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A REVOLUÇÃO BURGUESA NO BRASIL:

ENSAIO DE INTERPRETAÇÃO
SOCIOLÓGICA

Florestan Fernandes

CACHOEIRA-BA
2021
Estudar a revolução burguesa no Brasil significa, para
Florestan Fernandes, “reconstruir como se dá nesta
particular configuração histórica um processo de
proporções mundiais que é simultaneamente
econômico, político, social, cultural e que se estende
até à estrutura da personalidade e às formas de
conduta individuais”.
André Botelho & Antonio Brasil Jr.
A revolução burguesa, afinal, não se
restringe a um evento datado, mas envolve
e implica a temporalidade múltipla própria
dos processos.
André Botelho & Antonio Brasil Jr.
SEGUNDA PARTE
A FORMAÇÃO DA ORDEM SOCIAL COMPETITIVA
CAPÍTULO 4
ESBOÇO DE UM ESTUDO SOBRE A FORMAÇÃO E O
DESENVOLVIMENTO DA ORDEM SOCIAL COMPETITIVA
CAPÍTULO 4
 Sociedade;
 Ordem Social;
 Capitalismo;
 Herança econômica, cultural e política recebida da época colonial;
 Potencialidades econômicas e socioculturais;
 Ordem social competitiva;
 Padrões capitalistas de vida econômica.
ORGANIZAR E EXPANDIR

O Brasil corresponde normalmente a essa regra.


CAPÍTULO 4
BRASIL

REORGANIZAÇÃO DO MERCADO COLONIAL

“[...] a ordem social escravocrata e senhorial não se abriu facilmente aos requisitos
econômicos, sociais, culturais e jurídico-políticos do capitalismo.”

[...] a emergência e o desenvolvimento da ordem social competitiva ocorreram


paulatinamente, à medida que a desintegração da ordem social escravocrata e
senhorial forneceu pontos de partida realmente consistentes para a reorganização das
relações de produção e de mercado em bases genuinamente capitalistas.
Da “resistência à mudança”?
Estilo senhorial de vida social.

Aparecimento e consolidação de um estilo


competitivo de vida social.

Ordem social competitiva sob o capitalismo


dependente.

Eclosão de um estilo especial de Revolução


Burguesa.
A competição continha alguma significação estrutural e funcional apenas porque a
dominação patrimonialista-tradicional expunha as parentelas, como grupos ou através
de seus chefes, a uma constante emulação na luta pela preservação ou pelo aumento
de riqueza, de prestígio social e de poder.
Com a emancipação política, os fatores de semelhante emulação na luta por riqueza,
prestígio social e poder não desapareceram. A integração da dominação
patrimonialista no nível estamental impunha a passagem da autoridade para o poder
especificamente político.
CAPÍTULO 4
 Mudanças na “sociedade nacional”;
 Contexto econômico;
 Expansão interna do capitalismo;
 Deslocamento do eixo de gravitação da competição pessoal ou grupal por
riqueza, prestígio social e poder;
 Dinamismo econômico;
 Impactos na condição senhorial.
A competição emergia historicamente, portanto, com um aspecto dúplice. Um fator
multiplicativo do poder de ação do agente econômico privilegiado; e, ao mesmo
tempo, um fator destrutivo para o equilíbrio econômico global da sociedade. Esta
teve de suportar todas as manipulações através das quais ela própria era usada para
suster e fomentar o tipo descrito de “privatismo econômico”.
 Aos poucos há a sobreposição das obrigações vinculadas à dominação
patrimonialista;

 O surgimento de uma nova posição-chave na estrutura da “sociedade


nacional” implicou em mudanças no curso da manipulação do senhor, e
por assim dizer, na visão de mundo percebida até então.
A persistência da escravidão, seja no meio rural, seja no meio urbano, fez com que
todo esse complexo colonial do trabalho se perpetuasse em bloco, ao longo do século
XIX, dificultando a formação, a diferenciação e a expansão de um autêntico mercado
de trabalho (ao lado do mercado de escravos) e facilitando a ultra exploração do
liberto e do ‘’homem livre” ou “semilivre” que vivessem de sua força de trabalho.
CAPÍTULO 4
 Escravidão e capitalismo;
 Economia rural e Economia urbana;
 Força de trabalho (braçal/doméstica);
 A modernização de tipo neocolonial e a descolonização contida vão alimentar-se
da perpetuação em bloco do sistema de produção colonial.
O trabalho livre não nasce, aqui, sob o signo de um mercado que divide e opõe, mas,
ao mesmo tempo, valoriza e classifica. Surge como expressão das convenções e das
regularidades imperantes na sufocante ordem social escravocrata e senhorial
brasileira. Em vez de fomentar a competição e o conflito, ele nasce fadado a articular-
se, estrutural e dinamicamente, ao clima do mandonismo, do paternalismo e do
conformismo, imposto pela sociedade existente, como se o trabalho livre fosse um
desdobramento e uma prolongação do trabalho escravo.
CAPÍTULO 4
 Gradual expansão do trabalho livre;
 Imigração estrangeira e implantação de “núcleos de colonização”;
 “homens livres” e “semilivres” | libertos e ex-escravos;
 Ruptura;
 Emerge e se propaga o novo padrão demográfico, requerido por um sistema
econômico fundado sobre o trabalho livre.
Pode-se dizer que a ordem social escravocrata e senhorial perde, quase ao mesmo tempo, e
de maneira que só não é súbita por causa da lentidão com que se constitui o ponto crítico
da fase de desenlace, as bases materiais de sua existência demográfica e econômica.
CAPÍTULO 4
 Longos períodos;
 Conflitos reeducativos;
 Mudanças;
 Universo do contrato e do trabalho livre;
 “relação salarial”;
 Crise e momento de transição;
 O “trabalho livre” aparece primeiro como mercadoria;
 Crise final e o desaparecimento da ordem social escravocrata e senhorial.
O “trabalho livre” se configura como um fator social construtivo, adaptando-se
às funções sociais e políticas que deveria ter na ordem social competitiva.
O salário não privilegia o agente do trabalho, mas o apropriador do trabalho e de seus
produtos. A diferença entre a antiga ordem social escravocrata e senhorial e a moderna
ordem social competitiva é que, naquela, a apropriação não se defrontava com
reguladores externos de real eficácia, enquanto nesta o mercado, os níveis de vida e de
salário, a competição e o conflito (de início polarizados apenas pelo movimento sindical),
a consciência operária e a solidariedade de classes (que emergem gradualmente), a
participação política reivindicativa e inconformista dos setores pobres e assalariados etc.
aos poucos convertem a “integração nacional” em um processo democrático e
revolucionário que pelo menos destrói barreiras sociais arcaicas e introduz “niveladores
sociais de classe”.
NOTAS FINAIS:
Guardadas as proporções, o trabalho livre se configura (como ocorreu com o trabalho
escravo), do modo mais cínico e brutal, como puro instrumento de espoliação
econômica e de acumulação tão intensiva quanto possível de capital. O elemento ou a
dimensão humana do trabalho bem como a “paz social” são figuras de retórica, de
explícita mistificação burguesa, e quando precisam ir além disso, o mandonismo e o
paternalismo tradicionalistas cedem seu lugar à repressão policial e à dissuasão
político-militar.
REFERÊNCIAS:
Fernandes, Florestan. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação
sociológica / Florestan Fernandes. – Curitiba: Kotter Editorial; São Paulo: Editora
Contracorrente, 2020. p. 536.
Grupo de Pesquisa Natureza Trabalho e Ontologia do Ser Social e
Serviço Social – NATOSS

Apresentação:
Anaise Fonseca
Ediane Santana
Thainá Santana

CACHOEIRA-BA
2021
Obrigada pela atenção!

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