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A obra “As Lutas de Classes na França” escrita por Marx compõe uma das
primeiras tentativas do autor em aplicar seu método materialista da história,
utilizando como cenário — a princípio — a França, país que possui uma das mais
organizadas e revolucionárias classe proletária de seu tempo e, por ter sido palco de
uma das maiores e mais importantes revoluções burguesas da história. Dessa
forma, Marx inicia sua discussão apresentando o contexto político do país em 1848.
Para o autor, quem reinava de fato não era o monarca Luís Filipe, e sim uma facção
da burguesia francesa denominada por aristocracia financeira. Ela era composta por
membros da burguesia como banqueiros, donos de minas de carvão e ferro, donos
de florestas, proprietários de terra e outros e o poder desta facção seria tão grande
que ela seria capaz de ditar leis nas câmaras e realizar a distribuição de cargos
públicos em diversas áreas. As outras classes estavam pouco representadas na
câmara, e atuavam como oposição ao domínio da aristocracia financeira.
No que tange o âmbito financeiro, o governo era dependente direto da alta
burguesia desde o período da Monarquia de Julho — precedente da Revolução de
Fevereiro. Tal dependência propiciou um inesgotável aperto financeiro. Era
impossível burlar a administração do Estado ao interesse da produção nacional sem
restaurar o equilíbrio no orçamento entre despesas e receitas públicas — equilíbrio
ao qual custava atrapalhar os interesses da alta burguesia. Dessa forma, as dívidas
do Estado eram do interesse das facções burguesas governantes e que legislavam
através de câmaras, uma vez que o déficit público constituía o objeto propriamente
dito de sua especulação e a fonte de enriquecimento, fomentando a exploração do
governo francês.
A crise comercial e industrial na Inglaterra em 1845, proporcionou o declínio
de comerciantes ingleses e consequentemente a falência de bancos e fechamento
de fábricas em distritos industriais ingleses. O caos gerado no comércio fez com que
uma série de mercadores à falência e acabou tornando a aristocracia financeira
ainda mais forte. A grande quantia de falidos da burguesia parisiense fomentou a
ação revolucionária em fevereiro. Desse modo, Luis Felipe decidiu instaurar um
ministério Barrot, que produziu o combate entre o povo e exército — instituição essa
que manteve-se desarmada devida às atitudes passivas da Guarda Nacional, um
aspecto essencial que levou a monarquia a ceder seu lugar a um governo provisório.
Tal governo era um compromisso entre as classes que uniram-se em prol da
derrubada do Trono de Julho, contudo, seus interesses contrapunham-se
hostilmente. Grande parte do governo era representada pela burguesia, porém, a
classe operária possuía dois representantes, fato esse que já apresentava progresso
frente ao que era visto na Monarquia de Julho. Todavia, um nome destacava-se
nesse período: Lamartine, que não representava nenhum interesse oficial,
entretanto, sua formação pessoal, discursos e visões demonstravam que ele se
relacionava com a burguesia. Os trabalhadores estavam dispostos a não tolerar
artimanhas burguesas como, por exemplo, as de julho de 1830. Seu objetivo era a
imposição da república, que foi proclamada seguindo bases do sufrágio universal e
permitiu que o proletariado ocupasse o primeiro plano como partido autônomo, mas
ao mesmo tempo desafiasse a França burguesa a se unir contra ele.
O primeiro ato da república foi possibilitar que todas as classes ingressassem
ao lado da aristocracia financeira na âmbito do poder político, o que fez com que a
dominação dos burgueses aparecesse em sua forma mais pura, de modo a derrubar
a coroa que se escondia atrás do capital. O propósito da classe trabalhadora era não
atrelar-se à burguesia e impulsionar a revolução nas nações vizinhas, porém o
comércio Francês estava diretamente associado ao mercado internacional, o que
fazia com que a competição francesa com a Inglaterra interrompesse essa tentativa.
Ainda, a Revolução de Fevereiro consolidou e ampliou a bancocracia que deveria
derrubar, além de estimular o déficit a juros exorbitantes.
Por fim, o cenário caótico da França durante o período fez com que o exército
fosse dispensado pelo governo para que fosse criada a Guarda Móvil – grupo de
franceses que deveriam lutar contra a classe trabalhadora. Outro ponto de
exploração foram os chamados Ateliês Nacionais, isto é, oficinas populares que,
segundo boatos, deveriam contribuir para a expansão do socialismo. A partir deste
momento, uma série de protestos irrompem na França. A instituição da república
presidiu uma gama de debates na Assembleia Nacional e demais câmaras do
governo até que acabassem na Insurreição de Junho. Com ela, Marx aponta que as
condições da verdadeira revolução foram criadas.
RESENHA 4: JUNIOR, Caio Prado. Apogeu de um sistema. In: História Econômica
do Brasil. São Paulo. Ed. Brasiliense, 2006.