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Coluna Nortesul, 05 de outubro

O processo de eleição em 2022: perspectivas e importância histórica

Estamos vivendo um processo eleitoral que irá se encerrar formalmente em 30 de outubro mas
cujos efeitos serão decisivos para as próximas décadas em nosso país. A eleição polarizada e a
disputa apertada como comprovam os resultados do primeiro turno entre Bolsonaro e Lula
simbolizam a fratura em nossa sociedade em torno de dois projetos políticos antagônicos e
irreconciliáveis: de um lado, a manutenção da recessão econômica, do aumento da
desigualdade social e da miséria, bem como do acirramento da violência e da irracionalidade;
de outro, a promessa de retorno a patamares mínimos de civilização, diálogo, respeito às
diferenças, crescimento econômico, redução das desigualdades sociais e aprofundamento da
democracia social.

Muitas são as razões para a polarização e não cabem aqui neste breve texto uma análise mais
profunda. Basta elencar que a condição estrutural de dependência do capitalismo brasileiro, de
natureza periférica em relação ao centro mundial trouxe mecanismos político-jurídicos que se
serviu da mídia e das redes sociais para por meio do golpe parlamentar que depôs o governo
Dilma em 16 e impediu a elegibilidade de Lula em 18 foram os fatores decisivos para jogar
parcelas significativa da sociedade contra o projeto progressista representado pelo Partido dos
Trabalhadores e da esquerda em geral. Como mais um capítulo da luta entre o imperialismo
norte-americano e suas elites do capital financeiro associadas internamente e os setores
nacionalistas e desenvolvimentistas, a saga do PT e de Lula segue os passos de Vargas, Jango e
Brizola em uma conjuntura histórica nova. Fatores estruturais, contudo, continuam os mesmos
e as lutas também. Mudam, todavia, as condições do embate entre luz e sombras no mais novo
round da política brasileira.

Encerrrou-se em 2018, com a eleição do protofascista e neoliberal de Bolsonaro, em certa


medida tutelado pelos militares liberais bem como pelos grandes bancos privados brasileiros, o
chamado presidencialismo de coalizão, expressão cunhada pelo cientista político Sérgio
Abranches, para o sistema político inaugurado a partir de 1986, no contexto da transição da
ditadura para a redemocratização do país. As razões fundamentais para isto residem na
mudança de conjuntura internacional, com o aprofundamento da crise econômica de 2008 no
centro do sistema capitalista, associada à erosão da hegemonia dos Estados Unidos e à disputa
geoeconômica que lhe opõem Rússia e China, parceiros estratégicos do Brasil desde a ascensão
do PT ao governo a partir de 2003.

Dessa forma, três questões importantes, que conectam a realidade nacional com a internacional
são os fatores condicionantes da eleição atual e estão por trás das características do atual
processo de escolha do próximo presidente da República: a atual disputa geopolítica e
econômica entre os Estados Unidos e o polo eurasiano sino-russo e a histórica dependência das
elites militares e do capital financeiro do centro hegemônico de poder, no plano externo, e a
histórica conciliação de classes legada da transição democrática brasileira, no interno. A
resolução de como um eventual governo Lula irá se reposicionar em relação às duas primeiras
questões irá depender, todavia, do resgate do pacto político da Nova República e das
negociações necessárias para que o Brasil retorne ao concerto de nações sob inserção soberana
e na qualidade de um dos mais importantes polos desenvolvidos do sistema internacional.

Não obstante, este objetivo só poderá ser alcançado a partir da definição das prioridades
políticas, econômicas e sociais internas que são indissociáveis das questões internacionais. Uma
sociedade justa, igualitária, com possibilidades reais de efetividade da democracia e de direitos
humanos com justiça social só é possível mediante um pacto político de profunda reforma
constitucional e administrativa do Estado que priorize pautas socialistas dentro do jogo político
democrático. Tais pautas envolvem que o ambiente internacional, via diplomacia política e
econômica das exportações de bens industriais traga recursos mediante a reindustrialização do
setor produtivo do país, possa recriar um mercado consumidor e, com isso, geração de emprego
e renda para a classe trabalhadora e para a classe média, tornando viável um crescimento
econômico e sustentável com inflação baixa. Para isso serão necessários acordos políticos para
se enfrentar as necessárias reformas tributária e financeira para que tanto os agentes
econômicos quanto a classe trabalhadora e a classe média possam ter ganhos substanciais, num
jogo onde todos possam ganhar, bem como rediscutir a reversão da privatização de setores
estratégicos que nenhuma nação capitalista abre mão.

Só assim a democracia poderá sair fortalecida. Só assim o Brasil voltará a crescer. Só assim
seremos uma grande potência econômica, diplomática e com capacidade de defesa no plano
militar. Só assim o povo – composto da maioria da classe trabalhadora, pobre e
afrodescendente- poderá ter direitos efetivos em uma sociedade mais justa! Só um homem
pode voltar a fazer o Brasil sorrir novamente: aquele garoto que muitas décadas atrás saiu do
interior de Pernambuco, foi o maior líder sindical e por duas vezes foi o mais importante líder
político brasileiro do século XXI: Lula da Silva.

Márcio Azevedo Guimarães

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