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CORRELAÇÕES ENTRE A RACIONALIDADE, MECANICISMO E DOMINAÇÃO

NAS ORGANIZAÇÕES

Renato César de Souza Júnior – Matrícula 11622GOM014

O objetivo deste paper consiste em analisar os estudos de Faria e Meneghetti (2011),


Miller et al (2004) e Morgan (2004) acerca da dinâmica das organizações, buscando aliar a
burocracia enquanto modelo racional weberiano de organização e como ela exerce sua
influência na sociedade, por meio das relações de poder. Neste artigo, pode-se entender que a
burocracia, só pode ser analisada e compreendida quando associada a um momento
específico, que determina todo um contexto histórico e caracteriza as relações e instituições
sociais. Desta maneira, a burocracia aqui analisada por estes autores foi objeto de estudo
durante o século XX, sobretudo no desenvolvimento do capitalismo industrial.

A fim de compreender a burocracia, é necessário analisar inicialmente as relações de


produção. No modelo capitalista de produção há uma relação entre o agente detentor dos
meios de produção (capital) e o agente que oferta a sua força de trabalho em troca dos meios
de subsistência. O protótipo da organização mecanicista surge, de acordo com Morgan (2004)
a partir das entidades militares da Prússia, quando Frederico, o Grande, tenta introduzir
reformas no exército composto por pessoas sem princípios. Frederico começou as reformas
com a introdução de uniformes, passando pela padronização dos regulamentos, tarefas e
equipamentos até a criação de linguagem de comando e treinamentos sistematizados.
Podemos considerar que Frederico foi o primeiro a tentar transformar pessoas (exército) “em
um mecanismo eficiente que funcionasse por meio de peças padronizadas”. (MORGAN,
2004, p. 25)

Max Weber foi o sociólogo que observando as indústrias e formas burocráticas de


organização concluiu que essas formas burocráticas propunham rotinas dos processos
administrativos da mesma forma que as máquinas rotinizavam a produção das industrias, o
que traz, como aponta Morgan (2004), a mecanização das organizações. Uma vez que há um
processo de racionalização no âmbito da produção, ocorre uma divisão técnica e social do
trabalho, é exatamente no trabalho que se percebe como estas relações serão definidas, até
orientar a organização e caracterização do Estado. Segundo Faria e Meneghetti (2011), nas
relações de produção a impessoalidade, o formalismo e o profissionalismo definem como se
dará a divisão do trabalho.

É divisão técnica do trabalho porque existem no meio de produção os que pensam e os


que executam, os que pensam possuem maior especialização no trabalho e são mais
valorizados no trabalho, uma vez que este tipo de mão de obra qualificada é escasso em
relação à abundante mão de obra não qualificada. É divisão social do trabalho porque existe
uma hierarquia dentro das relações de produção, sendo assim, o capitalista, detentor dos
meios de produção, é quem está socialmente acima dos demais, pois é ele quem se apropria da
produção e quem estabelece as normas da produção. Dentro desta hierarquia, estão
socialmente valorizados os trabalhadores especializados e logo na base da hierarquia a classe
trabalhadora pouco ou nada qualificada. O que se percebe dentro das relações sociais de
produção é um processo de dominação, uma vez que a burocracia tem um caráter racional, em
que “regras, meios e objetivos dominam sua posição.” (WEBER, 1982, p. 282). Desta
maneira, a divisão social do trabalho apresenta aos trabalhadores que as regras, meios e
objetivos são como “deveres oficiais” para o trabalhador, inserindo assim seu processo de
dominação e se tornando um instrumento de poder dentro das organizações. Prestes Motta
acrescenta a ideia do tecnoburocrata, no sistema de capital, segundo o autor, há uma
intensificação da dominação pela superioridade técnica, quanto maior for o uso de tecnologia
no meio de controle.

O conceito de controle se dá na burocracia a fim de assegurar os “deveres oficiais”


das organizações capitalistas, o Estado, que aqui segundo os autores é autoritário,
representado pelos interesses das classes dominantes, ainda que tenham líderes representado
por classes trabalhadoras, é a instituição responsável por assegurar “o controle político-social”
(FARIA, MENEGHETTI p.439) garantindo a reprodução e coerência da atividade capitalista
nas organizações através dos sistemas jurídicos (normas, regras), políticos (manutenção da
ordem em situações de conflitos) e ideológicos (papel do ensino, propagandas
institucionalizadas). Neste caso é interessante perceber que os autores não se deixam
influenciar pelo discurso de partidos comunistas, uma vez que acreditam que a burocracia
destes partidos possui os mesmo pressupostos burocráticos do Estado autoritário. Portanto,
para os autores, o Estado é uma superorganização burocrática originária e orientada pelas
relações sociais de produção.

O conceito de burocracia enquanto organização se dá em razão de basear-se em uma


“racionalidade formalizadora da natureza instrumental, estruturada na forma como o trabalho
se organiza” (FARIA, MENEGHETTI p.437), necessitando que haja uma ordem que deve ser
compartilhada e reproduzida a fim de assegurar a existência do modelo capitalista. Sendo
assim, a burocracia é organização uma vez que não é produto da racionalização, mas, segundo
Prestes Motta e Tragtenberg, é parte do processo de racionalização.

O conceito de poder para os autores se dá devido às relações de dominação presentes


nas organizações (empresas e Estado), a burocracia enquanto poder, estabelece condições de
dominação uma vez que reproduz indivíduos em suas posições sociais, isto é, garante que os
interesses das elites permaneçam (o pobre continua pobre, o rico continua rico), uma vez que
o poder é atributo de grupos organizados, e não há grupo mais organizado que o próprio
Estado. Tragtenberg se diferença de Prestes Motta neste estudo de caso, uma vez que este
analisa a burocracia como poder originado das organizações, enquanto este centrou suas
análises para o poder do Estado, contudo ambos fizeram relações dialéticas entre poder e
Estado.

É interessante perceber que para ambos os autores, que são grandes críticos deste
modelo burocrático, a defesa se dá em função das relações do trabalho, sobretudo do
trabalhador. Desta maneira, o anarquismo, sem se deixar levar pelas utopias, é uma linha
ideológica de pensar e produzir conhecimento, quando aliado ao materialismo-histórico,
resultando nas críticas de sobreposição do capital em relação ao trabalhador apontadas pelos
autores;

No campo de estudo das teorias organizacionais a tomada de decisão possui modelo


similar ao das organizações, Miller et al (2004) apontam como as organizações no contexto
burocrático se fundamentam no processo de tomada de decisão. Sua importância é de grande
relevância para compreender como e por que as organizações são como são.

A racionalidade administrativa na tomada de decisão segundo os autores é eficiente


em âmbito macroeconômico, segundo Miller et al (2004), os pressuspostos neoclássicos da
economia orientam este modo de pensar. Para eles no ambiente microeconômico, se o
administrador tomar decisões racionais, as decisões tomadas pelos grupos dentro das
organizações serão igualmente racionais. Simon afirma que há então a presença da
“racionalidade limitada” no ambiente da tomada de decisões, isto significa que “as fraquezas
humanas e as demandas externas e internas à organização limitam o grau de utilização da
racionalidade.” (p.285)

A tomada de decisão tem outra face de interpretação, segundo Simon, a visão racional
oculta o papel do poder e do comportamento político que estabelece as restrições presentes na
“racionalidade limitada”. A visão deste artigo é que há na sociedade uma disputa de poder
entre grupos para o controle dos recursos escassos, para o autor o poder é inerente à existência
e presente na vida da organização, sendo o poder legítimo alocado para posições de
autoridade na hierarquia, este poder legítimo é o poder “racional-legal” (Weber, 1947)
regulariza todo o processo de decisão e é alocado segundo o status (os que possuem
autoridade, possuem poder e participam no processo de tomada de decisões). Este artigo
afirma que o poder pode fazer com que as decisões se ajustem aos interesses do
administrador, mesmo que estas decisões não tragam benefícios organizacionais. Um fator
que influencia o processo de tomada de decisão e a tipologia dos processos a serem tomados
corresponde à natureza política e complexa do que é decidido, isto é, o quão mais pessoas
/instituições (com seus respectivos interesses) serão afetadas com o resultado da decisão, que
pode ser operacional (poucos interesses) ou estratégica (amplos interesses). Portanto, para
entender decisões, é necessário uma “análise narrativa, na interpretação das ações e na
identificação de significados em símbolos como articulados por pessoas.” (p.300). Há para
Miller et al (2004) a importância da cultura na tomada de decisões, uma vez que certas
culturas afetam diretamente no processo de tomada de decisão, sobretudo, no tempo de sua
tomada.

Pode-se entender portanto, que com as leituras aqui realizadas as organizações sejam
elas pequenas, grandes, públicas ou privadas tomam suas decisões e baseiam suas estratégias
tomando-se por base as relações de poder, seja o poder interno nas relações de produção ou
externo, isto é, com a sociedade e demais organizações. O poder é um recurso que mantém a
própria organização, as decisões e estratégias visam exatamente a manutenção ou expansão do
poder das organizações. Primeiro porque o poder é o responsável por manter a organização
interna tomando-se como exemplo o controle e as relações de produção como o são,
desprezando-se todos os pontos sociais que tornam a organização um complexo de relações
humanas, tornando-as mecânicas a fim de trazer o controle desejado na organização. Em
segundo, e não menos importante porque o poder quando materializado fora da organização é
capaz de impor a supremacia ou trazer a supremacia em relação a outras organizações e
também à própria sociedade, a fim de que estas se comportem conforme os interesses da
organização detentora dos recursos que lhe conferem maior poder.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FARIA, J. H.; MENEGHETTI, F. K. Burocracia como organização, poder e controle.  Revista de
Administração de Empresas, v. 51, n. 5, p. 424-439, 2011.

MILLER, S.J.; HICKSON, D.J.; WILSON, D. C. A tomada de decisão nas organizações. In: CLEGG, S.;
HARDY, C.; NORD, W. Handbook de estudos organizacionais. V. 3, São Paulo: Atlas. P.282-310, 2004.

MORGAN, G. Organizações como máquinas. In: _____ Imagens da Organização. São Paulo: Atlas,
Cap. 2, 2004.

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