Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
O presente artigo aborda a relação entre Arquitetura Escolar e Sustentabilidade, tanto na concepção do
projeto como na construção da edificação, considerando dois pólos pedagógicos: o Autoritarismo
Educacional e uma “Educação Libertária”. Verifica-se que a Arquitetura Disciplinar destinada a atender
o Autoritarismo Educacional, corrobora os indícios do Panoptismo, como a vigilância hierárquica e o
disciplinamento do corpo no contexto (neo) liberal. A rigidez estrutural inviabiliza práticas de ensino e
aprendizagem que se baseiem na construção do conhecimento conjunto (professor + aluno). Em
contrapartida, observa-se a fluidez e plasticidade das edificações projetadas para escolas que se propõem
a práticas de ensino e aprendizagem mais “libertárias”, em contraposição ao ensino tradicional. Aliada
ao conceito de sustentabilidade, as edificações projetadas para as Escolas Libertárias explicitamente
postulam uma concepção completamente diversificada e interada não só com o ambiente natural, mas
também com a cultura e história do local onde estão inseridas.
ABSTRACT
This paper discusses the relationship between Architecture and Sustainability School, both in the design
and the construction of the building, considering two poles teaching: Authoritarianism Education and
“Educational Libertarian”. It appears that Architecture Discipline designed to meet the educational
Authoritarianism, corroborates the evidence of panopticism as hierarchical surveillance and disciplining
of the body in the context of (neo) liberalism. The structural rigidity prevents learning and teaching
practices that are based on knowledge construction set (teacher + student). In contrast, there are fluidity
and plasticity buildings designed for schools that intend to practice in teaching and learning more
“libertarian” as opposed to traditional teaching. Allied to the concept of sustainability, buildings
designed for the Libertarian Schools explicitly have a completely diverse and interactive concept not
only with the natural environment, but also with the culture and history of the place they were built.
*
Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UESC, BA) - Bolsista FAPESB; Mestre em
Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente (UESC, BA); graduada em Arquitetura e Urbanismo (UFV, MG).
Professora do Instituto Federal da Bahia (IFBA). E-mail: skcosta@hotmail.com
Publicações: REIS, R. N.; COSTA, Silvia Kimo.; REGO, N. A. C.; SILVA JUNIOR, M. F. Avaliação das
potencialidades geoturísticas da serra geral, Bahia, Brasil. Revista Nordestina de Ecoturismo, Aquidabã, v.5, n.2,
p.28‐45, 2012.
COSTA, L. E. B.; COSTA, Silvia Kimo; REGO, N. A. C; SILVA JUNIOR, M. F. Gravimétrica dos resíduos
sólidos urbanos, domiciliares e perfil socioeconômico no município de Salinas, MG. Revista Ibero-Americana de
Ciências Ambientais, v. 3, p. 73-90, 2012.
COSTA, Silvia Kimo; SILVA JUNIOR, M. F.; RANGEL, M. C. O processo de intervenção em espaços públicos
urbanos dos usuários: praças públicas. Rede: Revista Eletrônica do Prodema, v. 4, p. 25-35, 2010.
MATHIAS, A. G. C; COSTA, Silvia Kimo; REGO, N. A. C; SANTOS FILHO, H. A; SANTOS, J. W. B. dos.
Análise da disposição final de resíduos sólidos urbanos no município de Vitória da Conquista - BA utilizando a
Soft System Methodology. Diálogos & Ciência (Online), v. 8, p. 77-90, 2010
95
**
Doutor em Educação (UFBA); Mestre em Sociologia Rural (UFRGS); especializado em Desenvolvimento e
Gestão Ambiental pela Gesellschaft Fur Technische Zusammenarbeit, GTZ, Alemanha; graduado em Engenharia
Agronômica (UFPE). Professor do Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais e do Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente (UESC, BA). E-mail: notlimf@gmail.com
Publicações: SILVA, N. B.; SILVA JUNIOR, M. F. Educação ambiental e práticas pedagógicas comunicativas
no ensino fundamental do caic em vitória da conquista - BA. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação
Ambiental, v. 29, p. 1-14, 2012.
BONFIM, D. A.; SANTOS, J. O.; SAMPAIO, R. J.; SILVA JUNIOR, M. F. Considerações sobre as mudanças
climáticas e os impactos na sub-bacia do rio catolé para o município de Vitória da Conquista-BA. Revista
Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 29, p. 1-16, 2012.
SANTOS, G. P.; REGO, N. A. C.; SANTOS, J. W. B.; DELANO JÚNIOR, F.; SILVA JUNIOR, M. F. Avaliação
espaço-temporal dos parâmetros de qualidade da água do rio Santa Rita (BA) em função do lançamento de
manipueira. Revista Ambiente & Água, v. 7, p. 261-278, 2012.
REIS, R. N.; COSTA, S. K.; REGO, N. A. C.; SILVA JÚNIOR, M. F. Avaliação das potencialidades
geoturísticas da serra geral, Bahia, Brasil. Revista Nordestina de Ecoturismo, v. 05, p. 28-45, 2012.
COSTA, L. E. B.; COSTA, Silvia Kimo; REGO, N. A. C; SILVA JUNIOR, M. F. Gravimétrica dos resíduos
sólidos urbanos, domiciliares e perfil socioeconômico no município de Salinas, MG. Revista Ibero-Americana de
Ciências Ambientais, v. 3, p. 73-90, 2012.
SILVA JUNIOR, M. F.; MENDES, S. A. F. Percepção de risco no uso de agrotóxicos na produção de tomate do
distrito de nova matrona, Salinas, Minas Gerais. Caminhos de Geografia (UFU), v. 12, p. 226-244, 2011.
COSTA, Silvia Kimo; SILVA JUNIOR, M. F.; RANGEL, M. C. O processo de intervenção em espaços públicos
urbanos dos usuários: praças públicas. Rede: Revista Eletrônica do Prodema, v. 4, p. 25-35, 2010.
SILVA, A. J.; SILVA JUNIOR, M. F. Representações sociais e agricultura familiar: indícios de práticas
agrícolas sustentáveis no vale do bananal - Salinas, Minas Gerais. Sociedade & Natureza (UFU. Impresso), v. 22,
p. 524-538, 2010.
96
Introdução
1
(...) um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas,
decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais,
filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode
estabelecer entre estes elementos (FOUCAULT, 2012, p. 244).
98
Sendo assim, bastava colocar apenas um vigia na torre central e trancar individualmente,
em cada cela do anel periférico: loucos, pessoas doentes, criminosos e até mesmo trabalhadores
ou estudantes.
O dispositivo Panóptico organiza unidades espaciais que permitem ver sem parar e
reconhecer imediatamente. Em suma, o princípio da masmorra é invertido; ou antes,
de suas três funções – trancar, privar da luz e esconder – só se conserva a primeira e se
suprimem as outras duas. A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que a
sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha (FOUCAULT, 2011,
p. 190).
Um tipo de poder, uma modalidade para exercê-lo, que comporta todo um conjunto de
instrumentos, de técnicas, de procedimentos, de níveis de aplicação, de alvos; ela é
uma “física” ou uma “anatomia” do poder, uma tecnologia. E pode ficar a cargo seja
de instituições “especializadas” (as penitenciárias, ou as casas de correção do século
XIX), seja de instituições que dela se servem como instrumento essencial para um fim
determinado (as casas de educação, os hospitais), seja de instâncias preexistentes que
nela encontram maneira de reforçar ou de reorganizar seus mecanismos internos de
poder; seja de aparelhos que fizeram da disciplina seu princípio de funcionamento
interior; seja enfim de aparelhos estatais que têm por função não exclusiva, mas
principalmente, fazer reinar a disciplina na escala de uma sociedade (a polícia)
(FOUCAULT, 2011, p. 203-204).
99
O Panóptico está presente em várias Instituições até os dias de hoje. Não se trata do
partido arquitetônico em si (o anel periférico com celas e a torre central), mas do princípio da
vigilância hierárquica; do esquadrinhamento do corpo; do moldar/ normalizar o “sujeito
anormal”; da Disciplina como fabricação de sujeitos apropriados ao sistema vigente. Trata-se
de uma arquitetura que permite o controle interior, que torna visível àquele que nela se
encontra, “uma arquitetura que seria o operador para a transformação dos indivíduos”
(FOUCAULT, 2011, p. 166), que age sobre o indivíduo, domina seu comportamento, oferece o
conhecimento e o modifica, torna-o dócil e o reconduz a uma outra identidade pelos efeitos
coercitivos e ou sedutores, sujeitados pelos macro (governamentalidade2) e micropoderes
(técnicas disciplinares3).
Numa escola, o Panóptico – disciplina/mecanismo - está implícito na disposição
individualizadora dos ambientes; na configuração “militar” das salas de aula (alunos olhando as
costas um do outro), ao invés de ver os rostos de cada um, em situação de semi – círculos; na
organização do mobiliário; nos mecanismos de segurança (figuras 4, 5, 6 e 7).
Figura 4: Carteiras dispostas em fileira de frente Figura 5: Distribuição das salas de aula ao longo de
para o professor (década atual). um extenso corredor de circulação.
Fonte:http://folhasdecampomaior.blogspot.com.br/ Fonte:http://www.escola.sed.sc.gov.br/eebastrogild
2011/04/o-professor.html oodon/estrutura/
2
“Conjunto constituído pelas instituições, procedimentos, análises e reflexões, cálculos e táticas que permitem
exercer esta forma bastante específica e complexa de poder, que tem por alvo a população, por forma principal de
saber a economia política e por instrumentos técnicos essenciais os dispositivos de segurança” (FOUCAULT,
2012, p. 409).
3
Tratam-se: da vigilância hierárquica, pois o “exercício da disciplina supõe um dispositivo que obrigue pelo jogo
do olhar: um aparelho onde as técnicas que permitem ver induzam a efeitos de poder, e onde, em troca, os meios
de coerção tornem claramente visíveis aqueles sobre quem se aplicam”; da sanção normalizadora: as disciplinas
“estabelecem uma “infrapenalidade”, quadriculam um espaço deixado vazio pelas leis; qualificam e reprimem um
conjunto de comportamentos”; e do exame: “um controle normalizante, uma vigilância que permite qualificar,
classificar e punir” (FOUCAULT, 2011, p. 165-177).
100
Figura 6: Carteiras dispostas em fileira de frente Figura 7: Câmeras de vigilância.
para o professor (meados do século XX). Fonte:http://dispositivodevisibilidade.blogspot.co
Fonte:http://educador.brasilescola.com/estrategia m.br/2008_08_01_archive.html
s-ensino/uso-filmes-na-aula-historia.htm
Segundo Tragtenberg (1985, p. 262), a disposição das carteiras dentro da sala de aula
reproduz as relações de poder; “o estrado que o professor utiliza acima dos ouvintes, estes
sentados em cadeiras linearmente definidas próximas a uma linha de montagem industrial,
configura a relação “saber/ poder” e “dominante/ dominado”.
Assim como a disposição modular das salas de aula à direita ou à esquerda de um extenso
corredor, que desemboca em uma das extremidades em alguma secretaria ou coordenação e na
outra ou na mesma em banheiros (feminino e masculino).
Dentro dos banheiros a disposição dos boxes para vasos sanitários possuem meias-portas,
para que seja possível ver os pés dos usuários. As portas das salas de aulas apresentam visor,
para que o coordenador ou diretor possa observar o professor e os alunos sem que estes
percebam que estão sendo observados. As janelas, na maioria das vezes, possuem um sistema
de esquadrias basculantes subdividas, com vidros pouco translúcidos, de maneira que ao abri-la
o aluno não se distraia com o exterior, mas que permita que possam ser observados pelo lado de
fora.
Configurados para o disciplinamento, os ambientes escolares viabilizam uma abordagem
em que o ensino é centrado no professor e em disciplinas previamente estabelecidas, sendo o
estudante um receptor passivo que deve armazenar o maior número de informações possível
(ELALI, 2002). A utilização de práticas pedagógicas que seguem abordagens em que o ensino
deixa de estar centralizado no professor e o aluno deixa de ser um receptor passivo, passando a
ser um colaborador, que deve buscar/ criar conhecimento junto ao professor, tornam-se
restringidas ou inviabilizadas diante da rigidez da arquitetura disciplinar.
101
2 A arquitetura das escolas que contrapõem o Ensino Tradicional (Disciplinar)
As escolas que contrapõem o Ensino Tradicional são aquelas em que há o discurso4 ou
práticas discursivas5 educacionais libertárias; uma “Pedagogia Libertária”, que segundo
Machado (2004), objetiva preparar indivíduos para superar as condições de exploração e
dominação que sustentam a sociedade, através do desenvolvimento da responsabilidade,
autonomia, respeito, solidariedade, cooperação e criatividade.
De acordo com Mafra da Silva (2008, p. 2),
A escola que contrapõe o Ensino Tradicional segue princípios pedagógicos cujas bases
residem principalmente em teóricos tais como: Dewey e Kilpatrick (Escola Nova –
Instrumentalismo); Decroly (a sala de aula não deve ser limitada por paredes); Montessori
(substituição do ensino verbal pela manipulação de materiais na escrita, na aritmética e nas
ciências; livre escolha das atividades; auto-silêncio para maior controle da mente e do corpo;
exercícios de vida prática; valorização da ginástica; educação dos sentidos e pelos sentidos);
Rudolf Steiner (baseou-se no fundamento Antroposófico – valoriza o aluno como um todo
preparando-o para o trabalho, atividades domésticas, cultivo de hortas, vida social; exige
intensa participação dos pais tanto na escola como em casa); Vigotsky (alertou que o controle
consciente do comportamento e a ação voluntária são fruto da carga genética e historicamente
definidos à partir da relação homem-mundo); Freinet (Método Natural, onde a aprendizagem
se dá pela vida, pela intuição, afetividade e pela troca que o sujeito faz na sua vida social e
meio escolar, progredindo de acordo com suas condições individuais); Jean Piaget (definiu os
quatro estágios do percurso evolutivo do desenvolvimento humano, e preocupou-se com a
estrutura da cognição e desenvolvimento moral do homem); Paulo Freire (defendeu o
4
“Um conjunto de enunciados, na medida em que se apóie na mesma formação discursiva; ele não forma uma
unidade retórica ou formal, indefinidamente repetível e cujo aparecimento ou utilização poderíamos assinalar (e
explicar, se for o caso) na história; é constituído de um número limitado de enunciados para os quais podemos
definir um conjunto de condições de existência” (FOUCAULT, 2012, p.143).
5
“Um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram, em
uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou lingüística, as condições de
exercício da função enunciativa” (FOUCAULT, 2012, p. 144).
102
engajamento social e político como base para a sua educação; além disso, criou e difundiu um
método para alfabetização de adultos que emprega recursos áudios-visuais); Bruner (retomou
as ideias de Vigotsky e Piaget); Gardner (a educação não deve privilegiar apenas as
habilidades mais evidentes no indivíduo, mas estimular suas outras capacidades através da
realização de atividades que tenham enfoques múltiplos); Feuerstein (partiu de conhecimentos
montessorianos e desenvolveu uma seqüência de experiências cujo objetivo é ensinar a pensar)
(ELALI, 2002, p. 75-82).
A Arquitetura da Escola Libertária está além da padronização da forma, da modulação da
estrutura, do layout interno dos ambientes, do tipo de mobiliário, materiais e cores (figuras 8, 9,
10, 11, 12, 13, 14, 15, 16 e 17).
Figura 16: Escola Anaba, Florianópolis, SC. Pedagogia Figura 17: Escola Anaba, Florianópolis, SC. Pedagogia
Waldorf – Maquete eletrônica Waldorf – Maquete eletrônica
Fonte:http://www.kantarq.com.br/projetos_servicos_educa Fonte:http://www.kantarq.com.br/projetos_servicos_educa
cional_anaba.html cional_anaba.html
Figura 18: C E. Erich Walter Heine, em Santa Figura 19: C E. Erich Walter Heine, em Santa Cruz,
Cruz, RJ – Maquete eletrônica – 1ª escola RJ – Telhado verde – 1ª escola Ecológica do Brasil
Ecológica do Brasil Fonte:http://www.araujosam.net/2011/05/rio-de-
Fonte:http://www.araujosam.net/2011/05/rio-de- janeiro-inaugura-primeira-escola-ecologica-do-pais/
janeiro-inaugura-primeira-escola-ecologica-do-
pais/
6
A escola foi desenha pelos Ambientalistas e designers John e Cynthia Hardy.
107
Figura 20: The Green School, Bali, Indonésia. Construída em Bambu
Fonte:http://inhabitat.com/the-green-school-showcases-bamboo-construction-in-
indonesia/
Figura 21: The Green School, Bali, Indonésia. Figura 22: The Green School, Bali, Indonésia. Construída
Construída em Bambu em Bambu - arena
Fonte:http://inhabitat.com/the-green-school- Fonte:http://inhabitat.com/the-green-school-showcases-
showcases-bamboo-construction-in-indonesia/ bamboo-construction-in-indonesia/
A escola possui uma estrutura curricular que enfatiza a educação verde e a Ecologia.
Trabalha práticas da agricultura sustentável, irrigação tradicional, análise da pegada de
carbono, estudos da água, agricultura biológica e jardinagem. O conhecimento é construído
juntamente com o professor e segue os processos pedagógicos desenvolvidos por Rudolf
Steiner, também conhecidos como Pedagogia Waldorf.
No cotidiano da escola, a cada aluno é atribuída uma horta e cada classe tem seu jardim
de flores cujo design é elaborado pelos próprios estudantes. Os estudantes colhem, preparam e
se alimentam do que plantam. As práticas e estudos com enfoque em sustentabilidade são
associados às matérias acadêmicas tradicionais como: matemática, Inglês, ciências, juntamente
com as artes criativas.
108
Figura 23: The Green School, Bali, Indonésia. Figura 24: The Green School, Bali, Indonésia.
Construída em Bambu – sala de aula Construída em Bambu – Planta de implantação
Fonte:http://inhabitat.com/the-green-school- Fonte:http://inhabitat.com/the-green-school-
showcases-bamboo-construction-in-indonesia/ showcases-bamboo-construction-in-indonesia/
Em Bangladesh, no vilarejo rural de Rudrapur, foi construída uma escola (figuras 25, 26,
27 e 28) pela própria comunidade local formada por artesãos, professores, pais e alunos.
A METI School (Modern Education as Training Institute)7 foi projetada numa abordagem
sustentável tanto no partido arquitetônico e construtivo da edificação quanto nos objetivos
pedagógicos (práticas interativas; de construção do conhecimento e desenvolvimento da
criatividade). A edificação foi construída utilizando em torno de 400 toneladas de barro e
bambu, que são recursos abundantes na região e representam menor impacto ao ambiente local.
7
A escola foi projetada pelos arquitetos Anna Heringer e Eike Roswa.
109
Figura 27: Escola construída pela comunidade utilizando Figura 28: Escola construída pela comunidade utilizando
terra e bambu, Rudrapur, Bangladesh – sala de aula no 1º terra e bambu, Rudrapur, Bangladesh – espaço para
pavimento. brincadeiras e leitura.
Fonte:http://style.greenvana.com/2012/escola- Fonte:http://style.greenvana.com/2012/escola-
sustentavel-feita-totalmente-a-mao/ sustentavel-feita-totalmente-a-mao/
Considerações Finais
O disciplinamento está presente na sociedade desde o final do século XVIII objetivando
preparar sujeitos altamente produtivos, especializados e dóceis, imprescindíveis para atender à
demanda do sistema econômico vigente. As práticas pedagógicas que vão de encontro ao
disciplinamento, defendem que o sujeito deve desenvolver autonomia, capacidade
empreendedora, criatividade e um pensamento livre, (in) dependente das forças econômicas e
imposições do Estado (governo) para que dessa forma ele se torne não só produtivo
economicamente, mas consciente ambientalmente e politicamente ativo.
O pólo pedagógico seja o Autoritarismo Educacional (Disciplinar) seja a Educação
Libertária se refletem na Arquitetura das escolas. No primeiro, os partidos arquitetônicos,
mesmo aqueles mais elaborados, apresentam resquícios do Panoptismo (FOUCAULT, 2011),
como a vigilância hierárquica, a fragmentação dos ambientes internos em “celas”, baseados
110
num programa de necessidades e fluxogramas setorizados. As salas de aula são projetadas para
que o professor seja o transmissor absoluto do conhecimento e os alunos os receptores
passivos. Algumas edificações apresentam estruturas tão rígidas que o docente fica
impossibilitado de realizar atividades que não demandem o layout tradicional.
Nessas edificações, a sustentabilidade pode ser constatada através de: processos
construtivos e uso de materiais alternativos objetivando redução do impacto ambiental; gestão
dos resíduos sólidos originados da construção; uso racional da água e da energia elétrica;
adoção de sistemas alternativos como captação e reaproveitamento da água das chuvas;
captação de energia através da instalação de painéis fotovoltaicos; concepção do partido
arquitetônico considerando o estudo bioclimático do local onde serão inseridas.
Já no segundo pólo pedagógico, os partidos arquitetônicos exploram a máxima
flexibilidade dos ambientes e em alguns casos não há qualquer elemento de vedação (paredes).
Os espaços são projetados para a descoberta e atividades que induzam à criatividade,
autonomia e construção do conhecimento junto ao professor.
Aliada ao conceito de Sustentabilidade, a Arquitetura da Escola Libertária “desmonta/
desestabiliza” a rigidez da Arquitetura Disciplinar e o tradicionalismo construtivo; aplica não
só estratégias bioclimáticas em suas concepções, mas resgata a cultura, história, e utiliza
materiais abundantes, renováveis do local onde será inserida. Seu partido arquitetônico parece
nascer daquela terra e moldar-se ao material e ao entorno natural imediato. E em alguns casos,
convida literalmente a comunidade a (re)construí-la contínuamente. Afinal se todo processo de
ensino-aprendizagem é um fluxo, cabe praticá-lo como algo definido, mas jamais definitivo.
Bibliografia
BRUNER, J. Uma nova teoria da aprendizagem. Rio de Janeiro: Bloch, 1969.
111
CORBELLA, O; YANNAS, S. Em busca de uma arquitetura sustentável. São Paulo: Editora
Revan, 2009.
FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 39ª Ed. Petrópolis: Editora Vozes,
2011.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 50ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.
112