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Algumas Ideias sobre Hobbes e Rousseau

[Original de 2016:]

Seguinte, vem primeiro Thomas Hobbes (1588-1679) com o discurso "Bellum Omnia Omnes"
("A guerra de todos contra todos"), ou seja, isso quer dizer que para ele o ser humano em seu
estado natural vive em guerra – e é a sociedade (a pólis, no sentido mais puro desse termo),
então, que dá um jeito nisso através do "contrato social". Por conseguinte a sociedade precisará
sempre de um "Leviatã" (nome do livro dele), uma "autoridade a qual todos os membros devem
render o suficiente da sua liberdade natural, de forma que tal autoridade possa assegurar a paz
interna e a defesa comum"; isto é, faz-se necessário um Estado soberano para promover
liberdade, pois o homem seria vil por natureza. Portanto para Hobbes o homem NÃO nasce
livre: somente o é quando pode julgar a consequência de suas ações, e quem possibilita isso é
a sociedade.

Depois vem John Locke (1632-1704), inglês, juntamente com sua ideologia do liberalismo e
empirismo. Ele tem a teoria da "tabula rasa" (folha em branco) que tu provavelmente já ouviu
falar. Os homens nascem livres e iguais (o oposto do Hobbes). "O homem vive livre e em paz
em seu estado de natureza." Locke inicialmente afirma que em estado de natureza somos todos
livres, mas reconhece que o obstinado e o forte iria imediatamente se impor na liberdade do
menos obstinado ou fraco, a não ser que o estado fosse habilitado à estabelecer os parâmetros
e garantir direitos através da lei (que dá origem ao liberalismo clássico); não iremos adentrar
nesse território da política aqui, pois não é nosso foco no momento, que é psicológico (nosso
foco também não é filosófico, ou seja, a refutação do empirismo do Locke através da Lógica de
Platão ou de Kant, o último metafísico, por assim dizer). O ponto que devemos ter em mente é
que para Locke o homem em estado de natureza vive em paz, livre, leve e solto.

Seguindo a onda do Locke, Jean-Jacques Rousseau (1712-1776 – repare que é bem na época
da Revolução Francesa, do "brilhante" [pff] iluminismo) escreve sua teoria a qual é a precursora
do romantismo. Para Rousseau as instituições educativas corrompem o homem e tiram-lhe a
liberdade (diz que o homem é bom por natureza, que nasce livre etc., e a sociedade o corrompe;
é a teoria do "bom selvagem"). E é esse rousseauismo que vai dar origem ao "ambientalismo
social" (que é a presunção de que o crime resulta da privação social, ou seja, de um bairro
pobre, um lar ruim); entretanto, não é a sociedade (o bairro/lar ruim) a culpada por gerar os
crimes do homem – o mal já está no homem. E é precisamente a sociedade que consegue
sustentar/reprimir a natureza vil que também se faz presente no homem, não é ela a causa do
mal. "Quando os controles sociais enfraquecem, a crueldade inata do homem vem a tona"
(Paglia).

Depois da galera "do bem", vem o autor Marquês de Sade (1740-1814), que retoma o Hobbes.
A obra do Sade (que originou o termo "sádico") é uma grande crítica satírica ao Rousseau
(heheh). Sade segue Hobbes, e não Locke. Para ele "voltar à natureza/retorno à natureza"
(aquele ideal romântico que é muito divulgado por aí, inclusive por hippies rousseauistas etc.) é
na verdade dar rédeas soltas à sexualidade, à violência e ao desejo (enfim, à amoralidade, à
brutalidade...), pois a natureza é brutal, amoral, violenta. "A sociedade é uma construção
artificial, uma defesa contra o poder da natureza. Sem sociedade, estaríamos sendo jogados de
um lado para outro nas tempestades do mar da barbárie que é a natureza" (Paglia). Nietzsche e
Freud seguem nessa linha, mas se aprofundam em outras questões.

Daí a erudita Camille Paglia (autora que tenho lido) concorda com isso, seguindo essa linha do
Sade:

"A sociedade não é a criminosa, mas a força que contém o crime. Quando os controles sociais
enfraquecem, a crueldade inata do homem vem à tona. O estuprador não é criado por más
influências sociais, mas por uma falha de condicionamento social. As feministas, buscando
eliminar do sexo as relações de poder, colocaram-se contra a própria natureza. Sexo é poder.
Identidade é poder. Na cultura ocidental, não há relações que não sejam de exploração. Todos
matam para viver. A lei natural e universal de criação a partir da destruição opera tanto na mente
como na matéria. Como afirma Freud, herdeiro de Nietzsche, identidade é conflito. (...) O
liberalismo moderno sofre de contradições não resolvidas. Exalta o individualismo e a liberdade,
e sua ala radical condena as ordens sociais como opressivas. Por outro lado, espera que o
governo seja o provedor material de todos, um feito só alcançável mediante a expansão da
autoridade de uma burocracia inchada. Em outras palavras, o liberalismo define o governo como
um pai tirano, mas exige que ele aja como uma mãe que amamenta. O feminismo herdou essas
contradições. Encara toda hierarquia como repressiva, uma ficção social; [a verdade é que,
como aponta o verdadeiro feminismo:] todo aspecto negativo na mulher é uma mentira
masculina, destinada a mantê-la em seu lugar. [Só que] o feminismo excedeu sua missão, a
busca de igualdade política para as mulheres, e acabou rejeitando a contingência, ou seja, a
limitação humana pela natureza ou pelo destino" (p. 14).

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