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Teoria das Relações Internacionais II - Sofia Vizcarra Castillo

Grupo 1: Isadora Scheibel, Lucchiana Resmini, Rafaela Teston e Vinicius


Barboza

Resumo 1 (aula 15/03/2021) WALTZ, Kenneth (1979) “Chapter 3 Systemic Approaches and
Theories”, p.38-59 in Theory of International Politics, Addison Wesley.

O capítulo inicia-se com o pensamento de que ser cético quanto à adequação do


reducionismo não nos diz qual teoria do sistema funciona melhor. Aqueles que testaram a
teoria do sistema político internacional afirmaram que podemos fazê-lo porque somente
quando uma parte da explicação é encontrada no nível internacional da política a teoria da
política internacional pode ser sistemática. Na política internacional, as preocupações
apropriadas e as realizações possíveis da teoria dos sistemas são por exemplo: traçar as
carreiras esperadas de diferentes sistemas internacionais indicando sua provável durabilidade.
A fim de transformar uma abordagem de sistemas em uma teoria, é preciso mover
desde a vaga de identificação usual de forças e efeitos sistêmicos até seus mais específicos,
para dizer quais unidades o sistema compreende, para indicar a estrutura internacional.
I) Richard Rosecrance:
Para Rosecrance, o sistema político internacional possui quatro elementos: “um ator
irruptivo”; um “mecanismo regulador”; e uma série de “eventualidades” que resultam nos
chamados “desfechos”. Segundo o autor, o primeiro elemento indica normalmente um
Estado; o segundo, por vezes, uma instituição como o Concerto Europeu ou a Liga das
Nações; o terceiro são “eventualidades” que limitam a conduta na política dos atores,
resultando por fim no “desfecho”, que é a soma desses elementos combinados.
No entanto, para Waltz não há ali uma “Teoria do Sistema Político” e sim o esboço de
uma. Segundo o autor, nada na teoria de Rosecrance condiciona os diferentes
comportamentos dos Estados, ou indica como os “desfechos” mudam na interação destes
mesmos. Portanto, podemos afirmar que a teoria de Rosecrance é reducionista, pois não se
trata de um “Sistema Político com resultados”, e sim de um “subsistema de causas”.

II) Stanley Hoffmann:


A definição de Hoffmann do que é um sistema internacional difere da de Richard, seu
antigo aluno. Para Stanley um sistema internacional é um “padrão de relações entre as
unidades básicas da política mundial” sendo este padrão determinado pela estrutura mundial.
Na visão de Hoffmann o sistema internacional é tanto um esquema analitico quanto
um axioma, como um esquema analítico o sistema é uma forma de organizar uma vastidão de
informações complexas -sistemas são abstrações-, já como axioma o sistema é uma inserção
de distinguíveis padrões de relações e variáveis essenciais que podem ser discernidos sem
artificialidade ou arbitrariedade -sistemas são, também, realidades.
Hoffmann acredita que um estudante de política internacional deve, em suprassumo,
buscar e recorrer à realidade, devendo olhar para relações entre unidades que sejam
“regulares” e alcancem “um certo grau de intensidade”, que possuam uma “consciência
mínima de sua independência” e por um componente internacional que seja distinto e
"partível" dos assuntos internos das unidades.

III) Morton Kaplan:


Para Waltz, as abordagens sistêmicas devem, no mínimo, deduzir alguns resultados na
política internacional a partir dos comportamentos dos países e do conhecimento do sistema
como um todo. Morton Kaplan desenvolveu uma teoria que não é completamente dedutiva,
no entanto ela nos diz que, como não há um leviatã no Sistema Internacional como existe nos
Estados nacionais, as grandes potências tendem a ocupar esse lugar de poder.

Além disso, Kaplan identificou seis tipos de sistema internacional: 1) sistema de


balança de poderes; 2) sistema bipolar rígido; 3) sistema bipolar flexível; 4) sistema
hierárquico; 5) sistema universal; 6) e sistema de veto nacional. Em seguida, ele identifica
cinco variáveis que determinam o estado e as regras essenciais de cada sistema. No entanto,
ele não identificou a importância e a relação entre essas cinco variáveis. Assim, a abordagem
sistêmica de Kaplan não se faz suficiente para superar outras teorias.

O sistema mais importante e comentado de Kaplan é o sistema de balança de poderes


ou sistema de equilíbrio. Esse sistema apresenta um Sistema Internacional em equilíbrio, pois
o poder, motor principal das relações internacionais, está dividido em pelo menos cinco
atores estatais, normalmente as potências. Nesse caso, é importante ressaltar que Kaplan
delimitou algumas regras essenciais para esses atores seguirem, de forma a manter um círculo
de equilíbrio de poder.
Resumo 2 (aula 22/03/2021) MEARSHEIMER, John (2001) “Chapter 6: Great Powers in
Action”, p.168 - 233 in The Tragedy of Great Power Politics, New York: W. W, Norton &
Company.

I) Japão (1868-1945) / Japão imperial (1937-1941)

A jornada do Japão no sistema internacional é marcada pela busca de tornar-se uma


hegemonia. No capítulo 6 “Great Powers in Action” podemos acompanhar um pouco dessa
história. Antes da 2ª Guerra Mundial o Japão buscou por muito tempo contato com as demais
potências mundiais, mas era muito atrasado economicamente – sendo adepto do feudalismo.
Tendo Matthew Perry como o maior incentivador para que o país fosse mais ativo nas
relações internacionais, a Era Meiji representou a grande mudança econômica, social e
política do Japão no mundo.

A Segunda Guerra Mundial na Ásia se manifestou por meio do confronto militar entre
Japão e China na Segunda Guerra Sino-Japonesa. Na Guerra do Pacífico entre Japão e
Estados Unidos. Esses conflitos são impulsionados pelo militarismo expansionista do Japão,
que quer se expandir na China e combater a influência americana na região. O conflito na
Ásia começou na Segunda Guerra Sino-Japonesa em 1937, quando o Japão começou a lançar
operações militares contra a China. A Segunda Guerra Mundial começou oficialmente em
1939. Quando o Japão atacou várias regiões do Sudeste Asiático entre 1940 e 1941, a
situação da guerra se expandiu. No final de 1941, o Japão iniciou um conflito com os
americanos por meio de um ataque à base de Pearl Harbor.

Os conflitos que existiam na Ásia durante a Segunda Guerra Mundial estavam


diretamente relacionados às posições do governo japonês nas décadas de 1930 e 1940. Nesse
período, o Japão tinha um governo ultranacionalista e a defesa do militarismo era uma forma
de defender os interesses do imperialismo. Desde os anos 1910, tem havido discursos de
guerra contra os Estados Unidos, e desde os anos 1920, esse discurso foi ainda mais
fortalecido. Os japoneses afirmam que o país não pode aceitar potências estrangeiras para
governar territórios asiáticos, então os japoneses acreditam que a guerra deve ser usada como
uma forma de expulsar potências estrangeiras.
II) Alemanha (1862-1945)

A posição geográfica da Alemanha é crucial para a compreensão do pensamento de


seus estadistas. Primeiramente, está localizada no coração da Europa, entre duas grandes
potências europeias: a França e a Rússia, o que justifica parte da sua insaciável busca por
poder. Foi fragmentada em inúmeros principados, ducados e palatinados, todos herdeiros do
extinto Sacro Império Romano Germânico. Devido às suas divergências comerciais, políticas
e religiosas, essas regiões não lograram sua unificação durante os tempos da Grande
Navegação, tardando esse processo somente para meados do século XIX, na figura do célebre
Otto Von Bismarck.

O pragmatismo e a inteligência desse estadista prussiano mudaram os rumos da


Europa. Para conquistar territórios, se aliou a Áustria e declarou guerra à Dinamarca (1864);
para garantir a hegemonia da Prússia na Confederação Germânica, uniu-se a Itália e venceu
sua antiga aliada Áustria(1866); para unificar a Alemanha, venceu a França sem permitir
intervenção estrangeira na disputa (1870); e em 1871, ainda proclamou o II Reich no símbolo
do poderio francês: o Palácio de Versalhes.

A Europa, desde então, nunca mais seria a mesma. Numa tentativa de reencontrar o
Equilíbrio de Poder consagrado em 1815, e adaptar a nova política bismarckiana da
Realpolitik, são feitas várias alianças que culminariam nas mesmas estipuladas na Primeira
Guerra Mundial. A ascensão do Kaiser Guilherme II (1888) dá fim às formalidades, e
inicia-se uma série de corridas armamentistas e o recrudescimento de conflitos locais. A
Grande Guerra se inicia, a Alemanha perde e propaga, durante toda República de Weimar
(1919-1933), o longo processo de revanchismo e revisionismo do Tratado de Versalhes. A
inconformidade alemã abre espaço ao autoritarismo de Adolf Hitler, proclamando o III Reich
(1933-1945). Hitler, com o mesmo pragmatismo e estrategismo de Bismarck, promete então a
vitória na Segunda Guerra com base em duas estratégias: a restauração do exército nacional
(Wehrmacht) e o aprendizado dos erros cometidos na Primeira Guerra.

Assim, seja pela sua posição geográfica, seja pela ambição de seus estadistas, a
história da Alemanha moderna nos apresenta as principais características do realismo
ofensivo. Tendo sempre em vista a exaltação de seus comportamentos agressivos, bem como
sua insaciável busca pelo poder, a Alemanha se torna o exemplo vivo dessa teoria.
III) União soviética (1917-1991)

O comportamento expansionista russo transformou a Rússia de 1917 em um produto


de quase quatro séculos de expansão contínua. Dessa forma, Lenin e seus sucessores tentaram
seguir os passos dos czares, mas encontraram muitas dificuldades nesse percurso
expansionista. De 1917 até 1933, o país não tinha condições de enfrentar rivais com maior
poder. A partir de 1933, a sua preocupação estava centrada em proteger os seus territórios das
ameaças do Japão e da Alemanha nazista. Já durante a Guerra Fria, os soviéticos tiveram
algumas chances de expansão, no entanto os Estados Unidos estavam sempre prontos para
frustrá-las.

Essa ânsia de expandir o território vinha do medo que os governantes russos tinham
de ter o seu território invadido, assim a expansão territorial era uma forma de se prevenir.
Essa forma de lidar com os problemas nos diz muito sobre a Política Externa do país, a qual
era motivada, em grande parte, pela lógica realista. O raciocínio estratégico russo, de 1600
até 1914, media o impacto de suas ações no Sistema Internacional, ponderando os pontos
altos e baixos das Nações inimigas e prezando pela garantia de sua segurança e poder.

Quando os Bolcheviques chegaram ao poder, em 1917, essa lógica da Política Externa


realista mudou. Pensavam que haveria uma grande revolução no Sistema Internacional, pois o
comunismo se espalharia pela Europa e em seguida para o mundo inteiro. Como não foi o
que aconteceu, Lênin virou rapidamente um político realista. Stálin e seus sucessores também
seguiram, na maior parte do tempo, a lógica realista. Sendo assim, a Política Externa
soviética é mais impulsionada pelo realismo do que pela ideologia comunista em si.

A ideologia comunista não fora deixada de lado pelos líderes soviéticos, tanto que a
Guerra Fria apresentou um embate ideológico: Comunismo (URSS) vs Capitalismo (EUA).
No entanto, a abordagem realista era preferível quando se tratava de sobrevivência no
Sistema Internacional.

Em 1920, Stalin lançou uma iniciativa de modernização econômica através da


industrialização forçada e da coletivização da agricultura. Esse impulso se deu porque ele
estava preocupado com o atraso econômico soviético e com a possibilidade de o país ser
destruído em futuras guerras com as potências. Em 1930, estava ameaçada pela Alemanha
nazista- culminando em confrontos armados na Segunda Guerra- e pelo Japão, o qual
entraram em sérios confrontos de fronteiras, que acabaram na breve guerra em Nomonhan,
em 1939, contendo a expansão japonesa.

Em relação à Alemanha, é importante ressaltar que, apesar de serem rivais


ideológicos, eles tiveram momentos de aproximação e aliança. Também em 1939, assinaram
o Pacto Ribbentrop-Molotov, o pacto de não-agressão. A estratégia de Stalin era evitar ao
máximo que fosse atacada primeiro, deixando que outros países realizassem essa manobra.
Assim, o pacto significava que a União Soviética estaria fora da Guerra, sobrando para a
França e Reino Unido. Além disso, Stalin conseguiu aumentar sua zona de proteção,
anexando a metade oriental da Polônia, os países Bálticos (Letônia, Estônia e Lituânia) e a
Finlândia, esse último resistiu o quanto pôde, mas não venceu o Exército Vermelho. O
prelúdio de que o pacto estava por acabar foi quando o exército alemão invadiu a França e
estava perto de invadir o território russo, o que de fato aconteceu um ano depois e obrigou os
soviéticos a entrarem na guerra.

Após a Segunda Guerra e com o Japão e Alemanha destruídos, a União Soviética


tinha muito potencial para se tornar uma potência hegemônica na Europa e no nordeste
asiático. No entanto, ela mesma estava se recuperando dos estragos da Segunda Guerra. Além
disso, o seu principal adversário tornou-se os Estados Unidos, por conta da ascensão
estadunidense no Sistema Internacional e a disputa entre os dois durante a Guerra Fria. E o
país norte-americano não tinha pretensões em deixar que a União Soviética dominasse a
Europa e o nordeste asiático.

Durante a Guerra Fria, os soviéticos estavam mais cautelosos ao dominarem


territórios, pois não desejavam entrar em um conflito armado com os EUA. O seu foco caiu
sobre os países de Terceiro Mundo, como os da América Latina e África, a fim de disseminar
a ideologia comunista. Fizeram um relativo sucesso, mesmo com a resistência dos EUA. No
entanto, em 1989, a União Soviética abandonou seu império na Europa Oriental, dando fim à
Guerra Fria. Os líderes soviéticos, mais para o fim da Guerra Fria, começaram a investir na
busca pela cooperação entre os Estados. Além disso, o país não conseguiria acompanhar os
avanços tecnológicos, a fim de se manter como potência hegemônica. Mas, não deixaram de
lado os princípios realistas, pois ainda buscavam maximizar o seu poder, a fim de sobreviver
no Sistema Internacional.
IV) Itália (1861-1943)

Dentre as nações que detinham o poder na época, a Itália era considerada a mais fraca.
Por não possuir poder armado que se igualasse ao das outras potências, o estado italiano
buscava poder através de medidas diplomáticas formando alianças, evitando contato militar
direto com outras potências, a menos que as tais estivessem em posição de desvantagem em
uma guerra, ou seja com seu número de tropas reduzido.

A Itália tinha como seus maiores rivais na luta por expandir seu território a França
(que visava o norte do território africano composto por Egito, Tunísia e Líbia e o Chifre
africano formado por Eritreia, Etiópia e Somalilândia) e o Império Austro-Hungaro que
desejava obter o território do sul dos Balcãs (Albânia, Corfu, Ilhas do Dodecaneso). A
primeira tentativa de expansão feita pela Itália foi pelo território europeu, porém na década de
1880, após o Congresso de Berlim, o governo italiano resolveu desbravar o território
africano.

Da época da unificação italiana até a tomada de Mussolini em 1922 a Itália havia


conquistado Roma, Veneza, as Ilhas do Dodecaneso, Eritreia, Líbia e Somalilândia Italiana.
Sob o controle de Benito a expansão continuou. em 1923 o exército italiano invadiu Corfu
porém foi detido pelo Reino Unido e em 1935 conquistaram o território da Etiópia. No ano de
1940 a Itália entrou oficialmente em guerra com a França.

V) Comportamento derrotista

As quatro nações que foram faladas no texto defendem a ideia de que grandes
potências buscam aumentar sua participação no âmbito mundial, e estão dispostas a fazer uso
da força para alcançar seu objetivo. Segundo Jack Snyder “a ideia de que segurança pode ser
alcançada através das expansões é um tema difundido na grande estratégia de grandes
potências na era industrial” o que explicita a ideia do realismo defensivo de que manter o
status quo é a melhor solução e que o expansionismo (que é mal orientado) e a conquista
apenas geram gastos o que leva a um suicidio nacional.

Na visão dos realistas ofensivos, Bismark é um agressor arquetipicamente inteligente,


pois este ganhou várias guerras sem cometer o erro fatal de tentar formar uma hegemonia
europeia, eles também citam a União Soviética como uma agressora inteligente pelo mesmo
motivo. Segundo os realistas defensivos, essas nações deveriam “saber melhor” pois fica
evidente pela história da humanidade que a busca pela hegemonia sempre falha.
Resumo 3 (aula 29/03/2021) - KEOHANE, Robert. (1984). After hegemony:
cooperation and discord in the world political economy. Princeton: Princeton University
Press.

I) Hegemonia:

O capítulo se inicia com uma crítica e análise sobre a relevância da cooperação em


um cenário pós-hegemonia, onde a hegemonia entra em declínio, além de expor a tensão
entre a Economia e a Política. A hegemonia desempenha um papel crucial na criação dos
regimes internacionais, podendo ajudar a criar um padrão de ordem nesses regimes. Dessa
forma, necessita de um certo nível de cooperação, mesmo que assimétrica, a qual as
potências hegemônicas irão reforçar e manter.

A coordenação internacional da política é muito benéfica em um mundo


economicamente interdependente, porém a cooperação na política mundial é uma questão
mais complexa. Uma maneira de atenuar a tensão entre economia e política é negando a
premissa de Adam Smith sobre a mão invisível do mercado, a qual diz que o mercado irá se
ajustar automaticamente, sem a necessidade de intervenção e cooperação. A objeção que o
autor faz quanto a premissa liberal é que, não havendo cooperação, os Estados irão intervir
em busca de seus interesses.

Assim, deve-se entender que a cooperação é relevante e pode ser mantida, mesmo em
um cenário pós-hegemonia. Mas, a sua organização se torna uma tarefa difícil, podendo ser
facilitada pelos regimes internacionais. Por fim, o autor irá explicar os conceitos de “regime
internacional” e “cooperação”, de forma a compreender melhor como a cooperação se
manterá pós-hegemonia.

II) Cooperação Internacional:

Outro aspecto que o grupo achou importante levantar é a questão da Cooperação


Internacional. O ponto chave das parcerias comerciais é de existir uma troca de benefícios
mútuos, onde há interesse das duas ou mais partes, para o crescimento da própria nação. Na
teoria, o sistema internacional é anárquico, porém os Estados buscam se tornar hegemônicas,
onde ocorreria uma falta de padrão no poder.

III) Harmonia, Cooperação e Discórdia:


Parte importante do argumento de Keohane, é saber diferenciar “Harmonia” de
“Cooperação”. A primeira ele define como uma situação da qual os atores internacionais
aplicam uma política que consiga beneficiar tanto seus interesses pessoais quanto os demais
objetivos da sociedade internacional. O liberalismo do século XIX, na visão inglesa, é um
exemplo. Pois o livre mercado beneficiaria tanto os interesses econômicos gerais, quanto os
dos ingleses.

A cooperação, por sua vez, vê a harmonia como um evento de raríssimo alcance. Isso
porque, em geral, os Estados têm seus próprios objetivos e dificilmente abrem mão de sua
soberania pela “vontade geral”. Dessa forma, os indivíduos, os estadistas e as organizações
internacionais devem utilizar da negociação e da diplomacia como meio de encontrar o
equilíbrio entre seus interesses individuais e os interesses gerais. Esse processo é comumente
referido como “Política de Coordenação”. No entanto, caso não haja tentativa de encontrar
esse “equilíbrio”, ou caso ele não seja encontrado, outro fenômeno toma espaço no cenário
em análise: a “Discórdia”. Esta resultaria, então, na ascensão de conflitos políticos.

IV) Regimes Internacionais:

Regimes internacionais são descritos por John Ruggie em 1975 como "um conjunto
de expectativas mútuas, regras e regulamentos, planos, energias organizacionais e
compromissos financeiros, que foram aceitos por um grupo de estados", porém mais
recentemente foi decidido coletivamente que sua definição mudaria para “conjuntos de
princípios, normas e regras implícitos ou explícitos e procedimentos de tomada de decisão em
torno das expectativas dos atores convergentes em uma determinada área das relações
internacionais.”. A nova definição é importante pois oferece juntamente a ela a definição
necessária para diferenciar normas de regras e princípios, sendo esta:

- Normas são padrões de comportamento definidos em termos de direitos e obrigações;

As normas contêm imposições mais claras aos membros sobre comportamento


legítimo e ilegítimo, ainda definindo responsabilidades e obrigações em termos relativamente
gerais.

- Regras são prescrições específicas ou proibições de ação;

As regras são mais específicas que as normas, elas indicam em mais detalhes os
direitos e obrigações específicas de membros. As regras podem ser alteradas mais facilmente
do que os princípios ou normas, uma vez que pode haver mais de um conjunto de regras que
podem atingir um determinado conjunto de propósitos.

- Princípios são crenças de fato, causa e retidão;

Os princípios dos regimes definem, em geral, os propósitos que espera-se que seus
membros sigam.

Outra forma de distinguir normas de regras e princípios é ao estipular que os


participantes de um sistema social respeitem as normas, mas não regras e princípios, como
moralmente vinculativos, independentemente de considerações de interesse próprio
estritamente definido. Mas para incluir normas, assim definidas, em uma definição das
características necessárias do regime seria necessário fazer a concepção de regimes baseados
estritamente no interesse próprio uma contradição em termos. Uma vez que o texto considera
os regimes amplamente baseados no interesse próprio, o autor define manter uma definição
de normas simplesmente como padrões de comportamento, seja adotado por motivos de
interesse próprio ou de outra forma.

As liminares dos regimes internacionais raramente afetam as transações econômicas


diretamente: instituições estatais, ao invés de organizações internacionais, impõem tarifas e
cotas, intervêm em moeda estrangeira mercados e manipulam os preços do petróleo por meio
de impostos e subsídios. Se pensarmos sobre o impacto dos princípios, normas, regras e
procedimentos de tomada de decisão dos regimes, torna-se claro que na medida em que eles
têm qualquer influência, esta deve ser exercida sobre os controles nacionais, e especialmente
nos acordos interestaduais específicos que afetam o exercício dos controles nacionais.
Regimes internacionais devem ser distintos desses acordos específicos; uma função
importante dos regimes é facilitar a elaboração de acordos de cooperação entre governos.
Superficialmente, pode parecer que, uma vez que os regimes internacionais afetam controles
nacionais, os regimes são de importância superior - assim como as leis federais dos Estados
Unidos frequentemente substituem as estaduais e locais. No entanto, essa seria uma
conclusão fundamentalmente enganosa. Em uma sociedade bem ordenada, as unidades de
ação convivem dentro de uma estrutura de princípios constitucionais que definem os direitos
de propriedade, estabelecem quem pode controlar o estado e especificam as condições sob as
quais os sujeitos devem obedecer às regulamentações governamentais.
Resumo 4 (aula 05/04/2021) - DOYLE, Michael (2012) “Chapter 7: An International Liberal
Community” in Liberal Peace: Selected Essays. Oxon: Routledge.

De acordo com o pensamento de Michael Doyle, os países liberais, desde o século


XIX, tendem a possuir relações pacíficas entre si. Essa ideia reflete as três noções principais
do neoliberalismo: a de que democracias são aliadas naturais; o respeito mútuo entre Estados
democráticos; e a preferência da negociação ao invés do conflito. Isso fez com que ao passar
do tempo, os Estados adquirissem cada vez mais preferência pela democracia liberal, indo de
3 no início do século XIX para 54 ao final da Segunda Guerra. Além disso, o aumento liberal
estabeleceu uma paz entre as nações que optaram pela ideologia, dividindo o mundo entre os
Liberais e os Não Liberais.

Grande parte dessa ideologia, se concentra nos pensamentos de finais do século XVIII
de Immanuel Kant. Mais precisamente, em seu célebre livro: a Paz Perpétua. Nele, o autor
defende que existe uma “União Pacífica” entre os Estados liberais, e um conflituoso “Estado
de Guerra” entre Liberais versus Não Liberais. Nesse sentido, é importante notar que o
liberalismo utiliza do pensamento kantiano por conta de três ideias abordadas pelo filósofo
alemão: a de que o aumento das Repúblicas trariam a paz; o de respeito mútuo entre as
potências, pois como as diferenças culturais são muito amplas, o respeito se torna a base de
uma ligação entre as Repúblicas; e o “Direito Cosmopolita”, que permitiria o florescimento
de um “Espírito do Comércio” capaz de fazer com que as nações promovessem a paz e
evitassem a guerra.

A partir do pensamento de Immanuel Kant, tornou-se necessário compreender as


comunidades liberais e as oportunidades que elas podem proporcionar, como o
estabelecimento da paz, através de novas perspectivas. Como exposto no parágrafo acima,
para atingir a União Pacífica, havia, antes, um “Estado de Guerra” entre os Estados liberais e
os Estados não liberais. A União Pacífica formaria uma comunidade, separada por membros e
não membros ou liberais e não liberais, que, para atingir um estado de paz perpétua, teria que
abarcar os não membros para essa comunidade.

Dessa forma, Michael Doyle acredita que o melhor sistema de governo que poderia
possibilitar o estado de paz perpétua entre as Nações seria a República, a qual ele interpreta
como equivalente a uma democracia para Kant. Esse sistema seria o mais suscetível a atingir
e manter a paz entre as outras repúblicas. Por isso, Doyle defende o esforço das repúblicas em
manter a aliança com os Estados não liberais, a fim de chegar a um estado de paz.
O liberal internacionalismo entre as nações liberais têm apresentado deficiência na
preservação de suas "pré-condições” básicas que estão sob a influência de mudanças
internacionais, e particularmente no apoio ao caráter liberal de seus estados constituintes.
Ele falhou em diversas ocasiões, como em relação a Alemanha no ano de 1920 ao não ser
capaz de fornecer ajuda econômica internacional para nações com o mercado em crise, com a
Espanha sendo incapaz de fornecer ajuda militar e mediação política, que foi ameaçada por
uma minoria armada e com a Tchecoslováquia, que se deparou com um dilema entre
preservar a segurança nacional ou reconhecer a reivindicação (promovida pela Alemanha de
Hitler) da minoria autodeterminante dos sudetos.

Medidas previdentes e constitutivas só foram fornecidas pela ordem internacional


liberal quando um estado liberal se destacou entre os demais, preparado e capaz de tomar
medidas, como fizeram os Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, para sustentar
econômica e politicamente as bases da sociedade liberal além suas fronteiras. Depois,
medidas como o Empréstimo Britânico, o Plano Marshall, a OTAN, o Acordo Geral sobre
Tarifas e Comércio, o Fundo Monetário Internacional, e a liberalização da Alemanha e do
Japão ajudaram a construir contrafortes para a ordem liberal internacional.

O declínio da liderança hegemônica dos EUA na década de 1990 pode representar


perigos para o mundo liberal. O perigo não é que os estados liberais de hoje permitam seus
competidores econômicos a espiralar em guerra, nem que uma crise econômica mundial seja
agora provável, mas que as sociedades do mundo liberal não serão mais capazes de fornecer a
assistência mútua que eles podem exigir para sustentar ordens domésticas liberais se eles
enfrentarem crescentes crises econômicas.Os liberais podem ter escapado do maior perigo
tradicional de mudança internacional - a transição entre líderes hegemônicos. Historicamente,
quando um grande poder começa a perder sua preeminência e deslizar para a igualdade, uma
resolução bélica da hierarquia internacional torna-se excepcionalmente provável. Novo poder
desafia antigo prestígio, compromissos excessivos encaram novas demandas; então Esparta
se sentiu compelido a atacar Atenas, a França guerreou contra a Espanha, Inglaterra e
Holanda lutaram com a França (e entre si), e Alemanha e a Inglaterra lutaram pelo domínio
da Europa na Primeira Guerra Mundial. Mas os liberais podem ser novamente uma exceção,
pois apesar do fato de que os Estados Unidos constituiu o maior desafiante da Grã-Bretanha
em todas as dimensões mais centrais para a hegemonia marítima britânica, a Grã-Bretanha e
os Estados Unidos acomodaram suas diferenças. Após a derrota da Alemanha, a
Grã-Bretanha acabou, embora não sem arrependimento, aceitou sua substituição pelos
Estados Unidos como a nova hegemonia comercial e marítima do mundo liberal. A promessa
de uma transição pacífica de uma hegemonia liberal para a próxima hegemonia liberal,
portanto, pode ser um dos fatores que ajudam a moderar as rivalidades econômicas e políticas
entre Europa, Japão e os Estados Unidos.

Nos próximos anos, precisamos traçar nossa própria estratégia nacional como uma
democracia liberal confrontada com ameaças, porém, agora, também com oportunidades para
um novo pensamento. A fim de cumprir a promessa do internacionalismo liberal, devemos
garantir uma política que tenta conciliar nossos interesses com nossos princípios. Teremos de
abordar as escolhas difíceis que nenhum governo verdadeiramente comprometido para a
promoção dos direitos humanos pode evitar. Reconhecendo que podem haver circunstâncias
em que a ação internacional - mesmo a força - é necessária, precisamos de um pensamento
estratégico que restringe os humores violentos do momento.

Também precisaremos manter nossos propósitos maiores em vista. Aqueles


comprometidos com a liberdade farão uma barganha com seus governos. Precisamos apenas
viver de acordo com isto. Os principais custos de uma estratégia liberal são suportados em
casa. Não são apenas seus custos militares às custas dos contribuintes, mas uma política
externa liberal requer ajustes a um ambiente político internacional menos controlado - uma
rejeição do status quo em favor da escolha democrática. Tolerar mais mudanças estrangeiras
requer mais mudança doméstica. Evitar uma presença imperial no Golfo Pérsico pode exigir
um movimento em direção à independência energética. Permitir o desenvolvimento
econômico dos pobres do mundo exige a aceitação do ajuste do comércio internacional. A
frente interna torna-se assim a linha de frente da estratégia liberal.

As promessas de um internacionalismo liberal bem-sucedido, no entanto, são grandes


e podem beneficiar a todos. A busca pela liberdade não garante a manutenção da paz. Na
verdade, a própria invocação de "cruzada" como um rótulo para a iniciativa democrática do
presidente Reagan na década de 1980 nos adverte do contrário. Mas a intenção pacífica e
restrição a que instituições, princípios e interesses liberais conduziram as relações entre as
democracias liberais sugerem a possibilidade de paz mundial deste lado do mundo. Eles
oferecem a promessa de uma paz mundial estabelecida pela expansão da separação da paz
entre as sociedades liberais.
Resumo 5 (aula 19/04/2021) - WENDT A. (1992). Anarchy is what states make of it the
social construction of power politics.

I) Introdução e crítica:

O debate entre os realistas e os neoliberais ressurgiu nas Teorias das Relações


Internacionais com a preocupação de o Estado ser influenciado pela “estrutura” (anarquia e
distribuição de poder) ou pelo processo (interações e experiências/aprendizagens) e pelas
instituições.

Assim, o autor explica as principais diferenças e similaridades entre os neorrealistas e


neoliberais, como por exemplo: ambos se baseiam no racionalismo, o qual nos direciona a
entender que a identidade e os interesses dos agentes internacionais se originam através da
influência externa e a atuação dominante do Estado no Sistema Internacional.

A partir disso Wendt começa a desenvolver um argumento construtivista,


reivindicando que as instituições podem transformar as identidades e os interesses dos países.
Argumento esse que pode contribuir tanto para o interesse neoliberal em formação de
identidade e interesse, quanto para o próprio construtivismo ser enriquecido, porque muitas
questões podem ter sido negligenciadas ou esquecidas por ele.

· Sua argumentação se mostra contra a teoria neorrealista, porque acredita que se


estamos em um mundo de autoajuda isso se deve aos processos e não à estrutura anárquica
em si. Além disso, identidades e interesses se transformam sobre a anarquia: 1) pela
instituição da soberania, 2) pela evolução da cooperação e 3) pelos esforços nacionais em
transformar uma identidade egoísta em uma identidade coletiva.

Após essa breve introdução, o autor esclarece alguns conceitos e rebate algumas teorias,
como a de Waltz. Sua principal crítica se refere a estrutura política de Waltz, a qual não prevê
a dinâmica da anarquia, além disso reforça que autoajuda é uma estrutura intersubjetiva,
sendo um fator decisivo para a teoria e sua dinâmica. Então sua crítica é que Waltz não prevê
esses fatores intersubjetivos, deixando em aberto se a autoajuda é uma característica lógica da
anarquia ou se foi algo que aconteceu por acaso.

Alguns conceitos importantes: 1) identidade: a base dos interesses. A teoria construtivista


enfatiza que os Estados definem os seus interesses de acordo com o andamento de cada
situação, ou seja, é o processo que os define; 2) Identidade X papel: apesar de serem
constantemente confundidos, ambos têm significados diferentes. E essa confusão entre os
dois pode gerar uma crise de identidade. Um bom exemplo que ilustra essa situação é os
EUA e a URSS pós Guerra Fria. Com o fim da guerra fria, os papéis, que antes eram bem
definidos, desses países se dissolveram e houve uma confusão sobre sua identidade e seus
interesses; 3) Instituição: é definido pelo autor como uma estrutura de identidades e
interesses, sendo a autoajuda uma instituição porque é um dos pilares da anarquia.

A partir da introdução e do esclarecimento desses conceitos, o autor irá delinear sua teoria
construtivista, que vai de encontro ao liberalismo, e também desconstruir teorias anteriores.

II) Anarquia e a construção social de políticas de poder:

Se a autoajuda não é uma característica constitutiva da anarquia, ela deve emergir


causalmente de processos em que a anarquia desempenha apenas um papel permissivo. Isso
leva a um segundo princípio do construtivismo: os significados em termos nos quais as ações
são organizadas surgem da interação. Dito isto, no entanto, a situação enfrentando estados
quando se encontram pela primeira vez pode ser tal que apenas as concepções de identidade
que se preocupam consigo mesmas podem sobreviver; se assim for, mesmo que estas
concepções sejam socialmente construídas, os neorrealistas podem estar certos em sustentar
identidades e interesses constantes e, assim, privilegiando um significado particular da
estrutura anárquica sobre o processo. Neste caso, os racionalistas, segundo o autor, estariam
certos em defender uma concepção fraca e comportamental da diferença que as instituições
fazem, e certos em argumentar que quaisquer instituições internacionais que são criadas
serão inerentemente instáveis, uma vez que, sem o poder de transformar identidades e
interesses, elas serão "continuamente objetos de escolha" por atores exogenamente
constituídos limitados apenas pelos custos de transação de mudança comportamental.
Mesmo em um papel causal permissivo, em outras palavras, a anarquia pode restringir
decisivamente a interação e, portanto, restringir formas viáveis ​de teoria sistêmica.

Concepções de “si mesmo” e de interesse tendem a “espelhar” as práticas dos outros


ao longo do tempo, este princípio de formação de identidade é capturado pela noção
interacionista simbólica do “ espelho do eu” que afirma que o “eu” é um reflexo da sociedade
de um ator. Se pegarmos dois atore que querem “Alter” e “Ego” que estariam se encontrando
pela primeira vez e partirmos do pressuposto que ambos querem sobreviver e tem certas
capacidades materiais, mas nenhum ator tem imperativos biológicos ou domésticos de poder,
glória ou conquista e não há histórico de segurança ou insegurança entre os dois. O que eles
devem fazer? Os realistas argumentam que cada um deve agir de acordo com a base de
suposições do pior caso sobre as intenções do outro, justificando tal atitude tão prudente
diante da possibilidade de morte por um erro. Essa possibilidade sempre existe, mesmo na
sociedade civil; no entanto, a vida em sociedade seria impossível se as pessoas tomassem
decisões puramente com base no pior caso possível . Em vez disso, a maioria das decisões
são e devem ser feitas com base em probabilidades, e estas são produzidas pela interação,
pelo que os atores fazem.

Suponhamos que Ego fez um gesto desconhecido por Alter, Alter reagirá ao gesto a
partir de duas considerações: qualidades físicas do gesto e do ego; e o que Alter pretendia se
fosse ele a fazer o gesto. Não há razão a priori (antes do gesto) para considerar Ego uma
ameaça. segundo o autor “Ameaças sociais são construções, não naturais” este processo de
sinalizar, interpretar e responder completa um “ ato social” e inicia o processo de criação de
significados intersubjetivos.

III) Estado predador e anarquia como causa pessimista:

A teoria do espelho de formação de identidade é um relato simplificado de como o


processo de criação de identidades e interesses pode funcionar, mas não nos diz por que um
sistema de estados acabaria com identidades auto-relacionadas e não coletivas. Nesta seção,
Wendt fala sobre uma “causa eficiente”, a predação, que, em conjunto com a anarquia como
uma forma permissiva, pode gerar um sistema de autoajuda. O argumento do predador é
direto e convincente. Por qualquer razões - biologia, política doméstica ou vitimização
sistêmica - alguns estados podem se tornar predispostos à agressão, forçando o(s) outro(s)
estado(s) a combater(em) fogo contra fogo ou sofrer(em) as consequências. Porém a
possibilidade de predação não quer dizer que a qualquer momento pode acontecer uma
guerra.

Há duas possíveis anarquias exploradas no trecho a anarquia de dois e a anarquia de


muitos; Na anarquia de dois se o Ego é predador Alter deve definir sua segurança em termos
de autoajuda ou pagar o preço, já na anarquia de muitos o efeito da predação depende do
nível de identidade coletiva já alcançada, se a predação ocorrer logo após o primeiro encontro
no estado de natureza, vai forçar outros a se defenderem, primeiro individualmente e depois
coletivamente se eles vieram a perceber uma ameaça comum, porém se os estados já
estiverem em uma realidade Hobbesiana em que todos desconfiam de todos uma aliança não
será formada descartando a possibilidade de um ataque conjunto ao predador. O momento de
surgimento do predador é essencial em relação à formação do coletivo ou não.

IV) A soberania, o reconhecimento e a segurança:

Tendo criticado o pensamento do Estado anárquico de Waltz, Wendt traz alguns


conceitos novos como a soberania e o reconhecimento. Ele traz para debate o Estado
Hobbesiano, onde apresenta fortemente o poder de dissuadir ameaças. Falando mais sobre a
soberania, que é apontada como uma transformação que gera uma certa individualidade,
dependendo assim do reconhecimento de outros para existir, já que é uma instituição.
Levando esse conceito, chega-se à ideia de reconhecimento, onde no Estado ideal é
necessário ser reconhecido por outras potencias para se tornar uma. A soberania é dada aqui
como certa, evitando toda a ansiedade e dúvida de um sistema anárquico, só não seria válido
com duas condições: (1) regularização das intervenções e (2) os atores estarem insatisfeitos.

Também é levado para a discussão a cooperação entre egoístas, que gera muita
preocupação e falta de confiança. As ações unilaterais são a forma mais direta de fazer algum
acordo, mas precisa de incentivos para engajar. Tradicionalmente, as interações não mudam.

V) Os desafios da Segurança Coletiva e Conclusão:

Segundo o autor, o processo de interdependência e segurança coletiva enfrenta dois


desafios: o primeiro é que é um processo lento e gradativo; o segundo é fazer com que os
atores não se identifiquem uns aos outros de maneira negativa. A União Soviética se torna um
bom exemplo para esse paradigma, pois houve uma clara competição dos sistemas de
segurança Leste e Oeste, principalmente durante os primeiros anos da guerra fria, devido às
desconfianças e inseguranças projetadas pelos dois blocos. Durante a détente, foram tomadas
políticas mais voltadas à confiança entre os antagonistas, até que, durante a administração
Gorbachev, finalmente se alcança uma cooperação e interdependência significativa com o
Ocidente. A tese do autor, portanto, se confirma, pois de fato ocorreu um processo lento e
gradativo (durante todo o período da Guerra Fria) do qual os atores (Estados Unidos e União
Soviética) finalmente se veriam de maneira positiva.

Por fim, o autor faz uma síntese das teorias das relações internacionais discutidas até
então. Segundo o mesmo, todas as teorias de relações internacionais são baseadas em teorias
provindas da relação entre agentes (Estados ou indivíduos), processo (como o histórico) e
estrutura social (como a sociológica ou psicológica). Dentre as principais debatidas, é
chegado a conclusão de qual analisaria melhor as relações internacionais: uma união entre o
neoliberalismo e o construtivismo. Os neoliberais seriam incapazes de criar uma teoria
sistêmica que saia da estrutura neorrealista, e os contratualistas (ele incluso), dão muito foco
às questões ontológicas e pouco às empíricas. Nesse sentido, essa união faria com que um
complementasse a falha do outro.

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