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UNIDADE CURRICULAR: Política Internacional

CÓDIGO: 41044_2019_02

DOCENTE RESPONSÁVEL: Dr. Hugo Babo

NOME: António Fernando da Silva Tavares

N.º DE ESTUDANTE: 1700029

CURSO: Licenciatura em Línguas Aplicadas

DATA DE ENTREGA: 17 de novembro de 2019

Trabalho elaborado segundo o acordo ortográfico de 1990: Sim


1 – Atendendo à matéria lecionada até agora, comente o seguinte excerto do Manual:

“A inerente evolução transformacional acelerada a que chamamos globalização, tem


produzido, entre outras consequências, o agravamento da erosão e da desvalorização dos
elementos constitutivos do estado”.

As Nações europeias surgem pela queda do feudalismo, a fragmentação dos Império Romano
e a aglutinação das Cidades-Estados. Os elementos basilares dos estados soberanos, originalmente
regidos pelos monarcas, mais tarde sufragados democraticamente, sob controlo parlamentar,
assumem-se no poder legislativo e tributário. Definem a ordem social, acautelam as leis e os meios
para a sua defesa. O Direito Internacional e a Carta da ONU reconhecem-lhes a independência e a
igualdade. A transição dos mercados locais para mercados globais (inicialmente através dos impérios
coloniais) impeliu a projeção internacional para relações de dependência. Pretendemos, assim,
demonstrar que os mercados globais, pela especulação financeira e o poder das multinacionais, são
condicionantes e cerceadores dos atos de governação, limitam as opções de desenvolvimento e
obliteram a cidadania democrática interna.

O fim dos impérios coloniais e a queda do muro de Berlim, retiram a dimensão global aos
Estados-Nação europeus ocidentais. A inevitável fragmentação da União Soviética suporia o
ressurgir do espírito-nação identitário de afirmação nacionalista, suportando o reforço do Estado e
das suas instituições internas. A integração num espaço democrático, beneficiando de um mercado
amplo de livre circulação de bens e pessoas, induziu a adesão da quase totalidade dos estados da
Europa de Leste à atual União Europeia (UE). Este alinhamento admite a subalternização do Estado
ao princípio subsidiário de ação e competências nos assuntos e interesses que não sejam regidos
pela UE. Consideramos não estarem, neste âmbito, afetadas ou sequer diminuídas quer a identidade
nacional quer a representatividade dos cidadãos. O fim da “velha ordem” (Moreira, 1993) é antes o
terminar de um mundo de fronteiras, em que o capital histórico das nações já não é valorizado.

A confluência temporal neoliberal Reagan-Thatcher assente na política minimalista do papel


do Estado na economia, nos cortes da ação social, assim como a teoria do mercado livre,
favoreceram a transferência de poder e de influência para as multinacionais e erigiram o poder
financeiro dos bancos transnacionais. Não estão em causa os conceitos de povo-nação-território,
mas antes a desvalorização da soberania nacional nas vertentes das decisões políticas na definição
dos destinos internos. O território é o espaço em que se exerce livremente a cidadania, pela escolha
e a participação na definição das políticas internas dos países.

(…) “A Nação, (…), apresenta-se (…) como um corpo político vivo, real,
atuante, que detém a soberania e a exerce através de seus representantes."
(BONAVIDES, 1999, p. 132)

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Com a Globalização, os poderes do Estado não desaparecem mas esbatem-se as fronteiras
que as entidades económico-políticas supranacionais galgam. Ao primado do controlo da política dos
Estados por outros mais fortes, impuseram-se as multinacionais e a banca internacional que impõem
localmente uma política induzida nos diversos setores das nações. O forte impacto presencial, que
se reflete nas economias locais, suportado pela representatividade global, induzem políticas de
emprego, orientam quotas de cursos universitários, impõem tetos fiscais e influenciam atitudes de
medo ou incerteza e de fraca participação coletiva que, tendencialmente, favorecem tomadas de
posição conservadoras. A autonomia das nações é assim cerceada e os planos prioritários de
desenvolvimento internos são manietados. Consubstancia-se, desta forma, a “governação sem
governo” (Rosenau, 2000). A necessidade de alguma regulação possível desta ingerência global é a
introdução do postulado dos Direitos Humanos nos valores de entidades como o Banco Mundial ou
o Fundo Monetário Internacional. Na EU ou UE? assiste-se à subalternização dos países pequenos
face aos “motores” de um espaço global europeu que se rege a “duas velocidades”, logo, a diferentes
níveis de intervenção e soberania.

A globalização, retira indiretamente os poderes que, aos governos, os cidadãos mandatam,


desvirtua os escrutínios eleitorais, amortece a cidadania e reduz a identidade do conceito nação. A
democracia é revista no seu conceito basilar, em função dos reajustamentos face às crises e medidas
de austeridade impostas. O enorme fluxo de informação rápido, retira positivamente aos Estados as
veleidades de censura. Apenas as catástrofes naturais e a defesa do meio ambiente, como
património global, e os direitos humanos dão ao Direito Internacional a legitimação de exigências aos
Estados.

2 – Tendo em conta o Manual da Unidade Curricular, aborde o conceito de “Interesse


Nacional”, mencionando o contributo de alguns dos autores citados.

O interesse nacional é o elemento principal de definição da política externa, defendendo o


primado da defesa da segurança interna. É esta norma que, em atos bilaterais ou negociações no
seio de organizações internacionais, determina até que ponto se abdica, tacita e taticamente nas
cedências possíveis.

Santa Clara Gomes aborda o tema ao perspetivar um conceito dinâmico, já que o domínio e
as influências sobre outros Estados fazem-se pelas novas tecnologias de informação e controlo
financeiro. O secretismo da política externa foi substituído pelas relações abertas e escrutinadas
publicamente. Defende como objetivos de defesa do interesse nacional, quando projetado
internacionalmente: a paz, o direito, o ambiente, o combate à fome e o subdesenvolvimento. Os
valores enunciados referem-se à sobrevivência da Nação, à independência e à integridade do
Estado. Como meios potenciadores assinalam-se: a língua e a cultura, a credibilidade e a conjugação

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de estratégias setoriais. Em coletivos de transferências de poderes como a EU ou UE?, opina a
necessidade de os estados aproveitarem as sinergias da sua influência em outras comunidades
(subentendemos a CPLP, no caso português).

Esta necessidade de complementaridade da política externa, é também defendida


assiduamente por Adriano Moreira, como um sério alerta para o previsível exíguo espaço de
intervenção externa. A sua reflexão sobre a potenciação das pequenas nações na cena internacional,
assinala a visão atlantista e tradicionalmente universalista de Portugal para defender e continuar a
projetar o interesse nacional, nas relações e organizações internacionais. Preocupam-no a
subalternização e o estatuto periférico que a diluição da soberania do Estado se observa no espaço
comum europeu. A hierarquização das nações nas organizações internacionais e o esvaziamento da
sua capacidade de intervenção por falta de apoio das grandes nações, nomeadamente financeiro,
deixam a Portugal, segundo Moreira uma oportunidade de intervenção e visibilidade.

Holsti infere que o interesse nacional está por detrás das aproximações realistas clássicas e
neorrealistas de conceber as relações internacionais. Quanto aos modelos das tomadas de decisões,
para que a nação assuma um posicionamento unitariamente racional, as condicionantes das
influências das elites, dos grupos de pressão e interesse, condicionam o interesse nacional. Este
conjuga a variação da conjuntura internacional com a vida política interna. No entanto, na relação da
política interna com as opções externas realça a premissa de que não há guerra entre as
democracias.

Outro grupo de influenciadores e de decisão que refere são os burocratas, supostamente por
especialistas que obtêm a otimização de decisões, provocam um desnível entre o interesse nacional
dos decisores e a execução nos terrenos executivo e operacional.

Aponta ainda aos líderes individuais que definem e constroem o modelo do seu interesse
acima ou como nacional, supra social, mas frequentemente sujeito à poluição dos lobbies influentes.

Conclui-se que o interesse nacional, é mais que um conceito de aglutinação de vontades


expressas em cada nação para uma estratégia internacional convergente e consentânea com os
desígnios internos. É ainda uma súmula de contribuições políticas da sociedade, congregando as
aptidões dos países para capitalizarem a sua história e influência geográfica,. querem estar
focalizados na manutenção dos padrões identitários e apostando na modernidade positivista e
facilitadora das novas tecnologias. Consideramos que aceitar os desafios da globalização para a
potenciação dos recursos e extrapolar as competências técnicas de elevado nível serão os maiores
desafio na defesa do interesse nacional e no pugnar pelos valores pátrios maiores da preservação
da independência e da soberania nacional.

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Bibliografia:

BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1997.

Carta das Nações Unidas, consultada a 11/11/2019, em


http://www.ministeriopublico.pt/instrumento/carta-das-nacoes-unidas-0

FREIRE, Maria Raquel; Vinha, Luís da, Política externa: as relações internacionais em
mudança, consultado a 11/11/2019, em: http://dx.doi.org/10.14195/978-989-26-0995-9_1

GOMES, G Santa Clara, A Política Externa e a Diplomacia numa Estratégia Nacional, Revista
Nação e Defesa, 1990. Consultada a 12/12/19, em
https://www.idn.gov.pt/publicacoes/nacaodefesa/textointegral/NeD56.pdf

LOUÇÃ Francisco, Ash Michael. Sombras - A desordem Financeira na Era da Globalização.


Bertrand, Lisboa, 2017

MOREIRA, Adriano. A Crise do Estado Soberano, Revista Nação e Defesa, 1993

PINTO, Jaime Nogueira, The crisis of the Sovereign State, 1999. Consultado a 11/11/2019, em
https://www.heritage.org/political-process/report/the-crisis-the-sovereign-state

ROSENAU, James N; CZEMPIEL. Governança sem governo – Ordem e transformação na política


mundial. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000. Consultado a 12/11/19, em
http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17553/material/2.4%20COMPL
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SANTOS, Victor Marques dos. Elementos de Análise de Política Externa, ISCSP, UTL, 2012

SILVA, Carlos Roberto da. A Hipótese de Declínio da Soberania dos Estados Modernos,
consultada a
www.revistas./unijui.edu.br%2Findex.php%2Fdireitoshumanosedemocracia%2Farticle%2Fview%2F
/589%2F2616&usg=AOvVaw1FlzK8vPll3_1DPp1p8JnK/

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