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Coluna Nortesul – 17 de agosto

Cultura e Educação: vamos falar?

Cultura e educação são duas questões fortemente entrelaçadas e que estão na base da
consolidação da cidadania, do exercício de direitos sociais e do desenvolvimento da sociedade
brasileira. Em um país pobre e com poucos recursos, muito pouco é destinado a estas duas áreas
fundamentais para o crescimento do indivíduo e de todos os grupos sociais, sempre com a
desculpa de que existe uma crise econômica internacional e que impacta profundamente nos
cofres públicos, voltados ao combate à inflação e ao controle dos gastos públicos, erigidos como
objetivo central dos entes da federação: municípios, estados e governo federal.

Para que se tornem uma realidade e cheguem ao cidadão comum- eu e você – a cultura e a
educação necessitam de políticas públicas. Não apenas formalmente estabelecidas por
legislação e por criação de órgãos dentro de secretarias e ministérios, mas de recursos
financeiros que as viabilizem. Dessa forma, estão umbilicalmente ligadas à política econômica
de um país. E o discurso oficial de justificar poucos recursos dos orçamentos para a educação e
para a cultura em razão das necessidades de aperto financeiro, com o atraso nos reajustes e os
baixos salários pagos à comunidade de educadores e acadêmicos, da escola fundamental às
universidades, não se sustenta caso sejam revistas as premissas das deletérias políticas
neoliberais em curso há décadas nesse país. Assim, cultura e educação também tem íntima
relação com opções político-ideológicas.

Indissociáveis de políticas de desenvolvimento sustentado, calcadas na industrialização e busca


de domínio de novas tecnologias, a fim de garantir a inserção de mercado de trabalho com
inclusão social e ruptura da condição periférica em relação aos centros do poder econômico
global, as políticas de educação e cultura somente poderão ser efetivas se forem valorizadas em
paralelo com as políticas econômicas desenvolvimentistas e de inclusão da imensa parcela
empobrecida das classes sociais menos favorecidas do nosso povo.

Se nossas elites políticas, pressionadas pelas elites intelectuais associadas à pressão popular, se
conscientizarem da necessidade política e econômica de que cultura e educação redundam em
mercado de consumo robusto e incluso socialmente, o que pressupões políticas de fomento ao
trabalho e renda com mecanismos de redução das disparidades sócio-econômicas, nossos
governantes saberão colher os frutos de recursos humanos bem preparados para enfrentar o
mercado de trabalho, para tornarem-se quadros de alta qualidade e competitividade seja em
empresas privadas nacionais, sejam em estatais ou em áreas estratégicas do serviço público seja
em novos grupos empreendedores. Tudo, enfim, depende da educação de qualidade e com
recursos do poder público.

A área cultural propriamente dita – dimensão fundamental de aumento da autoestima do


indivíduo e da sociedade e onde se pode cultivar um verdadeiro sentimento de orgulho nacional,
valorizando a riqueza e diversidade cultural brasileira, também não pode prescindir de apoio e
investimento financeiro e está umbilicalmente ligada à valorização da educação não apenas para
o necessário preparo para o mercado de trabalho mas para a formação de cidadãos com cultura
cívica e democrática genuína, dentro dos grandes ideais de Paulo Freire, Florestan Fernandes e
Darcy Ribeiro, homens que pensaram a grandeza de nossa nação a partir da educação, cultura
e democratização do acesso de todos ao direito constitucional e social à cultura e à educação de
qualidade.
Para tanto, todavia, necessário enfrentar reformas duras mas inadiáveis nos campos econômico,
financeiro e tributário, onde a redistribuição de riqueza se faz necessária, em nome da justiça
democrática da repartição dos recursos do Estado e da necessidade de segurança e estabilidade
social se quisermos uma sociedade mais democrática, justa e pacífica.

Márcio A. Guimarães

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