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Aghoranotícias, 04 de janeiro de 2023

Ano Novo, nada de novo na política brasileira....

A cada ano novo temos sempre o desejo de que tudo deve se renovar em nossas vidas a fim de
que possamos crescer como indivíduos, como seres humanos melhores, mais aptos a enfrentar
as adversidades, a fim de sobreviver em uma sociedade cada vez mais desumana e competitiva
e, com isso, garantir melhores condições de trabalho, condições financeiras, saúde, enfim, tudo
que é necessário para podermos prover a nós mesmos e a nossos familiares – que são nossos
entes queridos – de melhores condições de vida em busca da felicidade. No mundo da política,
infelizmente, as coisas não são tão simples assim e, em geral, as condições de vida que nós
almejamos à título individual, ainda que não tenhamos plena consciência disso, dependem e
sempre dependeram de condições objetivas dada pelo contexto político e econômico da
sociedade como um todo – na qual todos nós estamos inseridos. Em suma, isto é o que os
cientistas sociais denominam de condições estruturais ou sistêmicas e os historiadores de
contexto histórico.

Cada vez mais, devido ao atual estágio das estruturas políticas e econômicas no Brasil e no
mundo, a vida do indivíduo depende profundamente das condições que não estão sob seu
controle, mas de forma complexa, de determinados grupos de poder que partem de uma
dinâmica de competição e negociação em alianças em busca de poder político e econômico e
que controlam as estruturas institucionais políticas do que denominamos de Estado. Devido a
esta situação estrutural e também histórica, o mundo tido como árido e as vezes irritante da
política e da economia parecem não só nos interessar como igualmente escapar da nossa
capacidade de controle dos eventos. Afinal, quem gostaria de viver em um mundo de
corrupção? Ou de violência da criminalidade (resultante não só dos maus sentimentos psíquicos
do criminoso, mas também de condições históricas e sociais determinadas)? E quem gostaria de
viver com a alta dos alimentos e dos combustíveis – em síntese, aquilo que se chama de inflação?

Bem a lista segue e parece não ter fim....caos nas estradas mal cuidadas, infraestrutura de
iluminação, comunicação e transportes deficiente e mal gerida...por empresas privadas...e que
cobram altas tarifas!! Saúde pública sucateada e planos de saúde privados cada vez mais
inacessíveis ao cidadão com poucos recursos. Educação pública de qualidade? Esta nem se fala,
pois parece que realmente “alguém” ou “alguéns “ (nesta era de mudanças e relativizações de
nossa língua, tomo esta liberdade) tem interesse que as coisas dêem errado e por isso mesmo,
continuem iguais como antes, para que a cada ano novo, a cada novo governo, quase nada mude
e tudo continue igual nesse nosso Brasil neoliberal em que tudo deve permanecer igual para
que poucos continuem se beneficiando política e economicamente enquanto o pobre continua
trabalhando muito e ganhando pouco, outros sequer tenham chance de emprego num mar de
desemprego, milhares passem fome e não tenham acesso ao direito constitucional à saúde e
educação de qualidade, nem tampouco direito social ao emprego e à direitos trabalhistas de
verdade (pois “tudo isso que está ai” não merece sequer ser chamado de direitos
trabalhistas....).

Realmente parece que tudo que está ai precisa mais do que nunca de mudanças profundas,
muita coisa a ser reinventada, depois de tanta destruição do patrimônio público desde os anos
Collor até os dias atuais. Se não houver mudanças, nada mudará em 2023! E por que nada
mudaria? Simples, por que o sistema de coalizões entre amplos setores da burguesia nacional e
que hoje encontram-se dependentes do comércio e finanças mundiais precisam que o sistema
de financiamento de campanhas por vias legais assim como a velha prática da corrupção de
agentes políticos e da burocracia estatal continue mantendo seus privilégios que dizem respeito
à manutenção da acumulação do capital financeiro, comercial voltado para o mercado externo
e agroexportador e que se beneficiam das privatizações de patrimônio público estratégico como
as antigas siderúrgicas estatais como a Vale, privatizada nos anos FHC e atualmente a Eletrobrás,
na era Bolsonaro. Provavelmente, ainda que estancada, a situação complexa e contraditória da
Petrobrás não mais reverta em benefícios prometidos dos recursos do pré-sal para políticas
sociais e de desenvolvimento, como um dia foi sonhado pelos governos petistas.

Da mesma forma que as necessárias reformas estruturais. Nunca antes nesse país as reformas
estruturais foram tão importantes, a fim de reverter toda a destruição do patrimônio realizada
pelos governos Temer e Bolsonaro. Dificilmente, contudo, irá se reverter a legislação trabalhista
ao que era antes de 2016 e não se irá tocar, ao que tudo indica pela necessidade de negociação
dentro das frações de elites políticas e econômicas por trás do governo de coalizão de Lula irão
chegar a um acordo que modifique a estrutura tributária do país e acabe com a Lei de
Responsabilidade Social que limita o aporte de recursos e investimentos públicos na demanda
e na oferta na economia brasileira. Da mesma forma, a atual Proposta de Emenda Constitucional
da transição aponta para apenas limitações pontuais na Lei do teto de gastos e não sua definitiva
derrubada.

Cautela e negociação sempre são importantes, ainda mais no cenário político. Todavia, cautela
e negociação em demasia e com setores que promoveram o golpe de 16 e a prisão de Lula é
sinalização de fraqueza política antes da posse, como demonstrou a concessão exagerada para
com os militares tanto na forma da nomeação do futuro ministro da Defesa como dos futuros
comandantes das Forças Armadas.

Enfim....2023, ano novo, muita coisa nem tão nova assim....

Márcio Azevedo Guimarães

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