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No texto, Terry Eagleton ressalta o caráter político-ideológico que os
embates sobre alta cultura e baixa cultura trazem modernamente em seu bojo,
além de problematizar a suposta legitimação do poderio econômico do
Ocidente pelo viés da cultura, revelando que os enfrentamentos vão muito além
de contendas universitárias ou questões de gosto e preferências, mas sim a
definição de eixos geopolíticos. Além disso, o autor aponta a natureza
econômica na qual os bens culturais imiscuíram-se, citando, como exemplo, a
indústria do cinema. Diante de seu acesso “mais democrático”, a sétima arte
contribuiu para tornar tênue cada vez mais a linha que separa a alta cultura da
baixa cultura.
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Tal necessidade verificou-se na instituição política do conceito de
Estado-nação, que nada mais é do que uma tentativa romântica coercitiva de
universalização do individual, onde culturas contingenciais tornam-se as bases
desse Estado formatador de identidade, ao mesmo tempo em que destroem
diversas manifestações de culturas genuinamente autênticas, mas, ao mesmo
tempo, contraditórias. O autor cita Marx ao comentar que o próprio Estado é
fruto desta contradição. Em A invenção das tradições (Paz e Terra, 1984), Eric
Hobsbawm observa que diversas instituições políticas, inclusive o próprio
nacionalismo, se viram obrigados à invenção de uma continuidade histórica
através da criação de um passado remoto, utilizando-se para isso a invenção
de tradições, a fim de que pudessem legitimar suas ações de coesão social.
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Tais contestações são exemplos de que a cultura europeia, para
tomarmos esta como um suposto modelo de alta cultura, não é homogênea,
imune a contradições e aspectos nocivos. Ao mesmo tempo em que ela nos
ofereceu Shakespeare, Beethoven e Van Gogh, também produziu Auschwitz e
o Apartheid. Mais importante do que identificarmos as peculiaridades da cultura
como identidade, civilidade ou do tipo pós-moderna, é percebermos que será
tanto comercial quanto identitária ao considerarmos, por exemplo, o advento de
um “consumismo gay”. De fato, a valorização do “ter” em detrimento do “ser”,
sacramentada pela cultura pós-moderna, irá dialogar com as políticas de
identidade e com os descentramentos do indivíduo de seu meio social.