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Resenha Necropolítica – Psicanálise.

Manuela Arntsen – 03K – 32252625.


O livro “Necropolítica”, escrito por Achille Mbembe, publicado em 2018, fala
sobre o poder que o Estado possui de ditar quem pode viver e quem pode morrer. O
autor diz em seu livro que cabe ao Estado estabelecer limites entre os direitos, a
violência e a morte, porém, ao invés disso, esse poder é utilizado para criar zonas de
morte, colocando em risco os corpos “matáveis”. E quando estes corpos, que são
majoritariamente minorias não são mortos, são criados “mundos de morte”, que
submetem essas pessoas a condições tão precárias de vida, que estas se tornam mortos-
vivos que morrerão em pouco tempo.

E quem são esses seres que são considerados matáveis? Mbembe cita em seu
livro que são seres geralmente selecionados no racismo, seres que o Estado diz que
“encarnam o inimigo” e que precisam ser destruídos por “segurança” da população, e
que com as suas mortes, haverá menos violência.

Ou seja, com o biopoder e as tecnologias de controle de população o termo


“deixar morrer” se tornou muito aceitável, a corpos matáveis, e com essa ideia, surge o
termo “necropolítica” que questiona se o Estado possui ou não “licença para matar”. Ao
falar sobre esse assunto, as autoridades usam a decisão de quem vive e quem morre
como desculpa para diminuir a violência, aumentar a segurança da população, quando
na verdade está reforçando segregações, estereótipos e até o extermínio de certos
grupos.

Ademais, o livro diz “Ao transformar a natureza, o ser humano cria um mundo;
mas no processo ele ou ela fica exposto (a) em sua própria negatividade” (página 11),
esse trecho se relaciona com quando Freud diz que o processo civilizatório é a soma de
realizações e instituições que nos afastam de nossos instintos animais. Ao nos afastar de
nossos instintos animais, e criar leis e padrões culturais, vemos o mal do ser humano e
da sociedade, quebrando os nossos instintos e pulsões, para nos comportarmos de
acordo com os padrões. E ainda por cima, Mbembe diz no livro “os selvagens são, por
assim dizer, seres “humanos” naturais, que carecem do caráter específico do humano
(...) quando os europeus massacravam, de certa forma não tinham consciência de
cometerem um crime” (página 36), ou seja, se você é um indivíduo que foge dos
padrões culturais e sociais, que até ao matarem esses indivíduos os europeus não se
importavam, já que iam de encontro com suas leis.

Sem contar com o fato de que ao estudarmos o cenário histórico da psicanálise,


vimos um pouco da biografia de Freud, a qual tivemos a informação de que ele e sua
família eram judeus, e passaram por um grande período de opressão. O nazismo se não
o maior e pioneiro, foi um dos grandes Estados que criou e aplicou esse ideal de
“licença para matar”. No livro, Mbembe diz “o Estado nazista é visto como aquele que
abriu caminho para uma tremenda consolidação do direito de matar” (página 19).

Além disso, o autor traz no livro a seguinte frase “A morte (...) ela é
experimentada como “uma libertação do terror e da servidão” “(página 70), nos estudos
de Freud, aprendemos que o prazer se dá pela liberação da tensão, porém a liberação
dessa tensão nunca é total. Só será total no momento da morte do indivíduo. Mbembe
nesse trecho mostra que a morte não é algo aterrorizante, mas que é uma visão da
liberdade, pois os seres humanos que estão em condições precárias de vida, preferem
morrer e acabar com o sofrimento, liberando toda a tensão, gerando prazer eterno.

Em suma, Mbembe traz uma incrível análise de como o Estado possui muito
poder em suas mãos, e como de um dia ao outro podem decidir quem vai viver e quem
vai morrer, mostrando que nenhum indivíduo social é livre, e aquele indivíduo que tenta
ser livre, e viver fora das regras e dos padrões culturais é punido, e pode ser até levado a
morte. Ele traz também a ideia de que muitos indivíduos que vivem em situações
precárias muitas vezes preferem a morte, a busca da liberação total do prazer, do que
serem “mortos-vivos” que já estão em decomposição. Por fim, eu questiono o quanto de
nós é nosso e o quanto é imposto pela sociedade, cultura e Estado?

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