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Universidade do Estado do Pará - Centro de Ciências Naturais e

Tecnologia

Curso de Bacharelado em Relações Internacionais

LURYELI ANDREIA COELHO REATEGUI SANTOS

RESENHA CRÍTICA

(Power Politics 1946)

BELÉM
2023
LURYELI ANDREIA COELHO REATEGUI SANTOS

RESENHA CRÍTICA

(Power Politics 1946)

Resenha crítica elaborada como requisito


parcial para fins de obtenção de nota na
disciplina de Teoria Clássica de Relações
Internacionais sob orientação da
professora Mayane Bento, do curso de
Relações Internacionais, do Centro de
Ciências Naturais e Tecnologia.

BELÉM
2023
WIGHT, Martin. A Política do Poder (1913-72); Prefácio de Henrique Altemani de
Oliveira; Trad. C. Sérgio Duarte (2a. edição) Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 2002. Cap. IX, X e XXIX.

Robert James Martin Wight nasceu em 26 de novembro 1913, em Brighton,


e faleceu, devido a uma morte súbita, em 1972. No decorrer de sua vida, Wight
formou-se em História Moderna no Hertford College, Oxford. Martin trabalhou desde
professor, correspondente diplomático e até nomeado Reader em Relações
Internacionais na London School of Economics de 1946 a 1961. O autor britânico
considerava a Teoria das Relações Internacionais, ou apenas Teoria Internacional
como “um estudo de filosofia política ou de especulação política direcionado para o
exame das principais tradições do pensamento sobre Relações Internacionais no
passado.

Dentre suas obras publicadas, Power Politics – A Política do Poder – é um


livro (publicado no ano de 1946 e teve uma edição estendida em 1978), o qual
surpreende muitos pensadores contemporâneos devido aos seus conceitos e
percepções os ajudarem a compreender turbulências do século a seguir (XXI). Martin
discute o papel decisivo interpretado pelas grandes potências na Ordem Internacional,
como fatores de inquietação e desestabilização. Seu livro trata, em suma, da política
de poder e como ela é fundamental na hora de compreender as relações
internacionais. Constituído por 24 capítulos e 2 apêndices, Power Politics apresenta
324 páginas ricas em uma outra perspectiva acerca das relações que os Estados
apresentam e de sua função no cenário mundial.

Este trabalho dará ênfase aos capítulos IX, X e XXIV, divisão esta feita por
algarismos romanos.

O autor dá início ao capítulo IX, denominado de Anarquia Internacional,


pontuando sua visão acerca da guerra. Apresenta o conceito de guerras totais, o qual
ele mesmo define-as como guerras que envolvem todas as grandes potencias
existentes, exemplo disso, o caso dos Estados Unidos em 1917 ou da Grã-Bretanha
e da França em 1939. Mas também, existem as guerras menos, as quais também
acarretam em mudanças na configuração do poder como a Guerra da Crimeia (1854-
1856), envolvendo duas grandes potencias, a Guerra Ítalo-Abissínia (1935-36).
Entretanto, mesmo que um conflito se inicie com as potencias menores, não quer dizer
que elas vão se limitar apenas entre elas – quando a Áustria-Hungria entrou em luta
contra a sérvia e a Rússia veio a ajuda desta última e assim iniciou-se a Primeira
Guerra Mundial (Wight, 1946).

Martin discorre a respeito da causa principal da guerra: a anarquia, pois,


pela multiplicidade de potências sem governo no cenário internacional, a anarquia
tende para os estados soberanos. O autor ainda acrescenta:

Esse foi o exemplo apresentado pelo filósofo do século XVII Thomas Hobbes
para sustentar seu argumento de que a condição natural da espécie humana
(ou seja, estava estabelecida sua condição diante da sociedade) era de
"guerra de todo homem contra todo homem" (Wight, 1946, p.92).

Logo, não se tem a garantia de que uma ou outra potência é benevolente


ou malevolente, acarretando, assim, em desconfianças mútuas. Isto é, a anarquia do
sistema faz com que o Estados duvide das ações do outro e utilize quaisquer meios
necessários para o bem de seu respectivo povo, pois ele é o único capaz de assegurar
o bem estar de seu domínio. Nesse capítulo, Martin distingue as políticas internacional
e nacional, uma vez que a política doméstica está sob leis e instituições, as quais
asseguram a paz e “moldam” as lutas pelo poder, enquanto para a internacional, essas
leis e instituições são governadas pela política do poder. Assim, para ele, é
compreensível e justificável chamar a política internacional de política do poder.

Wight, defende em seu livro, que a guerra é, em último caso, um meio para
proteger seus interesses. Ele cita Clausewitz “a guerra é a continuação da política por
outros meios”, pois, nesse cenário de anarquia, “as causas da guerra são inerentes à
política de poder” (Wight, 1946, p. 96). Ainda faz uma crítica à natureza humana
quando diz que os homens são ambiciosos, vingativos e vorazes, corroborando o
pensamento de Hobbes, ao ressaltar essas características no homem, já que a política
é feita por meio dele.

Em seguida no capítulo X, que diz respeito à Sociedade Internacional,


Martin Wight disserta sobre a existência tanto de conflitos quanto de cooperação nos
assuntos internacionais. Ademais, mesmo sem um governante comum, os estados
apresentam um sistema, o qual gera uma sociedade. Contudo, muitos não
reconhecem a desta sociedade internacional.

A sociedade internacional, segundo o autor, é a sociedade mais inclusiva


que tem, a qual apresenta quatro características: 1. Composta por estados; 2. O
número dos seus membros é pequeno, não comportando mais de 200 “indivíduos”; 3.
É uma sociedade bastante heterogênea, pois possui estados com os mais diversos
territórios, posições, cultura, população e entre outros; por fim, 4. Os membros da
sociedade são imortais, mesmo que alguns morram ou desapareçam, eles ainda
assim duram mais que a vida humana. Além dessas peculiaridades, a sociedade
internacional é resguardada pela existência do direito internacional.

No entanto, os que negam a existência dessa sociedade, negam,


concomitantemente, a realidade do direito internacional, justificando que é algo, na
prática, ignorado de forma constante pelos estados. Aos que não ignoram a existência
desse direito, eles acabam por confundi-lo com o direito interno dos estados. Martin
discorre sobre os objetivos e conceituações acerca dele, afim de mostrar essa
distinção. Por exemplo, o direito internacional tem como objetivo definir os direitos e
deveres de um estado em relação a outros.

Como toda sociedade possui instituições, com a sociedade internacional


não seria diferente. De acordo com Martin Wight “As instituições da sociedade
internacional variam de acordo com sua natureza. Podemos enumerá-las como sendo
a diplomacia, as alianças, as garantias, a guerra e a neutralidade” (Wight, 1946).

Outrossim, o autor indaga em seu capítulo XXIV – Além da Política do


Poder – se as relações entre as potências são mais do que somente “política do poder”
ou se é possível elas serem mais do que isso. Ademais, os seus interesses são
comuns até que ponto? A anarquia internacional é retraída por dois tipos opostos de
interesses comuns, segundo Wight:

O primeiro é o interesse comum que todas as potências possuem em


sua própria liberdade, da qual elas têm pouca consciência em tempos
de paz, e reafirmam na última hora durante a guerra por meio de uma
coalizão armada contra um inimigo comum. O segundo é o tipo de
interesse comum representado por sucessivas potências dominantes,
pois sua predominância terá em geral salvaguardado valores reais,
bem como oferecido benefícios reais para outras nações (Wight, 1946,
p. 305)
Havia uma antiga tradição conhecida como a Lei Natural, a qual
basicamente diz que o homem, de natureza social e racional, sob uma ordem moral,
vê-se na obrigação de obedecer e que os verdadeiros interesses da sociedade
humana estão reunidos por obrigações de ordem moral e jurídica. Sendo fonte do
direito internacional, essa crença foi coberta, e enfraquecida pela expansão da
Europa, por outra revolucionária, ocorrida no final do século XVIII, com a unificação
dos estados, como uma das consequências da Revolução Industrial.
Rússia tornou-se herdeira das tradições representadas pela cristandade
bizantina. Durante o século XIX, Wight diz que os contatos internacionais foram
estendidos para muito além do mundo cristão, citando o caso da entrada do Japão na
comunidade internacional, primeira grande potência não-cristã e não-europeia. Muito
se é discutido acerca dos limites da Lei Natural, pois não se tem uma visão/resposta
clara, uma vez que esta depende do exercício do julgamento político e da aplicação
do critério moral.
Na sua obra, o autor britânico cita 2 estadistas: Gladstone, da Inglaterra,
século XIX, e Franklin Roosevelt nos Estados Unidos, século XX. Expõe que eles,
apesar de “assíduos” e “perspicazes”, ainda apresentavam lacunas em suas políticas
quando comparadas a outros autores – Cecil Rhodes, Lloyd George e outros.
Acrescenta ainda, Wight, que a moral em política internacional é uma questão de
segurança, exemplo disso foi a Grã-Bretanha, durante o século XIX, onde dispunha
de um maior grau de auto interesse esclarecido comparada aos outros estados, pois
apresentava uma segurança perfeita.
O autor conclui que a Lei Natural foi substituída pela Lei do Interesse
Material Comum, porém a realidade desse interesse não toca no problema do poder,
pois toda potência tem um desejo maior do que só o seu bem estar, ela almeja a
própria manutenção de poder. Pela falta desse governante comum, a sociedade
internacional ainda é apresentada como anárquica. Os estados continuarão a colocar
os interesses vitais acima dos interesses comuns. Martin Wight, finaliza “O realismo
pode vier a ser algo muito bom: tudo depende se significa o abandono de ideais
elevados ou de expectativas tolas” (Wight, 1946, p. 310).
Robert James Martin Wight foi um dos maiores contribuintes para o
entendimento das relações internacionais. Suas perspectivas apresentam, até hoje,
impacto na dinamização do conhecimento acerca delas, uma vez que apresenta uma
essência do racionalismo, um dos dogmas da Escola Inglesa. Wight, influenciou
grandemente as ideias de Hedley Bull, o qual o mesmo apontou algumas
características de Wight a respeito de sua linha de raciocínio que era voltada mais
para as questões filosóficas. Já para Suganami (2001, p. 2), ele não acreditava que
deveria ter a ordem mortal como pré-requisito para a realização de outros valores na
sociedade internacional. Tal visão simplifica a o problema da violência no mundo.
Wight é um renomado autor da Escola Inglesa, o qual também contribuiu
para o desenvolvimento da mesma. Seu estudo acerca do sistema anárquico, da
política de poder e das sociedades internacionais é, até os dias atuais, tema muito
discutido dentro da academia e gera diversos debates sobre a existência ou não desta
sociedade internacional.
REFERÊNCIAS
TRENTO, Maikel. O tema da guerra na Escola Inglesa das Relações
Internacionais. Contexto Internacional, v. 30, p. 171-208, 2008.
WIGHT, Martin. A política do poder. Ímprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002.

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