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- Metodologia: deixar de considerar a história de uma ciência como movimento linear

e contínuo

- Estabelecer relações entre os saberes

- Individualizar formações discursivas

- “As palavras e as coisas”: tese central – só é possível o aparecimento das ciências


humanas quando, a partir do pensamento de Kant, privilegiaram o homem como
objeto e como sujeito de conhecimento, sendo possível o estudo do homem como
representação

- Propósito da arqueologia, da análise arqueológica: descrever a constituição das


ciências humanas a partir de uma inter-relação de saberes – rede conceitual

- “Como” os saberes apareciam e se tranformavam?

- Em seguida, análise do “por quê” dos saberes – essa é a fase


genealógica

- “Não existe, em Foucault, algo unitário e global chamado poder, mas unicamente
formas díspares, heterogêneas, em constante transformação.”

- O poder não é um objeto natural ou uma coisa: é uma prática social e,


como tal, constituída historicamente

- Para Foucault, toda teoria é provisória, acidental, dependente da situação

- Análises fragmentárias, transformáveis

- Não sinonímia entre Estado e poder

- Articulação do Estado com poderes locais, específicos, circunscritos a uma pequena


área de ação

- Mecânica do poder: estender-se por todo o corpo social

- Esse poder atinge a realidade concreta dos indivíduos, agindo sobre seu corpo em
atos cotidianos

- Micropoder ou subpoder

- Esses poderes periféricos e moleculares não estão necessariamente ligados ao Estado


em sua gênese ou funcionamento

- Esses micropoderes existem integrados ou não ao Estado

- Essa “independência” dos poderes capilares podem acompanhar ou não as mudanças


do próprio Estado
- “Nem o controle nem a destruição do aparelho do Estado é suficiente para fazer
desaparecer ou para transformar, em suas características fundamentais, a rede de
poderes que impera em uma sociedade.”

- Nível molecular do exercício de poder

- Poder não como dominação global e centralizada

- O Estado não deve ser o ponto de partida

- Os poderes não estão localizados em nenhum ponto específico; é uma rede

- O poder não existe; existem práticas ou relações de poder. É algo que se exerce, que
se efetua, que funciona

- Se dissemina por toda a estrutura social; não é um objeto, uma coisa, mas uma
relação

- O poder se exerce, se disputa

- Investigação do modo de ação do poder – genealogia – concepção jurídica do poder

- Concepção negativa de poder: baseado na repressão; ligado


fundamentalmente ao Estado e ao direito

- Concepção positiva de poder: Foucault; dissociar os termos


dominação e repressão. A dominação capitalista não conseguiria se manter se fosse
unicamente baseada na repressão; dominação disciplinar

- Poder: eficácia, estratégia, positividade; tem como alvo o corpo humano, não para
mutilá-lo, mas para aprimorá-lo, adestrá-lo

- Gerir a vida dos homens para que sejam utilizados ao máximo (sujeito-
assujeitado; matéria-prima)

- Neutralização dos efeitos do contrapoder; tornar os homens dóceis politicamente

- Tecnologia de controle

- Panopticon, de Bentham – Foucault chamou de disciplina, ou poder disciplinar

- Um poder que não atua do exterior, mas trabalha o corpo dos homens

- Fabrica o tipo de homem necessário ao funcionamento e à


manutenção da sociedade

- A disciplina é um tipo de organização do espaço e um controle do tempo. A vigilância


é um de seus principais instrumentos de controle
- “Olhar invisível – como o do panopticon de Bentham, que permite ver
tudo permanentemente sem ser visto – que deve impregnar quem é vigiado de tal
modo que este adquira de si mesmo a visão de quem o olha”

- Tornar o homem útil e dócil

- Surge uma das teses fundamentais da genealogia: o poder é um produtor de


individualidade. O indivíduo é uma produção do poder e do saber

- “Atuando sobre uma massa confusa, desordenada e desordeira, o


esquadrinhamento disciplinar faz nascer uma multiplicidade ordenada no selo da qual
o indivíduo emerge como alvo do poder”

- Isolamento celular – sistemas penitenciários

- “O poder disciplinar não destrói o indivíduo; ao contrário, o fabrica. O indivíduo não é


o outro do poder, realidade exterior, por ele anulado; é um de seus mais importantes
efeitos.”

- Esse poder é específico de uma época, de uma forma específica

- Das técnicas disciplinares, que são técnicas de individualização, nasce um tipo


específico de saber: as ciências do homem

- Saber-poder: “todo conhecimento, seja ele cientifico ou ideológico, só pode existir a


partir de condições políticas que são as condições para que se formem tanto o sujeito
quanto os domínios de saber.”

- Todo saber é político, pois tem sua gênese nas relações de poder

- Não há relação de poder sem constituição de um campo de saber, e,


reciprocamente, todo saber constitui novas relações de poder

- Todo saber assegura o exercício de um poder. “Vivemos cada vez mais


sob o domínio do perito”

- O saber funciona na sociedade dotado de poder. É como saber que tem poder

- Biopoder – biopolítica das populações – regulação das populações; gerir a vida do


corpo social

- Poder pastoral: cristianismo

- Estado moderno: racionalidade política

VERDADE E PODER

- Estatuto político da ciência – poder e saber


- Psiquiatria – ciência pouco desenvolvida; mais fácil enxergar sua formação política

- O ideal continuísta das ciências é interrompido por rupturas de cunho político ao


longo da história, o que revela sua transformação paralela à transformação das
relações de poder

- “O que está em questão é o que rege os enunciados e a forma como eles se regem a
si mesmos e entre si para constituir um conjunto de proposições aceitáveis
cientificamente e, consequentemente, suscetíveis de serem verificadas ou infirmadas
por procedimentos científicos.”

- Problema de política no enunciado científico

- Dicotomia entre as estruturas (pensável) e o acontecimento (impensável)

- Distinguir os acontecimentos ao mesmo tempo em que se reconstitui os fios que os


ligam

- História: relação de poder, não relação de sentido

- Análise da mecânica, da forma do poder

- Genealogia: forma de história que dê conta da constituição dos saberes, dos


discursos, dos domínios de objeto, sem ter que se referir a um sujeito

- O sujeito é constituído pela trama histórica

- Visão aberta, fora do domínio único do sujeito

- A noção de repressão não basta para compreender o poder

- “O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é


simplesmente que ele não pesa só como uma força que diz não, mas que de fato ele
permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso.”

- Uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social

- Intelectual específico e intelectual universal

- A verdade não existe fora do poder ou sem poder

- “A verdade é deste mundo (contrapõe as essências de Platão); ela é


produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados pelo
poder.”

- As estruturas de poder de determinada sociedade definem sua verdade e julgam


todo o resto como válido ou não de acordo com essa verdade

- A verdade é centrada na forma do discurso científico e nas instituições que o


produzem
- “É preciso pensar os problemas políticos dos intelectuais não em termos de
‘ciência/ideologia’, mas em termos de ‘verdade/poder’.”

- “A verdade está circularmente ligada a sistemas de poder, que a produzem e apoiam,


e a efeitos de poder que ela induz e que a reproduzem.”

- A questão política é a própria verdade, aquela que a produz

NIETZSCHE, A GENEALOGIA E A HISTÓRIA

- Genealogia – reconhecer a descontinuidade

- O segredo das coisas é sem essência; sua essência foi construída peça por peça a
partir de figuras que lhe eram estranhas

- “O que se encontra no começo histórico das coisas não é a identidade ainda


preservada da origem – é a discórdia entre as coisas, é o disparate.”

- Demorar-se nas meticulosidades e nos acasos dos começos

- Descobrir que na raiz daquilo que nós conhecemos e daquilo que nós somos não
existem a verdade e o ser, mas a exterioridade do acidente

- Crítica

- Pesquisa da proveniência – agita o que se percebia imóvel, fragmenta o que se


pensava unido

- “A genealogia, como análise da proveniência, está, portanto, no ponto de articulação


do corpo com a história. Ela deve mostrar o corpo inteiramente marcado de história e
a história arruinando o corpo.”

- A humanidade não progride para um fim perfeito (Hegel). Ela instala cada uma de
suas violências em um sistema de regras e prossegue assim de dominação em
dominação

- “A História ‘efetiva’ se distingue daquela dos historiadores pelo fato de que ela não
se apoia em nenhuma constância: nada no homem – nem mesmo seu corpo – é
bastante fixo para compreender outros homens e se reconhecer neles.”

- Destruir o movimento contínuo da História

- “A História será efetiva à medida que reintroduzir o descontínuo em nosso ser.”

- A História efetiva faz ressurgir o acontecimento no que ele pode ter de


único e agudo

- As forças na História se encontram ao acaso da luta. A história é belicista


- O verdadeiro sentido histórico reconhece que vivemos sem referências ou sem
coordenadas originárias, em miríades de acontecimentos perdidos

- A História efetiva: saber perspectivo

- “O sentido histórico, tal como Nietzsche o entende, sabe que é


perspectivo e não recusa o sistema de sua própria injustiça.”

- Fazer aparecer todas as descontinuidades que nos atravessam

SOBRE A JUSTIÇA POPULAR

- “A minha hipótese é que o tribunal não é a expressão natural da justiça popular, mas,
pelo contrário, tem por função histórica reduzi-la, dominá-la, sufocá-la, reinscrevendo-
a no interior de instituições características do aparelho de Estado.”

- Justiça popular – ato antijudiciário, se opõe à própria forma do tribunal

- A forma do tribunal deforma a justiça popular

- A justiça popular é parcial

- Três elementos do tribunal: um terceiro elemento “neutro”; uma forma ou ideal de


justiça universal; uma decisão com poder executório

- O sistema penal teve por função introduzir um certo número de contradições no seio
das massas e, em particular, uma contradição maior: opor os plebeus proletarizados
aos plebeus não proletarizados

- “Por isso o tribunal, como forma exemplar dessa justiça, me parece ser
um lugar de infiltração da ideologia do sistema penal na prática popular. Por isso
penso que não devemos apoiar-nos em um modelo como esse.”

- Engels: associação – ruptura com a competição elementar do capitalismo

- Sistema penal: introduzir contradições no seio do povo; construir divisões

- É um produto da própria burguesia

- Deve inventar a justiça popular, criá-la; não tentar adaptá-la às formas que combate

- “Um ato de justiça popular não pode atingir a plenitude de sua significação se não for
politicamente elucidado controlado pelas próprias massas.”

- “É do ponto de vista da propriedade que há roubo e ladrão”

OS INTELECTUAIS E O PODER – Foucault e Deleuze


- Teoria-local, relacionada a um pequeno domínio

- “A prática é um conjunto de revezamentos de uma teoria a outra e a teoria um


revezamento de uma prática a outra.”

- Tarefa do intelectual: não se colocar no exterior como porta-voz da verdade, mas de


lutar contra as formas de poder onde ele mesmo é objeto e instrumento

- A teoria, assim, é uma prática, mas não totalizadora. É regional e local. Ela se
multiplica

- “Por isso a noção de reforma é tão estúpida e hipócrita.”

- Esse sistema em que vivemos nada pode suportar. Tudo deve estar integrado a ele

- A prisão é onde o poder se manifesta em estado puro

- “Penso que, atrás do ódio que o povo tem da justiça, dos juízes, dos tribunais, das
prisões, não se deve apenas ver a ideia de outra justiça melhor e mais justa, mas, antes
de tudo, a percepção de um ponto singular em que o poder se exerce em detrimento
do povo.”

- A própria forma do tribunal pertence a uma ideologia da justiça que é a


da burguesia

- Todos os indivíduos exercem função policial

- “Onde há poder, ele se exerce”. Ninguém é seu titular.

- Não se sabe ao certo quem o detém, mas se sabe quem não o possui

- O problema do poder como interesse, no marxismo

- “Como é possível, então, que pessoas que não têm muito interesse nele
sigam o poder, se liguem estreitamente a ele, mendiguem uma parte dele?”

- Não é apenas o interesse

- Willhem Reich: “Não, as massas não foram enganadas, em determinado momento


elas efetivamente desejaram o fascismo.”

- Relação entre desejo, interesse e poder

O NASCIMENTO DA MEDICINA SOCIAL

- A medicina moderna é uma medicina social – tecnologia do corpo social

- Capitalismo – século XVIII e XIX – socializou o corpo enquanto força de trabalho


- Domínio sobre o corpo, que é uma realidade biopolítica. A medicina é uma estratégia
biopolítica

- Três etapas na formação da medicina social: medicina de Estado, medicina urbana e


medicina da força de trabalho

- Estatísticas de nascimento e mortalidade – gestão da vida – aperfeiçoar o corpo social

- Normalização do ensino médico

- Médico como administrador da saúde

- Estatização da medicina na Alemanha

- Urbanização – é com o desenvolvimento das estruturas urbanas que se desenvolve,


na França, a medicina social

- Organização do corpo social urbano – eficácia

- Política sanitária – quarentena

- “O mecanismo da exclusão era o mecanismo do exílio, da purificação do espaço


urbano. Medicalizar alguém era mandá-lo para fora e, por conseguinte, purificar os
outros. A medicina era uma medicina de exclusão.”

- A individualização dos cadáveres, dos túmulos, surge por uma motivação não
teológico-religiosa, mas por uma razão político-sanitária. Gestão da higiene urbana

- Organizar a confusão – gestão

- A medicina urbana não é uma medicina dos homens, mas uma medicina das coisas

- Surge no século XVIII a noção de salubridade

- “A salubridade não é a mesma coisa que saúde, e sim o estado das


coisas, do meio e seus elementos constitutivos, que permitem a melhor saúde
possível. Salubridade é a base material e social capaz de assegurar a melhor saúde
possível dos indivíduos.”

- Controle médico dos pobres – se mantiverem o controle sobre seus corpos doentes, a
revolta se torna mais difícil

- Inglaterra – medicina de controle da saúde e dos corpos – torná-los aptos ao


trabalho; controle das classes mais pobres

- “Essa forma da medicina social inglesa foi a que teve futuro, diferentemente da
medicina urbana e sobretudo da medicina de Estado.”

- Medicina social inglesa: medicina assistencial (destinada aos


pobres); medicina administrativa (controle de vacinação, epidemias etc.); e medicina
privada (àqueles que podem pagar)
O NASCIMENTO DO HOSPITAL

- Hospital até início do século XVIII como local estratégico de recolhimento de pobres,
de exclusão

- Como se deu a transformação, isto é, como o hospital foi medicalizado e a medicina


pôde tornar-se hospitalar?

- Organização do hospital – a partir da técnica disciplinar

- Disciplina – técnica de exercício do poder

- Os mosteiros são um bom exemplo do poder disciplinar

- Pode disciplinar – século XVIII – técnica de gestão de homens

- O desenvolvimento disciplinar acompanha o desenvolvimento técnico – técnica e


disciplina

- Distribuição espacial dos indivíduos

- Discplina – análise do espaço – exerce seu controle não sobre o resultado de uma
ação, mas sobre seu desenvolvimento – busca da eficácia máxima

- Gestão disciplinar de corpos

- Disciplina – técnica de poder – implica em uma vigilância perpétua e constante dos


indivíduos

- “É preciso vigiá-los durante todo o tempo da atividade e submetê-los a


uma perpétua pirâmide de olhares.” (burocracia?)

- A disciplina implica um registro contínuo

- A soberania central, global, nuclear tem força sobre grandes grupos

- “A disciplina é o conjunto de técnicas pelas quais os sistemas de poder


vão ter por alvo e resultado os indivíduos em sua singularidade. É o poder de
individualização que tem o exame como instrumento fundamental.”

- Gerir e aperfeiçoar os átomos da estrutura de poder

- Individualidade atomizante?

- Hospital médico – disciplinarização do espaço hospitalar

- Não é só um lugar de cura, mas também de registro, acúmulo e


formação de saber

- Indivíduo como objeto do saber e da prática médica


A CASA DOS LOUCOS

- “Se existe uma geografia da verdade, é a dos espaços onde reside, e não
simplesmente a dos lugares onde nos colocamos para melhor observá-la.”

- A verdade não como aquilo que se é, mas como aquilo que se dá – ela é
acontecimento

- Não é encontrada, mas suscitada. É produzida

- Forma de poder-e-de-saber – poder-saber

- O poder produz saber e é por ele tocado

- “Como se pode ver, tudo é questão de poder: dominar o poder do louco, neutralizar,
os poderes que de fora possam se exercer sobre eles, estabelecer um poder
terapêutico e de adestramento, de ‘ortopedia’”.

- O puro poder-saber do médico contra o nada de poder-saber do paciente

- “Aquilo que estava logo de início implicado nas relações de poder, era o
direito absoluto da não loucura sobre a loucura.”

- Normalidade se impondo à desordem e ao desvio

- O louco se encontra despojado de todo saber e todo poder sobre a sua


doença. Ou seja, apresentam-lhe um estado (a doença), concebida pela forma de
poder-saber dos médicos e que só através dessa estrutura de verdade a doença será
sanada. Total domínio sobre o “louco”

- Cria-se a doença

- Conhecimento: forma singular de poder-saber

SOBRE A PRISÃO – “Foucault se ocupa apenas dos medíocres.”

- Economia do poder: é mais eficaz e rentável vigiar do que punir – século XVIII e XIX

- Mecânica do poder – forma capilar de existir – ponto em que o poder encontra o


nível dos indivíduos, sua vida cotidiana

- Exercício do poder no corpo social, não sobre o corpo social

- Prisão: projeto de transformação dos indivíduos

- Constatou-se, desde 1820, que a prisão não “recuperava” os indivíduos, mas


afundava-os ainda mais no crime

- Logo, os criminosos não poderiam ser uma massa sobressalente. A estrutura de


poder deu logo conta de encontrar uma utilidade para eles
- “Os delinquentes servem para alguma coisa.”

- Por exemplo, as casas de prostituição. Algo antes destacado que foi


incorporado, integrado à estrutura fundamental de poder

- “A prisão profissionalizava”

- Concepção primitiva do trabalho penal: adestrar o indivíduo a trabalhar pelo


trabalho, imotivado

- ”Sem delinquência não há polícia. O que torna a presença policial, o controle policial
tolerável pela população senão o medo do delinquente?”

- “Se se impõe um castigo a alguém, não é para punir o que ele fez, mas para
transformá-lo no que ele é.”

- “Exercer o poder cria objetos de saber, os faz emergir, acumula informações e as


utiliza.”

PODER – CORPO

- “É o corpo da sociedade que será o novo princípio no século XIX.”

- Proteger o corpo

- Domínio do poder sobre o corpo dos indivíduos

- Controle da masturbação durante o século XVIII

- Constante vigilância

- O poder se exerce nos e sobre os corpos – nada é mais material do que ele

- O poder não é apenas repressivo, não se exerce apenas negativamente – “se ele é
forte, é porque produz efeitos positivos no nível do desejo – como se começa a
conhecer – e também no nível do saber.”

- “O poder , longe de impedir o saber, o produz.”

- “Uma das primeiras coisas a compreender é que o poder não está localizado no
aparelho de Estado e que nada mudará na sociedade se os mecanismos de poder que
funcionam fora, abaixo, ao lado dos aparelhos de Estado, em um nível muito mais
elementar, quotidiano, não forem modificados.”

- Exemplo do que ocorreu na URSS

- Arqueologia das ciências humanas: estudo dos mecanismos que penetram nos
corpos, nos gestos, nos comportamentos

- O intelectual como fornecedor de instrumentos de análise


SOBRE A GEOGRAFIA

- “A arqueologia do saber é simplesmente um modo de abordagem.”

- O caminho aleatório da verdade

- Metodologia da descontinuidade

- “Território é sem dúvida uma noção geográfica, mas é antes de tudo uma noção
jurídico-política: aquilo que é controlado por um certo tipo de poder.”

- O saber funciona como um poder e produz os seus efeitos

- Pan-opstismo: vigilância integral

- Não são centralizados na figura do Estado, são, antes, dispersos e


regionais

- Cada indivíduo veicula o poder e este a todos perpassa

GENEALOGIA E PODER

- Caráter locar da crítica: produção teórica autônoma, não centralizada; para sua
validade, não precisa estar subsumida a um sistema comum

- Por um saber não dominada – retorno de saber

- Saber dominado: aquele mergulhado na coerência funcional e na sistematização


formal; e aquele desqualificado, taxado de não competente, invalidado pelo
cientificismo

- A crítica vem para desvelar esses saberes

- Projeto genealógico: ativar saberes locais, descontínuos, contra a instância teórica


unitária que tenta integrá-los e ordená-los

- Insurreição desses saberes contra o poder que homegeiniza o saber em sua virtude

- Discurso cientítico – saber – é um poder

- “São os efeitos de poder próprios a um discurso considerado como científico que a


genealogia deve combater.”

- Genealogia: empreendimento para libertar da sujeição os saberes históricos, isto é,


torná-los capazes de oposição e de luta contra a coerção de um discurso teórico,
unitário, formal e científico

- Teoria da descontinuidade
- “Insurreição dos saberes contra a instituição e os efeitos de poder e de saber do
discurso científico.”

- A metodologia da descontinuidade é anti-unitária, anti-revisionista, anti-massificante

- A relação entre política e economia, ou Estado e economia, não deve ser vista apenas
como uma relação de subordinação

- O poder se exerce, só existe em ação

- O poder não está apenas nas relações econômicas, mas também, e


principalmente, nas relações de força

SOBERANIA E DISCIPLINA

- O “como” do poder: sua representação oficial no direito e os efeitos de verdade que


o poder produz e alastram pelo corpo social, que o reproduz

- Um triângulo: poder, direito e verdade

- “Somos obrigados pelo poder a produzir verdade, somos obrigados o condenados a


confessar a verdade ou a encontrá-la.”

- O poder produz verdade e por ela gera efeitos

- O modo como somos obrigados a viver é um efeito e reprodução de uma verdade


que é, por sua vez, um efeito do poder, que se manifesta no nosso próprio agir

- O direito: fixar a legitimidade do poder

- O direito como dominação e sujeição

- Perguntar-se não por que alguns querem dominar, mas como se dá o processo de
sujeição, o processo que continuamente sujeito os corpos

- “Em outras palavras, em vez de perguntar como o soberano aparece no topo, tentar
saber como foram constituídos, pouco a pouco, progressivamente, real e
materialmente os súditos...”

- “O poder deve ser analisado como algo que circula, ou melhor, como algo que só
funciona em cadeia.”

- O poder se exerce em rede – os indivíduos não só sofrem sua ação, mas também a
exercem

- Os indivíduos são centros de transmissão – o poder não se aplica a eles; passa por
eles

- “O indivíduo não é o outro do poder: é um de seus primeiros efeitos.”


- “Examinar historicamente, partindo de baixo, a maneira como os mecanismos de
controle puderam funcionar.”

- Micromecânica do poder – dominação

- Tudo na micromecânica do poder torna-se útil

- Constrói-se o saber nas zonas capilares para que ali o poder se exerça e domine

- Linha metodológica: enxergar o poder fora do campo delimitado pela soberania


jurídica e pela instituição estatal; estudá-lo com base em técnicas e táticas de
dominação

- “É um mecanismo que permite extrair dos corpos tempo e trabalho


mais do que bens e riquezas.”

- É um poder que se exerce continuamente através da vigilância

- Oposição à soberania tradicional

- Micropoder: gasto mínimo e eficiência máxima

- Esse tipo de poder é uma invenção da sociedade burguesa

- “Esse poder não soberano, alheio à forma da soberania, é o poder disciplinar.”

- “O discurso da disciplina é alheio ao da lei e da regra enquanto efeito da vontade


soberana.”

- Disciplinas: veiculam uma regra “natural”, uma norma que tem por função e efeito a
normalização

- Dois discursos: soberania e disciplina

- Sociedade de normalização

- “Direito da soberania e mecanismos disciplinares são duas partes intrinsecamente


constitutivas dos mecanismos gerais do poder em nossa sociedade.”

- Contra a disciplina não serve a soberania, mas um novo direito antidisciplinar

A POLÍTICA DA SAÚDE NO SÉCULO XVIII

- Doenças como problema político e econômico – século XIX

- Preservação, manutenção e conservação da força de trabalho

- Efeitos econômico-políticos da acumulação dos homens

- Projeto de uma tecnologia da população


- Gestão econômica: os corpos dos indivíduos são avaliados em seu grau de utilidade e
rentabilidade

- Gestão de corpos – medicina moderna

- A família medicalizada-medicalizante

- Médicos – programadores de uma sociedade bem administrada

- “O hospital, em todo o caso, deve se tornar um elemento funcional em um espaço


urbano onde seus efeitos devem poder ser medidos e controlados.”

- Eficácia

O OLHO DO PODER

- O Panopticon, de Jeremy Bentham

- Na periferia, uma construção em anel; no centro, uma torre com vistas para tudo

- A periferia é dividada em celas, e cada uma delas tem uma janela abrindo-se para o
interior e uma para o exterior; alguém vigia e alguém é vigiado

- É um ponto central, a torre, que deve ser o lugar de exercício do poder e, ao mesmo
tempo, de registro do saber

- Tecnologia de poder – problema de vigilância

- “As mudanças econômicas do século XVIII tornaram necessário fazer circular os


efeitos do poder, por canais cada vez mais sutis, chegando até os próprios indivíduos,
seus corpos, seus gestos, cada um de seus empenhos cotidianos. Que o poder, mesmo
tendo uma multiplicidade de homens a gerir, seja tão eficaz quanto se ele se exercesse
sobre um só.”

- No panopticon, cada indivíduo torna-se um vigia

- Economia do poder – vigilância constante – disciplina – cada um vigia a si e aos outros

- O poder: uma maquinaria que se exerce através de todos, mas que ninguém é titular

- No panopticon, cada um é vigiado por todos – desconfiança total e circulante

- As camadas de poder se sustentam reciprocamente, as de baixo e as de cima

- “As técnicas de produção foram inventadas para responder às exigências da


produção. Falo de produção em sentido amplo.”

- Função tripla do trabalho: função produtiva, função simbólica e função de


adestramento ou disciplinar – elas coabitam
- A revolução se daria com a destruição da torre, não com os prisioneiros operando-a

NÃO AO SEXO REI

- Um fio que liga o sexo à procura da verdade

- “O sexo foi aquilo que, nas sociedades cristãs, era preciso examinar, vigiar, confessar,
transformar em discurso.”

- Falar de sexualidade apenas para proibi-la

- A sexualidade é também raptada pela economia complexa do poder

- Mas não é apenas a repressão que faz a miséria sexual

- Sexualidade infantil – construir uma rede de poder sobre a infância – não é negativo,
é positivo

- “A sexualidade não é fundamentalmente aquilo de que o poder tem medo; mas ela é,
sem dúvida e antes de tudo, aquilo através de que ele se exerce.”

- “As relações de poder estão talvez entre as coisas mais escondidas no corpo social.”

- “A questão da filosofia é a questão presente que é o que somos. Daí a filosofia hoje
ser inteiramente política e inteiramente indispensável à política.”

- Onde existe poder, existe resistência – e essa resistência deve ser como o poder; em
rede, móvel, de baixo para cima

- Questão da atualidade – o intelectual inteiramente do presente, destruidor de


evidências e universalidades

SOBRE A HISTÓRIA DA SEXUALIDADE

- Dispositivo de sexualidade: é a disposição da sexualidade na realidade material


humana, a rede entre seus componentes, o que é dito e não dito sobre ela

- Um tipo de formação que em determinado momento histórico teve de


responder a uma urgência

- O dispositivo tem natureza estratégica

- “É isto o dispositivo: estratégias de relações de força sustentando tipos de saber e


sendo sustentadas por eles.”
- “É o dispositivo que permite separar não o verdadeiro do falso, mas o inqualificável
cientificamente do qualificável.”

- O poder não existe

- Compreender como as grandes estratégias de poder se incrustam e encontram suas


condições de exercício nas microrrelações de poder

- Uma estratégia sem estrategista

- Encontrar as condições que fizeram com que a sexualidade entrasse nas estratégias
de poder, como uma verdade a ser produzida, um saber a ser registrado e um
mecanismo de poder a ser exercido

- Relação poder-saber

- Produção de verdade; produção de validade das coisas do mundo

- Ocidente – discurso científico

- Objeto sexualidade – dispositivo de sujeição milenar

- O discurso da utilidade totalizante e universalizante que surge na forma de poder a


partir do século XVIII

A GOVERNAMENTALIDADE

- Relação entre segurança, população e governo

- “A arte de governar” – matemática de como governar

- O Príncipe, de Maquiavel

- O príncipe e seu reino – relação de exterioridade

- Gestão geral – governo de coisas e de homens

- O governo tem uma finalidade, e nisso se opõe à soberania

- Sabedoria do governante soberano: conhecimento das coisas, dos objetivos que deve
procurar atingir e da disposição para atingi-los

- Diligência: aquilo que faz com que o governante só deva governar à medida que se
considere e aja como se estivesse a serviço dos governados

- Arte de governar – séculos XVI e XVII – razão de Estado

- Razão de Estado no sentido positivo – as regras racionais que lhe são


próprias

- A família como instrumento


- De modelo, a família passa a instrumento

- Inverte-se o quadro: a soberania passa a ser um elemento caracterizado “pela” arte


de governar, pela arte de gestão – não mais se emana da soberania, ela é emanada e
condicionada pela forma de poder que está no corpo social

- Gestão da população – técnica disciplinar – não é global, é capilar, vai direto nos
indivíduos

- Trata-se de um triângulo: soberania – disciplina – gestão

- Estado governamentalizado – gestão

- A governamentalização do Estado foi o fenômeno que permitiu ao


Estado sobreviver

- Táticas gerais de governo

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