O texto de Pierre Clastres objetiva mostrar o que é o etnocídio.
Coloca o autor que, no início, o termo veio para diferenciar-se do conceito
de genocídio. Este surge com o Tribunal de Nuremberg julgando os crimes nazistas, porém, vale ressaltar que, antes deste, outros já haviam sido perpetrados na história da humanidade – vide o colonialismo, por exemplo.
Nesse contexto, o etnocídio surge inicialmente para se referir à realidade
das populações autóctones sul-americanas.
A diferença, então, é que o genocídio faz referência às raças e a uma
vontade de extermínio de determinado povo, enquanto no etnocídio a mira não é a vida das pessoas, mas, sim, sua cultura. Diz o autor no texto que o primeiro mata os povos em corpo; o segundo, em espírito.
Diante da diferença do Outro, o genocida considera melhor simplesmente
negá-la diante da absoluta maldade que ela representa. O etnocida, por sua vez, vê maldade na cultura e objetiva exterminá-la objetivando a “adequação” daquele povo às normas culturais do dominador.
O etnocídio foi praticado por diversos grupos ao longo da história, dentre
eles os missionários propagadores da fé cristã na América do Sul. Neste caso, nota-se nitidamente um axioma determinante da prática: a ideia de superioridade de uma cultura em relação à outra, a qual leva ao etnocídio exigido (sic) pelo humanismo ocidental. Avalia-se, portanto, a cultura indígena pela ótica da branca.
Ao passo em que todos os povos têm o costume de se considerar
excelente e excepcional, apenas o ocidente foi etnocida. É a partir deste raciocínio que o autor afirma a necessidade de se chegar à raiz do problema do etnocídio. Se formos atribui-lo simplesmente à característica etnocêntrica da cultura ocidental, estar-se-á trabalhando superficialmente, dado que este é um trato de diversos povos. A questão mais pertinente neste caso seria quais as razões pelas quais isso acontece – e para respondê-la é preciso analisar a história.
O autor aponta a figura do Estado como um símbolo do “Um” que está no
centro da sociedade e representa a recusa à diferença. Ademais, menciona como exemplo a França, país em cuja formação exterminou diversas culturas e idiomas como o Breton e o Occitan, e os Incas, também conhecidos por suas armas de pressão e violência contra povos conquistados e rivais.
Segundo ele, o Estado possui essência etnocida, a qual compõe seu
modo normal de existência. Sendo assim, desvincula-se tais práticas das sociedades brancas, mostrando que ela esteve – e está – presente nas mais diversas sociedades com presença estatal. Apesar de diferir nos Estados “bárbaros” – em que a violência cessa à medida em que não se corre mais risco – e nos “civilizados” – onde ela continua independente da circunstância, o autor vincula fortemente o aparelho estatal ao etnocídio.
Em suma, através da diferenciação entre etnocídio e genocídio, o autor
deixa manifesta sua opinião – fazendo uso de exemplos históricos e análises sociológicas –, de que a prática etnocida, ao fim e ao cabo, é ligada ao Estado e apresenta-se universalmente.