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MILZA, Pierre. Política interna e política externa. In RÉMOND, René. Por uma história política.

2ª Ed. Rio de Janeiro: Editora da FGV,2003

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- mostra que partiu dos internacionalistas, a partir das referência de Renouvin e Duroselle, a
iniciativa de “considerar a política interna dos Estados como uma das princípais chaves de
explicação dos jogos internacionais”.
- Renouvin fez pequenas incursões sobre o tema – vide toda a segunda parte do livro
introdução às relações internacionais
- Duroselle dedicou-lhe parte de sua obra – olhar a seção 3 do cap 2 de “todo império
perecerá”
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Objetivo: “examinar algumas das questões que se colocam para o historiador do político no
que concerne à política externa e suas relações com os assuntos internos”.
1.o que singulariza a política externa de outras esferas do político? Mostra que a resposta
variou bastante, mas que na atualidade esta barreira encontra-se derrubada. A resistência, no
entanto, foi grande.
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Jaques Vernant: “reconhecendo ao mesmo tempo que havia interações entre as duas esferas
do político, ele as fechava numa definição rígida, considerando que elas pertenciam a
categorias fundamentalmente distintas e vinculando-se nesse ponto à filosofia aroniana”. Para
o autor, citado por Milza “o caráter obrigatório das normas governam a existencia coletiva, a
diversidade dessas normas, criam a oposição entre o compatriota e o estrangeiro”.
- “muitos teóricos e práticos das relações internacionais tendem hoje a recusar essa dicotomia.
Ora consideram que não se pode aplicar ao tempo presente as mesmas categorias que se
aplica ao passado; que as coisas mudaram de maneira radical com a crescente complicação
dos aparelhos de Estado, a multiplicação das engrenagens da economia, a proliferação dos
atores transnacionais, etc”.
369:
- as ações externas são vistas como continuidade das ações internas. Como se fossem “uma
tradução externa das políticas internas”. O autor diz que “isto é ir longe demais”.
- Durosselle adverte contra os perigos que resulta da pura e simples confusão das duas esferas.
A política interna se faz por ela mesma. “ em compensação, ‘ não há nenhum ato de política
externa que nãi tenha um aspecto de política interna”.
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- “em outras palavras: não há diferença de natureza, tampouco separação estanque entre o
interior e o exterior, mas interações evidentes entre um e outro, com, entretanto, uma
primazia reconhecida do primeiro sobre o segundo”.

2.o interno prevalece sobre o externo: “como o interno prevalece, pelo menos
quantitativamente sobre o externo, é em torno dele e da influência que exerce sobre as
orientações da política externa que se articula o maior número de questões”.
a) questões do tempo longo: demografia, estruturas econômicas e sociais, percepções de si e
dos outros, ideologias, sistema de valores reivindicados pelas elites. Esta evocação não é
exaustiva.
371
- a questão da identidade: “em primeiro lugar nos vem ao espírito o problema da identidade da
nação, que constitui claramente um dos fundamentos da política externa na época
contemporânea”.
- “Para um Estado, garantir sua defesa contra os eventuais avanço dos outros atores do
sistema internacional, ou evitar ser pura e simplesmente riscado do mapa, é afirmar sua
identidade e vontade de sobreviver, as quais determinaram diretamente sua política militar e
as escolhas de sua estratégia global”.
373
- o autor remete ao exemplo da guerra do vietña e o questionamento identitário daí
decorrente na sociedade norte-americana para mostrar que “crises de valores, política interna
e política externa estão estreitamente misturadas”.
-modelos externos: mostra que abusca de um modelo externo a seguir pelo país também
influencia as disputas políticas internas de um país. Assim, por exemplo, no caso do Brasil, o
modelo de intervenção da Inglaterra durante a década de 1840 no pensamento da câmara e
do conselho de Estado não devia ser estudado. A partir de 1844, no entanto, a força da
intervenção começa a ganhar peso.
374-377
- cita alguns exemplos da Itália (durante a adoção do modelo totalitário do fascismo) e do
socialismo russo.
378
- relação entre ideologia, política interna e política externa: reconhece a complexidade e por
isso afirma que abordará alguns de seus aspectos essenciais, sem pretender esgotar a questão.
- mostra que nem sempre a ideologia seguida pelo país (especialmente do caso dos governos
autoritários) é a praticada no mundo exterior;
379
Diz o autor: “a ideologia recobre classicamente interesses setoriais e é utilizada pelos grupos
dirigentes com a finalidade única de perpetuar seu poder e assegurar sua própria reprodução:
em outras palavras, de explorar com finalidades internas, numa perspectiva de conservação do
sistema, os estímulos e as tensões do mundo exterior”.
- “embora funcionando de maneira mais sutil, as coisas não são fundamentalmente diferentes
nos regimes pluralistas, no sentido de que também aí existe uma ideologia dominante que tem
suas implicações externas e que os detentores no poder são muitas vezes levados a
transgredir”.
- as opções de política externa podem “ser utilizadas pelos grupos dirigentes para cultivar um
mínimo de consenso na opinião pública, preservar a ordem social e defender o regime contra
as investidas de seus adversários”.
380
- “a busca do consenso pela política externa, visando a integrar as massas e a transcender as
ideologias antagônicas e as lutas partidárias, pode inclinar os estadistas e os grupos dirigentes
a propor ao país ‘um grande projeto’ mobilizador cujo objetivo principal é construir a unidade
da nação ou preservar a nação, diante do jogo dissolvente das forças centrífugas”.
381
b)no curto prazo, a influência da ‘política interna’ sobre as escolhas internacionais feitas por
uma equipe dirigente pode ser percebida em diferentes níveis
- fala das grandes famílias políticas “que concorrem para a elaboração de escolhas decididas
pelo governo vigente, seja por referência às ideias da família dominante, por compromisso
entre as preferências dos diferentes grupos associados ao poder ou por reação às opções
internas e externas de um adversário comum”.
382
- dos grupos de pressão parlamentares: “que só coincidem parcial e episodicamente com as
clivagens ideológicas e partidárias”.
385-386
-do ambiente: Duroselle coloca a ‘visão da realidade interna’ no centro da análise que dedica
‘à ação das forças profundas sobre o estadista”. “A imagem que os responsáveis pela condução
da política externa fazem da realidade interna tem constituído nos últimos anos um dos
pontos forte do exame dos processos de tomada de decisão”.
387
3.como as injunções externas determinam a conduta e as inflexões da política interna
- forças profundas como a geopolítica: “’a política de um Estado’, dizia Napoleão, ‘esta na sua
geografia’. Com isso ele queria dizer que os ‘dados’ da geografia determinavam diretamente a
ação diplomática dos atores internacionais e que, das escolhas fundamentais que eram assim
impostas a estes últimos, decorriam diversos imperativos, de ordem interna: estabilidade
institucional, manutenção da ordem social, afirmação da coesão nacional oposta ao jogo de
eventuais forças centrífugas, etc.
389
-“continua a ser verdade, contudo, que o estado do sistema intencional pode modificar, e às
vezes de maneira duradoura,as opções de política interna.”
392
- acontecimentos e decisões de ordem internacional: “o peso do ambiente internacional
inclina os dirigentes a modificar a sua política interna, em geral no sentido de uma revisão com
redução de seus programas de reformas”.

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