Você está na página 1de 9

Teoria das Relações Internacionais

Nogueira e Messari - Funcionalismo

"o liberalismo era acusado de basear suas análises em conceitos mais


preocupados com a reorganização do sistema internacional de acordo com certos
valores e postulados morais (por exemplo, a paz e a democracia) do que com uma
compreensão objetiva dos interesses."

" O desafio que os pensadores do pós-guerra lançavam era o de produzir uma


teoria sintonizada com a realidade e, portanto, capaz de prever com alguma
precisão o rumo dos acontecimentos e fornecer, assim, subsídios à ação do
Estado. Para tal, era necessário dar à teoria de Relações Internacionais uma base
científica."

"O funcionalismo representa a tentativa liberal de fundamentar seus modelos


teóricos em um método baseado na observação científica da realidade."

As ideias de cooperação e paz de acordo com um Direito internacional e a ideia


de que as relações econômicas entre nações iriam afastar o perigo da guerra foram
desacreditadas após a 2 guerra.

"A mudança se deu por meio da adoção de uma abordagem baseada na


observação empírica da realidade como caminho para identificar tendências e
processos que comprovassem as hipóteses liberais. Tratava-se de fazer como os
realistas, “ver a realidade como ela é”, mas, diferente deles, mostrar os elementos
que reforçam a possibilidade de cooperação (e não o conflito)"
"Ao privilegiar a função como parâmetro para a criação de organizações, os
funcionalistas pretendiam desvinculá-las de projetos políticos mais ambiciosos e
restringi-las ao cumprimento de tarefas técnicas."

Instituições - "aumento progressivo da confiança e da colaboração entre


funcionários atuando em organizações e representantes dos estados nacionais"
"O lema dos funcionalistas era, justamente, peace by pieces (ou “a paz por
partes”), em referência à sua convicção de que a paz tão ansiada pelos
liberais...seria atingida por meio da formação de redes de organismos
internacionais que, cada vez mais, assumiriam funções que os governos nacionais
não poderiam desempenhar sozinhos. "

David Mitrany - "Sua confiança quanto ao progresso das relações


internacionais se baseia no pressuposto utilitarista de que os indivíduos buscam
sempre maximizar benefícios materiais em busca da felicidade."
"Dessa forma, podem-se identificar, de acordo com métodos científicos,
comportamentos racionais no âmbito da política internacional como aqueles que
privilegiam estratégias que aumentam o bem-estar a um custo menor...Bastava
que organizações bem estruturadas criassem condições para a generalização do
aprendizado acerca das vantagens de soluções técnicas nas diferentes áreas da
vida social para que um círculo virtuoso de crescimento da cooperação e
multiplicação de organizações funcionais fosse criado." - spill-over effect (efeito
transbordamento) -- O aprendizado com experiências bem-sucedidas faria com
que as soluções organizacionais transbordassem para diferentes setores da vida
social. - não é uma lógica política é uma lógica da eficiência funcional.

"...não dependia de decisões tomadas em algum centro de poder, mas, antes,


das trocas de experiências que circulam na base da rede transnacional de
funcionários de organizações intergovernamentais e não-governamentais
envolvidas na formulação e implementação das políticas setoriais. "

separação da política (interesses nacionais) da técnica como um caminho para


institucionalização das RI
"trata-se de uma concepção que afirma que o progresso da técnica
produz um resultado político desejável: a cooperação e a paz."

"As críticas ao funcionalismo se dirigiram tanto ao seu otimismo progressista


quanto à sua visão um tanto ingênua da relação entre política e técnica. "

Ernest Haas- revisão do funcionalismo


"O neofuncionalismo é, talvez, sua contribuição mais importante para a teoria
das relações internacionais, aplicada ao fenômeno da integração regional. Para
ele, a integração continua sendo um processo de transferência de competências
dos Estados para instituições supranacionais, mas não se pode confiar que a
racionalidade técnica garanta sua continuidade. É preciso compreender como
grupos de interesse (partidos, burocratas governamentais etc.) dentro dos Estados
trabalham no sentido de pressionar e convencer as elites nacionais a transferirem
parcelas de soberania para a esfera transnacional. Da mesma forma, torna-se
necessário analisar o papel das próprias organizações internacionais no trabalho
de aprendizagem e convencimento dos tomadores de decisão no sentido de
ampliarem a integração."

Spill-over-- menos fragmentada e mais dependente de centros decisórios,


incluindo os Estados. Quando os Estados encontram obstáculos na identificação
de interesses comuns as instancias supranacionais tem um papel central para
negociar acordos.
modelo funcionalista: valores
• para os Estados e elites burocráticas se empenharem na ampliação de
instituições internacionais eficazes é preciso que estejam convencidas tanto
dos benefícios materiais resultantes da integração quanto de sua
importância no contexto de uma visão de mundo que acredita ser a
cooperação na interdependência a melhor forma de organizar as relações
internacionais pacificamente.

interdependência:
ao longo dos anos 70
Quando a temática da interdependência se torna objeto privilegiado de
pesquisas originais e rigorosas por alguns autores que assumirão um lugar
central nas Relações Internacionais.

• Questões tradicionais de segurança, que dominaram as atenções dos


analistas internacionais durante a Guerra Fria até então, perderiam
importância — em termos relativos, claro — diante de outros temas
emergentes, em particular os de natureza econômica, como
desenvolvimento e a interdependência. As crises do petróleo mostraram,
de maneira dramática, como a organização dos países produtores em um
cartel, a Opep, podia colocar os preços do produto em um patamar fora do
controle dos grandes consumidores desenvolvidos.
• Por outro lado, a internacionalização do sistema financeiro, aliada ao custo
do esforço de guerra no Vietnã, tomou impossível aos Estados Unidos
manter a paridade dólar/ouro, levando à desvalorização da moeda
americana e evidenciando uma fragilidade inédita da maior economia do
mundo. Os países do Terceiro Mundo organizavam-se nos fóruns das
Nações Unidas para reivindicar uma Nova Ordem Econômica
Internacional, fortalecidos, ideológica e numericamente, pelo processo de
descolonização.
No séc. XX liberais como Norman Angell, acreditavam que o grau de
interdependência entre as economias europeias tornaria uma guerra quase
impossível.
Autores como Mitrany e Haas também depositavam sua confiança na
promessa das organizações internacionais

1970: Robert Keohane e Joseph Nye

“...nos quais defendem a tese de que os processos transnacionais estavam


mudando o caráter do sistema internacional. As economias nacionais estavam
mais interligadas pelo avanço nas comunicações, pela intensificação de
transações financeiras, pelo crescimento no volume do comércio, pela atuação de
empresas multinacionais em diferentes mercados simultaneamente, pela
influência recíproca de movimentos culturais e ideologias etc. Isso significava
que os acontecimentos que ocorriam em um país tinham efeitos concretos sobre
outros países.”
“Keohane e Nye acreditavam que não era mais possível estudar as relações
internacionais olhando apenas para o comportamento dos Estados; era
imprescindível incorporar os novos atores nos modelos de análise.”
• Interdependência também pode ser uma fonte de conflito e recurso de
poder.
• Tentativa de conciliar a política liberal com o realismo — a
interdependência completava o realismo

Definição de interdependência:
“Na política mundial, a interdependência refere-se a situações
caracterizadas por efeitos recíprocos entre países ou entre atores em diferentes
países.” (Keohane e Nye)
Questões:
• em que medida é benéfica?
• como avaliar a interdependência quando a diferença de poder entre
estados?
• como influenciar decisões que ocorrem em outros países? Ou seja, como
administrar os efeitos da interdependência
Ex.: crise do petróleo — sempre geram custos para envolvidos. Os estados
sempre tentam ter controle sobre fatores que condicionam seu desempenho
econômico, encaram de forma negativa incertezas geradas pela dependência
externa.
O grau de interação e a complexidade da economia aprofundam a
interdependência, os estados então buscam mecanismos para lidar com os efeitos
negativos.

Dois tipos de efeitos produzidos pela interdependência:

Sensibilidade: É o indicador do impacto, medido em termos de custos. Quanto


maior a interdependência, maior a sensibilidade.
Vulnerabilidade: Mede o custo das alternativas disponíveis para fazer frente
diante do impacto externo. Quanto mais alta a vulnerabilidade, mais alto o custo
das iniciativas para fazer frente ao efeito gerado pela interdependência
Ex.: O exemplo da crise política na Bolívia em maio de 2005 é bastante
ilustrativo: a sensibilidade do Brasil aos acontecimentos naquele país é alta
porque importamos de lá 90% do gás natural consumido aqui. Da mesma forma,
a vulnerabilidade brasileira a um aumento de preços do gás boliviano (ou à
interrupção do fornecimento) é alta porque é difícil encontrar fontes alternativas,
dentro ou fora do país, no curto prazo, ou seja, o custo de substituição do gás
boliviano é alto.
Assimetrias na interdependência entre países

“No caso já mencionado do petróleo, o problema fica bastante claro: os países


da Opep eram muito mais fracos do que os Estados Unidos e seus aliados
europeus, mas ainda assim impuseram sua vontade, quadruplicando seus
preços...A superioridade das potências nas áreas militar e econômica não pôde
ser empregada para determinar o resultado.”

Keohane e Nye definiram essa nova configuração da política mundial como


Interdependência Complexa.
Três características:
Existência de Múltiplos Canais de comunicação e negociação.
• Contatos informais entre diferentes agencias e órgãos dos governos
• Vários atores: diplomatas promovendo relações externas, burocratas de
diferentes áreas do governo, empresas e ongs.
• Organizações internacionais: arena de negociação e mecanismo de
estimulo a cooperação.
Agenda Múltipla.
• Diversidade de questões na agenda dos Estados
• Ausência de hierarquia entre os temas da agenda internacional.
tradicionalmente- alta política (segurança, armamentos, alianças etc) baixa
política (economia)
“Na interdependência complexa, não se verifica mais tal precedência e os
temas econômicos são, na maior parte do tempo, decididos em seus próprios
termos, sem considerações de natureza estratégica”
• A fronteira entre o doméstico e o internacional é difusa. Os diferentes
atores podem estar atuando simultaneamente dentro e fora dos países,
gerando processos transnacionais difíceis de classificar de acordo com a
divisão interno/externo.

Utilidade decrescente do uso da força.


• A interdependência complexa implica um envolvimento recíproco — o uso
da força militar é virtualmente descartado para resolver divergências.
• Uma superioridade militar dificilmente influenciará o resultado de uma
disputa econômica
• O poder militar não pode ser empregado para definir o resultado de
negociações sobre, por exemplo, o fornecimento de recursos naturais ou a
redução de tarifas aduaneiras. Nesse sentido, a definição de poder torna-se
muito mais específica de acordo com a questão em jogo.

“Ao propor o modelo da interdependência complexa, Keohane e Nye estão, na


verdade, afirmando que o realismo estaria ultrapassado por não conseguir
explicar, adequadamente, as mudanças na política mundial.”

“Esses autores mostraram que a interdependência assimétrica é um recurso de


poder importante, bem como uma fonte de preocupação — em função da
vulnerabilidade — para os Estados. Na verdade, a abordagem da
interdependência complexa trouxe de volta ao centro dos debates o papel das
organizações internacionais, um tema amplamente desacreditado na disciplina
depois da Segunda Guerra Mundial.”

Inovações em relação as teorias liberais clássicas:

• Os teóricos da interdependência propunham encarar as organizações como


resultado de escolhas feitas pelos Estados. A função das organizações não
seria a de suprir a redução da presença do Estado no exercício de um
número cada vez maior de tarefas, como afirmavam os teóricos
funcionalistas, mas, antes, resolver problemas que os formuladores de
políticas reconhecem depender da cooperação de outros Estados.
• Para Keohane e Nye, as organizações internacionais serviriam para reduzir
os custos da interdependência e criar condições favoráveis à cooperação,
vista como o meio mais eficaz para lidar com os conflitos gerados pelos
novos padrões das relações internacionais.

“O que a abordagem da interdependência buscava realizar era demonstrar


como a cooperação internacional podia ser explicada com base em uma análise
que considerava as condições concretas da política mundial contemporânea,
inclusive os problemas decorrentes das assimetrias de poder, sem precisar, como
outros liberais antes deles, tomar como ponto de partida o desejo imperativo de
alcançar a paz e a prosperidade.”

Você também pode gostar