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CADERNOS

DE APOIO À
APRENDIZAGEM
Filosofia

1
Unidade 2 – Versão – 24 Abril 2021

ª
SÉRIE
Governo da Bahia Fátima Carmelo Balthazar da Silveira Lima
Gracione Batista de Oliveira
Rui Costa | Governador Hiure Vilas Boas Gonçalves
João Leão | Vice-Governador Igor Santana Santos
Jaqueline Pinto dos Santos Borroni
Jerônimo Rodrigues Souza | Secretário da Educação Juliana Gabriela dos Santos Leal
Danilo de Melo Souza | Subsecretário Karla Santana dos Santos Teixeira
Lailton José Bispo dos Santos Junior
Manuelita Falcão Brito | Superintendente de Políticas Lorena Rodrigues Vaz
para a Educação Básica Luana Moura Quadros Carvalho
Luciene Santos de Almeida
Luiz Arthur do Nascimento Rocha
Coordenação Geral Luiz Carlos Araújo Ribeiro
Marcos Paulo Souza Novais
Manuelita Falcão Brito
Márcia Suely Oliveira do Nascimento
Jurema Oliveira Brito
Márcio Argôlo Queiroz
Letícia Machado dos Santos
Margareth Rodrigues Coelho Vaz
Diretorias da Superintendência de Políticas para a Norma Suely Gama Couto
Otávio Silva Alvarenga
Educação Básica Oyama dos Santos Lopes
Diretoria de Currículo, Avaliação e Tecnologias Pedro Anselmo de Siqueira São Thiago
Educacionais Ramires Fonseca Silva
Jurema Oliveira Brito Renata Maria Alves Rebouças
Renata Maria Oliveira e Silva Correia de Brito
Diretoria de Educação e Suas Modalidades Rodrigo Freitas Lopes
Iara Martins Icó Sousa Rodrigo Silva Santos
Saulo Matias Dourado
Coordenações das Etapas e Modalidades Selma Reis Magalhães
da Educação Básica Teotonilia Maria Batista da Silva
Coordenação de Educação Infantil e Ensino Fundamental Equipe Educação Inclusiva
Kátia Suely Paim Matheó
Marlene Cardoso
Coordenação do Ensino Médio com Intermediação Ana Claudia Henrique Mattos
Tecnológica Daiane Sousa de Pina Silva
Letícia Machado dos Santos Edmeire Santos Costa
Gabriela Silva de Jesus
Coordenação da Educação do Campo e Escolar Quilombola Nancy Araújo Bento
Poliana Nascimento dos Reis Cíntia Barbosa de Oliveira Bispo
Coordenação do Ensino Médio com Intermediação Tecnológica
Letícia Machado dos Santos Colaboradores
Edvânia Maria Barros Lima
Coordenação de Educação Escolar Indígena Gabriel Souza Pereira
José Carlos Batista Magalhães Gabriel Teixeira Guia
Coordenação de Educação Especial Jorge Luiz Lopes
Marlene Santos Cardoso José Raimundo dos Santos Neris
Coordenação da Educação de Jovens e Adultos Luciana Teixeira Lima
Shirley Conceição Silva da Costa
Isadora Sampaio
Silvana Maria de Carvalho Pereira
Coordenação da Área de Ciências Humanas Equipe de Revisão
Carlos Maurício Castro
Alécio de Andrade Souza • Ana Lúcia Cerqueira Ramos
Celeste Alves Santos
• Ana Paula Silva Santos • Carlos Antônio Neves Júnior
Luiz Carlos Araújo Ribeiro
• Carmelita Souza Oliveira • Claudio Marcelo Matos
Renata Maria Oliveira e Silva Correia de Brito
Guimarães • Clísia Costa • Eliana Dias Guimarães • Elias
Marcos Paulo Souza Novais
Barbosa • Elisângela das Neves Aguiar • Helena Vieira
Equipe de Elaboração Pabst • Helionete Santos da Boa Morte • Helisângela Acris
Borges de Araujo • Ivonilde Espírito Santo de Andrade •
Adilma de Jesus Rodrigues
Jose Expedito de Jesus Junior • João Marciano de Souza
Ângelo Aparecido Soares Borges
Neto • Jussara Bispo dos Santos • Jussara Santos Silveira
Antônio César Farias Menezes
Ferraz • Kátia Souza de Lima Ramos • Letícia Machado
Carlos Jerry das Neves Bispo
dos Santos • Maria Augusta Silva • Marisa Carreiro
Carlos Maurício Castro
Faustino • Mônica Moreira de Oliveira Torres • Rosangela
Cláudia Regina de Barros
de Gino Bento • Roseli Gonçalves dos Santos • Solange
Daniela Cerqueira Carvalho Nascimento
Alcântara Neves da Rocha • Sônia Maria Cavalcanti
Denise Pereira Silva
Figueiredo • Tânia Regina Gonçalves do Vale
Elizabeth de Jesus Silva
Emerson Costa Farias Projeto Gráfico e Diagramação
Fábio Batista Pereira
Bárbara Monteiro
À Comunidade Escolar,
A pandemia do coronavírus explicitou problemas e introduziu desafios
para a educação pública, mas apresentou também possibilidades de inova-
ção. Reconectou-nos com a potência do trabalho em rede, não apenas das
redes sociais e das tecnologias digitais, mas, sobretudo, desse tanto de gen-
te corajosa e criativa que existe ao lado da evolução da educação baiana.

Neste contexto, é com satisfação que a Secretaria de Educação da Bahia dis-


ponibiliza para a comunidade educacional os Cadernos de Apoio à Apren-
dizagem, um material pedagógico elaborado por dezenas de professoras e
professores da rede estadual durante o período de suspensão das aulas. Os
Cadernos são uma parte importante da estratégia de retomada das ativida-
des letivas, que facilitam a conciliação dos tempos e espaços, articulados a
outras ações pedagógicas destinadas a apoiar docentes e estudantes.

Assegurar uma educação pública de qualidade social nunca foi uma mis-
são simples, mas, nesta quadra da história, ela passou a ser ainda mais
ousada. Pois, além de superarmos essa crise, precisamos fazê-la sem com-
prometer essa geração, cujas vidas e rotinas foram subitamente alteradas,
às vezes, de forma dolorosa. E só conseguiremos fazer isso se trabalhar-
mos juntos, de forma colaborativa, em redes de pessoas que acolhem, cui-
dam, participam e constroem juntas o hoje e o amanhã.

Assim, desejamos que este material seja útil na condução do trabalho pe-
dagógico e que sirva de inspiração para outras produções. Neste sentido, ao
tempo em que agradecemos a todos/as que ajudaram a construir este vo-
lume, convidamos educadores e educadoras a desenvolverem novos mate-
riais, em diferentes mídias, a partir dos Cadernos de Apoio, contemplando
os contextos territoriais de cada canto deste “país” chamado Bahia.

Saudações educacionais!

Jerônimo Rodrigues
UNIDADE
Modos identitários na pluralidade e seus impactos;
• Costruções subjetivas na convivência social;
• Maneiras de pensar a existência.

Objetos de Conhecimento:
1. Conhece-te a ti mesmo – questões de identidade; 2. O indivíduo, o sujeito e o
mundo. Penso logo existo; 3. O existencialismo de Sartre e Simone de Beauvoir.

Competência(s):
1. Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos
âmbitos local, regional, nacional e mundial em diferentes tempos, a partir da plu-
ralidade de procedimentos epistemológicos, científicos e tecnológicos, de modo a
compreender e posicionar-se criticamente em relação a eles, considerando dife-
rentes pontos de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de
natureza científica;
2. Analisar a formação de territórios e fronteiras em diferentes tempos e espaços,
mediante a compreensão das relações de poder que determinam as territorialida-
des e o papel geopolítico dos Estados-nações;
3. Contextualizar, analisar e avaliar criticamente as relações das sociedades com a
natureza e seus impactos econômicos e socioambientais, com vistas à proposição
de soluções que respeitem e promovam a consciência e a ética socioambiental e o
consumo responsável em âmbito local, regional, nacional e global.

Habilidades:
1. (EM13CHFI02BA) Desenvolver noções de narrativas de si e de autoconhecimento,
para compreensão de um entendimento de alteridade e de todo, de pertencimento e
de colaboração com o meio cultural e social, em um saber que igualmente promova a
correlação entre o eu subjetivo e a realidade objetiva;
2. (EM13CHS401) Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos, classes
sociais e sociedades com culturas distintas diante das transformações técnicas,
tecnológicas e informacionais e das novas formas de trabalho ao longo do tempo, em
diferentes espaços (urbanos e rurais) e contextos;
3. (EM13CHS501) Analisar os fundamentos da ética em diferentes culturas, tempos e
espaços, identificando processos que contribuem para a formação de sujeitos éticos
que valorizem a liberdade, a cooperação, a autonomia, o empreendedorismo, a con-
vivência democrática e a solidariedade.
TEMA: Conhece-te a ti mesmo – questões de identidade.
Objetivos de Aprendizagem: Reconhecer a potencialidade do autoconhecimento na cons-
trução de identidades subjetivas e coletivas; identificar nas diferenciações dos modos iden-
titários mananciais de convivência ética e compreender a expressividade do corpo/pensa-
mento como elemento constitutivo da identidade.
Semana Aula Atividade

1 Exercício de pesquisa (digital) em grupo sobre o autoconhecimento socrático


1
e seus efeitos na convivência social

2 Atividade: entrevistar vizinhos e parentes mais antigos da comunidade e


2
identificar o pertencimento identitário que fazem parte.

3 Discutir/debater (em grupo) como a pandemia inviabilizou o espaço da rua


3
como local expressivo, e propor alternativas para suprir essa falta.

TEMA: O indivíduo, o sujeito e o mundo. Penso logo existo.


Objetivos de Aprendizagem: Compreender introdutoriamente o início do período moderno
no mundo ocidental a partir da filosofia de René Descartes; Conhecer acerca do surgimento
das noções de indivíduo, sujeito e mundo e suas ressonâncias na vida social.
Semana Aula Atividade
Discutir com o/a professor/a os conteúdos da trilha e com o livro didático
(parte que trata do assunto), discutir a valorização da filosofia para vida dos
4 4 indivíduos.
Exercício de pesquisa numa biblioteca digital, em dupla, sobre o Cogito ergo
sum do filósofo René Descartes.
Montar uma roda de conversa para discutir “Fake News” e os impactos na
convivência social atual, sempre relacionando com a dúvida métodica de
5 5 René Descartes.
Fazer pesquisas sobre a dúvida métodica de Descartes na biblioteca digital
em grupo.

TEMA: O existencialismo de Sartre e e de Simone de Beauvoir.


Objetivos de Aprendizagem: Compreender o existencialismo enquanto corrente filosófica
contemporânea e suas influências nos dias atuais; Relacionar e avaliar as filosofias existên-
cias de Jean-Paul-Sartre e Simone de Beauvoir, principalmente com o sentido de liberdade
desenvolvido por ambos.
Semana Aula Atividade
Debater/discutir com o/a professor/a e o grupo temas relacionados com o
6 6 existencialismo: escolhas, liberdade, autonomia, responsabilidade entre ou-
tros a partir da afirmação sartreana: “o homem está condenado a ser livre.”
Apreciar a animação O homem que plantava árvores e discutir com colegas.
O homem que platava árvores – Disponível em: https://www.youtube.com/
7 7 watch?v=tm7pyy1oWYU&t=315s. Acesso em: 25 jan. 2021.
Fazer uma pesquisa sobre o relacionamento conjugal/filosófico de Sartre e
Simone e discutir com colegas
TRILHA 5 Tema: Autoconhecimento

1. PONTO DE ENCONTRO
Abra-te Sésamo! Vamos iniciar uma nova unidade, a segunda! Queria
lançar mais uma sementinha no jardim da sua vida, você aceita, nova-
mente? Desejo convidar você a cuidar dessa sementinha assim como
cuidou das outras. Vou continuar dando dicas para que você colha exce-
lentes frutos dessa sementinha chamada conhecimento: dedicação,
esforço, garra e cuidado serão essenciais. Então, vamos embarcar em mais
uma aventura fascinante do pensamento para conhecer como o autoco-
nhecimento se constitui num elo imprescindível na organização das iden-
tidades, como se elaboram as identidades diante de sociedades complexas
e a importância do reconhecimento da pluralidade nas relações sociais.

2. BOTANDO O PÉ NA ESTRADA
Conhece-te a ti mesmo – vamos saber realmente o que significa isso?

Você sabe como construímos nossa identidade?

Vamos compreender e valorizar a pluralidade identitária?

3. LENDO AS PAISAGENS DA TRILHA

Disponível em: www.educa-


mundo.com.br Acesso em: 21
ago. 2020.

TRILHA 5 | Tema: Autoconhecimento 1


Texto 1 – Busca de respostas/identidades
“Conhece-te a ti mesmo e conhecerá o universo e os deuses, porque se o que
procuras não acharás primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar al-
gum.” [Frase inscrita em Delfos – Templo de Apolo] Sócrates perguntava pelo
ser do homem. O que é ser um homem justo? A injustiça vale mais do que a
justiça? O que é melhor para o ser humano? Quais fins deve perseguir a vida
humana? Qual é a vida mais feliz? Qual é a vida que realiza mais plenamente
todas as potencialidades do ser humano? [...] A dúvida é o movimento ne-
gativo que irrompe [invade] no choque contraditório das múltiplas imagens.
Paralisa a certeza existente e mostra à consciência de um indivíduo que ele
não pode mais conduzir o navio da sua vida através daquela rota. A dúvida,
aporia, ausência de passagem [um beco sem saída], coloca o indivíduo dian-
te do nada das suas imagens, do nada do seu caminho [...]

BENOIT, Hector. Sócrates – o nascimento da razão negativa. São Paulo - SP:


Moderna, 2006, p. 12- 14.

Aprecie a imagem e leia o texto:

Figura 1 – Oráculo de Delfos – Grécia Antiga

Disponível em:
https://www.cultura-
genial.com/frase-co-
nhece-te-a-ti-mes-
mo/ Acesso em: 17
ago. 2020

Origem da frase “Conhece-te a ti mesmo”


A frase “Conhece-te a ti mesmo” estava inscrita na porta de entrada do
Templo de Delfos a fim de estimular a reflexão dos gregos antigos. Locali-

TRILHA 5 | Tema: Autoconhecimento 2


zado na Grécia, na cidade de Delfos, o templo originalmente era dedicado
a Apolo, deus da luz, da razão e do conhecimento verdadeiro, o patrono
da sabedoria. Em latim a frase foi traduzida para nosce te ipsum e em in-
glês know thyself. Existem algumas variantes dependendo da tradução rea-
lizada, como por exemplo “conhece a si mesmo”. Não se sabe com precisão
quem foi exatamente o autor da frase, há suposições de que ela tenha sido
proferida por Sócrates, Pitágoras, Heráclito ou até mesmo Tales de Mileto.

Significado da frase “Conhece-te a ti mesmo”


A oração convida o leitor a promover um autoconhecimento e uma investi-
gação das suas próprias profundezas de modo a lidar melhor consigo e com
o mundo ao redor. Essa linha de pensamento está em sintonia com o que
propagava Sócrates. De acordo com o filósofo, nenhum ser humano cons-
cientemente é capaz de agir com maldade, se o faz é por puro desconheci-
mento de si.

Possíveis interpretações para a frase


“Conhece-te a ti mesmo” pode ter múltiplas interpretações. Pode servir des-
de uma espécie de aviso (no sentido de ter cautela e conhecer os seus pró-
prios limites) como também pode sugerir um simples convite para se conhe-
cer mais a fim de lidar melhor com aqueles que estão à sua volta. Há quem
diga que a frase significa algo muito além de conhecer a si mesmo. A oração
também pode querer dizer “lembra-te de quem és”, invocando a memória
do passado para fixar a identidade do sujeito. Outra interpretação possível é
“reconheça o seu lugar no Cosmos” e compreenda que você é uma pequena
peça de um sistema muito mais amplo que funciona com você, mas também
apesar de você. Em síntese, podemos pensar na oração tanto com um senti-
do unicamente individual quanto com um propósito final coletivo.

Disponível em: https://www.culturagenial.com/frase-conhece-te-a-ti-mesmo/


Acesso em: 17 ago. 2020.

Leia os textos e aprecie as imagens:

Texto 2
“Há uma sensação por grande parte da população, de que
a rua é um espaço hostil – e que não é um espaço para
TRILHA 5 | Tema: Autoconhecimento 3
se ficar. A pandemia [2020] aprofundou um processo que já vinha se dese-
nhando. Por outro lado, eu vejo gente que não tem outra maneira de viver
que não seja na rua. A rua é constituinte da própria maneira de morar da
pessoa. Não dá pra virar pro camarada que vende um salsichão na praça e
dizer pra ele que ele tem condições de ficar enclausurado, porque ele não
tem. É uma questão de necessidade, de sobrevivência.”

Texto 3
“É um momento de esvaziamento grave, mas eu acredito que essas coisas
serão recuperadas. As pandemias passam. A reconstrução dos afetos pela
festa [da/na vida] vai ocorrer.”

Luiz Antonio Simas, historiador brasileiro, Ritualizar a vida, entrevista na Pla-


taforma ECOA, SP, em 16 de agosto de 2020. Disponível em: https://www.uol.
com.br/ecoa/ Acesso em: 16 ago. 2020.

Figura 2 – Semana Nacional de Teatro de Teresina – Paraíba

Disponível em: https://entre-


cultura.com.br/2017/03/22/
teatro-de-rua-e-a-primeira-
-atracao-do-senthe/ Acesso
em: 16 ago. 2020.

4. EXPLORANDO A TRILHA
Texto 4 – Sobre o conceito de Alteridade
A alteridade é o reconhecimento de que existem pessoas e culturas singu-
lares e subjetivas que pensam, agem e entendem o mundo de suas próprias
maneiras. Reconhecer a alteridade é o primeiro passo para a formação
de uma sociedade justa, equilibrada, democrática e tolerante, onde todas
e todos possam expressar-se, desde que respeitem também a alterida-

TRILHA 5 | Tema: Autoconhecimento 4


de alheia. O dicionário Aurélio traz a seguinte definição de alteridade: “al.
te.ri.da.de - (francês alterité) - substantivo feminino - 1. Qualidade do que
é outro ou do que é diferente. - 2. [Filosofia]. Caráter diferente, metafisi-
camente.” |1| A palavra alteridade advém do vocábulo latino alteritas, que
significa ser o outro, portanto, designa o exercício de colocar-se no lugar
do outro, de perceber o outro como uma pessoa singular e subjetiva. A
alteridade é o reconhecimento da diferença, tanto no significado linguísti-
co comum quanto no significado filosófico, pois a alteridade é o que é, por
essência e definição, diferente. Segundo Nicola Abbagnano, lexicólogo que
publicou um imenso dicionário de termos filosóficos, alteridade significa
“ser outro, colocar-se ou constituir-se como outro” |2|[...]
Alteridade e empatia
É comum o pensamento de que alteridade e empatia são sinônimos, porém
são termos diferentes. Enquanto a empatia refere-se à capacidade de colo-
car-se no lugar do outro, sentir a dor do outro de maneira imaginária ou por
analogia, a alteridade é a capacidade de reconhecer que o outro é daquele
jeito porque ele é, essencialmente, diferente de você. Além do reconheci-
mento da diferença, a alteridade propõe um respeito ético ao outro como
ser singular. É na alteridade que surge a tolerância. [Aceitando o outro en-
quanto pessoa independente de gênero, religião, classe social, sexualidade,
cor etc.] Segundo o sociólogo polonês contemporâneo Zygmunt Bauman, o
mundo está cada vez mais fragmentado. A tendência atual é a do individu-
alismo, um estilo de vida que leva ao egoísmo. Nesse sentido, a alteridade
encaixa-se em momentos de coletividade, dando lugar à tolerância. Veja-
mos alguns exemplos de alteridade: Imagine que imigrantes e refugiados
começam a entrar em seu país, passando a habitar a sua cidade. Exercer a
alteridade, nesse caso, é reconhecer que aquelas pessoas sofreram e que
elas saíram de suas terras natais porque foram obrigadas ou porque queriam
levar uma vida digna. Exercer a alteridade, nesse caso, é acolher e oferecer o
apoio possível a elas. Imagine que você seja praticante de uma religião cris-

TRILHA 5 | Tema: Autoconhecimento 5


tã, de vertente católica. No mundo existem cristãos protestantes, cristãos
espíritas, muçulmanos, hindus, candomblecistas etc. A alteridade reside,
nesse exemplo, no fato de que você deve reconhecer a história e a individua-
lidade de cada pessoa e respeitar a escolha religiosa dela sem pré julgá-la.
Notas
|1| HOLANDA, Aurélio B. Dicionário da Língua Portuguesa. 6. ed. Curitiba:
Positivo, 2004.
|2| ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia.  3. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1998, p. 35.
[...]

Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/conceito-alteridade.


htm Acesso em: 16 ago. 2020.

5. RESOLVENDO OS DESAFIOS DA TRILHA


Neste momento, você precisa pensar de maneira serena para expressar
os seus conhecimentos. Respire fundo e procure lembrar de tudo que foi
comentado durante o percurso até aqui, e depois responda no caderno.

1 Quais seriam as vantagens de nos conhecermos melhor?


Exercitar o autoconhecimento?

2 Como os conhecimentos produzidos por Sócrates podem ser


úteis em sua vida?

3 Por que deveríamos defender ou não a liberdade de expressão/


pensamento no Brasil de hoje?

6. A TRILHA É SUA: COLOQUE A MÃO NA MASSA


Agora você vai exercitar a capacidade imaginativa/interpretativa. Poderia
expressar o que compreendeu através de um poema, um desenho, uma
música, um cordel etc. Você escolhe! Mostre suas habilidades!!

TRILHA 5 | Tema: Autoconhecimento 6


7. A TRILHA DA MINHA VIDA
“Cada pessoa possui a mesma quantidade de energia. Mas a maioria das
pessoas despende-a de mil formas diferentes, enquanto eu a canalizo para
uma única direção: a pintura.”

Pablo Picasso, pintor espanhol.

Aqui você vai ‘desenrolar’ sua potencialidade na escrita, respon-


dendo à pergunta:

Qual a relação entre o que diz o pintor e a construção de sua


identidade? Desenvolva uma resposta a partir do momento
atual de sua vida.

8. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO SOCIAL


Que tal agora pensar no que foi produzido até aqui e usar sua inventividade
para socializar na escola ou mesmo nas redes sociais. Uma parte da trilha
que acha de interesse social, algo que mais chamou sua atenção e que
pode ser compartilhado na escola ou em espaços digitais disponíveis. Por
exemplo, fazer entrevistas com parentes e vizinhos próximos para identi-
ficar qual grupo social/identitário pertencem. Depois mostra para turma
como foi produzir essa tarefa. Sucesso!

9. AUTOAVALIAÇÃO
Ufa! Estamos finalizando, como última tarefa você fará uma autoavaliação
(uma redação). Considera que a trilha ajudou a conhecer parte da vida filo-
sófica de Sócrates e conhecimentos sobre liberdade de pensamento, auto-
nomia, responsabilidade etc. e que essas aprendizagens serão úteis na sua
vida pessoal e na convivência na cidade? Tente apresentar suas conclu-
sões acerca desta itinerância. Sucesso!

7
TRILHA 6 Tema: Dúvida como caminho para a certeza.

1. PONTO DE ENCONTRO
Prontos para mais uma caminhada? Vamos iniciar mais uma jornada!
Com passos curtos, mas ritmados, chegaremos tão longe que, no final, até
você irá se impressionar. O mais importante agora é não se deixar desmo-
tivar e não procrastinar as atividades. Quanto mais equilibrado forem
os nossos passos, melhor aproveitamos as paisagens que a nossa trilha
filosófica é capaz de nos proporcionar. Seja um grande explorador, crie
segurança para desbravar novos caminhos e destinos, mas cuidado – há
solos movediços e escorregadios. Duvide, pois nem sempre o atalho é a
melhor escolha. Evite o caminho do erro e tenha certeza que o terreno é
seguro antes de pisar. Um pequeno passo em falso nos afasta do caminho
da verdade. Se distanciar do erro, nem sempre é fácil, por isso mesmo,
convidamos alguém especialista em usar a dúvida como caminho para a
certeza, o filósofo moderno René Descartes.

2. BOTANDO O PÉ NA ESTRADA
Vamos aprender a exercitar a dúvida?

Penso, logo existo – Qual o sentido desta expressão para você? Que tal
entender a relação entre dúvida e verdade? O que o exercício da dúvida carte-
siana tem a ver com o problema das Fake News na contemporaneidade?

3. LENDO AS PAISAGENS DA TRILHA


Observe a Figura 1, e leia os textos:
TRILHA 5 | Tema: A dúvida como o caminho para a certeza. 1
Figura 1 – Fotos que parecem montagem

Disponível em: https://www.


meionorte.com/blogs/piadas/
fotos-que-parecem-monta-
gem-mas-nao-sao-290613.
Acesso em: 11 jan. 2020.

Texto 1 – Nem sempre a mentira tem pernas curtas


À primeira vista, a Figura 1, causa certa estranheza. Por mais que os nos-
sos olhos estejam vendo um bebê, com pernas de adulto. Duvidamos. Des-
sa dúvida, surgem duas possibilidades: ou a imagem passou por uma boa
edição de montagem ou, como dizem, nem tudo é o que parece ser, e, por
vezes, até mesmo os nossos sentidos nos enganam.
Nesse caso, não se trata de uma montagem, mas de uma fotografia real que
cria a ilusão de um bebê “crescidinho” demais. A verdade é que as pernas
que aparecem na imagem não são do bebê, mas de uma outra pessoa que
não pode ser vista completamente, por causa da almofada e da perspectiva
em que a foto foi tirada. Mas o que tudo isso tem a ver com a filosofia de
Descartes e com a dúvida, como método para se conhecer a verdade?
Descartes, foi um filósofo moderno que elegeu a dúvida como método filo-
sófico, e a exerceu ao extremo, ele começou duvidando do conhecimento
propiciado pela cultura, pelos sentidos, pelas ideias, até chegar ao ponto
de duvidar da própria existência. Foi duvidando da sua existência como ser
material e como ser pensante, que Descartes encontrou a primeira “verda-
de indubitável”, isto é, aquilo que havia resistido ao exercício de duvidar.

TRILHA 5 | Tema: A dúvida como o caminho para a certeza. 2


Vamos supor que Descartes fosse um pouco menos “desconfiado”, e acre-
ditasse – como popularmente se diz – que a mentira tem pernas curtas, se
eximindo do exercício de duvidar. Será que ele teria tido o mesmo êxito?
Agora, vamos supor que uma segunda foto, reproduzindo a mesma ilusão,
tenha sido tirada, mas ao invés de um bebê fosse colocada uma pessoa cuja
as proporções correspondem ao tamanho das pernas que aparecem senta-
das. Considerando que a foto não causaria estranheza, muito provavelmen-
te não duvidaríamos da imagem. Isso porque não costumamos duvidar dos
nossos próprios sentidos, confiamos “cegamente” no que sentimos, ouvi-
mos e vemos. Mas, o fato é que nem sempre a mentira e a ilusão têm a ver
com o tamanho das pernas. Sendo as pernas curtas ou compridas, parece
que o melhor exercício para reconhecer o erro é, a princípio, duvidar.
Fonte: FARIAS, Emerson Costa. SEC/Bahia, 2020.

Texto 2 – Aprendendo a duvidar


A dúvida metódica tornou-se uma referência importantíssima e um clássi-
co da filosofia moderna. Trata-se de um exercício da dúvida em relação a
tudo o que ele, Descartes, conhecia ou pensava até então ser verdadeiro.
Tal exercício foi conduzido pelo filósofo de duas maneiras: metódica, por-
que a dúvida vai se ampliando passo a passo, de modo ordenado e lógico;
e radical, porque a dúvida vai atingindo tudo e chega a um ponto extremo
em que não é possível ter certeza de nada, nem mesmo de que o mundo
existe. Como em um jogo ou uma brincadeira, Descartes tentou duvidar até
da própria existência. Por isso, a dúvida metódica costuma ser chamada
também de dúvida hiperbólica, isto é, maior do que o normal ou o esperado,
exagerada. Note que é um exercício bastante difícil, pois não é nada natural
duvidar de tanta coisa.
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. São Paulo:
Saraiva, 2016, p. 46.

Texto 3 – Por que Descartes duvidou de tudo e qual a importância da dú-


vida para a produção do conhecimento?
Descartes estava desiludido com o que aprendera até então nos estudos e
na vida, depois de perceber que havia muito engano. Aí se tornou uma pes-
soa meio desconfiada, mas que não ficou só nisso: ele resolveu construir
algo diferente, uma nova ciência que garantisse um conhecimento sólido
TRILHA 5 | Tema: A dúvida como o caminho para a certeza. 3
e verdadeiro [...]. Para cumprir tal propósito, no entanto, percebeu que era
necessário destruir primeiro todas as suas antigas ideias que fossem du-
vidosas. Isso quer dizer que ele já tinha experimentado diversos estranha-
mentos em sua vida, como qualquer pessoa. A diferença é que ele decidiu,
então, viver esse processo de estranhar e duvidar de maneira voluntária
e planejada, aplicando-o a todas as suas antigas opiniões. Você também
pode fazê-lo, e é isso que queremos lhe mostrar.
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. São Paulo:
Saraiva, 2016, p. 46.

Se desejar ampliar ainda mais os seus conhecimentos, assista ao vídeo


sobre Descartes, o pensamento científico e a filosofia moderna:
D07 – Filosofia da Educação – Descartes
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=M3oLEGlzs6k.
Acesso em: 11 jan. 2020.

Texto 4 – O exercício da dúvida como primeiro passo para o conhecimen-


to verdadeiro e a certeza indubitável
Observe que o próprio ato de pensar, sem importar os conteúdos, não pode
ser colocado em dúvida por aquele que duvida. Tente duvidar do que está
pensando agora, neste mesmíssimo instante... Você verá que, enquanto du-
vida do que está pensando, está pensando, pois é impossível duvidar sem
pensar. Portanto, você pensa, com certeza. Ora, se você pensa, deve haver
algo (que é você) que produz esse pensamento. Você deve ser, no mínimo,
uma coisa que pensa. Daí a conclusão de Descartes, uma das mais célebres
frases da história da filosofia: “Penso, logo existo”, que ficou conhecida
como cogito (forma reduzida de Cogito, ergo sum, a mesma frase em latim).
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. São Paulo:
Saraiva, 2016, p. 49.

Se desejar ampliar ainda mais seus conhecimentos, assista ao vídeo


sobre Descartes e o filme “Matrix”:

Já vivemos em uma MATRIX – O conceito de realidade segundo René Descartes


Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=i9xi_uVx9PI. Acesso em:
11 jan. 2020.
TRILHA 5 | Tema: A dúvida como o caminho para a certeza. 4
4. EXPLORANDO A TRILHA
Leia o texto 5 e observe as figuras 1 e 2, a seguir:

Texto 5 – Fake News


“Fake News” em tradução literal significa notícia falsa. O uso corrente que
essas palavras têm tido atualmente não é, porém, uma relação direta entre
notícia falsa e mentira. Alguns intelectuais apontam que estamos sob o domí-
nio do “pós-verdade”, isto é, um momento em que notícias falsas são difundi-
das – principalmente com o advento da internet – importando muito mais as
crenças que se pretendeu solidificar do que a veracidade dos fatos em si.
Eleita pelo dicionário Oxford (referência no papel de catalogar novos termos)
como expressão do ano de 2016, o termo “pós-verdade” foi definido como
‘relativo ou referente a circunstâncias nas quais os fatos objetivos tem menos
influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças
pessoais.’ De forma simplificada, a utilização dessa expressão se refere à
diminuição do peso dado para a verdade factual e valorização das versões
de um fato com objetivo de sustentar opiniões e ideologias [...]. Cabe ressal-
tar que notícias falsas sempre existiram na história da humanidade mas há
quatro causas que se relacionam e explicam esse novo fenômeno:
• Descentralização da informação trazida pelas novas tecnologias de
comunicação;
• Ambiente de forte polarização política, que contribui para a difusão
de notícias falsas para atingir o inimigo ideológico;
• Crise de confiança nas instituições tradicionais favorecendo a autono-
mia das pessoas na busca pelas informações;
• Fortalecimento de uma visão de mundo que relativiza a verdade re-
sultado de mudanças socioeconômicas trazidas pela globalização que
fragmentaram e flexibilizaram o modo de ver o mundo propiciando um
pensamento mais individualista e imediatista.
Em um momento de queda em quatro grandes instituições: Empresas, Go-
vernos, ONG e Mídia, as pessoas estão mais propensas a ignorar informa-
ções que confirmam uma ideia com a qual não concordam, mostrando um
desprezo pela verdade, ainda que baseado em fatos.

TRILHA 5 | Tema: A dúvida como o caminho para a certeza. 5


O grande perigo existente na fluidez da veracidade dos fatos é que a verda-
de não precisa ser provada, apenas afirmada. A afirmação/manipulação dos
fatos para atender a determinados objetivos e ideologias foi uma estratégia
muito utilizada nos regimes totalitários e que está perigosamente ganhando
terreno também entre os regimes ditos democráticos.
Disponível em: https://www.infoescola.com/sociedade/fake-news/ Acesso em:
11 jan. 2020.
Figura 1 Figura 2

Disponível em: https://horizontesafins.wor-


dpress.com/2017/02/02/a-verdade-da-pos-ver-
dade/ Acesso em: 11 jan. 2020.

Disponível em: http://www.iserruya.com/


fato-ou-fake-1 Acesso em: 11 de jan. 2020.

5. RESOLVENDO OS DESAFIOS DA TRILHA


Não tenha medo da dúvida. Afinal, aprendemos com Descartes que ela é mais
nossa aliada do que nossa inimiga. É melhor usar a dúvida e dar um passo de
revisão do que seguir no terreno perigoso do erro. Sendo assim, responda:

1 Qual a importância da dúvida para o pensamento cartesiano?

2 Por que, para Descartes, o “penso, logo existo” é a primeira


verdade indubitável?

3 Como você relaciona o problema das Fake News à era da


“pós-verdade”?

TRILHA 5 | Tema: A dúvida como o caminho para a certeza. 6


6. A TRILHA É SUA: COLOQUE A MÃO NA MASSA
Agora você vai exercitar a capacidade crítica. Construa um texto disser-
tativo-argumentativo, justificando como a filosofia moderna de Descartes
pode nos ajudar com o problema das Fake News na contemporaneidade?

7. A TRILHA DA MINHA VIDA


Sabe aquela última notícia “bombástica” que você recebeu no seu What-
sapp?! Vamos usá-la para colocar a dúvida em prática. Siga, passo a passo,
as instruções da imagem abaixo para ter certeza que ela não é uma notícia
falsa e que é seguro compartilhá-la.

Figura 3 – Fato ou Boatos

Disponível em: ht-


tps://posverda.de/
infografico-como-
-checar-boatos-fake-
-news-noticias-falsas-e-
leicoes-2018-brasilia-df/.
Acesso em: 11 jan. 2020.

TRILHA 5 | Tema: A dúvida como o caminho para a certeza. 7


8. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO SOCIAL
Que tal compartilhar nas redes sociais o seu texto sobre “como a filosofia
moderna de Descartes pode nos ajudar com o problema das Fake News na
contemporaneidade?” Mostre para seus amigos o quanto a filosofia é atual
e como ela é capaz de responder aos problemas da sociedade atual.

9. AUTOAVALIAÇÃO
Chegamos com segurança no final de mais uma trilha. Pense em quanta
coisa você aprendeu! Aprendeu a achar o caminho da verdade usando a
dúvida cartesiana, aprendeu que nem sempre a mentira tem pernas curtas
e exercitou na prática, quando investigou se aquela notícia “bombás-
tica” que recebeu no seu Whatsapp é verdadeira ou falsa. Em suma, você
aprendeu o caminho, mas também criou segurança para abrir trilhas
novas. Para finalizar, faça uma autoavaliação sobre como foi essa cami-
nhada para você. Em seu caderno, escreva um ensaio nos contando o
que mais você gostou de aprender nessa trilha e como você usará o que
aprendeu na prática. Não esqueça de citar o filósofo que foi nosso guia, faça
referência à filosofia e ao pensamento de Descartes!

8
TRILHA 7 Tema: Existencialismo.

1. PONTO DE ENCONTRO
Prontos para mais uma caminhada?! E falando em caminhar, nada é
melhor do que a liberdade de escolher nosso próprio destino. Porém, ao
mesmo tempo que aumenta o nosso poder de escolha, aumenta também a
nossa responsabilidade. Nesta trilha, estudaremos sobre existencialismo.
Refletiremos mais sobre esse assunto, caminhando lado a lado do filósofo
francês Jean-Paul Sartre e da filósofa francesa Simone de Beauvoir. Afinal,
ambos acreditavam que a responsabilidade das nossas escolhas, sejam
boas ou más, é o preço que pagamos pela liberdade.

Figura 1 – Liberdade

Disponível em: https://www.proprofs.com/quiz-school/story.php?title=2-simulado-de-filosofia-ano.


Acesso em: 19 jan. 2020.

2. BOTANDO O PÉ NA ESTRADA
Você já ouviu falar sobre o casal mais pop da filosofia francesa ou sobre o
existencialismo? Como você busca dar sentido a sua existência?

Você é livre, mas também é igualmente responsável pelas suas escolhas e


pela sua liberdade!
TRILHA 7 | Tema: Existencialismo. 1
3. LENDO AS PAISAGENS DA TRILHA
Da Bahia ao território francês... Pise firme e entenda o que a relação de
Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir tem a ver com a superação do amor
romântico.

Texto 1 – Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre: a superação do amor


romântico?
A ideia de amor romântico vem, cada vez mais, perdendo espaço. Até a Disney,
que em todos os seus clássicos reforçou a ideia machista e ultrapassada da
princesa indefesa que precisa de um príncipe forte e bonitão para lhe salvar
dos perigos da vida, tem produzido animações que buscam sair desta chave de
que a vida e a felicidade dependem da sorte de encontrar um grande amor.
Propostas como o amor livre e o poliamor vêm, ao mesmo tempo, se esta-
belecendo enquanto possibilidades de relacionamento, mas a maioria das
pessoas não compreende, realmente, do que se tratam estes novos arranjos.
Todo mundo ama todo mundo? Ninguém ama ninguém? Como são modos de
se relacionar que rejeitam a ideia de que relacionamentos são necessaria-
mente monogâmicos e heterossexuais, é normal que existam pessoas que
apresentem dificuldades de entender um modo de ser que põe em xeque
os valores vigentes e a moral cristã profundamente enraizada na sociedade
ocidental pós-moderna.
O fato é que, em se tratando de relacionamentos, há tanta diversidade e com-
plexidade que, muitas vezes, rotular uma relação como “amor isso” ou “amor
aquilo” faz perder de vista a complexidade que envolve as relações humanas.
É com isso em mente que tento pensar a relação entre Simone de Beauvoir e
Jean-Paul Sartre, conhecidos filósofos existencialistas franceses. Os dois se
conheceram na Sorbonne, sendo ambos professores de filosofia. Logo cria-
ram uma parceria e, assim, passaram a se relacionar afetiva e sexualmente.
Os dois, porém, estabeleceram um pacto em que não manteriam uma relação
monogâmica, buscando diferenciar o que seria o “amor necessário” (entre os
dois) e os “amores contingentes” (relações dele e dela com terceiros/as). Du-
rante toda a vida, compartilharam todas as experiências de seus amores con-
tingentes, tendo inclusive mantido relações ao mesmo tempo com uma mes-
ma terceira pessoa (como é contado no livro “A Convidada”, de Beauvoir).

TRILHA 7 | Tema: Existencialismo. 2


[...]
Conhecer a história de Sartre e Simone de Beauvoir faz, inclusive, com que
compreendamos de forma bem mais clara o que foi que levou Simone a
escrever sua obra prima. Ela foi capaz de perceber que, mesmo sendo parte
da relação livre que mantinha com Sartre, era menos livre que ele, por ser
mulher. Admitir isso foi o impulso inicial para que pudesse concluir “O Se-
gundo Sexo”. Por esta razão, também, temos acesso a produções que ex-
põem estas questões e como elas se desenrolaram para Simone muito mais
do que para Sartre.
Simone e Sartre encontraram um modo de viver que fez sentido para eles.
Em determinado período, ficaram anos sem se relacionar sexualmente. Sar-
tre teve romances sérios com outras mulheres, Beauvoir teve também ou-
tros amores, como o americano Nelson Algren. Dividiram amores e afetos, o
que por vezes trouxe tensões para o casal. Entretanto, nunca se separaram.
Seu companheirismo e o “amor necessário” sempre pautou a convivência
entre os dois. Talvez porque, mais importante do que gritar para os quatro
cantos do mundo que se é dono de alguém, é criar uma relação de cumplici-
dade e bem querer mútuo que possibilite que cada um seja livre e autêntico
para que o amor, que tanto buscamos, apareça e permaneça. Beauvoir e
Sartre deixaram como legado a certeza de que é possível viver para além
do amor romântico, mas que isto não significa o fim de todos os conflitos.
Mostraram que é necessário atentarmos para o controle que exercemos
sobre os corpos uns dos outros e que devemos, sempre, buscar a autentici-
dade em todas as nossas relações. Representam, por fim, aquela pontinha
de esperança por um relacionar-se baseado não no cumprimento de regras
sociais, mas na real vontade de estar junto.

Luisa Bertrami D’Angelo, 2016. Disponível em: http://notaterapia.com.


br/2016/04/14/simone-de-beauvoir-e-jean-paul-sartre-a-superacao-do-amor-
-romantico/ Acesso em: 19 jan. 2020.

Pise firme e entenda sobre a condição humana e liberdade em Sartre.

TRILHA 7 | Tema: Existencialismo. 3


Texto 2 – A condição humana e liberdade em Sartre
Se o ser humano fosse somente um ser em-si – cheio, total, pleno, com
uma essência definida – não poderia ter nem consciência nem liberdade.
Primeiro, porque a consciência é um espaço aberto a múltiplos conteúdos e
relações. Segundo, porque a liberdade representa a possibilidade de es-
colha. Por intermédio de suas escolhas, o indivíduo constrói a si mesmo e
torna-se responsável pelo que faz. Assim, para Sartre, se o ser humano não
expressasse esse “vazio de ser”, sua consciência já estaria pronta, fechada.
E, nesse caso, não poderia manifestar liberdade, pois estaria preso à reali-
dade estática do ser pleno, do ser em-si. Outra consequência dessa carac-
terística específica do não-ser é que não existe uma natureza humana para
Sartre, pois falar em “natureza” implica algo fixo e universal, previamente
determinado, válido para todo sempre. O que existiria, em sua concepção, é
uma condição humana, isto é, “o conjunto de limites a priori que esboçam a
sua [do indivíduo] situação fundamental no universo.
[...]
Portanto, para Sartre, um dos valores fundamentais da condição humana
é a liberdade. É o exercício da liberdade em situações concretas que move
o ser humano, que gera a incerteza, que leva à produção de sentidos, que
impulsiona a superação de certos limites e que confere sentido à sua exis-
tência. É a liberdade humana, enfim, que leva todo indivíduo a ter de definir
o que pretende ser como pessoa, a avaliar o impacto de suas escolhas e ser
responsável por elas. Isso significa que, de forma quase paradoxal, o ser
humano está condenado a ser livre, como afirma Sartre.
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. São Paulo:
Saraiva, 2016, p. 311 e 312.

Se desejar conhecer um pouco mais sobre a história e o romance de


Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre, assista o Filme:

Os amantes do Café Flore (Trailer)


Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wvElWmTqDI4.
Acesso em: 19 jan. 2020.

TRILHA 7 | Tema: Existencialismo. 4


4. EXPLORANDO A TRILHA
Do território francês à Bahia:

Pise firme e observe a Figura 2: além de Sartre e Simone de Beauvoir, você


reconhece alguém?

Da esquerda para a direita, encontramos Zélia Gattai Amado, Jean-Paul


Sartre, Simone de Beauvoir, Jorge Amado, sentada temos Mãe Senhora.
Este registro foi feito durante a visita de Sartre e Simone ao Brasil.

Créditos: A exposição Jorge Amado e Zélia Gattai, Jean-Paul Sartre e Simone


de Beauvoir – Memórias de Viagem / Fundação Casa de Jorge Amado.

Pois é, fique sabendo que o escritor baiano Jorge Amado foi quem guiou
Sartre e Simone de Beauvoir no Brasil. A convite do escritor Jorge Amado,
o casal chegou em solo brasileiro Brasil pela cidade do Recife em 12 de
agosto de 1960.

Figura 2 – Personalidades

Disponível em:
https://incrivelhis-
toria.com.br/simo-
ne-de-beauvoir-
-biografia/. Acesso
em: 19 jan. 2020.

Se desejar ampliar ainda mais os seus conhecimentos, assista ao vídeo do


Globo Ciência:
Sartre e Beauvoir (Globo ciência)
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xzAtSv18Cm0.
Acesso em: 19 jan. 2020.
TRILHA 7 | Tema: Existencialismo. 5
5. RESOLVENDO OS DESAFIOS DA TRILHA
Você já avançou bastante. Que tal parar para respirar um pouco e relem-
brar o que aprendeu antes de continuar? Responda as questões abaixo:

1 O que você já sabe sobre Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir?

2 Que relação você consegue estabelecer entre liberdade e


responsabilidade?

3 Baseado no que você leu sobre o romance de Sartre e Simone de


Beauvoir, como você definiria o “amor livre”?

6. A TRILHA É SUA: COLOQUE A MÃO NA MASSA


Texto 4 – Dois em um: que tal ser filósofo e crítico de cinema?!
As ideias de que “não somos aquilo que fizeram de nós, mas o
que fazemos com o que fizeram de nós” e de que “o homem está
condenado a ser livre” são grandes máximas da filosofia de Sartre.
Ambas concordam com a ideia de que você deve colocar a mão
na massa e assumir a trilha da sua vida. Assista à animação “O
homem que plantava árvores” e construa uma resenha crítica
relacionando o que você assistiu à concepção existencialista de
liberdade de Sartre e Beauvoir. E lembre-se: na hora de indicar o
filme para os seus amigos não dê spoilers.

Para assistir acesse o link:

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tm-


7pyy1oWYU&t=315s. Acesso em: 19 jan. 2020.

TRILHA 7 | Tema: Existencialismo. 6


7. A TRILHA DA MINHA VIDA
Além de filósofos, tanto Sartre quanto Beauvoir desenvolveram uma
relação forte e produtiva com o universo literário. O que você acha de fazer
algo parecido? Crie uma produção literária (poema, conto ou crônica) na
qual você, sua vida e suas escolhas sejam o tema principal da obra. Conte-
-nos de onde você saiu e para onde está indo. Como foi sua existência até
aqui? Quais planos você tem para o futuro? E, mais importante, o que você
tem feito atualmente para alcançar aquilo que você deseja conquistar?

8. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO SOCIAL


Além de filósofo e crítico de cinema, que tal ser digital influencer?!

Além de liberdade e responsabilidade, engajamento é também um


conceito importante na filosofia existencialista de Sartre. Chegou
a hora de ser engajado, compartilhe sua produção literária e a sua
resenha crítica em suas redes sociais.

9. AUTOAVALIAÇÃO
A autoavaliação é uma boa oportunidade para refletir sobre as escolhas
que fizemos e sobre aquelas que estamos prestes a fazer. Para finalizar,
conte para nós como foi essa caminhada. Em seu caderno, escreva um
ensaio ressaltando o que você aprendeu sobre a liberdade e como você
aplicará esse conhecimento na sua vida.

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