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Ann
Tickner
I) Assim como a sociedade a política é regida por leis objetivas que tem suas
raízes na natureza humana, a qual é imutável. Portanto, é possível desenvolver
uma teoria racional que reflita essas leis objetivas;
II) O primeiro indicador do realismo político é o conceito de interesse, definido
em termos de poder, que incute a ordem racional na questão política e, então,
faz possível o entendimento teórico da política. O realismo político enfatiza o
caráter racional, objetivo e sem emoção (unemotional);
III) O realismo presume que interesse definido como poder é uma categoria
objetiva que é universalmente válida, mas não com um sentido que é fixado
de uma vez por todas. O poder é o controle de um homem sobre outro;
IV) O realismo político entende o significado moral da ação política. Também
entende a tensão entre o comando moral e os requisitos de uma ação política
exitosa;
V) O realismo político se nega a identificar as aspirações morais de uma nação
particular com leis morais que governam o universo. É o conceito de interesse
definido em termos de poder que nos salva de excessos morais e insensatez
política e;
VI) O realista político mantém a autonomia da esfera política. Ele pergunta “como
essa política afeta o poder da nação?”. O realismo político é baseado no
conceito pluralista da natureza humana. Um homem que não era nada além
de um “homem político” seria uma besta pois o faltaria restrições morais.
Mas, para desenvolver uma teoria autônoma de comportamento político,
“homem político” deve ser abstraído de outros aspectos da natureza humana.
A autora considera que esta é uma descrição parcial da política internacional porque é
baseada em presunções sobre a natureza humana que são parciais e que privilegiam a
masculinidade. Primeiramente, masculinidade e feminilidade são uma série de categorias
socialmente construídas que variam em tempo e lugar, tendo pouca relação com aspectos
biológicos.
Para começar sua busca por uma teoria racional e objetiva da política internacional,
Morgenthau constrói uma abstração chamada de “homem político”, uma fera sem restrições
morais. Morgenthau sabe que o homem real, assim como Estados reais, é tanto moral quanto
bestial, mas pelo fato de Estados não estarem inseridos nas leis morais universais que regem o
universo, aqueles que se portam moralmente no sistema internacional estão fadados ao
fracasso por conta das ações imorais dos outros. Estados podem agir como feras, pois a
sobrevivência depende da maximização de poder e vontade de lutar.
A autora não nega que o poder como dominação ocupa grande espaço nas relações
internacionais, mas há também outros elementos de cooperação nas relações entre Estados
que tendem a ser ofuscadas quando o poder é visto apenas como dominação.
A autora também pontua que mulheres apresentam uma preocupação maior com a
natureza, uma relação que existe há eras e persiste através de cultura, idiomas e história. O
movimento pela ecologia e o movimento feminista estão profundamente conectados. Ambos
dão importância à vida em equilíbrio com a natureza ao invés de dominá-la; ambos veem a
natureza como uma entidade não hierárquica na qual cada parte é mutualmente dependente
do todo.
A questão, então, se torna como colocar o pensamento maternal, que pode ser
encontrado tanto em homens quanto mulheres, na esfera pública. Achar uma humanidade
comum no oponente é uma condição de sobrevivência na era nuclear quando a noção de
ganhadores e perdedores se torna questionável. Pintar o oponente como menos humano é
frequentemente uma técnica do Estado para ter lealdade e aumentar a legitimidade aos olhos
de seus cidadãos, mas esse comportamento na era nuclear pode ser autodestrutivo.
Meninas são socializadas a resolver conflitos de forma mais passiva, desde a infância e
podendo refletir na resolução de conflitos internacionais. O estudo de Gilligan sobre o
comportamento de meninos e meninas no playground demonstra que meninas são menos
prováveis a tolerar altos níveis de conflito, sendo propensas a fazer brincadeiras com turnos,
nas quais o sucesso de uma não depende do fracasso de outra.
Nota-se que diferentemente de Morgenthau, que defende o uso de conceitos com
aplicações universais, as feministas, em sua maioria, tendem a defender a leitura contextual de
casos, tendo em vista o todo e também a conexão de diferentes partes componentes.
Outro posto que vai contra as visões nas quais são baseadas o realismo é o que Harding
chama de visão de mundo africana (African world view). No mundo africano o indivíduo é visto
como parte de uma ordem social, e age dentro dela, não sobre ela. Essa visão tem muito em
comum com a perspectiva feminista, ajudando a pensar de uma perspectiva mais global, a qual
aprecia a diversidade cultural, mas ao mesmo tempo reconhece uma crescente
interdependência que torna anacrônico o pensamento exclusivo baseado no sistema de
Estado-nação. A preocupação com a ecologia, o feminismo e a visão de mundo africana levam
a apreciação do outro como um sujeito cujas visões são tão legítimas quanto as nossas.