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Vigiar e Punir – Michel Foucault

Primeira Parte - Suplício

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– O corpo está diretamente mergulhado num campo político; as relações de poder
também têm alcance imediato sobre ele; elas o investem, o marcam, o dirigem, o
supliciam, sujeitam-no a trabalhos, obrigam-no a cerimônias, exigem-lhe sinais;
- Este investimento político do corpo está ligado, segundo as relações complexas e
recíprocas, à sua utilização econômica; é, numa boa proporção, como força de
produção que o corpo é investido por relações de poder e de dominação; mas em
compensação a sua constituição como força de trabalho só é possível se ele está preso
num sistema de sujeição (onde a necessidade é também um instrumento político
cuidadosamente organizado, calculado e utilizado);

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- o corpo só se torna útil se é ao mesmo tempo corpo produtivo e corpo submisso;
CORPO ÚTIL: CORPO SUBMISSO + CORPO PRODUTIVO;
- a submissão do corpo está relacionada a um “saber” do corpo que constitui o que
poderia se chamar de “tecnologia política do corpo”;
- Tecnologia política do corpo: é difusa, instrumentação multiforme; é impossível
localizá-la em um tipo definido de instituição ou num aparelho do Estado (porque as
instituições e os Estados recorrem a essa tecnologia política do corpo, utilizam ela e
impõem algumas maneiras de agir); Trata-se de alguma maneira de uma microfísica do
poder posta em jogo pelos aparelhos e instituições, mas que o campo de validade se
coloca de algum modo entre esses grandes funcionamentos e os próprios corpos com a
sua materialidade e os próprios com sua materialidade e suas forças;
- O estudo dessa microfísica, ou seja, dessa tecnologia política do corpo que constitui a
submissão do corpo supõe que o poder nela exercido não seja concebido como uma
propriedade, mas como uma estratégia; que seus efeitos de dominação não sejam
atribuídos a uma “apropriação”, mas a disposição, a manobras, táticas, a técnicas,
a funcionamentos; que se desvende nele antes uma rede de relações sempre tensas;
- O poder se exerce mais que possui, que não é o privilégio adquirido ou conservado de
uma “classe dominante” (tipo, não é coisa de herdeiro, burguês), mas o poder é o efeito
de conjunto de suas posições estratégicas (efeito manifestado e às vezes
reconduzido pela posição dos que são dominados).
- O poder investe as pessoas, passa por elas e através delas. O poder se apoia nas
pessoas, do mesmo modo que as pessoas se apoiam nele; na luta contra esse poder, as
pessoas se apoiam nos pontos que o poder alcança;
- A tecnologia política do corpo se situa num nível completamente diferente (que aqui
entendo como sendo um saber do corpo e que age através do poder) não se localiza nas
relações do Estado com os cidadãos, ou na fronteira das classes. O poder extrapola os
níveis individuais, dos corpos, dos gestos e dos comportamentos e não se contenta em
reproduzir nessas pessoas e grupos a forma geral da lei ou do governo;

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- O poder produz saber, e não age simplesmente o favorecendo porque o poder serve ao
saber ou o aplica porque é útil;
- Poder e saber estão diretamente implicados e que não há relação de poder sem
constituição correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não
constitua ao mesmo tempo relações de poder;
- É preciso considerar que o sujeito que conhece, os objetos a conhecer e as
modalidades de conhecimentos são outros tantos efeitos das implicações fundamentais
do poder-saber e das suas transformações históricas;
- Não é a atividade do sujeito do conhecimento que produziria um saber, útil ou arredio
ao poder, mas o poder-saber, os processos e as lutas que o atravessam e que o
constituem, que determinam as formas e os campos possíveis do conhecimento;
- Analisar o investimento político do corpo e a microfísica do poder supõe que se
renuncie - no que se refere ao poder- à oposição violência-ideologia, à metáfora da
propriedade, ao modelo do contrato ou da conquista;
- No que se refere ao saber, que se renuncie à oposição do que é interessado e do que é
desinteressado, ao modelo do conhecimento e ao primado do sujeito;
- Corpo político: conjunto de elementos materiais e técnicas que servem de armas, de
reforço, de vias de comunicação e de pontos de apoio para as relações de poder e de
saber que investem os corpos humanos e os submetem fazendo deles objetos do saber;

Segunda Parte – Punição


Capítulo 1 – A Punição Generalizada

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- na segunda metade do século xviii começou um protesto contra os suplícios, que se
deu entre s filósofos e teóricos do direito, juristas, magistrados, parlamentares...;
- os reformadores do século xviii denunciaram o exercício legítimo do poder, que é a
tirania, e que, segundo eles, se opõe à revolta;
- “É preciso que a justiça criminal puna ao invés de se vingar”;
P. 65
- no sec xix o homem criminoso se tornará alvo da intervenção penal, o objeto que ela
pretende corrigir e transformar, “o domínio de uma série de ciências e de práticas
estranhas – ‘penitenciárias’, ‘criminológicas’;
- fronteira legítima do poder de punir;
- não se trata de o que a “justiça criminal” tem que atingir se quiser modificar o homem
criminoso, mas o que ela tem que deixar intacto para estar em condições de respeitá-lo;
- o homem se torna “homem-medida”, mas especificamente o homem do cadafalso, que
seria o homem medida não das coisas, mas do poder;
- Foucault já falou que não é um saber positivo que leva o homem a ser posto como
objeção à barbárie, isso ele ta falando porque o século xix é o século das luzes, né, ou
18, seilá, e aí tem esse rolê de homem e saber e aí ele critica que não é isso que faz com
que o homem seja oposto à barbárie, mas o homem se opõe à barbárie como um limite
de poder, como limite de direito, como frontira legítima do poder de punir;
- foi o século xviii que abriu a crise dessa economia e popos para resolvê-la a lei
fundamental de que o castigo deve ter a “humanidade” como “medida”;
- grandes reformadores do sécxviii: Beccaria, Servan, Dupaty ou Lacretelle, Duport,
Pastoret, Target e Bergasse;
- nesse período os crimes perderam violência e as punições reduziram, em parte, a sua
intensidade;
- delitos contra a propriedade prevalecem sobre os crimes violentos...modifica-se a
organização interna da delinquência;
- essa modificação de suavização dos crimes e suavização das leis se trata de “uma
modificação no jogo das pressões econômicas, de uma elevação geral no nível de vida,
de um forte crescimento demográfico, de uma multiplicação das riquezas e das
propriedades e da ‘necessidade de segurança que é uma consequência da multiplicação
das riquezas’” P. 65;
- Somado a isso, a justiça se tornara mais severa, puniu-se muitos crimes capitais e
começou a punir a vadiagem...toda uma pequena delinquência que antes a justiça
deixava escapar;
- ares burgueses de justiça de classe;

P. 66
- desenvolvimento da produção; aumento das riquezas; valorização jurídica e moral das
relações de propriedade; métodos de vigilância mais rigorosos; policiamento mais
estreito da população; técnicas mais bem ajustadas de descoberta, captura, informação;
- o que muda é uma vigilância penal mais atenta do corpo social;
P. 67
- Quando se eleva o limiar da passagem para os crimes violentos, também aumenta a
intolerância aos delitos econômicos, os controles ficam mais rígidos, as intervenções
penais se antecipam mais e tornam-se mais numerosas;
- os reformadores criticavam sim o excesso dos castigos, mas era um excesso que estava
bem mais ligado a uma irregularidade que a um abuso do poder de punir;
- a justiça é irregular por: 1. A justiça penal é irregular por conta das múltiplas
instâncias que estão encarregadas de realizá-la, sem nunca constituir uma pirâmide
única contínua. Acerca dessa continuidade, ele cita que a justiça pela é irregular porque
é descontínua e há conflitos entre as diferentes justiças: a dos senhores, as do rei; as que
estão a cargo de instâncias administrativas, como os policiais e também a outra instância
que nasce do direito que o rei tem ou seus representantes de tomar decisões de
internamento ou de exílio fora de qualquer procedimento regular; essas instâncias, citei
4, por sua superabundância, se neutralizam e não conseguem dar conta do corpo social
em toda a sua extensão. A confusão torna essa justiça paradoxalmente lacunosa,
lacunosa por conta das diferenças de costumes e de procedimentos, pelos conflitos
internos de competência, pelos conflitos particulares, lacunosa também devido às
intervenções do poder real que podem impedir o curso regular e austero da justiça, pelos
perdões, comutações, evocações em conselho ou pressões direitas sobre os magistrados;

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- O que ressalta a crítica dos reformadores não é tanto a crueldade das penas, dos
suplícios, mas sim a MÁ ECONOMIA DO PODER;
- a paralisia da justiça está ligada menos a um enfraquecimento dela, na verdade diz
respeito bem mais a uma distribuição mal regulada do poder, a sua concentração a um
certo número de pontos e aos conflitos e descontinuidades que daí se resultam;
- essa disfunção do poder tem a ver com o “superpoder” monárquico que identifica o
direito de punir com o poder pessoal do soberano;
- o verdadeiro objetivo da reforma não é fundar um novo direito de punir a partir de
princípios mais equitativos, mas estabelecer uma nova “economia” do poder de
castigar, assegurar uma melhor distribuição dele, fazer com que não fique concentrado
demais em alguns pontos privilegiados, nem partilhado demais entre instâncias que se
opõe; se seja repartido em circuitos homogêneos que possam ser exercidos em toda
parte, de maneira contínua e até o mais fino grão do corpo social;

P. 69
- a reforma do direito criminal deve ser lida como uma estratégia para o remanejamento
do poder de punir, que aumentem os efeitos diminuindo o custo econômico;
- a nova teoria jurídica da penalidade engloba uma nova “economia política” do poder
de punir;
- a reforma foi preparada de dentro do poder judiciário por um grande numero de
magistrados e a partir de objetivos que lhes eram comuns e dos conflitos de poder que
os opunham uns aos outros;

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- a conjuntura que viu nascer a reforma, no antigo regime, não é a de uma sensibilidade,
mas a de outra política em relação às ilegalidades;
- no antigo regime cada um dos estratos tinha uma margem de ilegalidade tolerada: a
não aplicação de uma regra, a inobservância de um edito ou ordenações eram condição
de funcionamento político e econômico da sociedade;
- e essa ilegalidade estava tão enraizada e era tão necessária a vida de cada camada da
sociedade que tinha de certo modo coerência e economia próprias;
- tipo assim: as classes populares tinham certa tolerância e as burguesas, privilégios e
isso tudo fazia até mesmo que as vezes determinada lei não fosse aplicada, ou que ela
entrasse em vigor e só depois de anos viesse a ser, e depois desaplicada, de novo;

P. 71
- a criminalidade se fundamentava numa ilegalidade mais vasta, a qual as camadas
populares estavam ligadas como a condições de existência; e inversamente, essa
ilegalidade era um fator perpetuo de aumento da criminalidade;
- tipo assim: parece que certas ilegalidades tudo bem, como por exemplo: a vadiagem.
Agora, o vadio/mendigo que se aproveitava pra roubar ou assassinar, não estava tudo
bem porque fazia com que todos ficassem com medo de que dessa população que vivia
nessa ilegalidade poderia nascer o crime;  isso em relação às classes inferiores
- “a ilegalidade popular envolvia o núcleo da criminalidade que era ao mesmo tempo
sua forma extrema e o perigo interno”;
- Foucault fala que entre as classes inferiores e as outras castas socias havia rivalidade,
concorrência, conflitos, mas também tinham apoio recíproco e cumplicidade. Ex: a não
aplicação pelos artesãos dos regulamentos de fábrica era muitas vezes encorajada pelos
empresários. Havia, portanto, um jogo recíproco das ilegalidades que fazia parte da vida
política e econômica da sociedade;
- MAIS AINDA: Nessa brecha diariamente alargada pela ilegalidade popular ocorrera
um certo número de transformações, como por exemplo, a inobservância de barreiras
alfandegárias. Aí o Foucault fala “ora, dessas transformações a burguesia tivera
necessidade; e sobre elas fundamentara uma parte do crescimento econômico. A
tolerância tornava-se então estímulo”;
- isso tudo no século xvii, porque na segunda metade do sec xviii as coisas começam a
inverter;
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- o campesinato acabou, a propriedade se tornou absoluta, logo, começou uma série de
ilegalidade de bens;
- ele fala que com o aumento das riquezas e aumento demográfico o alvo principal da
ilegalidade popular se tornou os bens;
- “a ilegalidade dos direitos que muitas vezes assegurava a sobrevivência dos mais
despojados, tende, com o novo estatuto da propriedade, a tornar-se uma ilegalidade de
bens. Será então necessário puni-la;
- Intolerância sistemática e armada à ilegalidade;

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- As tolerâncias é o ponto. Ex: as tolerância que o campesinato tinha ou conservara
foram abandonadas. Agora as pessoas não podiam mais usufruir da terra aí elas recebem
o título de infrações quando fazem isso e provocam na população, reação e cadeia. Ex:
jogos vorazes. O prego (aquele mercado ilegal do 12 é tolerado...quando destroem o
prego pra conter a população, a população fica 20x mais puta e quebra o pau,
cometendo crimes);
- é portanto necessário controlar e codificar todas essas práticas ilícitas;
- com as novas formas de acumulação de capital, de relações de produção e de estatuto
jurídico da propriedade, todas as práticas populares que se classificavam –
silenciosamente ou violentamente—em ilegalidades dos direitos, são desviadas à força
para ilegalidade dos bens;

P. 74
- a economia das ilegalidades se reestruturou com o desenvolvimento da sociedade
capitalista;
- a ilegalidade dos bens foi separada da ilegalidade dos direitos;
- ilegalidade dos bens: classes populares/ legalidade dos direitos: burguesia;
- necessidade constante sobre essa ilegalidade de bens;
- necessidade de adotar uma estretégia e técnicas de punição em que uma economia da
continuidade e da permanência substituirá a da despesa e do excesso;

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- para as pessoas da época, a luta pela delimitação do poder de punir se articula
diretamente com a exigência de submeter a ilegalidade popular a um controle mais
estrito e mais constante;
- “a humanidade das penas é a regra que se dá a um regime de punições que deve fxar
limites a um e a outro;
- se a nova legislação criminal se caracteriza por uma suavização das penas,
codigficação mais nítida etc... é porque ela é apoiada basicamente por uma profunda
alteração na economia tradicional das ilegalidades e uma rigorosa coerção para manter
seu novo ajustamento;
- um sistema penal deve ser concebido como um instrumento para gerir
diferencialmente as ilegalidades, não para suprimi-las todas;

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- Razões de ser essenciais da reforma penal do século xviii: constituir uma nova
economia + constituir uma nova tecnologia do poder de punir;
- o direito de punir deslocou-se da vingança do soberano a defesa da sociedade;
- todo aquele discurso de humanização das penas é na verdade um cálculo econômico,
uma racionalidade econômica

P.78
- o Foucault diz que falam né que o prejuízo que u crime traz ao corpo social é a
desordem que introduz nele: o escândalo que suscita, o exemplo que dá, a incitação a
recomeçar se não é punido, a possibilidade de generalização que traz consigo;
- para ser útil, o castigo deve ter coo objetivo as consequências do crime, entendidas
como a série de desordens que este é capaz de abrir;
- calcular pena não em função do crime, mas de sua possível repetição; visar não a
ofensa passada, mas a desordem futura;
- punir será então uma arte dos efeitos; mais que opor a enormidade da pena à
enormidade da falta;
- podemos falar aqui tudo que se trata da função exemplar do castigo;

P. 78
- importante: a pena sempre teve essa função exemplar, mesmo no século xvii com os
suplícios, a diferença entre aquela época e a do século xviii com os reformadores e
acredito que até agora, é que a prevenção que se esperava tende a tornar-se agora o
princípio de sua economia e a medida das suas justas proporções;
- tipo assim...a não repetibilidade de um crime se tornou o princípio da economia
punitiva e a medida das suas proporções, então...eles vão fazer um cáculo para ver óh
esse crime aqui óh não pode ser repetido muito...então bora botar uma pena grandeseila,
entendi isso
- mudou da figura de UMA GRANDE PERDA para A POSSIBILIDADE DE
REPETIÇÃO;

P. 79
- é preciso punir exatamente o suficiente para impedir;
- no suplicio o exemplo era a réplica do crime, então nossa que assassinato horroros,
cortou a cabeça, decepou etc...nua penalidade calculada sob seus efeitos, o exemplo
deve se referir ao crime, mas de maneira mais discreta; o exemplo é um sinal que cria
obstáculo;
- suplício: exemplo é a réplica do crime;
- punição nos efeitos: exemplo intervenção do poder com economia. O exemplo passa a
ser a certeza de punição pra evitar repetibilidade; por isso se fala que é um sinal que cria
obstáculos;
- regras das semiotécnicas de elaboração das penas:
a) regra da quantidade mínima: um crime é cometido porque traz vantagens, se a ideia
do crime fosse ligada a ideia de uma desvantagem um pouco mais, ele deixaria de ser
desejável; um pouco mais de interesse em evitar a pena que em arriscar o crime;
b) regra da idealidade suficiente: a eficácia da pena está na desvantagem que se espera
da pena; o que causa a pena não é o sofrimento, mas a ideia de uma dor, de um
desprazer, inconveniente.; se tiver que usar o corpo não será o corpo como sujeito de
sofrimento, mas como um objeto de uma representação: a lembrança de uma dor pode
impedir a reincidência, mas não será a dor o instrumento da técnica; elimina o corpo
como sujeito da pena, mas não como um elemento no espetáculo; a recusa aos suplícios
é uma escolha racional porque é a representação da pena que deve ser maximizada e não
a sua realidade corpórea;
- acho que por isso a pessoa fica encarcerada porque é uma dor, um inconveniente na
vida da pessoa. O sofrimento acontece ali e depois acaba. O cárcere fica...por muito
tempo e qualquer tempo é muito.
c) regra dos efeitos laterais: a pena deve ter efeitos mais intensos naqueles que não
cometem o crime; ele foi punido, não vai reincidir; no cálculo das penas o elemento
mais interessante é o culpado, exceto quando ele pode reincidir; a escravidão perpetua é
muito pior que a ideia d morte porque a dor fica dividida ali eternamente, a pena capital
encera, então, a escravidão perpetua, em todos os seus instantes, se contraem numa
representação que se torna mais assustadora que a ideia da morte. É A PENA
ECONOMICAMENTE IDEAL: É MÍNIMA PARA QUEM SOFRE E MÁXIMA
PARA OS QUE A IMAGINAM;
d) Regra da certeza perfeita: é preciso que as leis que definem os crimes sejam
perfeitamente claras, a fim de que cada membro da sociedade possa distinguar uma ação
virtuosa de uma criminosa, é preciso que as leis sejam escritas e públicas para que todos
tenham acesso a elas, é preciso qu a ideia de cada crime e das vantagens que ele pode
oferecer esteja associada à ideia de um determinado castigo, com as desvantagens que
dele resultam, é preciso que o monarca renuncie ao seu direito de misericórdia para que
a força que está presente na ideia da pena não seja atenuada pela esperança dessa
misericórdia, PRINCIPALMENTE...QUE NENHUM CRIME COMETIDO ESCAPE
AO OLHAR DOS QUE TÊM QUE FAZER JUSTIÇA; NADA TORNA MAIS
FRAGIL O INSTRUMENTO DAS LEIS QUE A ESPERANÇA DE IMPUNIDADE;
MAIS QUE IMITAR O ANTIGO SISTEMA E SER MAIS SEVERO, É PRECISO
SER MAIS VIGILANTE;
- daí a ideia de que o instrumento da justiça seja acompanhado por um órgão de
vigilância que lhe seja diretamente ordenado, e permita impedir os crimes ou prender os
infratores; polícia e justiça devem andar juntas;
- assim cada crime virá à luz do dia e será punido com toda certeza, por isso o crime é
público, não é pra que todos vejam que o processo se deu corretamente para o
criminoso, mas para que todos conheçam as razões pelas quais um acusado foi
condenado ou absolvido e que cada um possa reconhecer as razões de punir;
- tudo isso é sobre a subjetivação do indivíduo.
e) Regra da verdade comum: a verificação do crime deve obedecer aos critérios gerais
de qualquer verdade; o judiciário no seu processo penal, nas suas técnicas deve ser
homogêneo ao julgamento puro e simples; como uma verdade matemática, a verdade do
crime só poderia ser admitida uma vez inteiramente comprovada; até a demonstração
final do seu crime o acusado deve ser reputado inocente; o inquérito sai do modelo
inquisitorial para acolher a pesquisa empírica; A PRÁTICA PENAL VAI SE
ENCONTRAR SUBMETIDA A UM REGIME COMUM DA VERDADE; justiça
penal, quando conserva formas que garantem a sua equidade, pode-se abri ás verdades
de todos os ventos, desde que sejam evidentes, bem estabelecidas e aceitáveis por todos;
f) Regra da especificação ideal: todas as infrações têm que ser qualificadas, tem que ser
classificadas e reunidas em espécies que não deixem escapar nenhuma ilegalidade; é
necessário um código exaustivo e explícito que defina os crimes fixando as penas; mas a
ideia de um mesmo castigo não tem a mesma força para todo mundo; a nocividade de
um delito e seu valor de indução não são os mesmo, de acordo com o status do infrator;

P. 83
- o crime de um nobre é mais nocivo para a sociedade (talvez porque a depender el
consegue escapar dele?) que o de um homem do povo;
- já que o castigo quer impedir a reincidência, ele tem que levar bem em conta o que é o
criminoso em sua natureza profunda, o grau presumível de sua maldade, a qualidade
intrínseca de sua vontade (no direito penal tem essas coisas acho que majorantes...grau
de reprovabilidade, crime cometido com crueldade etc);
- necessidade de classificação paralela dos crimes e a necessidade de uma
individualização das penas, em conformidade com as características singulares de cada
criminoso;
- a individualização das penas aparece como objeto derradeiro de um código bem
adaptado PORQUE IMPLICA EM UMA ECONOMIA DO PODER DE PUNIR, e das
técnicas através das quais se pretende pôr em circulação, em todo corpo social, sinais de
punição exatamente ajustados;
- o qu pretende agora é uma modulação, muito diferente da antiga, que se refere ao
próprio infrator, à sua natureza etc;
Aqui o Foucault já fala da pena como uma modulação do indivíduo porque a
individualização da pena modula ele em relação a sua natureza, a seu modo de vida, de
pensar, a seu passado, à qualidade e não mais à intenção de sua vontade;
- procurava-se constituir um linné de crimes e de penas, de maneira a que cada infração
particular, e cada indivíduo punível possa, sem nenhuma margem de arbítrio, ser
atingido por uma lei geral;

P. 84
- Formas de individualização antropológica estavam surgindo, como: 1. Com a noção de
reincidência porque tende a tornar-se uma qualificação do próprio delinquente; a
reincidência não visa o autor de um ato definido pela lei, mas osujeito delinquente; 2. A
mudança de objeto, do individuo para a criminalidade fez com que se tornasse
importante a oposição entre sujeito primário e sujeito reincidente, nisso, a partir de ssa
oposição formou-se a noção de crime passional, porque aí a gradação das penas na
opinião deles poderia desviar do crime “o maldoso que, de sangue frio, medita uma ação
má” e pode ser retido pelo temor da pena...acho que é aquele que pensa e fazer algo,
mas desiste por medo da pena, mas os crimes passionais não conseguem serem contidos
por meio desse temor da pena, masssss segundo essa economia das penas o cime
passional tem pouca importância se não teme a norma ou não, porque “tais crimes não
mostram da parte de seus autores nenhuma maldade calculada”;
- a humanização das penas exige um deslocamento no ponto de aplicação do poder de
punir, que não seja mais o corpo, mas que agora seja o espírito ou antes O JOGO DE
REPRESENTAÇÕES E DE SINAIS QUE CIRCULAM DISCRETAMENTE MAS
COM NECESSIDADE E EVIDÊNCIA NO ESPÍRITO DE TODOS;
- não mais o corpo, mas a alma;

P. 85
- a relação de poder que fundamenta o exercício da punição começa a ser acompanhada
por uma relação de objeto em relação ao crime e ao criminoso;
- a relação de objetivação nasce nas táticas do poder e na distribuição de seu exercício;

P. 86
- O pensamento dos ideólogos não foi apenas uma teoria do indivíduo e da sociedade;
desenvolveu-se como uma tecnologia dos poderes sutis, eficazes e econômicos
- a criminalidade que passa a se tornar o objeto da intervenção penal

Parte III
Capítulo II – Os recursos para o bom adestramento

P. 143
- “o poder disciplinar é com efeito um poder que, em vez de se apropriar e de retirar,
tem coo função maior “adestrar”; ou sem dúvida adestrar para retirar e se apropriar
ainda mais e melhor;
- ele, poder disciplinar, não amarra as forças para reduzi-las; procura liga-las para
multiplica-las e utiliza-las num todo;
- ao invés de uniformizar a todo, ele submete, separa analisa, diferencia, leva seus
processos de decomposição até as singularidades necessárias e suficientes; “adestra” as
multidões para uma multiplicidade de elementos individuais;
- a disciplina “fabrica” indivíduos; ela é a técnica específica de um poder que toma os
indivíduos ao mesmo tempo como objetos e como instrumentos de seu exercício;
- poder modesto que funciona a modo de uma economia calculada, mas permanente;
- humildes modalidades, procedimentos menores, mas que vao pouco a pouco invadindo
essas instituições maiores, como os aparelhos do Estado, modificando mecanismos e
impondo processos;
- o poder disciplinar se deve, sem dúvida, ao uso de instrumentos simples: o olhar
hierárquico, a sanção normalizadora e sua combinação num procedimento que lhe é
específico, O EXAME;
A VIGILÂNCIA HIERÁRQUICA
- o exercício da disciplina supõe:
a) um dispositivo que obrigue pelo jogo do olhar;
b) um aparelho onde as técnicas que permitem ver induzam a efeitos de poder e em
troca os meios de coerção tornem claramente visíveis aqueles sobre quem se aplicam;

P. 144
- técnicas de vigilância dos olhares que devem ser sem serem vistos;
- uma arte obscura da luz e do visível preparou em surdina um SABER novo sobre
homem, através de técnicas para sujeita-lo e processos para utilizá-lo;
- poder discreto;
Poder exercido pelo jogo da vigilância exta e cada olhar seria uma peça no
funcionamento global do poder;
- o panóptico seria uma espécie de arquitetura que pudesse vigiar o interior e o exterior
das prisões e também, para permitir um controle interior, articulado e detalhado – para
tornar visíveis os que nela se encontram e também “a de uma arquitetura que seria um
operador para a transformação dos indivíduos: agir sobre aquele que abriga, dar
domínio sobre o seu comportamento, reconduzir até ele os efeitos do poder; oferece-los
a um conhecimento, modifica-los;

P. 145
- a escola-edifício é um operador de adestramento;
- “escrúpulos infinitos de vigilância que a arquitetura transmite por mil dispositivos sem
honra. Só os acharemos irrisórios se esquecermos o papel dessa instrumentação, menor
mas sem falha, na objetivação progressiva e no quadriculamento cada vez mais
detalhado dos comportamentos individuais”;
- as instituições disciplibnares produziram uma maquinaria de controle que funcionou
como um microscópio do comportamento;
- a matemática por elas realizada formava um aparelho de observação, de registro e de
treinamento;

P. 146
- as arquiteturas circulares exprimiam uma certa utopia política;
- especificar a vigilância é torna-la funcional;

P. 147
- a vigilância se torna um operador econômico decisivo, na medida em que é ao mesmo
tempo uma peça interna no aparelho de produção e uma engrenagem específica do
poder disciplinar;
- mesmo movimento na reorganização do ensino elementar; especificação da vigilância
e integração à relação pedagógica;
P. 148
- uma relação de fiscalização, definida e regulada, está inserida na essência da prática do
ensino: não como uma peça trazida ou adjacente, mas como um mecanismo que lhe é
inerente e multiplica sua eficiência;
- A VIGILÂNCIA HIERARQUIZADA, CONTÍNUA E FUNCIONAL NÃO É, SEM
DÚVIDA, UMA DAS GRANDES INVENÇÕES TÉCNICAS DO SEC XVIII, MAS
SUA INSIDIOSA EXTENSÃO DEVE SUA IMPORTÂNCIA ÀS NOVAS
MECÂNICAS DO PODER QUE TRAZ CONSIGO;
- o poder disciplinar se organiza em uma rede de relações de alto a baixo, de baixo para
cima e lateralmente, em um sistema integrado, como um poder múltiplo, automático e
anônimo;
- o poder disciplinar é indiscreto porque ta em toda parte e sempre alerta, mas também é
discreto, pois funciona permanentemente e em grande parte em silêncio;
- a disciplina faz funcionar um poder relacional que se auto-sustenta por seus próprios
mecanismos e substitui o brilho das manifestações pelo jogo ininterrupto dos olhares
calculados;

A SANÇÃO NORMALIZADORA

P. 149
- na essência de todos os sistemas disciplinares funciona um pequeno mecanismo penal;
(não sei se é o caso, mas talvez pensar em quais penalidades os alunos têm quando se
inscrevem no sisu, possam ter...tipo...tentar se inscrever mais de duas vezes...não sei, ou
não porque eu to falando do caso sisu e microsoft e não do sistema sisu, quando eles
falam que tem uma portaria falando que agora o ideal é contratação de internet e nume
isso é ua forma de disciplinar)
- as disciplinas estabelecem uma infrapenalidade;
- na escolha, no exército, na oficina funciona como repressora toda uma
micropenalidade do tempo (atrasos, ausências, interrupções das tarefas), da atividade
(desatenção, negligência, falta de zelo), da maneira de ser (grosseria, desobediência),
dos discursos (tagarelice, insolência), do corpo (atitudes incorretas, gestos não
conformes, sujeira), da sexualidade (imodéstia, indecência).
- ao mesmo tempo é usado uma serie de castigos sutis que vao do castigo físico a leves
privações ligeiras e pequenas humilhações;
- PUNIÇÃO: tudo o que é capaz de fazer as crianças sentirem a falta que cometeram,
tudo o que é capaz de humilhá-las, de confundi-las;
- é passível de pena o campo indefinido do não conforme;
P. 150
- Os castigos disciplinares respeitam uma ordem de natureza artificial colocada de
maneira explícita por uma lei, um programa, um regulamento, mas é também uma
ordem, definida por processos naturais e observáveis: a duração de um aprendizado, o
tempo de um exercício, o nível de aptidão tem por referencia uma regularidade, que é
também uma regra;
- os castigos disciplinares tem a função de reduzir os desvios, deve ser essencialmente
corretivo;
- os sistemas disciplinares privilegiam as punições que são da ordem do exercício,
aprendizado intensificado, multiplicado, muitas vezes repetido...;
- a punição disciplinar tem a mesmo forma de uma obrigação;
- a punição na disciplina não passa de um elemento de um sistema duplo: gratificação-
sanção.

P. 151
- este mecanismo de dois elementos permite um certo número de operações
características da penalidade disciplinar: 1) a qualificação do comportamento e do
desempenho através de dois valores opostos do bem e do mal; todo o comportamento
cai no campo das boas e más notas, dos bons e dos maus pontos. É possível quantificar,
por meio de números, permite obter um balanço positivo de cada um;
- graças a quantificação das notas os aparelhos hierarquizam os bons e maus indivíduos,
então por meio dessa disciplina que não é a dos atos, de matar alguém, de fazer algo
errado, mas dos próprios indivíduos, de sua natureza, de suas virtualidades, de seu
nivelou valor, porque, afinal, você classificou os indivíduos em bons e maus com as
notas.;
- A DISCIPLINA, AO SANCIONAR OS ATOS COM EXATIDÃO, AVALIA OS
INDIÍDUOS “COM VERDADE” OU SEJA A DISCIPLINA CONSTRUIU UM
SABER, UMA VERDADE, INCONTESTE APENAS POR UMA OUTRA
VERDADE;
- a divisão segundo as classificações ou os graus tem um duplo papel: marcar os
desvios, hierarquizar as qualidades, as competências e as aptidões, mas também castigar
e recompensar;
- a disciplina recompensa unicamente pelo jogo das promoções que permitem
hierarquizar e lugares; pune rebaixando e degradando;

P. 152
- duplo efeito dessa penalidade hierarquizante: distribuir os alunos segundo suas
aptidões e seu comportamento, portanto segundo o uso que se poderá fazer deles quando
saírem da escola; exercer sobre eles uma pressão constante, para que se submetam todos
aos mesmo modelo, para que sejam obrigados todos juntos “à subordinação, à
docilidade, à atenção nos estudos e nos exercícios, e à exata prática dos deveres e de
todas as partes da disciplina”. Para que todos se pareçam;
- o poder disciplinar poe em funcionamento cinco operações bem distintas: relacionar os
atos, os desempenhos, os comportamentos singulares a um conjunto;

P. 153
- A PENALIDADE NORMALIZA;
- NA DISCIPLINA O OBJETIVO NÃO É DIFERENCIAR OS INDIVÍDUOS, MAS
ESÉCIFICARA ATOS NUM CERTO NÚMERO DE CATEGORIAS GERAIS;
- os dispositivos disciplinares produziram uma penalidade da norma que é irredutível
em seus princípios e seu funcionamento à penalidade tradicional da lei;
- as disciplinas inventaram um novo funcionamento punitivo, e é este que pouco a
pouco investiu o grande aparelho exterior que parecia reproduzir modesta ou
ironicamente;
- através das disciplinas aparece o poder da norma;
- tal como a vigilância, a regulamentação é um dos grandes instrumentos de poder no
fim da era clássica. As marcas que significava status, privilégios, filiações, tendem a ser
substituídas ou pelo menos acrescidas de um conjunto de graus de normalidade, que são
sinais de filiação a um corpo social homogêneo, mas que têm em si mesmos um papel
de classificação, d hierarquização e de distribuição de lugares;
- o poder de regulamentação obriga à homogeneidade, mas individualiza, permitindo
medir os desvios, determinar os níveis, fixar as especialidades e tornar uteis as
diferenças, ajustando-as umas as outras;

O EXAME
P. 154
- o exame combina as técnicas da hierarquia que vigia e as da sanção que normaliza;
- o exame é um controle normalizante, uma vigilânvia que permite qualificar, classificar
e punir;
- estabelece sobre os indivíduos uma visibilidade através da qual eles são diferenciados
e sancionados;
- o exame é altamente ritualizado;
- a superposição das relações de poder e das de saber assume no exame todo o seu
brilho visícel;
- no exame há saber (controle da verdade) e poder;
P. 155
- o investimento político não se faz simplesmente ao nível da consciência, das
representações e no que julgamos saber, MAS AO NÍVEL DAQUILO QUE TORNA
POSSÍVEL ALGUM SABER (COMO SABER O QUE SABEMOS?);
- o exame é constantemente renovado , ele se sustenta segundo um ritual de poder
constantemente renovado, ele não se contenta em sancionar um aprendizado;
- o exame é de mão dupla: permite a passagem dos conhecimentos do mestre, ao mesmo
tempo em que retira do aluno um saber destinado e reservado ao mestre...nasce a
pedagocia, ciência; a escola se torna local de elaboração de pedagogia;

P. 156
- A erra da escola examinatória marcou o início de uma pedagogia que funciona como
ciência;
- O EXAME SUPÕE UM MECANISMO QUE LIGA UM CERTO TIPO DE
FORMAÇÃO DE SABER A UMA CERTA FORMA DE EXERCÍCIO DE PODER;
- o exame inverte a economia da visibilidade no exercício do poder;
- o poder disciplinas se exerce tornando-se invisível: em compensação impõe aos que
submete um principio de visibilidade obrigatória. Então o poder disciplinar é invisivele
sutil, mas ele visibiliza obrigatoriamente as pessoas que estão submetidas a ele;
- na disciplina são os súditos que têm que ser vistos, sua iluminação assegura a garra do
poder que se exerce sobre eles;
- É O FATO DE SER VISTO SEM CESSAR, DE SEMPRE PODER SER VISTO QUE
MANTEM O SUJEITO O INDIVÍDUO DISCIPLINAR;
- E O EXAME É A TÉCNICA PELA QUAL O PODER, EM VEZ DE EMITIR OS
SEUS SINAIS DE PODERIO, EM VEZ DE IMPOR SUA MARCA A SEUS
SÚDITOS, CAPTA-OS NUM MECANISMO DE OBJETIVAÇÃO;
- O PODER DISCIPLINAR MANIFESTA SEU PODERIO ORGANIZANDO OS
OBJETOS; O EXAME VALE COMO CERIMÔNIA DESSA OBJETIVAÇÃO;
- no poder disciplinar os súditos são oferecidos como objetos à observação de um poder
que só se manifesta pelo olhar; não recebem diretamente a imagem do poderio
soberano, apenas mostram seus efeitos sobre seus corpos tornados exatamente legíveis e
dóceis;

P. 157
- entramos na era do exame interminável e da objetivação limitadora;
- o exame faz também a individualidade entrar num campo documentário, sendo o
resultado um arquivo inteiro com detalhes que se constitui ao nível dos corpos e dos
dias;
- o exame que coloca os indivíduos num campo de vigilância coloca eles tbm
igualmente numa rede de anotações escritas; OS PROCEDIMENTOS DE EXAME
SÃO ACOMPANHADOS DE UM SISTEMA DE REGISTRO INTENSO E DE
ACUMULAÇÃO DOCUMENTÁRIA;
- UM PODER DE ESCRITA É TIDO COO UMA PEÇA ESSENCIAL NAS
ENGRENAGENS DA DISCIPLINA;

P. 158
- o exame permite tanto conhecer o indivíduo dentro de um grupo, quanto o próprio
grupo

P. 159
- o registro das coisas permitiu a liberação epistemológica das ciências do indivíduo;
- o exame cercado de todas as suas técnicas documentárias, faz de cada indivíduo um
“caso”: um caso que ao mesmo tempo constitui um bjeto para o conhecimento e uma
tomada para o poder; o caso é o indivíduo tal como pode ser descrito, mensurado,
medido...e é também o indivíduo que tem que ser treinado ou retreinado, classificado,
normalizado e excluído;
- a descrição dos indivíduos é um meio de controle e um método de dominação; essa
transcrição por escrito das existências reais funciona como um processo de objetivação
e de sujeição;

P. 160
- o exame como fixação das diferenças individuais, como oposição de cada um a sua
própria singularidade indica bem a aparição de uma nova modalidade de poder em que
cada um recebe como status sua própria individualidade, e onde está estatutariamente
ligado aos traços, às medidas, às notas e desvios que o caracterizam e fazem dele, de
qualquer modo, um “caso”;
- parece que a individualidade de cada um é recebida pelas notas, desvios e traços que o
poder disciplinar das instituições disciplinares, dá;
- o exame FABRICA A INDIVIDUALIDADE, COM ELE SE RITUALIZA
AQUELAS DISCIPLINAS QUE SE PODE CARACTERIZAR COM UMA
PALAVRA DIZENDO QUE SÃO UM MODALIDADE DE PODER PARA O QUAL
A DIFERENÇA INDIVIDUAL É PERTINENTE;
O PANOPTISMO

P. 163
- esse espao fechado, recortado, vigiado em todos os eus pontos, onde os indivíduos
estão inseridos num lugar fixo, onde os menores movimentos são controlados, onde
todos os acontecimentos são registrados, onde um trabalho ininterrupto de escrita liga o
centro e a perifera, onde o poder é exercido sem divisão, segundo uma figura
hierárquica continua, onde cada individuo é constantemente localizado, examinado e
distribuído entre os vivos, os doentes e os mortos...isso tudo constitui um modelo
compacto do dispositivo disciplinar;
- poder onipresente e onisciente que se subdivide ele mesmo de maneira regular e
ininterrupta até a determinação final do indivíduo, do que o caracteriza, do que lhe
pertence, o do que lhe acontece;

P. 164
- a disciplina faz valer o seu poder que é de análise;
- a disciplina é política...o poder é político;

P. 165
- DE UM MODO GERAL TODAS AS INSTÂNCIAS DE CONTROLE INDIVIDUAL
FUNCIONAL NUM DUPLO MODO: O DA DIVISÃO BINÁRIA E DA
MARCAÇÃO (O LOUCO-NÃO LOUCO; PERIGOSO-INOFENSIVO; NORMAL-
ANORMAL); E O DA DETERMINAÇÃO COERCITIVA, DA REPARTIÇÃO
DIFERENCIAL (QUEM É ELE, ONDE ELE DEVE ESAR, COMO
CARACTERIZA-LO, COMO RECONHECE-LO, COMO EXERCER SOBRE ELE,
DE MANEIRA INDIVIDUAL, UMA VIGILÂNCIA CONSTANTE, ETC)
- A DIVISÃO CONSTANTE DO NORMAL E DO ANORMAL, A QUE TODO
INDIVÍDUO É SUBMETIDO, LEVA ATÉ NÓS, E APLICANDO-OS A
EXISTENCIA DE TODO UM CONJUNTO DE TÉCNICAS E DE INSTITUIÇÕES
QUE ASSUMEM COMO TAREFA MEDIR, CONTROLAR, E CORRIGIR OS
ANORMAIS, FAZ FUNCIONAR OS DISPOSITIVOS DISCIPLINARES QUE O
MEDO DA PESTE CHAMAVA;
- TODOS OS MECANISMOS DE PODER QUE AINDA EM NOSSOS DIAS SÃO
DISPOSTOS EM TORNO DO ANORMAL PARA MARCÁ-LO COMO MODIFICÁ-
LO COMPÕEM ESSAS DUAS FORMAS DE QUE LONGINQUAMENTE
DERIVAM;

P. 166
- No panóptico de Bentham as pessoas encarceradas ficam cada uma em suas celas,
perfeitamente individualizadas, mas sempre visíveis;
- a multifdão é abolida em prol de uma coleção de individualidades separadas;
- efeito do panóptico: induzir no dentento um estado consciente e permanente de
visibilidade que assegura o funcionamento automático do poder; fazer com que a
vigilância seja permanente em seus efeitos, mesmo se é descontínua em sua ação; qu
esse aparelho arquiteturial seja uma máquina de criar e sustentar uma relação de poder
independente daquele que o exerce; de que os detentos se encontrem presos numa
situação de poder que eles mesmos são portadores;

P. 167
- é essencial que o prisioneiro saiba que está sendo vigiado; mas não é no sentido de ver,
porque o poder deve ser visível e inverificável, é mais no sentido de saber que PODE
estar sendo vigiado porque diante dos olhos dele tem uma torre enorme que pode estar
olhando pra ele; o detento nunca deve saber se está sendo observado, mas deve ter
certeza de que sempre pode sê-lo;
- o panóptico é uma máquina de dissociar o par ver-ser visto: no anel periférico, se é
totalmente visto, sem unca ver, na torre central, vê-se tudo, sem nunca ser visto;
O o panóptico é importante porque automatiza e desindividualiza o poder;
- o panóptico tem seu princípio numa aparelhagem cujos mecanismos internos
produzem a relação na qual se encontram presos os indivíduos.
- pouco importa, consequentemente, quem exerce o poder e o motiva que anima essa
pessoa a exercê-lo;
- através do panóptico uma sujeição real nasce mecanicamente de uma relação fictícia,
de modo que não é necessário recorrer a força para obrigar o condenado ao bom
comportamento;

P. 168
- o panóptico funciona principalmente quem está submetifo a um campo de visibilidade,
toma para si, por sua conta, as limitações do poder, fazendo elas funcionarem
espontaneamente sobre si mesmo, inscreve em si a relação de poder na qual ele
desempenha simultaneamente os dois papéis; torna-se o princípio da sujeição;

P. 169
- o panóptico permite acompanhar a genealogia de qualquer ideia observável;
- o panóptico é um local que torna possível fazer experiências com homens, modificar
comportamento, experimentar remédios, analisar as transformações que se pode obter
neles;
- panóptico pode até constituir-se em aparelho de controle sobre seus próprios
mecanismos;
- “o panóptico funciona como uma espécie de laboratório de poder. Graças a seus
mecanismos de observação, ganha em eficácia e em capacidade d penetração no
comportamento dos homens; um aumento de saber vem se implantar em todas as frentes
de poder, descobrindo objetos qye devem ser conhecidos em todas as superfícies onde
este exerça”
- o panóptico deve ser visto como um modelo generalizável de funcionamento, uma
maneira de defini as relações do poder com a vida cotidiana dos homens;

P. 170
- o panóptico é uma figura de tecnologia política;
- é polivalente em suas aplicações: vai do cárcere ao hospital a escola;
- o esquema panóptico é um intensificador para qualquer aparelho de poder: assegura
sua economia; assegura sua eficácia por seu cráter preventivo, seu funcionamento
contínuo e seus mecanismos automáticos. É uma maneira de obter poder.
- ele fala que o panóptico é um grande e novo instrumento de GOVERNO;

P. 171
- o panoptismo é uma maneira de fazer funcionar relações de poder numa função, e uma
função para essas relações de poder;
- no panóptico qualquer pessoa pode ir lá visitar, participar ou mesmo fiscalizar porque
é acessível a todos e porque o papel do vigia, que não é essencial, pode ser exercido por
todos, assim, qualquer pessoa pode ver tudo, tanto vigiar os encarcerados, quanto
fiscalizar o próprio vigia, e assim, o panóptico se torna uma espécie de câmara escura
em que se espionam os indivíduos; torna-se um edifício transparente onde o exercício
do poder é controlável pela sociedade inteira;

P. 172
- no panóptico o que importa é tornar mais fortes as forças sociais, aumentar a
produção, desenvolver a economia, espalhar a instrução, elevar o nível da moral
pública, fazer crescer e multiplicar;
- a solução do panóptico é que a majoração produtiva do poder só pode ser assegurada
se por um lado ele tem possibilidade de se exercer de maneira contínua nos alicerces da
sociedade, até seu mais fino grão, e se, por outro lado, ele funciona fora daquelas
formas súbitas, violentas, descontínuas que estão ligadas ao exercício da soberania;
- a nova física do poder do panoptismo é diferente ela é a dos corpos baixos, irregulares,
movimentos múltiplos, são mecanismos que analisam distribuições, desvios, séries,
combinações, e utilizam instrumentos para tornar visível, registrar, diferenciar e
comparar: FÍSICA DE UM PODER RELACIONAL E MÚLTIPLO, QUE TEM SUA
INTENSIDADE MÁXIMA NÃO NA PESSOA DO REI, MAS NOS CORPOS QUE
ESSAS RELAÇÕES PERMITEM INDIVIDULIZAR.
- as pessoas não precisam viver trancafiadas para funcionar as disciplinas. “possível
detrancar as disciplinas e fazê-las funcionar de maneira difusa, múltipla, polivalente no
corpo social inteiro”
Da 172 a 181 tem muita coisa importante que eu vou anotar aqui agora

P. 173
- A inversão funcional das disciplinas: ele fala que originalmente cabia neutralizar os
perigos, fixar as populações inúteis ou agitadas, evitar inconvenientes de reuniões, agora
as disciplinas lhe atribuem o papel positivo de aumentar a utilidade possível dos
indivíduos (acho que isso aqui cabe muito no meu trabalho porque o neoliberalismo está
fundamentado nisso);
- aí ele fala do exército, que a disciplina militar não é mais simplesmente pra impedir a
desobediência das tropas, etc, mas como uma unidade que tira dessa mesma unidade
uma majoração de forças; a disciplina faz crescer a habilidade de cada um, coordena
essas habilidades, acelera os movimentos;
- tende a fazer crescer as aptidões, as velocidades, os rendimentos e portanto os
LUCROS; ELA CONTUNUA A MORALIZAR AS CONDUTAS, MAS CADA VEZ
MAIS MODELA OS COMPORTAMENTOS E FAZ OS CORPOS ENTRAREM
NUMA MÁQUINA, AS FORÇAS NUMA ECONOMIA;

P. 174
- a finalidade do ensino primário era fortificar, desenvolver, dispor a criança para
qualquer trabalho mecânico no futuro, dar-lhe uma capacidade de visão rápida e global,
ums m~so firme, hábitos rápidos. AS DISCIPLINAS FUNCIONAM CADA VEZ
MAIS COMO TÉCNICAS QUE FABRICAM OS INDIVÍDUOS
- a ramificação dos mecanismos disciplinares: os mecanismos de disciplina tendem a se
desinstitucionalizar e a circular livre na sociedade...os estabelecimentos de disciplinam
tbm tendem a se multiplicares;
A escola cristã não deve apenas produzir crianças dóceis, mas deve também permitir
vigiar seus pais, informar sua maneira de viver, seus costumes;
- a escola tende a constituir minúsculos observatórios sociais para penetrar até nos
adultos e exercer sobre eles um controle regular;

P. 176
- “A disciplina não pode se identificar com uma instituição nem com um aparelho; ela é
um TIPO DE PODER, uma modalidade para exercê-lo, que comporta todo um conjunto
de instrumentos, de técnicas, de procedimentos, de níveis de aplicação, e pode ficar a
cargo seja de instituições especializadas, seja de instituições que dela se servem como
instrumento essencial para um fim determinado.

P. 178
- através do princípio do panóptico se constrói toda a sociedade;
- nossa sociedade não é de espetáculos, mas de vigilância

P. 179
- os circuitos da comunicação são os suportes de uma acumulação e centralização do
saber; o jogo dos sinais define os pontos de apoio do poder; a totalidade do indivíduo
não é amputada ou reprimida, alterada por nossa ordem social, mas o indivíduo é
cuidadosamente fabricado, segundo uma tática de forças e de corpos;
- a formação da sociedade disciplinar está ligada a um certo número de processos
históricos no interior dos quais a disciplina tem lugar econômicos, jurídico-políticos,
científicos, enfim;
- 1) as disciplinas são técnicas para assegurar a ordenação das multiplicidads humanas,
mas o que é próprio das disciplinas é que elas tentam definir em relação às
multiplicidades uma TÁTICA DE PODER que responde a três critérios:
a) tornar o exercício do poder menos custoso possível (economicamente, politicamente);
b) fazer com que os efeitos desse poder social sejam levados a seu máximo de
intensidade e estendidos tão longe quanto possível, sem fracasso, sem lacuna;
c) ligar esse crescimento econômico do poder e o rendimento dos aparelhos no inteior
dos quais se exerce (sejam os aparelhos pedagógicos, militares, industriais, médicos),
EM SUMA: FAZER CRESCER AO MESMO TEMPO A DOCILIDADE E A
UTILIDADE DE TODOS OS ELEMENTOS DO SISTEMA;

p. 180
- esse triplo objetico corresponde a: explosão demográfica no século xviii: que fixou as
pessoas nos lugares, a disciplina é antinomadismo; mudança da escola quantitativa dos
grupos que importa controlar ou manipular (na véspera da ver francesa a população
escolar multiplicou); o crescimento do aparelho de produção, cada vez mais extenso e
complexo, cada vez mais custoso também e cuja rentabilidade urge crescer;
- o desenvolvimento dos modos disciplinares de proceder responde à necessidade de
ajustar a correlação entre esses processos porque havia um problema: nem eles em
apartado nem juntos não funcionavam porque impedia a extensão lacunosa e sem
regularidade da rede, seu funcionamento muitas vezes conflitante, mas principalmente o
caráter dispendiosos do poder exercido;
- O desenvolvimento das disciplinas marca a aparição de técnicas elementares do poder
que derivam de uma economia totalmente diversa: mecanismos de poder que, em vez de
vir em dedução, integram-se de dentro à eficácia produtiva dos aparelhos, ao
crescimento dessa eficácia e à utilização do que ela produz (ou seja, o desenvolvimento
das disciplinas deriva uma economia baseada nos mecanismos de poder que se integram
à logica produtiva, à eficácia produtiva dos aparelhos, ao crescimento dessa eficácia e à
utilização do que ela produz)
- desenvolvimento das disciplinas  economia baseado em mecanismos de poder 
mecanismos de poder voltados à eficácia produtiva, crescimento dessa eficácia e
utilização do que produz (economia e de saber para aptidões nas esclas, nos hospitais, a
produção de força destrutiva com o exército);

P. 181
- A disciplina tenta eliminar aquilo que a ela n~é útil, o que não é ultil cada um dos seu
elementos; rduzir tudo o que nela pode anular as suas vantagens do número; é por isso
que a disciplina fixa; ela imobiliza ou regulamenta os movimentos; resolve as
confusões, as aglomerações compactadas, as repartições calculadas;
- ela deve dominar todas as forças que se formam a partir da própria constituição de
uma multiplicidade organizada;
- deve neutralizar os efeitos do contra poder que dela nascem e que formam resistência
ao poder que quer dominá-la;
- agitações, revoltas, organizações espontâneas, concluios, tudoo qu se pode originar das
conjunções horizontos. Daí o fato de as disciplinas utilizarem processos de separação e
de verticalidade, de introduzirem entre os diversos elementos de mesmo plano barreiras
tão estanques quanto possível, de definirem redes hierárquicas precisas...em suma, de
oporem a força intrínseca e adversa da multiplicidade o processo da pirâmide contínuae
individualizante;
- as disciplinas devem fazer crescer a utilidade singular de cada elemento da
multiplicidade, mas por meios que sejam os mais rápidos e menos custosos, ou seja,
utilizando a própria multiplicidade como instrumento desse crescimento;
- daí, pra extrair dos corpos o máximo de tempo e de forças, esses métodos de conjunto
que são os horários, os treinamentos coletivos, os exercícios, a vigilância ao mesmo
tempo global e minuciosa.
- é preciso, além disso, que as disciplinas façam crescer o efeito de utilidade próprio às
multiplicidades, e que tornem cada uma delas mais útil que a simples soma de seus
elementos;
- é pra fazer crescer os efeitos utilizáveis do múltiplo que as disciplinas definem táticas
de distribuição, de ajustamento recíproco dos corpos, dos gestos e dos ritmos, de
diferenciação das capacidades;
- enfim, a disciplina tem que fazer funcionar as relações de poder não acima, mas na
própria tram da multiplicidade;
- as disciplinas são o conjunto das minúsculas invenções técnicas que permitiram fazer
crescer a extensão útil das multiplicidades, fazendo diminuir os inconvenientes do poder
que, justamente par torna-las uteis, deve regê-las;

P. 182
- os métodos para gerir a acumulação dos homens permitiram uma decolagem política
em reação a formas de poder tradicionais, que foram substituídas por uma tecnologia
minuciosa e calculada da sujeição;
- a acumulação dos homens e a acumulação de capital não podem ser separados; não
teria sido possível resolver a questão da acumulação de homens sem o crescimento de
um aparelho de produção capaz de ao mesmo tempo mantê-los e utilizá-los;
- as técnicas que tornam útil a multiplicidade cumulativa dos homens aceleram o
movuimnto de acumulação de capita;
- a disciplina é o processo técnico unitário pelo qual a força do corpo é com o mínimo
ônus reduzida como força política, e maximalizada como força útil; o crescimento de
uma economia capitalista fez apelo à modalidade específica do poder disciplinar, cujo
processo de submissão dos corpos, cuja ANATOMIA POLÍTICQ, podem ser postos em
funcionamento através de regimes políticos, de aparelhos ou de instituições muito
diversas;
2) a modalidade panóptica do poder não está na dependência imediata nem no
prolongamento direto das grandes estruturas jurídico-políticas de uma sociedade, ela nã
é, entretanto, absolutamente independente;
- historicamente, o processo pelo qual a burguesia se tornou no decorrer do século xviii
a classe politicamente dominante, abrigou-se atrás da instalação de um quadro jurídico
explícito, codificado, formalmente igualitário e através da organização de um regime de
tipo parlamentar e representativo;

P. 183
- as disciplinas reais e corporais constituíram o subsolo das liberdades formais e
jurídicas;
- as luzes que descobriram as liberdades inventaram também as disciplinas;
- as disciplinas te o papel de introduzir assimetrias insuperáveis e de excluir
reciprocidades;
- enquanto os sistemas jurídicos qualificam os sujeitos de direito, segundo normas
universais, as disciplinas caracteriza, classificam, especializam distribuem ao longo de
uma escala, repartem em torno de uma norma; hierarquizam os indivíduos em relação
uns aos outros e, levando ao limite, desqualifica, e invalidam.;
P. 184
- a disciplina é um contradireito...o Foucault fala que pouco importa se o sistema
jurídico fixa limites, porque panoptismo difundido em toda parte faz funcionar uma
maquinaria que multiplica as assimetrias dos poderes, reforça e torna vãos os limites
que lhes foram traçados;
- as disciplinas estão no próprio fundamento da sociedade e de seu equilíbrio;
- Foucault fala que, quanto a prisão, a disciplina eu acho ne dela deve ser recolocada no
ponto de que os castigos universais das leis vêm aplicar-se seletivamente a certos
indivíduos e sempre aos mesmos; ahhhh a prisão como era se volta para os processos
disciplinares, então muda, por exemplo, o poder codoficado de punir passa para a
tecnologia de um poder disciplicar de vigiar (então se vigia tudo da pessoa, ou da a
impressão de que se esta vigiando)
- o que generaliza o poder de punir não é a consciência universal da lei em cada um dos
sujeitos de direito, é a extensão regular, é a trama infinitamente cerrada dos processos
panópticos;
- formação de saber e majoração de poder se reforçam regularmente segundo um
processo circular;
- a escola, o hospital, a oficina se transformaram, graças as disciplinas, em aparelhos
que qualquer mecanismo de objetivação pode valer neles como instrumento de sujeição
e qualquer crescimento de poder dá neles lugar conhecimentos possíveis, assim surgiu a
medicina clínica, a psiquiatria, psicologia da criança, etc;

P. 185
- DUPLO PROCESSO: arrancada epistemológica a partir de um afinamento das
relações de poder; multiplicação dos efeitos de poder graças a formação e a acumulação
de novos conhecimentos;

P. 186
- o ponto ideal da penalidade hoje seria a disciplina infinita: um interrogatório sem
termo, um inquérito que se prolongasse sem limite numa observação minuciosa e cada
vez mais analítica, um julgamento que seria ao mesmo tempo a constituição de um
processo nunca encerrado;

Capítulo II – DELINQUÊNCIA E ILEGALIDADE

P. 223
- Foucault fala que a verdadeira técnica penitenciária é o rigor, que a prisão não era
efetivamente corretiva por conta da reincidência...a maior parte dos que iam presos,
reincidiam. E os fatores dessa reincidência ele fala: quebra de banimento,
impossibilidade de encontrar trabalho, vadiagem, designação de domicílio ou proibição
de permanência;
- Foucault fala ainda sobre como a prisão fabrica INDIRETAMENTE delinquentes, ao
fazer cair na miséria a família do detento;
- RIGOR....A VERDADEIRA TÉCNICA PENITENCI´RIA É O RIGOR;
- a prisão é um duplo erro econômico: 1. Diretamente pelo custo intrínseco de sua
organização; 2. Indiretamente pelo custo da delinquência que ela não reprime;
- a essas críticas a resposta foi a mesma: a recondução dos princípios invariávei da
técnica penitenciária;
Há um século e meio a prisão vem sendo dada como seu próprio remédio;
- eles vêm a prisão, o projeto corretivo, como o único meio para diminuir a
criminalidade, único método para superar a impossibilidade de torná-la realidade, ou
seja, prende-se para corrigir o ser humano e não ter que prender mais;

P. 224
- A DETENÇÃO PENAL DEVE TER POR FUNÇÃO ESSENCIAL A
TRANSFORMAÇÃO DO COMPORTAMENTO DO INDIVÍDUO (PRINCÍPIO DA
CORREÇÃO)
- A recuperação do condenado como objetivo principal é um princípio sagrado cuja
aparição formal no campo da ciência e da legialação é recente. A pena privativa de
liberdade tem como onjetivo principal a recuperação e a reclassificação social do
condenado;
- OS DETENTOS DEVEM SER REPARTIDOS OU ISOLADOS DE ACORDO COM
A GRAVIDAE PENAL DE SEU ATO, SEGUNDO SUA IDADE, SUAS
DISPOSIÇÕES, AS TÉCNICAS DE CORREÇÃO QUE SE PRETENDE UTILIZAR
PARA COM ELES, AS FASES DE SUA TRANSFORMAÇÃO (PRINCÍPIO DA
CLASSIFICAÇÃO);
- O TRABALHO DEVE SER UMA DAS PEÇAS ESSENCIAIS DA
TRANSFORMAÇÃO E DA SOCIALIZAÇÃO PROGRESSIVA DOS DETENTOS
(PRINCÍPIO DO TRABALHO COMO OBRIGAÇÃO E COMO DIREITO;
- O trabalho penal não deve ser considerado como uma garavação da pena, mas sim
como uma suavização cuja privação seria possível; deve permitir aprender ou praticar
ofício, e dar recursos ao detenho e a sua família: todo condenado de direito comum é
obrigado ao trabalho, enhum pode ser obrigado a permanecer desocupado;
- A EDUCAÇÃO DO DETENTO É,POR PARTE DO PODER PÚBLICO, AO
MESMO TEMPO UMA PRECAUÇÃO INDISPENSÁVEL NO INTERESSE DA
SOCIEDADE E UMA OBRIGAÇÃO PARA O DETENTO. O TRATAMNTO
INFLIGIDO AO PRISIONEIRO, FORA DE QUALQUER PROMISCUIDADE
CORRUPTORA, DEVE TENDER PRINCIPALMENTE À SUA INSTRUÇÃO
GERAL E PROFISSIONAL E À SUA MELHOR (PRINCÍPIO DA EDUCAÇÃO
PENITENCIÁRIA);
- O REGIME DA PRISÃO DEVE SER, PELO MENOR EM PARTE, CONTROLADO
E ASSUMIDO POR UM PESSOAL ESPECIALIZADO QUE POSSUA AS
CAPACIDADES MORAIS E TÉCNICAS DE ZELAR PELA BOA FORMAÇÃO
DOS INDIVÍDUOS (PRINCÍPIO DA TÉCNICA DA DETENÇÃO);
- O ENCARECAMENTO DEVE SER ACOMPANHADO DE MEDIDAS DE
CONTROLE E DEASSISTÊNCIA ATÉ A READAPTAÇÃO DEFINITIVA DO
ANTIGO DETENTO. SERIA NECESSÁRIO NÃO SÓ VIGIÁ-LO À SUA SAÍDA DA
PRISÃO, MAS PRESTRAR-LHE APOIO E SOCORRO. É DADA ASSITÊNCIA
AOS PRISIONAIEROS DURANTE E DEPOIS DA PENA COM A FINALIDADE DE
FACILITAR SUA RECLASSIFICAÇÃO (PEINCÍPIO DAS INSTITUIÇÕES
ANEXAS);

P. 226
- o que se escorde por debaixo do aparente fracasso da prisão? Foucault vai falar que
deveríamos supor que a prisão e de uma maneira geral, sem dúvida, os castigos, não se
destinam a suprimir as infrações, mas ante a distinguí-las, a distribuí-las, a utilizá-las
- a prisão organiza as transgressões das leis numa tática geral de sujeições;
- a penalidade seria uma maneira de gerir as ilegalidades, de riscar limites de tolerância;
- em linhas gerais, a penalidade não reprimiria as ilegalidades, ela as
DIFERENCIARIA, faria sua “economia geral”;
- e se podemos falar de justiça, não é só porque a própria lei ou a maneira de aplicá-la
servem aos interesses de uma classe, é porque toda a gestão diferencial das ilegalidades
por intermédio da penalidade faz parte desses mecanismos de dominação;
- obs: a penalidade gere as ilegalidades, risca limites de tolerância, da terreno a alguns,
faz pressão a outros, exclui uma parte, torna útil outra, neutraliza alguns, tira proveito de
outros, etc;
- das eis numa tática geral das sujeições;

P. 227
- lá mais no meio do livro o autor fala que existia um equilíbrio de ilegalidades, uma
certa tolerância...e isso é rompido no fim do séc xviii com a reforma penal, salvo
engano, que forma essa utopia de sociedade universal e com as penas perfeitamente
calculadas....só que na passagem do século xviii para o xix surgem novas ilegalidades
populares, que desta vez trazem consigo todos os movimentos que, desde 1780 até as
revoluções de 1848, entrecuzaram os conflitos sociais, as lutas contra os regimes
políticos, a resistência ao movimento de industrialização, os efeitos das crises
econômicas;
- Foucault diz que esquematicamente podemos definir três processos característicos:
1) o desenvolvimento das dimensões políticas das ilegalidades populares; e isso se deu
de duas maneiras: a primeira doi prática, ex: recusa em pagar impostos, dentre outras,
que resultaram durante a Revolução, chuto ser a francesa, em lutas diretamente
políticas, que tinham por finalidade não simplesmente fazer ceder o poder ou transferir
uma medida intolerável, mas mudar o governo e a própria estrutura do poder...DEPOIS
EU VOLTO...NO MOMENTO TO PEGANDO O QUE ME É IMPORTANTE

P. 228
- Através da recusa da lei ou dos regulamentos, reconhecem-se facilmente as lutas
contra aqueles que os estabelecem em conformidade com seus interesses: não se luta
mais contra os arrendatários de impostos, mas contra a própria lei e a justiça que é
encarregada de aplic´-la, contra os proprietários próximos e que impõm os novos
direitos, contra os empregadores que se entendem entre si, mas mandam proibir os
conluios (acho que conluiu é greve, organização sindical);
- FOI CONTRA O NOVO REGIME DE PROPRIEDADE DE TERRA QUE SE
DESENVOLVEU A ILEGALIDADE CAMPONESA QUE SEM DÚVIDA
CONHECEU SUAS FORMAS MAIS VIOLENTAS; FOI CONTRA O NOVO
REGIME DE EXPLORAÇÃO LEGAL DO TRABALHO QUE SE
DESENVOLVERAM AS ILEGALIDADES OPERÁRIAS NO COMEÇO DO
SÉCULO XIX;
- uma série de ilegalidades surgem em lutas onde sabemos que se defrontam ao mesmo
tempo a lei e a classe que a impôs;

P. 229
- Esses processos de ilegalidades não seguiram um desenvolvimento pleno; certamente
não se formou no começo so sec xix uma ilegalidade maciça, ao mesmo tempo política
e social, mas em sua forma esboçada e apesar de sua dispersão foram
suficientemente marcados para servir de suporte ao grande medo de uma plebe
que se acredita toda em conjunto criminosa e sedeiciosa, ao mito da classe
bárbara, imoral e fora da lei que, do império à monarquia de julho, está
continuamente nos discursos dos legisladores, dos filantropos, ou dos
pesquisadores da vida operária
(entendi que o medo por conta das revoltas e revoluções contra as ilegalidades
marcou a plebe como delinquente);
- são processos que encontramos atrás de toda uma série de afirmações bem estranhas à
teoria penal do séc xviii: que o crime é coisa quase que exclusiva de uma certa classe
social, que os criminosos que antigamente eram encontrados em todas as classes sociais,
saem agora quase todas da base da sociedade; “classe degradada pela miséria cujos
vícios se opõem como obstáculo invencível às generosas intenções que querem
combate-las; que nessas condições seria hipocrisia ou ingenuidade acreditar que a lei é
feita para todo mundo em nome de todo mundo, que é mais prudente reconhecer que a
lei é feita para alguns e se aplica a outros; que em princípio ela obriga a todos os
cidadãos, mas se dirige principalmente às classes mais numerosas e menos esclarecidas
e que sua aplicação não se refere a todos da mesma forma; que nos tribunais não é a
sociedade que julga um de seus membros, mas uma categoria social encarregada da
ordem sanciona outra fadada à desordem;
P. 230
- “a lei e a justiça não hesitam em proclamar sua necessária dissimetria de classe”;
- assim, a prisão, ao aparentemente fracassar, não erra seu objetivo, pelo contrário, ela o
atinge na medida em que suscita no meio das outras uma forma particular de ilegalidade
que ela permite separar (essa forma é a delinquência), pôr em plena luz e organizar
como um meio relativamente fechado, mas penetrável. Em outras palavras, segundo
EU, a prisão fracassa? Ok...ela realmente não reintegra o ser humano, mas por que então
ela continua sendo que existem outras formas de “corrigir” o indivíduo, de penalizá-lo?
Porque ela marca. Porque ela, ao contrário das outras formas de pena, tipo a multa, o
banimento, etc, permite dar luz, deixar visível para toda a sociedade, um tipo particular
de ilegalidade. A prisão quer mostrar certo tipo de ilegalidade e gente se fodendo, e isso
ela consegue. A multa, banimento, outros tipos de penas não dão conta;
- ela contribui para estabelecer uma ilegalidade visível, marcada, irredutível a um certo
nível e secretamente útil –rebelde e dócil ao mesmo tempo; ela sublinha uma forma de
ilegalidade que parece resumir simbolicamente todas as outras, mas que permite deixar
na sombra as que se quer ou se deve tolerar.
Obs: por que o napoleão foi banido ao invés de preso? Tudo isso tem um motvo porque
a ilegalidade que ele cometera, na verdade, era um ilegalismo (???) tava dentro de um
certo nível de tolerância, esta claramente marcada com relação à classe. No brasil a
gente poderia acrescentar o fator RAÇA;
- ESSA FORMA É A DELINQUÊNCIA QUE É ANTES DE TUDO UM EFEITO DA
PENALIDADE, DA PENALIDADE DE DETENÇÃO, QUE PERMITE
DIFERENCIAR, ARRUMAR E CONTROLAR AS ILEGALIDADES;
- Sem dúvida a delinquência é uma das formas de ilegalidade e tem suas raízes nela
(ilegalidade), mas é uma ilegalidade que o “sistema carcerário”, com todas as suas
ramificações, investiu, recortou, penetrou, organizou, fechou um meio definido e ao
qual deu um papel instrumental, em relação as outras ilegalidades. Em resumo, se a
posição oposição jurídica ocorre entre a legalidade e prática ilegal, a oposição
estratégica ocorre entre as ilegalidades e a delinquência.
- o atestado de que a prisão fracassa em deduzir os crimes deve talvez ser substituído
pela hipótese de que a prisão conseguiu muito bem produzir a delinquência, tipo
especificado, forma política ou economicamente menos perigosa – TALVEZ ATÉ
UTILIZÁVEL – de ilegalidade;
- o sistema carcerário colocou na prática jurídica todo um horizonte de conhecimento
possível; (acho que é justamente sobre como práticas formam conhecimentos e
poderes), mas posso ta errada porque n entendo todas as nuances do Foucault direito,
mas entendo que saber e poder são práticas e elas se relacionam e que o saber
fundamenta o poder, mas acho que o poder também fundamenta o saber;
- a prisão consolidou a delinquência no movimento das ilegalidades;
- o sucesso da prisão: especificar uma delinquência;
- o sistema carcerário substitiu o infrator pelo delinquente e afixou sobre a prática
jurídica todo um horizonte de conhecimento possível;
- se trata de uma operação política que dissocia das ilegalidades, a delinquência é
dissociada e nisso a delinquência se isola dela.
- a prisão consolida a delinquência no movimento das ilegalidades e permite objetivar a
delinquência por trás da infração;

P. 231
- o circuito da delinquência não seria o subproduto da prisão que, ao punir, não
conseguisse corrigir; seria o efeito direto de uma penalidade que, para gerir as práticas
ilegais, investiria algumas delas num mecanismo de “punição-reprodução” de que o
encarceramento seria uma das peças principais;
- mas por que e como teria sido a prisão chamada a funcionar na fabricação de uma
delinquência que seria de seu dever combater? 1) poder controlar as pessoas e as
ilegalidades...sendo certo que essas ilegalidades controladas, desarmadas e concentradas
são úteis;

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