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Universidade do Estado do Pará - Centro de Ciências Naturais e

Tecnologia

Curso de Bacharelado em Relações Internacionais

LURYELI ANDREIA COELHO REATEGUI SANTOS

RESENHA CRÍTICA

(Theory of International Politics (1979)

BELÉM
2023
LURYELI ANDREIA COELHO REATEGUI SANTOS

RESENHA CRÍTICA

(Theory of International Politics (1979)

Resenha crítica elaborada como requisito


parcial para fins de obtenção de nota na
disciplina de Teoria Clássica das Relações
Internacionais, sob orientação da
professora Mayane Bento, do curso de
Relações Internacionais, do Centro de
Ciências Naturais e Tecnologia.

BELÉM
2023
WALTZ, Kenneth N. Theory of international politics. Waveland Press, 2010, p. 89-
142.

Em seu livro Theory of International Politics, Kenneth Waltz aborda


questões como a análise das teorias das relações internacionais e das abordagens à
matéria, a qual apresentam importância teórica, visa também construir uma teoria da
política internacional que corrija as insuficiências das atuais teorias e, por fim,
observar algumas aplicações da teoria construída.
Kenneth Neal Waltz, professor da Columbia University, nasceu em 8 de
junho de 1924, na cidade de Ann Harbor em Michigan nos EUA, e faleceu aos 88 anos
no dia 12 de maio. Waltz é um dos teóricos mais importantes para as relações
internacionais pós guerra, ele se consagrou como pensador destaque no cenário
político global ao ser um dos responsáveis pela construção do pensamento
neorrealista, uma das vertentes de maior relevância para as Relações Internacionais.
No decorrer de sua vida, Kenneth publicou dois livros: Man, the State, and War: a
Theoretical Analysis (1959) e o livro apresentado nessa resenha mencionado acima
Theory of International Politics (1979).
Seu segundo livro publicado foi de extrema importância para o estudo das
Relações Internacionais uma vez que a disciplina adquiriu uma identidade própria,
definiu-se seu objeto de estudo – a política internacional – e procurou descrever os
fundamentos políticos relativos à estruturação da ordem internacional (CASTRO,
2001, p.1).
Waltz divide seu livro em 9 capítulos voltados para a construção, aplicação
e observação de uma nova lei que possa descrever o sistema internacional e, segundo
ele, explicar como as unidades são influenciadas e constrangidas pelas pressões
desse sistema. Esse documento dará ênfase ao capitulo 4 e 5, os quais pode-se notar
com mais clareza alguns dos principais objetivos de Kenneth.
O autor, por sua vez, começa pela distinção entre teorias sistêmica e
reducionista: “[...] lidam com acontecimentos a todos os níveis, do subnacional ou
supranacional. As teorias são reducionistas ou sistêmicas, não em função do que
lidam, mas de acordo com a forma como organizam os seus materiais” (WALTZ, p.89).
Logo, uma teoria reducionista tenta explicar as resultantes internacionais
através de elementos a nível nacional. Os reducionistas veem o sistema internacional
apenas como uma resultante oriunda da soma dos resultados produzidos pelos
estados, os quais seus comportamentos são derivados de suas características
internas. Hobson sustenta essa afirmativa dizendo que poderia compreender o
comportamento externo dos estados capitalistas a partir do conhecimento de como
funcionam as economias capitalista. Contudo, Waltz, pondera seu pensamento
contrário com a seguinte frase: “A partir dos atributos não se pode prever resultantes,
se essas resultantes dependerem das situações dos atores assim como de seus
atributos” (WALTZ, p.89).
Dentro desse viés, os cientistas políticos da época dividiram-se, de acordo
com sua orientação, em tradicionalista ou modernista. Os pensadores tradicionalistas
enfatizam a distinção estrutural entre política interna e internacional, a qual se apoia
na diferença entra a política conduzida numa condição de regras estabelecidas
(interna) e uma conduzida numa situação de anarquia (internacional). Enquanto os
modernistas não enxergam essa diferença.
“Os tradicionalistas continuam a insistir no caráter anárquico das relações
internacionais, marcando uma distinção entre os domínios interno e externo,
ao passo que os modernistas não o fazem. Se ouvirmos os que dizem os
membros das duas doutrinas, o abismo entre eles é enorme. Se olharmos
para o que fazem membros das duas doutrinas, métodos a parte, o abismo
diminui e quase desaparece.” (WALTZ, 1979, p. 91)
Pois eles saem da mesma escola e dividem a mesma crença. Ambos
acreditam que as explicações das resultantes políticas internacionais podem ser
descritas pelos estudo e observação das ações e interação das nações e outros atores
internacionais. Como cientista político, Henry Kissinger, havia concordado com Hans
J. Morgenthau quando reduziu a nível nacional a preservação da paz e a manutenção
da estabilidade internacional. Kissinger apresentou os conceitos de ordem legítima, a
qual tende para a paz, e ordem revolucionária para a instabilidade e à guerra.
Entretanto, mesmo que um estado se proclame legítimo, ele não necessariamente
traria ou contribuiria para a paz, assim como um estado revolucionário poderia não
trazer caos ao sistema internacional.
Outra similaridade entre tradicionalistas e modernistas dá-se pelo fato
de ambas serem adeptas ao behaviourismo. Os dois tipos de cientistas políticos
oferecem explicações em termos unitários, enquanto, não analisam as consequências
que a suas situações podem gerar. Morgenthau defende a ideia de que se faz
necessária a intervenção nos assuntos internos de outros estados caso haja a
necessidade político-internacional.
Kenneth (1979) explica que, para levar as teorias de Morgenthau, Kissinger
e outros teóricos reducionistas adiante, precisaria acreditar que não há causas
importantes o suficiente para se intrometer entre os objetivos e ações dos estados e
os resultados que suas ações produzem. No entanto, não é possível compreender a
política mundial simplesmente observando dentro dos estados.
As continuidades e as repetições derrotam os esforços para explicas as
relações internacionais ao seguir uma fórmula familiar de dentro para fora.
Pensem nas várias causas de guerras descobertas pelos estudiosos. Formas
governamentais, sistemas econômicos, instituições sociais, ideologias
políticas, estes são apenas alguns exemplos de ondes as causas foram
encontradas” (WALTZ,1979, p.97).
Ao observar a história, precisa-se perguntar a si mesmo o que explica a
repetição da guerra mesmo quando as suas causas variam. A partir desse (e de
outros) questionamento, a conclusão do pensamento assinala expressivamente a
necessidade de uma teórica sistêmica, uma vez que a reducionista apresentou
insuficiências significantes. Waltz, indaga em seu livro “como pode uma teoria das
relações internacionais, que tem de abraçar comportamentos que são indeterminados,
ser construída?”. O autor frisa que tal pergunta não pode ser resolvida por aqueles
que apresentam comportamento reducionista. Ele ainda complementa “Uma vez que
a variedade dos atores e as variações nas suas ações não correspondem à variedade
das resultantes, sabemos que estão em jogo causas sistêmicas.”
A teoria sistêmica surge para mostrar e explicar o porquê das mudanças
ao nível das unidades produzem menos mudanças nas resultantes do que as
mudanças que esperaríamos na ausência de constrangimentos sistêmicos. Isto é,
transformações no âmbito nacional podem provocar sim impactos no sistema mundial,
porém, não tão significativas quando comparadas a transformações que os estados
sofrem pela pressão sistema internacional.
De certa forma, Kenneth explica que é possível descrever e entender essas
pressões que os estados estão sujeitos, porém, não se pode prever como irão reagir
a elas sem conhecer as disposições internas deles dentro de um sistema
internacional. Pois, por exemplo, se uma unidade volta a repetir ações dentro de um
sistema que perdura, a causa está a nível nacional. Quando isso ocorre, o autor faz
outro questionamento “com ambas as forças a nível sistêmico e unitário em jogo, como
podemos construir uma teoria de relações internacionais sem construirmos
simultaneamente uma teoria de política externa?” A resposta é simples. As teorias
sistêmicas discorrem sobre as forças às quais os estados estão sujeitos, e também,
como buscarão se destacar e se adaptar uns aos outros. Sabendo que as unidades
têm sua liberdade restringida pelo sistema, seus comportamentos e resultantes
podem ser previsíveis. Já uma teoria de política externa é uma teoria a nível nacional.
Uma teoria geral das relações internacionais, segundo Kenneth Waltz, é
baseada necessariamente nas grandes potências, contudo, sem perder de vista as
mais pequenas. Ao se atentar aos estados mais destacados no cenário internacional,
pode-se fazer uma análise quanto ao destino dos mais pequenos.
O autor expõe a ideia de que algumas das explicações dos
comportamentos e resultantes encontram-se na estrutura do sistema. Nesse livro,
Kenneth expõe dois conceitos de estrutura: primeiro, ele traz essa palavra no sentido
de “agentes/artifícios que trabalham para manter as resultantes dentro de limites
estreitos”. Quanto ao segundo significado, o neorrealista cita e usa a palavra estrutura
“como um conjunto de condições constrangedoras” (WALTZ, p. 107)
Essa estrutura, o segundo sentido, afeta o comportamento dentro do
sistema, mas de forma indireta. Esses efeitos podem ser através da socialização dos
atores ou da competição entre eles. Na socialização ambos sofrem a influencia da
situação criada pela sua interação, enquanto a competição incita os atores a aderirem
práticas socialmente mais aceitáveis e com mais êxito. Esses dois efeitos produzidos
geram uma redução na variedade de comportamentos e na de resultados.
No quinto capítulo, o autor discorre sobre a teoria sistemática, ele visa
enxergar as Relações Internacionais, independente, de aspectos socioeconômicos ou
culturais do sistema. Waltz retoma o conceito de Estrutura e como essa estrutura é
formada, uma vez que ela já apresenta, em sua composição unidades, de interação.
A fim de entende-la, o neorrealista utiliza o método de abstração, isto é, abstrair-se
dos atributos das unidades, deixando de lado questões sobre os tipos de líderes
políticos, instituições econômicas e sociais e compromissos ideológicos.
Kenneth Waltz complemente que a estrutura não é algo visível, algo que se
pode tocar, mas é possível nota-la através de seus efeitos e do principio que a ordena,
assim como também, pela disposição das partes do sistema. Como a unidades se
colocam uma em relação às outras não é uma propriedade do sistema, uma vez que
o autor diz: “A disposição das unidades é uma propriedade do sistema.” (WALTZ,
p.115).
Ao frisar em seu livro que a estrutura não é algo que pode ser vista, Kenneth
faz uso das palavras do antropólogo Meyer Fortes quando diz:
“Quando descrevemos estrutura, estamos no domínio da gramatica e da
sintaxe, não da fala. Nós discernimos estrutura da “realidade concreta” dos
eventos sociais apenas pela virtude de termos primeiro estabelecido estrutura
por abstração da realidade concreta” (FORTES, 1949, p.56).
Para defender seu ponto de vista, o autor dispõe do principio ordenador,
onde ele explica que dentro dos Estados há hierarquia – grau de autoridade – e
consequentemente, as funções são especificadas dentro dessa unidade. Mas isso não
ocorre entre as unidades dentro de um sistema internacional, pois é através das
mudanças na capacidade relativa que as define diante desse sistema (no
desempenho das funções a unidade pode ganhar ou perder capacidades).
Kenneth compara a relação do primeiro-ministro com o Parlamento e do
Presidente com o Congresso e diz que essas relações dependem das suas
capacidades relativas e varia com elas. Logo:
“Uma estrutura política interna é assim definida: primeiro, de acordo com o
princípio pela qual é ordenada; segundo, pela especificação das funções de
unidades formalmente diferenciadas; e terceiro, pela distribuição das
capacidades dessas unidades” (WALTZ, 1979, p.117).
No decorrer desse capítulo, Waltz aprofunda essa comparação, citando
exemplos da Grã-Bretanha e da América, onde ele foca na ilha britânica. Ele questiona
em seu livro desde por que motivos os primeiros-ministros vêm ganhando cada vez
mais poder? Por que, mesmo se fortalecendo, eles demoram a reagir aos
acontecimentos? E, quando reagem, muitas vezes, agem de maneiras ineficazes sem
perceberem? O neorrealista explica que as respostas não são encontradas nas
diferentes personalidades do que ocupam/ocuparam o cargo, mas sim pelo fato dos
altos constrangimentos que esses líderes políticos sofrem dentro da estrutura do
governo britânico, principalmente, em comparação, com os presidentes americanos.
Posteriormente, o professor norte-americano, expõe como as três
condições da definição – estruturas das políticas internas – se aplicam às relações
internacionais. Primeiramente, ele aborda sobre os princípios ordenadores, o qual
relata que as partes dos sistemas políticos internacionais têm relações de cooperação.
Formalmente – “teoricamente” – cada unidade é igual a outra, sendo assim nenhuma
está acima das outras e não há uma parte que comande e outra obedeça.
Waltz define o sistema internacional como anárquico, um sistema
descentralizado, logo, se as unidades vivem, sucedem ou perecem, isso depende de
sua própria capacidade: o principio de auto ajuda. Ele relata em seu livro sobre como
a estrutura é um selecionador, isto é, através de certos comportamentos e atitudes, a
estrutura pode penalizá-las ou recompensá-las. Sendo assim, pode-se dizer que
aquelas que se ajustam às praticas mais aceitas sobem mais frequentemente ao topo
e provavelmente ali se manterão.
Já no que diz respeito ao caráter das unidades, o neorrealista trata desse
assunto, explicando que os estados – as unidades dos sistemas políticos
internacionais – não são formalmente diferenciados pelas funções que
desempenham. Complementa que, enquanto existir a anarquia, os estados
continuarão semelhantes. Isto é, as unidades políticas são autônomas, consideradas
soberanas, onde cada uma, dentro do seu domínio, pode escolher como enfrentar
problemas internos e externos, além disso, se a unidade irá querer ou não recorrer à
assistência das demais. Os estados mais importantes definem a estrutura dos
sistemas das Relações Internacionais.
Por fim, a terceira condição da definição: a distribuição das capacidades,
basicamente, dá-se pela dimensão de sua competência no sistema internacional, uma
vez que, dentro dessa anarquia, a função das unidades é indiferenciada. Waltz conta
no final desse capítulo, que a estrutura muda com as mudanças na distribuição dessas
capacidades e essas mudanças geram expectativa na forma de comportamento e
interação que são produzidas pelos Estados. Pois, o poder é calculado pela
comparação das capacidades de um certo número de unidades.
Kenneth Neal Waltz, sem dúvidas, é um contribuinte que faz jus a sua fama
no que tange a vertente neorrealista dada a sua crítica a teoria reducionista e a
apresentação da teoria sistêmica. Entretanto, seu modelo sistêmico tornou-se
limitado, uma vez que o professor norte-americano afirma as causas do
comportamento dos Estados encontravam-se, exclusivamente, no nível sistêmico.
Diversos autores, posteriores a Waltz, ressaltam que não se pode separar as questões
domésticas da política externa de um Estado, pois as estruturas domésticas
introduzem maior complexidade à condução das questões internacionais.
Ademais, criticando os modelos neorrealistas e os neoliberais, surge o
construtivismo, o qual aponta um dos maiores erros desses modelos: eles ignoraram
o conteúdo e fonte dos interesses dos Estados e da fábrica social da política mundial
(CHECKEL, 1998, p.324). Isto é, Waltz limitou-se ao nível sistêmico, a vontade de
estudar estrutura separada das unidades e processos é um exemplo de como sua
teoria se apresentou insuficiente. Outrossim, quando Kenneth explica as estruturas
políticas e apresenta condições para sua definição, ele não explica – ou exemplifica –
o que seriam essas capacidades exatamente. O leitor passa a refletir quais seriam
elas, que cunho elas teriam? Militar? Mas a necessidade de se manter forte
militarmente pode significar uma ameaça a soberania de outros Estados, enfim.
Assim, seus projetos publicados abriram uma nova vertente muito importante para o
campo das Relações Internacionais e para os estudiosos posteriores a eles. Para ser
considerado uma grande contribuição no mundo contemporâneo, ele não precisa
estar cem por cento certo, basta fornecer novos materiais que façam os
acadêmicos/estudiosos abrirem seus olhos para um novo aspecto nesse campo de
estudo e foi o que, o professor norte-americano neorrealista, Kenneth Neal Waltz,
propôs.
REFERÊNCIAS
DAS GRAÇAS CORRÊA, Fernanda. A balança de poder sob a ótica de Kenneth
Waltz: uma discussão da teoria sistêmica. Revista interação, v. 11, n. 11, 2016.
NOGUEIRA, Carolina Dantas. Os atores sociais e a teoria das relações
internacionais. Proceedings of the 3rd ENABRI 2011 3 Encontro Nacional ABRI
2001, 2011.

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