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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DISCIPLINA DE FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL

PROFº. AUGUSTO FAGUNDES

DISCENTE ALESSANDRO MARQUES

FICHAMENTO

Capítulo 1 – A Herança colonial e as Transformações do Século XIX

Os autores iniciam o texto com o seguinte questionamento “por que, em plena ‘era da
globalização”, é preciso voltar à época colonial para estudar a formação econômica e social do Brasil
no período republicano?” (p.12). Em si essa indagação carrega outras igualmente plausíveis, haja
vista que não se pode entender o contexto ao qual o país encontra-se inserido sem regressamos na
história. Mas a necessidade desse estudo, segundo ele é visto nos “vestígios da época colonial” que
ainda sobrevive alguns de forma quase “natural” na sociedade de hoje.

A colonização experimentada pelo Brasil esteve alicerçada em três elementos chave, segundo
os autores citando Prado Jr. (1949), a saber a “grande propriedade, a monocultura e o trabalho
escravo” (p.13). Ao apontar a lógica argumentativa daquele, afirma que a colonização do país sempre
esteve envolta em um sentido, a saber, produzir volumes relevantes de produtos que apresentassem
um caráter comercial para o mercado europeu. Este sentido, determinou a forma como a economia
colonial se estruturou, os autores ressaltam que a grande propriedade era condição relevante para que
a demanda externa fosse atendida pela colônia. Somada a esta estrutura a especialização produtiva e
o trabalho escravo (indígena ou africano) completavam “esqueleto” colonial.

Fernando Novais, parte da análise de Prado Jr para realizar uma ampliação do sentido da
colonização do país, apontando que esta esteve condicionada também a uma transição da estrutura
feudal para a capitalista (p. 15). Como pode ser visto na passagem “examinada a colonização do Novo
Mundo na Época Moderna [...] a conotação do sentido profundo [desta é] comercial e capitalista, isto
é elemento constitutivo do processo de formação do capitalismo moderno” (p.15) (apud Novais,
1979, p 70). Nesse sentido a própria lógica da acumulação primitiva encontra-se no pano de fundo da
constituição dos sistema colonial que permitia lucros elevados por apresentar aquilo que os autores
citando Novais, (1979) definem como “exclusivo metropolitano do comércio colonial” (p. 16).
Ressalta-se que os autores tecem um esforço em diferenciar a visão de Prado Jr da visão de
Novais, mas observa-se uma complementariedade entre ambos na medida em que o primeiro aponta
o abastecimento do comércio europeu como o foco da colonização, mas o segundo tem a pretensão
de apresentar uma análise mais profunda que converge para a anterior. É interessante ressaltar que a
incorporação da mão de obra escrava (indígena ou/e africana) esteve sustentada na necessidade de
manter a geração de excedentes em bases concentradoras de renda. Observa-se que esse é um ponto
que ainda é visível no sociedade brasileira do século XXI, haja vista que a concentração de renda
mesmo em caráter distinto do período colonial, ainda se faz marcante. Os autores citando Novais
afirmam que a transição da mão de obra escrava indígena para a escrava africana consistia parte do
processo de acumulação primitiva.

Os autores citando Jacob Gorender propõem uma análise diferente dos autores anteriores na
medida em que segundo ele é o modo de produção escravista que irá determinar a forma de produção
colonial (p.18), afirmando que “são as próprias condições da produção que exigem a introdução do
escravo e não fatores externos à produção colonial”.

Ao observar o desenvolvimento da Economia Colonial os autores citam a obra História


Econômica do Brasil do economista Roberto C. Simonsen, em que é trazida a noção de ciclo, conceito
alvo de críticas na atualidade, haja vista que não é possível conceber as mudanças de culturas
produtivas sob a ótica circular. É interessante observar que a estrutura colonial sofreu poucas
modificações ao longo de três séculos. As explicações são diversas, os autores apontam que para
Novais, essa aparente imobilidade residia na forma e nos propósitos da estrutura colonial afirmando
que “a economia colonial, escravista-mercantil é [antes de mais nada] uma economia predatória”
(p.20).

Para Caio Prado Jr, em consonância com sua visão do sentido da colonização, visto pelo frutos
continuamente gerados na colônia, não havia motivos para alterações na forma de organização
produtiva. No entanto ele aponta que existia, mesmo que inexpressivas, atividades que tinham como
objetivo atender ao mercado interno, mas que foram incapazes de promover alterações estruturais
relevantes.

Celso Furtado compartilha da mesma ideia com uma argumentação diferente, aponta que não
havia estímulos a inovação e portanto, era natural que não houvesse alterações estruturais. Assim, os
autores afirmam que “Furtado é levado à conclusão de que a estrutura da economia colonial era
extremamente resistente à mudança, fundamentalmente pela presença do trabalho escravo” (p.22).
Jacob Gorender, afirma que a limitada transformação vivida pela colônia brasileira que limitou o
progresso técnico, é explicado em parte “pela própria natureza da relação social escravista” (p.23).
Assim, observa-se que existe um consenso sobre as poucas mudanças vividas pela economia colonial,
todavia os argumentos são diferentes.

No ponto sobre a Crise do Sistema Colonial e a Independência Política do Brasil os autores


sugere que um dos motivos para que ocorresse a independência do Brasil está associada a crise do
sistema colonial. Assim partindo da análise de Fernando Novais “de que o sistema colonial é peça
fundamental da acumulação primitiva” (p.24) é possível que entender o surgimento do capitalismo
industrial chocava com a noção de colônia em que predominava a relação escravista de produção.
Assim, numa visão simplista os autores apontam que parte do processo de independência da colônia
estive subordinada aos interesses ingleses e portanto, “liberta-se” de uma estrutura tornou-se
dependente de outra – a inglesa que necessitava de mercado consumidor para seus produtos
manufaturados.

Uma importante mudança na relação produtiva da ex-colônia é que os interesses que devem
ser atendidos são aqueles das classes internas ainda “embrionárias” que conseguem influenciar a seu
favor o exercício do Poder Estatal – ressalta-se que este nasce endividado para com os banqueiros
ingleses. Mas, é importante mencionar que o país pode assumir internamente as decisões de investir
o excedente outro remetido ao exterior como apontado por João M. Cardoso de Mello (p.25).

No tocante as Transformações da Economia Brasileira ao Longo do Século XIX, vê-se que


mesmo defendo a industrialização como caminho que o Brasil deveria seguir para alcançar um nível
elevado de desenvolvimento, Celso Furtado afirma que a independência aliado ao dinamismo do
comércio internacional o Brasil encontrou uma possibilidade factível com o advento da economia
cafeeira que ganhou espaço “entre as principais mercadorias do comércio internacional” (p.26). Junto
com esta surge, segundo Furtado, a classe dos empresários cafeeiros que serão figuras importantes
no cenário nacional.

Com a extinção do tráfico de escravos africanos e ascensão cafeeira surgiu o problema,


segundo Furtado da escassez de mão de obra que foi suprida com a imigração principalmente de
italianos que trabalhavam nas fazendas em troca de uma renda monetária e o direito de utilizar
pequenas extensões de terras formando, assim “o embrião de uma economia voltada para o mercado
interno” (p.27). Furtado, conclui que “a presença do trabalho assalariado do imigrante europeu na
lavoura cafeeira criou uma economia exportadora substancialmente distinta daquela fundada no
trabalho escravo” (p.28).

Furtado afirma que o desequilíbrio interno é recorrente no mercado cafeeiro brasileiro, e como
solução era utilizada a desvalorização das moeda, impondo custos aos importadores nacionais,
apelidado pelos autores de “socialização das perdas”, mas observa-se que parte importante dessa
renda era apropriada pelos grandes produtores e exportadores de café. Furtado afirma que as
condições externas e internas estava criando as bases para a possibilidade da industrialização.

Os autores apontam que a própria lógica de estabelecimento da lavoura cafeeira esteve


associada aos interesses das classes internas dominantes, ressaltando que a forma como surgiu
condicionou sua crise, pois o caráter escravista de produção e a extinção do tráfico de escravos criou
gargalos para essa cultura produtiva, que foi superado com a introdução do trabalho de imigrantes
que pós fim ao modo escravista e orientou a economia nacional para o caráter exportador capitalista.
Em suma, os autores, sugerem que a forma de olhar o processo de transformações ocorridas no país
ao longo do século XIX sofria modificações quanto a concepção de quem o descrevia.

Existem duas visões para a compreensão de uma possível relação entre abolição do escravismo
e o surgimento da república. De um lado, como defendido por Furtado, temos a necessidade de
atender os interesses individuais dos produtores de café e ressalta que a abolição foi um fato de
interesse político, visto que não houve alteração da forma de produção. No tocante a proclamação
Furtado observa-a como uma busca por “autonomia regional” (principalmente pelos sulistas) é
incompatível com a forma política centralizador vigente.

Do outro lado, tem-se Jacob Gorender que propõe como fatores explicativos para o fim da
abolição, a própria autodeterminação dos escravos visto pelas fugas, revoltas que apontavam para um
movimento de “luta de classes” entre outros movimentos que corroboraram com necessidade de
mudanças. Décio Saes segue na mesma perspectiva de Gorender atribuindo papel relevante para as
classes “marginalizadas” (escravos e classe média) ambas agindo em função de interesses próprios.

Em seguida os autores questionam o que resta de traços da período colonial na sociedade e na


economia do século XIX? (p. 36). Remotando a Prado Jr é possível afirmar que a economia, ou seja
sua maior expressão econômica, continua voltada para atender a uma demanda externa. Mas existe
um esforço de realizar o processo de industrialização “nacional”. No entanto, é possível identificar
traços das relações de produção escravista ainda presentes no período republicano. A estrutura de
concentração de renda alicerçada na grande propriedade de terra ainda é presente na sociedade
brasileira. Nesse sentido, concluem que “é inegável que as mudanças observadas no período
republicano apontam em rumo distinto daquele que estivera presente desde o início da colonização”
(p.37).

Capítulo 2 – O Café e o Crescimento da Indústria Durante a Primeira República (1889-1930)

Os autores iniciam apontando que a conceituação de política de café com leite característica
do período da Primeira República escamoteia uma diversidade de outras atividades produtivas que
tinham espaço no mercado doméstico bem como no cenário exportador. Ressalta-se que um fato
relevante para este contexto é o surto de industrialização que configurou a urbanização das cidades
onde surgiram o que evidencia um nível de complexidade relevante da economia nacional. O objetivo
desse capítulo será investigar a relação entre o café e a indústria, ou seja, “como a indústria nasce
com base nas condições criadas pela expansão da economia cafeeira, e nos limites a que o crescimento
da indústria está sujeito nesse período” (p.40).

A república contou com a participação de dois grupos sociais, o primeiro deles composto por
produtores de café que visavam maior autonomia para comercialização e produção deste. Do outro
estava os integrantes das classes médias urbanas que visam maior participação nas questões políticas
com o fim do regime imperial. Não se deve no entanto, esquecer que o militares tiveram relevante
papel no processo em questão.

Com a promulgação da Constituição de 1891, forneceu aos estados autonomia em alguns


quesitos como tributação sobre exportação, contrair empréstimos em a necessidade de aprovação
federal, entre outros. Todavia, o governo federal manteve sob seu controle as questões envolvendo as
relações comerciais. O primeiro presidente foi Marechal Deodoro da Fonseca que defendia um poder
executivo mais forte e centralizado que o estabelecido na constituição de 1891 que o levou à renúncia
ao cargo. Outros seguiram na sucessão presidencial, mas o paulista Campos Sales merece um
destaque, pois criou “um arcabouço político que viabilizou o domínio oligárquico, ou seja, o controle
do Estado pelos principais políticos dos grandes estados” (p.42) dando origem a Política dos
Governadores. Nesse sentido, os autores afirma que:

Foi, portanto, com Campos Sales e sua “Política dos Governadores” que se
consolidou o caráter oligárquico da Primeira República: às fraudes dos sistema
eleitoral se somava agora a articulação do governo da União com as oligarquias
estaduais num esquema que dificilmente poderia ser rompido pelas oposições.
(SAES, et all, ano, p.43).

Entretanto, movimentos de insatisfações e descontentamento político aliados as cisões de


acordos políticos e busca de maior representação política puseram fim a Primeira República através
da Revolução de 1930, mas criou a base para o surgimento de governos populistas.

Ao abordar a questão da economia brasileira na primeira república: a agricultura de exportação


e a produção primária para o mercado interno os autores alertam o leitor que mesmo que o café tenha
sito a atividade produtiva mais relevante desse período, a economia nacional comportava outras
atividades que também ocupavam espaço na cadeia produtiva, mesmo com pequeno relevo.

A Economia cafeeira (1889-1930) é dividida, pelos autores em três partes para facilitar a
compreensão desta, nesse sentido, inicia-se pelo desenvolvimento e crise em que é apontado que o
café se desenvolveu a partir de 1820, no Rio de Janeiro e depois se estende ao estado de São Paulo,
ganhando importância econômica na pauta de exportações representando importante percentual entre
1840 e 1970, em torno de 40% do total das exportações do país. Todavia, a medida que a
produtividade das terras do RJ declinam São Paulo ganha relevante papel, mas este fato por si só não
explica a ascensão de São Paulo pois este já empregava mão de obra imigrante nas lavouras antes
mesmo da abolição da escravidão, ao contrário do Rio de Janeiro.

O grande número de imigrantes em direção a São Paulo teve apoio do governo Federal através
do fornecimento de navios, a expansão do crédito durante o começo da República favorecido pela
Reforma Bancária permitindo a abertura de novos canaviais, a expansão das linhas férreas que reduziu
os custos de transporte, aliado a esses fatores internos observou-se uma elevação no mercado
internacional do café de 1885 a 1890. A partir dos anos 90 os preços do produto tendem a reduzi
refletindo uma crise da economia dos EUA.

Assim, verificou-se uma combinação perversa de redução dos preços do produto no mercado
internacional, com elevação dos preços internos e moeda nacional desvalorizada. A frente ao
aprofundamento da crise da economia cafeeira, os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas
Gerais reuniam-se em Taubaté (Convênio de Taubaté) em 1906 (ano de safra recorde) para exigir a
intervenção estatal para evitar o agravamento eminente, causado pelo superprodução. A política de
valorização do café estendeu-se até 1929. Essa política tinha o inconveniente de estimular o aumento
da produção de café, haja vista que tinha-se a segurança da compra do excedente pelo governo federal,
no entanto, frente a quebra da bolsa de Nova Iorque o mercado de crédito cessou e a demanda dos
EUA também, ponto efetivamente um fim a política de valorização do produto.

O segundo aspecto concernente a economia cafeeira diz respeito a diversificação da atividade


na economia cafeeira: a urbanização, e segundo os autores, o Brasil não era um país unicamente rural,
pois a economia cafeeira demandou serviços de comércio para a negociação do produto para a
exportação. Fruto das ferrovias a cidade de Santos em São Paulo, tornou-se um importante nicho
comercial e financeiro, assim pode-se compreender parte dos motivos que colocam São Paulo como
coração financeiro do Brasil do século XXI, pois a explicação está na formação histórica do país.
Observou-se também a implantação de empresas estrangeiras de energia elétrica, telefonia, gás, isso
levou Wilson Cano a afirmar que no Brasil verificou-se um “complexo econômico” ou “complexo
cafeeiro”. Os autores ressaltam que não houve uma especialização, mas uma diversificação.

O último ponto diz respeito as relações de trabalho na economia cafeeira em que é apontado
que com a transição da mão de obra escrava africana para o sistema de colonato (este se processava
através do pagamento de uma remuneração, o direito de utilizar parte da terra para plantio de
subsistência) com a vinda dos imigrantes europeus trouxe importantes transformações seja no
mercado de trabalho, seja a formação de um mercado consumidor.

Ao discutir a produção primária para exportação e para o mercado interno, observa-se o


desenvolvimento de forma marginal da borracha, ressurgimento do açúcar que ganhará mercado
(interno) após a Primeira guerra mundial resultado do acelerado processo de imigração. Para atender
a demanda foi necessária uma modernização como apontam os autores, afirmando que RJ e SP entram
na disputa por mercado concorrendo com Pernambuco, ambos com processos modernizados de
produção. Segundo os autores produtos como “cacau e fumo na Bahia e o mate no Paraná e Mato
Grosso” também figuram entre os produtos exportados. Teve-se ainda o couro e pele fortemente
interiorizada no país, mas foi o estado do RS quem tinha maior peso na produção e exportação desse
produto.

Os autores se detém a explicar que como o desenvolvimento da produção cafeeira criou o


alicerce para o advento da industrialização, ressalta que as primeiras indústrias apareceram no Brasil
a partir dos anos 40 do século XIX. Citando Warren Dean, os autores, apontam alguns fatos que
corroboraram para que a industrialização fosse possível emergir na estrutura do país, como “a
transição do trabalho escravo para o imigrante europeu” (p.62) possibilitando o surgimento de
mercado consumidor, os investimentos que cafeicultores realizam com a renda auferida (“estradas de
ferro, bancos, empresas comerciais” (p.63)) de forma que financiavam o investimento industrial.

No entanto Fernando Henrique Cardoso observa esse processo como fruto de relações
capitalistas existentes na economia brasileira de modo que a industrialização necessitava “a existência
de certo grau de desenvolvimento capitalista” (p.63) para torna-se viável. Auxiliando essa transição,
segundo FCH observou-se que senhores de outrora tornaram-se empresários capitalistas através da
“importação” de imigrantes em substituição da mão de obra escrava africana que havia encarecido.

Sérgio Silva aponta em direção semelhante, porém com alguma diferença, em relação aos
anteriores ao afirmar que “o crescimento do comércio mundial e exportação de capitais” estabelecem
condições que viabilizaram a industrialização, no entanto ressalta que esta não pode ser vista apenas
como a introdução de indústrias no país, pois a mesma envolve marcantes transformações sociais,
evidenciadas nas relações capitalistas (trabalhadores destituídos dos meios de produção e empresários
ávidos por acumulação).

Ao analisar as características da indústria na primeira república, os autores, apresentam dados


sobre o processo de industrialização (ressalta de início que não observou-se uma sequência lógica de
desenvolvimento artesanato-manufatura-indústria) e torna evidente que havia uma concentração
produtiva no país, visto que Rio de Janeiro e São Paulo juntos respondiam por mais de 50% do valor
da produção nacional entre 1907 e 1929. Nessas áreas, os autores sugerem que as maiores fábricas
exibiam tendência a predominar, visto pelo peso produtivo que detinham aliado ao número de
empregados.

Outro traço importante de nossa industrialização refere-se ao não “desenvolvimento


simultâneo da produção de bens de consumo e de bens de produção” (p. 69), isso é justificado pelos
autores como fruto do custos da implantação e manutenção de empresas voltadas para a produção de
bens de capital e vale mencionar os produtos de consumo ganhavam espaço no mercado internacional
com maior facilidade, todavia nos anos 20 observa-se um processo de diversificação da indústria de
transformação, ainda incipiente é verdade, mas implantou-se siderurgias, indústria para fabricação de
máquinas agrícolas entre outras.

Ressalta-se que segundo Warren Dean, os proprietários das indústrias eram em geral
fazendeiros ou imigrantes que vieram para o país, estes seguramente antes de ingressarem nas
atividades produtivas já tinham experiência com importação ou com o comércio. Nas fases iniciais
da industrialização percebeu-se uma participação pouco expressiva de capital estrangeiro, pois em
essência predominava o capital nacional, e como já mencionado concentrada localmente em São
Paulo e no Rio de Janeiro.

Os autores dedicam parte do texto para mostrar que com a industrialização vieram também as
mobilizações dos operariados que em geral exigiam melhores salários e/ou condições de trabalhos
melhores. Citando movimentos de associação como o trabalhismo, o sindicalismo moderado, o
anarquismo, outros ligados ao Partido Comunista do Brasil e por fim o populismo.

Verifica-se que no tocante ao crescimento industrial na economia exportadora, sabiamente os


autores iniciam esse tópico com um questionamento relevante, a saber: “Em que conjuntura da
economia exportadora podia ser observado um surto industrial?” (p.73), para responder a essa
indagação aponta que houveram duas tentativas de explicação. De uma lado estão os defensores da
Teoria dos Choques Adversos que frente a uma crise no setor externo da economia a industrialização
reagia positivamente. De outro lado estão aqueles que opostamente defendia a “ótica da
industrialização liderada pelas exportações” (p.74) em que a industrialização só teria motivos para
aprofundar seu processo na medida em que as exportações fossem bem, visto que o recurso financeiro
para o processo seria oriundo delas. Os autores ressaltam que do ponto de vista lógico ambos os
argumentos têm fundamento, então sugere analisar empiricamente.

As relações entre café e indústria são demasiadas complexas para serem explicadas pelas
teorias apresentadas anteriormente. Assim, os autores admitem existir uma subordinação da indústria
à economia cafeeira, enfatizando que essa disputa ficou no campo “ideológico”, na medida em que
não produziu resultados contundentes.

No tocante a política econômica durante a Primeira República, segundo os autores apenas os


cafeicultores formavam grupo de pressão com forte poder de influência, mas isso não significa que
não existissem outros de caráter regionalizado e de menor força, como produtores de açúcar, o próprio
interesse do mercado internacional, funcionários públicos e muitos outros. Mas existia uma
divergência importante com o grande capital cafeeiro (composto por cafeicultores que expandiram
suas atividades econômicas). Visto isso, observa-se que a política econômica deveria encontrar um
caminho possível que conduzisse esses vários interesses a um equilíbrio.

No entanto o cenário externo não se apresentava em condições favoráveis, de forma que


imprimiu restrições a economia brasileira e isso impulsionou um alterações na forma de condução da
política cambial, ou seja, mudou-se de câmbio flexível para fixo (1906 e 1926) subordinada a lógica
do padrão-ouro, nesse momento isso foi benéfico pois permitiu o crescimento da economia brasileira,
mas tem-se retorno ao regime cambial anterior nos casos de 1ª Guerra Mundial e Crise de 30.

A Lei bancária de 1890, imposta pelo primeiro ministro da fazendo Rui Barbosa, foi uma
medida que facilitou a expansão monetária lastreadas em títulos públicos, medida essa considerada
heterodoxa, mas a mesma permitiu atender a demanda impostas principalmente pelo crescimento do
trabalho assalariado em relação ao trabalho escravo, haja vista que esse processo causou escassez de
liquidez interna, assim a medida consegue suprir parte dessa demanda. Não obstante, aquela Lei
permitiu a concentração de grandes cafezais que evoluíram para sociedades anônimas, todavia, os
autores ressaltam que isso gerou o conhecido “encilhamento”, ou seja, uma bolha especulativa na
medida em que as pessoas abriam empresas apenas para especular na bolsa de ações.

A economia brasileira sofreu com crises no balanço de pagamentos causadas pelo fuga de
capitais do pais, pelas desvalorizações cambiais (este melhorava a vidas dos exportadores, mas
indubitavelmente piorava a vida dos demandantes de produtos importantes de forma que as perdas
era socializadas como afirmou o próprio Furtado), de modo que as políticas econômicas adotas
sempre estiveram em consonância com a situação na qual o país via-se emergido, bem como aos
interesses daqueles que exerciam certo poder sobre o governo.

Fruto do crescimento da produção cafeeira ao longo das décadas de 80 e 90, os autores


apontam que o governo se utilizou de desvalorizações cambiais para manter os níveis de preços em
patamares lucrativos para os produtores. Mas, em 1905 a política cambial tornou-se incapaz de conter
as expectativas no mercado internacional, e o governo foi pressionado a utilizar o instrumento
conhecido como “Plano de Valorização do Café” como forma de retirar o excesso de café no mercado
para elevar o preço do mesmo. No entanto a mesmo parti do pressuposto de que os choques de preço
são temporários, mas adiante ver-se que esta política cria problemas maiores por ter sido utilizada em
demasiado. Em 1924 a política de valorização tornou-se permanente.

A implantação do plano levou um questionamento importante, qual seja: de onde viria os


recursos a serem utilizados para manutenção dos estoques, a espera da valorização dos preços? Esse
ponto gerou empasses no governos e entre alguns empresários, mas a medida foi adotada utilizando
recurso externo, o plano atingiu o objetivo proposto. Durante a Primeira Guerra teve-se pela segunda
vez a aplicação do política de valorização, mas diferente do primeiro em que a estocagem ficou por
conta dos intermediários estrangeiros, nesta foi financiado via emissão monetária, o que atenuou o
desequilíbrio monetário do país. Teve-se a 3ª versão do Plano de Valorização ocorrido em 1921, com
uma alteração importante em relação aos demais os estoques agora foram mantidos em território
nacional. O problema maior apontado no texto é que esta política foi realizada através do
endividamento externo o que cria vulnerabilidades para o país bem como dependência.

Quando avalia políticas voltadas para a industrialização durante a primeira República os


autores observam que a esta foi relegado um papel secundário. Todavia, fatores externos como a
Primeira Guerra Mundial e os déficits no balanço de pagamentos, que tornam a indústria relevante
para o desempenho econômico positivo do país. Nesse sentido, foram adotadas medidas como
valorização cambial como visando permitir a importação de bens de capital utilizado na ampliação
da capacidade produtiva do país, observou-se também a imposição de tarifas que beneficiavam a
indústria nacional e fornecia uma receita fiscal ao governo.

Quando avalia o Estado Oligárquico da Primeira República, os autores apontam que este era
caracterizado por um “modelo liberal-democrático: uma república federativa, em que os estados
tinham razoável autonomia e com um sistema de representação fundado no voto universal não
obrigatório”. É interessante ressaltar que neste período observa-se um traço histórico (“coronelismo”)
que ainda é muito presente na realidade do país, a saber a corrupção seja ela eleitoral seja nos outros
aspectos. O poder dos coronéis em decidir as eleições lhes conferia o poder de pressionar os governos
para que seus interesses fossem atendidos, isso segundo os autores enfraquecia o poder público em
função do poder privado.

Referencia

SAES, F; JR., T.; GREMAUD, A. A Herança Colonial e as Transformações do Século XIX.

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