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O PERÍODO

IMPERIAL
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O PERÍODO IMPERIAL
O CEARÁ NO PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA
Para se entender o processo de independência ocorrida no Ceará, é necessário analisar a
estrutura política da época. Existiam dois grandes partidos, os corcundas, políticos vinculados à
metrópole, e os patriotas, ditos nacionalistas. Num ato político que visava um maior controle do
país, o governo central decide realizar eleições para a formação de juntas governamentais provin-
ciais. Essa decisão criou um ambiente propício para o aumento de antigas rusgas políticas e pessoais
entre os políticos cearenses. A demora na realização das eleições arrefeceu os ânimos, causando,
assim, um movimento pró-independência comandado por Tristão Gonçalves e José Pereira Filgueiras
(ambos haviam participado da Revolução de 1817).
A eleição foi marcada para o dia 16 e outubro de 1822, após a Proclamação da Independên-
cia do Brasil, fato que o Ceará ainda não tomara conhecimento. Reuniu-se o colégio eleitoral em
Icó e exigiram a renúncia da junta governativa de Porbém Barbosa. Essa exigência deflagrou uma
série de conflitos no Cariri, região Jaguaribana e até mesmo em Fortaleza. Em seguida elegeram,
finalmente, representantes cearenses para a assembleia constituinte brasileira e um novo governo
para a província, ligado aos patriotas, formando, assim, um governo temporário. Foram eleitos os
seguintes representantes: José Pereira Filgueiras, do Crato (presidente), Vigário Antonio Manoel
de Souza, de Jardim, José Joaquim Xavier Sobreira , de Lavras, Tenente coronel Antônio Bezerra de
Menezes , do Icó, Francisco Fernandes Vieira , de São Mateus ,Joaquim Pinto de Almeida e Castro,
de Quixeramobim. Todos homens do campo, agricultores e criadores.
Em 23 de janeiro de 1823, Pereira Filgueiras chegou a Fortaleza e assumiu o governo cearense.
A câmara municipal corcunda foi dissolvida e políticos portugueses foram perseguidos. Em 23 de
março de 1823, a vila de Fortaleza foi elevada à condição de cidade, recebendo o nome de Fortaleza
de Nova Bragança em homenagem à família real portuguesa de Orleans e Bragança.

CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR
O século XIX também foi marcado por alguns movimentos revolucionários e conflitos. Em 1817,
alguns cearenses, liderados pela família Alencar, apoiaram a Revolução Pernambucana. O movi-
mento, no entanto, ficou restrito ao Cariri e, especialmente, à cidade do Crato, e foi rapidamente
sufocado. Em 1824, já após a independência, os mesmos ideais republicanos e liberais apareceram
em um movimento mais amplo e organizado: a Confederação do Equador. Aderindo aos revoltosos
pernambucanos, várias cidades cearenses, como Crato, Icó e Quixeramobim, demonstraram sua
insatisfação com o governo imperial.
Em 9 de janeiro de 1824, sob o comando do padre Inácio de Loiola Albuquerque e Melo (Pe.
Mororó), na câmara de Campo Maior de Quixeramobim, declarou excluído do trono D. Pedro I e
decaída a dinastia Bragantina, proclamando assim, a República, com um governo a ser entregue
a José Pereira Filgueiras. Outras vilas se negaram a jurar a constituição outorgada por D. Pedro I,
entre elas, as vilas do Crato, Aracati e Icó. À frente do movimento militar e no comando das tropas
de resistência, estavam Tristão Gonçalves e Pereira Filgueiras, que se encarregaram de tomar a
capital. Em fins de fevereiro de 1824, Tristão e Filgueiras chegaram a Fortaleza, acompanhados dos
exércitos dos confederados, no intuito de ajudar o governo provisório instalado em Fortaleza, que
sofria uma forte pressão dos “corcundas” (monarquistas). O deputado constituinte, José Martiniano
de Alencar, depois da dissolução dela, se encarregou, juntamente com Paes de Andrade, de divulgar
os ideais republicanos no Ceará, pois era um campo fértil, dada a indignação com o autoritarismo
de D. Pedro I e sua carta magna outorgada.
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Em abril de 1824, foi publicado o jornal Diário do Governo do Ceará, sob a direção de Pe.
Mororó. O clima de tensão aumentou quando chegou, em Fortaleza, José Costa Barros, presidente
nomeado por D. Pedro I para substituir o governo provisório. O problema era que Costa Barros era
ligado aos monarquistas (corcundas), o que muito desagradou ao movimento confederado. Em 15 de
abril, os confederados, sob o comando de Pereira Filgueiras, se retiraram para Arronches (Parangaba)
e iniciaram a organização da resistência ao governo central. Em 28 de abril, a cidade de Fortaleza
foi invadida e o presidente Costa Barros foi intimado a renunciar em favor de Tristão Gonçalves.
Em 26 de Agosto de 1824, o grande conselho se reuniu em Fortaleza, a fim de definir as
diretrizes políticas do movimento, ficando determinadas a independência do Ceará, a adesão a
Confederação do Equador e a Proclamação da República. Sendo eleito como presidente da Repú-
blica cearense, Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, tendo como secretário Pe. Mororó. Em 12
de setembro do mesmo ano, as forças monarquistas tomaram Recife e começaram a desbaratar
o movimento. O Presidente Paes de Andrade fugiu para Europa, os revolucionários Frei Caneca
e Agostinho Bezerra, se embrenharam no Sertão com o intuito de juntarem as forças resistentes
do Ceará. Em 29 de setembro, Frei Caneca e Agostinho Bezerra foram presos em Missão Velha e
conduzidos a Recife, mas o Ceará continuou ainda, mesmo que sozinho, dando combate às forças
monarquistas, que então se instalaram em Icó.
Nesse momento, o movimento confederado dentro do Ceará começou a ter dissidências inter-
nas e uma onda de violência, assassinatos, saques e estupros ocorreram sertão a fora, tanto causados
pelos soldados confederados quanto pelas forças monarquistas, que aproveitavam o momento para
a desforra. Isso acabou por minar o movimento.
As vilas que apoiavam o movimento republicano, então se voltaram para o lado monarquista
e os revoltosos, se viram sozinhos. Em 18 de outubro de 1824, atracou em Fortaleza a divisão naval
imperial, comandada pelo mercenário Lorde Cochrane, que exigia o fim imediato da rebelião e man-
tinha José Felix como presidente da província. Em 31 de outubro, no Cariri, Tristão foi emboscado e
morto em Santa Rosa (Jaguaribara). José Martiniano foi preso e conduzido ao Rio de Janeiro, onde
pediu perdão ao imperador e negou a participação no movimento. Por se tratar de um líder político
de grande importância no Nordeste, foi perdoado em 1825.
Pereira Filgueiras se rendeu ao companheiro de armas, Reinaldo de Araújo Bezerra, mas morreu
enquanto era conduzido ao Rio de Janeiro, possivelmente de tifo. Em abril de 1825, se instalava em
Fortaleza uma comissão militar, que deveria julgar os “revolucionários” cearenses. Foram conde-
nados à pena capital: Pe. Mororó, João Andrade de Pessoa Anta, Francisco Miguel Pereira Ibiapina,
Feliciano José da Silva Carapinima, Luis Inácio de Azevedo Bolão, Frei Alexandre da Purificação,
Antônio Bezerra de Souza Menezes e José Ferreira de Azevedo.
Os três últimos tiveram a pena comutada em degredo para Amazônia. (Sousa Menezes, mor-
rera antes no Cariri). Os condenados deveriam ser enforcados, mas, por falta de quem executasse
a sentença como carrasco, foram arcabuzados, no campo da pólvora, hoje passeio público, na atual
praça dos mártires, centro da cidade de Fortaleza.
A INSURREIÇÃO DO CRATO
Foi um movimento ocorrido durante o período regencial do império brasileiro. Ele aconte-
ceu como resposta à abdicação de D. Pedro I. O retorno do imperador à Europa, quando
a nação ficou à espera da maioridade de D. Pedro II, provocou inúmeras rebeliões por
todo o país. Foi um período de incertezas que gerou reações diversas. Uma delas ocorreu
no Crato, interior do Ceará, entre os anos de 1831 e 1832.
O líder do movimento foi Joaquim Pinto Madeira, e as tropas que o seguiam lutavam,
dentre outras pautas, pela restauração de Pedro I. Em seu movimento anularam a ab-
dicação do imperador e deram início a um governo provisório para todo o Cariri. No
entanto, o movimento acabou derrotado pelas tropas de Pedro Labatut, tendo seu líder
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preso, julgado e fuzilado. Para compreender o que levou à revolta e mesmo a formação
da liderança de Pinto Madeira é preciso voltar um pouco no tempo.
Em 1817 Pinto Madeira foi nomeado para comandar o grupo que levou os presos da
região do Crato para Fortaleza durante a revolução que lutava pela república, inspirada
nos ideais que se espalhavam pela América à época. Algum temo depois, em 1824, o
mesmo Joaquim Pinto Madeira foi promovido a Comandante Geral das Armas do Crato.
Mas, depois, sua vida foi marcada por perseguições de ordem política: teve o decreto
que o promoveu a comandante cassado, foi preso em duas ocasiões e foi declarado ini-
migo da constituição. Foi o cônego Antônio Manuel de Souza que insistiu que resistisse
às perseguições e agisse. Assim, buscou a Câmara para denunciar as perseguições que
ocorriam na região.
Em dezembro de 1831 a câmara se reuniu e decidiu por armar a população em defesa
do povo da Vila do Jardim e nesse contexto Francisco Xavier de Souza fora nomeado
comandante da força a fim de defender a vila do ataque dos cratenses republicanos que
se organizavam para o combate. Mas, o comandante passou para o lado dos cratenses
e quem assumiu o comando em seu lugar fora Joaquim Pinto Madeira, tornando-se lide-
rança. Dias depois a câmara se reúne novamente com vistas a seduzir mais cidadãos à
luta: ofereciam 240 réis por dia para quem se apresentasse armado, e a metade do valor
para aqueles que se apresentassem sem armas.
Joaquim Pinto Madeira sabia que os cratenses revoltosos estavam se organizando para
invadir a Vila do Jardim, e no final do mês de dezembro, em contra-ataque, partiu em
direção ao Crato, com tropas chefiadas por Francisco Xavier de Matos. O combate entre
as tropas ocorreu em 27 de dezembro de 1831. As tropas se encontraram no meio do
caminho e o Crato, chefiado por Luiz Rodrigues Chaves, foi derrotado neste conflito. Pinto
Madeira chegou à Vila do Crato no dia seguinte, com uma tropa grande e forte, gerando
medo e insegurança entre os cratenses, que fugiram depois da derrota.
O grupo sob a liderança de Pinto Madeira seguiu rumo a Fortaleza, com o objetivo de
depor o presidente da província José Mariano de Albuquerque Cavalcante, que se tor-
nou o principal opositor a Joaquim Pinto Madeira. José Mariano ordenou que o major
Francisco Xavier Torres partisse em direção ao Cariri para combater os rebeldes que lá
se encontravam e em 6 de fevereiro de 1832 se deu o conflito entre as duas tropas, que
resultou na derrota dos rebeldes. No entanto Pinto Madeira não desistiu de sua missão
e procurou juntar mais voluntários. O major, notando a capacidade de organização de
Pinto Madeira se retirou e preparou o ataque.
Contando com o despreparo e o cansaço das tropas de Pinto Madeira, Torres surpreendeu
as tropas do inimigo e uma série de derrotas acabaram na rendição dos líderes – Joaquim
Pinto Madeira e Pe. Antônio Manuel de Souza – em 12 de outubro de 1832, e de mais de
mil e quinhentos revoltosos. Joaquim Pinto Madeira foi julgado e condenado à morte,
tendo sido fuzilado em 28 de novembro de 1834.
BRITO, Sócrates Quintino da Fonsêca. A Rebelião de Pinto Madeira: fatores políticos e
sociais. Dissertação de Mestrado. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina/
UFSC, 1979.

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