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Uma preferência primária, de caráter exógeno e fixo, dos líderes é conservar o controle
político sobre um Estado soberano. Dois desafios se impõe a essa preferência primária:
(i) os desafios externos e; (ii) os desafios domésticos. Os exemplos possíveis ao
primeiro desafio podem ser tanto a dominação política quanto militar por parte de outro
Estado que mine as capacidades materiais do Estado, quanto ao segundo desafio, o
desafio pode advir da perda de eleições, se num regime democrático, ou algum golpe de
Estado, podendo ser realizando tanto em regimes hegemônicos quanto democráticos.
É importante considerar que as mudanças epistêmicas no campo das TRI foram
gradualmente sendo redimensionadas em conformidade a dinâmica das relações
internacionais (o fim da União Soviética, a ampla abertura de mercados em países em
desenvolvimento e em menor desenvolvimento relativo, a emergência de novas agendas
como a ambiental). O que nos remete a necessidade de avançar o debate para além do
Neo Realismo, incorporando a mudança sistêmica decorrida do fim da Guerra Fria em
somatória a reorientação analítica das TRI, o que incorre, derivado desse ponto de vista,
na necessidade do exercício do diálogo com outra TRI, a Interdependência.
Por que? Por dois motivos: (i) pelas maior abertura e ampliação das economias de
mercado e (ii) pela instauração de regimes democráticos representativos em amplos
cenários geopolíticos. Os dois fatores promoveram uma maior interdependência, ainda
que assimétrica, entre os atores internacionais e também incentivou a maior participação
de outros atores políticos e sociais no processo político internacional. Segundo Maria
Regina Soares de Lima (2000, p.267): “no contexto da hegemonia da economia de mercado e da
democracia representativa liberal, a perspectiva realista tende a perder o lugar predominante que
ocupara até recentemente na reflexão sobre política internacional.” Inferência incorporada ao
trabalho.
Como já indicado no artigo, o processo de fim da Guerra Fria e o incentivo derivado no
formato de um processo de globalização econômica e expansão dos regimes liberais
democráticos rompeu de certa forma com a “exclusividade” em grau de importância dos
Estados como players no sistema político e econômico internacional. Esse processo
elevou a participação de outros atores políticos, sociais e econômicos nas relações
internacionais, participação essa que configura, para uma adequada percepção e análise
das relações internacionais, na incorporação de atores outrora minimizados em grau de
importância pela abordagem realista clássica, incluindo-se ai o papel das instituições
políticas democráticas no processo decisório de política exterior.
Uma prerrogativa elementar para as agendas de investigação Neo Realista e da
Interdependência é que o sistema internacional é anárquico. Todavia, embora prefigurem
uma mesma caracterização para o sistema internacional, as agendas de investigação
divergem quanto à configuração anárquica deste sistema. Para a agenda de investigação
da Interdependência, as relações internacionais não se configuram num verdadeiro
“estado de natureza hobbesiano”, mas sim num ambiente internacional ausente de um
governo comum, cabendo às instituições internacionais o trabalho de reduzir os custos
de transação entre os atores nas relações internacionais.
A Teoria da Interdependência em suas matizes originais (e anteriores ao fim da Guerra
Fria e ao processo acelerador de globalização) abria espaço em suas premissas de
investigação das relações internacionais a fenômenos não relativos à segurança (como
premiava a abordagem realista). Como asseveram Robert Keohane e Joseph Nye (1977,
p.04) em Power and Interdependence: “as we had done in our edited volume, Transnational Relations
and World Politics, we pointed to the importance of “today’s multidimensional economic, social and
ecological interdependence.” Perspectiva bem diferenciada do Realismo Clássico.