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Fundamentos do Realismo Político: Uma Análise Crítica do Primeiro Capítulo de

“A Política entre as Nações”

MORGENTHAU, Hans J. A política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz. 1. ed.
Brasília: Editora Universidade de Brasília: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo:
Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, 2003, cap. 1, p. 3-29.

A política entre as Nações é uma obra de caráter fundamental para os


estudiosos de Relações Internacionais, ao passo que encapsula elementos básicos e
necessários para o entendimento da dinâmica política entre as nações e formula a
Teoria Realista, que continua a ser uma das principais lentes para o estudo da política
internacional. Publicado pela primeira vez em 1948, pelo renomado professor e
consultor político Hans Morgenthau, o livro tornou-se um clássico ao redor do globo e
consolidou Morgenthau como um dos mais proeminentes teóricos das Relações
Internacionais do século XX.
O objetivo desta resenha é realizar uma análise do primeiro capítulo da obra “A
política entre as Nações”, intitulado “Uma Teoria Realista da Política Internacional”,
onde o autor apresenta os fundamentos da abordagem realista e delineia os princípios
essenciais que sustentam a sua teoria, abordando temas como poder, interesse
nacional e moralidade política.
A leitura desta obra, sobretudo o capítulo inicial, que é o objeto de análise
dessa resenha, é complexo e estimulante. Morgenthau conduz o leitor por um
caminho de reflexão, compelindo-o a questionar concepções preconcebidas e a adotar
uma abordagem crítica diante das questões políticas internacionais. Além disso, a
Teoria Realista é apresentada de maneira organizada e coerente, ao passo que o autor
traz uma abordagem crítica e fundamentada, fazendo essa leitura ser indispensável
para estudantes, acadêmicos e praticantes da política internacional.
Na primeira parte da obra, o autor destaca a importância de uma abordagem
realista e empírica para compreender a política internacional. Morgenthau ressalta a
necessidade de testar as teorias políticas com base em dados e evidências do mundo
real, a fim de torná-las úteis na compreensão e explicação da realidade política global.
Além disso, o autor explora a ideia de o pensamento político moderno ser marcado
pela disputa entre duas escolas doutrinárias, as quais diferem em suas concepções
sobre a natureza do homem, da sociedade e da política.
A primeira escola, conhecida como Idealismo, é descrita pelo autor como uma
corrente de pensamento que acredita em uma ordem ideal, fundamentada na
racionalidade e guiada por valores éticos que buscam promover o bem-estar de todos
os indivíduos. Morgenthau, aponta que o problema dos ideais reside na crença de que
o mundo idealizado pode ser alcançado rapidamente se todos o buscarem, já que se
baseia em princípios como a convicção de que a natureza humana é
fundamentalmente boa e pode ser moldada por meio da educação e da razão.
Por outro lado, o Realismo, adota uma visão mais pragmática da política,
argumentando que o mundo é moldado pelo conflito de interesses e pela competição
de poder entre os atores políticos. Os realistas consideram que é necessário lidar com
as forças inerentes à natureza humana, como a busca pelo poder e a autopreservação,
ao invés de tentar impor ideais abstratos. Ademais, é enfatizado a importância de
compreender a realidade política como ela é, em vez de como gostaríamos que fosse,
além da defesa de uma abordagem mais empírica e baseada na observação de fatos
concretos.
Na sua obra, Morgenthau destaca a presença de seis princípios fundamentais
no âmbito do realismo político, os quais são frequentemente alvo de má
compreensão. Esses princípios do realismo político são essenciais para a compressão
da teoria e prática política, fornecendo uma base sólida para a análise das relações
internacionais e dos conflitos entre os Estados.
O primeiro princípio apresentado pelo autor ressalta a convicção de que a
sociedade é fundamentada em leis objetivas, as quais têm suas raízes na natureza
humana. Dessa forma, compreender essas leis é essencial para a melhoria da
sociedade. Além disso, é ressaltado por meio deste primeiro princípio a necessidade
de uma política externa racional baseada em elementos racionais da realidade política,
afim de se atingir propósitos morais e práticos.
O segundo conceito abordado enfatiza a ideia de que as relações entre os
Estados são sempre configuradas em termos de poder. Morgenthau argumenta que o
poder é inerente à natureza humana, derivando do medo e do desejo de preservação,
e, portanto, qualquer teoria política que negligencie esse aspecto seria inadequada, já
que o homem tende a agir de forma a obter poder. O autor também argumenta que a
busca pelo poder influencia as ações dos atores políticos de modo que suas atitudes
possam ser previamente previstas.
No terceiro princípio, Morgenthau discute a ideia de que o interesse é a moral
por trás das ações, as quais são moldadas pelas necessidades e interesses do povo. Ele
destaca que essa dinâmica gera conflitos internos, impulsionando a busca por mais
poder e levando à insatisfação. Dessa forma, faz-se o entendimento de que na base de
cada ação há um interesse que nem sempre responde aos princípios éticos universais.
Nesse contexto, a moralidade é entendida como intrinsecamente ligada à política.
O quarto princípio surge do pressuposto de que os princípios éticos universais
não podem ser aplicados de forma direta às relações entre as nações, uma vez que
cada Estado busca seus próprios interesses. Morgenthau argumenta que a ética
política não é necessariamente benéfica para as nações, dada a diversidade de
interesses em jogo e a complexidade das relações internacionais.
O quinto conceito apresentado pelo teórico destaca que o realismo político se
recusa a identificar as aspirações morais de uma determinada nação com as leis morais
que governam o universo. O autor ressalta que os princípios morais de uma nação, seja
os valores do bloco soviético ou da sociedade norte-americana, não devem ser aceitos
como universais, ao passo que nenhuma visão é a mais verdadeira ou a mais correta.
Por fim, o último princípio do realismo político delineado por Hans Morgenthau
enfatiza a ideia de que a esfera política é autônoma, ou seja, ela possui suas próprias
regras e leis. Essa autonomia da política destaca a complexidade e singularidade desse
campo de estudo, enfatizando a necessidade de compreender suas dinâmicas internas
e suas interações sem reduzi-las a outras esferas de análise.
Em suma, o primeiro capítulo de “A Política entre as Nações” apresenta os
fundamentos da Teoria Realista de forma clara e concisa, destacando a importância de
uma abordagem empírica e pragmática para a compreensão da política internacional.
Hans Morgenthau, por meio de seus princípios fundamentais, oferece uma visão crítica
e fundamentada da dinâmica política entre as nações, fornecendo uma base sólida
para o estudo e análise das relações internacionais. Sua obra continua a ser uma
referência essencial para estudantes e acadêmicos interessados no campo das
Relações Internacionais, contribuindo significativamente para o desenvolvimento
teórico e prático dessa área do conhecimento.

Referências:

MORGENTHAU, Hans J. A política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz. 1. ed.
Brasília: Editora Universidade de Brasília: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo:
Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, 2003, prefácio, p. XI-XXXXIX.

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