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Integrar diversos factores de produção num conjunto organizado e coerente apenas é possível
mediante uma referência a modelos organizacionais já conhecidos. Deste modo, a empresa deve
procurar uma resposta para a questão da integração dos seus membros na estrutura da
organização, procurando soluções organizacionais por meio de diagnóstico, identificando e
analisando os processos de racionalização do funcionamento de suas estruturas, assim como
através da formulação de princípios de orientação (Pimentel, 2012). É neste âmbito que
Sainsaulieu (1999) refere-se a “estruturas analógicas persistentes”. Na realidade, trata-se de
encontrar esquemas ou fórmulas com utilidade para a organização a partir de outras realidades
institucionais.
Eugénio Gujamo – Sociologia das Organizações, 2° Ano, Curso de Economia, UniZambeze, 2021.
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A organização profissional do trabalho sempre existiu (as corporações de ofício), existe (em
pequenas comunidades afectadas, por exemplo, a tarefas ora de preparação ora de manutenção
do trabalho) e tende a reaparecer, sob novas formas, como nas equipas semi-autónomas, nas
equipas de projecto ou nos círculos de qualidade, isto é, em estruturas sociais de produção em
que as tarefas são complexas e requerem um elevado saber-fazer. Em suma, os jogos sociais em
torno de princípios de racionalidade e de procura de legitimidade profissional introduzem
perturbações na busca de um determinado equilíbrio organizacional.
Eugénio Gujamo – Sociologia das Organizações, 2°, Curso de Economia – UniZambeze, 2021.
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Assim sendo, ele propôs construir um método “científico”, para fazer coincidir racionalmente
os elementos económicos e técnicos da produção: uma organização mais racional das tarefas,
“one best way”, ou modo operatório óptimo de execução de uma tarefa e conducente à
especialização extrema, análise dos tempos, com o recurso à sua cronometragem, gestos e pausas,
a carga dos gabinetes de organização e métodos, visando uma produtividade máxima: “o
comando dos homens é substituído pela administração científica e racional das coisas”, isto é,
regulamentação formal dos comportamentos.
Parafraseando Max Weber, Pimentel (2012) refere que a organização científica do trabalho
representaria um exemplo perfeito de um modelo ideal de uma situação social, na medida em
que a racionalidade subjectiva pela finalidade dos actores, aqui reduzida às exigências fisiológicas,
económicas e técnicas coincide com a racionalidade objectiva pela conformidade de uma solução
organizacional baseada numa formalização das tarefas e das competências.
Fayol desenvolveu uma teoria de organização industrial a partir dos chamados “cinco infinitivos:
prever, organizar, comandar, coordenar e controlar” (funções administrativas). A empresa forma
“um todo organizado”. A racionalização desenvolveu-se, simultaneamente, em duas vias: a
análise e a diferenciação das funções que podem evoluir com a dimensão, o produto, o Meio e
a própria história social e económica da organização; a definição das estruturas correspondentes
com a disposição das funções entre si e à sua transposição em estruturas (localização dos
indivíduos na distribuição geográfica e funcional dos órgãos). Esta concepção tem tido
desenvolvimentos entre consultores em organizações ao conceberem uma estrutura da empresa
por mercado versus produto, em resposta ao crescimento, à concorrência e ao número de clientes
(Pimentel, 2012).
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industrializada e capitalista como a norte-americana dos anos vinte do século XX, representando
a racionalização do trabalho e do modelo tayloriano a um nível “superior”. Ou seja, não se trata
apenas de organizar a tarefa ou a função, mas todas as estruturas passaram a estar integradas
num mesmo modelo de previsão e gestão racional do trabalho.
Na legitimidade racional a obediência não é devida a um indivíduo, mas antes à regra e a quem
tem o direito para dar uma ordem em conformidade com aquela. Na legitimidade tradicional a
obediência é devida a uma relação pessoal, sendo que na legitimidade carismática a obediência é,
de igual modo, devida a uma relação pessoal porém não fundada na tradição, pelo que mais
frágil. Neste âmbito, Max Weber interroga-se acerca da compatibilidade destes tipos de
legitimidade face a uma sociedade industrial e em rápido crescimento económico, tendo
percebido que a mais adequada é a racional-legal, pois é a única que assegura a estabilidade das
regras e a sua continuidade. Assim sendo, o modelo racional-legal ou burocrático reuniria a
flexibilidade e a continuidade necessárias a uma actividade económica que repousa num cálculo
a longo termo (Pimentel, 2012).
Segundo Max Weber (1999), a burocracia1 define-se em função das seguintes características
estruturais, isto é, características particulares do tipo ideal de burocracia:
1 De acordo com Weber, todas as grandes organizações em grande escala tendem a ser de natureza burocrática. A
palavra “burocracia” foi pela primeira vez utilizada por De Gournay em 1745, que juntou o prefix “bureau”
(originalmente em francês), que significa escritório, assim como secretária; a palavra “cracia”, derivada do verbo
Eugénio Gujamo – Sociologia das Organizações, 2°, Curso de Economia – UniZambeze, 2021.
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grego com o sentido de “governar”. Por conseguinte, a burocracia é o poder dos funcionários. A principio tal termo
era aplicado aos funcionários do governo, porém o seu uso foi gradualmente generalizado para passer-se a referir
às grandes organizações, em geral. Ora, desde o início o conceito foi usado de modo depreciativo, De Gournay
apelidou o desenvolvimento do poder dos funcionários de “uma doença chamada buromania”. O romancista
francês Honoré de Balzac retratava a burocracia como “o poder gigante dos pigmeus”. Este tipo de opinião tem
persistido até aos nossos dias. A burocracia é frequentemente associada à formalidade, à ineficácia e ao deperdício.
Todavia, outros escritores conceberam a burocracia de forma diferente – enquanto um modelo de gestão cautelosa,
precisa, eficaz. Partilham a ideia de que ela é a forma de organização mais eficaz que os seres humanos
desenvolveram, dado que todas as tarefas são reguladas por regras de procedimentos esritas (Giddens, 2008).
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A burocracia teria-se desenvolvido com a economia financeira moderna, bem como com a
racionalização do direito; a importância dos fenómenos de massa; a centralização; o
intervencionismo estatal e o desenvolvimento da racionalização técnica (Pimentel, 2012).
Daí que sua segunda preocupação estava no facto de a aderência às regras burocráticas poderem
eventualmente assumir prioridade sobre os objectivos subjacentes à organização, diante da
grande ênfase posta no procedimento correcto, é possível perder de vista o que realmente
interessa. Por exemplo, um burocrata responsável pelo processamento de pedidos de seguros
pode recusar compensar um segurado por danos legítimos, evocando a ausência de um
formulário ou o preenchimento incorrecto do mesmo. Ou seja, Merton previu a possibilidade
de existência de tensão entre o público e a burocracia em casos como este. Não se trata de uma
preocupação incorrecta. A maioria de nós lida regularmente com grandes burocracias – desde o
Sistema Nacional de Saúde, as Autoridades Municipais e as de Inspecção Fiscal, por exemplo.
Debatemo-nos, não raras vezes, com situações em que os funcionários públicos e burocratas
parecem não estar preocupados com as ‘nossas’ necessidades. Uma das maiores fraquezas da
burocracia é a dificuldade que tem em lidar com casos que precisam de uma consideração e
tratamento especiais (Giddens, 2008).
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É baseando nas constatações acerca dos grupos informais, que a teoria das relações humanas
desenvolve uma nova argumentação: se o indivíduo procura no trabalho a satisfação das suas
necessidades complexas, é nas relações informais de grupo que podemos procurar uma resposta
para as mesmas. Daí o reconhecimento dos grupos informais e da sua integração no
funcionamento global da organização mediante a formação das chefias nas técnicas de uma
liderança democrática e participativa. Esta argumentação foi elaborada por Elton Mayo, que
entendia que o indivíduo está sujeito a uma dupla integração: na organização e no grupo
primário. Portanto, uma política de relações humanas devia contribuir para: a harmonização
destas duas modalidades de integração; a formação de chefias quanto aos estilos de liderança; a
definição das zonas de participação nas decisões e incremento das comunicações informais. Para
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as Relações Humanas, uma liderança de “estilo liberal” levaria a um melhor “clima social” e a
um acréscimo da produtividade (Pimentel, 2012).
Sem rejeitar a necessidade duma unidade, é necessário reconhecer que as coisas não se passam
duma forma tão harmoniosa assim. O dia-a-dia de qualquer organização é marcada por conflitos
de poder. Estes não estão apenas relacionados com ambições pessoais, e, por princípio, a análise
estratégica inibe-se de efectuar juízos morais. Na realidade, constata-se que indivíduos e grupos,
diferentes pela sua formação e função têm objectivos que nunca coincidem exactamente. Cada
um tem a sua visão dos meios necessários para assegurar o funcionamento do conjunto. Esta
visão diferente arrasta estratégias que nem sempre são concordantes. Há, portanto, conflito de
poder, o qual, por sua vez, arrasta a necessidade de um poder regulador desses conflitos, ou seja,
a dupla necessidade de um poder.
Na óptica destes autores, o poder é abordado numa perspectiva estratégica a partir dos actores.
Ele (o poder) pressupõe sempre a possibilidade para o(s) actor(es) de agir(em) sobre outro(s)
actor(es), daí o carácter relacional do mesmo. O poder é uma relação e não um atributo dos
actores, uma vez que o poder implica uma troca entre os actores no quadro de uma dada relação
precisa, estando, por isso, inseparavelmente ligado à negociação.
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Às questões: porque razões obtém o superior a confiança dos seus subordinados? Porque é que o seu poder é
reconhecido como legítimo?, Crozier e Friedberg (1990) enumeraram quatro fontes de poder
legitimado. A primeira, e a mais imediatamente perceptível, é a que se refere à posse de uma
competência ou de uma especialização funcional dificilmente substituível. Por o especialista ser
o único que dispõe do saber-fazer, dos conhecimentos e da experiência do contexto que lhe
permitem resolver certos problemas cruciais para a organização, a sua posição acaba sendo muito
melhor na negociação e na organização do que a dos seus colegas.
Contudo, esta fonte remete para dois tipos de dificuldades. A primeira consiste em saber o que
se entende por resolução dos problemas cruciais, na medida em que o número de especialistas,
muito competentes num domínio particular mas incapazes de compreender as repercussões da
sua especialidade sobre o conjunto dos outros domínios, é grande. Outrossim, por exemplo,
aquele que, tendo uma situação institucional de poder e que faz apelo a uma nova tecnologia
depois de ter convencido os seus pares da necessidade da sua introdução, apela a um especialista
fazendo-lhe sentir a sua dependência, acabando por reforçar consideravelmente o seu poder. Por
conseguinte, a especialidade confere poder se estiver ligada a uma situação estável e reconhecida
na organização. Pelo que, mais do que especialidade, convém falar de competência ligada a um
estatuto estável na empresa. Do mesmo modo que o chefe não deve ser o mais competente em
todos os domínios, mas suficientemente competente para compreender as linguagens, os
objectivos e as estratégias dos seus subordinados e coordenar a sua acção – esta é a sua principal
competência (Bernoux, 2005).
A segunda dificuldade colocada pela especialidade diz respeito à adesão do grupo às conclusões
do especialista. Ou seja, o especialista pode certamente propor boas soluções. No entanto, se os
que estão encarregados de aplicá-las, não as aceitam, tais soluções permanecerão letra morta.
Isto remete-nos à ideia de que uma decisão, na prática, não tem sentido apenas nela própria, mas
na sua articulação com o grupo social à qual ela será aplicada. Neste âmbito, o poder do
especialista é sempre um poder perigoso e os grupos na empresa bem o sentem, daí que o
colocam em cheque. Por isso, a fragilidade do mesmo.
A segunda fonte de poder nas organizações encontra-se no domínio das relações com o meio,
porque melhor inserido no contexto das relações habituais que fazem a vida da empresa, esta
fonte é mais importante e mais estável em comparação com a primeira. A força daquele que
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controla as relações com o meio e as comunica à empresa vem do facto de que ele detém o
conhecimento das redes nos dois campos, é o famoso marginal secante, com interesses em vários
sistemas de acção, que e encontram em relação uns com os outros (Crozier e Friedberg, 1990).
Ele, mais do que o especialista que disso não está munido, pode utilizar os seus conhecimentos
nos dois lados para consolidar e engrandecer o seu poder. Ou seja, um actor utiliza, numa
organização, as relações e influências que tem com outra organização para fins estratégicos
(Bernoux, 2005).
A última fonte de poder assinalada por Crozier e Friedberg (1990) é a utilização das regras
organizacionais. Os membros de uma organização são tanto mais vencedores numa relação de
poder quanto mais dominam o conhecimento das regras e sabem utilizá-las. Ora, a multiplicação
das regras não traz somente como resultado formalizar e precisar as regras do jogo – fazendo
existir regras informais onde ocorre também a distribuição do poder – mas também favorece os
que têm tempo ou gosto em estudá-las. Por exemplo, as regras da progressão na função pública,
não servem apenas para lutar contra o arbitrário, limitando o poder dos superiores; elas servem
para aqueles que as aprenderam, experimentaram e podem utilizá-las melhor em comparação
aos que as conhecem menos.
As quatro fontes de poder remetem para o domínio de uma zona de incerteza, que é também
uma condição da existência do poder. Qualquer organização está sob influência permanente de
massas de incertezas muito elevadas, técnicas, comerciais, humanas, financeiras, etc.. A incerteza
existe em todos os níveis, conferindo autonomia aos actores. Sendo a incerteza mal definida, é
preferível falar de zona de incerteza para delimitar os lugares onde vai ou onde pode passar-se
alguma coisa. Aquele que melhor as domina, por suas competências e sua rede de relações-
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comunicações, podendo por isso prever estas incertezas, detém o maior recurso de poder, os
seus comportamentos são, então, imprevisíveis.
A análise estratégica avança estes conceitos principais para dar conta do funcionamento real das
organizações, apoiando-se na análise do poder e na das zonas de incerteza, construindo os
sistemas e subsistemas concretos de acção, qualquer membro de uma organização pode
compreender-lhe o funcionamento e, portanto, agir de modo útil sobre ele. A relevância da
análise estratégica não se demonstra pela teoria, prova-se no terreno, porque experimentamo-la
nas empresas e acrescentando que ela se revela, particularmente, junto daqueles que, qualquer
que seja o nível a que pertencem, possuem um certo poder. O espaço mais pertinente da análise
estratégica é o dos actores que podem jogar o jogo do poder, da sua conquista e/ou do seu
alargamento. A seu nível, as ferramentas da análise estratégica constituem um excelente meio
para compreender os seus comportamentos e aqueles que eles vêem passar-se diante deles
(Bernoux, 2005).
Referências bibliográficas
Crozier, M. e Friedberg, E. (1990). El Actor y el Sistema: las restricciones de la acción colectiva. México:
Alianza Editorial Mexicana.
Pimentel, D. (2012). Sociologia da Empresa e das Organizações – uma breve introdução a problemas e
perspectivas. Lisboa: Escolar Editora.
Weber, M. (1999). Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília, DF: Editora
da Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.
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