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AVALIAÇÃO 2

Curso: Relações Internacionais

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1) De acordo com o texto de P. Clastres, discorra sobre a diferença entre genocídio e etnocídio.

O termo “genocídio” foi usado pela primeira vez pelo jurista polaco Raphäel Lemkin na sua obra

“Axis Rule in Occupied”em 1944, através da junção do grego “geno” com “cídio” da palavra

matar em Latin. Lemking desenvolveu esse conceito de genocídio devido ao Holocausto, mas

também devido a instâncias anteriores em que considerou que nações inteiras, grupos étnicos e

religiosos foram aniquilados. As acusações e julgamentos de Nuremberg após a Segunda Guerra

Mundial, que foi o julgamento dos principais oficiais alemães pelo Tribunal Militar Internacional

(TMI), iniciado formalmente na cidade de Nuremberg, na Alemanha, se referia ao "genocídio"

no contexto de crimes contra a humanidade, particularmente em relação à perseguição e

assassinato. Como afirma Pierre ( Arqueologia da violência, p.55) ''Um racismo que se

desenvolve livremente, como foi o caso na Alemanha nazista, só pode conduzir ao genocídio''.

Na época, no entanto, o genocídio não era um crime separado na Carta do Tribunal Militar

Internacional, mas era usado como um termo descritivo e não legal. O termo foi codificado pela

primeira vez como um crime separado sob o direito internacional na Convenção de 1948 sobre a

Prevenção e Punição do Crime de Genocídio (também conhecido como Convenção do

Genocídio). De acordo com o artigo 1º da Convenção, “as partes reconhecem que o genocídio,

cometido em tempo de paz ou de guerra, é um crime de direito internacional e se comprometem

a preveni-lo e puni-lo”.
Em raízes etimológicas, "etno" corresponde a uma comunidade ou raça nacional, é uma palavra

de nação grega referindo-se às qualidades de uma nação que compartilha um ethos cultural, ou

seja, modo de vida, costumes, valores, padrões ações e relações, tradições e normas dentro de um

determinado coletivo. O etnocídio representa portanto, a morte de culturas e modos de vida

coletivos e derivados. conceito de etnocídio foi cunhado em 1970, pelo antropólogo francês,

Robert Jaulin (1973), autor do livro La paix blanche: introduction à l’ethnocide. O autor propôs

este conceito a partir de seu trabalho etnográfico com o povo Bari, na região de fronteira entre a

Venezuela e Colômbia. Na obra, Jaulin estabelece relações entre a colonização, imposição

religiosa de missões cristãs, pressão econômica das petroleiras, o uso da força por parte dos

Estados e a destruição dos modos de vida e da cultura da sociedade Bari. Este antropólogo

afirma que o etnocídio não se configura pelos seus meios, mas sim por sua finalidade de

eliminação da condição sociocultural diferenciada de determinada coletividade.''O etnocídio,

portanto, é a destruição sistemática dos modos de vida e pensamento de povos diferentes

daqueles que empreendem essa destruição.''(P. Clastres, p. 56).

Em 1974, Pierre Clastres escreveu seu famoso ensaio sobre etnocídio. Com a intenção de

distinguir as diferenças entre a noção de etnocídio e de genocídio com um tratamento mais

científico. Para Clastres, etnocídio e genocídio inclui uma rejeição da diferença, com graus

diferenciados de violência. No caso do genocídio, o Outro seria absolutamente mau, com uma

perspectiva racista, negando as manifestações físicas desse Outro, levando ao mero extermínio

físico das pessoas. A espiritualidade humanista do genocídio considera o Outro relativamente

mau e, portanto, perfectível. Os missionários seriam o principal exemplo de quem cometeu esse

tipo de crime, que Clastres via como agressão contra a crença e que, se não fosse controlado, a

violência física transportaria ao genocídio. A frase em que Pierre melhor descreve a diferença
entre genocídio e etnocídio, seria: O genocídio assassina os povos em seu corpo, o etnocídio os

mata em seu espírito. Ele também afirma que, nos dois casos, sempre irá se tratar da morte,

porém, uma morte diferente, pois a supressão física e imediata não é o mesmo que a opressão

cultural com efeitos a longo prazo, dependendo da resistência da minoria oprimida.

2) Comente, com base na noção de etnocídio, a matéria jornalística indicada:

https://www.brasildefato.com.br/2020/11/18/justica-reconhece-etnocidio-causado-por-belo-monte-a-i
ndigenas-e-ordena-mudancas

A construção da hidrelétrica de Belo monte no curso do rio Xingu gerou muita polêmica nas

questões ambientais e energéticos. De um lado, povos tradicionais e indígenas, bem como

ativistas e grupos ambientalistas que questionam o impacto da construção dessa estrutura; de

outro, o governo e outros ativistas defendem sua construção para aumentar a produção de energia

no país e acabar com os medos de uma possível crise energética. Porém, baseando-se no termo

etnocídio definido por Clastres em que ele afirma que ''etnocídio é a destruição de sua cultura'',

podemos afirmar que houve etnocídio dos indígenas que moram no local, após a criação dessa

usina. Pierre diz que etnocídio destrói sistemáticamente o modo de vida e pensamento desses

povos, e segundo a matéria jornalística, jovens Arara da terra indígena de Cachoeira Seca de Iriri

se corromperam e trocaram diversões tradicionais por diversão do povo branco, oque fica claro

na fala do Cacique Mobu Odo, onde ele diz ''Interferiu muito na nossa cultura. Muito jovem da

aldeia não quer mais respeitar nossa cultura. A cultura do branco ficou muito forte na entrada

dessas empresas'', exemplificando assim, o pensando do autor citado.


Não só a cultura, mas a alimentação desses povos também sofreu interferência, dado que a seca

do rio Xingu afetou diretamente a alimentação deles que era baseado em recursos naturais como

peixes e frutos, e agora só restou como opção ir ao mercado distante da comunidade comprar

alimentos industrializados. Segundo Pierre Clastres, a organização estatal é etnocida e o

etnocídio é o modo normal da existência do Estado, e ele enfatiza essa ideia quando descorre a

cerca do Ocidente, onde diz que

''O que diferencia o Ocidente é o capitalismo, enquanto impossibilidade de permanecer no

aquém de uma fronteira, enquanto passagem para além de toda fronteira; é o capitalismo como

sistema de produção para o qual nada é impossível, exceto não ser para si mesmo seu próprio fim:

seja ele, aliás, liberal, privado, como na Europa ocidental, ou planificado, de Estado, como na

Europa oriental. A sociedade industrial, a mais formidável máquina de produzir, é por isso

mesmo a mais terrível máquina de destruir.''

Mesmo após a Justiça Federal em Altamira reconhecer que a usina de Belo Monte causou

interferências significativas na cultura e modo de vida dos povos indíginas, o presidente eleito

Luiz Inácio afirmou em uma entrevista à Rádio Difusora, de Manaus, que faria Belo Monte

novamente ''Faria. Faria, veja, eu conheço o argumento das pessoas que são contra, eu conheço,

ou seja, as pessoas eram contra um projeto.'' após essa fala ele afirma que reduziram o projeto em

mais da metade do projeto original e que fizeram um justo ajuste com todos os movimentos,

madres indíos e ribeirinhos. Finalizando a ideia de Castres sobre o Estado, segundo ele, aos olhos

do ocidente, era inadimicível o desperdício por não explorar economicamente os recursos

naturais, deixando apenas duas escolhas a essas sociedades, genocídio ou etnocídio.


Íntegra da entrevista do Lula à Radio:

https://lula.com.br/leia-a-integra-da-entrevista-de-lula-para-a-radio-difusora-de-manaus-am/

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