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RESENHA CRÍTICA

Eduardo Vannini, Gabriel Molon, Jussara John, Steven Jardim , Thailan Schwindt1

SATO, Eiiti. ​Cooperação internacional: uma componente essencial das relações


internacionais RECIIS – R. Eletr. de Com. Inf. Inov. Saúde. Rio de Janeiro, v.4, n.1,
p.46-57, mar., 2010 ​DOI: 10.3395/reciis.v4i1.345pt

1 CREDENCIAIS DO AUTOR

Eiiti Sato é graduado em Economia e mestre em Relações Internacionais (Master of


Philosophy) pela Universidade de Cambridge. Sendo também Mestre e Doutor em
Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Professor adjunto da Universidade de
Brasília, professor e atual Diretor do Instituto de Relações Internacionais (IREL), da UnB,
com mandato até 2010. Foi Presidente da Associação Brasileira de Relações Internacionais
(ABRI) de setembro de 2005 a julho de 2007.

Atualmente é Professor Associado da Universidade de Brasília onde exerceu o


cargo de Diretor do Instituto de Relações Internacionais de 2006 a 2014. Foi o primeiro
Presidente da Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI) de setembro de
2005, até julho/2007, quando foi realizado o primeiro Encontro Nacional de professores e
pesquisadores de Relações Internacionais. De agosto de 2014 a outubro de 2016 foi Chefe
da Assessoria para Assuntos Internacionais da Universidade de Brasília. As áreas de
interesse acadêmico são: política internacional (história e teoria), economia política
internacional, política externa brasileira e organizações internacionais. Algumas de suas
obras:

SATO, E. . Reflections on Multilateral Security Governance. XI Conference of Forte


Copacabana , v. 11, p. 305-326, 2014.

CESAR, S. E. M. ; SATO, E. . A Rodada Doha, as mudanças no regime do comércio


internacional e a política comercial brasileira. Revista Brasileira de Política Internacional
(Impresso) , v. 55, p. 174-193, 2012.

SATO, E. . A crise financeira internacional e as perspectivas para a economia brasileira.


Revista On-Line Liberdade e Cidadania , v. II, p. 1-10, 2010.

________. . Amaury de Souza - Agenda Internacional do Brasil: a Política Externa


Brasileira de FHC a Lula. Revista On-Line Liberdade e Cidadania , v. II, p. 1-3, 2009.

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Graduandos em Relações Internacionais pelo Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG).
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2 RESUMO DA OBRA

A pesquisa de Eiiti Sato é dividida em nove capítulos, além de suas considerações


finais. O autor traz o debate da cooperação internacional no período pós-segunda guerra
mundial que impulsionou a integração comercial e política através da globalização e
institucionalização para disseminar a industrialização e a modernidade ao países, e com isso
impor padrões de conduta e procedimentos técnicos aos países “dominados”, constituindo a
cooperação como um canal onde os estados se conectam com um padrão econômico e
social, e nas áreas do conhecimento e da tecnologia.

O autor compreende que a expansão da cooperação apresenta impactos positivos e


negativos, porém, traz a necessidade da criação de novos mecanismos de cooperação que
seja compatíveis com a realidade de seus integrantes. E ainda, é fundamental elaborar
abordagens mais integradas, visto que a lógica da especialização acarretou em complexos
fenômenos sociais e políticos nos países periféricos.

No capítulo inicial a o autor aborda sobre disseminação da industrialização e da


modernidade para dezenas de países que passaram a integrar uma sociedade
verdadeiramente globalizada, fez com que uma das dimensões marcantes nas relações
internacionais desde a Segunda Guerra Mundial fosse a expansão da cooperação
internacional como prática institucionalizada pelos governos. Sejam sociedades ricas e
poderosas ou nações pobres e de pouca expressão nos foros internacionais, seus governos
passaram a integrar uma intrincada rede de instituições voltadas para a prática do que,
genericamente, passou a ser denominada “cooperação internacional”. Nesse processo, a
expressão “cooperação internacional” estendeu-se para todas as áreas desde o comércio e as
finanças até às questões de segurança, meio-ambiente, educação e saúde. O que significa
que governos e instituições não tomam decisões e iniciativas isoladas. Cooperação
internacional significa governos e instituições desenvolvendo padrões comuns e
formulando programas que levam em consideração benefícios e também problemas que,
potencialmente, podem ser estendidos para mais de uma sociedade e até mesmo para toda a
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comunidade internacional. Em sentido mais corrente, o termo “globalização” foi sendo


incorporado ao vocabulário da política internacional refletindo essa transformação em
curso no meio internacional. Assim, o tradicional conceito de soberania foi,
gradativamente, sendo revisado e reinterpretado. A noção de fronteiras porosas e de
interdependência entre as sociedades, sobretudo na esfera econômica, produziu uma vasta
literatura desde os fins da década de 1980. Não apenas as notícias dos acontecimentos
passaram a ser transmitidas em tempo real, mas também os interesses, as oportunidades e
os problemas implícitos nesses acontecimentos também se globalizaram pelas facilidades
oferecidas pelos meios de transporte e das comunicações. Surtos de doenças deixaram de
ser apenas uma notícia humanitariamente preocupante vinda por meio de correspondentes
internacionais para se tornarem uma possibilidade real de expansão e contaminação de
sociedades situadas em todos os continentes. Por essa razão, os formuladores de políticas
das nações passaram a incluir a dimensão internacional como fator importante,
independentemente do seu nível de riqueza e poder, incorporando dessa maneira a
cooperação internacional na sua rotina de preocupações.

No capítulo sobre ​A cooperação na agenda internacional ​o autor destaca bastante


sobre avanço da integração internacional trouxe mudanças no plano mais geral da política
internacional fazendo com que a agenda diplomática de lideranças e de governantes
incluísse sistematicamente as muitas dimensões da cooperação internacional como
preocupação regular. A partir disso podemos destacar o high politics e o da low politics.
Tendo se a diferença da high politics que se refere-se às questões associadas diretamente à
segurança estratégica, já a expressão low politics era empregada para designar as demais
questões como comércio e desenvolvimento, educação e outros temas que não se
associavam diretamente às preocupações com a segurança estratégica dos países, em
especial das grandes potências.

Em grande medida, esse fato foi uma decorrência da crescente importância dos
temas relacionados à low politics que, mais e mais, passaram a ocupar as atenções de
estadistas e também da opinião pública em geral. O autor analisa que na década de 1950 as
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preocupações na esfera internacional estavam fortemente centradas na guerra fria e no


receio de uma confrontação nuclear, todavia, por variadas razões, a percepção de que
poderia ocorrer, de fato, uma confrontação militar entre o bloco soviético e o Ocidente
capitalista foi se tornando uma idéia virtualmente abandonada ou simplesmente
considerada como altamente improvável. Pode-se dizer que, mesmo com a emergência do
terrorismo como tema prioritário na agenda das grandes potências, a importância dos temas
da low politics continuou sua trajetória ascendente nos foros internacionais.

Houve mudanças importantes tanto nas condições do meio internacional quanto na


forma de entender e de conduzir as questões internacionais. No fenômeno cunhado
genericamente como “globalização”, o mundo ficou mais integrado e o Estado como ator
na cena internacional perdeu bastante espaço para outros atores que, de muitas maneiras,
passaram a ser agentes capazes de influenciar significativamente o meio internacional.
Nesse ambiente, muitos dos “interesses nacionais” tornaram-se fortemente associados a
interesses de outras nações e à realidade internacional como um todo. As recentes ameaças
de disseminação generalizada da gripe aviária e da gripe H1N1 (mais conhecida como gripe
suína) eram reais e uma pandemia com dimensões trágicas provavelmente não foi
verificada em razão das inúmeras medidas preventivas tomadas pelos governos e
coordenação com as agências internacionais voltadas para a promoção da saúde pública. No
conjunto, essas condições mudaram consideravelmente o panorama das relações
internacionais tanto no sentido de criar novas oportunidades quanto no sentido de que essas
condições passaram a gerar problemas jamais enfrentados.

No capítulo sobre ​A construção da prática da cooperação nas relações


internacionais ​o autor discorre sobre as negociações e ações cooperativas no plano do
comércio, da educação e de outros temas da promoção das condições sociais tendem a
ocorrer em ambiente de menor tensão e muito mais propenso à cooperação se comparadas
às negociações e discussões envolvendo investimentos em sistemas de defesa e a compra e
venda de armamentos. Geralmente as questões de segurança envolvem aspectos
notadamente sensíveis, que tendem a criar um ambiente de negociação que pode ser bem
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caracterizado como o de um “jogo de soma zero”, isto é, sejam investimentos em sistemas


de defesa ou iniciativas de formação de alianças estratégicas, o resultado inevitável é a
mudança na relação de poder e capacidade estratégica. Em outras palavras, alguém está
ganhando em relação a alguém que está perdendo. Por outro lado, as questões típicas de
low politics tendem a oferecer um ambiente de múltiplas alternativas de ganhos e
possibilidades aos atores envolvidos. Num acordo comercial, ainda que não seja na mesma
proporção, em princípio todos os signatários estão ganhando. Em outras palavras, a
natureza anárquica do meio internacional nas questões relacionadas à high politics se traduz
em desconfiança enquanto, no caso das questões afeitas à low politics, esse caráter
anárquico reforça a competição. É no âmbito desse ambiente ambíguo e, em grande
medida, paradoxal que a cooperação vem se desenvolvendo. O fenômeno genericamente
denominado “globalização” significa em sua essência que a ordem política, econômica e
social dos países se tornou profundamente integrada com a realidade internacional. Assim,
estabilidade das instituições e políticas nacionais voltadas para o crescimento econômico e
para a promoção da melhoria da qualidade de vida das populações depende cada vez mais
de uma boa articulação com o meio internacional. Como trás o autor o termo de
globalização vem se tornado cada vez mais cotidiano em nosso vocabulário, já que por esta
razão os Estados só aceitam cooperar seja no âmbito multilateral, seja no âmbito regional
caso os seus ganhos políticos possam ser quantitativos.

No entanto, a importância de se conectar as estratégias de desenvolvimento com as


dinâmicas do meio internacional permanece essencial e, na essência, independe das
características individuais das nações. ​Esse fenômeno foi vivenciado em larga medida pela
Europa e pelos Estados Unidos em outros tempos, primeiro pelo sistema colonial e, depois,
pela constituição de uma economia verdadeiramente mundial sob a liderança dos Estados
Unidos e da Europa. Alimentos e matérias primas como o petróleo sempre foram não
apenas objeto de cobiça, mas principalmente de necessidades estratégicas das sociedades
que, ao longo da história, avançaram em termos econômicos e tecnológicos.
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No capítulo ​Cooperação internacional: a dimensão de longo prazo da política


externa ​o autor identifica que os estados estão internacionalmente integrados em diversas
áreas, como comércio, finanças, educação, saúde, geração de empregos, ciência e
tecnologia e meio ambiente mesmo que imperceptivelmente como um condicionante básico
calcado na promoção do desenvolvimento. E a medida que o setor tecnológico e científico
desenvolve, a integração das sociedades também evolui.

A saúde tem representado esta integração com o aumento de doenças com riscos de
contágios que hoje alarma os Estados e enaltece o papel das instituições supranacionais,
como o caso que vivemos hoje na pandemia do Coronavírus com as atuações da
Organização Mundial da Saúde a nível mundial.

Dado isto, se compreende a dimensão do longo prazo da cooperação internacional


que cria programas e instituições que assegura a coerência, estabilidade e segurança entre
os Estados. E evidencia o papel das instâncias não-governamentais ou subestatais que
podem atuar no sistema internacional no novo contexto das relações internacionais por
conta do caráter desenvolvimentista no qual eles se inserem.

Quando autor aborda sobre ​Alguns fundamentos e conceitos comenta que a


cooperação não está isolado ao conflito. Os conflitos estão em todos padrões de
relacionamento entre um ou mais atores, sejam eles familiares, societário ou internacional.
Os motivos comumente referem-se ao modo de como será dado esta cooperação ou qual
papel terá cada um, e principalmente, quem levará os ganhos desta associação. E cita
Arthur Stein, onde “a barganha (isso é, a cooperação) pode ocorrer de forma tácita até
mesmo entre inimigos no meio de uma guerra”, esta relação é corriqueira nas relações
sociais em qualquer nível. “Isto é, interesses e visões individualizadas e conflitantes se
fazem presentes entre indivíduos, entre sociedades e entre governantes mas, ao mesmo
tempo, convivem com percepções e sentimentos a respeito de ajuda mútua, de futuro
comum e de identidades e experiências compartilhadas.” (p.50)
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Todavia, o conceito sobre cooperação não deve ser levado em oposição ao de


conflito, na realidade, em todas corporações surgem conflitos, e vale a cada membro ouvir
e buscar soluções através da negociação entre dois ou mais atores. Ou seja, podemos
considerar o antônimo de cooperação, o unilateralismo. O autor ainda traz o termo de
regime internacional no que compreende uma cooperação formal e organizada nas Relações
Internacionais, que podemos encontrar na história econômica a partir da Segunda Guerra
Mundial com a criação do regime monetário e comercial pela política americana que
buscava harmonizar amenizar os efeitos da crise de 1929 impondo sobretaxas às
importações e as desvalorizações cambiais.

A crise trouxe com ela o entendimento de um sistema integralizado, onde ações


refletiam além das fronteiras deteriorando as condições de renda e emprego. Entre 1930 e
1937 é evidente a queda do comércio internacional em 70% entre os países, levando
empresas à falência e o aumento do desemprego. Com isso, as grandes potências
reconhecem a incapacidade contornar os efeitos da crise por conta própria. E a criação do
Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, e mais tarde a Organização
internacional do Comércio criou novas práticas e novo entendimento da convivência
internacional. Os foros internacionais foram criados na necessidades de soluções em
conjunto, como o autor cita o G20.

Entretanto, Sato reconhece que as organizações não se dá por caráter altruísta dos
Estados, mas por quatro motivos principais de acordo com Inis Claude:

1. a existência de Estados estáveis;


2. a existência de interação significativa entre os Estados;
3. o surgimento de questões derivadas diretamente dessa interação;
4. a disseminação da percepção de que as questões derivadas da interação
demandam arranjos supranacionais específicos

Para Sato, o autor traduz perfeitamente organizações como a ONU, que


institucionalizam a cooperação e gera uma nova realidade, dificultando assim, o manuseio
das soberanias dos estados envolvidos e suas oportunidades e desafios. Com esta tendência
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conflituosa, a imprescindibilidade de cooperações institucionalizadas que estabelecem


normas e orientações de conduta se evidencia com interesses das nações com o
aprofundamento das interações no sistema internacional. E como estes afetam diferentes
unidades, normalmente haverá divergências e disputas, mas este podem ser acertados de
forma cooperativa.

Sato ressalta que as iniciativas de cooperação podem se dar também a fim de


incentivar, aprofundar ou aperfeiçoar as interações. E assim como no setor empresarial, o
marketing, ou ainda a “criação de mercados”, no que se entende como planejamento de
estratégias, estudo de mercados, estratégia de conhecimento e difusão de conhecimento se
dão também entre nações ao nível internacional. Enquanto as empresas atuam em primazia
no campo de ganhos dos negócios, o objetivos das nações atuam na economia, na política e
na sociedade.

Ao falar sobre a ​Cooperação numa perspectiva histórica ​o autor expõe duas


abordagens que surgiram no pós Segunda Guerra Mundial, a primeira delas é sobre a
cooperação internacional, que expressa de uma forma mais genérica as associações entre os
países. Já a segunda, é sobre a cooperação técnica internacional, que se limita basicamente
na ajuda internacional fornecida pelos países mais ricos e tecnologicamente avançados aos
mais pobres, de forma direta ou através de agências multilaterais. A partir desse ponto, o
autor aborda uma questão moral da cooperação internacional, segundo ele, essa moralidade
pode ser entendida como “ensinar a pescar” e que o maior impulso foi dado depois da
criação da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID),
além das iniciativas privadas como a Fundação Rockefeller e a Fundação Carnegie, que
patrocinaram a criação de laboratórios e programas de capacitação no campo da agricultura
e da saúde pública em muitos países pobres.

Continuando a perspectiva histórica, é abordado no texto a disputa Leste-Oeste e a


forma pela qual a cooperação foi usada para defender certos interesses, segundo o autor “a
ajuda ao desenvolvimento tinha também o propósito de atrair países e regiões para a sua
esfera de influência” (pág.52), em um contexto de guerra fria, era importantíssimo esse
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aumento de influência através do soft power. Para concluir essa parte, é falado sobre a
intenção de John Kennedy de promover uma “Aliança para o Progresso, que seria a forma
pela qual os EUA, por meio da cooperação técnica e financeira, ajudaria os países da
América Latina a promover uma “revolução pacífica” que lhes permitisse avançar na
modernização.” (pg.52)

Ao falar sobre ​o Brasil e a cooperação técnica internacional ​o autor aborda um


pouco da história do tema no país, destacando alguns casos notáveis, como: o polo de
tecnologia aeronáutica de São José dos campos, criada depois da 2° Guerra e que foi
fundamental para alavancar esse tipo de indústria no Brasil. Cita ainda a criação do Centro
Tecnológico da Aeronáutica (CTA) e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), que só
foi possível por causa da cooperação que a Força Aérea fez. Entre outros exemplos de
cooperação que o autor apresenta, estão os no campo acadêmicos e de pesquisa, como o
Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES).

Após exemplificar os casos de cooperação no Brasil, o autor aborda o início da


institucionalização da cooperação no país. A primeira iniciativa foi na década de 50, com a
criação da CNAT, Comissão Nacional de Assistência Técnica, que tinha como principal
atribuição coordenar as ações das instituições brasileiras que buscavam a cooperação em
agências internacionais. Em 1987, foi criada a ABC, Agência Brasileira de Cooperação,
que tinha como função conduzir a execução técnica dos programas de cooperação e
formalizar a política desses programas.

O cenário internacional e a política externa brasileira, foram se alterando durante os


anos, com isso, há uma mudança no ABC. O autor cita que “de um país essencialmente
receptor de cooperação, nas últimas décadas o Brasil passou também à condição de agente
ativo, doador de cooperação. Outros países em desenvolvimento também avançaram de
forma significativa na modernização de sua indústria e de seus recursos institucionais
dando ensejo ao desenvolvimento da chamada cooperação Sul-Sul.” (P.52-53) Por fim, o
autor encerra a cooperação brasileira falando sobre o conceito de cooperação horizontal,
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oriunda dos países em desenvolvimento, ele diz que “tendo em vista esses
desenvolvimentos, o entendimento que tem prevalecido é o de que a cooperação Sul-Sul
não deveria ser entendia como concorrente ou alternativa para a cooperação tradicional,
mas sim como elemento articulador e, na maioria dos casos, complementar à vertente da
cooperação mais tradicional com os países industrializados e com as agências multilaterais.
O fato é que essa vertente reflete a grande expansão da cooperação como dimensão inerente
às relações internacionais na atualidade”(pág.53).

Ao chegar na parte da ​Cooperação internacional em perspectiva o autor acaba


concluindo que a cooperação técnica internacional sofreu diversas transformações ao longo
do tempo e conseguiu acompanhar com dinamismo as mudanças das Relações
Internacionais. Mas ao mesmo tempo em que se transformava, acabou se firmando como
um componente essencial da política externa dos países. Além disso, ele atribui a
cooperação internacional algumas responsabilidades, como: a possibilidade do mundo ser
globalizado, onde o conhecimento possa ser compartilhado. Também fala sobre a melhora
da qualidade de vida das pessoas, exemplifica com a disponibilidade de alimentação de boa
qualidade, os serviços de saúde e o acesso ao conhecimento e a informática. Há inúmeras
melhoras na questão de segurança, onde a cooperação tem papel fundamental na construção
de sistemas de vigilância, rastreamento e na formação de especialistas.

Por fim, o autor apresenta o ponto mais importante da cooperação internacional, que
é o intercâmbio de pessoas, experiências, conhecimentos e culturas, que é através desse
conjunto de novas experiências é possível compreender as outras nações e tornar o meio
internacional mais propenso a conviver de forma harmônica e pacífica.

3 CONCLUSÃO DA RESENHISTA
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Na política, os interesses de curto prazo em geral acabam sendo mais importantes


do que os benefícios de longo prazo. Isso porque os benefícios de longo prazo demoram
muito tempo para aparecer, enquanto os interesses políticos são imediatistas. O agente
público olha para a próxima eleição, e quer resultados de curto prazo, deixando de priorizar
a busca de benefícios a longo prazo. Isso dificulta em muito a implantação de quaisquer
acordos de cooperação. Esses, em geral, são ações de longo prazo e muitas vezes fogem aos
interesses políticos. Sabe-se que na política é preciso apresentar respostas imediatas em
muitas situações, mas, programas de longo prazo, também precisam ter o seu espaço.

O que se tem visto no Brasil, é que ações de cooperação internacional encontram


espaço cada vez maior nos três níveis do campo político: federal, estadual e municipal.
Estados e entidades, como o Senai e a FioCruz, tendem a aproveitar melhor essas
oportunidades de cooperação internacional. Embora essas ações ainda encontrem muitas
resistências no meio político que tendem sempre em focar em ações mais imediatistas.

A cooperação pode ser aplicada a inúmeras áreas, entre elas segurança, geração de
riquezas, acesso aos benefícios materiais da modernidade, segurança ambiental, saúde e
ordem social. O avanço dessas cooperações forçou a especialização, com o surgimento de
agências especializadas para regular essas esses acordos internacionais. Organizações
não-governamentais também trabalham como órgãos de apoio às ações de cooperação
internacional. Se por um lado esses órgãos de apoio são muito importantes, geraram
também muita burocracia que coloca novos entraves à cooperação.

Em resumo, a cooperação internacional tem por objetivo melhorar as condições de


vida ao redor do mundo e melhorar os sistemas de produção. Isso gera mudanças sociais e
econômicas muito profundas, com reflexos também no campo político.

A cooperação internacional é muito importante porque cada sociedade convive com


problemas e necessidades e os países que se propõem a oferecer cooperação têm
competências e capacidades para auxiliar na resolução de problemas de outras nações. Um
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dos grandes exemplos da atualidade, são os acordos de cooperação na área ambiental, onde
o conceito de desenvolvimento sustentável motiva ações cooperadas ao redor do mundo.

4 CRÍTICA DA RESENHISTA

O autor exerce ao longo de sua explanação uma leitura muito eficiente a respeito de
um tema extremamente complexo que é a cooperação internacional. O texto de SATO é um
tanto simples, porém o autor transita pelos temas com tanta clareza e fluência que se torna
extremamente agradável de se ler, e acaba por ser bastante instrutivo. O que torna seu texto
mais interessante ainda é o fato de que o autor é capaz de falar de maneira resumida uma
quantidade grande de assuntos, passando por períodos históricos, contemporaneidade,
comunidade internacional e Brasil sem quaisquer dificuldades e sem tornar o texto
maçante.

Pelo que pudemos apurar, através da minha leitura das ideias expressas, o autor
utiliza de uma visão lockeana para embasar suas explanações, o que creio que seja um
“meio campo” sensato entre as extremidades tradicionais que seriam as vertentes kanteanas
e hobbeseanas. Desta forma, o autor parte do pressuposto de que a cooperação internacional
não se dá através puramente de cooperações altruístas e naturais e nem que o sistema
internacional é anárquico e incompatível com a cooperação. O autor reflete que o sistema
internacional na verdade tende a ser mais cooperativo pelos interesses mútuos e
interligados dos seus players, que é mais vantajoso viajar em águas tranquilas através da
cooperação do que tender unicamente ao conflito a todo instante. Acredito que seja uma
maneira ponderada e correta de se analisar.

De maneira geral, podemos dizer que o texto de SOTO é um trabalho de fácil


acesso principalmente para iniciantes na área das relações internacionais, muito por conta
da sua didática pelo ator sempre fazer grande questão de dissecar todos os conceitos termos
técnicos expostos na explanação. De fato é um belo trabalho que ao nosso ver está livre de
críticas.
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