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REALISMO PÓS II GM – ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

A II Guerra Mundial vem alterar todas as perspetivas das R.I e, com a divisão do mundo em dois
blocos (sistema internacional bipolar), o realismo ganha relevo, nomeadamente nos E.U.A por
influência da politica ocidental e dos teóricos europeus que fogem para o país durante a guerra.
Contrariamente o idealismo cai em esquecimento.

O realismo preserva as sua base anárquica (o comportamento dos Estados segundo a hierarquia
das potências e, consequentemente, determinando as regras da anarquia internacional),
contudo adquire uma vertente mais vincada ditada por uma componente prática em que as
ideias se refletem na ação politica, dado que o sistema bipolar se caracterizava por um periodo
de containment/raison d’êtat .

Portanto, sendo o objetivo dos norte-americanos conter o comunismo soviético tornou-se


necessário o intenso estudo das R.I para que se criasse uma teoria geral sobre a P.E soviética e
se tornasse possivel prever o comportamento da URSS neste plano, embora a tarefa se revelá-
se na prática impossivel tendo em conta o fator irracional da politica que, e neste caso exemplo,
não é tomada em conta pelo realismo (Perestroika de Gorbatchev nunca poderia ser prevista
pelos norte-americanas por divergir das diretrizes do comportamento soviético).

Neste contexto assistiu-se à comunhão entre o meio politico e o meio académico e,


consequentemente, a T.R.I desenvolveu-se profundamente convergindo de acordo com a
realidade, isto é, um sistema com dois polos de poder equilibrados e as Nações Unidas
(instrumento de segurança coletiva) como fiel da balança, o que levou á consagração do
realismo, sendo que é a teoria que apresenta a balança de poderes como instrumento de
análise.

O Realismo Entre Guerras adapta-se a uma nova realidade e torna-se mais vincado
condensando-se no Realismo pós-II GM, em que se destacam os autores Reinhold Neibuhr e
Hans Morgenthau.

Reinhold Neibuhr:

Na obra Moral man and immoral society (1943), o autor afirma que o pecado nos Homens pode
acontecer, contudo é passivel de ser transcendido por via própria porque o Homem é na sua
génese um ser moral (o Homem redime-se do seu pecado), no entanto, em conjunto os Homens
perdem a capacidade de transcender os seus pecados, dado que se dominam pela procura de
poder e glória. Portanto, quando o Homem comete pecados em sociedade não consegue
transcendê-los e aí está a base para os conflitos.

Conclui-se, assim, que a moral do Homem diverge da moral do Estado (a coletividade) e sendo
a natureza humana imutável, a natureza do Estado, que da primeira resulta, também o é
justificando uma continua repetição da história (imutabilidade). Neste sentido, o autor analisa
o sistema bipolar como uma repetição de conflitos anteriores, dado que a natureza do Estado
se revela imutável sendo produto da natureza humana.

Para Neibuhr a diferença entre o uno e o todo está na moralidade, ou seja, a moralidade do
Homem existe de facto enquanto a moralidade dos Homens em conjunto é nula e os seus
pecados intranscendiveis. A coletividade não tem uma moral associada e o Estado apresenta-se
como um instrumento para o poder e os interesses.
As teses do autor revelaram-se permeáveis na sociedade norte-americana porque o conceito de
poder apresentado não entrava em choque com as teses de poder cristãs, sendo que a
moralidade do Homem não é refutada (o Estado é que se apresenta como não sendo uma
unidade moral mas, contrariamente, um instrumento para alcançar interesses através da
maximização do poder).

Noutro ponto, Neibuhr preocupa-se com a falta de experiência dos E.U.A no plano internacional,
ou seja, receia a incapacidade norte-americana em agir vincadamente na delineação de P.E, e,
por isso, as suas recomendações revelam-se perentórias/fortes.

Hans Morgenthau (autor alemão que emigra para os E.U.A na II GM):

Morgenthau vai influenciar as diretrizes realistas fortemente vincadas da P.E norte-americana.

Na obra A Politica entre as Nações (1948) estabelece uma vertente prática, assumida pelo
realismo pós-II GM, que apresenta como base Os 6 Principios do Realismo Politico de Hans
Morgenthau (o autor é o pai da componente prática que distingue o realismo do pós-II GM).

Os 6 Principios do Realismo Politico de Hans Morgenthau:

1) A politica, assim como a sociedade em geral, é governada por leis objetivas que deitam a
sua natureza nas leis humanas (a politica obedece a principios objetivos e racionais com
origem na natureza humana e, por tal, imutáveis).

2) A principal sinalização que ajuda o realismo a situar-se no plano da P.E internacional é o


conceito de interesse definido em termos de poder, que faz com que a politica seja uma
esfera autónoma de ação.

Portanto, a ação politica é justificada pelo conceito de interesses definido em termos de


poder, anulando qualquer componente moral, e o exercicio racional pelos estadistas produz
uma lógica de continuidade na P.E (o realismo não equaciona a individualidade dos líderes
politicos/a irracionalidade politica).

3) O realismo parte do principio de que o seu conceito-chave de interesse, definido como


poder, constitui uma categoria objetiva que é universalmente válida, mas não outorga a esse
conceito (de interesse) um significado fixo e permanente.

Portanto, analisar a P.E de qualquer Estado é definir o seu interesse em termos de poder,
contudo não anulando o caráter mutável do interesse do Estado, que varia consoante a
conjuntura, e, neste sentido, o que de facto se revela como imutável é a caracterização da
politica como um instrumento de defesa do interesse definido em termos do poder.
4) O realismo politico é consciente da significação moral da ação politica como o é igualmente
da tensão inevitável existente entre o mandamento moral e as exigências de uma ação
politica de êxito, e não pretende suprimir essa tensão.

Portanto, enquanto o individuo poder fazer sacrificios morais que quiser segundo o seu
quadro moral e valorativo, o estadista não goza desse direito porque tem de defender o
interesse do Estado de acordo com o poder, ou seja, o estadista não pode submeter toda a
sociedade ao seu próprio quadro moral e valorativo, dado que a P.E não tem de ser
necessariamente moral (de acordo com um quadro valorativo) mas deve seguir um quadro
politico de forma a ter o maior êxito possivel na defesa do interesse nacional.

5) O realismo politico recusa-se a identificar as aspirações morais de uma determinada nação


com as leis morais que governam o universo.

Portanto, não há qualquer identificação entre os objetivos dos Estados e uma identidade
divina – a identidade divina converge com a esfera moral dos individuos e não com a esfera
politica de ação dos estadistas.

6) É real e profunda a diferença entre o realismo politico e as outras escolas de pensamento.


O realismo politico sustenta a autonomia da esfera politica ao raciocinar o interesse em
termos de poder, equanto o economista pensa em função do interesse definido como
riqueza, o advogado toma por base a conformidade da ação com as normas legais e o
moralista usa como referência a conformidade da ação com os principios morais.

Portanto, a esfera politica é uma esfera de ação autónoma das outras esferas de ação
humana, logo, para avaliar a esfera de ação politica é necessário utilizar principios politicos
e não principios das restantes esferas de ação (principios morais, por exemplo). Neste caso,
os principios politicos são definidos pelos realismo: o interesse de acordo com o poder.

Os anteriores 6 principios politicos de Morgenthau vocacionam-se para a ação prática de P.E nos
países do bloco ocidental. De acordo com o autor, “a politica internacional é uma luta pelo
poder” porque, no sistema internacional, se todos os Estados estruturam a sua P.E consoante
os 6 principios politicos referidos, irão agir para defender os seus interesses, definidos pelo
poder, resultando numa luta de todos contra todos.

Torna-se, assim, relevante apresentar o conceito de poder, segundo o autor, como uma relação
entre os orgãos de autoridade pública (o Estado) e o povo em geral – relação que se estabelece
não só entre os orgãos do Estado entre si mas entre esses orgãos e o povo, isto é, a relação entre
aqueles que exercem o poder e aqueles sobre quem o poder é exercido.

Joan Herz: autor do Dilema de Segurança, que funciona como um instrumento de análise
aplicável ao contexto do sistema bipolar.

Dilema de Segurança: um Estado ao sentir-se ameaçado investe em armamento para garantir a


sua segurança e, consequentemente, o Estado vizinho, ao sentir-se ameaçado, investe em
armamento para sua segurança e, assim, sucessivamente – identifica-se um efeito dominó entre
a ação dos Estados (investem em armamento de forma a preservarem a sua segurança) que
resulta numa situação mais próxima do conflito do que de facto inicialmente.
PÓS- II GM – EUROPA

Embora a Europa fosse um palco do sistema bipolar (cortina de ferro), predominava a vontade
da integração europeia, o que levava à emergência de outras teorias divergente do realismo.

Neste sentido, seguindo a lógica dos esforços pacifistas, destaca-se David Miltrany e a tese que
formulara de forma a resolver o problema da paz no território europeu. ????

David Miltrany:

Na obra Working Peace System (1943), o autor procura imprimir um papel significativo nos
esforços pacifistas da Europa ao introduzir alterações fraturante no sistema europeu de R.I de
forma a terminar com a tendência conflituosa.

Inicialmente, o autor identifica uma explosão nas trocas entre os Estados e os individuos que
leva a uma alteração brutal do sistema e, por conseguinte, torna-se necessário a criação de
novos mecanismos de cooperação internacional para facilitar as respetivas trocas e
comunicações entre as duas partes (individuos e Estados).

Contudo, os Estados revelam-se obstáculos ao processo de cooperação pelas seguintes razões:

• Evidenciam-se como nefastos pois baseavam a sua P.E em nacionalismos que, por sua vez,
alimentam os conflitos.
• Tornaram-se obsoletos, dado que deixaram de ser capazes de garantir as necessidades da
sua população.

Em síntese, Miltrany identifica como o grande problema do sistema int. a sua própria divisão em
Estados soberanos.

Neste sentido, propõe como solução a tese do funcionalismo: a transferência gradual, por parte
dos Estados, das competências técnicas para organizações internacionais (apresenta uma
proposta intermédia que diverge da solução utópica da dissolução do Estado soberano).

Seguindo a lógica do autor, os Estados ao deixarem ser capazes de resolver as necessidade da


sua população no dominio da saúde, transferem as suas competências técnicas respetivas para
uma org. internacional e, consequentemente, a longo prazo, essa transferência resultará na
necessidade de transferir as competências técnicas respetivas a outro dominio, por exemplo a
educação – identifica um efeito dominó entre os dominio técnicos na incapacidade providente
do Estado.

Torna-se, assim, fundamental fazer a distinção, como apresentada pelo autor, entre
competências ténicas (competências que passam para o dominio funcional de org. int.
especializadas) e as competências politco-militares (exclusivas dos Estados).

Portanto, identifica-se o objetivo de criar várias org. internacionais através de uma ramificação
de integração funcional (spill-over funcional) – a justificação da integração não está em razões
geográficas mas em fatores funcionais/técnicos.

Contudo, o autor atribui á população a capacidade de transferência das competências técnicas


dos Estados para as org. int. quando estes deixam de assegurar as necessidades gerais e passam
a basear as suas ações politicas puramente nos nacionalismos (o autor identifica como
nacionalismos tudo o que é irracional na politica).
Identifica-se, assim, uma lógica utilitarista na lealdade da população ao Estado – a lealdade
direciona-se para quem melhor serve os interesses da população, dado que o autor apresenta a
população como racionalmente capaz de indentificar as suas necessidades e, por sua vez, os
funcionários internacionais como racionalemente capazes de cumprir desinteressadamente
com os seus deveres para com a populaçao.

Portanto, uma vez que o Estado é esvaziado de poder e perde a lealdade da população, as
competências politico-militares que preserva tornam-se frágeis e, consequentemente, a
possibilidade de conflitos diminui e, contrariamente, a cooperação internacional aumenta (o
autor apresenta a criação das org. internacionais e o enfraquecimento do caráter soberano dos
Estados não como fins mas como meio para o fim da cooperação internacional).

No entanto, Funcionalismo, puramente racionalista, revela-se uma tese frágil pelos seguintes
pontos:

• Subjetiva distinção entre as competências técnicas e as competências politico-militares.


• Ramificação da integração não ocorre segundo os parâmetros do autor, dado que a lógica
do spill-over automática entre os vários dominios técnicos não acontece necessariamente.
• Lealdade das população não são utilitaristas mas baseiam-se em vinculos de nacionalidades
muito vincados que tornam impossivel a ideia da transferência de poder funcional dos
Estados para org. internacionais pela população.
• Falha na explicação do projeto de integração politica europeia que se consagra a partir do
Ato Europeu e, mais vincadamente, no Tratado de Maastricht.

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