivo e Círculos Restaurativos:


priorizando soluções que considerem a ressocialização, a Um dos métodos mais utilizados em práticas restaurativas
reparação de danos e a justiça restaurativa. É importante é o círculo restaurativo. Ele envolve a criação de um
ressaltar que a eficácia dessas iniciativas depende da sua espaço seguro e inclusivo no qual vítima, infrator,
implementação adequada e da avaliação contínua de membros da comunidade e facilitadores se reúnem
seus resultados. para compartilhar experiências, expressar sentimentos,
discutir as consequências do crime e encontrar soluções
para reparar o dano.
INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS RESTAURATIVAS NO
AMBIENTE PRISIONAL Justiça Restaurativa no Sistema Prisional:
No ambiente prisional, a justiça restaurativa busca
As práticas restaurativas no ambiente prisional transformar a cultura punitiva predominante. Isso pode
representam uma abordagem inovadora que visa envolver a implementação de círculos restaurativos
transformar a dinâmica tradicional do sistema carcerário, dentro das prisões, permitindo que os detentos participem
priorizando a reconciliação, a responsabilização e a de diálogos construtivos com vítimas, funcionários do
reparação dos danos causados. Essas práticas têm como sistema prisional e outros detentos.
base os princípios da justiça restaurativa, que buscam
construir pontes entre vítimas, infratores e comunidade, Foco na Reabilitação e Ressocialização:
promovendo a cura e a reintegração social. Aqui está uma As práticas restaurativas no ambiente prisional têm um
introdução às práticas restaurativas no contexto prisional: foco significativo na reabilitação e ressocialização dos
detentos. Ao invés de apenas impor penas, busca-se
Definição de Práticas Restaurativas: entender as causas subjacentes do comportamento
As práticas restaurativas são uma abordagem alternativa criminoso e desenvolver estratégias para promover
ao sistema de justiça criminal convencional. Em vez mudanças positivas.
de focar apenas na punição do infrator, elas buscam
restaurar as relações que foram prejudicadas pelo crime, Participação Voluntária:
envolvendo ativamente as partes afetadas. A participação nas práticas restaurativas geralmente
é voluntária. Isso significa que tanto a vítima quanto
Princípios Fundamentais: o infrator têm a oportunidade de optar por participar
As práticas restaurativas são baseadas em princípios do processo, promovendo um maior senso de
como a responsabilização, o diálogo, o respeito, a responsabilidade e engajamento.
participação ativa das partes interessadas e a busca pela
reparação dos danos causados.

18 IV Curso de Formação Profissional da Polícia Penal


ALTERNATIVAS PENAIS E PRÁTICAS RESTAURATIVAS

Resultados Potenciais:
Os resultados esperados das práticas restaurativas no
ambiente prisional incluem a redução da reincidência, o
fortalecimento das relações comunitárias, a promoção
da empatia e a melhoria do ambiente prisional como um
todo.

Desafios e Implementação:
A implementação das práticas restaurativas no ambiente
prisional pode enfrentar desafios, como resistência
cultural, falta de recursos e treinamento inadequado.

No entanto, muitos defensores argumentam que os


benefícios potenciais superam esses desafios.

As práticas restaurativas no ambiente prisional


representam uma mudança de paradigma no sistema de
justiça criminal, buscando abordagens mais humanizadas
e eficazes para lidar com o crime e suas consequências

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IV Curso de Formação Profissional da Polícia Penal
ALTERNATIVAS PENAIS E PRÁTICAS RESTAURATIVAS

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