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CONCEITOS DE CULTURA E SUA IMPORTÂNCIA NA

CONTEMPORANEIDADE

Aline Libânia Chagas de Oliveira

RESUMO: Este ensaio tem como objetivo discorrer e entender acerca dos variados
conceitos de cultura encadeados ao decorrer de processos históricos, mostrar a
importância do debate sobre a cultura na contemporaneidade a partir de autores e
intelectuais que se preocupam com esta temática.
Palavras-Chave: Cultura; contemporaneidade; processos históricos;

1.Introdução:
O termo cultura é usado normalmente de maneira ampla. Ao decorrer de
processos históricos ocorridos na humanidade, a discussão sobre o assunto e seus
conceitos foram se modificando.
Diante desses diferentes contextos históricos, a forma de como vemos a cultura e
maneiras de comportamento da sociedade sofreram mudanças. Envolvendo questões
políticas, filosóficas e antropológicas podemos nos aprofundar um pouco mais e
entender essas mutações acerca da temática cultural e da nossa forma de viver desde a
modernidade até a contemporaneidade.
Com o fim da guerra fria e a globalização, é um mundo cada vez mais
centralizado em sociedades hegemônicas que servem ao capitalismo, o entendimento
que se tem sobre cultura muda veemente. O debate ideológico cessado nesse contexto,
abre espaço para se discutir com mais amplitude sobre a cultura.
Com o embasamento de teóricos e estudiosos podemos aqui nesse ensaio
compreender dentro desses processos históricos como foi dada a concepção de cultura,
o entendimento sobre o multicultural e o multiculturalismo desde sua conceituação
inicial até os dias atuais.

2. Conceitos de cultura

Na etimologia, a palavra Cultura significa cultivar e vem do latim colere. ''A raiz
latina da palavra 'cultura' é colere, o que pode significar qualquer coisa, desde cultivar e
habitar a adorar e proteger'' (EAGLETON, 2005, p. 10). Mas muito mais que sua
etimologia, a conceituação de cultura é bastante ampla, complexa e difícil de definir, na
história ela caminha por um lado co-relativista e também pelo lado mais antropológico
na relação com a forma de vivência do ser humano, nas relações e costumes. Terry
Eagleton em seu livro A ideia de cultura, levanta várias conceituações para a definição
de cultura a partir do desenvolvimento histórico da humanidade. “Um de seus
significados originais é "lavoura" ou "cultivo agrícola", o cultivo do que cresce
naturalmente.'' (EAGLETON, 2005, p. 9). Uma relação entre o ser humano e a natureza.
No século XVIII, se distancia o conceito de origem latina de cultivo da natureza.
“A natureza agora não é apenas a matéria constitutiva do mundo, mas a perigosamente
apetitiva matéria constitutiva do eu.” (EAGLETON, 2005, p.15). O sentido da palavra
cultura agora aparece de forma interligada diretamente ao cuidado com o ser humano,
por meio do conhecimento, ganhando a acepção espiritualizada e de elevação. Com a
colonização europeia do mundo e a instauração do iluminismo nesse momento
histórico, se achavam mais “civilizados” que os outros que eram diferentes, e usavam
essa ideia para impor forma de comportamento aos outros povos, achavam que somente
eles eram os detentores de cultura. Isso se dá por conta das ideologias políticas, que faz
com que a sociedade fosse moldada em seus costumes, o estado vem com o intuito de
moldar os indivíduos de acordo com seus interesses, com a intenção de transformar os
homens em sujeitos civilizados. Uma outra crítica trazida por Eagleton, se diz respeito
em relação às artes e atividades intelectuais que também se torna excludente no sentido
de que esses valores “civilizados” só poderiam existir dentro dessas atividades e em
outros campos não.

”Tão logo cultura venha significar erudição e as artes, atividades


restritas a uma pequena proporção de homens e mulheres, a
idéia é ao mesmo tempo intensificada e
empobrecida.”(EAGLETON, 2005, p.15)

Na Europa, inicialmente o sentido da palavra cultura, de certa forma


permaneceram com o mesmo sentido de “cultivo”. Já no século XVI “cultura” vinha
com a significação do desenvolvimento humano, partindo desse desenvolvimento
humano a palavra ganha um contraste com “civilização” reforçando o que foi
apresentado por Eagleton retratando a colonização europeia e o iluminismo, da ligação
entre cultura e ser “culto” de acordo com modos comportamentais.

Na França e na Inglaterra, os usos das palavras "cultura" e


"civilização" se sobrepuseram: ambas foram, progressivamente,
sendo usadas para descrever um processo geral de
desenvolvimento urbano, de tomar-se" culto" ou "civilizado".
(THOMPSON, 2009, p.168)
No século XIX a cultura teve sua conceituação pela Antropologia, assim,
afastando esses conceitos trazidos pela europa e deslocando a palavra para um sentido
no campo de costumes de outros povos. Thompson (2009) encaminha a cultura para
duas concepções: descritiva e simbólicas. Muitos historiadores culturais no século XIX
contribuíram para essas concepções, como: Klemm, de Tylor e de Malinowski a fim de
entender sobre os outros povos não europeus. A concepção descritiva, refere-se a
cultura de um determinado grupo por costumes, crenças e valores e instrumentos
materiais e artefatos produzidos por esses povos.

Caracterizei esta visão como a "concepção descritiva" da


cultura, uma concepção que pode ser resumida como segue: a
cultura de urn grupo au sociedade e o conjunto de crenças,
costumes, ideias e valores, bern como as artefatos, objetos e
instrumentos materiais, que são adquiridos pelos indivíduos
enquanto membros de um grupo ou sociedade; (THOMPSON,
2009, p.168)

A partir do conceito de Clifford Geertz, em que traz um pensamento mais no


âmbito semiótico, baseado por interpretações e significações da realidade, Thompson
complementa inserindo como importante os contextos sociais, na análise etnográfica de
cultura avista-se uma variações de significados fundamentado pelas ações e expressões
praticadas pelos sujeitos no cotidiano e interpretando essas ações. “são interpretações de
interpretações abordagens de segunda ordem, por assim dizer, sobre urn mundo que e ja
constantemente descrito e interpretado” (THOMPSON, 2009, p.175) Embasado nisso
Thompson trouxe a “concepção simbólica” que são as manifestações simbólicas
praticadas pelos humanos em suas formas de comunicação e compartilhamento de ações
e crenças. O autor problematiza a falta de atenção na questão do poder e conflito e que
vem como consequência as formas simbólicas que estão inseridas dentro de um
contexto social, agregado a isso, Thompson propõe a concepção estrutural da cultura:

o estudo das formas simbólicas - isto é, das ações, objetos e expressões


significativas de vários tipos - em relação a contextos e processos
historicamente específicos e socialmente estruturados dentro dos quais, e
por meio dos quais, essas formas simbólicas são produzidas, transmitidas
e recebidas (THOMPSON, 2009, p. 181).

Enfatizando então as formas simbólicas nos fenômenos culturais que são inseridos
dentro de contextos socialmente estruturados.
3. Os dilemas do multiculturalismo

Fazendo uma breve introdução ao assunto do multiculturalismo e os principais


fatores que contribuiram sua emergência, podemos começar em uma definição: há
diferença entre Multicultural e Multiculturalismo, segundo o pensador jamaicano Stuart
Hall, multicultural diz respeito à diversidade cultural presente na sociedades na
contemporaneidade e multiculturalismo se trata sobre a gestão dessa sociedade cultural
diversa. Nessa perspectiva, Hall (2003) aponta algumas variantes do multiculturalismo:
multiculturalismo conservador que tem a tendência de homogeneização seguindo os
costumes da maioria; o multiculturalismo liberal que carrega consigo a visão de
integração dos diferentes grupos culturais ligados a práticas culturais de domínio
privado; multiculturalismo pluralista se categoriza por trazer uma ideia mais comunal ao
garantir direitos a grupos culturais e suas diferenças; multiculturalismo comercial ligado
ao consumo de maneira privada entre os indivíduos; multiculturalismo corporativo
priorizando as diferenças culturais da minoria; e o multiculturalismo crítico ou
revolucionário ligado a uma transformação social decorrente da temática sobre o poder,
hierarquia etc. O multiculturalismo então:
É contestado pela direita conservadora, em prol da
pureza e integridade cultural da nação. É contestado pelos
liberais, que alegam que o “culto da etnicidade” e a busca da
diferença ameaçam o universalismo e a neutralidade do estado
liberal, comprometendo a autonomia pessoal, a liberdade
individual e a igualdade formal. Alguns liberais afirmam que o
multiculturalismo, ao legitimar a ideia dos “direitos de grupo”.
Subverte o sonho de uma nação e cidadania construídas a partir
das culturas de povos diversos (...). (HALL, 2003, p.53)

No período pós segunda guerra mundial, a emergência sobre o multiculturalismo


se acentuou, a partir do modelo britânico abordado por Hall (2003) no texto "A questão
multicultural" a problemática do multiculturalismo se intensificou a partir de alguns
fatores históricos que encadeiam essa discussão. O primeiro fator é o período do fim do
colonialismo, a partir do momento que as nações conquistam sua independência,
emergem novas identidades culturais dentro nessas nações, essas sociedades enfrentam
dificuldades de desenvolvimento nesse período. Outro fator é o fim da guerra fria, em
que os debates eram voltados para o conflito do comunismo e o capitalismo, e com o
fim da guerra fria as discussões acerca dos assuntos culturais ganham emergência. E
como terceiro fator, Hall (2003) coloca a globalização, o contato com a diversidade
cultural se intensifica a maneira que há uma circulação de capital por todo o mundo há
um contato maior entres sociedades de culturas diferentes.
Hall (2003) nos mostra a relevância do aprofundamento de práticas sociais que
possam contribuir para que o espaço se torne mais heterogêneo e possibilitem diálogos
dentro desses variados contextos.

4. Os debates culturais na contemporaneidade


Diante do fim da guerra fria, a cultura ganha espaço para ser discutida, já que o
debate ideológico acabava ofuscando essa pauta antes disso. “Até aquele momento, o
conceito que permeava a discussão social era ideologia” (OLIVEIRA, 2009, p.2).
Por conta do processo civilizatório da globalização, são geradas perspectivas
políticas que se enxergam diante desse contexto, Dennis de Oliveira em seu texto
“Ideologia e/ou cultura:o mal estar da contemporaneidade” aborda a visão de dois
pensadores acerca dessas perspectivas: Francis Fukuyama, tem a ideia de que o
capitalismo consegue absorver essa diferença civilizatória e cultural pensando um fim
desses conflitos. Já Samuel Huttington defende a ideia de que ainda existe uma ameaça
dentro desse choque de civilizações, alertando a indústria bélica e dizendo que a
guerra-fria apenas se deslocou.
Gerou um esgotamento dessa ideia capitalista de progresso que foi contribuindo
para que houvesse a identificação de alguns problemas:

Entre eles, destacamos o problema ambiental, a brutal


concentração de riquezas que gera oceanos de plena
miserabilidade e a radicalização dos conflitos étnico-culturais
que faz ressurgir na arena política tendências de cunho
nazi-facista.(OLIVEIRA, 2009, p.4)

Entrando em uma discussão no que se refere a sociedade de consumo, se todos


tivessem um padrão de consumo elevado, o meio ambiente sofre com as consequências
geradas por esse excesso. Isso só não se concretiza, pois nem todos têm a possibilidade
de um padrão de consumo elevado.
Outro ponto para essa discussão é o fator dos conflitos sociai, com a
globalização houve uma intensa imigração de pessoas de outras nações para países
centrais, de certa forma também, seduzidos pelo consumo. O que acaba gerando um
problema no que diz respeito a forma que esses imigrantes são recebidos nessa
sociedade:
Porém, é importante notar que, uma vez estabelecidas nestas
nações mais ricas, os imigrantes dos países mais pobres não
conseguem necessariamente uma ascensão social, vistos as
enormes barreiras impostas pelos Estados nacionais destes
países, barreiras estas que tendem a se radicalizar com uma
tendência à direita nos governos destes países. (OLIVEIRA,
2009, p.8)

A contradição se encontra a partir do momento que esse modelo capitalista seduz


para o consumo, mas impede a todos de seu usufruto.
Em todo esse contexto, fica evidente que o modelo capitalista pós-guerra é de
certa forma desequilibrado, desigual e incerto.

5. O lugar da cultura na sociedade tecnológica

Com o advento da tecnologia, as formas de comunicação são repensadas,


diferente dos meios midiáticos tradicionais: “o ciberespaço e a realidade virtual
oferecem-se como uma espécie de laboratório metafísico, questionador do sentido real”
(SODRÉ, 2010, p.8).
Hoje estamos no momento da “tecnocultura”, o ser humano está sendo
modificado a partir das novas tecnologias comunicacionais que vão surgindo. Com o
aumento da velocidade de informações o ser humano se comprime a essa velocidade.
A economia de mercado, também entra em questão na tecnocultura:

Observa-se que as exigências da economia de mercado impõe


progressivamente um código cultural assimilador de todas as
atividades humanas, apoiado por uma rede complexa de
tecnologias de produção de consumo de massa, onde
desempenham papel de proa os meios de comunicação de
massa.(SODRÉ, 2010, p.49).

Outro ponto, é a própria tecnologia, que interfere nas relações sociais e o modo
de como nos relacionamos dentro dela.
Em relação a essa “tecnocultura” abordada por Sodré, podemos entender que:
Dentro dela não há mais paradigmas estáveis, a não ser o
mercado como modelo de estruturação das formas da elaboração
da realidade, (por exemplo, velocidade, probabilidade, e o caos
tornam-se parâmetros de aferição do mundo vital) e a
comunicação como pura velocidade de passagem da informação
sem referências fixas nem horizonte conhecido. (SODRÉ, 2010,
p.36).
6. Considerações finais

As transformações da sociedade contribuíram para essa ampla discussão sobre a


cultura no mundo.
Emergências acerca desse debate foram ganhando força após a globalização e a
chegada da tecnologia contribui para que o assunto ganha outras dimensões que
resultam em teóricos abordando o assunto veemente nos dias atuais.
Esses debates são de extrema importância para gerar uma compreensão do que
aconteceu no mundo em diferentes contextos, para que possamos entender a cultura e a
sociedade em que vimemos na contemporaneidade, seus desdobramentos e
complexidades.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

EAGLETON, Terry. A ideia de cultura. São Paulo: Editora da Unesp, 2005.


THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna. 2 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
HALL, Stuart. Da Diáspora. Identidades e Mediações Culturais. Belo Horizonte:
Editora UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003.
OLIVEIRA, Dennis. Ideologia e/ou cultura:o mal estar da contemporaneidade.São
Paulo: Revista Alterjor; 2009.
SODRÉ, Muniz. Reinventando a Cultura: a comunicação e seus produtos. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2010.

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