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Aghoranotícias, coluna de 22 de novembro

A política econômica do novo governo, o sistema político e as relações com a projeção


internacional do país

A política econômica do futuro governo de coalizão comandado pelo Partido dos Trabalhadores
será a questão central sob a qual todas as demais irão orbitar, incluindo aí questão social, tão
cara à Lula. E isto pelo simples fato de que sem os recursos materiais nada pode ser feito no
mundo em que vivemos.

Mas o que vem a ser a política econômica de um governo? Antes de mais nada, ela deveria ser
a política econômica de um Estado, ou seja, representar a gestão dos recursos financeiros
disponíveis para atender às demandas da sociedade e da capacidade do Estado (conjunto de
instituições públicas) de atender aquelas demandas, independentemente de ideologias e de
governos. Todavia, não é assim que o mundo funciona. Ambições pessoais e de grupos
geralmente acabam por distorcer tudo em nome de interesses egoístas, privados, criando,
assim, corrupção e prejuízos graves à sobrevivência da sociedade e comprometendo a eficácia
de um Estado democrático, que atenda às necessidades da maioria da sociedade de um país.

A política econômica tem a ver com a gestão pública dos recursos escassos que são extraídos da
sociedade mediante impostos e são destinados para a redistribuição para objetivos políticos de
longo, médio ou curto prazos por meio da transformação da natureza na produção de bens
necessários à vida humana e a produção de bens industriais capazes de gerar meios de
sobrevivência de certo tipo de sociedade. Isto mesmo! A economia de um país deve atender à
objetivos políticos, deve ser um meio de gerir a riqueza de uma sociedade para determinado fim
que esperemos que esteja amparado pelo Direito e pelo sistema político democrático, qual seja,
a geração de riqueza equilibrada entre as distintas classes e grupos sociais.

A economia também é a forma de gestão das relações sociais de produção, que no sistema
capitalista estrutura a forma de geração de riqueza a partir da relação entre capital e trabalho,
tendo o Estado por mediador (leis trabalhistas e previdenciárias). Nesse sentido, a produção de
bens para gerar riqueza deveria atender a toda a sociedade, mediante controle dos fenômenos
ligados à economia de uma nação: inflação, lei da oferta e da procura de bens, alimentos, mão-
de-obra, capitais a serem investidos na produção.

Todavia, no atual estágio do sistema capitalista brasileiro e mundial, no contexto de uma


economia internacional com a produção fragmentada em cadeias interdependentes de
suprimento e produção descentralizada por diversos países, dentro da lógica da
transnacionalização do capital produtivo e financeiro das multinacionais dos países centrais do
sistema capitalista (isto que é o que se chama de globalização), as coisas ficaram muito mais
complicadas para nações da periferia do sistema que buscam uma melhor inserção internacional
combinadas com desenvolvimento econômico e social.

Dessa forma, falar na economia brasileira significa falar no contexto em que se enquadra na
economia mundial, que não deveria ser apenas tema de interesse de especialistas, mas um
direito de cada cidadão de saber como são destinados e geridos os recursos fruto do seu
trabalho e dos impostos recolhidos e que deveriam redundar em melhor oferta de serviços
públicos (educação, saúde, segurança, infraestrutura, comunicações) e geração de oferta de
empregos, sendo este último a fonte maior da inclusão social, de desenvolvimento e de
efetividade da democracia. Falar em economia é, em última análise, falar do tipo de Estado e,
logo, do sistema político que se deseja para que uma sociedade possa encontrar na democracia
sua razão de ser.

Mas falar em economia também é, de forma decisiva, no mundo globalizado de hoje,


caracterizado pela interdependência entre as economias desenvolvidas e em desenvolvimento,
do centro e da periferia, é encarar o fato de que uma política econômica justa e que crie
oportunidades de desenvolvimento para toda a sociedade não pode estar dissociada de sua
posição no sistema de relações econômicas internacionais.

Assim, num movimento paralelo e concomitante, o novo governo precisa urgentemente se


despir do discurso de ser apenas um governo de coalizão entre forças políticas opostas e
contraditórias e com negociação e protagonismo do seu principal líder – ungido nas urnas pela
sua capacidade pessoal de comunicação e carisma junto às massas trabalhadoras e populares
mais do que por qualquer outro fator de natureza política conjuntural – a fim de poder promover
uma política econômica desenvolvimentista e nacionalista e promover uma inserção
internacional de sua economia de forma soberana, sem prender-se a alianças rígidas, mas
favorecendo as parcerias estratégicas e comerciais que melhor atendam às necessidades da
sociedade, do Estado e da burguesia que gera riqueza e emprego no país.

Para tanto, são necessárias reformas constitucionais via emendas para reestatizar setores
estratégicos e reversão da deletéria reforma trabalhista dos governos neoliberais. Necessário
ainda uma profunda reforma tributária que desonere o capital produtivo, a classe média e a
classe trabalhadora. Para isso, a mobilização de sindicatos e movimentos sociais serão
fundamentais e a única forma de sobrevivência de um governo que tenha como característica o
nacional-desenvolvimentismo.

Márcio A. Guimarães

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