Você está na página 1de 10

Exterminismo e a política como teatro em E. P.

Thompson
Ricardo Gaspar Müller∗
Introdução
Thompson formulou suas idéias sobre a política como teatro, como representação do
poder, e sobre o contrateatro no protesto dos movimentos populares, especialmente em seus
trabalhos dedicados às formas de rebelião nas sociedades pré-industriais e nos primeiros
momentos do movimento operário. A esfera teatral do exercício do poder político busca
conformar os governados, manter seu consentimento, ativo ou passivo; perpetuar o respeito às
normas, valores e símbolos; fixar os limites do politicamente possível e tolerável. Constitui
parte fundamental da hegemonia, domínio não baseado diretamente na coerção material. Mas ,
a meu ver, tem sido pouco discutida sua abordagem sobre as relações entre teatro, politica e
poder em seus ensaios sobre a questão do exterminismo e os mecanismos de luta entre as
condições da guerra fria e a formação dos movimentos pacifistas.1 Nesse texto apresentamos
nossas primeiras notas de estudo sobre o tema.
Após os “eventos de 1956”, E. P. Thompson rompe com o Partido Comunista Britânico e
torna-se porta-voz e defensor de uma concepção humanista de socialismo e figura chave na
Campanha (pelo) Desarmamento Nuclear Europeu (END), fundada em abril de 1980.
A partir desse ano, interrompe sua pesquisa histórica básica e, ao lado de antigos
companheiros, partilha a liderança de um movimento político internacional de caráter pacifista.
Seu objetivo na Campanha (END) era reverter as bases e decisões da Conferência de Yalta,
afastar e reduzir a influência de ambas as superpotências sobre o continente europeu e romper o
ciclo de militarização, a seu ver, duramente imposto sobre a população.
Sem habilidade anterior, Thompson tornou-se um expert em assuntos militares,
recorrendo às ferramentas conceituais da historia social para estudar um novo conjunto de
conceitos nos campos da tecnologia militar e de temas estratégicos. Nesse movimento, em 1982,
Thompson propõe a categoria exterminismo. Para ele, tornava-se necessária uma nova atitude
teórica e política para apreender as violentas transformações do processo histórico,
acompanhadas pela formação de um novo objeto, com características irracionais, que poderia
exterminar toda a população mundial.
Thompson acreditava que a Europa, nos anos de 1980, atravessava um período difícil e
contraditório. Ao mesmo tempo ameaçados pela perspectiva do exterminismo, colocava-se a
oportunidade de os europeus redefinirem seu sentido de identidade coletiva sua própria
percepção e a de seu futuro ao longo do processo. Em outubro de 1983, Thompson realizou um
comício para um público de 250.000 pacifistas no Hyde Park, em Londres, e lembrou-os das
tradições que personificavam: “Em algum momento, as antigas estruturas do militarismo têm de
romper em conseqüência de uma pressão pacífica, não-violenta, como as grades do Hyde Park
uma vez cederam devido à pressão de manifestações pacíficas pelo voto” (Thompson, 1983).
O que custaria para reunificar a Europa? Que modelos de sistemas sociais escolheriam os
europeus se diminuísse ou acabasse a influência de ambas as superpotências sobre a Europa? Ao
lado de seus companheiros na END britânica e européia, Thompson sensibilizou a opinião
pública para além das preocupações usuais sobre mísseis e foguetes, na direção de um debate
mais amplo envolvendo questões políticas básicas relativas ao período pós-guerra.


Professor Associado do Dept. de Sociologia e Ciência Política e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia
Política da UFSC. Pesquisa desenvolvida durante pós-doutorado no Programa de Pós-graduação em Sociologia e
Atropologia do IFCS, UFRJ, com bolsa do CNPq (2007-2008).
1
Cf., em particular, Thompson, E. P. (1982a, p. 8-11) a seção “O ‘Teatro do Apocalipse’”, de seu ensaio “Notas
sobre o Exterminismo”, para se avaliar a relação entre a idéia de teatro e a lógica da estrutura da guerra fria.

Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.
2

Thompson buscava formas de organização e estratégias de resistência às correntes


políticas dominantes da era da Guerra Fria. Em suas propostas rejeitava o jogo maniqueísta “ou-
ou” alimentado pela rivalidade Leste-Oeste e que, nesse contexto, obrigava a maioria dos
Estados a assumir posições: “A Guerra Fria subjugou os povos em rebanhos pró-Atlântico ou
pró-soviéticos e bloqueou qualquer ‘terceira via’ (...)” (Thompson, 1985, p. 245).
De fato, o fim da Guerra Fria alterou dramaticamente o cenário e as perspectivas
históricas. No entanto, poderíamos afirmar que, na atual conjuntura, houve uma efetiva
superação da rivalidade bipolar, e/ou de suas premissas, e de uma “paz” militarizada que
caracterizou o período definido como de Guerra Fria? Que novas condições se põem nas
relações internacionais, na política mundial? Como explicar a transformação desse processo e a
natureza da violência social contemporânea? Como, nessa perspectiva, a reavaliação da
categoria exterminismo, e de seus fundamentos, contribui para novas questões e pesquisas? Sem
dúvida vivemos um momento adequado para rever e repensar as idéias de Thompson e as
plataformas dos movimentos pacifistas que ajudou a organizar e de que participou. Suas
perguntas e propostas adquirem agora um renovado sentido e maior relevância, na medida em
que Thompson procurou, justamente, pensar um novo mundo além e depois da Guerra Fria, e
mostrar como uma “nova ordem mundial” poderia existir e funcionar, em função dos esforços
conjuntos de cidadãos e estadistas. Afinal, à medida que essa arena global se abre a novos
alinhamentos e conflitos, antes inexistentes devido à dissuasão, ou ao “equilíbrio do terror”
bipolar, formam-se, ao mesmo tempo, espaços para uma nova sensibilidade política, mas
também para novas tensões e ameaças.
Naquele contexto, Thompson (1982a) denuncia o caráter irracional do objeto e faz um
apelo à razão, coerente com suas convicções teóricas. Como se antevisse as tendências e
polêmicas contemporâneas: por um lado, entre os céticos que argumentam que qualquer forma
de saber é inteiramente relativa a uma estrutura teórica ou a um sistema de crenças socialmente
justificado, em função de que o conhecimento equivaleria a uma mera construção da realidade,
perdendo-se de vista a apreensão das relações funcionais dos fenômenos empíricos; por outro,
na linha thompsoniana, os que afirmam a regência do real nos processos cognitivos. Em suma,
ele teria prenunciado o profundo ceticismo epistemológico e ontológico nos dias de hoje, sua
expressão em tendências irracionalistas e seus reflexos na prática política.
Muitos militantes de esquerda na Inglaterra, ativos na campanha pelo desarmamento
unilateral, chegaram à conclusão, nos anos de 1980, que havia um problema central na
balança de poder criada pela guerra fria. Entre outros aspectos, a evidência
demonstrava que nenhum dos blocos em antagonismo poderia “ganhar uma guerra”. A
luta definia-se em outro patamar, concentrando-se no questionamento e no
enfraquecimento do processo e de suas premissas ideológicas. Para Thompson (1982,
p. 25), a Europa era o ponto de tensão do sistema da guerra fria..
O programa do END na década de oitenta combinou um novo radicalismo popular capaz
de enfrentar as motivações da guerra fria e seu status quo. Seu projeto era o de avaliar e
estabelecer a autonomia da Europa e garantir as condições de sua manutenção. Naquele
momento, o movimento considerava o cenário do “teatro” europeu como um todo, ocupando
uma posição única, pois oferecia pontos de acesso para o desenvolvimento de um processo de
deslegitimação da guerra fria a partir da própria arena de embate entre União Soviética e
Estados Unidos.
O objetivo dos grupos, como a Carta 77 (Charter 77) ou a CND, era o de convencer os
governos europeus a romper com a força de dominação – e o enfrentamento – dos dois blocos.2
Com esse objetivo, apresentavam um cenário com apenas duas alternativas: a vitória da luta
2
Cf. Thompson, E. P. (1982, p. 28). Thompson lembra que em 16 de novembro de 1981 foi lançado em Praga um
manifesto da “Carta 77” (Charter 77) “defendendo os direitos humanos da (então) Tchecoslováquia e enfatizando a
mútua interdependência entre as causas da paz e da liberdade”.

Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.
3

contra esse status quo ou a certeza da destruição mútua – afinal, em caso de embate efetivo, o
“teatro” europeu provavelmente seria também lócus dos ataques. Nesse contexto, propunham
um eventual diálogo entre as partes, que organizasse uma posição unificada para subsumir os
antagonismos em diretrizes para a paz. Essa resposta, aparentemente simples, ao absurdo da
guerra fria dependia de uma crença: a de que a humanidade teria mais a oferecer do que o
consumo desenfreado dos recursos mundiais até sua exaustão e total destruição. Para Thompson
(1982, p. 35) essa injunção tornou-se vital.
A contribuição mais significativa de Thompson nos debates sobre a guerra fria – mas
sobretudo contra a “corrida armamentista”, a “ameaça nuclear” e em nome da organização de
grupos e movimentos pacifistas –, nessa época, talvez seja o ensaio Protest and Survive, de
1980, em resposta ao documento do governo conservador inglês, Protect and Survive, sobre
como se proteger no caso de um ataque nuclear.3
No ensaio Protest and Survive, Thompson antevê a Europa não como um “teatro de
guerra”, mas como o “teatro da paz”, resultante de pressão popular democrática. Mas para esse
cenário acontecer, seria necessária uma détente internacional que assegurasse um futuro
independente do sistema de guerra. Ou seja, uma vez definida uma estratégia, as contradições do
papel da Europa na guerra fria poderiam ser usadas contra os “guerreiros” em Washington e
Moscou.
A construção dessa estratégia demandou tempo e dedicação de Thompson ao longo dos
anos de 1980, e incentivou várias formas de resistência popular. Uma resistência necessária
porque, afirmava ele, a política da guerra fria se estruturava de tal maneira que a idéia de
extermínio da sociedade era perfeitamente coerente com a lógica do processo.
Nesse contexto, Thompson (1982a, p. 4-5), percebendo a existência de “uma dinâmica
interna e de uma lógica recíproca que requerem uma nova categoria de análise”, elabora o
conceito de exterminismo, inspirado em Marx e, a seu ver, adequado para examinar a lógica e a
dinâmica dessa nova realidade.
Em termos teóricos, o aspecto mais controverso da interpretação de Thompson sobre o
sistema da guerra fria é sua rejeição das noções de imperialismo e militarismo, associadas,
segundo ele, a circunstâncias convencionais ou específicas, cada uma expressando diferentes
níveis ou aspectos de uma crítica ao capitalismo: conceitos inadequados, portanto, para a análise
da guerra fria. Segundo Thompson (1982a, p. 1-2), ambos traduzem um forte conteúdo
ideológico e, em sua formulação, expressam a idéia de um “sistema”, racional de início, mas que
eventualmente pode provocar sua própria implosão irracional.4
Thompson (1982a, p. 332-338) sustenta que:
Necessitamos uma categoria nova [exterminismo] para definir esta época clara de
história de confronto nuclear – e nunca é pouco dizer que isto não significa, mediante
um gesto de varinha mágica, que seja necessário renunciar a todas as categorias
anteriores ou que não funcionem mais todas as forças históricas anteriores. (...) Não se
trata simplesmente de uma questão de força: é uma questão de legitimidade. Ali onde
nenhuma forma de poder está legitimada pela responsabilidade civil e por um processo
aberto como é devido, pode ocorrer que uma forma de poder dê lugar a outra. Cada
uma destas formas de poder é tão legítima ou ilegítima quanto a outra.
O “exterminismo” da guerra fria se baseia na dinâmica do sistema de armamentos.
Embora pareça um movimento racional, no qual os agentes participantes tomam decisões

3
Cf. Thompson, E. P. (1980a, p. 33). Convém observar que a publicação do Manifesto foi patrocinada pela
Bertrand Russell Peace Foundation e pela CND.
4
Cf. Thompson, E. P. (1982a, p. 1-2). Ele comenta, mas sem maiores detalhes, que “a Primeira Guerra Mundial e o
colapso do nazismo seriam exemplos de militarismo e imperialismo caminhando na direção de seus próprios fins”.

Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.
4

aparentemente racionais, como assinalamos, no âmago do processo desenvolve-se uma lógica


perversa, um sistema de autogeração e um estado generalizado de inércia na direção da
destruição total.
Para além do imperialismo e do militarismo, os sistemas correspondentes a esses blocos
são complexos militares e industriais que a população civil é induzida a sustentar (por meio de
investimentos, impostos, quotas de trabalho, etc.). Em sua lógica perversa, o processo político
serve tão-somente para legitimar e justificar sua própria reprodução. Para reproduzir o sistema,
as elites governantes, segundo Thompson (1982a, p. 22),
passaram a precisar de uma situação permanente de guerra, de modo a legitimar sua
dominação, seus privilégios e prioridades; para silenciar o dissenso; para exercer a
disciplina social e desviar a atenção da evidente irracionalidade da operação. Eles se
habituaram tanto a esse modo, que não conhecem outro modo de governar.
Thompson e seus companheiros da END, notadamente Mary Kaldor e Dan Smith,
acreditavam que os blocos de poder em conflito temiam a possibilidade de que posições não-
alinhadas ganhassem credibilidade popular. Ele recorre aos exemplos de Dubcek e Allende,
indicando que não continuaram vivos porque desafiaram “as verdadeiras premissas do duplo
campo de força ideológico”, e as alternativas que representavam, enfraqueciam a balança de
poder. Esse campo de forças mostra também a extensão do aumento do controle do Estado por
meio do pretexto dos “interesses nacionais”. Dubcek e Allende demonstraram, também, que as
pressões da guerra fria reverberavam inclusive em Estados considerados “secundários”, onde,
entretanto, as contradições centrais do sistema mais se manifestavam. O principal desafio para
esses países era o de organizar formas de resistência popular, um fator que poderia minar a base
de poder sobre a qual o exterminismo fora construído.5
A “tecnologia do apocalipse” oferece sua própria previsibilidade: o extermínio da
civilização no hemisfério norte. À sombra dessas colocações, e em posição muito semelhante à
de Rudolf Bahro, Thompson insiste na formação de uma nova consciência.6 A questão da luta de
classe mantém-se relevante, mas o imperativo agora é o da salvação da própria humanidade, ou
seja, com o exterminismo a causa se redefine.
A luta contra o sistema da guerra fria havia consolidado uma base com a campanha da
END. Porém, essa estratégia pan-européia requeria, ainda, uma ampla ação popular e a
manutenção de suas atividades, pelo menos, até que se formasse um novo discurso político entre
os dois blocos antagônicos. Nesse contexto, o neutralismo e o não-alinhamento poderiam
constituir táticas adequadas para os socialistas, juntando-se a outros movimentos de liberação e
de luta antiimperialista onde fosse possível. Essa posição também reafirmava a necessidade de
um internacionalismo antiexterminista mais abrangente, de modo a reforçar uma estratégia que
viabilizasse as frentes populares em todo o mundo. A nova agenda internacionalista supunha
uma recusa inequívoca da ideologia dos dois blocos, negando qualquer compromisso com os
ideólogos do exterminismo, e a estratégia deveria ser orientada em ambos os lados da “cortina
de ferro”. A proposta objetiva de Thompson de uma luta-no-contexto agora representa um
“imperativo humano e ecológico”.7 Ele (1982a, p. 29) comenta a esse respeito:
Esse internacionalismo deve ser conscientemente antiexterminista: deve se opor aos
ditames ideológicos de ambos os blocos; deve incorporar em seu pensamento, em suas

5
Vale registrar que a categoria de exterminismo também se orientava pela crítica ao princípio de estratégia militar
conhecido como MAD (Mutual Assured Destruction), “Destruição Mútua Assegurada”. Ironia ou não, em inglês
mad admite vários significados no campo da “loucura” e da “raiva”.
6
Cf. Bahro, R. (1982a), “A New Approach for the Peace in Germany”, in Thompson, E. P. (1982a), p. 87-116.
7
Cf. também Sukhov, M. J. (1989), “E. P. Thompson and the Practice of Theory: Sovereignty, Democracy and
Internationalism”, Socialism and Democracy, Autumn-Winter, p. 105-140 e especialmente p. 122-127, sobre o
internacionalismo de Thompson.

Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.
5

trocas, em suas atitudes e em suas expressões simbólicas os princípios da


sobrevivência humana e ecológica.
Esses são, de modo geral, os principais contornos da proposta antiexterminista de
Thompson.
O ensaio “Notes on Exterminism” foi alvo de muitas críticas. Além das advindas das
posições mais conservadoras, muitos marxistas consideraram problemática a intervenção de
Thompson nessa luta. O livro Exterminism and Cold War (1982a) publicou, além do referido
ensaio, colaborações a respeito do tema de pensadores como Raymond Williams, Rudof Bahro,
Mike Davis, Noam Chomsky, entre outros e, a convite da editora, “New Left Books”,
Thompson também escreveu um artigo com a síntese das colaborações e uma resposta às críticas
específicas aos pontos mais controversos de suas propostas.
Nessa parte resgatamos a tendência geral dos comentários, basicamente as tensões
teóricas e estratégicas no interior da própria noção de exterminismo e privilegiamos as que nos
parecem mais significativas nesse contexto: as de Raymond Williams e Mike Davis.
Raymond Williams (1982a, p. 65-85), em “The Politics of Nuclear Disarmament”, por
exemplo, questionou a noção de “exterminismo” por considerar que ela confundia a análise
socialista e, portanto, dificultava a organização de uma estratégia socialista coletiva.
Considerava, ainda, que o “exterminismo” supõe um determinismo tecnológico e prejudica um
exame aberto das relações sociais e econômicas implícitas na corrida armamentista.8
Em suas análises, Williams (1982a, p. 65-85) reprova as teses de Thompson, a seu ver,
um desvio dos postulados do humanismo socialista, um viés que atribuía ao conhecimento
adquirido por Thompson sobre as características tecnológicas da corrida armamentista. Para
Williams (1982a, p. 85), Thompson teria abandonado os critérios socialistas em uma tentativa
desesperada para combater a possibilidade exterminista da guerra fria. O argumento de
Thompson coloca “a Bomba” no centro do processo histórico e, dessa forma, tende a
desqualificar o papel da luta de classes na dinâmica da história. Além disso, o fato de isolar a
Europa como centro catalisador do “teatro de guerra” (embora verdadeiro até certo ponto),
acabava por ignorar, ou reduzir, a escala global da luta de classe. Williams (1982a, p. 80)
compreendia que uma “contribuição socialista específica” que demonstrasse que as relações de
classe e os modos de produção configuram o elo entre o tear manual e o míssil industrial era
prioritária e necessária para complementar o conceito de Thompson.9 De seu ponto de vista,
seriam três as premissas que inseririam a política do desarmamento nuclear em uma luta
concreta, não apenas contra as desumanas estruturas econômicas, sociais e militares próprias ao
modo de produção, mas na busca de uma alternativa socialista e do fortalecimento de uma
política baseada na luta de classe:10
1. relações entre os conceitos de “classe dominante” e “complexo militar-industrial”,
com evidentes efeitos sobre a questão de substituir a noção de “exterminismo” por
categorias de análise socialista já existentes ou possíveis; 2. a difícil questão do que é
chamado, em alguns círculos, de “bomba socialista” ou “os mísseis da classe
trabalhadora internacional”; 3. os problemas dos vínculos entre crise
econômica e militar.

8
Cf. Shaw, M. (1990) “From Total War to Democratic Peace: Exterminism and Historical Pacifism”, in Kaye, H. e
McClelland, K. (1990, p. 233-251); cf. também Simon Bromley et al. (1988), “After Exterminism”, New Left
Review, n. 168.
9
Cf. Thompson, E. P. (1982a) para outros ensaios que também discutiram o seu artigo (“Notes on Exterminism, the
Last Stage of Civilization”), como os de Roy e Zhores Medvedev, Rudolf Bahro, Fred Halliday, Mary Kaldor,
Noam Chomsky, Etienne Balibar.
10
Cf. Mandel, E. (1977, p. 284-293), “Peaceful Coexistence and World Revolution”, in Blackburn, R. (ed.)
Revolution and Class Struggle, London: Fontana.

Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.
6

Willliams (1982a, p. 80) concorda que a indústria bélica, a pesquisa militar e a segurança
de Estado situam-se e devem ser compreendidas no contexto das sociedades capitalistas
contemporâneas. Tal complexo, continua, existe de modo análogo – mas de forma alguma
idêntico – em países como a União Soviética e a China. Nesse ponto situa-se uma de suas mais
importantes críticas a Thompson: a de embaralhar essas diferentes formações em uma entidade
única e, principalmente, não considerar conceitos e características mais gerais da classe
dominante – por exemplo, o fato de que ela possui o monopólio ou o predomínio na ameaça e
efetivação da violência – que não são uma conseqüência do sistema de armas nucleares. Lembra
– o que Thompson parece não fazer – que tem sido fundamentalmente em sociedades não
nucleares que Estados militarizados e de alta segurança têm se formado e assumido poder
absoluto e determinante.
Mike Davis (1982a, p. 35-64) também localiza um certo determinismo na noção de
exterminismo e observa que o papel dos indivíduos, o próprio “agir humano”, estaria sendo
negado por Thompson. Segundo Davis (1982a, p. 43), aceitando-se como irracional a ameaça da
corrida armamentista, bem como a premissa do exterminismo, o “agir humano” estaria sendo
negado e a causalidade mecânica reingressaria na história. Thompson, significativamente, não
teria considerado a ameaça do uso da bomba no jogo de poder e a dissuasão como ideologia
(desenvolvida pelas classes dominantes) ou, mais especificamente, não teria distinguido
“conjuntura e crise, (...), classes e modo de produção”.11 Com efeito, tal como Williams, Davis
sublinha que o exterminismo não é uma noção a que essas importantes categorias pudessem ser
relacionadas. Ao fim e ao cabo, o próprio método dialético de Thompson poderia ser empregado
contra suas idéias.
A resposta de Thompson (1982a, p. 329), “Europe, the Weak Link in the Cold War”,
aceita muitas das críticas a seu conceito de exterminismo.12 Em maio de 1980, ele relata, um
pessimismo político havia sucedido aos então recentes eventos mundiais, como a crise do
petróleo, as guerras no Oriente Médio e em países em desenvolvimento, a invasão soviética do
Afeganistão e o programa de “modernização” da OTAN, e que essa situação teria influenciado
seu próprio “pessimismo intelectual”, refletindo-se em suas análises e nas perspectivas
apresentadas. Como Raymond Williams e outros haviam observado, Thompson (1982a, p. 330)
admite que alguns aspectos de seu texto apontam para um certo grau de determinismo, em
especial em relação à idéia de que “os sistemas de armamentos rivais, por si mesmos e por sua
lógica recíproca, devem levar-nos ao extermínio”. Reconhece seus erros (como o de ter
estabelecido relação entre o processo de industrialização e a indústria militar e o
armamentismo). Entretanto, se a maneira pela qual a análise foi exposta pode ter sido
equivocada, Thompson (1982a, p. 330) manteve o núcleo de seu argumento:
As Notas não se limitavam a sugerir [esses pontos]: já havia, no apelo inicial da END,
a linha geral de uma estratégia de resistência e meu ensaio concluía com um resumo
dessas alternativas (...). Não quero abandonar a categoria de “exterminismo” sem
deixar de tentar um mínimo de defesa. O termo em si mesmo não importa; é feio e
excessivamente retórico. O que importa é o problema para o qual aponta. Segue
havendo alguma coisa, no movimento de inércia e na lógica recíproca dos sistemas de
armamentos rivais – e na configuração de interesses materiais, políticos,
ideológicos e de segurança que os acompanha –, que não se pode explicar
atendo-se às categorias de “imperialismo” ou de “luta de classes internacional”.
Se as premissas do exterminismo eram problemáticas, as questões propostas
continuavam relevantes. Por exemplo, dada a eficiência da tecnologia nuclear, os minutos

11
Cf. Davis, M. (1982a, p. 63-64), que chama a atenção para onde e como, naquele momento, acontece um
“verdadeiro exterminismo” (“actually existing exterminism”), decorrente da miséria, da fome e da violência social
nos países do Terceiro Mundo, como também das ditaduras e guerras em muitos desses países.
12
Cf. também Thompson, E. P. (1985, p. 135-152), onde o artigo aparece sob o título de “Exterminism Reviewed”.

Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.
7

restantes na iminência de uma crise em que se faria uso dos sistemas especiais de “lançamento
imediato diante do sinal de alerta” (Launch-On-Warning/LOW) não permitiria tempo para
negociações políticas ou outras iniciativas.13 A irracionalidade do processo era e permanecia o
problema central. Se os processos internos em cada bloco operavam de modo distinto, a
tendência continuava a mesma, a de uma dinâmica de guerra que se auto-reproduzia
indefinidamente. Para Thompson (1982a, p. 332-333), as noções convencionais de luta de classe
não respondiam à urgência da situação, que exigia novas definições. O exterminismo era uma
delas. A seu ver, as interpretações tradicionais sobre o imperialismo e a luta de classe se não
deveriam – ou poderiam ser negadas – pareciam insuficientes para pensar o novo contexto ou,
pelo menos, suas tendências e dinâmica. Em suas palavras:
Se necessitamos de uma categoria nova para definir essa época específica de história
(de conflito e de confrontação nuclear) (...), isso não significa que se prescinda de todas
as categorias anteriores ou que deixem de funcionar todas as forças históricas
anteriores. (...) Imperialismos e lutas de classe, nacionalismos e conflitos entre públicos
e burocracias, todos continuarão a funcionar com seu vigor de costume; pode ser que
continuem a dominar esse ou aquele episódio histórico. Significará, antes de tudo, que
uma figura nova, uma figura sem fisionomia e ameaçadora, tenha se unido às dramatis
personae da história; uma figura que projeta uma sombra mais brusca e escura que
qualquer outra. E (...) já estamos no interior dessa sombra de extremo perigo. Porque à
medida que a sombra cai sobre nós, vemo-nos impelidos a assumir o papel desse
personagem. (Grifo no original)
Em seu artigo de 1991, “Ends and Histories”, Thompson realiza uma revisão da
categoria exterminismo (suas determinações e conseqüências) e de seu envolvimento na
constituição de uma “Terceira Via” política, a organização dos principais movimentos pacifistas
britânicos (CND, END) e de sua reunião e articulação a outros movimentos pacifistas
internacionais, de modo a não só evitar um eventual confronto nuclear, mas, sobretudo, acabar
progressivamente com a existência dos grandes blocos político-militares e a condição de
alinhamento engendrada.14 As propostas dessa Terceira Via defendiam o internacionalismo –
hegemonicamente de caráter socialista – e a solidariedade subjacente a esses movimentos.15
Em seu resgate, Thompson (1991, p. 12) toma como referência uma passagem de seu
artigo “Exterminism: the Last Stage in Civilization”: “Era uma contradição não-dialética, um
estado de antagonismo absoluto, em que ambos os poderes cresciam por confrontação, e que só
poderia ser resolvido pelo extermínio mútuo”. E ele mesmo contesta a amplitude da conclusão: a
idéia de exterminismo pertence ao início de 1980, antes de os movimentos pacifistas começarem
a atuar. Thompson lembra que concordou com a crítica de Raymond Williams (de que usou uma
metáfora determinista para descrever o conceito de exterminismo), bem como as observações de
que “o exterminismo havia sido superestimado e negado pelos eventos”.16
Thompson (1991, p. 12) admite que essa premissa seja em parte verdadeira, embora
permaneçam válidos muitos de seus argumentos. A seu ver, “as economias e ideologias de
ambos os lados poderiam entrar em colapso sob a pressão de uma eventual segunda guerra fria”.
Por outro lado, ele também imaginou a organização de movimentos de resistência em
contraposição à lógica exterminista. Nesse sentido, Thompson (1991, p. 12) ainda hesita em
13
Esse comentário foi em resposta ao artigo de Roy e Zhores Medvedev, “The USSR and the Arms Race”, in
Thompson, E. P. (1982a, p. 153-174).
14
Cf. Thompson (1991, p. 7-25), in Kaldor, Mary (org) (1991). Seu ponto de partida é uma crítica à idéia de “fim
da história”, como a de Fukuyama, mas defendida por outros autores em seus diferentes matizes, como Allan
Bloom. Observe-se que a proposta de uma “Terceira Via” é anterior e oposta aos projetos de Giddens.
15
Cf. comentários abaixo sobre o tema (os vínculos entre Thompson e o internacionalismo).
16
No caso, os eventos da 2ª. metade da década de 1980, em especial o Intermediate-Range Nuclear Forces Treaty,
ou INF Treaty (United States-Union of Soviet Socialist Republics [11 de dezembro de 1987]). Cf. Simon Bromley
et al., “After Exterminism”, in New Left Review I/168, March-April 1988.

Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.
8

abandonar por completo o assustador conceito: as bases materiais para o exterminismo foram
pouco reduzidas, mesmo as estruturas ideológicas da guerra fria estão instáveis. Observa
também que, como indicava em sua definição de 1980, sempre devem ser analisadas as bases
institucionais do exterminismo: o sistema de armamentos, o conjunto do sistema econômico,
científico, político e ideológico de sustentação (...) o sistema social que pesquisa e produz (essas
condições) e policia, justifica e mantém o sistema funcionando. Entretanto, para Thompson
(1991, p. 12), essas condições permanecem; descansam em compartimentos centrais de ambas
as economias, esperando uma oportunidade para reativar sua lógica – como a constante
modernização dos armamentos.
Referências:
BESS, Michael (1993). Realism, Utopia, and the Mushroom Cloud. Chicago: Univ. of Chicago.
BLACKBURN, Robin (ed.) (1993). Depois da Queda. 2 ed., Rio: Paz e Terra.
BROMLEY, Simon e ROSENBERG, Justin, “AfterExterminism”, in NLR I/168, March-April.
CARTER, Jimmy (2005). Our Endangered Values: America's Moral Crisis. New York: Simon & Schuster.
DUAYER, M. et al. “Dilema da sociedade salarial: realismo ou ceticismo instrumental”. Niterói:
UFF/Departamento de Economia, trabalho não publicado, 2002.
_______. “Economia Depois do Relativismo: Crítica Ontológica ou Ceticismo Instrumental?”. Niterói:
UFF/Departamento de Economia, mimeo., 2003.
EAGLETON, T. After Theory. New York: Perseus, 2003.
EAGLETON, T. The Idea of Culture. Malden, MA: Blackwell, 2000.
HUNTINGTON, Samuel P. The clash of civilizations? The debate. Foreign Affairs Staff, 1996.
KAYE, Harvey J. e McCLELLAND, Keith (ed) (1990). E. P. Thompson: Critical Perspectives. Cambridge: Polity
Press & Oxford: Blackwell.
JOHNSON, Chalmers (2004). The Sorrows of Empire: Militarism, Secrecy, and the End of the Republic (The
American Empire Project). New York: Metropolitan.
JOHNSON, Chalmers (2004). Blowback: The Costs and Consequences of American Empire. 2nd ed. New York:
Henry Holt and co.
KALDOR, Mary (ed.) (1991). Europe From Below. London: Verso.
MARX, Karl. Sobre Proudhon: (Carta a J. B. Schweitzer). 1865, in www.marxists.org
MISSE, Michel. “Da Violência de Nossos Dias”, in www.unicrio.org.br/Textos/dialogo/indice.htm, 2002.
MISSE, Michel, “Violências no Brasil e na Índia: para uma (difícil) comparação”, in Dilip Loundo e Michel Misse
(org.). Diálogos Tropicais – Brasil e Índia. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2003.
MISSE, Michel. Crime e violência no Brasil contemporâneo: estudos de sociologia do crime e da violência
urbana. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.
MORAES, Maria Célia M. e MÜLLER, Ricardo G. (2004). “Historia y experiencia: las contribuciones de E. P.
Thompson a las investigaciones en las ciencias sociales”. (VIII Congreso Español de Sociología, Federación
Española de Sociología (FES), Alicante, Setembro de 2004), cd-rom, Grupo de trabajo 01. “Metodología”; p. 1-17.
MORAES, Maria Célia M. e MÜLLER, Ricardo G. (2003). “Tempos em que a 'razão deve ranger os dentes': E. P.
Thompson, História e Sociologia”. Campinas, XI Congresso Brasileiro de Sociologia, SBS/Unicamp, setembro,
Caderno de Resumos, p. 202/203.
MORAES, M. C. M. e DUAYER, M. “Neopragmatismo: a história como contingência absoluta”. Tempo, Revista
do Departamento de História da UFF, vol. 2, n. 4, dezembro, 1997.
MORAES, M. C. M. e DUAYER, M. “História, estórias: morte do ‘real’ ou derrota do pensamento”? Perspectiva,
CED/ UFSC, ano 16, nº. 29, 1998.
MORAES, Maria Célia M.. “O renovado conservadorismo da agenda pós-moderna”, in Cadernos de Pesquisa, S.
Paulo: Fundação Carlos Chagas, v. 34, n. 122, maio/agosto 2004, p. 337-357.
MÜLLER, Ricardo G. (2002). Razão e Utopia: Thompson e a História. S. Paulo: USP, mimeo.

Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.
9

MÜLLER, Ricardo G. (2004). “Realismo e Utopia: E. P. Thompson e o exterminismo”, Esboços, n. 12,


Florianópolis, Programa de Pós-graduação em História/UFSC, 2004, p. 97-106.
MÜLLER, Ricardo G.. Razão e Utopia: Thompson e a História. Maringá, Diálogos, UEM, v. 6, n. 6, p. 231-235,
2002.
MUNHOZ, Sidnei J. (2003). “O Governo Dutra, a Guerra Fria e a repressão política aos comunistas (1946-1950)”.
Maringá: UEM. Mimeo.
MUNHOZ, Sidnei J. (2002). “Ecos da emergência da Guerra Fria no Brasil (1947-1953)”, Diálogos, Maringá:
UEM, v. 6, p. 41-59.
PANITCH, Leo & LEYS, Colin (ed). “Telling the Truth”, Socialist Register 2006. London: Merlin.
PANITCH, Leo & LEYS, Colin (ed). “The Empire Reloaded”, Socialist Register 2005. London: Merlin.
POSTONE, Moshe. “History and Helplessness: Mass Mobilization and Contemporary Forms of Anticapitalism”, in
Public Culture 18:1, 2006, p. 93-110.
SADER, Emir (org.) (1995). O Mundo depois da Queda. S. Paulo: Paz e Terra.
THOMPSON, E. P. (ed) (1960).Out of Apathy. London: New Left Books/Stevens.
THOMPSON, E. P. (1978). The Poverty of Theory and Other Essays. London: Merlin.
THOMPSON, E. P. (1980). Writing by Candlelight. London: Merlin.
THOMPSON, E. P. e SMITH, Dan (ed) (1980a). Protest and Survive. Nottingham: CND.
THOMPSON, E. P. e SMITH, Dan (ed) (1980b). Protest and Survive. Harmondsworth: Penguin.
THOMPSON, E. P. (1982). Beyond the Cold War. Pamphlet. London: Merlin & END.
THOMPSON, E. P. (ed) (1982a). Exterminism and Cold War. London: Verso/New Left Books.
THOMPSON, E. P. (ed) (1982a). “Exterminism Reviewed”, in Exterminism and Cold War. London: Verso/New
Left Books.
THOMPSON, E. P. (1982b). Zero Option. London: Merlin.
THOMPSON, E. P. (1983). “Will 1983 end in darkness in Europe”, Sanity, (December 1983).
THOMPSON, E. P. (1985). The Heavy Dancers. London: Merlin.
THOMPSON, E. P. (1985a). Double Exposure. London: Merlin.
THOMPSON, E. P. (ed) (1985b). Star Wars. Harmondsworth: Penguin.
THOMPSON, E. P. (1991). “Ends and Histories”, in KALDOR, Mary (ed.) (1991). Europe From Below. London:
Verso, p. 7-25.
THOMPSON, E. P. (1993). Customs in Common. New York: New Press.
WALLERSTEIN, Immanuel. “Análise dos sistemas mundiais”, in GIDDENS, Anthony e TURNER, Jonathan,
Teoria Social Hoje, S. Paulo: UNESP, 1996, p. 447-470.
WALLERSTEIN, Immanuel. “As agonias do liberalismo: as esperanças para o progresso”, in SADER, Emir e
BLACKBURN, Robin (org.) O mundo depois da queda, S. Paulo: Paz e Terra, 1995, p. 31-50.
WOOD, E. M. (1998). The Retreat from Class. 2 ed., London: Verso (1ª. ed., 1986).
WOOD, E. M. (1995). Democracy against Capitalism. Cambridge: Cambridge University Press.
WOODWARD, Bob (2004). Plan of Attack. New York: Simon and Schuster.

Resumo:
Repensando o Exterminismo em E. P. Thompson

Ricardo Gaspar Müller

Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.
10

Em 1991 E. P. Thompson realizou uma revisão da categoria exterminismo e de seu


envolvimento na constituição de uma Terceira Via política, a organização de movimentos
pacifistas britânicos (CND, END) e sua articulação a outros movimentos internacionais, para
evitar um confronto nuclear e eliminar progressivamente os grandes blocos político-militares e a
condição de alinhamento engendrada. Suas propostas defendiam o internacionalismo –
sobretudo o socialista – e a solidariedade subjacente a essas campanhas. Retoma sua afirmação
anterior de que o exterminismo supunha uma contradição não-dialética, um estado de
antagonismo absoluto, em que ambos os poderes cresciam por confrontação, e que só poderia
ser resolvido pelo extermínio mútuo. E ele mesmo contesta a conclusão: a idéia de exterminismo
pertence aos anos de 1980, antes da atuação dos movimentos pacifistas.
Palavras-chave: Exterminismo; realismo político; reciprocidade.

Abstract:
In 1991 E. P. Thompson reviewed his own category exterminism and his activism to buid up a
political Third Way, to arrange and organize most of the pacifist British movements (CND,
END) and their relationship with other international groups alike, so that to prevent a nuclear
confrontation and progressively overcome the great political-military blocks and the status of
alignment. His proposals supported the internacionalism – especially the one of a socialist kind
– and the notion of solidaridity in these campaigns. He reaffirms that the condition of
exterminism conveyed a non-dialectical contradiction, a state of absolut antagonism, in which
both powers increased by a process of confrontation, what could only be resolved by mutual
extermination. He himself proposes to rethink his argument, for the idea of exterminism was
conceived in the early 1980s, before the social and pacifist moviments began to act.
Key-words: Exterminism; political realism; reciprocity.

Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.

Você também pode gostar