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DESCRIÇÃO

Importância dos autores, os conceitos e as principais teorias para analisar e compreender as dinâmicas,
os eventos e fenômenos do sistema internacional.

PROPÓSITO
Apresentar as teorias clássicas das Relações Internacionais, seus conceitos, principais autores e as
visões de mundo.

OBJETIVOS

MÓDULO 1

Identificar conceitos gerais da Teoria Realista e suas características


MÓDULO 2

Reconhecer os liberalismos e seus principais conceitos

MÓDULO 3

Comparar as escolas de Economia Política Internacional

INTRODUÇÃO
Conheceremos as escolas tradicionais das Relações Internacionais nos próximos três módulos de
estudos. Analisaremos a Teoria Realista, o modelo teórico ligado aos liberalismos e a Economia
Política Internacional (EPI).

O CAMPO DE ESTUDOS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS


É RELATIVAMENTE NOVO SE COMPARADO A OUTROS
CAMPOS COMO O DA MEDICINA, CUJAS TÉCNICAS
TERAPÊUTICAS REMONTAM À PRÉ-HISTÓRIA.

(PAULA, 1962)
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 Capa do jornal brasileiro O Paiz, a respeito do armistício da Primeira Guerra Mundial (1918). Fonte:
Tks4Fish.

O campo surge no contexto do pós-Primeira Guerra Mundial, quando a brutalidade do conflito e a


dimensão do estrago, em termos de vidas perdidas, alertaram o mundo para a necessidade de
compreender os motivos por trás das guerras e evitar futuros confrontos entre países. Em 1919, foi
criada, na Universidade de Gales, a primeira cátedra de Relações Internacionais e, posteriormente,
replicada ao redor do mundo (MENDES, s.d.). No Brasil, o campo foi inaugurado em 1974, mas sua
expansão ocorreu a partir dos anos 2000.

O surgimento das RI, como um campo do saber, está atrelado ao contexto da época, e a origem das
principais teorias também sofre essas influências. Por causa do surgimento sob circunstâncias
diferentes, diferenças em suas premissas, valores e prioridades podem ser observadas.

Apesar das diferenças, em termos gerais, o campo de estudo das relações internacionais possui um
objeto de análise principal: o comportamento dos atores no sistema internacional.
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 Fonte: Alba_alioth | Shutterstock

Nos módulos que seguem apresentaremos algumas das principais teorias da área e importantes e seus
debates no campo das Relações Internacionais. As teorias devem ser sempre consideradas como
ferramentas importantes de análise, que auxiliam a compreensão de dinâmicas e os eventos
internacionais, facilitando o entendimento e oferecendo técnicas e pontos de vista.

MÓDULO 1

 Identificar conceitos gerais da TEORIA REALISTA e suas características


No vídeo a seguir, veja mais sobre a Teoria Realista nas Relações Internacionais. Vamos assistir!

TEORIA REALISTA
A Teoria Realista é uma das mais tradicionais e relevantes no contexto das Relações Internacionais,
sendo considerada a sua mais antiga escola de pensamento.

Segundo Pecequilo (2016, p. 11), as origens da teoria remontam ao século XV, dois antes do surgimento
da corrente liberal, sua principal opositora, confirmando a tradição.

Apesar de ter origem mais antiga, o realismo não foi a teoria inaugural do recém-criado campo de
pensamento das Relações Internacionais, surgido logo após o fim da Primeira Guerra Mundial.

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 Parada militar em comemoração à vitória na Primeira Guerra Mundial em 1919. Fonte: Everett
Collection | Shutterstock
 COMENTÁRIO

A corrente idealista, de caráter liberal, que será explicada no próximo módulo, antecede o realismo,
surgido como uma crítica aos idealistas e suas propostas.

Quando os autores clássicos da Teoria Realista escreveram suas ideias, eles não eram
considerados realistas e essa corrente ainda não existia.

A noção atual de realismo leva em conta os teóricos do pós-Primeira Guerra, que consideraram
pertinentes os escritos de autores clássicos, do século XV em diante.

 EXEMPLO

Quando Nicolau Maquiavel (1469-1527) escreveu sua obra mais conhecida O Príncipe, o italiano não foi
considerado realista por seus contemporâneos, apesar de atualmente configurar como um representante
desse pensamento.

O embate entre as duas correntes de pensamento dá vida ao famoso Primeiro Grande Debate das
Relações Internacionais que contrapõe:

IDEALISMO


REALISMO

OS IDEALISTAS FORAM DURAMENTE CRITICADOS PELOS


TEÓRICOS REALISTAS QUE DEFENDIAM QUE A UTOPIA
DESSA CORRENTE NÃO PODERIA GANHAR ESPAÇO NO
CAMPO DE PENSAMENTO DAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS, POIS IGNORAVA UM FATOR
CONSIDERADO FUNDAMENTAL AOS REALISTAS: AS
RELAÇÕES DE PODER.
(CARR, 1939)

O contexto em que um pensamento é desenvolvido é muito relevante para compreendermos suas


intenções, crenças e propostas. Uma teoria parece algo produzido artificialmente, mas não é bem assim.
Os autores analisam o mundo e o descrevem em seus textos, às vezes, sem muita preocupação com o
modo como seu pensamento será categorizado. O pensamento não é linear e homogêneo dentro de
uma corrente de pensamento.

POR EXEMPLO, AS IDEIAS DOS DIVERSOS PENSADORES


REALISTAS AO LONGO DA HISTÓRIA SOFRERAM MODIFICAÇÕES, E
ISSO PERMITIU A EXISTÊNCIA DE DISCORDÂNCIAS OU
INTERPRETAÇÕES DIFERENTES SOBRE OS MESMOS TEMAS; NO
ENTANTO, É JUSTAMENTE O CONJUNTO DE PREMISSAS COMUNS
QUE TODOS COMPARTILHAM, EM MAIOR OU MENOR GRAU, QUE
REÚNE TODO ESSE PENSAMENTO SOB UM MESMO GUARDA-
CHUVA TEÓRICO.
Para iniciar nossa jornada pelo realismo, a primeira premissa importante diz respeito ao ponto de partida
de seus teóricos, ou seja:

O QUE ELES BUSCAM ANALISAR NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS?

 Fonte: Sunny_baby | Shutterstock

A resposta é simples, ao mesmo tempo em que é complexa: os realistas são reconhecidos por seu
enfoque nas relações de poder, conferindo papel de coadjuvante a todos os outros elementos dentro de
suas análises. Para os teóricos desta corrente tudo é sobre poder.

CENTRALIDADE E RACIONALIDADE DO
ESTADO
Além de tudo ser sobre poder, é necessário entender quem são os verdadeiros donos do poder no
âmbito das Relações Internacionais.

É importante ter em mente o contexto no qual os autores produziam e teorizavam sobre o mundo. No
caso dos realistas, consideramos os conflitos armados não raros na Europa e em outras partes do
mundo. Utilizando essa ótica, ao considerarmos a quantidade de poder que detinham os Estados
nacionais soberanos, parece natural que os realistas passassem a conferir centralidade ao Estado em
suas análises, posicionando o Leviatã como o principal ator nas Relações Internacionais.

LEVIATÃ

A metáfora do Estado como leviatã tem como referência seminal o livro Leviatã ou matéria, palavra
e poder de um governo eclesiástico e civil escrito por Thomas Hobbes, em 1651. Utilizando o
Leviatã bíblico, o autor trata da estrutura da sociedade e do governo, e é considerado uma
importante referência para a Teoria do Contrato Social. A metáfora foi apropriada por outros
estudiosos que estudam as relações entre poder, instituição e Estado.

ISSO SIGNIFICA QUE EMBORA POSSA EXISTIR OUTRO ATOR, NÃO


É NEM DE LONGE TÃO PODEROSO COMO O ESTADO.
Os realistas acreditam que os Estados buscam maximizar seu poder na arena internacional. Não apenas
adquirir mais poder, mas também manter o poder que conquistaram por meio da formação do Estado,
sua legitimidade e soberania inquestionáveis. Os Estados são entendidos como atores racionais: tudo
o que fazem busca atender a seus interesses nacionais.

Para exemplificar a questão da racionalidade, pensemos no representante de um Estado soberano


(presidente, primeiro-ministro, rei etc.):
Fonte: tomertu | Shutterstock

Esse indivíduo é o máximo representante de uma estrutura de poder que, na visão realista, busca o
tempo todo e a qualquer custo assegurar sua existência e segurança além de tentar atingir seus
interesses nacionais.

Sob a ótica do realismo, como a noção de poder é limitada – para que um possua, o outro não pode
possuir –, decisões irracionais impedem a maximização da busca pelos interesses estatais e pode
ameaçar a sobrevivência do Estado.

 RESUMINDO

Os realistas não aceitam a ideia de um Estado (ou seus representantes) irracional, pois acreditam que,
com toda a capacidade humana, intelectual, científica, militar e diplomática, e a necessidade de garantir
a sua sobrevivência, não existe espaço para decisões ou atitudes incoerentes ou amadoras.

Os realistas buscam analisar as relações de poder e como os Estados nacionais são os detentores do
poder real, as análises se concentram nas relações de poder entre os Estados, formulando o
pensamento deles do que são as RI:

Um conjunto de relações e interações entre Estados soberanos na constante busca pelo poder e
pela sobrevivência.

SISTEMA INTERNACIONAL E O JOGO DE SOMA


ZERO
Conforme avançamos, é importante recapitular as premissas apresentadas até agora: as relações de
poder no centro das análises e a centralidade dos Estados nas observações realistas.

Agora, seguimos para a introdução do sistema internacional, um conceito muito importante para
compreender como as premissas anteriores se relacionam na prática e as demais teorias das Relações
Internacionais.

O SISTEMA INTERNACIONAL DE ESTADOS SOBERANOS,


COMUMENTE REDUZIDO APENAS A SISTEMA INTERNACIONAL É
CENTRAL NO ESTUDO DAS RI, POIS REPRESENTA O ESPAÇO, O
LUGAR ONDE AS INTERAÇÕES ENTRE OS ESTADOS ACONTECEM.
A definição do SI pode variar ligeiramente, com base na teoria que está sendo utilizada, pois parte de
pressupostos distintos. De forma geral, ele representa essa arena de interações entre os atores das
Relações Internacionais. Para os realistas, o SI é o lugar onde ocorrem as relações de poder, onde os
Estados soberanos interagem entre si.

Fonte:Shutterstock
 Fonte: Klim_Kem42 | Shutterstock

 ATENÇÃO

É importante mencionar que diferentes fatores, naturais ou não, influenciam nas capacidades de um
Estado e afetam a quantidade de poder que detêm.

Agora que você já viu um pouco sobre o pensamento racional, vamos testar seus conhecimentos!
Imagine dois países:

o país A possui um vasto território, com muitos recursos naturais: água, recursos minerais, relevo e
clima favoráveis à agricultura;

o país B, que possui relevo e clima desfavoráveis à agricultura, pouca água e é pobre em recursos
minerais.

De acordo com a lógica racional, qual seria a provável realidade econômica de cada um desses países?

RESPOSTA

O pensamento lógico sugere que o país A tenha melhores condições para ser mais forte do que o país B,
pois, com mais espaço, pode produzir mais alimentos, aumentar sua população, explorar as riquezas
naturais, comercializar o excedente e, assim, prosperar comercialmente. Já o país B teria dificuldades em
aumentar sua população pela dificuldade de produzir alimentos, pela escassez de água e de terras
adequadas. Igualmente, a falta de recursos minerais a serem explorados impede que usem ouro ou outros
metais para trocas com seus vizinhos. Desse modo, o país B é mais frágil e dependente de seus vizinhos.

 COMENTÁRIO

É importante lembrar que essa é apenas uma simplificação da realidade para fins didáticos. Diversos
fatores afetam essa questão e o debate teórico a respeito do motivo pelo qual as nações prosperam é
vasto e complexo.
Apesar de superficial, o exemplo serve para mostrar como são assimétricos os países no sistema
internacional. O tamanho da população, seus recursos naturais, seu grau de inovação, sua destreza
comercial e diversos outros fatores permitem que países prosperem enquanto outros permanecem
frágeis e dependentes. A lógica da escassez exemplifica, em alguma medida, a percepção realista.

É possível também traçar um paralelo entre a compreensão realista sobre:

PARALELO
Apesar de esse paralelo apresentar muitas falhas, ele é válido para fins didáticos.

MACRO

Sistema internacional

MICRO

Os indivíduos e as relações sociais

Assim como o indivíduo sofre com a escassez, é afetado pelas relações de poder na sociedade e
precisa tomar decisões racionais a fim de garantir sua sobrevivência e a manutenção de suas posses,
com os Estados acontece de maneira semelhante.

As premissas realistas partem do pressuposto de que a natureza humana é perversa, pessimista e


fortemente afetada por sentimentos como medo, prestígio (ligado à noção de poder) e ambição.

NO REALISMO, TODAS AS RELAÇÕES SOCIAIS SÃO


BASEADAS NAS RELAÇÕES DE PODER, EMPRESARIAIS,
FAMILIARES, POLÍTICAS E TAMBÉM O SISTEMA
INTERNACIONAL, O QUE EVIDENCIA O CARÁTER
POSITIVISTA DA TEORIA REALISTA, IMPONDO, COMO
REGRA GERAL, UMA OBSERVAÇÃO: SE A NATUREZA
HUMANA É EGOÍSTA, LOGO, TODA A VIDA SOCIAL SERÁ
EGOÍSTA.

(CASTRO, 2012)
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 Fonte: Tero Vesalainen | Shutterstock

Os realistas acreditam que o SI seja assimétrico, isto é, alguns possuem mais poder do que outros e,
portanto, cada Estado busca maximizar seu poder a fim de garantir sua sobrevivência e conquistar
meios de fortalecer suas capacidades, sempre com o intuito de consolidar o Estado e sua soberania.

Os diferentes Estados soberanos e racionais utilizam seu poderio para se relacionar com os outros
Estados no SI nas mais diversas áreas: comercial, diplomática, militar, cultural entre outras, e garantir
melhores negociações.

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O SI é também onde ocorrem as disputas de poder entre os atores que buscam sempre maximizar seus
ganhos, mesmo ao custo de fazer os demais perderem, o que é conhecido como um jogo de soma zero:
Vamos imaginar os países A e B, em que cada um deles produz 8 produtos. Durante o desenvolvimento
de suas estratégias de expansão, os dois decidem disputar o seu mercado.

Logo o país A percebe que possui mais recursos e vantagens em seu território para produzir 3 dos 8
produtos e, rapidamente, domina essa produção e afeta outras no país B, que, por sua vez, consegue
apenas aproveitar oportunidades em 2 produtos no país A.

Com o tempo, o país A consegue ganhar a disputa, dominando o mercado de B, aumentando o


sentimento de insegurança, desconfiança e hostilidade entre os Estados.

Isso evidencia a ausência de um Leviatã central capaz de governar o mundo todo e as relações
internacionais, como fazem os países dentro de seus territórios:

É a condição conhecida como caráter anárquico do SI ou apenas anarquia internacional.

 COMENTÁRIO
Fica evidente a importância de os atores estatais buscarem a racionalidade em suas ações visto que os
recursos são escassos, limitados e todos os atores estão lutando, ao mesmo tempo, para garantir a
própria sobrevivência (a existência do Estado), bem como o acesso a recursos (alimentos, água,
ferramentas de defesa, dinheiro etc.), tornando ações irracionais muito custosas e perigosas, algo
considerado arriscado demais para a sobrevivência do Estado.

TEMAS RELEVANTES PARA O REALISMO: A


ALTA E A BAIXA POLÍTICA
Ao considerarmos o contexto de escassez, de brigas constantes pelo poder e a racionalidade do Estado,
parece natural que os realistas definam uma hierarquia para os temas sensíveis e importantes.

A TEORIA COLOCA O TEMA DA SEGURANÇA NACIONAL NO


CENTRO DO DEBATE, TIDO COMO O ASSUNTO MAIS IMPORTANTE
PARA OS ATORES ESTATAIS, POIS DISCUTE A PRÓPRIA
EXISTÊNCIA DO ESTADO.
Desse modo, outras questões como comércio e cultura passam a ser secundárias e com menos
relevância na condução dos trabalhos.

Assim, surge uma divisão entre as:

High politics - alta política

Tudo o que é de extrema importância para a segurança nacional, como as questões militares e de
defesa, que incluem manutenção da paz doméstica, capacidades de defesa perante uma ameaça
externa e a manutenção do monopólio estatal do uso da força.
Low politics - baixa política

Temas de relevância secundária, que incluem questões comerciais, culturais, e de outras naturezas.

Essa é a mentalidade dos realistas e como eles percebem o mundo. Em seguida, apresentaremos os
principais autores, que escreveram suas teorias em épocas e contextos diferentes, mas com premissas
comuns como as que temos apresentado.

PRINCIPAIS AUTORES DA TEORIA REALISTA


O arcabouço de pensamento da Escola Realista foi construído ao longo de séculos e, portanto, dividido
entre duas fases principais: o realismo clássico e o realismo moderno.

REALISMO CLÁSSICO

REALISMO MODERNO

REALISMO CLÁSSICO

Representado por autores como Tucídides, do século IV a.C., Maquiavel e Hobbes, nos séculos XV e
XVI e Max Weber no século XIX.
REALISMO MODERNO

Pecequilo (2016, p. 26) agrupa os realistas modernos a partir do século XX, nomeando E. H. Carr entre
1919 e 1939 e sua importante obra sobre os Vinte anos de crise, segue com Hans Morgenthau e o
realismo neoclássico, entre 1940 e 1960.

Apesar da diferença de tempo e de conjuntura que marca os teóricos do realismo pré-século XX, que
conta com nomes como o de Tucídides (século X a.C.), Maquiavel (século XVI), Hobbes (século XVII),
Rousseau (século XVIII) e Weber (século XIX), todos buscam explicações para duas questões
importantes de suas épocas, por meio das análises sobre:

Poder e suas relações

Examinando guerras, decisões políticas, alianças e confrontos


Natureza humana

O ser humano é naturalmente perverso, uma vez que está constantemente em busca de glória e poder,
agindo de maneira egoísta e conflitiva na busca de conquistar seus objetivos ou manter suas conquistas
e seus interesses

REALISMO CLÁSSICO

Castro (2012) evidencia a sobrevivência e a manutenção do Estado como centrais para o realismo, que
utiliza como ferramentas a conservação do poder e a preservação da ordem. Abaixo, apresentamos,
resumidamente, o pensamento de três importantes autores da escola realista clássica:

TUCÍDIDES
Viveu no período da Grécia Antiga; o sistema internacional que analisou se limitava basicamente às
cidades-Estados gregas. Apesar de escrever sobre os conflitos do período, inclusive a junção da Liga
Helênica, no combate a Atenas, em busca de um equilíbrio de poder, o teórico acreditava que o
desequilíbrio de poder era natural e inevitável entre os Estados, afirmando que estes deviam se adaptar
ao poder desigual.

Para Tucídides, na anarquia internacional, os Estados não possuem muitas escolhas a não ser buscar
maximizar sua força usando a política do poder na qual a sobrevivência e a segurança configuram os
principais valores (JACKSON; SORENSEN, 2007).
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 Busto de Tucídides, autor desconhecido, (séc. IV). Fonte: Captmondo.

MAQUIAVEL
Descreveu seus pensamentos no contexto da Itália dividida entre diferentes repúblicas em que a
rivalidade reinava. No cenário hostil, Maquiavel reconheceu a centralidade do Estado, dando ênfase
especial à realidade observada e não fruto da imaginação ou idealizações.

Seus escritos evidenciam a necessidade dos governantes (príncipes) em garantir a segurança do


Estado, em um mundo de natureza desordenada, em que todos fogem da opressão dos fortes ao
mesmo tempo que os fortes buscam oprimir os fracos.

Sua visão do sistema internacional sugere que os príncipes estejam sempre prontos para a guerra, pois
é a única forma, juntamente com boas leis, de garantir a segurança do Estado ao mesmo tempo que
demonstra força e capacidade aos demais, o que contribui para evitar conflitos. A guerra também é vista
como uma ferramenta de governantes para alcançar seus objetivos, mesmo que seja a busca por
riquezas e glórias (SARFATI, 2005).
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 Retrato de Nicolau Maquiavel, Santi di Tito, (séc. XVI). Fonte: Thomas Gun.

THOMAS HOBBES
Descreveu o que seria o Estado de natureza, que diz respeito à condição natural pré-civil da
humanidade caracterizada como solitária, pobre, bruta e curta, onde existe um Estado permanente de “
guerra de todos contra todos”.

O Estado surge como um mal necessário para que os indivíduos possam desfrutar de mais
ordenamento, segurança e previsibilidade (o Leviatã). Para Hobbes, a criação do Estado — que põe fim
ao Estado de natureza —, é fruto da emoção dos indivíduos, que temem a morte, mais do que da razão.

No campo internacional, o Estado de natureza é mantido, uma vez que o SI é marcado pela anarquia;
isso é chamado de “dilema da segurança”, não podendo ser superado pela impossibilidade de criar um
governo mundial, visto que os Estados soberanos se diferem dos indivíduos e não desejam abrir mão de
suas soberanias.

Hobbes também defende que a guerra é necessária como recurso final para solucionar litígios entre
Estados (JACKSON; SORENSEN, 2007).
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 Retrato de Thomas Hobbes, autor desconhecido (séc. XV). Fonte: FranksValli.

REALISMO MODERNO

O realismo moderno representa um período mais recente da Escola Realista, e surge a partir do
fracasso do idealismo wilsoniano após a Primeira Guerra Mundial. Os dois expoentes mais importantes
são Edward Carr e Hans Morgenthau.

EDWARD CARR
Publicou seu livro Vinte anos de crise, em 1939, criticando duramente o idealismo wilsoniano com
inspirações liberais do passado, carregado de uma falsa utopia, impedindo uma visão realística da
realidade.

Carr retoma o pensamento realista clássico apesar de ainda não construir nova teoria voltada para as
Relações Internacionais. Assim, por vezes, sua posição entre os teóricos realistas modernos é
questionada.

Para o autor, a política internacional é movida pelo poder e, no contexto do SI anárquico, não existem
cooperações estatais movidas por valores ou princípios, mas equilíbrios de poder e convergências
setoriais para assegurar a sobrevivência e segurança do Estado.

Do mesmo modo, a política internacional não possui travas e tem nas relações de poder o meio e o fim
de toda a ação estatal, considerando sua racionalidade como ferramenta para expandir seu poderio.
Para Carr, as principais fontes de poder no SI são bélica, econômica e de opinião, portanto, o país que
detém essas fontes determina a direção da política internacional (PECEQUILO, 2016).

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 Retrato de Edward Carr, autor desconhecido (1892). Fonte: Themightyquill.

HANS MORGENTHAU
É considerado o pai da Escola Realista neoclássica (novo clássico), que inovou e trouxe contribuições
ao novo campo do conhecimento: as Relações Internacionais.

Morgenthau (1985) descreve a busca humana pelo poder como natural e a política um espaço de luta
pelo poder.

Ele retoma o pensamento clássico ao defender uma moral para a esfera privada e outra para a pública,
diferentemente da ética idealista de Wilson, considerada imprudente pelo autor. Suas principais
contribuições se resumem aos seis princípios do realismo político:
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 Retrato de Hans Morgenthau, Ralph Morse, (1963). Fonte: Gobonobo.

A política reflete a natureza humana egoísta e interesseira

A política não pode ser reduzida à economia ou à moral

A política internacional espelha o interesse natural humano de autopreservação e segurança onde os


interesses são conflitantes e dinâmicos

A ética, nas Relações Internacionais, é política, muito diferente da ética particular dos indivíduos, pois há
uma grande responsabilidade para com a população

Os realistas se opõem à imposição de valores e crenças por parte de um país ou um grupo sobre outros,
representando uma ameaça à segurança internacional

É importante reconhecer a natureza pessimista dos seres humanos e a política internacional deve levar
isto em consideração ao invés de idealizar a natureza humana

CONCLUSÃO
Neste módulo, discutimos a Escola Realista das Relações Internacionais em duas de suas principais
vertentes: o realismo clássico e o moderno.

VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. AO CONSIDERAR A ÓTICA REALISTA, IDENTIFIQUE ABAIXO A ALTERNATIVA
QUE REPRESENTA ALGUNS DOS TEMAS MAIS CAROS AOS REALISTAS, QUE
SE ENCAIXAM NO CONCEITO DE HIGH POLITICS, A ALTA POLÍTICA:

A) Comércio Internacional

B) Educação e cultura

C) Segurança e defesa nacional

D) Relações diplomáticas e consulares

E) Tecnologia e inovação

2. IDENTIFIQUE ABAIXO QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO


PENSAMENTO REALISTA COM RELAÇÃO À NATUREZA HUMANA E O OBJETO
CENTRAL DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS:

A) Relações de poder e cooperação internacional.

B) Estado de natureza e cooperação técnica internacional.

C) Natureza humana perversa e idealismo.

D) Natureza humana perversa e as relações de poder.

E) Natureza humana boa e as relações de poder.

GABARITO

1. Ao considerar a ótica realista, identifique abaixo a alternativa que representa alguns dos temas
mais caros aos realistas, que se encaixam no conceito de high politics, a alta política:

A alternativa "C " está correta.

Para os realistas, os temas que envolvem a preservação do Estado são prioritários, incorporando
assuntos como as questões militares, a manutenção da paz doméstica e as capacidades de defesa
perante ameaças externas.

2. Identifique abaixo quais são as principais características do pensamento realista com relação à
natureza humana e o objeto central das Relações Internacionais:

A alternativa "D " está correta.


Os realistas acreditam que a natureza humana seja perversa e egoísta, e da mesma forma percebem as
relações de poder na sociedade como principal objeto de análise das Relações Internacionais.

MÓDULO 2

 Reconhecer os liberalismos e seus principais conceitos

No vídeo a seguir, o Professor Marcelo Gomes, mestre em Inovação, Desenvolvimento Humano e


Sustentabilidade, fala mais sobre a trajetória da ONU. Vamos assistir!

Neste modulo, apresentaremos os liberalismos, seus principais conceitos e seu pensamento no âmbito
das Relações Internacionais. Discutiremos as diferenças entre os liberalismos político e econômico,
considerando os liberalismos clássico e moderno.
O termo liberalismo está associado à noção de liberdade e surgiu durante o século XVIII em um contexto
no qual a burguesia buscava ampliar suas liberdades econômicas, políticas, intelectuais e sociais, além
de combater os excessos do absolutismo monárquico e as imposições religiosas.

O LIBERALISMO SURGIU COMO UMA CRÍTICA À AUSÊNCIA DE


LIBERDADES DOS INDIVÍDUOS, QUE VIVIAM EM SOCIEDADES EM
QUE O CONTROLE DOS REIS E O DA IGREJA ERA MUITO FORTE.
Quando falamos em liberalismos, no plural, estamos nos referindo às diferentes dimensões desta
corrente de pensamento: os liberalismos político, econômico e filosófico. Neste módulo, limitaremos
a discussão aos liberalismos político e econômico, mais relevantes ao nosso tema.
LIBERALISMO POLÍTICO
Representa a busca pela ampliação das liberdades no campo político, mais precisamente com o objetivo
de combater os excessos do absolutismo monárquico, ou seja, o poder total e irrestrito dos monarcas
(reis, rainhas e príncipes) e das instituições religiosas que, juntos, representavam o chamado antigo
regime. Veja mais a seguir:

Fonte:Shutterstock
 Galeria dos espelhos no Palácio de Versalhes. Fonte: Myrabella.

Absolutismo monárquico

Essa organização social impunha aos indivíduos uma série de instituições como a da família, da ordem,
do Estado e da Igreja.


Liberalismo político

Rompimento com as instituições do antigo regime e defesa dos direitos políticos dos indivíduos, como os
direitos de propriedade, de expressão, de associação; e um Estado livre dos abusos de um governante
que, praticamente, podia tudo.

Nesse contexto, um importante teórico dessa escola de pensamento, defendia o princípio da separação
de poderes:
Retrato do Barão de Montesquieu. Fonte: Alonso de Mendoza.

MONTESQUIEU (1689-1775)

A separação dos poderes desassociava as autoridades religiosas e políticas, tidas como inseparáveis
no antigo regime. Entre seus teóricos mais importantes figuram também John Locke (1632-1704), Alexis
de Tocqueville (1805-1859) e Benjamin Constant (1836-1891) (DORTIER, 2010).

LIBERALISMO ECONÔMICO
Diz respeito à dimensão econômica dessa corrente de pensamento e tem como uma de suas máximas o
princípio do laissez-faire (“deixar fazer”). Nele, a teoria gira em torno de duas premissas centrais:

Livre empreendedorismo é a melhor forma de estimular a produção


Livre comércio representa a melhor forma de dividir a riqueza

Essa corrente também é subdividida entre os liberais clássicos, entre os quais se destacam Adam
Smith (1723-1790), David Ricardo (1772-1823), John Stuart Mill (1806-1873), e os liberais
neoclássicos que reformularam o pensamento inicial durante os anos 1870.
APESAR DE SUA ORIGEM REMOTA, O LIBERALISMO
SOFREU DIVERSAS MODIFICAÇÕES E ATUALIZAÇÕES,
SENDO AINDA CONSIDERADO UMA IMPORTANTE
CORRENTE TEÓRICA.

(DORTIER, 2010)

 COMENTÁRIO

O economista Paulo Guedes (1949-) é considerado de caráter liberal, o que comprova a relevância
desse pensamento ao longo do tempo. É claro que ao ser considerado liberal ele não é uma cópia do
pensamento clássico do liberalismo, mas inspirado e partilhando de princípios comuns, como
reconhecer a importância dos mercados, da liberdade econômica e da defesa de poucas regulações na
economia.

LIBERALISMO CLÁSSICO
Oferece as bases para o pensamento liberal nas Relações Internacionais, também conhecido como
idealismo, e representa uma oposição ao pensamento realista.

Uma premissa importante para o liberalismo, que revela os contrastes em relação ao pensamento
realista, é justamente a centralidade do Estado:

APESAR DE NÃO DESCONSIDERAR A SUA IMPORTÂNCIA NAS


RELAÇÕES INTERNACIONAIS, O LIBERALISMO CLÁSSICO
RECONHECE OUTROS ATORES COMO RELEVANTES, TANTO NO
INTERIOR DOS ESTADOS COMO NA ESFERA INTERNACIONAL.
Alguns dos liberais clássicos de maior proeminência são:
Retrato de Charles-Irénée Castel de Saint-Pierre, François de Troy (séc. XVIII). Fonte: Ecummenic

ABADE DE SAINT-PIERRE

(1658-1743)

Retrato de John Locke, Sir Godfrey Kneller (1779). Fonte: Wow


JOHN LOCKE

(1632-1704)

Retrato de Immanuel Kant, Johann Gottlieb Becker (1768). Fonte: UpdateNerd

IMMANUEL KANT

(1724-1804)

Esses autores se diferem dos realistas também pela percepção progressista e otimista sobre a
natureza humana: confiam no progresso humano, na divisão de responsabilidades coletivas em busca
de um bem comum como a paz, a justiça e a cooperação. Defendem também as instituições
multilaterais, os regimes internacionais e a força dos acordos internacionais.

Entusiastas do pacifismo cooperativo, transparente e progressista, defendem a cooperação estatal como


um modo de alcançar os ideais literários de:
Miniatura da primeira página de um manuscrito do século XV. Marsílio é representado entregando um
cópia do manuscrito ao imperador. Fonte: Πυλαιμένης

MARSÍLIO DE PÁDUA

(1275-1342)

A comunidade perfeita

Retrato de Thomas More, Hans Holbein (1527). Fonte: File Upload Bot
THOMAS MORE

(1478-1535)

Utopia

Segundo Castro (2012), de forma resumida, as principais premissas do pensamento liberal clássico são:

Lógica da boa-fé

Importância da cooperação internacional, das relações internacionais baseadas no princípio da


igualdade e em normas

Criação de uma estrutura global de valores compartilhados, por meio da qual um sistema jurídico seria
capaz de promover a paz e a justiça

Os liberais possuem uma visão positiva e otimista acerca da natureza humana e defendem a garantia
das liberdades individuais como um dos princípios do Estado justamente por admitirem a
racionalidade e a razão humana.

Eles acreditam em um grande potencial de progresso para a humanidade e na prosperidade da


economia capitalista, amparada por um Estado que promova as liberdades a fim de garantir felicidade
ao maior número de indivíduos.

Apesar de reconhecerem características egoístas e competitivas nos seres humanos, afirmam que a
existência de valores e crenças comuns permite haver engajamento e cooperação na sociedade entre
os indivíduos, o que também se aplicaria ao contexto internacional, promovendo ganhos mútuos
internamente e no exterior.

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A CRENÇA LIBERAL CONSIDERA QUE A GUERRA PODE


SER EVITADA, UMA VEZ QUE A RACIONALIDADE PERMITE
QUE OS INDIVÍDUOS COOPEREM E SE BENEFICIEM
MUTUAMENTE, EM CONTRAPOSIÇÃO AOS REALISTAS,
CONFIANDO NA RAZÃO HUMANA COMO UMA
FERRAMENTA DE COMBATE AO MEDO E À COBIÇA PELO
PODER JUSTAMENTE PELA FÉ NA EXISTÊNCIA EM
VALORES E CRENÇAS COMUNS QUE FOMENTAM A
COOPERAÇÃO.

(JACKSON; SORENSEN, 2007)

O IDEALISMO DE WILSON

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No fim da Primeira Guerra Mundial, a escola liberal ganhou impulsos com a agenda internacional do
presidente norte-americano Woodrow Wilson (1856-1924), tornando-se um importante referencial para o
campo.
Retrato de Woodrow Wilson, Frank Graham Cootes (1913). Fonte: Futurist110.

O Programa para a paz mundial, também referido como os Quatorze pontos de Wilson, foi um
discurso proferido em 1918, na capital dos Estados Unidos, que discutiu a questão da Guerra e propôs
soluções para o Tratado de Versalhes, que aconteceria no ano seguinte, fornecendo as bases para o
pensamento dessa corrente apelidada de idealista.

Os pontos de Wilson, investido dos princípios liberais, incluíam a defesa da diplomacia aberta, da
transparência, do desarmamento e a liberdade comercial, ao mesmo tempo em que fazia críticas ao
imperialismo europeu. Esse discurso foi responsável por introduzir três importantes princípios:

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Democracia

Referia-se à relação de dependência entre paz e democracia, que ecoava os princípios liberais de
igualdade, liberdade, cooperação e transparência.
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Autodeterminação dos povos

Representavam inovações, pois defendia o fortalecimento da colaboração entre Estados.

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Segurança coletiva

Previa a criação de uma estrutura permanente, que funcionaria como um mecanismo de defesa coletiva,
que não mais se apoiaria em alianças militares esporádicas ou estratégicas: a Liga das Nações, um
marco importante do sistema multilateral, base para a criação da Organização das Nações Unidas
(ONU) e de seu sistema.
 COMENTÁRIO

Mesmo válido, o modelo idealista sofreu duras críticas à época; uma série de eventos relevantes como a
Crise de 1929, o expansionismo territorial de regimes autoritários na Europa e na Ásia e o início da
Segunda Guerra Mundial pareciam ter colocado um ponto final nessa corrente de pensamento.

De acordo com Pecequilo (2016), inspirada em alguns dos pontos de Wilson como a defesa da
democracia e da cooperação, foi construída, após o fim da Segunda Guerra, a chamada ordem global
liberal, novamente liderada pelos Estados Unidos, muito fortalecidos pelo conflito, e que sacramentou
seu poderio em âmbito internacional.

PRIMEIRO GRANDE DEBATE DAS RELAÇÕES


INTERNACIONAIS: IDEALISMO VS. REALISMO
O Primeiro Grande Debate das Relações Internacionais marcou a fase de surgimento e consolidação
desse campo de estudo, entre o fim da década de 1910 e os anos 1960, e ocorreu entre suas escolas
precursoras: o idealismo e o realismo moderno, ressurgindo como uma resposta à utopia liberal.

O contexto do primeiro debate engloba o fim da Primeira Guerra Mundial

Passa pela eclosão da Segunda Guerra Mundial

E pela consolidação da hegemonia norte-americana, tendo como princípio norteador da discussão do


objeto de estudo das RI (PECEQUILO, 2016)
A Escola Realista representada por E. H. Carr se contrapunha ao idealismo representado pelas ideias
do presidente Wilson, afirmando que o objeto de estudo das Relações Internacionais não poderia tomar
como base construções ideológicas utópicas e distantes da realidade, pois afirmava que os idealistas
ignoravam o tema que para os realistas era central para a compreensão e análise do internacional:

AS RELAÇÕES DE PODER NA POLÍTICA INTERNACIONAL


A Escola Realista considerava inviável o uso de um modelo teórico que não levava em conta a realidade
como ela era de fato, mas baseada em meras suposições e interpretações sobre a natureza humana.
Além disso, as oposições também se aplicavam às questões de poder, cooperação e conflito, paz,
segurança coletiva e equilíbrio de poder.

Segundo Pecequilo (2016), apesar de ambas as teorias utilizarem o mesmo arcabouço metodológico em
suas análises, as principais discordâncias estão ligadas ao conteúdo e à interpretação, encontrando
explicações nos distintos pontos de partida de cada escola:

A visão focada das relações de poder

O enfoque nas questões que envolvem a paz e a cooperação

NATUREZA DA ANÁLISE DAS DUAS TEORIAS

Teoria Liberal (idealismo)

Pensada no contexto doméstico dos países, no sentido de promover as liberdades individuais dos
cidadãos. Suas premissas são centradas no indivíduo e reproduzidas no campo da política internacional.


Teoria Realista

Pensada justamente para o campo conflitivo das Relações Internacionais. Uma diferença fundamental
na teoria evidencia essa disparidade: o Estado de natureza, dentro de um território, pode ser controlado
ou eliminado por meio da instituição de um Estado.

No campo internacional, a criação de um Estado não é possível e, portanto, a análise micro não é
aplicável ao macro e vice-versa. Qualquer forma de simplificação reduz a riqueza e a complexidade do
pensamento dessas teorias (DOYLE, 1997).
LIBERALISMO PÓS-SEGUNDA GUERRA:
FUNCIONALISMO
Apresentadas as principais contribuições do pensamento liberal clássico para o campo das relações
internacionais reforçadas pelo idealismo wilsoniano, a corrente liberal de pensamento continua vigente e
é contemporânea.

O fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, representou um importante momento para as Relações
Internacionais.

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O período foi marcado pelo fortalecimento dos Estados Unidos, que passaram a liderar a chamada
“ordem liberal”, retomando valores liberais clássicos e elementos do idealismo, percebido como
superado, em busca de uma nova Teoria Liberal.

O funcionalismo busca fornecer à teoria liberal bases científicas realísticas para a análise dos
fenômenos e eventos internacionais, descolando a nova teoria das críticas ao idealismo utópico
entendido como irreal e adotando metodologia similar à realista de observar o mundo como ele
realmente é, mas destacando os elementos que reforçam sua fé na cooperação e não no conflito.

 ATENÇÃO

O objetivo principal dessa corrente é analisar o funcionamento das organizações internacionais e como
a colaboração, em determinados assuntos, pode resultar no incremento da cooperação. Assim,
abandonaram o desejo de criar uma instituição global, como foi pensada a Liga das Nações, e focaram
na construção de organizações relativamente menores para atuar com funções específicas.

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A proposta era fortalecer essas organizações até que ficasse evidente aos Estados que a única
resposta aos problemas globais seria a cooperação.

Essa teoria também contribuiu com a criação de outras correntes como a Teoria da Integração
Regional, que via na integração europeia a chave para que Estados, historicamente rivais,
cooperassem.
A BASE DO PENSAMENTO FUNCIONALISTA ESTÁ NA
PREMISSA LIBERAL DE QUE É POSSÍVEL CONSTRUIR A
PAZ DURADOURA POR MEIO DA COOPERAÇÃO,
ENTENDENDO QUE O AVANÇO TÉCNICO PRODUZ
RESULTADOS TAMBÉM POLÍTICOS DESEJÁVEIS COMO A
COOPERAÇÃO E A PAZ. A PRINCIPAL CRÍTICA AO
FUNCIONALISMO DIZ RESPEITO AO EXCESSIVO OTIMISMO
COM QUE PERCEBEM A RELAÇÃO ENTRE A TÉCNICA E A
POLÍTICA, DESACREDITADA PELAS DIFICULDADES NO
PROCESSO DE INTEGRAÇÃO EUROPEIA QUE
ENFRAQUECEU A NOÇÃO DE QUE ERA POSSÍVEL
DESVENCILHAR O PROGRESSO TÉCNICO DAS DECISÕES
POLÍTICAS.

(NOGUEIRA; MESSARI, 2005)

CONCLUSÃO
Em função do caráter praticamente antagônico das duas teorias estudadas, é possível identificar que
ambas concorrem, lado a lado, por espaço nas arenas internacionais. O liberalismo, ao contrário dos
realistas, é marcado por seu constante otimismo e a mentalidade positiva com relação ao progresso
humano. Acreditam na força da economia e da prosperidade na construção de um mundo melhor,
utilizando, como ferramentas principais, a cooperação internacional, o direito internacional e a
diplomacia.

Quando pensamos nos organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e
suas agências especializadas, repletas de trabalhos técnicos de cooperação, devemos lembrar das
premissas liberais que constituem o alicerce sobre o qual essas entidades foram construídas e
permanecem ativas.
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Na atual conjuntura, grandes potências, como os Estados Unidos, levantam questionamentos com
relação à eficiência do sistema multilateral, colocando em jogo toda a construção da ordem liberal
ocidental.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. EM RELAÇÃO AO LIBERALISMO E À CONSTRUÇÃO DE SEU PENSAMENTO


AO LONGO DO TEMPO, RECONHEÇA DUAS DAS PRINCIPAIS DIMENSÕES
DESTA CORRENTE DE PENSAMENTO:

A) Liberalismo econômico e político

B) Liberalismo político e wilsoniano

C) Liberalismo kantiano e o antigo regime

D) Liberalismo realista e moderno

E) Liberalismo cooperativo e realista


2. SEGUNDO A LÓGICA LIBERAL, RECONHEÇA, ENTRE AS ALTERNATIVAS,
QUAL MELHOR REPRESENTA A PERCEPÇÃO LIBERAL ACERCA DA NATUREZA
HUMANA.

A) Conflitiva, cooperativa e positiva

B) Positiva, conflitiva e beligerante

C) Pessimista, egoísta e negligente

D) Positiva, racional e cooperativa

E) Negativa, racional e egoísta

GABARITO

1. Em relação ao liberalismo e à construção de seu pensamento ao longo do tempo, reconheça


duas das principais dimensões desta corrente de pensamento:

A alternativa "A " está correta.

O liberalismo surge como uma resposta econômica e política ao antigo regime e se contrapunha às
instituições políticas e religiosas, ao mesmo em tempo que questionava o protecionismo e as regulações
estatais.

2. Segundo a lógica liberal, reconheça, entre as alternativas, qual melhor representa a percepção
liberal acerca da natureza humana.

A alternativa "D " está correta.

A corrente liberal tem uma visão otimista e positiva acerca do ser humano, acredita na racionalidade dos
indivíduos, confiando no progresso humano e na cooperação.

MÓDULO 3

 Comparar as escolas de Economia Política Internacional


No vídeo a seguir, o Professor Marcelo Gomes, mestre em Inovação, Desenvolvimento Humano e
Sustentabilidade, fala mais sobre a trajetória da Organização Mundial do Comércio. Vamos assistir!

INTRODUÇÃO
O campo da Economia Política surge por volta de 1615 com o objetivo de analisar e compreender o
aspecto regulatório e político das relações econômicas. No campo das Relações Internacionais, o objeto
de análise passa a ser o caráter político das relações econômicas no sistema internacional
envolvendo diferentes atores.

Apesar de alguns teóricos defenderem a autorregulação dos mercados, atualmente eles são regidos por
um conjunto de normas criadas e impostas pelo poder político.

A Economia Política Internacional deriva justamente das complexas relações entre as forças econômicas
e as políticas. Segundo Polanyi (1957), o que se discute prioritariamente por essa corrente de
pensamento, no âmbito internacional, são as relações de riqueza e pobreza, identificando quem ganha e
quem perde com o sistema como está tendo como principais forças a busca pela riqueza (economia) e a
busca pelo poder (política).

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PRINCIPAIS CONCEITOS
Os estudos da Economia Política Internacional (EPI) são responsáveis por romper com as tradições
liberal e realista no sentido de ampliar o enfoque, afastando-se da constante dualidade em torno da
cooperação e do conflito, ou entre a paz e a guerra.

Até os anos 1950 e 1960, o campo das RI tratava a economia e a política como temas desconexos e
completamente diferentes.
 Contra-ataque das Forças Armadas Revolucionárias Cubanas durante a invasão da Baía dos
Porcos, 19 de abril de 1961. Fonte: Panoramio upload bot.

Durante o período de Guerra Fria, com ameaças recíprocas e a corrida armamentista; o tenso episódio
da Baía dos Porcos (Cuba); a recém-terminada Segunda Guerra Mundial que dizimou dezenas de
milhões de pessoas e; em um espaço de tempo mais distante, as lembranças da Primeira Guerra
Mundial. Nesse contexto conflituoso e pessimista, as teorias do realismo e do liberalismo produziram
parte de seus pensamentos a respeito do mundo durante o século XX.

Já estudamos que os temas de alta política incluíam a segurança e a paz enquanto os temas de baixa
política discutiam as questões econômicas e os demais assuntos da arena política. Os teóricos
pensavam desse modo, bem como os presidentes de países importantes, como General Charles de
Gaulle (1890-1970), da França.

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Com uma abordagem diferente, a EPI concentra seus esforços na análise das relações de riqueza,
pobreza e distribuição no sistema internacional, considerando não apenas os Estados, mas também
outros atores como os mercados e as empresas transnacionais.

As principais teorias, que compõem e formam a EPI clássica, derivam de outros campos e, assim como
vemos em diferentes teorias das Relações Internacionais, emprestam suas contribuições às análises da
corrente. Entre as teorias clássicas da EPI, destacam-se:

Liberalismo

Realismo ou mercantilismo

Marxismo

Nos anos 1970, sucessivos eventos e crises econômicas evidenciaram a importante relação entre a
política e a economia, demonstrando que a abordagem anterior talvez fosse equivocada ao dissociar as
duas forças. Veja alguns desses eventos a seguir:

Militares americanos lutando contra os norte-vietnamitas, US Army Signal Corps (1966). Fonte:
Madmax32.

A crise econômica norte-americana causada pela Guerra do Vietnã.

O rompimento do presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon (1913-1994), com o princípio da
conversibilidade do dólar junto ao ouro, sacramentado em Bretton Woods.
Nixon no discurso sobre o Estado da União, White House Photo Office (1971). Fonte: Érico.

Bandeiras indicando a disponibilidade de combustíveis, durante a crise do petróleo, David Falconer


(1974). Fonte: Hohum.

A Crise do Petróleo, conduzida no âmbito da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).

Os processos de descolonização na África.

Charge sobre a descolonização da África publicada no jornal alemão Neue Leute (1960). Fonte:
CVCE.EU por UNI.LU.

Assim, essa relação ganhou reconhecimento, visibilidade e passou a ser investigada no âmbito da
economia política internacional (JACKSON; SORENSEN, 2007).

PRINCIPAIS CORRENTES DE PENSAMENTO


Algumas das teorias tradicionais das Relações Internacionais contribuem na construção do pensamento
da EPI. As teorias tradicionais do liberalismo e realismo se somam a abordagens ainda novas, neste
tema, como é o caso do marxismo. Vamos conhecê-las.
REALISMO
O pensamento realista da EPI é baseado na lógica mercantilista dos séculos XVI e XVII, em que a
economia estava subordinada aos caprichos da política. Essa noção está associada à ideia de que
a riqueza (economia) deva existir para servir à política, no sentido de permitir a construção de um
Estado forte.

 RESUMINDO

Almeida (2013) define o mercantilismo como um conjunto de práticas dos Estados absolutistas
modernos que buscavam financiar seus gastos crescentes com suas burocracias e forças armadas. Este
último elemento está associado à ideia apresentada de um Estado forte, capaz de garantir a sua defesa.

O mercantilismo pode ser compreendido como a expressão econômica do absolutismo


monárquico, um dos pilares do velho regime.

Veja alguns exemplos a seguir:

BRASIL
Lembre-se do período das Grandes Navegações, entre os séculos XV e XVII, quando o Brasil foi
colonizado pela Coroa portuguesa. A lógica da colonização portuguesa, no Brasil, reproduzia a
mentalidade mercantilista de acúmulo de capital para o fortalecimento do Estado, que, em alguns casos,
era confundido com a própria figura do rei.
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 Derrubada do Pau Brasil, primórdios do período colonial, no século XVI, Andre Thevet (1515). Fonte:
André Koehne.

FRANÇA
Luís XIV, o Rei Sol, certa vez afirmou que ele era o próprio Estado.

Na França daquele tempo, a construção do Castelo de Versalhes ilustra a lógica da economia


subordinada à política. A corte vivia reunida, afastada da gente comum, em uma vida repleta de luxos e
ostentação no maior palácio da Europa, onde 700 quartos permaneciam à disposição da aristocracia
francesa.

Esse descompasso figura como uma das razões que contribuíram para a Revolução Francesa, em
1789, tendo como um de seus objetivos colocar fim ao absolutismo monárquico do antigo regime.
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 Retrato de Luís XIV, o Rei Sol, Hydryphantidae (1701). Fonte: Abdicata.

O REALISMO ENTENDE A ECONOMIA INTERNACIONAL COMO UM


CAMPO DE DISPUTAS, COMPETIÇÕES E RELAÇÕES DE GANHO
ABSOLUTO, OU SEJA, PARA QUE UM ESTADO GANHE, O OUTRO
DEVE PERDER (O JOGO DE SOMA ZERO).
Essa lógica evidencia a necessidade de maximizar os ganhos econômicos, pois quanto mais se
permite que outros Estados ganhem e enriqueçam maior é a capacidade militar que adquirem e mais
são as chances de uma invasão, o que coloca o sistema internacional em um ambiente constante de
desconfiança e medo.

Segundo Gilpin (2001), a rivalidade econômica estatal acontece de duas maneiras:

MERCANTILISMO BENIGNO
MERCANTILISMO AGRESSIVO

MERCANTILISMO BENIGNO

O Estado busca maximizar seus ganhos para se fortalecer e garantir sua segurança nacional sem
causar excessivos prejuízos aos demais Estados.
MERCANTILISMO AGRESSIVO

Políticas expansionistas, aquisição e exploração de colônias são consideradas as principais práticas,


buscando sempre o fortalecimento das capacidades militares e políticas, que reforçam as capacidades
econômicas entendidas como complementares, mesmo com a clara primazia da política sobre a
economia.

LIBERALISMO
A expressão do liberalismo, no âmbito da Economia Política Internacional, está, sobretudo, relacionada
ao liberalismo econômico, que surge como uma resposta ao mercantilismo e às constantes
interferências da política na economia.

 RELEMBRANDO

Apesar de já tratado na parte sobre liberalismos, vamos recapitular algumas das principais premissas do
liberalismo econômico, especialmente no que diz respeito ao contexto da EPI: as relações entre política
e economia.

Para os liberais, a economia não deve ser colocada em segundo plano, pois acreditam que os mercados
são capazes de promover a cooperação, o progresso humano e a prosperidade. Assim, suas análises
têm como base:
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O pressuposto da racionalidade dos indivíduos

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A crença nos ganhos relativos e mútuos, permitindo que as duas partes saíssem ganhando em uma
relação

O CONCEITO DE LIVRE COMÉRCIO É UM ELEMENTO IMPORTANTE


DO PENSAMENTO LIBERAL, EM QUE OS MECANISMOS DOS
MERCADOS SÃO CAPAZES DE GERAR SUAS PRÓPRIAS
REGULAÇÕES, EM UM PROCESSO DE AUTORREGULAÇÃO, SEM A
NECESSIDADE DE INTERVENÇÃO DO ESTADO E DE SUAS
POLÍTICAS. NESSA LÓGICA, QUANTO MAIS AUTONOMIA POSSUEM
OS MERCADOS, MAIORES SÃO AS SUAS CAPACIDADES DE
PRODUZIR RIQUEZA DE MANEIRA EFICIENTE.
Autores clássicos do liberalismo oferecem interessantes reflexões a respeito do papel dos mercados nas
relações internacionais, tais como:

Retrato de Adam Smith, autor desconhecido (séc. XVII). Fonte: Gaeanautes.

ADAM SMITH

(1723-1790)
Retrato de David Ricardo, Thomas Phillips (1821). Fonte: P. S. Burton.

DAVID RICARDO

(1772-1823)

De acordo com Jackson e Sorensen (2007), a Teoria das Vantagens Comparativas, de Ricardo, defende
que a eliminação do protecionismo econômico presente no mercantilismo e a instituição do livre
comércio no mundo permitem ganhos a todos os Estados, em maior ou menor grau, pois possibilita a
especialização e, consequentemente, o aumento da produtividade e eficiência.

Em termos práticos, o que Ricardo sugere é que os países se especializem naquilo em que são bons
e eficientes e parem de tentar produzir toda a gama de produtos que consomem.

 EXEMPLO

Um país competitivo, na produção de tecido, mas que também necessite de trigo, carne e leite, deve
especializar sua produção na indústria de tecidos, por ser mais eficiente e, com os lucros provenientes
desse comércio, comprar o trigo, a carne e o leite de outros países que produzam esses itens com mais
eficiência.

Agora que você já viu um pouco sobre o pensamento econômico liberal, vamos testar seus
conhecimentos!
Imagine dois países:

A não tem acesso ao mar e possui todas as condições favoráveis para uma agricultura fértil
(território abundante, relevo apropriado, clima favorável e solo fértil);

B fica em uma ilha e possui todas as condições agrícolas desfavoráveis: relevo montanhoso, cheio
de pedras, de difícil cultivo e com solo infértil, mas cercado pelo oceano em que há abundante vida
marinha.

Segundo a lógica liberal, quais medidas deveriam ser tomadas pelos países A e B para garantir a
produtividade e a eficiência da economia?

RESPOSTA

Na lógica de Ricardo, o país A é mais eficiente em produzir alimentos agrícolas e deve se especializar nesse
produto, pois consegue fornecer, tanto para si mesmo como para os demais países, alimentos mais baratos.

Se o país B tivesse que produzir alimentos ao mesmo tempo em que cultiva a pesca, não teria alimentos nem
peixes suficientes, encarecendo ambos os produtos, levando a uma perda comum.

No modelo ricardiano, se os mercados agirem desse modo, todos se beneficiam e o mercado global se torna
mais produtivo e eficiente.

De forma geral, os liberais diferem por:

Não compreenderem o Estado como o ator central, conferindo protagonismo ao indivíduo, entendido
como racional e que assume tanto o papel de quem consome como o de quem produz

Os mercados também são vistos como importantes arenas em que ocorrem as relações comerciais e
permitem jogos de soma relativa em que todos se beneficiam

A RACIONALIDADE E O OPORTUNISMO INDIVIDUAL LEVAM À


EFICIÊNCIA, E ESSA NOÇÃO TAMBÉM PODE SER EXPORTADA
PARA O CAMPO POLÍTICO, TRADUZIDA NA CRENÇA DE QUE O
PROGRESSO DA HUMANIDADE ESTÁ RELACIONADO À EXPANSÃO
DOS MERCADOS ECONÔMICOS LIVRES DAS EXCESSIVAS
INTERFERÊNCIAS POLÍTICAS ESTATAIS.
Apesar da defesa do livre comércio, o pensamento liberal evidencia, claramente, a complexa e
interligada relação que existe entre a economia e a política. Por exemplo:

O discurso liberal defende a ideia de que os mercados agem de maneira mais eficiente quando livres
das interferências que a política impõe, operando por si mesmos e evocando a lógica de autorregulação


O livre mercado ainda depende da força do Estado e de suas regulações para ser eficiente

 EXEMPLO

A existência dos contratos que são amparados pela legislação e que, caso não cumpridos por uma das
partes, pode ser litigado nas instâncias judiciais.

Esse tipo de dependência pode ser observada em diferentes aspectos e campos da vida econômica,
mas nem sempre é lembrado, sendo até mesmo ignorado pelo discurso do livre mercado.

MARXISMO
Idealizado pelo alemão Karl Marx (1843-1881), o pensamento pode ser considerado como uma
contraposição e uma clara crítica ao liberalismo, negando nas principais premissas liberais e
concordando com os realistas em outros pontos. Veja a seguir:
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 Retrato de Karl Marx, John Jabez Edwin Mayall (cerca de 1870). Fonte: Bageense.

MARXISMO X LIBERAIS
MARXISMO X REALISTAS

MARXISMO X LIBERAIS

Nega que a economia produz jogos de soma positivas em que todos se beneficiam, rejeitando a ideia de
autorregulação dos mercados.

MARXISMO X REALISTAS

Concorda ao defender a economia como produtora de jogos de soma zero, não aplicados aos Estados,
mas às classes sociais, por perceber que a economia explora os indivíduos e as classes sociais,
evidenciando a interligação entre a economia e a política.

NA LÓGICA MARXISTA, O LUCRO CAPITALISTA SE BASEIA NA


EXPLORAÇÃO DO TRABALHO EM QUE UMA CLASSE (A
BURGUESIA) DETÉM OS MEIOS DE PRODUÇÃO E A OUTRA CLASSE
(O PROLETARIADO) A FORÇA DE TRABALHO. MARX ARGUMENTA
QUE A PRIMEIRA CLASSE OBTÉM SEUS LUCROS POR MEIO DE
UMA DESIGUAL DIVISÃO DOS LUCROS COMERCIAIS, NA QUAL O
PROLETARIADO É A PARTE EXPLORADA DA RELAÇÃO.
Apesar de criticar, Marx entende o capitalismo como uma ferramenta de progresso por substituir os
modos de produção feudais, ainda piores no sentido da exploração dos camponeses, e que confere
liberdade ao trabalhador para vender sua mão de obra e buscar melhores salários.

 RESUMINDO

De forma geral, no marxismo, as relações econômicas recebem a primazia e os atores principais são
as classes sociais e não os Estados ou os indivíduos, mas o local onde eles se posicionam na
estratificação social.

CONCLUSÃO
É importante recordar a interseccionalidade das teorias clássicas das relações internacionais com a
Economia Política Internacional: o realismo e o liberalismo econômico como expressões da EPI. A
base de toda a discussão é a relação entre a política e a economia, antes negada ou ignorada.

O marxismo traz uma abordagem diferente e inova na definição dos principais atores, mesclando
elementos tanto do realismo como do liberalismo. É clara a diversidade de visões e as diferentes
compreensões sobre as relações econômicas internacionais e seus atores.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. AO CONTRASTAR AS DIFERENTES CORRENTES DA ECONOMIA POLÍTICA


INTERNACIONAL, IDENTIFIQUE ABAIXO, COM BASE NO LIBERALISMO, QUEM
SÃO ENTENDIDOS COMO OS PRINCIPAIS ATORES DAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS.

A) Estados soberanos

B) Classes sociais
C) Países nacionais

D) Organizações internacionais

E) Indivíduos

2. NO ÂMBITO DA ECONOMIA POLÍTICA INTERNACIONAL, CONTRASTE O


MARXISMO COM AS DEMAIS ESCOLAS E RESPONDA COMO ESSA
ABORDAGEM PERCEBE A NATUREZA DAS RELAÇÕES ECONÔMICAS.

A) Natureza cooperativa e, por vezes, conflituosa.

B) Natureza conflituosa.

C) Natureza cooperativa.

D) Natureza conflituosa e, por vezes, cooperativa.

E) Natureza colaborativa e racional.

GABARITO

1. Ao contrastar as diferentes correntes da economia política internacional, identifique abaixo,


com base no liberalismo, quem são entendidos como os principais atores das relações
internacionais.

A alternativa "E " está correta.

Para o liberalismo, os indivíduos são os atores centrais e compreendidos tanto como produtores quanto
consumidores, protagonistas das relações de mercado.

2. No âmbito da Economia Política Internacional, contraste o marxismo com as demais escolas e


responda como essa abordagem percebe a natureza das relações econômicas.

A alternativa "B " está correta.

Para o marxismo, em concordância com o realismo, as relações são conflituosas em função da


constante relação de luta entre as classes: a burguesia que explora, de um lado, e do outro o
proletariado, explorado.
CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentamos, de maneira introdutória, as escolas teóricas clássicas das Relações Internacionais com o
objetivo de identificar os conceitos gerais do realismo e suas características, reconhecer os diferentes
liberalismos e seus principais conceitos e, por fim, contrastar as escolas da Economia Política
Internacional.

Oferecemos as bases para uma compreensão geral e, mais importante, identificamos, comparamos e
reconhecemos as escolas realista, liberal e da EPI no âmbito das relações internacionais.

Além disso, alguns conceitos centrais do campo de estudo foram introduzidos e são comuns às
diferentes teorias das RI. Ressaltamos a importância da compreensão dos modelos teóricos e a
relevância do ferramental teórico que nos oferecem.

Os tempos presentes são de muitas incertezas, no campo das Relações Internacionais, e devemos
entender a complexidade que se desenha diante de nós para podermos prever os possíveis
desdobramentos. Não é tarefa fácil, mas com um bom arcabouço teórico é possível fazer estimativas
estratégicas e válidas para o futuro!

AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, João Daniel Lima. Manual do candidato: História do Brasil. Brasília: FUNAG, 2013. 595 p.

CASTRO, Thales. Teoria das relações internacionais. Brasília: Funag, 2012. 580 p.

DORTIER, Jean-François. Dicionário de ciências humanas. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
730 p.

DOYLE, Michael. Ways of war and peace: realism, liberalism, and socialism. 1. ed. New York: W. W.
Norton & Company, 1997. 557 p.

E. H. CARR. Vinte anos de crise 1919-1939: uma introdução ao estudo das relações internacionais. 2.
ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001. 305 p. (Clássicos IPRI).

GILPIN, Robert. Global political economy: understanding the international economic order. Princeton:
Princeton University Press, 2001.

JACKSON, Robert; SORENSEN, Georg. Introdução às relações internacionais: teorias e abordagens.


Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007. 445 p.

MENDES, Pedro Emanuel. A Invenção das relações internacionais como ciência social: uma
introdução à Ciência e à Política das RI. Porto, Portugal: CEPESE, [s.d.].

MORGENTHAU, H. A política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz. [S. l.], 1985.

NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar. Teoria das relações internacionais: Correntes e Debates.
1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 250 p.

PAULA, Eurípedes Simões de. As origens da Medicina: a Medicina no antigo Egito. Revista de
História, [S.L.], v. 25, n. 51, p. 13-48, 29 set. 1962. Universidade de São Paulo, Agência USP de Gestão
da Informação Acadêmica (AGUIA).

PECEQUILO, Cristina Soreanu. Teoria das relações internacionais. Rio de Janeiro: Alta Books, 2016.
240 p.

POLANYI, Karl. The great transformation: the political and economic origins of our time. Boston:
Beacon Press, 1957, 317p.

SARFATI, Gilberto. Teoria de relações internacionais. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. 383 p

SOUSA, Fernando de (org.). Dicionário de relações internacionais. Porto, Portugal: Edições


Afrontamento, 2005.

EXPLORE+
Assista aos vídeos da professora Fernanda Magnotta e do professor Lucas Leite. Eles abordam diversas
questões, como as teorias Marxista, Liberal, Realista e fazem um debate entre idealismo e realismo.
CONTEUDISTA
Marcelo Gomes Pereira da Silva

 CURRÍCULO LATTES

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