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Resenha
05 de julho de 2021
Resenha “A questão Multicultural”
O capítulo está estruturado em nove seções onde o autor trata desde a distinção entre
os termos multicultural e multiculturalismo, a emergência desse último e proliferação
subalterna da diferença entre eles, finalizando com a tentativa de expor novos
contornos de uma lógica política multicultural.
Para o autor, do mesmo modo que existem sociedades multiculturais, há, também,
“multiculturalismos”. Ele estabelece distinções entre estas formas de apresentação
multicultural, sendo: multiculturalismo conservador – aquele que insiste na
assimilação da diferença às tradições e costumes da maioria (Goldberg,1994); o
multiculturalismo liberal – interação rápida dos diferentes grupos à cultura majoritária;
o pluralista – concessão de direitos de grupos distintos a diferentes comunidades
dentro de uma ordem política comunitária; o comercial – reconhecimento público das
diferenças pressupondo a resolução de problemas culturais no campo privado, sem a
necessidade de redistribuição de poder; o corporativo – administra as diferenças
culturais das minorias, e; multiculturalismo crítico – focado no poder e movimentos de
resistência (McLaren, 1997).
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial novas formas de etnicidade têm surgido
como resultado da globalização; uma globalização desigual que revaloriza os
discursos nacionalistas mais antigos, como seria uma reinvenção do passado no
presente (nação como motor da modernização).
Ainda nas palavras de Hall, “o local não possui caráter estável ou trans-histórico”, ele
é, sobretudo resistente ao fluxo da homogeneização universalizante, não possui
filiação política única, possui conjunturas e temporalidades distintas. Hall expõe,
desse modo, as fragilidades de uma “pós-colonialidade” em uma sociedade
globalizada.
A partir da complexidade trazida pelo caso britânico, Hall formula questões para
discutir o termo “comunidade”, chamando a atenção para o cuidado com a
homogeneização dos grupos que possuem laços de união e fronteiras, os chamados
“grupos étnicos”, visto que eles guardam diferenças, a exemplo dos caribenhos. Para
o autor, citando Modood 1997, as escolhas identitárias são mais políticas que
antropológicas, mais associativas e menos designadas, por isso as generalizações
são difíceis, cita, ainda, Parekh, na tentativa de compartilha uma definição de
comunidade mais alinhada com o seu pensamento, a definição de “comunidades
étnicas”.
Com o caso britânico Hall demonstra que as comunidades não devem ser
enquadradas em uma tradição imutável e que é um erro confundir suas formas
diaspóricas com uma vagarosa transição de assimilação completa. Elas representam
uma nova configuração cultural – comunidade cosmopolita – marcadas por amplos
processos de transculturação (p.67). Tornaram-se os significantes mais avançados da
experiência metropolitana do pós-moderno urbano. Hall não espera que se concorde
com o que ele conjeturou, mas afirma ser necessário refletir a respeito das
consequências “transruptivas” dos seus desdobramentos para uma estratégia política
à questão “multicultural”.
O primeiro efeito trazido pelo autor é o que atua sobre as categorias de “raça” e “etnia”,
segundo ele, a questão multicultural produziu na Grã-Bretanha uma racialização
diferenciada de áreas centrais da vida e cultura da sociedade. Há um esforço para
que a questão da “raça” seja incorporada ne teoria política em geral, no pensamento
jornalístico e acadêmico. Nesses termos, a categoria “raça” é vista sob rasura, ou seja,
em uma nova configuração com etnicidade.
O hibridismo, de acordo com Hall, não se refere a indivíduos híbridos que podem ser
contratados com os “tradicionais” e “modernos”, trata-se sobretudo de um processo
de tradução cultural que nunca se completa. Pois, na tradução cultural, é necessário
negociar com a diferença do outro, algo que revela a insuficiência radical dos próprios
sistemas de significado e significação.
Por fim Hall sugere que diante da questão multicultural se pense em algo novo, em
formas novas de combinar a diferença e a identidade desde que se considere a
liberdade e a igualdade junto com a diferença, o que torna necessário uma estrutura
de negociação democrática agonística.