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Material de apoio, elaborado pelo Dr.

Erickson Cabinda

QUESTÕES DE SEGURANÇA

a)Visões realistas, idealista, racionalista, liberal,


construtivista e crítica sobre segurança;

b)Principais desafios de segurança nos planos


regional e global;

 Segurança como fim basilar do Estado;


 Principais escolas dos Estudos de Segurança;
 Desafios de segurança nos planos internacional
e africano;
 Riscos e ameaças à segurança nacional
angolana, com origens nas ordens interna e
externa

RECONCEPTUALIZAÇÃO DE SEGURANÇA
Os estudos sobre a segurança, integrando a
dimensão interna e societal, e a relação com a
segurança externa são relativamente recentes, não
obstante as profundas transformações decorrentes da
globalização, da mundialização da economia, da nova
ordem internacional e do fim da guerra fria.
No período antecedente à queda do muro de Berlim
(1989), a orientação político-filosófica predominante
quanto à segurança, tinha por preferência o conceito
clássico de segurança da Teoria das Relações
Internacionais, caracterizado pelo primado do vector
militar.
Apenas na década de 80 surgem os estudos que
questionam o paradigma realista.
A ontologia alargada do conceito de segurança de
Buzan (2009: 35), integrou a segurança na agenda
política, pelo alargamento aos sectores da
política, da segurança da sociedade como um
todo, da dimensão ambiental e económica. A
segurança passou a ser densificada com novos
actores e ameaças e alargou-se a outros
sectores, e o Estado, como defende Fukuyama
(2010) assumiu um papel menos determinante,
contudo ainda preponderante.

No período temporal dos finais da década de 70 a


início do milénio, há quatro marcos incontornáveis
que influenciaram a econceptualização da segurança:
1. Relatório do ministro francês Alain Peyrefitte (1977),
“Resposta à violência das urbes”;
2. Fim da Guerra fria (1989) que desterritorializou a
segurança;
3. Convenção das Nações Unidas para o crime
organizado transnacional (2000) que criou a
percepção nos Estados da dependência externa em
termos de capacidades para combater este tipo de
ameaças;
4. Ataques às Torres Gémeas, em Nova Iorque (2001),
que criaram a convicção de que as ameaças externas
podem afectar severamente a segurança interna.
A tese tradicional da separação entre segurança
interna e segurança externa cede o passo a um
conceito integrado que faz apelo aos princípios da
complementaridade e da interdependência entre
todas as componentes do sistema nacional, na
convicção de se estar perante uma só realidade
estratégica – a da defesa interior e exterior do Estado
e dos cidadãos – a executar de forma conjugada
através de meios estratégicos, operacionais e tácticos
diversificados.

DIMENSÃO POLÍTICA E ESTRATÉGICA


As questões de segurança revelam uma expressiva
dimensão política e estratégica: Não é possível
enfrentar a gravidade acrescida que revestem os
problemas da segurança se não for tida em conta
a complexidade crescente dos factores ou das
causas de insegurança e da capacidade do
Estado, e demais actores da sociedade, para as
prevenir e combater.
DIVISÃO ENTRE OS DOMÍNIOS INTERNOS E
EXTERNO
Marcos Faria Ferreira “Política Internacional “,
Caderno de Apoio, Lisboa, 2000.Jean Bodin
(1530-1596) e Thomas Hobes (1588-1679):
Existência de uma divisão entre o domínio político
que resulta da organização interna de cada
sociedade em forma de Estado soberano e o
domínio político que resulta das relações entre
Estados soberanos (FERREIRA, 2000: 15).

As relações que organizam a vida política interna


de cada Estado soberano:

São de tipo hierárquico e vertical: o Estado impõe-se


como autoridade superior a todos os indivíduos.

As relações entre os Estados soberanos: são


apresentadas tradicionalmente como sendo de tipo
anárquico e horizontal, em que não existe qualquer
autoridade superior que imponha a sua vontade aos
Estados
Principais Escolas de Estudos de Segurança

RENOVAÇÃO DO CONCEITO DE SEGURANÇA E


PROLIFERAÇÃO DE VÁRIAS ESCOLAS DE
PENSAMENTO

Charles-Philipe David “A Guerra e a Paz -


Abordagens Contemporâneas da Segurança e da
Estratégia”, 2001

Realista (ou maquiavelismo):

As relações entre Estados são relações sociais em


que a violência é não só o único meio ao alcance
dos Estados para a defesa dos seus interesses
como é um fenómeno recorrente, dada a ausência de
um poder que se imponha a cada Estado e
determine os seus comportamentos. Num ambiente
anárquico, marcado pela ausência de uma autoridade
superior que tenha capacidade para regular as
relações entre os Estados, o conflito permanente
parece impor-se como a única realidade, o único
horizonte possível para o seu relacionamento.

Com “os fins justificam os meios” O Príncipe de


Maquiável (1469-1527), sintetizou o caminho para um
governante manter-se no poder numa Europa
fragmentada e violenta. No século XX a grande lição
de Tucídides (455 a.C.-399

a.C. (séc. V a.C.) “História da Guerra do Peloponeso”


(divisão e conforntação do

mundo grego [Atenas e Esparta]) fora a de que os


fortes agem de acordo com o que o seu poder lhes
permite fazer e aos fracos não resta senão aceitar
o que aqueles determinam.

Idealista (kantianismo)

Reconhece o anarquismo que caracteriza a


estrutura das relações internacionais, mas
considera ser possível minimizar essa anarquia
através do estabelecimento de múltiplos acordos
entre os Estados ou até, suprir essa anarquia com
qualquer forma de governo mundial. A necessidade
de resolver as disputas pelas vias legais e pela
arbitragem (Sociedade das Nações, Nações Unidas,
Tribunal Penal Internacional). A força deve ser
reservada e utilizada unicamente contra os países
que infrinjam as regras de direitos. Os idealista
procuram prevenir as guerras pela constituição de
uma paz fundamentada no direito.
A sua visão da segurança está sobretudo ligada
ao conceito de “governança global”, ou seja, uma
ordem internacional assente em leis que
transcendem os Estados e são postas em prática
pelas organizações como a ONU, de concerto com
a sociedade civil e as ONG’s.

Associada a Hugo Grotius (1583-1645) e a


Emmerich de Vattel (1714-1767), mas também
Wight, Bull, Watson ou Vincent, sugere ser possível
conceber outra forma de pensar as relações
internacionais, uma espécie de via média entre
realismo e idealismo que supera essa dicotomia.

Coloca também como ponto de partida a estrutura


anárquica das relações internacionais, mas ao
contrário dos realistas, mais próximo da
problemática idealista e cosmopolita.

Racionalista (ou otianismo)

Considera que o carácter anárquico e a


consciência crescente de pertença a uma mesma
humanidade força os Estados a proverem à sua
própria segurança mas, ao mesmo tempo,
reconhecerem a moralidade universal que se vai
impondo e vai limitando o alcance do egoísmo do
Estado soberano.

Liberal (ou Liberalista)

A definição de segurança é, na visão liberal,


alargada aos factores institucionais, económicos e
democráticos, dimensões que, segundo esta
perspectiva, são mais determinantes que a variável
militar para instaurar a paz.

Trata-se talvez da tentativa de John Loke (1632-


1704) em recompensar o estado de natureza realista
pela criação de um Estado de direito liberal ou da
concepção de Emmanuel Kant (1723-1804) sobre a
paz perpétua alicerçada na propagação dos valores
republicanos ou a abordagem de Adam Smith (1723-
1804) sobre o modelo capitalista como fonte de
convergência entre interesses individuais e o
interesse geral.

Tal como os racionalistas, os liberais situam-se


também entre os realistas e os idealistas e,
consideram que a interdependência institucional,
democrática e económica põe em causa o dogma
realista segundo o qual os conflitos armados são
inevitáveis e a procura de poder insaciável.
A visão optimista substitui a visão pessimista: é
possível prevenir as guerras e instaurar uma paz
durável tendo em conta as novas dimensões de
segurança. As ameaças não sendo apenas
militares, não podem ser tratadas separadamente
pelos Estados. O “cada um por si” é pois
substituído pelo “todos por um” e o conceito de
poder pela noção de partilha.

Defendem uma abordagem positiva da paz,


assente no estabelecimento de valores, de redes
e de mecanismos multilaterais que possam
assegurar a longo prazo a perenidade de um
sistema internacional estável. As instituições
existem não para concorrer com ou substituírem
os Estados, mas para os ajudar.

Construtuvista (ou construtuvismo

Tem a sua origem no artigo publicado em 1992, por


Alexander Wendt “Anarch is What States Make of it”
e demarca-se das restantes escolas. Não estuda as
condições materiais e dos interesses que formam o
sistema internacional, mas analisa minuciosamente as
ideias que o construíram, ou seja, embora reconheça
a influência dessas condições e desses
interesses, prefere interrogar-se sobre o sentido
que lhes é dado.

Em suma, os construtivistas interrogam-se sobre


o modo como as identidades e os interesses dos
Estados e das estruturas são construídos e se
modificam; de que maneira as normas se
desenvolveram historicamente e formam a
identidade dos Estados e do sistema
internacional.

Assim, para esta abordagem:


A anarquia não é um dado “objectivo”, mas um
construído “subjectivo” que os Estados, desde
Vestefália, teriam integrado no seu
comportamento;
A identidade de um Estado ou de um sistema é, além
disso, obra de discursos e crenças veiculados
pelos decisores e pelas elites, e estão sujeitos a
mudanças causadas pela emergência de novas
ideias.

Escolas criticas:

Existem várias escolas críticas e, pertencem


ao movimento epistemológico pós-positivista que
rejeita, o empirismo positivista e o racionalismo
das teorias dominantes das relações
internacionais, todas as tendências incluídas.

Os críticos incluem na análise de segurança uma


visão pós-positivista centrada nos valores que formam
a realidade que os investigadores observam e querem
explicar.

Estas escolas partilham várias ideias fundamentais:


Rejeitam unanimemente os discursos racionais e
objectivos sobre a segurança (esta não é função de
factores inerentes ou naturais, mas de discursos
dominantes e de realidades sociais flutuantes;
Duvidam seriamente a capacidade do Estado garantir
a verdadeira segurança, mesmo a dos indivíduos;
Definem o objecto de segurança como sendo a
sobrevivência, o bem-estar e a emancipação humana
e não estatal;
Definem a segurança humana como sendo a ajuda
aos humanos em situação de vulnerabilidade face aos
sistemas de exclusão injustos e opressores;
Os estudos feministas sublinham a dominação
masculina das estruturas de segurança e interrogam-
se dessas estruturas;
Neste contexto, Ann Tickner (1994, 1977) propõe
que os conceitos inventados pelos homens sejam
reavaliados pelas mulheres;
Tickener sustenta que a desigualdade entre os
sexos é causa de insegurança para as mulheres, e
as políticas feministas de segurança seriam
portadoras de diluição dos antagonismos e fontes
de maior cooperação.

CONCEITO ALARGADO DE SEGURANÇA

O conceito vestefaliano de soberania de Jean


Bodin, como “a entidade que não conhece superior na
ordem externa nem igual na ordem interna”, já não
corresponde à realidade do mundo actual
(NELSON, at al., 2015: 32-33).
Contudo, o Estado permanece como um actor
relevante nas Relações Internacionais. Nas ordens
interna e externa, o Estado continua a ser o
interlocutor predominante, embora a complexidade do
actual ambiente de segurança tenha conferido um
papel de progressiva relevância a outros sectores.
O paradigma alterou-se, com novos actores, cenários
e ameaças e o Estado deixou de ser o único actor
também pela alteração do objecto da segurança que
passou a ser a sociedade dos indivíduos, sendo
considerado o instrumento valioso de
desenvolvimento.
Não basta salvaguardar os Estados, há que
proteger os indivíduos e garantir valores como o bem-
estar, a liberdade individual, a segurança individual
e promover o desenvolvimento humano,
erradicando as causas das ameaças.
Os interesses vitais são praticamente os mesmos,
mas a segurança ampliou-se para além do vector
militar, às dimensões económica, societal,
ambiental e humana.
Como defendeu Barry Buzan, em 1983 (People,
States and Fear), “a segurança militar não esgota o
campo securitário inerente ao exercício das funções
de soberania próprias do Estado moderno”.
A consideração do Homem pela posição de relativa
fraqueza no ambiente em que vive, num mundo
indómito e perigoso, gera medo como construção
social que decorre da consciencialização da
sociedade de múltiplos riscos. Neste contexto,
emergiu o conceito de segurança humana, com
enfoque na protecção das pessoas em detrimento do
Estado (NELSON, at al., 2015: 33).

DESAFIOS DE SEGURANÇA NOS PLANOS GLOBAL


E REGIONAL

A actual realidade estratégica global e regional, onde


se mantém ainda algumas ameaças directas aos
Estados, é caracterizada por uma nova tipologia
destas, bem como de novos riscos com carácter
difuso, imprevisível e de natureza assimétrica,
capazes de perturbar a segurança mundial (CEDN,
2018).
PLANO GLOBAL: O cenário de segurança
internacional é caracterizado por nova matriz de
ameaças e riscos que tende a criar instabilidade e
a perigar os equilíbrios existentes na balança do
poder mundial, nomeadamente:

1.O surgimento de disputas entre as principais potências


militares mundiais originadas pelas diferentes
percepções das actuais dinâmicas mundiais, conduziram
à corrida armamentista, incluindo a nuclear;

2.O desenvolvimento das novas Tecnologias de


Informação e Comunicação (TIC’s), o ciber-crime, o
gravar do extremismo religioso, terrorismo nas mais
diversas formas de actuação, a vaga de refugiados,
as mudanças climáticas e a crise económica e
financeira mundial.

Os actuais conflitos no Médio Oriente, especialmente na


Síria e Iraque, na Europa envolvendo a Rússia e a
Ucránia, a presença militar da NATO junto das
fronteiras com a Rússia, as tensões existentes na
Península coreana e no mar do sul da China onde
divergem os interesses das Grandes Potências, os
conflitos persistentes nas Regiões dos Grandes
Lagos, do Magreb e do Shael e a instabilidade política
e social em alguns países do MERCOSUL.

SÍNTESE NO PLANO GLOBAL:

O actual quadro macro de segurança global é


marcado por intensos e profundos ajustamentos
geopolíticos geoeconómico e geoestratégico, que
estão na origem ou no agravamento de conflitos,
nomeadamente, de:
1. Redefinição de fronteiras;
2. Guerras civis;
3. Conflitos étnico-religiosos;
4. Anexações de territórios;
5. Movimentos secessionistas;
6. Proliferação de armas de destruição em massa;
7. Terrorismo transnacional;
8. Riscos ambientais;
9. Escassez de água e de alimentos;
10. Crises humanitárias resultantes da deslocação forçada
de populações, e de vagas de refugiados.
PLANO REGIONAL (AFRICANO):

A África é caracterizada por vários factores que


tendem a afectar a segurança sub-regional e
continental, nomeadamente:

1. O baixo nível de desenvolvimento socioeconómico e


cultural;
2. As insuficiências das políticas internas seguidas por
alguns governos e Estados, têm contribuído para a
deterioração da situação política, económica, social
e humanitária das respectivas populações;
3. A emergência de ondas de forças erráticas e
insurgentes, especialmente, nalguns países do
Norte de África e Médio Oriente, com o objectivo de
alterar a ordem constitucionalmente instituída.
4. No caso específico da África subsariana: o
crescimento exponencial dos conflitos intra-
estatais que deixa muitos países desta região em
situação “de quase falidos”, devido à delimitação
das fronteiras herdadas das potências
colonizadoras, ao fundamentalismo étinico-relegioso,
a corrupção generalizada e falta de politicas viáveis
voltada para as populações

Riscos e Ameaças à Segurança Nacional Angolana.


Noção de ameaça (Ameaça = Capacidade x Intenção):
Qualquer acontecimento ou acção, em curso ou
previsível, de variada natureza (militar, económica,
ambiental) que contraria a consecução de um
objectivo e que, normalmente, é causador de danos,
materiais ou morais, sendo que no âmbito da estratégia
consideram-se principalmente as ameaças provenientes
de uma vontade consciente, analisando o produto das
possibilidades pelas intenções (COUTO, 1988: 329).

A ameaça assimétrica resultada da utilização de


método e meios não convencionais para tentar evitar
ou anular as potencialidades de um opositor,
explorando simultaneamente as suas fraquezas, com
obtenção de efeitos potencialmente
desproporcionados (BEMBE, 2012: 61-62). Assim,
uma determinada situação é geradora de uma
ameaça se o seu agente tiver possibilidades ou
capacidades para a sua concretização e se
também tiver intenções de a provocar
(ESCORREGA, 2009).

Noção de risco [Risco = Perigos (ou ameaças) x


Vulnerabilidades]:
A probabilidade de consequências prejudiciais, ou
perdas esperadas (…) resultante de interacções entre
perigos naturais ou humanamente induzidos e
condições vulneráveis.

Trata-se de uma acção não directamente


intencional e eventualmente sem carácter
intrinsecamente hostil (contrariamente aos termos
que caracteriza a ameaça na estratégia), provinda
de um actor interno ou externo não
necessariamente estratégico (DUARTE et al., 1999:
107 apud ESCORREGA, 2009).

O conceito de risco é inseparável das ideias de


probabilidade e incerteza. Caracteriza-se por
assinalável polissémica (surgindo por vezes a
propósito do que se designa por perigos, catástrofes,
acidentes ou ameaças) e refere-se normalmente a um
vasto leque de situações de incerteza, associadas a
qualquer fenómeno negativo que poderá ocorrer.

Em Angola, apesar dos


avanços registados no
processo de reconciliação
nacional que formalizou o
fim dos 27 anos de guerra,
persistem grandes desafios
e vulnerabilidades,
nomeadamente:
1. A forte dependência da
economia das reservas do
petróleo, o que exige a
diversificação da economia;
2. As alterações climáticas;
3. A crise financeira internacional;
4. O terrorismo;
5. As ameaças à segurança e defesa do Estado;
6. O crime organizado e as grandes endemias.

Riscos e Ameaças relevantes à segurança e


defesa nacional com origem na ordem interna:
1. Delinquência e existência de armas fora do controlo das
autoridades;
2. Conflitos étnicos, religiosos e a proliferação de seitas
religiosas;
3. Pobreza extrema, desemprego, violência doméstica e
outros males sociais.
4. Criminalidade económica,corrupção,
roubos,assaltos e
falsificação de documentos;
5. Apropriação e utilização ilegal de armas de fogo;
6. Exploração sexual de menores e pornografia infantil;
7. Crimes rodoviários e ambientais, violência escolar;
8. Infiltração, espionagem e sabotagem;
9. Ameaças provenientes de causas naturais, como as
inundações, a desertificação e as secas (BEMBE,
2012: 104; CEDN).

RISCOS E AMEAÇAS RELEVANTES À


SEGURANÇA E DEFESA NACIONAL COM
ORIGEM NA ORDEM EXTERNA:

1. Agressão armada ao Estado, ao território nacional, à


sua população, às suas Forças Armadas, ao
património e suas aspirações;
2. Conflitos armados regionais e imigração ilegal
(conflitos políticos, étnicos, religiosos e sociais);
3. Terrorismo nas suas variadas formas e criminalidade
transfronteiriça;
4. Desenvolvimento e proliferação de Armas de
Destruição em Massa, de natureza nuclear, biológica,
química ou radiológica (NBQR);
5. Crime organizado transnacional (tráfico de armas, de
drogas e de seres humanos);
6. Avanços científicos e uso criminoso das novas
tecnologias - o cibercrime, nano-materiais;
7. Atentados ao ecossistema, incluindo a poluição
marítima, a utilização abusiva dos recursos marítimos,
terrestres e outros da fauna e flora;
8. Pirataria marítima, aérea e contrabando de
mercadorias e combustível (BEMBE, 2012: 104;
CEDN).

ELABORAÇÃO DA IDEIA DE SEGURANÇA

 Como já ficou referido, o termo “segurança” é


polissémico. Tem vários significados.
 Diz-se que é a palavra que mais significados oferece
no seio da actividade humana.
 Hoje encontramos, naturalmente, uma ténue
correspondência com o sentido a sua raiz
etimológica
 A expressão “segurança” deriva do latim «Sine
Cure» (sem cuidados) que evoluiu semanticamente
para securitas (segurança) que advém do verbo
curare que significa cuidar-se ou proteger-se.
 A Segurança constitui uma razoável expectativa de
não ser vítima de perigos, ameaças ou agressões.
 Esta expectativa pode frustrar, transformando-se
num sentimento de insegurança com a ocorrência de
circunstanciais que ameacem o ser humano
individualizado ou em colectivo (subjectivo ou
objectivo), tais como a inundações terramotos as
catástrofes ou agressões.
 São precisamente estas ameaças que provocam
uma ânsia de segurança e o incessante propósito de
remover as causas que a produzem mediante a
criação de adequados dispositivos.
Estas preocupações conduzem-nos à importância da
Segurança interna.

O Conceito de segurança comporta uma maior


latitude que o de segurança interna. A eminência de
perigo ou ameaça pode não resultar apenas de
agressões ou de catástrofes mas de múltiplos
cenários.

EXISTEM MUITOS OUTROS PERIGOS E


AMEAÇAS QUE CLAMAM POR SEGURANÇA

 O perigo da queda de aviões conduz à segurança


aeronáutica.
 Perigo da falta de meios de sobrevivência para
trabalhadores incapacitados gerou a segurança
social.
 Perigo do desemprego conduz à segurança dos
postos de trabalho.
 A ameaças da fome conduz à segurança do
abastecimento em géneros alimentícios.
 O perigo da perda da credibilidade da moeda
conduz à segurança do sistema monetário.
 O Perigo de desastre nuclear gerou a segurança
nuclear.
 O Perigo de Incêndios gerou a segurança contra
fogos
 O perigo de acidentes de viação conduziu à
segurança rodoviária.
Como se observa, a segurança tem em vista em todas
as situações a remoção de ameaças, perigos ou
agressões. Em Português, todas as ameaças e
perigos traduzem-se na Falta de segurança.

Uma expressão com duas acepções.

Em Inglês, a Segurança pessoal, militar, patrimonial e


nacional (actos internacionais) designa-se por
Security.

A segurança aeronáutica, de equipamentos ou infra-


estruturas traduz-se como SAFETY (actos não
intencionais).
A segurança pode ser observada na óptica de meio de
acção a qual convoca

 Instrumentos
 Comportamentos
 Instituições (Diversas)
Segurança – Actividade (para estar seguro ou diminuir
os riscos)

CLASSIFICAÇÃO DO CONCEITO DE
SEGURANÇA

1. Critério - de acordo com o sujeito protegido;


Segurança do Estado, dos Grupos e das
Comunidades

2. Critério – quanto aos bens a proteger:


independência Nacional, a integridade territorial,
Ordem Constitucional, Segurança Ambiental,
Rodoviária, Alimentar e Económica.
3. Critério – Âmbito espacial da intervenção:
Segurança local. Segurança regional, Segurança
Interna e Segurança Global.
4. Critério – Estruturas que asseguram segurança
Militar, Segurança Policial, Segurança Privada e
Segurança Civil.
5. Critério – Intensidade de perturbação realizada: Por
ameaças, riscos (possibilidade de danos).

1º CRITÉRIO
BENEFICIÁRIAS

 Segurança Institucional: das instituições públicas


(Estado e outras entidades públicas).
 Segurança comunitária: dos grupos e das
comunidades.
 Segurança pessoal: cidadãos e das pessoas
colectivas.
 Segurança Internacional: da comunidade
internacional redundando na segurança da
humanidade.
2º CRITÉRIO
RESPEITA AOS BENS OU MATÉRIAS DE
SEGURANÇA A PROTEGER

 Segurança pessoal ou segurança individual:


Defesa de bens individualmente apropriáveis
(não difuso) direito à liberdade individual,
liberdade de opinião, manifestação etc.
 Segurança política: Defesa dos bens públicos
de foro estadual que interessa a toda
comunidade (soberania, ordem constitucional,
defesa da legalidade democrática).
 Segurança socioeconómica. Defesa de bens
que são partilhados pelos governos, não existe
apropriação individual: segurança ambiental,
segurança sanitária, segurança económicas,
segurança no emprego etc.

3º CRITÉRIO
DIZ RESPEITO AO ÂMBITO DE
INTERVENÇÃO DA ACTIVIDADE DE
SEGURANÇA

- Segurança local: Ao nível provincial e municipal


- Segurança regional: Supra local, vários Estados
(regiões autónomas).
- Segurança Nacional: ao nível do Estado.
- Segurança internacional: Entre Estados e
organizações internacionais no quadro da cooperação.
- Segurança Global: Tende para intervenção universal.

4º CRITÉRIO
RESPEITA A ENTIDADE QUE EXERCEM
ACTIVIDADES DE SEGURANÇA

 Segurança militar: As Forças Armadas na sua


função militar.
 Segurança policial: As Forças Policiais na sua
função de segurança.
 Segurança das informações: os serviços de
Informações na sua função de inteligência.
 Segurança civil: as entidades municipais na sua
função de policiamento municipal.
 Segurança privada: as empresas privadas de
segurança bem como outras entidades.

A Segurança Jurídica

Constitui uma garantia da exigibilidade de direito,


estável e previsível, devidamente fundamentado e
motivado com vista a realização da justiça.
 Associado à “protecção da confiança”
 Princípio derivado do Estado de Direito.
 Respeito à preocupação com o conhecimento do
direito aplicável
 Impõe que as fontes sejam públicas e prospectivas
e não retroactivas na sua vigência.

A Segurança Jurídica associa-se à protecção da


confiança como princípio de estado de direito.

Segurança jurídica: exige publicidade nos actos do


poder público e a clareza e determinabilidade das
fontes de direito.

Protecção da confiança: requer que o quadro


legislativo não mude de forma a frustrar as legitimas
expectativas geradas nos cidadãos acerca da sua
continuidade com a proibição da retroactividade.

Segurança Jurídica

Implica a necessidade de publicitação das decisões.

Não podem existir decisões de surpresas (actos


normativos secretos)
Com a publicitação cumprem-se objectivos de clareza
de sentido da regulamentação.

Protecção da confiança

 Institui um clima de estabilidade entre um poder


público e os cidadãos destinatários.
 Esta confiança esta ligada à aplicação perspectiva
daqueles actos jurídicos públicos.

A Segurança social

A segurança social tem a ver com a protecção social


dos cidadãos face a: Riscos sociais: Velhice, Doença,
Desemprego, etc.

Todas estas acepções são manifestações de um mais


amplo conceito de segurança, ideia de ameaças que
se pretende banir.

Segurança Passou a ser: - Prevenção e solução de


riscos naturais – Safety; - Para além afastamento de
ameaça de criminosos; - Ganhou uma dimensão
supra-estadual de acordo com a magnitude dos riscos
de ataques terroristas que deixam de ser nacionais,
localizados e com armas convencionais acepção
security.

OS DESAFIOS DO SEC. XXI

São ainda maiores os desafios da segurança como fim


do Estado no sec XXI

Percurso do estado constitucional no sec XXI.

- Constituição do Estado Social


- Democratização do poder político
- Consumação do sufrágio universal
- Multiplicação das formas alternativas de participação
política.
- Reforço da segurança como fim do Estado realiza-se
dilematicamente à custa da democracia e da liberdade
dos cidadãos.
Muitos defendem o reforço da segurança à custa das
limitações da liberdade, sobretudo no âmbito do direito
penal onde se fala já num direito penal do inimigo
(GutherJakobs).
- Existe uma forte resistência a esta ideia por parte das
estruturas constitucionais democráticas ao mesmo
tempo em que se traçam novos equilíbrios entre a
segurança e a liberdade.
- Dada a sua eficiência de sanar os desequilíbrios
sociais (O CONNOR, 19977 P.57)
- O “Direito penal do inimigo” é um modelo de política
criminal que separa da sociedade em termos de
garantias e direitos fundamentais aqueles que o
Estado considere inimigos (alemão GutherJakobs).
Integra-se na idade moderna: O Renascimento; - Os
Descobrimentos – Vasco da Gama e Cristóvão
Colombo; - Até 14 de Julho de 1789 – Revolução
Francesa; - De 14 de Julho 1789 – Inicia nossa idade
contemporânea.
 Thomas Hobbes desenvolveu uma ideia de
segurança tecnicamente alicerçada na legitimação
da organização política estadual com base na
segurança dos indivíduos nas suas relações dentro
da colectividade.
 Para Hobbes (1588-1679), no quadro da teoria
contratualista, considera a importância do Poder
Estadual para a transição do “Estado de natureza”
para o “Estado de Sociedade” através de um
contrato social.
 No estado de natureza os homens viveram uns
estados de guerra civil (omnia omnium bellum).
 O homem seria o lobo do próprio homem (homo
homini lúpus).

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