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Universidade Federal de Uberlândia

Programa de Pós Graduação em Gestão Organizacional


Mestrado Profissional
Teoria das Organizações

Organizações como Sistemas


Interpretativos
Jessica Mieko Ota Alves
João Victor da Silva Alves
Renato César de Souza Júnior

Uberlândia, 19 de setembro de 2017


SUMÁRIO DA APRESENTAÇÃO
Artigo Nacional:
• O poder interpretativo das metáforas e as organizações

Artigo Internacional:
• A Dialectic Perspective on the Organization Theatre Metaphor

Situação Organizacional:
● Modelo de gestão organizacional: Holocracia/Holacracia
A Dialectic Perspective on the Organization Theatre
Metaphor

Autores:

● David M. Boje (New Mexico State University)

● Ann L. Cunliffe (California State University, Hayward)

● John T. Luhman (New Mexico Highlands University)

Publicação:

● American Communication Journal


Visão geral
● Os autores utilizam a metáfora do teatro na descrição dos ambientes
organizacionais;

● Apresentam duas visões principais sobre o teatro na teoria organizacional:


○ “organizar-é-como-teatro” - Erving Goffman (1959, 1974);

○ “organizar-é-teatro” - Kenneth Burke (1937, 1945, 1972);

● As metáforas também são usadas como dispositivos para crítica e


redescrição;
Objetivo
● Propor uma 3ª visão sobre a metáfora do teatro aplicada à Teoria das
Organizações
Justificativa
● Contribuir para a teoria organizacional combinando as duas perspectivas da
metáfora do teatro, de modo a criar uma perspectiva crítica pós-moderna;

Metodologia
● Apresentação das perspectivas de Goffman e Burke;

● Combinação das duas perspectivas na análise teatral da vida organizacional;

● Introdução do “carnaval” no estudo de teatro aplicado às organizações.


1ª perspectiva: “organizar-é-como-teatro”
● Cunho sociológico;

● Baseia-se na metáfora teatral como um meio de estudar e ilustrar processos


sociais em que os membros organizacionais são essencialmente atores
humanos, envolvendo vários papéis;

● Liderança carismática: o líder é o porta-voz e dramaturgo da vida


organizacional;

● Os líderes se moldam em papéis carismáticos e seus seguidores são aliados;

● Desempenho persuasivo dos líderes ante os espectadores;


1ª perspectiva: “organizar-é-como-teatro” (cont.)

● Atores profissionais: gerentes, consultores, líderes de RH;

● Espectadores (audiência): trabalhadores, gerentes menores;

● Atores profissionais organizam peças personalizadas com roteiros e scripts:


reuniões, treinamentos, eventos, cerimônias;

● Teatro é implantado como ferramenta de gerenciamento e desempenho;

● Apelos emocionais das lideranças a fim de mobilizar a audiência a alcançar


resultados almejados;
1ª perspectiva: “organizar-é-como-teatro” (cont.)

● Para Goffman, as organizações não são inteiramente teatrais;

● Os autores afirmam que a perspectiva de Goffman, como ferramenta de


gestão ou socialização, é um meio de controle social e motivação pela
observação, em vez de participação efetiva;

● “organizar-é-como-teatro” se destina a motivar e persuadir o público


corporativo a mudar seu desempenho no dia-a-dia.
2ª perspectiva: “organizar-é-teatro”
● Cunho mais filosófico;

● A conduta humana é dramática;

● Todos os indivíduos possuem identidades como atores no contexto social da


organização;

● O trabalho é teatro e todos os negócios são um palco;

● Grande parte da vida organizacional é cuidadosamente escrita;

● Burke segue Aristóteles ao afirmar que o teatro imita a vida. Assim, o


ambiente organizacional é um grande espetáculo;
2ª perspectiva: “organizar-é-teatro” (cont.)
● Dizer que o teatro é uma metáfora das organizações é apenas metade da
história;

● Burke tece sua crítica ao dizer que o progresso tecnológico não impactou
positivamente no ambiente das organizações. Ao contrário, burocratizou as
ações no cenário geral do teatro organizacional.

Perspectiva dialética dos autores


● Crítica pós-moderna da vida organizacional como teatro;
Perspectiva dialética dos autores (cont.)

● “Nossa implicação é uma possibilidade de consciência crítica que transforma


o espetáculo formal”;

● Os atores devem recuperar seus poderes humanos através da prática


criativa;

● Crítica do controle social nas organizações, manifestado pelo consumo e


produção desenfreados;

● “Mascaramento” do desenvolvimento individual, fruto do abuso do trabalho;

● Modelo dominante da vida social: espetáculo baseado no fetiche da


mercadoria de Marx, saturado de propaganda e consumo;
Perspectiva dialética dos autores (cont.)

● “O espetáculo envolve uma forma de relações sociais em que os indivíduos


passivamente consomem serviços sem envolvimento ativo e criativo”;

● “O espetáculo é o momento em que a mercadoria atingiu a ocupação total da


vida social. É o ponto onde a vida se torna teatro, e a linha entre organizar-é-
como-teatro e organizar-é-teatro se torna tão desfocada que [não se vê a
diferença]”;

● O espetáculo é um mecanismo de legitimação do controle social;

● Os pesquisadores organizacionais precisam ser capazes de ler o


comportamento do espetáculo e promover mudanças;
Perspectiva dialética dos autores (cont.)

● Inserção do “carnaval” como quebra do fluxo tradicional do teatro


organizacional;

● “Sacudir o poder estatal e corporativo”, promovendo libertação da ordem


estabelecida e imposta;

● “Durante o carnaval, a vida está sujeita apenas às suas leis, ou seja, à


própria liberdade”;

● “Aceitamos voluntariamente uma vida escrita por outros que são melhores
contadores de histórias e atores teatrais”.
Implicações

● O carnaval sugere que a vontade de poder é baseada em nossa capacidade


de criar espaço reflexivo: reconhecer, criticar e criar;

● Indivíduos são capazes de interpretações autoconscientes das estruturas


sociais para criar novas práticas;

● Os atores dentro de uma organização têm algum poder para resistir ao


espetáculo da ordem social;

● Figura do ator poderoso, criticamente consciente, capaz de mudar a ação


dramática;
Implicações (cont.)

● “Aqueles que procuram a revolução estão usando o teatro para libertar uma
consciência crítica da opressão hegemônica”;

● Autores concluem dizendo que o teatro é tanto metáfora quanto literal;

● Devemos nos envolver em experiências sociais que criam consciência crítica


e desenvolvem scripts e ações alternativas;

● “Não somos apenas espectadores passivos; temos a capacidade de ser


atores e editores de roteiro, e podemos mudar o espetáculo da vida diária”.
O Poder Interpretativo das Metáforas e
as Organizações
Alexandre Ventura
Professor Titular do Departamento de Ciências da Educação
Universidade de Aveiro – Portugal
Revista do fórum português da administração educacional, 2005
Introdução
• Metáfora: é uma figura de linguagem que produz
sentidos figurados por meio de comparações
implícitas.

• Metáfora das organizações: pontos de vista


diferentes para analisar as organizações e
compreender seu funcionamento.
Etimologia
• A palavra deriva do grego μεταφορά, que significa
transferência.

• Metaphora, provém da palavra metapherein, cuja tradução é


trocar de lugar, formada pelo prefixo: meta (além) e pelo
complemento: pherein (levar).

• Transportar a palavra do sentido literal para o sentido livre.


Histórico
• Antiguidade Clássica : Aristóteles, Quintiliano, Cícero, Horácio →
troca da palavra própria, pela imprópria.

• Século XIX e século XX: Richards, Wheelwrigt, Coleridge, Ricoeur →


a metáfora não é um simples deslocamento de palavras, mas um
comércio de pensamentos.

• Atualmente, são utilizadas em grande escala e o entendimento do


seu significado está na capacidade de prolongamento da
imaginação do descodificador.
Objetivo

• Entender melhor o poder sugestivo e


interpretativo das metáforas ao nível das
organizações.
Metodologia
• Analisar o desenvolvimento do pensamento
metafórico em diferentes momentos históricos e
contextos, delineando possibilidades para o
futuro.
Desenvolvimento
"Todas as teorias de organização e de administração são baseadas nas
imagens ou metáforas implícitas que nos induzem a ver, entender e
imaginar situações de maneira parcial. Metáforas criam insight. Mas
elas também distorcem. Elas têm pontos fortes. Mas também têm
limitações. Ao criar condições de enxergar, elas criam maneiras para
não enxergar. Por isso pode não ter nenhuma teoria ou metáfora que
forneça o ponto de vista de todas as finalidades. Nesse ponto pode
não ter nenhuma "teoria correta" para estruturar tudo que nós
fazemos".

(Gareth Morgan, 1986)


Desenvolvimento
Interpretações

• Por criar uma relação de semelhança com algo que é familiar


à realidade do leitor, as metáforas ajudam na compreensão
mais facilitada dos elementos que estão ao seu redor.

• É um recurso persuasivo da comunicação entre os homens,


que por meio de símbolos implícitos em destaque, levam a
leituras rápidas de uma determinada situação.
Interpretações

• Elas podem ajudar a enriquecer a mensagem ou


torná-la mais obscura.
• Decifrar a metáfora, é determinar o atributo e todos
os acréscimos e modificações que nela estão
subentendidos, o qual depende do poder cognitivo e
da sensibilidade do sujeito que a analisa.
Interpretações

• O domínio do uso das metáforas pelo gestor, permite


que ele consiga adaptar melhor a organização à
dinâmica do mercado.
• A análise das metáforas em conjunto, oferece uma
visão mais abrangente da organização, possibilitando
maior capacidade de planejamento e de
administração.
Interpretações

• As metáforas constituem-se, por vezes, em


formas de sustentação e manutenção da
coerência grupal.
• Explorando as diferentes metáforas, o
indivíduo é capaz de entender a organização e
a si mesmo, possibilitando mudanças.
Interpretações

• Compreendendo o funcionamento da
organização e suas possíveis variáveis, o gestor
é capaz de interferir criticamente no processo
e provocar modificações.
Conclusão

• As metáforas ajudam a compreender a


realidade da complexidade organizacional,
auxiliando na análise, na administração e na
gestão das organizações.
Situação Organizacional:

Holocracia - Modelo de Gestão Organizacional


O que é Holocracia?
A Holacracia (Holocracia ou Holacracy) é uma tecnologia social -
ou um sistema de governança organizacional) onde a autoridade e
a tomada de decisão são distribuídas em uma holarquia de grupos
auto-organizados.

A Holarquia é um termo utilizado para descrever uma relação


entre hólons, unidades que são completas, mas ao mesmo tempo
são parte de um todo maior.
O que é Holocracia?

Hólon: Do grego “holos” (todo), citado no campo da filosofia


primeiramente por Artur Koestler, no livro O Fantasma da
Máquina (The Ghost in the Machine 1967, p.48). Um hólon
pode ser compreendido como algo cuja representação é
simultaneamente um todo e uma parte.
O que é Holocracia?
Existem sementes em árvores ou árvores em sementes?

Podemos dizer que ambas as afirmações são verdadeiras, uma vez que
sementes são independentes e parte de um todo maior (árvore). Encaixando-
se como exemplo de um hólon.
O que é Holocracia?
Fundada em 2007, por Brian Robertson e Tom Thomison, nos EUA.

Holocracia essencialmente é um produto da empresa HolocracyOne que também


se materializou no livro “Holacracy: The New Management System for a Rapidly
Changing World.”

A empresa HolocracyOne possui centenas de parceiros pelo mundo que


decidiram adotar tal modelo.
O que é Holacracia/Holocracia/Holacracy?
Ao adotar a Holocracia, o detentor de poder cede a sua autoridade de governar e
executar a organização para a Constituição. Isto é, a partir deste momento, este
ex-detentor está sujeito às mesmas regras que os demais Parceiros da
organização.

Isso não quer dizer que o CEO ou presidente perde todo o poder ao adotar a
Holacracia. Pelo contrário, esta pessoa desempenhará o papel de Elo Principal do
Círculo Âncora (que engloba todos os demais e expressa o propósito integral da
organização) e outros Papéis definidos nos subcírculos e está autorizada – assim
como outros Parceiros – a executar e desempenhar o poder concedido a estes
Papéis pela Constituição e pela Governança da organização.
O que é Holacracia/Holocracia/Holacracy?

Fonte: HolocracyOne
Estrutura Organizacional Matricial - Convencional
Resultados propostos pelo Modelo:

Estrutura organizacional ágil Reuniões em formato eficiente

Na holocracia, a organização da empresa é Há duas reuniões – a tática e a de


constantemente modificada, e cada equipe tem governança. Nestes encontros, os parceiros da
a autoridade para se organizar da forma melhor organização têm a oportunidade de remover o
convier para seus membros – pode até ser de que está lhes impedindo de realizar um bom
forma hierárquica, caso julguem que seja trabalho. As reuniões possuem um formato que
melhor. valoriza a objetividade, e ao mesmo tempo, dá
voz a cada indivíduo. Além disso, todos os
encontros são presididos por um facilitador que
garante que o processo esteja sendo seguido.
Resultados propostos pelo Modelo:

Maior autonomia para equipes e


Processo de tomada de decisão único
indivíduos
Em um sistema de gestão tradicional, o detentor do Com a Constituição, todos os colaboradores da empresa,
poder normalmente delega uma responsabilidade a um incluindo o CEO, devem seguir o mesmo conjunto de regras
predefinidas, e não determinações vindas da chefia. A ideia é
subordinado. No entanto, o responsabilizado
que a transparência nas regras diminua o impacto da política
(accountable) pelo resultado da decisão delegada
dentro da empresa, e que a tomada de decisões dependa
continua sendo o gestor que delegou em primeiro lugar.
menos de pessoas em posição de autoridade. As decisões
Na Holacracia, quem desempenha um papel é são tomadas de forma autocrática pelos parceiros que
responsável e responsabilizado pelas decisões. Os preenchem os papéis. Para as decisões de governança –
círculos (times) controlam, executam e medem todo o isto é, alteração de papéis, responsabilidades e círculos – o
trabalho pelo qual são responsáveis. Processo Integrativo de Tomada de Decisão é utilizado.
Vídeo - Holacracia - Entrevista com Brian Robertson
Empresas que usam a Holocracia (Em 14/06/2017)
● Segundo o website structureprocess.com, cerca de centenas de empresas
pelo mundo aderiram a este modelo organizacional.

○ Área das Principais empresas atuantes:

■ Criação e desenvolvimento de Softwares;

■ Assessoria e Consultoria em gestão organizacional.


Exemplos de Empresas:
O caso brasileiro da Geekie
Contexto:

Empresa de Assessoria, Consultoria e Desenvolvimento de Softwares para


Ensino e Educação Pedagógica.

Organização orientada por projetos.

5 Equipes de desenvolvimento

Ambiente constante de mudanças, devidos à mudança constante de clientes, logo


de projetos.

Necessidade de adaptação constante.

Dificuldades de Consenso entre as equipes


O caso brasileiro da Geekie

Resultados:

Aprendizado:
Os papéis são bem menores do que os tradicionais cargos. Eles dão mais flexibilidade para as pessoas experimentarem
coisas diferentes, ao invés de ficarem restritas ao que foram contratadas para fazer. Além disso, o canal claro de
processamento das tensões que a Holacracia estabelece permite que novas propostas de papéis e projetos surjam, por
meio de um amplo canal de comunicação entre todos os membros de cada círculo.

Agilidade:
Com clareza nas expectativas e nas atividades que cada um deve desempenhar, as pessoas podem focar mais a sua
atenção no trabalho. Isso gerou uma sensação de maior velocidade na execução. Os checklists, métricas e projetos da
Reunião Tática permitem uma tranquilidade maior em relação à entrega dos colegas. Ninguém precisa cobrar. O processo
cobra.
Referências Bibliográficas
• VENTURA, Alexandre. O poder interpretativo das metáforas e as organizações. In: Revista do
Fórum Português de Administração Educacional. 2005. Disponível em:
http://www.fpae.pt/wp/wp-content/uploads/2005/11/Administracao_Educacional_2005.pdf. Último
acesso em 18/09/2017.

• BOJE, David M.; LUHMAN, John T.; CUNLIFFE, Ann L. A dialectic perspective on the
organization theatre metaphor. American Communication Journal, v. 6, n. 2, p. 1-16, 2003.

• Holacracy: Self-Management Practice For Organizations. Disponível em: https://www.holacracy.org/.


Último acesso em 18/09/2017.

• http://structureprocess.com/holacracy-cases/. Acesso em 18/09/2017.

• http://www.holacraciabrasil.com. Acesso em 18/09/2017.

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