Você está na página 1de 13

INTRODUÇÃO

Os Estados surgem como entidades de poder legítimo com inúmeras funções, com
destaque a de satisfazer a necessidade de segurança colectiva, permitindo assim a evolução do
estado de natureza para o estado social. Desde aquela altura, as sociedades têm vindo a
demonstrar que quer no âmbito interno e internacional, elas não são estáticas, mas sim
dinâmicas, ou seja, estão sujeitas aos novos contextos que trazem consigo inúmeros desafios
dirigidos principalmente àquelas entidades que desde o princípio foram criados para garantir o
bem-estar da sociedade. Deste modo, fruto das novas ameaças e os novos medos, e tantos
outros riscos, qualquer governo que não satisfaça a necessidade de segurança humana, a sua
sobrevivência poderá ser colocada em risco. Nesta ordem de ideia, a pesquisa levantou a
seguinte pergunta de partida:

Qual foi a eficácia das políticas do Governo angolano destinadas a segurança


humana no período entre 2018 a 2022 ? A fim de responder a pergunta, recorreu-se a pesquisa
bibliográfica, consubstânciada em fontes que abordam a temática seleccionada que permitiu
uma abordagem descritivo-teórico.

O trabalho está constituído por um objectivo geral que consiste em compreender as


questões teóricas em torno dos Estados e, os conceitos de Segurança. Ao passo que, os
objectivos específicos visam caracterizar o Estado angolano, e por fim, avaliar a eficácia das
políticas destinadas a segurança humana no período entre 2018 à 2022.

A pertinência do tema justifica-se, não apenas pela importância das questões


securitárias adquiridas desde o 11 de Setembro de 2001, mas está também, e sobretudo na
abragência que as mesmas passaram a abarcar, ou seja, a segurança deixou de limitar-se as
questões militares, passando a dizer respeito a todo um complexo de elementos essencias para
a vida humana.

Constituído em três partes, a primeira faz uma abordargem centralizada em alguns


aspectos teórico referentes aos Estados, e os conceitos de Segurança. Na segunda, o foco recai
sobre uma caracterização do Estado angolano. Na terceira e a última parte, o desafio consistiu
em avaliar a eficácia das políticas do governo angolano destinadas a satisfação da necessdiade
de segurança humana, entre os 2018 a 2022.

1
I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL EM TORNO DO
ESTADO E DE SEGURANÇA

1. Origem e evolução conceptual do Estado

O termo Estado implica, ontologicamente, a noção de modo de ser, o que pode-se


acrescentar ao termo Estado a indicação de um modo de ser da sociedade, uma forma com que
se apresenta o poder (Neto, 1978, p. 38). Isto é, o Estado não é uma figura abstracta, mas sim
real, fruto da vontade daqueles que o concebem, por isso, representa as aspirações, e os
sonhos daqueles que o criam.

A doutrina contratualista, defende que o Estado é originado de um acordo de


vontades, onde cada um cede parcela de seus direitos individuais em prol de todo o grupo.
São autores da doutrina contratualista, entre outros, Thomas Hobbes, John Locke, Jean
Jacques Rousseau e Samuel Pufendorf. A doutrina do contrato social, esboçada na
antiguidade e fortalecida na Idade Média representa a mais importante justificação do Estado
no mundo moderno. Em sua essência, o contracto social está ligado ao jus naturalismo (Idem,
2015, p.16).

Entretando, não deixamos de concordar com a teoria acima exposta, porém, para este
trabalho optamos pelo conceito citado na obra de José António Fernandes, segundo o qual, o
Estado é uma sociedade política e juridicamante organizada, dispondo de órgãos próprios que
exercem o poder sobre um determinado território, interna e externamente. (Fernandes, 1999 p.
12). Até aqui, compreendemos que o Estado não foi criado de forma automática, mas passou
por várias fases até chegar ao que é hoje. Como vimos de igual modo, vários autores e sob
diversas perspectivas debruçaram-se sobre a evolução histórica do Estado, mas destacamos
por aquele que é interessante para o presente exercício.

1.1. Estado Westefaliano

A sociedade política medieval entrou em declínio, o que determinou as


características do Estado Westfaliano. Esse declínio do sistema medieval significava que os
Estados não mais seriam subordinados ao poder do Imperador Fernando II e do Papa, e, agora
estes seriam consolidados como uma unidade suprema e com um poder soberano reconhecido
dentro de uma delimitação territorial constituído por um povo, permitindo com que os Estados
territorializados e soberanos se consolidassem na nova ordem mundial. (Moita, 2012). A
2
partir daquela altura dá-se uma ruptura com sistema de organização da sociedade baseado na
religião, e consequentemente o surgimento do Estado laico, onde aquela instituição deixara de
imiscuir-se nos assuntos internos daqueles actores.

A soberania estatal formalizada pelas negociações da paz da guerra dos 30 anos,


outorgou ao Estado o exercício do poder soberano dentro de suas fronteiras nacionais ou o
monopólio da força física sobre um determinado território. Isso significaria que o poder do
Estado seria supremo, impossibilitando sua limitação no âmbito interno e internacional, por
qualquer outra unidade que detivesse poder ou autoridade. (Figueira, 2011). Desta forma
conquistou-se e consolidou-se o direito do Estado no exercício uso da violência da legítima,
como sendo o ente garantidor da ordem e da segurança.

No âmbito interno, não haveria algum poder que pudesse concorrer com o do próprio
Estado, e, no âmbito externo, não haveria nenhuma entidade acima deste, suas acções e suas
relações com os demais países do Sistema Internacional não seriam determinadas ou limitadas
a não ser pelo próprio Estado soberano. O Estado que surgiu após o Tratado de Vestefália,
pode ser definido como “a sociedade soberana, surgida com a ordenação jurídica cuja
finalidade é regular globalmente a vida social de determinado povo, fixo em dado território e
sob um poder” (Nogueira, 1993, p. 5).

Assim sendo, todas as características descritas acima fruto das consequências da


Guerra dos 30 Anos, criaram as condições para que o novo Estado soberano fosse munido de
poderes que o lhe permitiram assumir responsabilidades nunca vistas antes no âmbito interno
e internacional, sendo que até aos nossos dias, o mesmo guarda para si, o papel fundamental e
incontornável no âmbito nas relações internas e na seara internacional, como sendo aquele
que detém a peculiaridade de uma entidade que garante a satisfação de todas as necessidades
que deram razão para sua criação, principalmente aquela que tem a ver com a segurança.

1.2. Origem e evolução histórica do conceito de Segurança

A segurança deriva do étimo latino securitas, securitatis, securus, podendo ser


definida como tranquilidade de espírito, ausência de perigo (Ferreira, 1983, p.1050), ou ainda
como o estado, qualidade ou condição de uma pessoa ou coisa que está livre de perigos, de
incertezas, assegurada de danos e riscos eventuais, afastada de todo o mal (Houaiss, 2002,
p.3282).

3
Para Hobbes, a segurança estava para o indivíduo, apesar de o Estado ter de garantir
ao mesmo direito de autopreservação; Montesquieu, por sua vez, entendia que a segurança se
associava à liberdade política; enquanto Adam Smith, compreendia a segurança na
perspectiva de um ataque violento à pessoa ou sua propriedade (Weaver, 2004). Compreende-
se na perspectiva destes teóricos, e conforme foi dito acima, cada autor procura definir o
conceito de segurança de acordo com a sua inclinação académica e científica, porém, têm uma
noção comum e social do papel do Estado como o ente que garante tal liberdade para o
indivíduo, sendo o primeiro dever do soberano de proteger a sociedade da violência e invasão
de outras sociedades autónomas.

Vários factores marcaram o processo de evolução histórica do conceito de segurança,


dentre eles destacamos a Revolução Francesa, que traz consigo a ideia do Estado como meio
de segurança, derivada da persistente visão crítica das propostas revolucionárias, em especial
do francês Condorcet, principal expoente da nova Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão de 1793, onde confere ao cidadão, sua propriedade e seus direitos a finalidade da
segurança em sociedade (Amaral, 2008, p.24). Outro destaque recai sobre o advento das
guerras revolucionárias e Napoleónicas na Europa, a ideia de segurança colectiva começa,
ainda que timidamente, a sobrepor a ideia de segurança individual: “se em Condorcet a
segurança individual é requisito a segurança da comunidade política, agora a segurança do
Estado passaria a ser condição sine qua non para que se garantisse a segurança individual”
(Amaral, 2008, p. 52).

São vários os períodos que marcaram a evolução histórica e conceptual sobre a


segurança que não será possível descreve-los aqui de forma exaustiva, porém dentre os já
citados acima, não podemos deixar de destacar o advento das disputas coloniais entre as
potências europeias, e a eclosão da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, a instituição do
sistema de segurança colectiva, (Silva, 2009, p.4), e em seguida, o período da Guerra Fria
representando um mundo hostil, no qual a única opção racional parecia ser uma política
externa voltada para o temor da sobrevivência física, que deu lugar a priorização do indivíduo
de forma a preserva-lo do fragelo da guerra, (Idem p. 6).

Contudo, observa-se que o conceito de segurança tem evoluído e adaptando-se aos


contextos que se impõem interna e externamente. Mas apesar disso, ela pode ser entendida como
uma forma de relativa liberdade da guerra, bem como uma esperança, de certa forma elevada, de
que a derrota não será uma consequência de nenhuma guerra que possa ocorrer (Bellamy, 1981, p.

4
102). Ao passo que na perspectiva de Wolfers, a segurança, de forma objectiva, mede a falta de
ameaças a valores adquiridos e, de forma subjectiva, a inexistência de sentimentos de medo que
esses valores sejam atacados (Wolfers, 1962, p.150).

Entretanto, dentre os vários, optamos pelo conceito de Mohammed Ayoob, que segundo
o qual a segurança deve ser definida em função de vulnerabilidades internas e externas que
ameaçam ou têm o potencial de destruir ou enfraquecer as estruturas territoriais e institucionais do
Estado, bem como, os regimes governamentais (Ayoob, 1995, p.9). O Estado, no quadro interno e
internacional, dentre as várias responsabilidades também assume o papel de garantir a preservação
e o respeito pelas instituições que permitem a convivência social pacífica e harmoniosa.

Após esses eventos de transformação histórica, muitos contestadores da visão


convencional dos estudos tradicionais de segurança passaram a contribuir para a
diversificação na percepção das ameaças e ampliação da agenda, com vistas a reposicionar o
indivíduo como objecto referente dos estudos de segurança.

Portando, o que podemos reter nesta primeira parte é a evolução institucional do


Estado, que passa dos impérios e dinastias para o Estado soberano, bem como a evolução do
conceito de segurança, que deixa de limitar-se as questões militares, e passa a abranger a
segurança ambiental, marítima, alimentar, enfim, a segurança humana. Na segunda parte,
faremos uma abordagem sobre o Estado angolano e o seu o governo.

II – CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO ANGOLANO

2.1. Caracterização do Estado Angolano

Angola é um país multicultural e multilingue, uma nação independente desde 11 de


Novembro de 1975. A sua língua oficial é o português, contudo são faladas diversas línguas
africanas. O país encontra-se administrativamente dividido em 18 províncias e a sua moeda
oficial é o Kwanza (AOA). A sua capital é Luanda, a província mais populosa, concentrando
cerca de 30% da população (8,5 milhões de habitantes). Seguem-se as províncias da Huíla,
constituída por 13% da população total, Benguela e Huambo com 8%, Cuanza Sul com 7% e
Bié e Uíge com 6% (Ministério, 2017, p.16).

No total, as províncias acima citadas concentram cerca de 72% da população total


residente no país, e a maior parte da população (62,3%) está concentrada nas zonas urbanas.

5
A demografia angolana caracteriza-se por uma elevada taxa de crescimento anual da
população de 2,7% 6 , e uma população muito jovem, em que cerca de 48% tem idade inferior
a 15 anos e apenas 2,4% com idade superior a 64 anos (Ministério, 2017, p.16)

Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) estimam a população angolana em


cerca de 30.175.553 habitantes dos quais, 14 219 652 são cidadãos maiores de 18 anos, em
2019. Ainda de acordo com o INE, em 2018 o indicador do Clima Económico continuou
abaixo da média da série e a Conjuntura Económica permanece desfavorável (Benguela,
2020, p.6)

Passados 20 anos após a guerra civil, o país continua a enfrentar uma série de
desafios de desenvolvimento, no que diz respeito sobretudo aos indicadores socioeconómicos,
incluindo a mortalidade materna e infantil, a pobreza extrema e o analfabetismo. A esperança
média de vida é de 60 anos. A mortalidade infantil tem apresentado uma tendência
decrescente, verificando-se uma taxa de mortalidade infantil estimada em 44 mortes em cada
1000 crianças e uma taxa de mortalidade para menores de cinco anos em 194 mortes em 1000
crianças. A taxa de fecundidade no país continua elevada e é estimada em 6,2 filhos por
mulher, contudo a percentagem de nascimentos assistidos por profissionais de saúde situa-se
abaixo dos 50% (por cada 10.000 nascimentos morrem aproximadamente 45 mulheres)
(Ministério, 2017, p.3).

III – A SITUAÇÃO DA SEGURANÇA HUMANA EM ANGOLA NO PERÍODO


ENTRE 2018 A 2022.

Antes de qualquer consideração, vale referir que nesta última parte do presente
trabalho não se pretende fazer um balanço daquilo que foi o mandanto do governação liderado
por João M. G. Lourenço, porém, o que se pretende é fazer uma análise científica com base as
fontes disponíveis que permitirão auferir como o Governo angolano respondeu aos novos
paradigmas, novos medos e novas ameças, mais precisamente a questão que tem haver com a
segurança humana. Dito isto, vamos a seguir abordar sobre o conceito de segurança humana:

3.1. Segurança humana

A segurança humana nasce como uma tentativa de conceito abrangente dentro da


discussão sobre o desenvolvimento humano e da nova conjuntura criada no pós-Guerra Fria.
6
Neste cenário, novos tipos de ameaça, como falta de elementos básicos para uma vida digna,
epidemias, fluxo de refugiados, repressão violenta, dentre outros que possam ser causa de
insegurança dos indivíduos numa determinada sociedade são levados em consideração com
relação ao indivíduo como objecto de referência da segurança, na qual não somente a sua
integridade física é foco, mas também suas necessidades básicas (Rocha, 2017, p.5).

O termo “segurança humana” foi utilizado pela primeira no Relatório de


Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD), em 1994. Desde então, a segurança humana foi utilizada por Estados, organizações
não governamentais, organizações internacionais e regionais, e outras organizações da
sociedade civil.

Em suma, a segurança humana deve ter dois aspectos principais, ‘‘o primeiro,
segurança de ameaças crônicas como a fome, o desemprego, as doença e as repressões. E
segundo, quer dizer protecção de distúrbios abruptos e danosos da vida diária, seja em casa,
no emprego ou em comunidades’’. Tais ameaças podem existir em todos os níveis de renda e
desenvolvimento (Rocha, 2017, p.27).

3.2. Angola face aos novos paradigmas e novos medos

Os novos paradigmas e novos medos são inúmeros, entretanto destacamos os


seguintes: acelerado crescimento demográfico vs ambiente; crescimento económico vs
ambiente; migração e segurança; desigualdades na industrialização Norte/Sul; actividades
humana vs alterações climáticas e desastres naturais; e Desenvolvimento sustentável (Afonso,
2022, p.4).
3.2.1. Vulnerabilidade
No que diz respeito a segurança ambiental, o país tem registado, entre outros efeitos,
ciclos recorrentes de secas e inundações que têm vindo a afectar de forma diferenciada as
diferentes regiões do país, com mais incidência as regiões situadas a sul. Como os principais
sectores afectados pelas alterações climáticas, destacam-se a agricultura e segurança
alimentar, a floresta e biodiversidade, a pesca, os recursos hídricos, a saúde humana, as infra-
estruturas, as zonas costeiras e a energia (Ministério, 2017, pp.19-20). Os sectores referidos
são fundamentais para compreensão da abragência do conecito de segurança, e entende-se
logo que, apesar dos riscos advérsos riscos e ameaças, é fundamental priorizar a segurança
humana. As principais ameaças e impactes esperados das alterações climáticas são as

7
inundações, secas, erosão dos solos e o aumento do nível das águas do mar. Nos meios rurais
as populações escolhem as áreas próximas aos leitos do rio, ricas em recursos naturais, tirando
proveito da actividade piscatória e da fertilidade dos solos para a prática agrícola (Ministério,
2017, pp.19-20).

Quanto a segurança alimentar, a satisfação de necessidades básicas alimentícias das


sociedades humanas tem como principal finalidade a melhoria dos níveis de nutrição e saúde
das populações. Por isso, a segurança alimentar é hoje, cada vez mais, uma preocupação
central na definição das políticas de desenvolvimento, com grande destaque para o sector
agrícola e consumo alimentar. Em Angola,dentre várias responsabilidades do Governo
referentes a esta temática, destacam-se (Política, 2021):

Criar as condições para garantir que todos os cidadãos tenham, a todo o momento,
acesso físico e económico aos alimentos necessários, de modo a que tenham uma vida activa e
saudável; Contribuir para a melhoria da saúde e do estado nutricional, bem como a redução da
morbimortalidade da população angolana, particularmente dos grupos mais vulneráveis, isto
é, crianças, pessoas idosas e portadoras de deficiência, mulheres em estado de gestação e
lactantes; e Promover políticas de salvaguarda dos direitos dos consumidores, bem como a
coordenação e execução de medidas tendentes a sua protecção, informação e educação de
apoio às organizações de consumidores; como é o caso do INADEC tem como ponto
primordial a defesa do consumidor.

Concernete ao indíce de empregabilidade, a taxa de desemprego no País fixou-se nos


30,8% no primeiro trimestre de 2022, revelam os dados do Inquérito ao Emprego em Angola
(IEA), divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística INE. Em comparação com o trimestre
anterior, indicam os dados do IEA, houve uma redução de 2,1 pontos percentuais (pp), ao sair
de 32,9% no último trimestre de 2021 para os actuais 30,8%. Ainda no período em análise, o
número de desempregados foi de 4 995 991, que representa uma redução de 6,6% quando
comparado com o quarto trimestre de 2021. Em termos homólogos, o número de
desempregados aumentou 5,3% ao sair de 4 744 020 para 4 995 991 (Dungue, 2022, p.1).

A taxa de emprego na área urbana foi de 80,4%, enquanto na rural 51,4%. Mais da
metade 55,5% da população empregada encontra-se na agricultura, produção animal, caça,
floresta e pesca, seguido do comércio por grosso e a retalho com 17,8%. Segundo o estudo do

8
INE, a taxa de emprego em Angola no primeiro trimestre de 2022 foi de 62,5% (Dungue,
2022, p.1).

3.3. As políticas do governo destinadas a segurança humana

Tradicionalmente, a segurança nacional é uma prerrogativa exclusiva do Governo


que remonta ao Tratado de Vestefália assinado em 1648 (Pessoa, 1971, p. 268). E neste caso,
em Angola não é excepção. As suas principais linhas da nova governação que entra em cena a partir
de 2017, dentre as várias destamos o seguinte:

Promoção do Estado Social; reforço da ligação entre os poderes do Estado; melhoria


da qualidade da informação pública; impulso a iniciativa privada para a criação de negócios;
produção e distribuição de energia elétrica; governação inclusivo e participativa, promoção,
divulgação e criação de mais jornais, rádio e televisão; Controlo dos actos ilícitos no sector
financeiro e bancário; produção e distribuição de água canalizada; consolidação da
democracia multipartidária; aumento da pluralidade e liberdade de expressão; incentivo ao
crédito à economia; investimentos em infraestrutura e transportes públicos; combate a
corrupção e a impunidade promoção da justiça promoção do mérito, do profissionalismo, da
transparência e do rigor reforma dos serviços públicos (Benguela, 2020, p.13).

Todas as políticas descritas acima não foram exequíveis em consequência de uma


ameaça que surgiu de forma esporádica, a Covid-19, que trouxe várias consequencias para
todos os países, e Angola não excepção, as mesmas são:

Crescentes preocupações dos parceiros sociais, sobre a manutenção dos postos de


emprego, regularidade do pagamento dos salários e, acima de tudo, sobre a sobrevivência e a
sustentabilidade das empresas; O aumento do índice de desemprego, onde os jovens são as
principais vítimas, depois de os trabalhadores de estabelecimentos comerciais, restaurantes e
bares, entre outras empresas, terem sido dispensados; Índice de Preços no Consumidor
Nacional referente ao mês de abril de 2020, sofreu um acréscimo de 2,71 pontos percentuais
com relação a observada no mesmo período do ano anterior, esta variação homóloga situa-se
agora 20,14% INE, 2020, (Kamanha, 2020, p.8).

Algumas medidas foram tomadas para aliviar o impacto da COVID-19, dentre elas
mencionamos:

9
Elaborado um Programa de Transferências Monetárias, que vai atender
monetariamente famílias pobres, idosos, portadores de VIH e de outras doenças que impedem
pessoas de terem mobilidade e rendimentos. Decreto presidencial nº 96/20, aprova medidas
transitórias de resposta a baixa de petróleo e ao impacto da pandemia da COVID-19; Isenção
do pagamento do imposto sobre valor acrescentado e de direitos aduaneiros para mercadorias
importadas para fins humanitários e doações; Decreto Presidencial nº 98/20, aprova as
medidas imediatas de alívio dos efeitos económicos e financeiros negativos provocados pela
pandemia da COVID-19; (Kamanha, 2020, pp.8-9).

Suspensão de despesas relacionadas com o apoio a projetos de desenvolvimento que


não tenham caráter estrutural e prioritário; Suspensão de todos os processos de novas
admissões e promoções na Função Pública, com exceção dos já aprovados, designadamente
nas áreas da Saúde e Educação; Cativação de 30% das despesas de bens e serviços, desde que
não relacionadas com alimentação, limpeza, medicamentos e saneamento, devendo ainda ser
suspensas algumas despesas de capital que não tenham financiamento garantido, tendo já sido
dado o exemplo da aquisição de imóveis no país ou no estrangeiro (Kamanha, 2020, pp.8-9).

10
CONCLUSÃO

Portanto, ao Estado cabe a responsabilidade de garantir a defesa do território, a


segurança da comunidade, a segurança dos cidadãos e a segurança dos bens, bem como a
garantia da coesão social da colectividade.
A segurança pode ser abordada do ponto de vista tradicional, no qual é entendida em
termos estritamente militares e centrada nas questões de manutenção e sobrevivência do
Estado, e de ponto de vista não tradicional, o conceito de segurança é objecto de um
alargamento às questões sociais, económicas e ambientais e de um aprofundamento, em que
outros objectos referentes passam a ser considerados, tanto que a segurança emerge como um
dos primeiros problemas sociais e políticos, exigindo mudanças organizativas e alterações de
políticas públicas.
Para a manutenção da segurança alimentar, o Estado usa como mecanismos a criação
de programas de fomento da prática de agricultura familiar, nas zonas peri-urbana,
manutenção das vias rodoviárias e ferroviárias para facilitar o escoamento dos produtos em
zonas carentes e por meio de instituições providas de políticas para qualquer infracção entre
prestadores de serviços e consumidores.
Concluímos que apesar dos esforços do governo empreendidos para resolver os
problemas que afectam o desenvolviemento humano, e mais concrectamente os aspectos
relaccionados a segurança humana, com destaque a segurança ambiental, a segurança
alimentar, a questão da empregabilidade, Angola ainda tem um caminho árduo a percorrer, e
para tal, já não precisa de elaboração de novas políticas, cabe apenas implementar as que já
existem, de maneira eficaz e eficiente, através da criação de instituições e infraestruturas que
se adequarão aos objectivos que pretendem alcançar. E por último, porém, não menos
importante, aliás, o mais importante elemento a ter em conta, o Estado angolano, deve apostar
seriamente na formação de recursos humanos capazes de responder aos desafios, as ameaças e
riscos que o mundo de um modo global, e o país de maneira particular, tem enfrentado de

11
forma esporádica, por esta via, será possível se ultrapassar os dilemas enfrentados pelos
cidadãos angolanos de geração em geração.

BIBLIOGRAFIA

Afonso, Luiekákio. (2020). Introdução ao Estudo da Interacção, População e Ambiente. Aula


proferida no Curso de Mestrado em Globalização e Segurança. Academia de Ciências
Sociais e Tecnólogia, Luanda, Maio de 2022.

Alves, A. C. (2010). Introdução à Segurança. Lisboa: Guarda Nacional Republicana.

Benguela, Gabriel. (2020). A Representação Mediática do Conteúdo dos Discursos de


Tomada de Posse e Estado da Nação de João Lourenço, Presidente da República
de Angola. 64 Public Sciences & Policies | Ciências e Políticas Públicas. Lisboa,
2020.

Castro, Flávia Rodrigues de./e Costa, Frederico Carlos de Sá. A Segurança Humana e o Novo
Conceito de Soberania.

Chinaglia, Pedro Henrique e Viana, Waleska Cariola. Estado Westfaliano Versos Estado-
Nação e seus Reflexos nas Colônias da América Latina, pdf.

Dungue, Joaquina. (2022). Taxa de desemprego Reduz 2,1, no Primeiro Trimestre De 2022.


Angola. 17 Maio 2022 / 11:28 H.

Freitas, Lorena Martoni de. Razão Política Securitária: A Arte de Governar por Razões de
Segurança. Belo Horizonte 2017, pdf.

Kamanha, Pedro Nhani. (2020). O Impacto Socioeconómico da Covid-19, Em Angola


Instituto Superior Politécnico de Kwanza Sul – Ispks. Pdf

Ministério do Ambiente. (2017). Estratégia Nacional para Alterações Climáticas. 2018-


2030. República de Angola. Agosto 2017.

Oliveira, Guilherme Ziebell de Cardoso, Nilton César Fernandes Renascimento E


Securitização Da África No Século XXI. Pontificia Universidad Católica del Perú,
Lima, 22 al 24 de julio de 2015.

Política, (2020). Os desafios na Protecção Social para alcançar a Segurança Alimentar e


Nutricional 2013. Disponível em https://www.jornaldeangola.ao/ao.

12
Rocha, Raquel Maria De Almeida. (2017). Segurança Humana: Histórico, Conceito E
Utilização. Universidade De São Paulo Instituto De Relações Internacionais. São
Paulo, 2017

Silva, Mayane Bento/Nunes, Thainá Penha Baima Viana e Silva, Tienay Picanço Costa. A
evolução do Conceito de Segurança e sua Inserção nas Relações Internacionais.

13

Você também pode gostar