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A configuração das relações de poder nas organizações contemporâneas.

Renato César de Souza Júnior – Matrícula 11622GOM014

O presente trabalho tem vistas a compreender o poder nas organizações, suas formas
de manifestação, estruturação e concentração e aplicações. Nas organizações, o poder está
distribuído segundo diversos fatores sociais, culturais e segundo as relações de trabalho. Os
presentes trabalhos aqui analisados possuem perspectivas distintas de poder nas organizações,
procurou-se analisar estas diversas características deste constructo à procura de uma melhor
compreensão, e portanto chegar à compreensão prática e mais clara das relações de poder nas
organizações.
Segundo Hardy e Clegg (1998) as organizações contemporâneas oriundas da evolução
e divisão do trabalho nas organizações apontam que o conhecimento é dividido entre aquele
que é mais valorizado, geralmente mais específico, abstrato, relacionado ao trabalho mental e
aquele que é menos valorizado, relacionado ao trabalho manual e mais mundano. Esta
distinção, segundo os autores, é a principal característica de noção das organizações
contemporâneas e seu design organizacional, dentro deste design, é presente a discussão do
poder enquanto forma de manter a obediência organizacional.
Partindo das ideias de Weber (1978), Hardy e Clegg (1998) realizam o ponto inicial
analítico para compreensão do poder nas organizações, segundo os autores: “o poder tem sido
visto tipicamente como a habilidade de fazer outros fazerem o que você quer que seja feito, se
necessário contra a própria vontade deles, ou fazê-los fazer alguma coisa que eles não fariam
em outra situação.” (p.261)
A partir desta noção os autores analisam duas vozes diferentes que falam sobre o
poder e que a partir deste conceito, se divergem quanto à compreensão deste fenômeno nas
organizações, portanto há a visão de poder analisada segundo duas vertentes, a crítica e a
funcionalista. A visão crítica, orientada sobre os trabalhos de Marx e Weber, confrontando
temas como dominação e exploração e a visão funcionalista, com orientação gerencial sobre o
tema cujo desenvolvimento central se deu no campo dos estudos organizacionais.
A espiritualidade do local de trabalho representa um discurso contemporâneo por meio
do qual o significado do trabalho é situado em um contexto moral e social mais amplo,
fornece uma forma de exaltar o significado do trabalho pela elaboração de um potencial
propósito transcendental ou de virtude moral.
Motta (1981) diz que o poder não é um objeto natural, uma coisa; é uma prática social
e como tal constituída historicamente, na sociedade para a manutenção do poder da maneira
como ele se sustenta, fala do poder disciplinar nas organizações que tem a definição das
organizações como aparelhos que desempenham diversos papéis importantes na reprodução
das classes sociais e lógico, na disciplina do sujeito e na manutenção do poder. Enquanto
aparelhos as organizações se classificam em dois grandes grupos: aparelhos de estado e
aparelhos econômicos (empresas). Os aparelhos de estado são divididos em dois grupos, os
ideológicos e os repressivos. Dentro da categoria dos aparelhos de estado ideológicos Motta
(1981) cita as escolas como colégios, entidades de formação profissional, universidades as
igrejas, aparelhos de informações tais como rádio, televisão e imprensa, o aparelho cultural tal
como o cinema e o teatro, aparelho sindical e os aparelhos formados pelos partidos políticos.
Já na categoria dos aparelhos de estado repressivos o estado conta com o auxílio da
magistratura, prisões, polícia e exército. Do outro lado temos os aparelhos econômicos
formados pelas empresas industriais, comerciais e financeiras. Para Motta o poder disciplinar
tem grande participação para que se consiga manter o poder concentrado da forma como está
e cita o grande pensador Foucalt que acredita que as disciplinas se tornaram no decorrer dos
séculos XVII e XVIII fórmulas gerais de dominação diferentes de apropriação do corpo
diferentes da domesticidade, que é uma relação de submissão altamente codificada, mas
longínqua e que se realiza menos sobre o corpo do que sobre os produtos do trabalho e as
marcas rituais da obediência. Neste modelo de pensamento o poder disciplinar já não ocupa a
oposição que tinha em épocas passadas onde a disciplina se conseguia através de punições,
muitas das vezes, com uso da forma e agressões físicas, tais como enforcamentos, queimar em
praça pública, chibatadas para servir de lição e exemplo para os demais. Gradativamente esta
forma de disciplinar foi sendo substituída por uma forma de disciplina através da vigilância,
com menos prejuízos físicos, porém de grande perturbação psicológica.
Diante deste contexto, o poder disciplinar se faz muito importante e garantidor da
ordem é dentro das empresas. A empresa canaliza ao máximo a energia dos indivíduos em seu
benefício, sem precisar empregar um sistema de punições funcionando com base na força e na
repressão. Por outro lado, o indivíduo, submete-se totalmente (de corpo e alma), trabalha para
a organização como para si próprio. Ele experimenta o sentimento de que a organização faz
parte dele, da mesma forma que ele faz parte da organização. Para Freitas (2000) as empresas,
alçadas à categoria de novo sagrado, novas catedrais e novo totem constroem um imaginário
organizacional repleto de mensagens positivas de si mesmas, que são amplamente divulgados
interna (organizações) e externamente (organizações civis, públicas, aparatos legislativos e
jurídicos).
Morgan (2004) afirma que a metáfora da política pode ser usada para esclarecer a vida
organizacional no dia a dia.
Segundo Morgan (2004) as organizações igualmente aos governos, empregam algum
sistema de “regras” como meio de criar e manter a ordem entre seus membros A análise
política pode, dessa forma, trazer uma contribuição válida a análise organizacional. As formas
de governar politicamente são variações mais comuns das regras politicas encontradas nas
organizações, a saber: autocracia, burocracia, tecnocracia, cogestão, democracia
representativa e democracia representativa.
É raro encontrar organizações que se utilizam de apenas uma dessas diferentes
espécies de governo. Com maior frequência se encontram, na prática, tipos mistos.
(MORGAN, 2004). Morgan (2004) afirma que a política de uma organização é mais
claramente manifesta nos conflitos e jogos de poder que algumas vezes ocupam o centro das
atenções, bem como nas incontáveis intrigas interpessoais que promovem desvios no fluxo da
atividade organizacional. Pode-se analisar a politica organizacional de maneira sistemática,
focalizando as relações entre três pilares centrais da dinâmica organizacional: interesses,
conflito e poder.
Em relação às forças e limitações destas metáforas, Morgan (2004) identifica-se que as
forças da metáfora das organizações vistas como sistemas politicos podem ser definidas pelo
fato de que encoraja ver como toda atividade organizacional e baseada em interesse e a avaliar
todos os aspectos do funcionamento organizacional, com isso em mente. Esta metáfora
também ajuda a arrasar o mito da racionalidade organizacional; além de ajudar a encontrar
uma forma de suplantar as limitações da ideia de que as organizações são funcinalmente
sistemas integrados. Outra força desta metáfora está na compreensão do comportamento
humano como politizado nas organizações.
A compreensão do autor desta síntese se inclina na ideia de que as organizações são
complexos sistemas políticos cujos interesses entre os agentes pertencentes ao sistema são
divergentes, o que tende ao conflito entre os mesmos, a fim de que a organização faça o que
lhe é proposto, o poder entra em ação como ferramenta capaz de disciplinar, organizar e
direcionar esforços e recursos para que a organização atinja seus objetivos e se perpetue. A
dinâmica do poder nas organizações vai além da existência de um sistema capitalista,
entende-se que o poder, como elemento organizador disciplinador, especificamente para as
atividades laborais, é um elemento necessário para a organização, o que não se pode
confundir com seu uso subversivo e banalizado em algumas relações intraorganizacionais se
manifestando como assédio e discriminação social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BELL, E.; TAYLOR, S. A exaltação do trabalho: o poder pastoral e a ética do trabalho da
nova era. Revista de Administração de Empresas, v. 44, n. 2, p. 64-78, 2004.

FREITAS, M. E. de. Contexto social e imaginário organizacional moderno. Rev. adm.


empres.[online]. 2000, vol.40, n.2, p. 6-15.

HARDY, C.; CLEGG, S. R. Alguns ousam chamá-lo de poder. In: CLEGG, S. T.; HARDY,
C.; NORD, W. R. Handbook de estudos organizacionais. Vol. 2, São Paulo: Atlas, 1998,
p.260-292.

MORGAN, G. Organizações como sistemas políticos. In: _____ Imagens da Organização.


São Paulo: Atlas, 2004.

MOTTA, F. C. P.O poder disciplinar nas organizações formais. Revista de Administração


de Empresas, v. 21, n. 4, p. 33-41, 1981.

PAGES, M. BONETTI, M.; GAULEJAC, V., DESCENDRE, D. O poder nas organizações.


São Paulo: Atlas, 2008.

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