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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Departamento de Relações Internacionais – 2022/01


Aluna: Júlia Santos Gomes

1)
O autor da obra “Raça e História”, Lévi Strauss, trata nela a diversidade cultural.
Ele critica o uso de teorias evolucionistas, relativas às ciências biológicas que
repudiavam culturas não europeias, nos estudos da cultura e o caracteriza,
consequentemente, como um fator que apaga e exclui diversas civilizações. Strauss
também tece muitas críticas à ordem binária presente no mundo, caracterizando-a
como racista por polarizar o “evoluído” e o “não evoluído”, o “primitivo” e o
“civilizado”.
Essa ordem binária presente nas civilizações é um reflexo do racismo nos
estudos da cultura através do evolucionismo. E, nesse sentido, Strauss explicita que
todas essas problemáticas são oriundas do etnocentrismo, mais especificamente do
eurocentrismo, atrelado a História Estacionária que se mantém inalterada. Com o
objetivo de demonstrar o motivo pelo qual o uso dos termos progresso e evolução
são problemáticos, Strauss defende que o conceito de cultura é atrelado a civilização
que através de suas trocas torna a História Acumulativa, ou seja, que progride.
Assim, Strauss defende que as culturas são constituídas de diversidade e diferença e
que o uso de estudos evolutivos, com termologias como “progresso” e “evolução”, é
racista e caracteriza o etnocentrismo europeu.
Nesse viés de trocas entre culturas, Denys Cuche trata do conceito de
aculturação sob um viés de sincretismo cultural, ou seja, o processo de interação
entre duas cutluras, que ao ocorrer de maneira forçada pode gerar processos que
apagam culturas com a assimilação (desaparecimento total da cultura original) e o
etnocídio ( destruição do modo de pensar de um povo). Além disso, Cuche trata da
identidade como um conceito composto por diversas camadas que é composto por
troca entre culturas, sendo nenhuma dessas totalmente “pura”
No âmbito do conceito de cultura, Cuche trata a cultura por um viés histórico
social, passando pelo conceito de cultura do iluminismo e humanismo ao atrelá-la
como intrínseca ao homem e como algo que o guia para a razão. Ademais, o autor
também ressalta o debate franco-alemão sobre o conceito de cultura que, para os
franceses é um conceito humanista que une o homem ao mundo das ideias e para os
alemães o conceito de cultura (Kultur) possui um ideal mais particularista em que a
cultura faz parte do mundo espiritual e o homem do mundo material.
Ainda encaminhado para o conceito de cultura como algo intrínseco ao social,
está Renato Ortiz, que trabalha em torno da ausência e da exclusão do estudo da
cultura nas ciências sociais. O autor ressalta a defasagem temporal entre a
institucionalização da cultura no norte e no sul global devido ao processo de
colonização que corroborou para o processo de modernização tardio no sul.
Outrossim, Ortiz trabalha os conceitos de cultura popular, cultura de massa e
cultura nacional e tece críticas a elas. Para ele, a cultura popular usufrui do folclore
para exaltar determinadas culturas e identidades. Já a cultura nacional acaba por
generalizá-las ao construir uma única identidade nacional que subordina ao povo ao
Estado. E, por fim, a cultura de massa é atrelada ao mercado que vende culturas
diversas em prol do capitalismo. Portanto, conclui-se que, Renato Ortiz relaciona a
antropologia e a sociologia como algo fundamental para o entendimento da cultura.

3)

Teorias marxistas são plurais ao tratarem de campos de estudo variados como as


ciências sociais. Nelas há uma relação intrínseca entre os conceitos e ideias de
redistribuição e reconhecimento. Porém, no fim do século XX, com a queda do
comunismo, a institucionalização do mercantilismo e a dominância hegemônica do
capitalismo houve o divórcio desse dois conceitos.
É nesse contexto que Nancy Fraser tece suas críticas ao capitalismo e defende a
justiça social, além de explicitar a necessidade e a importância da relação entre os
conceitos de políticas de reconhecimento e de redistribuição. Assim, Fraser
especifica o objeto do reconhecimento como o combate à subordinação do status e
ao não reconhecimento e, especifica a finalidade da redistribuição como a
distribuição justa de riqueza e a luta por uma igualdade de classes.
Com isso, Fraser defende o atrelamento desses conceitos, propondo alternativas
como a hibridização transcultural (cruzamento entre culturas), a diversidade
institucional ( fuga dos padrões institucionalizados) e a pluralidade ética
(fundamentação de diferentes valores e normas embasadas em diferentes éticas) para
uni-los novamente. Ademais, a autora define que o mercado contemporâneo está
atrelado a cultura e que a má distribuição não necessariamente ocasiona, mas
influencia o não reconhecimento. Dessa forma, Fraser expõe a relação intrínseca das
políticas de reconhecimento e redistribuição.
Ao tratar da noção de classe, a autora Lélia Gonzales também se destaca ao
relacioná-la com questões de gênero e raça, tratando implicitamente da
interseccionalidade e de conceitos como consciência e memória, sendo o primeiro
uma forma de silenciar o segundo. A consciência é dominante, alienante e
silenciadora da memória que é a verdade nunca contada.
Além disso, Gonzales aborda o mito da democracia racial e a miscigenação,
usufruindo de diversos exemplos de objetificação e abjeto para desconstruir o
idealismo da ideologia da branquitude de que afirma a ausência de estupros e
violência contra a mulher preta. Assim, ela descortina o carnaval ao demonstrar que
a exclusão está presente na inclusão, critica as ressignificações dadas a palavras de
origem africanas de formas negativas e a hiperssexualização da mulher preta.
O mito da democracia racial é oriundo da neurose cultural brasileira que trata de
um discurso dominante ao ocultar o racismo no país. Discurso esse que apaga e
exclui de maneira racista e misógina a mulher preta da sociedade brasileira.
Portanto, conclui-se que, para Lélia Gonzales o racismo e a misoginia é algo
enraizado na estrutura institucional de nosso país.

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