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A área temática de Economia Política Internacional (EPI) incorpora uma ampla gama de

interesses e abordagens, o que torna impossível uma definição unívoca da mesma; não
obstante, a título de uma primeira aproximação pode-se dizer que a EPI tem como eixo
de preocupação as interações e interseções entre economia e política no que diz respeito
aos fenômenos e relações cujas origens e eficácia não se esgotam no âmbito de uma
comunidade política diferenciada. Em última instância, fluxos monetários, de
mercadorias, serviços, pessoas e ideias através das fronteiras que expressam tal
interação economia/política são objeto de atenção da EPI desde sua origem – seja a EPI
vista como herdeira direta da tradição de pensamento da Economia Política Clássica,
seja a EPI vista como uma subárea das Relações Internacionais cujas origens datariam
de meados dos anos 1960. Nas décadas recentes, debates a respeito dos processos de
globalização e seus impactos tem chamado a atenção para o fato de que fenômenos
importantes para a EPI não se restringem às interações interestatais, mas também dizem
respeito a outros tipos de atores que não apenas os Estados.

Esta linha tem por objetivo o desenvolvimento de estudos sobre as dinâmicas


interestatais e a interdependência econômica internacional, considerando os variados
arranjos (sociais, políticos e econômicos) que afetam os sistemas globais de produção,
troca e distribuição com impacto nas ações internacionais dos Estados em suas múltiplas
dimensões. A linha se propõe a compreender a concorrência estatal para a atração de
capitais e seus desdobramentos nas relações comerciais, financeiras e de investimentos.
Para isto serão consideradas as estratégias adotadas nos fóruns multilaterais e nas
negociações econômicas internacionais. Serão estudados temas como a criação, o
funcionamento e as mudanças nos regimes econômicos internacionais; a mundialização;
os desafios estruturais do multilateralismo econômico e as conseqüências da
intensificação do plurilateralismo; a hegemonia norte-americana e seus impactos na
economia internacional e a questão da dependência.

Desde sua criação como disciplina acadêmica, as Relações Internacionais têm


vivenciado debates em busca de sua afirmação como ciência, contrapondo as visões de
diferentes escolas de pensamento e teorias que se afastam e se aproximam em relação
aos diversos fenômenos que as Relações Internacionais tentam compreender. Nesse
embate recorrente entre teorias mainstream e teorias alternativas, as vertentes Realista e
Neorrealista ganham maior visibilidade e são clamadas como detentoras de grande
capacidade explicativa dos fenômenos internacionais.

Política de poder e capacidades militares tornam-se, assim, mote recorrente. As relações


internacionais são vistas como a busca pelo equilíbrio de poder, o mundo passa a ser
definido em termos de polaridades, de grandes potências em torno das quais se agrupam
os Estados com menores capacidades. A reciprocidade entre teoria e realidade acaba por
fomentar os estudos em torno de duas subáreas principais: segurança e defesa, e política
externa.

Aqueles que apreciam os aspectos econômicos são, com frequência, deixados à margem
da disciplina. Não que não haja centros para estudos de Economia Política
Internacional, mas, em comparação com a grande quantidade de pesquisadores voltados
para política externa e segurança, são poucos os que se dedicam a essa área. Correm,
inclusive, o risco de ter suas pesquisas tachadas como pouco relevantes ou enfadonhas.

Em sua origem na década de 1970, a Economia Política Internacional (EPI), uma das
subáreas das Relações Internacionais, foi também formada em torno de dois polos
distintos: a EPI americana e a EPI britânica. Por um lado, autores que trouxeram da
economia clássica pressupostos para compreender as relações entre os Estados; por
outro, autores que buscavam criticar o mainstream e as relações de poder. Entre os dois
lados do Atlântico uma semelhança: a união dos campos de estudo da Política e da
Economia, uma análise da dinâmica das interações dos Estados em busca de riqueza e
poder, as relações complexas das atividades econômicas e políticas no nível
internacional.

A escola britânica, liderada por Susan Strange e Robert Cox, assumiu uma postura
crítica em relação à visão do sistema internacional formado apenas pelas relações entre
Estados. Os estudos tentaram superar o Estado-centrismo, incorporando outros
elementos, como ideias, sociedade e instituições, nas análises sobre a ordem mundial.

Entretanto, a escola americana da EPI acabou se tornando dominante nos estudos.


Autores como Krasner, Keohane e Nye se sobressaíram no campo da EPI, utilizando
conceitos da Economia, como o cálculo racional dos atores e a teoria dos jogos, para
compreender como cada Estado buscava maximizar seus ganhos, ou ao menos tomar
decisões que minimizassem suas perdas no sistema internacional. Embora a escola
americana não tenha rompido com o pressuposto do Estado como principal ator das
Relações Internacionais, não se pode desconsiderar a relevância de seus estudos,
especialmente por terem unido política e economia (ainda que tenha sido
o mainstream econômico).

A Economia Política Internacional tem sido frequentemente associada ao debate entre


essas duas escolas em um momento histórico específico – Guerra Fria, crise de
hegemonia dos Estados Unidos – e, portanto, datada. Mas sua relevância para as
Relações Internacionais faz-se presente até hoje. Os estudos sobre as
instituições/organizações internacionais têm relação com a EPI. Mas, mais do que isso,
a EPI analisa os fenômenos internacionais a partir da interação entre Estado e
mercado. Busca-se, então, compreender a dinâmica do sistema internacional não apenas
a partir da política de poder, mas também por meio das interações econômicas entre os
Estados, e das relações entre estes e o mercado, o qual se materializa na produção, nas
finanças, nas moedas. A EPI avança na política de poder ao tentar compreender
fenômenos que, muitas vezes, sustentam essa política.

O que seria de um Estado militarmente forte, sem uma moeda forte? Como
compreender a melhora nas condições de vida das populações sem compreender as
políticas econômicas de benefícios sociais e crescimento nacional? Como compreender
a hierarquia internacional de Estados politicamente fortes e fracos, sem compreender a
dinâmica econômica do centro e da periferia do capitalismo? A todas essas inquietações
parece haver um caminho indicado pela Economia Política Internacional e por aqueles
que se aventuram a estudá-la.

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