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Resumo.........................................................................................................................1
Introdução......................................................................................................................2
1. A racionalização e as relações de trabalho..............................................................3
2. A violência.................................................................................................................5
3. A institucionalização da violência............................................................................12
4. A genealogia e a reprodução da violência..............................................................15
5. A condição humana nas relações de trabalho: por uma conclusão.......................17
Referências bibliográficas...........................................................................................18
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RESUMO
INTRODUÇÃO
Este estudo tem como objetivo identificar as formas de violência mais comuns
nas relações de trabalho que se articulam no modo capitalista de produção e suas
implicações, tendo como foco o que ARENDT (2000) chama de “a condição
humana”. Para tal finalidade, buscar-se-á compreender os mecanismos da
racionalização, a forma como a violência se encontra nas relações de poder e a
institucionalização e a reprodução da violência nas dimensões individuais e
coletivas, tanto no ambiente de trabalho como nas práticas sociais, de maneira que
se possa, ao final, falar de uma genealogia da violência nas relações de trabalho.
Assim, a racionalização pode ser entendida não como uma instância separada
da intersubjetividade, mas como decorrente de fatores inconscientes manifestos no
plano da razão e, ao mesmo tempo, geradora de outras subjetividades, de outros
desejos, de vínculos afetivos, de inveja, enfim, de condição humana.
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2. A VIOLÊNCIA
Não é incomum argumentos que postulam que o uso razão seria suficiente
para excluir da sociedade a violência ou que defendem a tese de que uma postura
institucional seria capaz de reduzir ou mesmo eliminar a violência da prática social e
organizacional. Entretanto, o que se observa, de um lado, é que a própria violência
se encontra institucionalizada nas sociedades organizadas, nas práticas cotidianas
das relações de trabalho e nas concepções mesmo das teorias gerenciais (FARIA,
1985).
Como sugere Arendt (1994:47): “o uso da razão é que nos torna perigosamente
‘irracionais’”. Assim, a racionalidade, enquanto é capaz de estabelecer o uso da
lógica e da utilização de princípios científicos é também incapaz de direcionar toda
sua potencialidade em benefício coletivo.
"...a capacidade que têm uma classe social (uma sua fração ou
segmento), uma categoria social ou um grupo (social ou
politicamente organizado) de definir e realizar seus interesses
objetivos específicos, mesmo contra a resistência ao exercício desta
capacidade e independentemente do nível estrutural em que tal
capacidade esteja principalmente fundamentada. O exercício do
poder adquire continuidade e efetividade política quando do acesso
do grupo ou da classe social ao comando das principais
organizações, das estruturas institucionais ou políticas da sociedade,
inclusive aquelas criadas como resultado de um processo de
transformação, de maneira a por em prática ou a viabilizar tal
exercício". (FARIA, 2001:30)
Pode-se dizer, então, que, no limite, “a violência aparece onde o poder está em
risco, mas, deixada a seu próprio curso, ela conduz à desaparição do poder. Isto
implica ser incorreto pensar o oposto da violência como a não-violência; não falar de
um poder não-violento é, de fato, redundante. A violência pode destruir o poder; ela
é absolutamente incapaz de criá-lo” (ARENDT, 1994:44).
Este fato impõe aos indivíduos serem meros consumidores das novas técnicas,
impossibilitados de questionar e de criticar as técnicas que os estão aprisionando.
Esta mesma razão, que formula estas técnicas, é a razão que enaltece a
globalização como processo naturalmente benéfico a todos, sustentada por
pressupostos que, quando questionados, são insuficientes para formar o
pensamento crítico e emancipador;
A corrupção, por exemplo, é uma das situações que envolvem todas as formas
de violência. Quando há uma situação em que está em curso a corrupção,
inevitavelmente alguém sofre violência física (escassez gerada pelo desvio de
verbas), psíquica (decepção e revolta em acreditar na honestidade de quem praticou
o ato), social (danos morais decorrentes da prática ilícita), estrutural (a ineficiência
da administração em evitá-la). Não se pode deixar de observar, contudo, que os
indivíduos também devem ser responsabilizados pela violência na medida em que
são ineficientes em se organizar coletivamente. É a organização política dos grupos
sociais que pode desencadear enfrentamentos no ambiente social e de trabalho, que
exige repensar todas as dimensões das relações de trabalho: identificar as formas
de violências físicas no processo de trabalho, tomar consciência das formas de
violência psíquica, reconhecer de que forma a violência social está instituída e
identificar se a razão utilizada é capaz de abolir a violência estrutural. Desta forma, o
pensamento crítico e reflexivo sobre as condições de trabalho só se torna efetivo
como prática democrática coletiva.
3. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA
“Mesmo a dominação mais despótica que conhecemos, o domínio do
senhor sobre os escravos, que sempre o excederam em número, não
se amparavam em meios superiores de coerção como tais, mas em
uma organização superior do poder, isto é, na solidariedade
organizada dos senhores. Homens sozinhos, sem outros para apóia-
los, nunca tiveram poder suficiente para usar a violência com
sucesso” (ARENDT, 1994:40).
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"O toyotismo não é senão o fordismo de base microeletrônica" (FARIA e MENEGHETTI, 2001)
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A condição humana não é uma imposição social, nem mesmo fruto do acaso
ou do determinismo. Criar as condições favoráveis para a manutenção de uma
sociedade voltada aos interesses coletivos é elemento central para a justiça e a
igualdade. Estes dois fatores são essenciais para se evitar a violência. Seria
pretensioso demais afirmar que ela se extinguiria se o colaboracionismo e a unidade
em torno do bem comum imperassem. Nas palavras de Arendt (2000:17-8), a
condição humana
...compreende algo mais que as condições nas quais a vida foi dada ao
homem. Os homens são seres condicionados: tudo aquilo com qual eles entram em
contato torna-se imediatamente uma condição de sua existência. (...) O que quer
que toque a vida humana, ou entre em duradoura relação com ela, assume
imediatamente o caráter de condição da existência humana. (...) Para evitar erro de
interpretação: a condição humana não é o mesmo que a natureza humana, e a
soma total das atividades e capacidades humanas que correspondem à condição
humana não constituem algo que se assemelhe à natureza humana.
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